Bem-Aventurados os Humildes

Sermão do Monte – Marcas do Cristão

Um pequeno versículo da Escritura tem a capacidade de ser cheio de significado e de verdade. Vemos isso claramente nas bem-aventuranças (Mateus 5: 3-12). Cada uma delas são carregadas com tremendas verdades. E agora vamos olhar para a primeira das bem-aventuranças:

Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus (Mateus 5:3)

Jesus veio para trazer felicidade e bênção. Ele veio para tornar a vida significativa. E a chave para alcançar tudo isso é tratada nas bem-aventuranças. E sobre isso que Jesus fala em todo o Sermão do Monte (Mateus 5 a 7).

A palavra grega “makarios”, traduzida como “bem-aventurados” refere-se a uma felicidade interior profunda, um sentimento profundo e genuíno de bênção, uma felicidade que o mundo não pode oferecer. É uma felicidade que não pode ser produzida, tocada ou alterada pelo mundo e nem pelas circunstâncias.

A promessa de Cristo nas bem-aventuranças tem uma sequência: somos abençoados (Mateus 5: 3 a 11) e há um resultado de toda essa bênção: “regozijai-vos e exultai” (Mateus 5:12). As bem-aventuranças (makarios) que os crentes vivem e desfrutam, é um dom de Deus.

A melhor compreensão do termo “bem-aventurado” (makarios) vem quando você entende que Deus é bem-aventurado.

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Efésios 1:3).

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus. (II Cor. 1: 3-4)

Deus é bem-aventurado e possui a plenitude do contentamento e da felicidade por força da natureza divina. Então somente aqueles que participam dessa natureza divina pode conhecer essa mesma bem-aventurança.

Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina... (2 Pedro 1:2-4)

Só quando participamos da própria natureza de Deus é que nós podemos ser abençoados e conhecer essa felicidade. Quem não conhece a Deus não pode desfrutar dessa bem-aventurança.

E tudo isso tem a ver com a obra que Cristo realiza em nosso homem interior, que muda nossa atitude, pensamentos e valores, e aí é que está a verdadeira chave para a felicidade. Não se trata de comportamentos externos, podemos acumular tudo o que quisermos no homem exterior, mas isso nunca trará alguma felicidade para o homem interior.

Jesus está oferecendo bênção e felicidade com base em um novo padrão de vida. E o mais incrível é que as únicas pessoas que podem conhecer a bem-aventurança são as pessoas que sabem que não possuem em si capacidade para viver dessa forma, por isso são totalmente dependentes de Jesus Cristo.

A multidão estava lá ouvindo e prestando atenção. Mas a mensagem realmente foi direcionada para os doze. Porque ninguém que não tem fé em Jesus Cristo jamais poderia conhecer a bem-aventurança. E esse sermão é direcionado para os que creem em Jesus Cristo. Apenas os participantes da natureza de Deus podem conhecer a bem-aventurança.

Como no Sermão da Montanha Jesus disse: “Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mateus 5:48), historicamente alguns dizem que esse sermão é muito difícil e que são princípios do reino milenar de Cristo. Mas esse pensamento não encontra sustentação bíblica. O texto não diz que é para o milênio e Jesus não pregou para pessoas que viviam o milênio. E mais, Jesus disse:

Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. (Mateus 5:11,12)

No reino milenar o Senhor vai governar com vara de ferro (Apocalipse 19:15). O povo de Deus não será perseguido nesse período. Então, o Sermão do Monte é para todos nós, para a igreja de Jesus Cristo ao longo dos séculos.

É o estilo de vida diferenciado de um crente de qualquer idade. Ele nos convida a um novo padrão de vida. É Jesus nos dizendo: “Olha, esta é a maneira que você deve viver se você quer conhecer a felicidade, se você quer conhecer o que é ser bem-aventurado.”

É maravilhoso o que Deus está nos oferecendo a felicidade verdadeira. Ele quer que sejamos abençoados. E ele nos dá princípios para isso. Esse é o distintivo do verdadeiro cristão. Mas a geração atual da igreja perdeu o seu caráter distintivo, sendo moldada pelo mundo com valores, entretenimento, cultura e outras coisas do reino das trevas. Mas o Sermão do Monte continua sendo, como sempre foi e será, o caminho do Senhor.

Como criador e sustentador de todas as coisas, o Senhor nos dá o caminho da verdadeira felicidade e bênção. Ele disse no fim do Sermão da Montanha:

Mateus 7
24 Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha;
25 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha.
26 E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia;
27 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.

Ele está sempre lidando com o interior, com a essência, e não com o exterior e superficial. O interior santo consequentemente gera um exterior santo, mas um mero esforço carnal de comportamento, sem a obra do Senhor em nossos corações, não é nada diante de Deus. O verdadeiro exterior só pode ser produzido pelo interior real.

Reivindicar o espírito sem viver de acordo com a lei de Deus é ser um mentiroso. Por outro lado, tentar viver a lei de Deus sem o espírito é ser um hipócrita. Os dois caminham juntos. O espírito é a atitude certa e a letra é a obediência que vem como resultado. A verdadeira espiritualidade começa no interior e toca o exterior.

As bem-aventuranças estão quase colocadas em contraste absoluto em relação a tudo que o mundo conhece. A palavra “bênção” ou “bem-aventurado” (do grego “makarios”) tem uma palavra oposta na Bíblia que é traduzida como “ai” (do grego “ouai”). O oposto de bênção é maldição. O oposto de bem-aventurado, que Jesus disse no Sermão do Monte, é o que Ele disse aos fariseus mais tarde: “Ai de vós” (Mateus 23).

A palavra “bem-aventurado” e a palavra “ai” não são realmente um desejo, são pronúncia de julgamento. São pronúncias judiciais e não simplesmente desejos.

Há uma sequência nas bem-aventuranças: Em primeiro lugar, vemos os humildes de espírito, a atitude certa para o pecado, o que leva ao choro, o lamento sobre o pecado, que gera mansidão, um senso de humildade, em seguida, uma busca e fome e sede de justiça.

Isso se manifesta em misericórdia, no coração limpo e num espírito pacificador. Vivendo plenamente a vontade Deus, você sofrerá o ódio do mundo, mas se regozijará e exultará. Mas por que esse regozijo? Por causa da pronúncia judicial divina: “porque grande é o vosso galardão nos céus” (Mateus 5:13).

Então, vamos olhar para o versículo 3. “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.” Isso é tão básico e necessário.

Por que Cristo começa com a humildade?

Porque é a característica fundamental do cristão. É a primeira coisa que acontece na vida de quem entra no reino de Deus. Ninguém entra no reino de Deus com base no orgulho.

Humildade de espírito é a única maneira de entrar no reino de Deus. A porta para o reino do Senhor Jesus Cristo é muito estreita e as únicas pessoas que entram vêm se rastejando. Em outras palavras, Jesus está dizendo que você não pode ser enchido sem que você esteja vazio. Você não pode valer a pena até que você seja sem valor.

No cristianismo moderno o auto-esvaziamento é algo quase esquecido. Há muitos livros sobre como ser enchido de alegria, mas quase nenhum sobre como esvaziar-se de si mesmo. Você consegue imaginar um livro intitulado “Como ser um nada”? “Como ser um ninguém.” Isso é inimaginável nos dias de hoje. Mas esse é o único caminho de ser bem-aventurado.

Grande parte do cristianismo moderno é o farisaismo que se alimenta de orgulho. Humildade de espírito, por outro lado, é a base de todas as graças. Se alguém não é humilde de espírito, é melhor que espere uma fruta crescer sem uma árvore do que as graças da vida cristã crescerem sem humildade. Impossível.

Enquanto não formos humildes de espírito, não podemos receber a graça. Até mesmo no início, você não pode se tornar um cristão a não ser que você seja humilde de espírito.

E, durante sua vida cristã, você nunca vai conhecer as outras graças da vida cristã enquanto você violar a humildade de espírito. E isso é difícil. Jesus está dizendo: “Comece aqui. A felicidade é para os humildes”. Até que sejamos humildes de espírito, Cristo nunca será precioso para nós.

Por que sem humildade não podemos contemplar a Cristo?

Porque estamos olhando para nós mesmos, para nossos próprios desejos, necessidades e desespero. Dessa forma nunca veremos o valor incomparável de Cristo.

Precisamos entender profundamente que somos merecidamente condenados, não podemos apreciar como realmente glorioso ele é e quão maravilhoso é o seu amor para nos redimir. Até que vejamos nossa pobreza, não podemos entender suas riquezas.

Ninguém jamais entra no reino de Deus sem antes rastejar com um terrível sentimento de pecado e arrependimento.

O Senhor fez todas as coisas para determinados fins e até o perverso, para o dia da calamidade. Abominável é ao Senhor todo arrogante de coração; é evidente que não ficará impune. (Provérbios 16:4,5)

Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará (Tiago 4: 6,10)

A única maneira de chegar ao reino de Deus é confessar a sua própria injustiça, incapacidade de cumprir a lei de Deus e que você não consegue fazer nada sem Ele. E Paulo entendeu e experimentou isso de forma profunda:

Filipenses 3
4 Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais:
5 circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu,
6 quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.
7 Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo.
8 Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo
9 e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé;
10 para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte;
11 para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos.

Por outro lado, a igreja de Laodiceia estava no caminho inverso, e veja o que Jesus lhe disse:

Apocalipse 3
16 …estou a ponto de vomitar-te da minha boca;
17 pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.
18 Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas.

Todo aquele se considera autossuficiente não sabe que é apenas um miserável, cego, pobre e infeliz. É apenas mais um enganado caminhando na escuridão. É um desesperado.

Jesus começa pela humildade porque é aqui por onde você tem que começar para ser salvo, para ser um bem-aventurado. Não há espaço para o orgulho no Reino de Deus. Infelizmente o cristianismo comum atual hoje está se alimentando de orgulho, de exaltação do indivíduo.

Ninguém pode vir a Deus a não ser que reconheça sua falência espiritual. E essa é a maneira que temos para viver a vida cristã. Não há nada que seja aproveitado da carne.

O que significa “humildes de espírito?” Que tipo de humildade Jesus está falando?

Algumas pessoas sugerem que é uma humildade material. Eles pegam Lucas 6:20, que diz: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.” Mas não é isso.

Quando há dois registros nos Evangelhos, precisamos compará-los. “Bem-aventurados os pobres.” Os pobres? Há diversos tipos de pobreza: em relação a dinheiro, educação, ter amigos etc. Mateus diz o tipo de pobreza que Lucas está se referindo.

Se Lucas estivesse se referindo a dinheiro, então a pior coisa que um Cristão pode fazer é dar dinheiro a alguém. Ou seja, ajudar os pobres seria algo terrível para eles. Teríamos que fechar todos os orfanatos, hospitais, missões e tudo o que estende a mão para pessoas carentes.

Porém, é fato que os pobres têm uma vantagem na atitude correta para com a vida, porque, em seu desespero, eles procuram uma fonte além de si mesmos, tendem a não confiar em si mesmos. Por outro lado, a tendência de autossuficiência do rico faz com que seja mais difícil reconhecer que nada são. Por isso Jesus disse: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” (Lucas 18:24).

Temos exemplos na Bíblia de pessoas ricas que pertenciam ao povo de Deus, tais como Davi, José de Arimateia, Nicodemos etc. Paulo disse que havia aprendido a estar contente em todas as situações, na escassez ou na abundância:

Filipenses 4
11 … Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.
12 Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez;
13 tudo posso naquele que me fortalece.

O Senhor Jesus jamais andou com os doze implorando por comida. Eles foram acusados injustamente de muitas coisas, mas se fossem mendigos, receberiam essa acusação também.

A palavra “humilde” do grego “ptōchos”, é um verbo grego que significa “o encolhimento de algo ou alguém para se esconder e se encolher como um mendigo.” Como se alguém simplesmente se encolhesse e se escondesse como um mendigo.

O grego clássico usa esta palavra para se referir a alguém que é reduzido a mendicância, que se agacha em um canto da parede escura para pedir esmolas. E a razão pela qual ele se agacha e se esconde é porque ele não quer ser visto. Ele é tão desesperadamente envergonhado que ele não quer que a sua identidade seja conhecida.

É a mesma palavra usada em Lucas 16, quando diz: “Lázaro, o mendigo.” Não é só pobre, é quem está mendigando. Há outra palavra grega na Bíblia para a pobreza normal: “penēs”, que significa que você é tão pobre que tem que trabalhar apenas para manter-se vivo.

Mas a palavra grega usada por Jesus em Mateus 3:3 é “ptōchos”, que retrata alguém tão pobre que precisa mendigar. Alguém que reduzido a um mendigo encolhido e escondido.

A diferença entre “penēs” e “ptōchos” reside no fato de que na primeira você pode ganhar seu próprio sustento para viver, na segunda você não tem esta capacidade, depende totalmente da dádiva de outra pessoa.

E foi exatamente a segunda palavra que Jesus se referiu quando disse: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5:3).

Por que Jesus especificou “humilde de espírito”? Por que “espírito”?

Isso faz referência ao espírito, que é a parte interior do homem, e não o corpo, que é a parte exterior. Ele está mendigando por dentro, não necessariamente no exterior.

Mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra. (Isaías 66:2)

Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus. (Salmos 51:17)

Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos. (Isaías 57:15)

Deus se identifica com as pessoas que imploram no interior, não com pessoas que são autossuficientes, que pensam que podem trabalhar e se esforçar para conseguir sua própria salvação e que acreditam em seus próprios recursos. Deus se idêntica com aqueles que são destituídos de tudo e miseráveis.

Isso não significa que no espírito do quebrantado há falta de entusiasmo, ou que é passivo, indiferente ou inerte. Não está nem perto de significar nada disso. Um humilde de espírito é um indivíduo sem senso de autossuficiência, que reconhece que está falido.

Jesus ilustrou bem isso em uma parábola:

Lucas 18
10 Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano.
11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano;
12 jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
13 O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!
14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.

Essa é a explicação mais clara que você se pode ouvir sobre o que é ser humilde de espírito e o que é ser autossuficiente. Os humildes de espírito são os únicos que conhecem a Deus, que experimentam a bem-aventurança de Deus. E deles é o reino.

Jacó teve que enfrentar a pobreza de espírito antes que Deus pudesse usá-lo. Ele lutou contra Deus durante toda a noite em Gênesis 32:24, e, finalmente, Deus deslocou o quadril de Jacó (v. 25). Ele o colocou de costas no chão. E Deus o abençoou ali (v. 29). Jacó chamou aquele lugar de Peniel, pois disse: “Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva” (v.30).

Isaías foi usado maravilhosamente por Deus, mas ele não podia ser usado até ser humilde de espírito. Isaías estava muito perturbado com a morte do rei Uzias, não podia imaginar como seria a vida sem o rei por perto. Mas Deus invadiu sua vida e Deus lhe mostrou o que realmente importava, e não era o rei Uzias.

Isaías 6
1 No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono…
5 Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!
6 Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz;
7 com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado.
8 Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim.

Podemos ver como Pedro abandonou sua atitude de confiança em si mesmo para ser usado poderosamente pelo Senhor. O mesmo aconteceu com Paulo, que declarou ter perdido tudo para conhecer a Cristo (Filipenses 3:8).

Quando admitimos nossa fraqueza e reconhecemos que somos um nada, não é o fim, é o começo. Mas essa é a coisa mais difícil que podemos fazer na vida. Jesus está dizendo que primeiro você tem que dizer: “Eu não posso, sou indigno, sou incapaz”. Isso é ser humilde de espírito.

Deve haver um esvaziamento antes de acontecer um enchimento. Não é apenas para ser salvo, mas esta é a maneira de viver. Alguém escreveu maravilhosamente o seguinte:

Embora eu não possa conhecer e expressar a plenitude do teu amor, enquanto estou nesse corpo mortal aqui embaixo, meu vaso vazio eu posso trazer livremente, ó, tu que és amor, a fonte viva, que enche o meu vaso. Eu sou um vaso vazio. Nem um pensamento ou olhar de amor eu já trouxe a Ti. No entanto, eu posso vir repetidas vezes com isso, apenas com o clamor do pecador vazio, e tu me amas.

O primeiro princípio do Sermão do Monte é que você não pode fazer nada sozinho. Há um novo estilo de vida para viver e este novo estilo de vida promete felicidade eterna para você, mas você não pode fazer por si mesmo, de modo que o único padrão para a vida é para aqueles que sabem que não conseguem fazer nada sozinhos.

Este conceito é visto na primeira entrega da lei no Sinai. Enquanto Deus estava dando a lei para Moises, as pessoas estavam lá embaixo quebrando a lei. Deus estava dando a lei a Moisés e Arão estava organizando uma orgia. Então, logo no início você tem o fato de que os padrões de Deus não estão dentro da capacidade humana.

Quando a liderança religiosa de Israel percebeu que o padrão da lei de Deus era muito elevado e que não poderiam guardá-la, os rabinos começaram a adicionar tradições. O conjunto dessas tradições forma a lei talmúdica, que é nada mais que a redução do padrão da Torá (lei de Deus). Eles violavam a lei de Deus e confiavam nas obras externas de suas tradições. Mas Jesus elevou infinitamente padrão quando disse:

Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus (Mat. 5:20)

Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celeste (Mat. 5:48)

Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. Deixai-os; são cegos, guias de cegos (Mat. 15: 3, 7-9, 13-14).

O objetivo do Sermão do Monte é o mesmo que o propósito do Sinai. É para mostrar-lhe que você não consegue fazer nada sozinho. Você tem que se tornar pobre de espírito e totalmente dependente de Deus.

Não há como apresentar esses padrões para um homem não regenerado e esperar que ele os viva dessa forma. No reino milenar o leão se sentará com o cordeiro, mas, hoje, você não pode ir a selva para tentar mudar a natureza do leão, tentando convencê-lo a não devorar o cordeiro. Isso é impossível. Ele teria que ter uma nova natureza.

Da mesma você não pode pregar o Sermão do Monte a uma pessoa não regenerada e esperar que ela viva. Ele tem que ter uma nova natureza. Isso tudo começa com a humildade de espírito.

Qual é o resultado de ser “humilde de espírito”?

Veja o que Jesus disse: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5:3). Isso é um anúncio, não simplesmente um desejo. O reino dos Céus é apenas dos humildes de espírito. Os verdadeiros cristãos fazem parte disso, isso é maravilhoso.

O verbo está no presente. Não está falando apenas sobre o milênio. Haverá um milênio em que as promessas do reino se tornarão completas, plenamente realizadas. Mas o reino é agora. O reino de Cristo é agora. A felicidade é agora. A Bem-Aventurança é agora. Somos agora um reino de sacerdotes e súditos de Jesus Cristo. Somos vencedores agora. Paulo escreveu:

Estando nós mortos em nossos delitos e pecados, Deus nos deu vida juntamente com Cristo, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. (Efésios 2:5-7)

Temos a graça agora. Já estamos assentados nos lugares celestiais em Cristo. O reino é graça e glória. Graça agora, glória mais tarde. Que coisa tremenda. Somos súditos de Jesus Cristo, Ele nos salvou e nos sustentará até aquele glorioso dia. Ninguém pode arrebatar uma ovelha das mãos de nosso sumo pastor (João 10: 27-29).

Ele nos mantém abundantemente cheios de graça, misericórdia e força. Ele é sempre fiel. Nós temos todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais, em Cristo. Aqui e agora, e um dia teremos a glória.

Como nos tornamos humildes de espírito?

Não comece tentando fazer isso sozinho. Essa foi a loucura do monasticismo. Todos eles pensavam que podiam ser humildes de espírito vendendo todos os seus bens, se vestindo com um manto velho miserável e enclausurados em um mosteiro.

Essa foi a loucura de ascetismo, monasticismo, abnegação, mutilação. Alguns deles até cortaram alguns de seus órgãos. Eles pensaram que poderiam se negar dessa forma e alcançar a humildade de espírito.

Não há como ser humilde de espírito olhando para si mesmo ou para outras pessoas. Não tente encontrar alguém que irá definir o padrão para você. Olhe apenas para Deus. Leia sua Palavra. Encontre-O em Suas páginas. Enquanto você olha para Jesus Cristo, você se afasta de si mesmo.

Não somente olhe para Deus, mas não alimente sua carne. Mate a carne de fome. Infelizmente muitos ministérios hoje se alimentam de orgulho. Temos que buscar as coisas que deixam a carne desnudada.

É muito fácil aceitar elogios, não temos que lutar com isso. Mas outra coisa é a reação que temos quando somos confrontados e não queremos admitir que estamos errados. Mas precisamos disso mais do que qualquer outra coisa. O que pensamos fazer para Deus, Ele pode fazer sem nós. Ele quer primeiro realizar sua obra em nós, exterminando toda raiz de orgulho, soberba e autossuficiência.

Em nossa miséria, na perda, no erro e no fracasso podemos ganhar mais conforto quando confrontados do que recebendo elogio por qualquer coisa. Isso nos ajuda a fazer a carne passar fome. Não deseje elogios.

Temos que olhar para Deus o tempo todo e fazer nossa carne passar fome, não buscando os elogios. Mas há uma terceira coisa: Quem é pobre e está mendigando está sempre pedindo. Vemos isso por toda a Bíblia: homens quebrantados clamando ao Senhor.

Feliz é o humilde espírito. Ele é o único que possui o reino.

  • Por que Jesus começa com “humildade de espírito”? Porque é a base.
  • O que isso significa? Ser espiritualmente falido e reconhecer isso.
  • Qual é o resultado? Você se torna um possuidor do reino agora e para sempre.
  • Como nos tornamos humildes de espírito? Olhando para Deus, fazendo a carne passar fome e clamando.

Como vou saber se eu sou humilde de espírito?

Você tem como saber. Há sete princípios.

1) Você será desmamado de si mesmo.

Senhor , não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo. Espera, ó Israel, no Senhor , desde agora e para sempre. (Salmos 131)

Aquele que é humilde de espírito perde o senso de si. O seu “Eu” desaparece. Se foi. Tudo o que você pensa é em Deus e na sua glória, bem como nos outros e as nas suas necessidades. O seu “Eu” desapareceu. Você está desmamado do seu “Eu”.

2) Você vai se perder na maravilha de Cristo.

E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2 Coríntios 3:18)

Você dirá: “Mostra-me o Senhor”, e isso basta. Você dirá: “Eu estarei satisfeito quando acordar contemplando as maravilhas de Cristo.”

3) Se você é humilde de espírito, você nunca vai reclamar sobre sua situação. Nunca.

Por que isso? Você entenderá profundamente que não merece nada. Quanto mais fundo você vai, mais doce é a graça. Quanto mais você precisa, mais abundantemente Deus dá graça. Quando você tem falta de tudo, você está em uma posição para receber toda a graça. Não há distrações. Você vai sofrer sem murmúrio, porque você sabe que não merece nada. E, mesmo assim, você procura a sua graça.

A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. (2 Coríntios 12:9,10)

4) Você olha apenas para suas fraquezas e não para a fraqueza dos outros

5) Você gastar muito tempo em oração.

Por quê? Porque um mendigo está sempre mendigando. Ele bate com muita frequência na porta do céu e ele não para até ser abençoado. Você gasta muito implorando por graça.

6) Você vai viver nos termos de Cristo, não nos seus.

O pecador orgulhoso quer ter Cristo e seu prazer, Cristo e sua avareza, Cristo e sua imoralidade. Os humildes de espírito são tão desesperados que eles desistem de qualquer coisa apenas para ter Cristo.

Thomas Watson diz: “Um castelo que sitiado por muito tempo, está pronto para ser tomado, vai se entregar aceitando qualquer condição para salvar sua vida.” Aquele cujo coração tem sido uma guarnição para o diabo e tem se mantido por muito tempo em oposição a Cristo, quando Deus lhe der a pobreza de espírito, e ele se ver condenado sem Cristo, ele vai fazer Deus prosperar. Ele vai ofertar a Deus.

E ele vai simplesmente dizer: “Senhor, que queres que eu faça?” Alguém que é humilde de espírito aceita Cristo nos termos de Cristo.

7) Você vai louvar e agradecer a Deus por sua graça.

Uma característica marcante de alguém humilde de espírito, é uma imensa gratidão a Deus. Por quê? Porque tudo o que Ele sabe que tudo quanto tem é um presente dele.

E não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. (Efésios 5:18-21)

Bom, e como você se qualifica?

  • Por que as bem-aventuranças começam com humildade de espírito? Porque é a base de todas.
  • O que isso significa? Um profundo sentimento de impotência espiritual.
  • Qual é o resultado? A posse do reino dos céus.
  • Como posso ser assim? Olhando para Deus, fazendo sua carne morrer de fome, orando.
  • Como vou saber se eu estou lá? Você vai ser desmamado de si mesmo, ficará perdido na maravilha de Cristo, nunca reclamando de sua situação, vendo apenas a excelência dos outros e sua própria fraqueza, gastará muito tempo em oração, aceitará Cristo nos termos dele e agradecerá a Deus por tudo.

O escritor do hino resume tudo isso para nós. “Nada na minha mão eu trago.” Como é o resto? “Simplesmente a tua cruz eu me apego.”

Vamos orar.

Oh, Pai, nós oramos para que não haja artificialidade em nossa vida, que nós não tentemos buscar um tipo de pobreza induzida por nós mesmos. Senhor, ajuda-nos a saber, como Paulo disse, que “Tudo o que somos, é por causa da tua graça, e nada mais.” Nós éramos blasfemos. Estávamos sem Deus. Éramos indignos e ainda somos. E, ó, Deus, ajude-nos a saber que existimos no Teu reino somente por causa da Tua graça.

Se há alguns aqui hoje que ainda não entraram em seu reino é porque ainda não estão dispostos a fazer a coisa mais difícil que podemos fazer, diga, “eu não posso. Eu não posso agradar a Deus. Eu não posso seguir suas regras. Eu não posso seguir as suas leis. Eu não posso viver em seu caminho.” Que este seja o momento em que essa pessoa diga isso. E na admissão de que não podem, que eles possam entender e saber que Tu podes. Pelo Teu poder Tu podes capacitá-los por meio de Cristo para fazer o que nunca poderiam fazer sozinhos.

Pai, nós te agradecemos porque alguns de nós fomos até aquele lugar ao pé da cruz onde nós nos arrastamos para entrar em Teu reino em humildade e com um senso de inutilidade. E Senhor, depois que entramos e vimos o que fizeste através de nós, é tão fácil ser orgulhoso e prepotente e esquecermos, Senhor, que nós atingimos essa bem-aventurança. Nós recebemos a felicidade, recebemos a pobreza de espírito.

Faça-nos desmamar de nós mesmos. Que possamos nos perder na maravilha de Cristo para que sejamos verdadeiramente humildes de espírito, possuidores de seu reino e da bem-aventurança, a bem-aventurança, a felicidade que pertence a quem é assim. Que possamos ser tão diferentes do mundo que seja óbvio que pertencemos a Ti. No nome de Cristo. Amém.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Sermão da Montanha

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série

Clique aqui e veja também o índice com os links dos sermões traduzidos sobre o Evangelho de Mateus


Este texto é uma síntese do sermão “Happy Are the Humble”, de John MacArthur em 10/09/1978.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/2198/happy-are-the-humble

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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