A Nova Páscoa

Jesus celebrou a última Páscoa antes do reino e a transformou na Mesa do Senhor. Ele redefiniu os elementos da Páscoa como os de Sua Mesa. Não como um memorial ao êxodo, mas à cruz, ao sacrifício do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Ele foi o cumprimento de todos os sacrifícios da Antiga Aliança. Naquela última Páscoa, em que o último cordeiro sacrificial foi morto, Ele sabia que iria morrer numa cruz horas depois como o verdadeiro Cordeiro Pascal para estabelecer a Nova Aliança. 

Continuando nossa trilha no evangelho de Marcos, vamos olhar agora para Marcos 14:17-26.

Marcos 14
¹⁷ Ao cair da tarde, foi com os doze.
¹⁸ Quando estavam à mesa e comiam, disse Jesus: Em verdade vos digo que um dentre vós, o que come comigo, me trairá.
¹⁹ E eles começaram a entristecer-se e a dizer-lhe, um após outro: Porventura, sou eu?
²⁰ Respondeu-lhes: É um dos doze, o que mete comigo a mão no prato.
²¹ Pois o Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito; mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!
²² E, enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu e lhes deu, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo.
²³ A seguir, tomou Jesus um cálice e, tendo dado graças, o deu aos seus discípulos; e todos beberam dele.
²⁴ Então, lhes disse: Isto é o meu sangue, sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos.
²⁵ Em verdade vos digo que jamais beberei do fruto da videira, até àquele dia em que o hei de beber, novo, no reino de Deus.
²⁶ Tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras.

Isto aconteceu na noite de quinta-feira, um dia antes da cruz, há poucos momentos da prisão de Jesus. Os judeus galileus celebravam a Páscoa na quinta-feira, pois contavam os dias do nascer-do-sol ao outro nascer do sol. Os judeus da Judeia contavam os dias de um pôr-do-sol a outro pôr-do-sol, então celebravam na Páscoa na sexta-feira.

A Páscoa tornou-se autorizada nos dois dias (quinta e sexta). Jesus celebrou a Páscoa com seus discípulos na quinta-feira. E na sexta-feira de Páscoa, ele morreu como um cordeiro pascal.

Aquela Páscoa foi monumental. Durante 1.500 anos, desde o Êxodo, a Páscoa era celebrada naquela época do ano. Mas aquela foi a última Páscoa legítima. Ela marcou o fim do antigo e o início do novo.

Não foi apenas a última Páscoa, foi a primeira Comunhão. O Senhor fez a transição, ele pegou os componentes da Páscoa e os redefiniu como os elementos de Sua Mesa. O Senhor estabeleceu um novo memorial que chamamos de comunhão. O Antigo Testamento acabou e o Novo Testamento chegou.

Foi essencial que nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Cordeiro Pascal (1 Cor. 5:7), morresse na sexta-feira, às três horas da tarde. Esse era o momento em que os sacerdotes estavam abatendo os cordeiros para a Páscoa.

Mas também foi crucial que Jesus celebrasse a Páscoa, cumprindo toda a justiça. E, portanto, o fato do reconhecimento da Páscoa na quinta e na sexta se encaixa perfeitamente no propósito e no plano de Deus, que sempre está no controle de toda a história.

Também era fundamental ele ter um tempo para instruir seus discípulos. E toda essa rica instrução que ele deu na noite de quinta-feira está contida em João 13 a 16, que culminou com a grande oração sacerdotal de nosso Senhor em João 17, em que ele começou dizendo: “Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti” (João 17:1).

Uma grande promessa que nosso Senhor lhes deu durante aquelas horas foi a promessa da vinda do Espírito Santo. Ele disse: “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” (João 15:26).

E, além disso tudo, aquele tempo foi necessário para que o traidor cumprisse seu intento e Jesus concluísse seu ensino aos discípulos (cf. João 13 a 17). Esses são os componentes daquela noite de quinta-feira. Foram coisas tão importantes que são apresentadas nos quatro evangelhos, estudando todos os evangelhos temos uma visão completa dos fatos.

A entrada do Cordeiro de Deus em Jerusalém

Assim como os judeus trouxeram seus cordeiros para Jerusalém na segunda-feira, nosso Senhor entrou em Jerusalém no mesmo dia como o Cordeiro escolhido de Deus, exatamente quando os cordeiros eram escolhidos.

Os cordeiros seriam mortos na quinta e na sexta-feira pelos sacerdotes. Porém o Cordeiro de Deus não foi morto pelos sacerdotes, mas pelo próprio Deus. Agradou ao Senhor fazer isso (Is. 53:10).

O significado da Páscoa no Antigo Testamento

Na Páscoa eles lembravam da saída do Egito. Naquela ocasião, o sangue dos cordeiros sacrificados foi colocado na ombreiras e vergas das portas de cada família dos hebreus. Assim, quando o anjo da morte passou para matar os primogênitos, ele poupou os primogênitos hebreus (Ex. 11 e 12:1-14).

Páscoa vem de uma palavra hebraica que significa “pular”. O anjo da morte pulou sobre as casas dos hebreus salpicadas de sangue dos cordeiros

A proteção contra o julgamento de Deus requer a morte de um substituto inocente (Hb. 9:22). Foi isso que o sistema sacrificial comunicou. Mas nenhum cordeiro jamais satisfez a Deus (Hb. 10:1-18). É por isso que milhões deles foram sacrificados durante 1.500 anos.

Aquela seria a última Páscoa legítima, porque no dia seguinte, o verdadeiro Cordeiro Pascal (1 Coríntios 5:7), Jesus Cristo, a nossa Páscoa, seria morto. Como a realidade viria, os símbolos e as sombras cessariam. Exatamente na hora do sacrifício dos cordeiros, o Cordeiro de Deus morreria.

O véu do templo seria rasgado de alto a baixo (Mt. 27:51), e o sistema de sacrifícios ou o sistema levítico (Hb. 9) chegaria ao seu fim (Hb. 10:8-18). E não seria encerrado por Judas, nem por Herodes, nem por Caifás, nem pelos líderes judeus do Sinédrio e nem pelos romanos, mas por Deus, que ofereceu Seu próprio Filho como sacrifício perfeito.

Os preparativos da última Páscoa

Naquela noite de quinta-feira Pedro e João foram fazer os preparativos da Páscoa (Lc. 22:8).  A questão era: “Onde vamos celebrar a Páscoa?”. O Senhor respondeu:

Ide à cidade, e vos sairá ao encontro um homem trazendo um cântaro de água; segui-o e dizei ao dono da casa onde ele entrar que o Mestre pergunta: Onde é o meu aposento no qual hei de comer a Páscoa com os meus discípulos? (Mc. 14:13,14).

Apenas Jesus, Pedro e João sabiam onde ficava o cenáculo em que seria celebrado a Páscoa com os outros dez discípulos na noite daquela quinta-feira. Por que o segredo? Judas. O Senhor sabia o que Judas estava tramando. Tudo deveria acontecer no cronograma do Senhor e não no de Judas ou dos líderes religiosos.

Então, Jesus e os doze chegaram no local da ceia (Mc. 14:17). Naquela noite, os quatro evangelhos trazem os seguintes componentes:

1) A refeição pascal;
2) A exposição de Judas;
3) A ação de Satanás;
4) O confronto com Pedro sobre a sua negação;
5) A discussão entre os apóstolos sobre quem deles seria o maior;
6) O ato incomparável de lavar os pés;
7) O ensino de Jesus registrado João 13 a 16, que inclui a promessa do Espírito Santo e todos os outros recursos que seriam disponibilizados a eles;
8) A oração de Jesus em João 17,
9) Algumas outras advertências aos apóstolos.

Tudo isso ocorreu e foi entrelaçado nos eventos que duraram algumas horas naquela noite. Os componentes são cruciais, a sequência não. Vamos apenas dividi-la em duas partes: a Páscoa final e a primeira Comunhão.

A Páscoa final e a primeira comunhão (a Mesa do Senhor)

O pôr do sol iniciava oficialmente a Páscoa. Os cordeiros eram mortos antes disso. O local secreto da refeição pascal estava definido, não sabemos onde. Jesus não desejava ser interrompido até que terminasse as instruções a seus discípulos (João 13 a 17).

Marcos 14:17-18 diz que “ao cair da tarde, foi com os doze. Quando estavam à mesa e comiam…”. Não foi uma refeição rápida.

O historiador Flávio Josefo escreveu que entre 10 e 20 pessoas comiam um cordeiro pascal. Aquele cordeiro havia sido morto pelo sacerdote, oferecido no altar, parte da carne guardada, parte da carne queimada e o restante levado pelos discípulos ao local da Páscoa. E lá estavam eles prontos para comê-lo.

Na instrução de Deus a Moisés sobre a Páscoa, diz: “o cordeiro há de ser comido numa só casa; da sua carne não levareis fora da casa, nem lhe quebrareis osso nenhum”. Ou seja, eles tinham que comer tudo. E assim, eles teriam passado a noite desfrutado daquela refeição de Páscoa.

O ritual da celebração da Páscoa conduzida por Jesus no cénaculo

A refeição pascal começava com uma oração de agradecimento, seguida pela primeira taça de vinho tinto duplamente diluído em água. Depois havia o cerimonial de lavagem de mãos, que simbolizava a necessidade de purificação e de santidade.

Naquele noite os discípulos suscitaram “entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior” (Lc. 22:24). Um debate que exalava um orgulho chocante. Como o Senhor enfrentou aquela discussão? João registrou:

Levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhes com a toalha com que estava cingido (João 13:4,5)

E então o Senhor lhes disse:

Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve (Lucas 22:25-27).

A cerimônia de lavagem das mãos era seguida pela ingestão de ervas amargas que simbolizava a dura escravidão e aflição que o povo hebreu suportou enquanto escravizados no Egito. Junto com as ervas amargas, o pão seria partido. Eram pães achatados, partidos e distribuídos. Eles eram mergulhados em uma pasta de frutas e nozes.

A ingestão de ervas amargas era seguida pelo canto dos dois primeiros salmos do Hallel (conjunto de Salmos entre os capítulos 113-118) e então vinha a segunda taça de vinho.

Em seguida, o cordeiro assado e pão sem fermento eram servidos. Depois de lavar as mãos mais uma vez, o chefe da família iria distribuir pedaços de pão para ser comido com o cordeiro sacrificial.

Quando o prato principal fosse concluído, uma terceira taça de vinho seria servido. Para completar a tradicional cerimônia, os participantes cantavam o resto do Hallel (Salmos 115 a 118) e, finalmente, bebiam a quarta taça de vinho. Assim foi aquela celebração.

O forte desejo de Jesus em celebrar a última Páscoa com seus discípulos

Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus. (Lucas 22:15-16)

Jesus expressou um desejo extremo de comer a Páscoa com os discípulos. Ele sabia que ali haveria uma transição, ele completaria todo um sistema e iniciaria um novo.

Jesus sabia que não podia morrer antes que tudo estivesse claramente delineado para os discípulos, para que o Espírito Santo trouxesse tudo de volta à memória deles no futuro.

Aqueles homens iniciaram a igreja, e, conduzidos pelo Espírito Santo, juntamente com Paulo, estabeleceram a doutrina da igreja, registrada no Novo Testamento. Naquela mesma noite, o Senhor deixou riquíssimos ensinos e promessas, registrados pelo apóstolo João nos capítulos 13 a 17 de seu evangelho.

Como todo judeu, Jesus viveu toda a sua vida vendo animais sacrificados. E Ele sabia que aqueles sacrifícios apontavam para Ele. E agora, Ele estava comendo uma refeição na qual o último cordeiro da velha aliança seria sacrificado e comido. E em questão de horas tudo estaria acabado.

E Ele foi o cumprimento de todos esses sacrifícios. E diante de Seu sofrimento iminente, Ele sabia que iria morrer numa cruz. Ele sabia que seu sofrimento ocorreria em questões de horas. Ele entendia a urgência daquele momento.

Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. (João 13:1)

Jesus foi tomado de profundo amor por seus discípulos, bem como a profunda necessidade deles pela verdade que Ele lhes daria.

Quando será a próxima Páscoa legítima?

Jesus disse que “nunca mais a comerei [a Páscoa], até que ela se cumpra no reino de Deus” (Lc. 22:16). Com essa declaração, temos o fim de todas as Páscoas legítimas. Acabou. Foi a sua última refeição antes da cruz. Ele comeu o cordeiro e se tornou o Cordeiro Pascal horas depois.

Haverá algum dia outra Páscoa legítima? Haverá. Ele não disse que nunca mais haveria a Páscoa, mas não haverá “até que se cumpra no reino de Deus”. Mesmo a Páscoa ainda não atingiu o seu cumprimento final. Isso vai acontecer no reino milenar de Cristo.

Porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai (Mateus 26:28,29).

Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. (1 Coríntios 11:26).

O profeta Ezequiel nos dá um retrato da adoração no reino milenar. Em Ezequiel 40 a 48 temos um retrato da adoração milenar, a adoração de Cristo no reino vindouro. No capítulo 45, os versículos 21 a 25 descrevem a celebração da Páscoa.

Haverá um templo construído no milênio. Haverá uma Páscoa realizada naquela época no reino milenar. Não como um memorial ao êxodo, mas como um memorial à cruz, ao verdadeiro Cordeiro.

Então a última Páscoa antes da vinda do reino seria celebrada na noite de quinta-feira, no espaçoso cenáculo reservado por um homem não identificado nas Escrituras (Mc. 14:12-16). Cristo oficiaria aquela celebração e no dia seguinte ele seria o Cordeiro Pascal perfeito.

Por muitas vezes Jesus disse ao discípulos que seria morto e que ressuscitaria ao terceiro dia. Eles não conseguiam enfrentar essa informação de sua morte, mas depois de tudo, eles compreenderam mais profundamente quem era o Senhor.

E como Jesus falou diversas vezes sobre o vindouro reino, na sua ascensão, eles perguntaram a Jesus: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (Atos 1:6). Jesus lhes respondeu:

Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra. (Atos 1:7,8).

Por isso Jesus disse aos discípulos: “Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus”. (Lucas 22:16). Tudo está no plano de Deus.

Jesus informou que seria traído por um dos doze

Marcos 14
¹⁸ Quando estavam à mesa e comiam, disse Jesus: Em verdade vos digo que um dentre vós, o que come comigo, me trairá.

Jesus disse isso em algum momento naquela última Páscoa. Isto está relacionado ao Salmos 55:12-14. Ali, naquele cenáculo, estava presente um traidor maligno. E Jesus sabia muito bem que se tratava de Judas Iscariotes. Em João 6:70, ele disse aos doze: “Um de vós é o diabo”, ou seja, um adversário, um inimigo.

No sábado anterior, na casa de Maria, Marta e Lázaro, quando Maria quebrou um caríssimo frasco de alabastro com um bálsamo de nardo puro e ungiu a Jesus, num ato de genuína adoração a Cristo, Judas protestou alegando desperdício de dinheiro (João 12:4-6).

Ele alegou que o perfume deveria ter sido vendido e o dinheiro doado os pobres. Mas, na verdade, ele “era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava” (João 12:6). Ele queria furtar mais dinheiro do sustento de Jesus e dos outros discípulos.

A informação de que havia entre eles um traidor, chocou profundamente aos outros onze. O sentido original diz que eles ficaram violentamente angustiados.

Marcos 14
¹⁹ E eles começaram a entristecer-se e a dizer-lhe, um após outro: Porventura, sou eu?

Nenhum deles suspeitou de Judas, que sabia se camuflar muito bem como um hipócrita sagaz. Durante três anos, Judas foi o mais esperto dos hipócritas. Ele se comportava como se fosse, aparentemente, um discípulo de Jesus.

Eles se perguntavam: “Será que eu serei um traidor?”. Jesus deu alguns detalhes de quem seria.

Marcos 14
²⁰ [Jesus] Respondeu-lhes: É um dos doze, o que mete comigo a mão no prato.
²¹ Pois o Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito; mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!

João 13
¹⁸ Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar.
¹⁹ Desde já vos digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que Eu Sou.

Jesus citou o Salmos 41:9, em que Davi escreveu: “Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar”. João escreveu:

João 12
²⁶ Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.
²⁷ E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa.
²⁸ Nenhum, porém, dos que estavam à mesa percebeu a que fim lhe dissera isto.

Os onze discípulos amavam Jesus à sua maneira. Eles fizeram uma pergunta justa. Judas era um hipócrita tão habilidoso que os outros onze nunca perceberam que ele era falso. E, mesmo diante do que Jesus disse no cenáculo, se referindo a Judas, eles não desconfiaram de Judas. Ele era um hipócrita que sabia se camuflar bem. 

Judas foi outro Aitofel, que traiu Davi e acabou se enforcando (2 Samuel 17:23). Mas, por mais miserável e tolo que fosse Judas, por mais que operasse com base em seus próprios desejos miseráveis, ele não atuou fora do plano de Deus, nem alterou o plano de Deus, nem frustrou o plano de Deus, nem ajustou o plano de Deus. Jesus disse:

Marcos 14
²¹ Pois o Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito; mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!

Em sua oração sacerdotal, Jesus disse: “Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura” (João 17:12).

Mas, embora Judas estivesse ali cumprindo profecia, ele foi responsável pelos seus atos, por isso Jesus disse: “… ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!” (Mc. 14:21). Temos aqui mais um exemplo da soberania de Deus e da responsabilidade do homem andando juntas.

Deus usará cada ser humano que o rejeitar para cumprir Seu próprio propósito, e nenhum deles será isento de responsabilidade. Ninguém pode frustrar os propósitos de Deus agindo contra Cristo, contra sua igreja, contra o evangelho e contra o próprio Deus. Isso é uma tolice. Deus, em sua soberania, ordena tudo de acordo com Seu próprio propósito.

Judas, como qualquer pecador que rejeita Cristo, agiu por seus próprios motivos, escolha, vontade, maquinações mentais e impulsos de suas próprias concupiscências malignas. Ele operou com base na sua própria ganância, egoísmo e materialismo. No entanto, tudo o que ele fez estava dentro do plano soberano de Deus.

Na verdade, ele foi autorizado a ser apóstolo por esse motivo, mas o Senhor lhe deu a oportunidade, mesmo enquanto estava lá, de crer na verdade, mas a rejeição foi sua escolha, e ele será punido por isso. Tal como Aitofel, ele se enforcou (Mt. 27:5). E pior que isso, sua eternidade será no eterno lago de fogo.

Não há declaração mais forte nas Escrituras sobre a responsabilidade humana do que essa afirmação: “Melhor lhe fora não haver nascido!” (Mc. 14:21). O castigo mais severo no inferno é para aqueles que mais sabiam sobre Cristo (Hb. 10:29). Aquele que souber mais e pisar na verdade, receberá a punição mais severa.

E então Judas se foi para consumar seu ato miserável. Ele não poderia participar da mesa do Senhor indignamente. O Senhor pôde então cear com os onze e proferir ensinos tremendos, registrados em João 13 a 17.

Jesus transformou a Páscoa em Mesa do Senhor

Marcos 14
²² E, enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu e lhes deu, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo.
²³ A seguir, tomou Jesus um cálice e, tendo dado graças, o deu aos seus discípulos; e todos beberam dele.
²⁴ Então, lhes disse: Isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos.

Apenas os onze permaneceram. E Jesus transformou a Páscoa em Mesa do Senhor (também chamado Ceia do Senhor ou Comunhão) e, assim, sinalizou a transição do velho para o novo pacto.

As palavras de Jesus registradas nesta passagem marcou o fim de todas as cerimônias do Antigo Testamento, sacrifícios e rituais (Mc. 15:38). Todos os símbolos da antiga aliança apontavam para Cristo; na Sua morte, eles estavam perfeitamente cumpridos e substituídos.

Após partir o pão e dar aos discípulos, ele disse: “Tomai, isto é o meu corpo”. Lucas 22:19 registrou: “Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim”. A ceia se tornaria algo a ser observado na igreja (1 Cor. 11:24).

Em seguida, “Jesus tomou um cálice, e tendo dado graças, deu aos discípulos e todos beberam dele”. E ele acrescentou: “Isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos.” Lucas 22:20 registrou: “Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós”.

“Dado graças” (Mc. 14:23) vem do grego “eucharisteo”, a partir do qual vem a palavra “Eucaristia”. Assim, a Igreja Católica Romana, que corrompeu o entendimento dessa celebração, passou a chamar de Eucaristia

Qual é o objetivo da Mesa do Senhor? É uma lembrança. É uma lembrança da libertação do pecado através do corpo e sangue de Cristo que foi morto por nós.

As distorções da Mesa do Senhor pela Igreja Católica Romana

A Igreja Católica Romana a transformou a Mesa do Senhor em algo bizarro, chamado de transubstanciação, dizendo que o pão se torna o verdadeiro corpo de Jesus nas mãos do sacerdote. Não há nada nas Escrituras que apoie isso.

Os luteranos criaram uma vertente dessa heresia, dizendo que não seria o corpo físico de Jesus, mas o corpo espiritual de Jesus.

Mas não se trata do corpo físico e nem do corpo espiritual de Jesus. Nada disso é verdade. O pão e o vinho são apenas para que possamos lembrar do sacrifício redentor. Quando eles comiam o cordeiro pascal, não estavam comendo Deus. Era apenas um memorial, um símbolo, uma lembrança.

A Igreja Católica ensina que Cristo desce na missa para ser novamente oferecido em sacrifício. Como? Os sacerdotes pegam o pão e o vinho e, literalmente, pensam que os transformou no corpo e no sangue de Jesus. É o que diz o decreto do Conselho de Trento. E diz que ali acontece salvação e perdão. O pão é distribuído, mas o cálice apenas o padre toma por todos.

A Mesa do Senhor como lembrança da morte sacrificial de Cristo

Mas a Escritura fala de um sacrifício definitivo feito por Cristo, em que Ele foi moído pelas nossas iniquidades, castigado para nos trazer paz e ferido pelas nossas transgressões (Isaías 53). Em Gálatas 3 diz que Ele foi feito maldição por nós. 2 Cor. 5:21 diz que Jesus não pecou, mas Deus fez dele pecado por nós.

Tudo que fazemos na Mesa do Senhor é lembrar dessas verdades. Paulo escreveu: “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Coríntios 11:26). Os dois elementos da Mesa do Senhor são partilhados por toda a igreja. O pão e o vinho simbolizam o corpo e o sangue de Cristo.

Para que uma aliança fosse estabelecida, tinha que haver o derramamento de sangue (uma referência à morte, cf. Hb. 9: 16-20). Mas, diferentemente dos sacrifícios de animais necessários para Noé (Gn. 8:20), Abraão (Gn. 15:10) e a aliança mosaica (Ex. 24: 5-8; Lev 17:11.), a Nova Aliança (Lucas 22:20) exigiu o precioso sangue do Cordeiro imaculado de Deus fosse derramado para o benefício eterno de muitos a quem ele redimiria (Is. 53:12).

Mateus 26:28 acrescenta que a razão pela qual o sangue de Cristo teve que ser derramado foi “para o perdão dos pecados” (Hb 9:22; 1 Pedro 1:2).

Para o futuro cumprimento das Alianças Davídica e Abraâmica era necessário perdão e salvação, então tinha que haver uma aliança salvadora e essa é a Nova Aliança.

Na cruz, o Senhor Jesus morreu como o substituto perfeito, levando a culpa de todos os que foram escolhidos para crer nEle (2 Cor. 5:21). Ele suportou a pena da ira de Deus, satisfez a justiça divina, e ratificou a Nova Aliança do perdão e da salvação (Jer. 31:34)

Existem três outras alianças no Antigo Testamento. A que Deus fez com Noé, que nunca mais destruiria o mundo pela água. A aliança sacerdotal, fez com que Deus tivesse um sacerdócio permanente pelo qual as pessoas pudessem ter acesso a ele. E a Aliança Mosaica, a Lei de Deus, na qual Deus declarou Sua perfeição moral e Seu padrão santo e justo. Mas nenhuma delas três eram associadas à salvação. 

A Antiga Aliança poderia ser escrita constantemente com sangue animal porque era apenas uma aliança de promessa. A Nova Aliança é plenamente satisfeita no sangue de um Cordeiro, o sangue de Cristo, porque não consistia em promessa, mas em cumprimento.

A compra real da nossa redenção foi feita por Cristo. Ele pagou o preço pela redenção de todos os eleitos desde Adão. Jesus disse: “porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados” (Mt. 26:28).

Não há mais necessidade dos cordeiros simbólicos. Tudo o que precisamos fazer é lembrar da cruz. O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29).

Marcos 14
²⁵ Em verdade vos digo que jamais beberei do fruto da videira, até àquele dia em que o hei de beber, novo, no reino de Deus.
²⁶ Tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras.

Antes de saírem para o Monte das Oliveiras, onde ele seria preso, Jesus assegurou aos discípulos que Ele voltará (João 14:3.) e celebrará a Páscoa com eles novamente em Seu reino milenar (Ez. 45:18-25). Até o seu retorno, os crentes devem continuar a celebrar a Mesa do Senhor (1 Cor. 11: 23-24).

Assim, a celebração regular da Mesa do Senhor não só olha para trás, para a morte de Cristo, mas também aguarda com grande expectativa a sua vinda. Na noite anterior, Jesus havia instruído seus discípulos sobre seu retorno e o fim dos tempos (Mc 13: 24-27). Agora, na noite antes da Sua morte, Ele lhes assegurou que a cruz não representa o fim da história.

O Israel apóstata, neste momento, foi impedido de receber bênçãos. Nós somos os gentios que foram enxertados, Romanos 9 a 11. Mantemos o memorial da Mesa do Senhor. Abandonamos a Páscoa até o reino, quando ambos os povos farão parte desse grande dia.

Quando aquela celebração de Jesus com os onze estava no fim, eles tinham mais um hino para cantar. O Salmo 136 teria sido o hino final da Páscoa. Veja alguns versículos:

Salmos 136
¹ Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre.
Ao único que opera grandes maravilhas, porque a sua misericórdia dura para sempre;
¹⁰ Àquele que feriu o Egito nos seus primogênitos, porque a sua misericórdia dura para sempre;
¹¹ E tirou a Israel do meio deles, porque a sua misericórdia dura para sempre;
¹² Com mão poderosa e braço estendido, porque a sua misericórdia dura para sempre;
¹³ Àquele que separou em duas partes o mar Vermelho, porque a sua misericórdia dura para sempre;
¹⁴ E por entre elas fez passar a Israel, porque a sua misericórdia dura para sempre;
¹⁵ Mas precipitou no mar Vermelho a Faraó e ao seu exército, porque a sua misericórdia dura para sempre;
¹⁶ Àquele que conduziu o seu povo pelo deserto, porque a sua misericórdia dura para sempre;
²³ A quem se lembrou de nós em nosso abatimento, porque a sua misericórdia dura para sempre;
²⁴ E nos libertou dos nossos adversários, porque a sua misericórdia dura para sempre;
²⁵ E dá alimento a toda carne, porque a sua misericórdia dura para sempre;
²⁶ Oh! Tributai louvores ao Deus dos céus, porque a sua misericórdia dura para sempre.

Em todo este salmo, o salmista repete vinte e seis vezes que a misericórdia do Senhor dura para sempre. Sua benignidade é eterna. Isso deve ser repetido por todos aqueles que entendem a cruz, onde a Sua benignidade, em sua natureza eterna, se torna disponível. Vamos orar.

Pai, agradecemos-te pelo maravilhoso momento de adoração e comunhão. Cada uma dessas porções das Escrituras é tão rica, instrutiva, divina e sobrenatural. Como desperta em nós uma profunda alegria de tomar parte na sua mesa.

Senhor, sabemos que no meio disto de tanta beleza, majestade, tua soberania controlando tudo, um homem miserável e tomado por Satanás estava tramando a morte do Salvador. E que até mesmo os outros onze seriam tomados pelo pânico e fugirem.

Mesmo naqueles nossos momentos mais elevados com Cristo naquele cenáculo, e ouvir tudo o que ouviram, e todas as promessas, foi apenas um pequeno passo para a fraqueza e o fracasso. Livra-nos disso, Senhor, e fortalece-nos com o que ouvimos.

E pedimos agora, Senhor, que Tu salve vidas neste momento. Eu oro para que você abra corações e dê entendimento àqueles que não entendem e dê clareza àqueles que estão confusos. Que vejam a glória de Cristo, abram o coração a Cristo, venham a Ele como Salvador e Redentor, busquem o perdão dos pecados e recebam a vida eterna.

Pai, oramos para que isso seja uma realidade e que o Senhor nos use. Fortalece a cada um de nós e a toda tua igreja, para a Tua glória, oramos, amém.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos.

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série.


Este texto é uma síntese do sermão “The New Passover”, de John MacArthur, em 17/4/2011.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-73/the-new-passover

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno.


 

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