Um Passeio por Apocalipse

 

Nenhum livro nas Escrituras revela a glória de Deus e de Cristo em mais detalhes e esplendor do que Apocalipse.  Ao mesmo tempo, nenhum outro livro foi mais mal compreendido, mal interpretado e negligenciado ao longo da história da igreja. 

O objetivo deste pequeno artigo é dar uma olhada breve, mas substancial, nesse livro maravilhoso, atingindo os pontos principais de suas ricas promessas proféticas, e entender o que ele ensina sobre o amor de Deus por Seu povo e o futuro que Ele preparou para nós.

Os crentes não podem ignorar a imensa verdade que esse livro contém.  Na verdade, somos ordenados a não fazê-lo. Apocalipse 22:10 diz: “Não seles as palavras da profecia deste livro; porque próximo está o tempo.” Os eventos previstos e descritos em Apocalipse não são realidades distantes e obscuras. Eles são os próximos eventos no cronograma messiânico do Senhor.  Ele não nos deu esse livro como objeto de nossa curiosidade. Temos a responsabilidade de saber o que está contido nele.

E é uma responsabilidade que vem acompanhada por uma bênção. Apocalipse começa com uma promessa aos seus leitores: “Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (1: 3).  Essas palavras ecoam em Apocalipse 22:7, “Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro“, tornando esse o único livro da Bíblia que começa e termina com promessas de bênçãos para quem o lê.

Quanto ao propósito do livro, isso é explicado de forma clara e imediata no capítulo 1, versículo 1: “Revelação de Jesus Cristo.”  O propósito de Apocalipse é revelar a glória do Cristo ressuscitado.  Ele revela a verdade sobre Jesus, que antes era desconhecida.  Aprendemos verdades sobre Cristo em Apocalipse que não saberíamos se não fosse por esse livro.  Ele fornece uma visão única, não apenas do futuro, mas do próprio caráter e natureza de nosso Salvador.

1 – APOCALIPSE : A INTRODUÇÃO

Os primeiros três versículos de Apocalipse são um turbilhão de material introdutório.  Os versículos 1 e 2 deixam claro que Deus deseja revelar Cristo em Sua exaltação – enquanto os Evangelhos O ​​revelam em Sua primeira vinda em humilhação.  Ele envia Sua mensagem por meio de um anjo que a entrega ao apóstolo João, que por sua vez dá testemunho dessa mensagem ao restante da igreja.

Em certo sentido, a revelação que João testemunha é o cumprimento de uma prévia que ele recebeu na transfiguração de Cristo (cf. Mateus 17:1-9).  No Monte da Transfiguração, ele viu apenas um vislumbre de Cristo em Sua glória plena e vindoura.  Agora, essa mesma glória é dramaticamente revelada a João novamente, gráfica e amplamente revelada na profecia do anjo.  E o versículo 3 segue concedendo a bênção de Deus àqueles que lêem o livro, deixando claro que essa profecia não é apenas para o benefício pessoal de João.

E começando no versículo 4, João dá uma introdução mais formal aos destinatários originais de Apocalipse.  Ele dirige seu livro às sete igrejas espalhadas por toda a Ásia Menor,  a atual Turquia.  No capítulo 1:4-5, João cumprimenta os crentes nessas congregações, em nome de cada membro da Trindade (outra característica única de Apocalipse). 

Ele escreve: “Graça e paz seja convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete espíritos que estão diante do seu trono; e da parte de Jesus Cristo”.  Aquele “que é e que era e que há de vir” se refere a Deus, o Pai. Mas a ideia dos “sete Espíritos que estão diante do seu trono” nos dá motivo para uma pausa exegética.

Obviamente, há apenas um Espírito Santo. Então, o que João está indicando com esta imagem vívida dos “sete Espíritos que estão diante do seu trono“?  É mais provável que seja uma referência a uma profecia do Antigo Testamento sobre o ministério sétuplo do Espírito Santo, em Isaías 11:2, ou à descrição do Espírito como um candelabro de ouro com sete lâmpadas, em Zacarias 4:1-10.  Em ambos os casos, o ponto é o mesmo: João está ilustrando o Espírito, em toda a Sua glória e plenitude, como o Espírito da graça (cf. Hebreus 10:29) e o produtor de paz (cf. Gálatas 5:22).

No versículo 5, João diz que a graça e a paz também fluem de “Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra.” Cristo foi e é uma testemunha fiel, em termos de Sua integridade e veracidade, bem como em Sua descrição precisa do caráter e natureza de Deus.  Além disso, descrevê-Lo como “o governante dos reis da terra” reconhece Sua soberania absoluta sobre os negócios deste mundo.

Alguns leitores têm dificuldade de compreender o que João quis dizer com a declaração de que Jesus é “o primogênito dentre os mortos” (1: 5).  Obviamente, houve ressurreições antes de Cristo – na verdade, o próprio Cristo havia ressuscitado outros durante Seu ministério.  Mas João não está usando a palavra primogênito (prōtotokos) para indicar sequência, mas preeminência.  Ele está dizendo que de todos os que já foram ou serão ressuscitados, Cristo tem a preeminência (cf. Salmo 89:27).

Além do mais, João dedica o livro “Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém.” (Apocalipse 1:5-6).  O apóstolo lembra a seus leitores que Cristo está realmente voltando e que Seu retorno será inconfundível, e ele reafirma que Cristo é, de fato, um em essência com o Pai (1:7-8).

Juntos, esses primeiros oito versículos apresentam um livro surpreendentemente único: um livro que foi escrito pela Trindade, entregue por um anjo, dedicado a revelar a plena glória do Cristo ressuscitado e Seu retorno iminente, e concede ricas bênçãos aos leitores.  Uma introdução e tanto!

2 – A VISÃO DE CRISTO

Começando no versículo 9 do capítulo 1, João inicia a primeira de várias visões proféticas que constituirão a maior parte do livro.  João usa a declaração introdutória “Eu, João” (1:9).  É uma expressão de choque. É como se ele dissesse: “Você pode acreditar nisso?  Eu, João, vi tudo isso!  Eu!”  Há uma certa incredulidade humilde nele, uma sensação de surpresa pelo fato de o Senhor permitir-lhe tal privilégio.

E ele tinha bons motivos para ser humilde.  João era um homem idoso – possivelmente na casa dos 90 anos – que fora exilado na ilha rochosa e árida de Patmos, para viver a pouca vida que lhe restava em uma colônia penal em um deserto.  O versículo 9 diz que ele foi exilado “por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus“.  Como o resto da igreja naquele período, João estava vivendo sob intensa perseguição.  Os cristãos eram tratados como bandidos, e rotineiramente enfrentavam punições severas por causa de sua fé.

É em meio a essa humilhação que João – que certa vez disputou um assento à direita de Deus – tem toda a glória do Cristo ressuscitado revelada a ele.  João diz que tinha sido arrebatado “no Espírito” quando recebeu a visão.  Essa expressão é uma indicação de que ele estava sob o controle do Espírito de uma forma única, e que a profecia que ele está descrevendo não veio a ele como um sonho. 

Ele estava bem acordado, tinha sido transportado para fora do mundo material, e teve seus sentidos especialmente capacitados pelo Espírito Santo para perceber a revelação de Deus.  O que ele estava prestes a ver e ouvir transcenderia os limites da apreensão humana normal. 

Sob o controle do Espírito Santo, ele foi temporariamente habilitado para o dever que Deus tinha para ele, assim como Ezequiel (Ezequiel 2:2; 3:12, 14), Pedro (Atos 10:9-16) e Paulo (Atos 22: 7–21; 2 Coríntios 12:1–6), que tiveram essa experiência antes de João.

E sob o controle do Espírito Santo, João recebe essas ordens:  “o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia.” (Apocalipse 1:11).

Quando João se vira para ver quem está lhe dando as ordens, ele tem uma visão extraordinária de Cristo (1:12-20).  O Senhor está vestido em ouro, com cabelos brancos brilhantes, olhos flamejantes, pés de bronze polido, com uma voz como as ondas do mar.  Ele tem uma espada de dois gumes saindo de Sua boca, Ele segura sete estrelas em Sua mão, e está no meio de sete castiçais.

As imagens vívidas na visão de João estabelecem as mensagens do Senhor para as sete igrejas: 

  • As vestes indicam que Cristo está operando em Seu papel sacerdotal.
  • O cabelo branco brilhante representa Sua glória e santidade.
  • Os olhos flamejantes representam Seu olhar penetrante no caráter de Sua igreja.
  • João compara a voz do Senhor ao som de “muitas águas” como uma indicação de Sua autoridade.
  • E os pés de bronze e a espada representam Seu julgamento sobre Sua igreja.

Cada aspecto da visão de João ilustra a glória, autoridade e santidade de Cristo, à medida que cada um desses aspectos é usado para exercer o julgamento e a purificação de Sua igreja.

Quanto aos candeeiros e estrelas, o Senhor diz a João que eles representam as sete igrejas e seus mensageiros – ‘angeloi’ – (1:20).  Embora a palavra “angeloi” seja frequentemente traduzida como anjos, essa não é a melhor maneira de interpretá-la aqui.

Os anjos não têm papel na liderança da igreja.  Além disso, por que Cristo exigiria um agente terreno (João) para transmitir mensagens a outras criaturas celestiais (anjos)?  O melhor entendimento é que essas cartas são endereçadas a mensageiros de cada uma das igrejas – provavelmente os sete anciãos ou ministros que representam as sete congregações.

Cristo diz a João, no versículo 19: “Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer”.  Suas instruções a João fornecem um esboço simples de todo o livro:

  • as coisas que tens visto” referem-se à visão que João acabou de ter do Salvador glorificado (capítulo 1);
  • as coisas que são” denota as cartas às igrejas (capítulos 2–3);
  • e “as que depois destas hão de acontecer” referem-se à revelação da história futura (capítulos 4–22).

3 – AS IGREJAS

Os capítulos 2 e 3 de Apocalipse são compostos por essas sete cartas às sete igrejas em toda a Ásia Menor.  É importante lembrar que essas eram congregações reais para as quais João estava escrevendo, e cada carta se encaixa no contexto histórico, geográfico e cultural da cidade para a qual foi escrita. 

Mas, ao mesmo tempo, cada uma é representativa em seu caráter.  Em todos os períodos de tempo, ao longo da história da igreja, sempre houve esses tipos de igrejas, com as mesmas forças, lutas e falhas.  Portanto, embora essas cartas contenham ensino específico para essas igrejas específicas, a aplicação do ensino se estende por toda a era da igreja.

A – Primeira carta (2:1-7): para a igreja em Éfeso

A igreja de Éfeso era ortodoxa em sua doutrina, apegando-se fielmente à Palavra de Deus.  Os membros exerciam discernimento espiritual, avaliando cuidadosa e biblicamente qualquer um que reivindicasse liderança espiritual.  Mas, o versículo 4 diz que eles perderam seu primeiro amor.  Essencialmente, eles criam, ensinavam e defendiam a mensagem certa, mas eles se tornaram frios e indiferentes a ela.

B – Segunda carta (2:8-11): para a igreja em Esmirna

Era uma igreja que havia enfrentado intensa perseguição, e a carta prediz que mais perseguição estaria por vir.  É importante notar que o Senhor não diz nada negativo para a igreja de Esmirna.  Por ser uma igreja fortemente perseguida, ela já teria sido expurgada de frequentadores casuais e influências corruptoras.  Quando a perseguição acontece, essas são as primeiras pessoas a partir. Afinal,  por que elas ficariam e sofreriam por algo em que não acreditam? 

A igreja de Esmirna havia sido peneirada pela perseguição, e a carta de João avisa que mais estava por vir.  Como um encorajamento em face daquela perseguição, Cristo exorta os crentes em Esmirna a considerarem a brevidade de sua provação à luz de sua recompensa eterna.

C – Terceira carta (2: 12-17): para a igreja em Pérgamo. 

Pérgamo era um importante centro religioso para vários cultos pagãos. Na verdade, a declaração sobre o “trono de Satanás“, no versículo 13, é provavelmente uma referência a um grande altar a Zeus na acrópole de Pérgamo.  No entanto, ao contrário da igreja de Esmirna, seus membros não permaneceram fiéis em face da oposição. 

Em vez disso, eles se tornaram mundanos, corrompendo sua fé com o paganismo que os cercava.  Além de não se separarem do mundo, eles se aliaram ao mundo.  Eles não confrontaram a cultura. Antes, eles a acomodaram à sua fé, seguindo as crenças e práticas ímpias naquela sociedade pagã.  A mensagem do Senhor para essa igreja é clara: “arrependa-se” (2:16).

D – Quarta carta (2: 18-29): para a igreja em Tiatira 

A carta começa com uma nota positiva, com Cristo elogiando a igreja por seu amor, fé, serviço e perseverança (2:19).  Mas, o tom muda rapidamente.  Ele condena a igreja de Tiatira por ter tolerado o pecado de uma mulher perversa em seu meio.  Ela estava seduzindo outros crentes à imoralidade e encorajando práticas pagãs (2:20). 

Porque a mulher não se arrependeu, ela enfrentou o julgamento do Senhor.  E se a igreja continuasse a tolerá-la, ela compartilharia de seu julgamento.  A carta a Tiatira é um poderoso lembrete de que Deus exige pureza em Sua igreja.

E – Quinta carta (3: 1-6): para a igreja em Sardes

Cristo fala abertamente sobre os problemas com a igreja em Sardes: “Conheço as tuas obras, que tens nome de que estás vivo, mas estás morto” (3: 1).  Não havia nada acontecendo na igreja – nenhuma vida, nenhuma alegria, nenhum fruto, nenhum crescimento, nenhuma produtividade. 

Embora houvesse alguns na igreja que ainda evidenciavam alguma vida espiritual, todos estavam à beira da morte espiritual.  As palavras de Cristo têm o objetivo de sacudir Sardes de sua letargia espiritual.  Ele ordena: “Sê vigilante” ou  “acorde!” (3:2).

F – Sexta carta (3:7-13): para a igreja em Filadélfia

Tal como acontece com a igreja em Esmirna, Cristo não inclui nenhuma repreensão na carta à igreja em Filadélfia. O Senhor a descreve como uma igreja fiel, dizendo aos seus membros: “guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome.” (3: 8).  A carta indica que a igreja pode ter sido pequena, mas não deixou que o tamanho da congregação ditasse sua utilidade para o Senhor. 

Na verdade, os santos de Filadélfia são elogiados por sua fidelidade para com as oportunidades que receberam.  Eles constituíram uma igreja missionária – um farol da verdade de Deus em uma terra pagã.

G – Sétima carta (3: 14-22): é dirigida à igreja em Laodicéia

Descrita como “morna” (3:16), a igreja não era nem quente nem fria espiritualmente.  Era uma congregação apóstata, que professava publicamente conhecer a Cristo, mas não mostrava nenhuma evidência de realmente pertencer a Ele.  E por causa de sua hipocrisia, Cristo promete cuspi-la de Sua boca (3:16).

Cada um desses modelos – bons e maus – ocorreu repetidamente ao longo da história da igreja, e ainda hoje.  Vemos regularmente igrejas sofrendo perseguição, igrejas que são casadas com o mundo e igrejas que toleram o pecado.  Vemos igrejas fiéis, igrejas mortas e igrejas apóstatas o tempo todo.

Portanto, as advertências de Cristo para essas igrejas são igualmente aplicáveis ​​às congregações de hoje.  E não importa em que tipo de igreja você está, Deus tem algo a dizer à sua congregação por meio dessas cartas.  É por isso que cada uma das mensagens às igrejas termina com a exortação: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”.  O ponto é que cada uma dessas mensagens se estende além dos destinatários iniciais para todos com ouvidos espirituais, ao longo de todos os tempos.

4 – A Sala do Trono Celestial 

Começando no capítulo 4 de Apocalipse, deixamos a era da igreja para trás e o foco muda abruptamente para o céu.  Essa transição muitas vezes faz com que as pessoas perguntem: “Quando o arrebatamento acontece?” 

Embora a passagem não diga expressamente, a implicação é que o arrebatamento ocorre entre os capítulos 3 e 4. O capítulo 4 lança os leitores na visão profética de João acerca do céu, onde a igreja já está representada.  Na verdade, os crentes estão recebendo suas recompensas na Sala do Trono quando João chega.

A cena que João testemunha é de tirar o fôlego.  Ele descreve o trono de Deus como “eis que um trono estava posto no céu” (4:2), uma indicação de Sua soberania fixa.  João descreve a aparência de Deus em termos de pedras preciosas vibrantes, como diamantes, rubis e esmeraldas.  O arco-íris que ele vê (4:3) ao redor do trono de Deus é um lembrete de Sua fidelidade (cf. Gênesis 9:11-17).

Dispostos ao redor do trono de Deus, João vê vinte e quatro tronos, nos quais vinte e quatro anciãos se sentam (4:4).  Vestidos com túnicas brancas e coroas de ouro, esses anciãos representam os redimidos – não os redimidos de Israel, porque ainda não foram salvos, glorificados e coroados na visão de João. 

Em vez disso, esses são cristãos pós-arrebatamento recebendo suas recompensas na presença do Senhor.  A música que eles cantam em Apocalipse 5:9–10 é mais uma indicação de que eles entendem a obra redentora e sacrificial de Cristo em seu favor.

O trono de Deus é o foco central da sala, e dele saem “relâmpagos, e trovões, e vozes” (4:5).  Ao redor do trono está um mar de cristal, uma reminiscência da visão de Ezequiel sobre a glória de Deus (Ezequiel 1:22).  João também vê o Espírito Santo na sala do trono do céu, representado por sete lâmpadas (Apocalipse 4:5), junto com as quatro criaturas vivas que proclamam incessantemente a santidade de Deus (4:6-8).

A descrição de João, no capítulo 4, indica claramente que a sala do trono do céu é um lugar de adoração constante ao Senhor.  As quatro criaturas – provavelmente anjos – nunca param de louvar a santidade de Deus (4:8).  E os vinte e quatro anciãos prontamente se prostram e devolvem suas recompensas ao Senhor, em afirmação de Sua supremacia e glória (4:10).  O tema do céu é, de fato, adoração.

Isso é o que torna o início do capítulo 5 tão surpreendente: a adoração sofre uma pausa.  No versículo 1, João nota um livro nas mãos do Senhor.  No versículo 2, um anjo interrompe a adoração constante da sala do trono para perguntar quem é digno de abrir o livro e quebrar seus sete selos.

Os sete selos do rolo (livro) são uma indicação do que ele contém.  A lei romana exigia que o testamento fosse selado sete vezes para evitar que fosse aberto e violado.  Era uma garantia de que o testamento permaneceria intacto até a hora de ser lido.

Nesse sentido, o rolo ou livro, no capítulo 5, é efetivamente a vontade e o testamento de Deus.  No Salmo 2:8, Deus promete dar a Seu Filho as nações como herança.  Simplificando, alguém precisa se apresentar para romper os selos do livro e reivindicar o título de propriedade do mundo.

No entanto, Apocalipse 5:3 deixa claro que nem todos podem abrir os selos: “Ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra” foi considerado digno de abrir o livro (5:4).  E assim, um dos anciãos aponta para João, que está chorando, e lhe diz que somente “o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos.” (5: 5).  Somente Cristo é adequado para se apossar da herança prometida por Deus.

Nos versículos 6–7, o Cordeiro glorificado de Deus, cheio de poder e sabedoria do Espírito (representado pelos sete chifres e sete olhos), dá um passo à frente do meio das criaturas vivas e dos anciãos e toma o livro da  Mão de Deus.  Esse é um momento monumental, pois marca o início de Sua reivindicação de Seu direito de propriedade do mundo.  Cristo está tomando de volta a Terra, recuperando o paraíso da criação, e isso causa uma explosão de adoração na sala do trono do céu.

5 – Os Selos

O capítulo 6 é o relato de Cristo rompendo os selos do livro, que correspondem aos eventos durante a Tribulação na Terra.

A – O Primeiro Selo

No capítulo 6:1–2, Cristo abre o primeiro dos selos, e João vê um cavalo branco e um cavaleiro carregando um arco, mas sem flechas.  É uma visão de uma falsa paz que descerá sobre a Terra no início da Tribulação, introduzida por um conquistador pacífico. 

A identidade específica do cavaleiro não está clara, mas ele certamente estará trabalhando em cooperação com os planos e propósitos do Anticristo, e criará uma falsa paz em todo o mundo.  A coroa que ele recebeu não é uma coroa de monarca, mas do tipo concedido a um atleta [coroa de folhas que era concedida aos atletas olímpicos na Antiguidade], significando ainda que ele aparentemente conquistou a paz (Daniel 9: 24-27). Porém, essa paz durará pouco. 

B – O Segundo Selo

No capítulo 6:3-4, Cristo abre o segundo selo, liberando outro cavalo e cavaleiro.  Ao contrário do primeiro cavalo, esse é vermelho, e o cavaleiro traz à tona o holocausto impensável da guerra mundial.  João diz que ele tirará a “paz da terra” (6:4), deixando para trás apenas violência e destruição. 

A espada dada ao cavaleiro não é uma espada longa, mas uma arma mais curta, frequentemente usada para assassinatos, revoltas, atentados e massacres em massa – todos os quais serão comuns no mundo depois que Cristo romper o segundo selo.

C – O Terceiro Selo

Um cavalo preto vem depois que o terceiro selo é aberto, e seu cavaleiro, carregando uma balança, traz consigo a fome mundial (6:5).  A visão de João inclui algumas medidas específicas que indicam a gravidade da fome (6:6). 

Um denário era o pagamento padrão por um dia de trabalho e, nessas condições de fome, não comprava comida suficiente para alimentar uma pessoa por um dia, muito menos uma família.  Mesmo os alimentos mais básicos se tornarão subitamente artigos de luxo, que deverão ser cuidadosamente protegidos.

D – O Quarto Selo

O rompimento do quarto selo liberará um quarto cavalo, em 6:7-8.  Esse é amarelo, e seu cavaleiro é identificado como Morte, com autoridade para matar mais de um quarto da população mundial. 

Assim como a fome segue naturalmente a guerra, a morte também segue a fome.  Enquanto os outros cavaleiros carregavam um objeto com eles, o quarto cavaleiro é seguido pelo Hades, que é a localização temporária dos ímpios que já morreram e ficam lá aguardando por  seu julgamento final.

E – O Quinto Selo

Quando Cristo rompe o quinto selo (6:9), isso sinaliza não mais destruição na Terra, mas um apelo das almas de todos os crentes que o Anticristo matou até aquele ponto da Tribulação (6:10). 

João diz que eles clamam a Deus por Seu julgamento e vingança sobre seus opressores.  Em vez de atender ao seu pedido imediatamente, o Senhor os veste com Sua santidade e justiça, preparando-os para o Seu reino e os encoraja a esperar o Seu tempo perfeito (6:11).

F – O Sexto Selo

João imediatamente volta sua atenção para a calamidade na Terra com a quebra do sexto selo (6:12).  Isso desencadeará um grande terremoto, que mudará a geografia do mundo.  Ele escurece o sol, torna a lua vermelha como o sangue (provavelmente como resultado de toda a cinza e poeira geradas pelo terremoto).

A abertura do sexto selo também enviará todos os tipos de corpos celestes para a Terra (6:12-13). João também indica que o céu, como o conhecemos, desaparecerá (6:14).  Essa destruição colossal enviará até mesmo os maiores homens para o esconderijo (6:15) e fará com que desejem a morte para ajudá-los a evitar a ira de Deus (6:16).

6 – A Salvação de Israel

Diante do terror que João estava visualizando de forma tão real, para ajudá-lo a suportar o peso de tudo o que ele estava vendo, o Senhor lhe deu intervalos periódicos de suas visões apocalípticas.  O capítulo 7 é uma dessas pausas agradáveis. 

Junto com João, temporariamente nos afastamos da destruição da Terra, para ver como o Senhor provê e protege Seu povo em meio ao sofrimento.  Nem todos os crentes serão mortos durante a Tribulação – o Senhor tem outros propósitos para alguns deles.

Especificamente, o versículo 4 indica que 144 mil pessoas das doze tribos de Israel serão salvas e mobilizadas como evangelistas durante a Tribulação. A propósito, só Deus sabe de qual tribo um judeu é. Os registros de Israel foram perdidos na destruição de Jerusalém em 70 DC, mas Deus mantém registros perfeitos até hoje.

Deus já tem esses homens e mulheres escolhidos para a salvação, soberanamente separados para Seus propósitos eternos.  Selados sob a proteção do Senhor, esses judeus redimidos conduzem um número incontável de pessoas ao arrependimento e à fé no Senhor (9:9, 13–17).

É claro que essa obra redentora maravilhosa nos 144 mil é motivo para outra explosão de adoração na sala do trono do céu.

6 – As Trombetas

O capítulo 8 volta a Cristo e ao livro, a tempo para a abertura do sétimo e último selo.  E quando o sétimo selo é rompido, tudo no céu pára.  João diz que há “silêncio no céu por cerca de meia hora” (8:1).

Por que o céu ficou em silêncio?  É uma indicação de temor e expectativa pelo julgamento que o Senhor está prestes a derramar sobre a Terra.  Durante o silêncio, João vê sete anjos em pé diante do Senhor, cada um deles com uma trombeta (8:2).  Essas trombetas soarão sucessivamente, cada uma anunciando outra onda de julgamento e ira de Deus.

A – A Primeira Trombeta

A primeira trombeta soa no capítulo 8, verso 7, e com ela vem granizo e fogo sobre a Terra, queimando um terço dela e das árvores, bem como toda a vegetação.  As consequências dessa destruição serão imensas, pois não apenas as pessoas e os animais precisam de vegetação para se alimentar, mas do oxigênio que ela fornece para manter o ar respirável.

B – A Segunda Trombeta

O versículo 8 registra o segundo anjo soando sua trombeta, e uma montanha em chamas é lançada ao mar.  Provavelmente, será um meteoro ou um asteróide. Esse objeto destruirá um terço dos navios e matará um terço das criaturas no mar (8: 9), transformando um terço do mar em sangue (8:8). 

Não está claro se a água se transformará, literalmente, em sangue ou se isso será simplesmente uma descrição vívida dos resultados de tal morte generalizada e decomposição putrefata no oceano.  De qualquer maneira, a devastação é uma acusação contra a humanidade por não reconhecer o dom da criação de Deus, então Deus estará destruindo a criação.

C – A Terceira Trombeta

A destruição da criação pelo Senhor continua, e então a terceira trombeta soa (8:10).  Outro corpo celeste cai na Terra – este provavelmente será um cometa, já que queima “ uma tocha” – envenenando um terço da água doce da Terra.  João diz que muitos morrerão por beber da água amarga e venenosa.

D – A Quarta Trombeta

Quando a quarta trombeta soar (8:12), um terço do sol, da lua e das estrelas serão destruídos.  Esse julgamento particular causará estragos nos ciclos biológicos e botânicos da Terra.  Um sol reduzido significa um clima drasticamente mais frio – que é muito menos hospitaleiro para sustentar a vida. 

Adicione a isso uma mudança dramática no calendário, pois os dias serão mais curtos e interrompidos por todos os tipos de eclipses, e isso com certeza criará um caos inimaginável para aqueles que viverem durante esse período da Tribulação.

No meio desse caos, João ouve um anjo gritar, no versículo 13: “Ai! ai! ai! dos que habitam sobre a terra! por causa das outras vozes das trombetas dos três anjos que hão de ainda tocar.”  A mensagem é clara: se você acha que esses julgamentos foram severos, você ainda não viu nada.

E – A Quinta Trombeta

O capítulo 9 descreve o horror desencadeado pela quinta trombeta.  João diz que uma estrela cairá do céu (9:1).  Ao contrário das menções anteriores de estrelas cadentes, essa não é um corpo celestial, mas um ser criado – provavelmente o próprio Satanás. 

E Satanás receberá a chave do poço do abismo, que ele usará para libertar os demônios que Deus havia amarrado (9:1-2).  Os demônios assumirão formas físicas semelhantes aos gafanhotos e se espalharão como um enxame sobre a face da Terra (9:3).

Embora esses demônios sejam libertados para aterrorizar o mundo, eles são limitados no que podem fazer.  O versículo 4 diz que eles são ordenados a não ferir qualquer parte da vegetação da Terra, nem terão permissão para fazer nada a qualquer um daqueles que carregam o selo de Deus em suas testas (os 144 mil evangelistas judeus e os que se converterem com sua pregação, capítulo 7). 

Porém, os demônios terão permissão, por cinco meses, para atormentar – mas não matar – qualquer pessoa sem o selo (9:5).  João diz que os demônios picarão como escorpiões (9:5), e suas vítimas estarão em agonia e ansiarão pela morte, mas ela não virá (9:6).  Ao contrário dos gafanhotos normais, esses demônios têm um rei.  João nos dá seu nome em hebraico (Abaddon) e em grego (Apollyon) (9:11).  Ambos significam o mesmo: destruidor.

F – A Sexta Trombeta

A sexta trombeta sinaliza a liberação de mais quatro anjos que estavam no rio Eufrates (9:14-15).  Podemos presumir que esses são anjos caídos, visto que a Escritura nunca se refere aos santos anjos como presos.  Eles representam outro segmento do exército de Satanás desencadeado como parte do julgamento de Deus. 

Ao contrário dos demônios lançados na Terra sob a quinta trombeta, esses demônios são capazes de matar.  E com um enorme exército de 200 milhões (9:16), eles exterminarão um terço da população mundial com fogo, fumaça e enxofre (9:18).

Nos versículos finais do capítulo 9, João escreve que, apesar de todo o julgamento que o Senhor derramou sobre o mundo, as pessoas restantes não se arrependerão de seus pecados.  Em vez disso, elas amaldiçoarão a Deus, endurecerão seus corações e continuarão a perseguir seus desejos pecaminosos.

Antes de soar a trombeta final, no capítulo 10, o Senhor dá a João outra trégua da destruição.  No versículo 1, João vê um anjo poderoso descer à Terra.  O anjo está com um pé na terra e o outro no mar (10:2) – demonstrando graficamente que, embora Satanás tenha reinado temporariamente sobre a Terra, a autoridade e o domínio finais ainda pertencem ao Senhor. 

O anjo carrega o livro que Cristo abriu (10: 2), e João ouve o anjo rugir como um leão, seguido por sete estrondos de trovão (10:3).  Enquanto João se prepara para escrever o que ouviu no trovão, ele é avisado por uma voz do céu para manter em segredo o que ouviu (10:4).  Uma vez que o trovão é frequentemente usado para descrever a fúria de Deus, é seguro presumir que a mensagem que João ouviu é uma mensagem de julgamento posterior e que é muito assustadora para ser revelada.

Essa mesma voz do céu, então, ordena a João que pegue o livro e o coma (10:8–9).  João o faz, e diz que o gosto é doce em sua boca, mas amargo em seu estômago (10:10).  É ilustrativo de como os crentes veem a vinda de Cristo – é doce, porque o Senhor reinará em glória sobre Sua criação, mas amarga, porque Seu retorno traz destruição e condenação ao mundo.

7 – As Duas Testemunhas e a Sétima Trombeta

Agora, antes que a sétima trombeta soe, há outro vislumbre da maravilhosa graça de Deus no capítulo 11. Encontramos dois dos maiores personagens de todas as Escrituras, e nem mesmo sabemos seus nomes.

A descrição de João dessas duas testemunhas é vaga, talvez intencionalmente.  Nós sabemos que o mundo as odiará.  Sua mensagem de arrependimento não se encaixará em um mundo rebelde e “iluminado” que já ignorou tantos avisos e julgamentos óbvios de Deus. 

Também sabemos que Deus as protegerá, por um tempo, da hostilidade do mundo.  João diz no versículo 5 que “se alguém lhes quiser fazer mal, fogo sairá da sua boca, e devorará os seus inimigos; e, se alguém lhes quiser fazer mal, importa que assim seja morto.

O Senhor enviará essas duas testemunhas para pregar o evangelho a um mundo hostil por quarenta e dois meses (11:3), e Ele garantirá sua segurança durante todo esse tempo.  Além disso, elas receberão  o poder de controlar o clima, de transformar água em sangue e de atacar a Terra com qualquer praga que considerem adequada (11:6).  Não admira que o mundo impenitente as odiará.

Uma vez que o ministério das testemunhas estiver completo, a própria Besta sairá do poço e matará as duas testemunhas (11:7).  João diz que as pessoas nem mesmo as enterrarão. Em vez disso, deixarão os corpos na rua por três dias e meio (11:8-9).  Tudo isso acontecerá em Jerusalém (11:8).

Os olhos do mundo estarão sobre esses dois corpos, celebrando sua morte (11:10).  Isso não teria sido possível nem mesmo há cem anos atrás.  A visibilidade mundial dessas duas testemunhas parece exigir uma tecnologia de comunicação moderna.

As duas testemunhas estarão mortas na rua, enquanto o mundo incrédulo celebrará, até o ponto de que as pessoas trocarão presentes para comemorar a morte desses dois profetas (11:10).  Mas, depois de três dias e meio, as duas testemunhas ressuscitarão dos mortos, causando pânico compreensível para todos os que assistirem (11:11). 

No versículo 12, uma voz do céu ordena-lhes que “subam aqui”, e elas o fazem.  E, na mesma hora, haverá um grande terremoto que matará sete mil pessoas e destruirá partes de Jerusalém (11:13).  Em resposta, João diz que os sobreviventes “ficaram muito atemorizados, e deram glória ao Deus do céu.” (11:13).

O ponto desse curto interlúdio antes da sétima trombeta é claro: Deus nunca ficará sem uma testemunha.  Mesmo enquanto Sua justa ira cai sobre a Terra, Ele ainda está chamando graciosamente os pecadores ao arrependimento e à fé.

João fecha o capítulo 11 com uma declaração final e vitoriosa.  A sétima trombeta soa e as vozes do céu clamam: “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre.”(11:15).  Embora o Senhor tenha oficialmente reivindicado Seu domínio sobre o mundo, ainda haverá muita destruição e ira pela frente.

8 – A Mulher, o Filho e o Dragão

O capítulo 12 é a representação gráfica de João da incessante perseguição de Satanás contra Israel, o Messias e o povo de Deus.  A mulher na visão de João (12:1) é Israel, e seu filho (12:5) é Cristo.  O dragão que João descreve (12:3) é Satanás, que sempre tenta destruir Cristo.

O versículo 7 descreve a guerra ocorrendo no céu.  Embora Satanás e seus demônios tenham sido expulsos do céu após sua primeira rebelião, eles ainda têm acesso a ele (Jó 1:6; 2: 1).  Mas nessa guerra, em Apocalipse 12, os anjos de Deus vencem as forças de Satanás e as expulsam do céu para a Terra (12:9).

Assim que esses demônios se juntarem aos que já haviam sido libertados do poço e do Eufrates, a Terra será invadida por forças demoníacas.  O restante do capítulo 12 descreve como esses demônios perseguirão Israel e ao “remanescente da sua semente” (12:17) – uma referência aos crentes judeus e gentios – e como o Senhor misericordiosa e fielmente protegerá os Seus.

9 – O Anticristo

No capítulo 13, João nos apresenta outra figura chave nos eventos do fim dos tempos: o Anticristo.  João usa uma linguagem vívida para descrever esse homem, a quem chama de “Besta”.  Ele será um líder político mundial influente e blasfemo, que chegará ao poder na segunda metade da Tribulação.  A Besta travará uma guerra agressiva contra o povo de Deus na Terra e blasfemará contra o Senhor e Seu céu (13:1-7).

João diz que o Anticristo será apoiado por um companheiro maligno – o Falso Profeta – que realizará sinais e maravilhas, com poderes demoníacos, para dar credibilidade ao Anticristo.  Ele até mesmo estabelecerá um ídolo para o Anticristo e aproveitará o poder demoníaco para fazer o ídolo falar, levando ainda mais as pessoas a adorarem a Besta.

Como já foi observado, nesse ponto da Tribulação, o mundo estará tomado por demônios e influência demoníaca.  O poder demoníaco infestará todas as áreas da vida com os demônios controlando praticamente tudo.  Isso é ilustrado quando João relata que qualquer participação na vida em sociedade requererá receber a marca da Besta (13:16).  Sem essa marca, as pessoas não poderão comprar ou vender, sendo efetivamente banidas da vida em sociedade (13:17).

As pessoas costumam perguntar sobre o significado do número 666 (13:18).  Seu significado é que esse número representa o homem.  Sete é o número perfeito de Deus, e o homem – que foi criado no sexto dia – sempre fica aquém da perfeição de Deus.  Portanto, o número em si não revela necessariamente uma verdade maior;  é apenas representante do homem e sua incapacidade de atingir a perfeição.  E por meio desse número, o Anticristo exercerá controle completo e satânico sobre o comércio no mundo impenitente.

10 – O Lagar da Ira de Deus

O capítulo 14 é outra prévia da vitória final de Cristo.  Começa com a celebração das 144 mil testemunhas,  que cantam um novo cântico ao Senhor (14:3).  Esse exército de testemunhas tem muito pelo que louvar a Deus.  No capítulo 7:3-4, Deus os sela e os protege de danos;  eles sobrevivem à perseguição mais feroz da história ilesos.  Eles ministram e prosperam nas condições menos hospitaleiras que se possa imaginar.

A partir daí, João rapidamente muda sua atenção para as proclamações de três anjos, cada um alertando sobre o perigo de se aliar ao Anticristo contra Deus (14:6-11).  João diz que Cristo voltará em glória (14:14), e que a justiça que Ele aplicará contra Seus inimigos será rápida e terrível.  Isso é retratado pelas foices (14:14-19) e pelo lagar (14:19-20).  O tipo de destruição que João descreve aqui é uma prévia do que está por vir na Batalha do Armagedom.

O lagar é usado para pintar um quadro particularmente horrível do julgamento de Deus.  João descreve graficamente a severidade da batalha, que, embora ocorra fora de Jerusalém, resultará em sangue derramado o suficiente para cobrir a nação inteira com um metro e meio de profundidade (14:20).  Será,  literalmente, um banho de sangue.

11 – AS TAÇAS

João retorna à cena no céu, no capítulo 15, onde os homens e mulheres que perseveraram fielmente contra o Anticristo cantam canções,  celebrando a obra redentora do Senhor em favor de Seu povo.  Uma é o cântico de Moisés (15:3; cf. Êxodo 15:1-18).  É uma música de celebração da vitória e libertação de Deus, com a qual aqueles que vencerem o Anticristo poderão se identificar de maneira única.  Eles também cantam o cântico do Cordeiro, anteriormente cantado no capítulo 5, versículos 8–14 (15:3–4).

A celebração jubilosa é um forte contraste com a terrível destruição que o Senhor tem reservado no capítulo 16. Começando no versículo 2 e vindo em rápida sucessão, as sete taças de julgamento são derramadas sobre a Terra, punindo aqueles que tomaram a marca da Besta. 

  • A primeira taça resulta em feridas dolorosas e possivelmente cancerosas (16:2).
  • A segunda taça (16:3) transforma o oceano em sangue, matando todos os seres vivos do mar.
  • A terceira taça (16:4-7) tem um efeito semelhante no resto das águas. Deus não está mais destruindo um terço (como ocorrera nos eventos anteriores da Tribulação). João agora está vendo e descrevendo a destruição total.
  • A quarta taça (16:8-9) é derramada no sol, tornando-o tão quente que queimará os homens na Terra, queimando-os até a morte. E ao invés de se arrependerem, João diz que eles endurecerão seus corações e blasfemarão contra Deus. 
  • A quinta taça (16:10-11) mergulhará o mundo – incluindo o governo do Anticristo – nas trevas. E porque não haverá luz, as pessoas serão muito mais suscetíveis a lesões.  João diz que a dor em que incorrerão na escuridão será tão intensa, que os fará roer a língua em agonia.
  • A sexta taça do julgamento (16:12-16) será derramada no Eufrates, secando o rio e preparando o caminho para os reis do leste. É nesses versos que a batalha do Armagedom é armada, quando as forças militares de todo o mundo se reunirão para travar uma guerra contra Deus. Historicamente, as planícies do Megido têm figurado em batalhas importantes para os israelitas – na vitória de Baraque sobre os cananeus, em Juízes 4, e na vitória de Gideão sobre os midianitas, em Juízes 7. O próprio Napoleão o chamou de o maior campo de batalha que ele já viu.  Mas, como João deixou claro anteriormente (14:14-20), os efeitos da guerra se estenderão muito além dos limites geográficos desse campo de batalha.
  • A sétima taça sinaliza a conclusão da ira de Deus. Começa com um pronunciamento do céu: “Está feito” (16:17).  Deus pontuará a conclusão de Sua ira com o mais poderoso terremoto da história da Terra (16:18).  A grande cidade, Jerusalém, será dividida em três partes, preparando-a para seu lugar central no Reino Milenar (16:19).  Conforme a Terra convulsiona, João diz que todas as ilhas desaparecerão, as montanhas não serão  encontradas e pedras de granizo gigantescas causarão morte e destruição inimagináveis ​​(16:20-21).  A destruição que Deus trará até esse momento será considerável, mas não haverá mais destruição por um certo tempo.

12 – A Prostituta e a Besta

No capítulo 17, João responde à pergunta: “Como será a religião durante a tribulação?”  Ele dá um vislumbre do funcionamento interno da falsa adoração à Besta – que é o Anticristo.  A verdadeira igreja é muitas vezes referida como a Noiva de Cristo (cf. Efésios 5:25; Apocalipse 19:7; 21:9).  Em contraste, João se refere à falsa religião do Anticristo como a Prostituta (17:15). 

Por muito tempo, a Besta e a Prostituta trabalharão em conjunto,  promovendo enganos políticos e religiosos.  Mas, no final, a Besta irá consumir a Prostituta (17:16), colocando-se como o líder inquestionável de ambos os sistemas – político e religioso.

É provável que isso ocorra ao mesmo tempo em que o Falso Profeta, demonicamente, estabelecerá e dará características de ser vivo a um ídolo, em apoio à adoração do Anticristo (13:14-15).  Todas as falsas religiões estarão unidas em segui-lo e adorá-lo.

13 – A Queda da Grande Babilônia

João responde a outra pergunta importante no capítulo 18: “Como será o comércio durante a Tribulação?”  Ele se refere ao último grande sistema econômico mundial como Babilônia, a grande, e diz que ele “se tornou morada de demônios” (18: 2).  Como tudo na Terra, esse sistema econômico será invadido por forças demoníacas, e essa influência demoníaca o levará à ruína. 

O versículo 11 diz: “E sobre ela [a Babilônia] choram e lamentam os mercadores da terra; porque ninguém mais compra as suas mercadorias”.  João explica o porquê,  alguns versículos depois: “o fruto do desejo da tua alma foi-se de ti; e todas as coisas gostosas e excelentes se foram de ti, e não mais as acharás.” (18:14).

Quando os homens estão apenas tentando sobreviver – especialmente em um mundo tão entregue à corrupção, violência e pecado – há muito menos interesse em luxo e compras.  E não serão apenas os comerciantes que sentirão as repercussões da falência da economia mundial. O comércio fracassará, os sistemas de transporte entrarão em colapso, a música e outras atividades artísticas serão abandonadas e os artesãos se afastarão de seu trabalho (18:15-19, 22).  Será um colapso total da sociedade em todos os níveis.

Em contraste com essa calamidade, João mantém uma perspectiva celestial.  A devastação será terrível, mas é o resultado do plano de Deus de purificar e recuperar o governo do mundo.  Como outros aspectos do plano redentor de Deus, é doce e amargo.  João nos lembra de nos alegrarmos no Senhor, cumprindo Sua vontade, mesmo em meio às ruínas (18:20).

14 – Uma Celebração no Céu

Porque a ira de Deus está completa, o céu está se alegrando.  O capítulo 19 registra essa celebração, enquanto o céu se prepara para o estabelecimento do reino na Terra – a Segunda Vinda de Cristo.  O versículo 7 cita o coro no céu: “Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou.

Começando no versículo 11, João fica face a face novamente com a glória total do Cristo ressuscitado.  Ele escreve:

11 E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça.
12 E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo.
13 E estava vestido de veste tingida em sangue; e o nome pelo qual se chama é A Palavra de Deus.

Se você é um crente, você também estará nesta passagem.  O versículo 14 diz: “E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro.” Todas as pessoas redimidas retornarão, sob o comando do Cordeiro, para eliminar o mal e estabelecer Seu reino na Terra.  Nos versículos 17-21, João cobre os eventos do Armagedom, incluindo a captura da Besta e do Falso Profeta, bem como a eliminação dos exércitos de Satanás.

15 – O Reino Milenar

O capítulo 20 começa com o encarceramento de Satanás, sendo que ele ficará preso por mil anos no poço do abismo (20:1-3).  Isso marcará o início do reinado de mil anos de Cristo na Terra, durante o qual Ele permitirá que os santos governem ao lado Dele (20:4).  Ao mesmo tempo, ainda haverá pessoas vivendo na Terra, incluindo muitos que não seguirão a Cristo.  Mesmo depois de tudo o que viram e ouviram, os pecadores ainda terão  o coração duro para com a verdade.

Depois que os mil anos terminarem, Satanás será brevemente solto (20:7).  Ele reunirá um grupo inumerável, formado por aqueles que rejeitarão a Cristo, para travar uma guerra contra Ele uma última vez, mas virá fogo do céu e consumirá os exércitos de Satanás (20:7-9).  Ele será lançado no Lago de Fogo, para tormento e punição eternos, e o povo de Deus estará, finalmente, livre de seu inimigo (20:10).

Depois disso, João testemunhou o Julgamento do Grande Trono Branco, observando enquanto a própria morte e o próprio Hades eram lançados no Lago de Fogo e Enxofre para sempre (20:11-15).

16 – O Novo Céu e Nova Terra

João fecha seu livro nos capítulos 21 e 22 com descrições do novo céu e da nova Terra de Deus.  Em 21:3, ele ouve estas palavras: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.” Será um lugar sem dor, sofrimento, lágrimas e morte (21:4).  Será um estado eterno de contentamento no Senhor – Ele atenderá a todas as nossas necessidades, enquanto desfrutaremos a eternidade com Ele.

A última exortação de João – seu último convite para o evangelho – vem em 22:17, onde ele escreve: “E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.

João convida homens e mulheres a virem e participarem da salvação disponível apenas por meio do glorioso Cristo ressurreto, porque um dia ela não estará mais disponível.  Como ele escreve em 22:11, “Quem é injusto, seja injusto ainda; e quem é sujo, seja sujo ainda; e quem é justo, seja justificado ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.”  Em outras palavras, o que quer que você seja quando entrar na eternidade é o que você será para sempre.

Nós – que conhecemos e amamos o Senhor – temos uma responsabilidade à luz da profecia de João.  Com base no que está por vir – talvez em breve – devemos pregar o evangelho do Cristo ressuscitado com ousadia e clareza para todos aqueles que irão ouvir.  A eternidade deles depende disso.


Este texto é uma tradução do Artigo “A Jet Tour Through Revelation″, de John MacArthur em 29/07/2013.

Texto original: https://www.gty.org/library/articles/45JET/~/about

Tradução feito pelo site Rei Eterno


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