A Religiosidade Vazia

Série Ev. Marcos (26)

Continuando nossa trilha no Evangelho de Marcos, veremos agora os versículos 14 a 23 do capítulo 7, um texto bastante significativo da Escritura Sagrada. Eu intitulei o texto de “A História Interna da Contaminação”.

O mal nasce fora ou dentro do homem?

Muitos não percebiam corretamente como o mundo e a raça humana já estavam gravemente contaminados, talvez por pensar que o contexto em que viviam representava o que, de fato, prevalecia no mundo.

Mas, com a expansão das mídias de massa, temos informações abundantes sobre o mal da humanidade. Sabemos que o mundo está tomado de corrupção e que o mal contaminou tudo.  Mas, a questão não é o mal no mundo, mas de onde ele vem, o ponto de origem do mal.

Somos cientes do fato de que pessoas aparentemente normais podem fazer coisas terrivelmente más. O mal está difundido em toda a nossa sociedade, mesmo as pessoas comuns podem fazer coisas que são terrivelmente perversas.

O psicólogo James Waller, no ano de 2002, publicou um livro falando sobre como pessoas comuns cometem crimes bárbaros. Ele diz que esses atos extremamente perversos não surgem de alguma anormalidade humana e podem ser cometidos por pessoas muito comuns e normais.

Porém, isso levanta a questão: o que causa isso? Por que isso acontece? De onde isso vem?

Na sequência desse livro, veio outro livro, escrito no ano de 2007 por um psicólogo social chamado Philip Zimbardo. Nesse trabalho, intitulado “O Efeito Lúcifer”, ele tenta explicar como as pessoas boas tornam-se más. Ele conclui que isso acontece por causa do ambiente que nos corrompe, ou seja, o que nos corrompe está fora de nós.

Isso está em conflito direto com a Bíblia, pois ela diz que nosso problema não está fora de nós, mas dentro de nós. O pecado trabalha de dentro para fora.

Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? (Jeremias 17:9)

Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando ela o atrai e seduz. (Tiago 1:14)

Essa é a visão cristã definitiva do homem. A sociedade não quer admitir isso. Você ouve pessoas justificando seus atos perversos por algo fora delas. É comum ouvir pessoas atribuir seus comportamentos perversos a problemas que tiveram na infância ou ambiente em que viveram.

Não é isso o que a Bíblia ensina. O problema não está fora de você, o problema está dentro de você. E foi sobre esse assunto que Jesus tratou em Marcos 7:14-23.

Marcos 7
14 Jesus convocando, de novo, a multidão, disse-lhes: Ouvi-me, todos, e entendei.
15 Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina.
16 [Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.]
17 Quando entrou em casa, deixando a multidão, os seus discípulos o interrogaram acerca da parábola.
18 Então, lhes disse: Assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar,
19 porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, considerou ele puros todos os alimentos.
20 E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina.
21 Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios,
22 a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.
23 Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.

Cinco vezes nessa passagem você tem uma forma da palavra “contaminar”, do verbo grego “koinoō”, que significa ser sujo, impuro, corrupto, contaminado. É usado frequentemente no Novo Testamento. Motivo? Porque impureza e pureza são questões bíblicas muito importantes.

Vimos no sermão anterior que os judeus da época de Jesus desenvolveram um sistema religioso antibíblico, cheio de rituais, regras e cerimônias inexistentes na lei, que apenas serviam para demonstração de uma fachada de pureza, quando a realidade interior estava atolada em hipocrisias.

Disso surgiu a noção de que contaminação era algo fora do ser humano. Eles tinham a ilusão de que por dentro eram bons e piedosos. É o que todos os fariseus pensavam. Em Lucas 18, Jesus profere a parábola do fariseu e do publicano, onde o fariseu, orando, diz:

Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. (Lucas 18:11-12);

Jesus disse que esse homem saiu dali sem justificação e destinado a ser humilhado por sua auto exaltação (Lucas 18:14). Mas os fariseus viviam a ilusão de que suas obras externas o faziam puros e justos diante de Deus. E a única coisa que eles deviam temer era algo do lado de fora, porque o interior estava bem. Isso era difundido por toda a terra de Israel.

Eles eram como os psicólogos modernos. Pensavam que só algo vindo de fora poderia contaminá-los. Eles se consideravam santos, puros e virtuosos. Para manter sua pureza, eles apenas tinham que se certificar de que nunca chegariam perto de qualquer influência corruptora. E é isso o que está por trás do texto de Marcos 7:14-23.

Esse é o ponto de vista que era muito aceito na terra de Israel, e até mesmo os apóstolos de Jesus receberam esses ensinos. Então, eles construíram um sistema de salvação fundamentado na autojustiça, em que o essencial era frequentar uma sinagoga e certificar-se de seguir as tradições dos anciãos. E, claro, ter certeza de não ser tocado por nenhuma influência poluente externa. É assim que eles viviam e pensavam.

Então, Jesus combate essa heresia ensinando que a contaminação vem do interior do homem e não de fora do homem (Marcos 7:15).

Jesus  ensina à multidão sobre a procedência do mal

Marcos 7
14 Jesus convocando, de novo, a multidão, disse-lhes: Ouvi-me, todos, e entendei.

Que multidão é essa? Muito provavelmente era formada pelos fariseus e escribas vindos de Jerusalém (Marcos 7:1), que Lhe questionaram sobre comer sem o lavar cerimonial das mãos, como vimos nos sermão anterior. Mas deveria haver muitas outras pessoas da localidade. Em todos os lugares que Ele fosse, havia multidões.

Portanto, havia uma enorme multidão ali e na frente da multidão estavam os fariseus e os escribas, sempre procurando uma maneira de pegar Jesus em alguma violação para que pudessem obter uma acusação contra Ele para matá-Lo. Enquanto em Marcos 7:1-14 Jesus estava falando principalmente com escribas e fariseus, agora a multidão é o objeto de Sua lição.

Ele diz: “Ouvi-me, todos, e entendei”. Ele estava prestes a tratar de uma verdade muito abrangente, importante e fundamental.

Marcos 7
15 Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina.

Essa é a essência do que precisamos saber. É uma analogia simples. O que entra em você não contamina. O que sai de você, fisicamente falando, contamina. Você precisa ficar longe das coisas impuras que vêm por meio da eliminação (fezes, urina etc.).

Qualquer um entenderia isso. É algo muito natural e lógico. Mas Jesus queria ensinar algo profundo a partir desse fato simples: o problema do pecado está dentro do homem e não fora dele. E isso não seria difícil de entender para aqueles habituados ao Velho Testamento.

O Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração. (1 Samuel 16:7)

Deus não olha o exterior do homem, mas o interior dele. Ele sabe que o mal não nasce fora do homem, mas em seu coração. E é esse mal que sai do homem que o contamina. E Mateus registrou:

Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem. (Mateus 15:11)

A razão pela qual Mateus se refere à boca é porque a boca é a mais pronta para expressar a maldade do coração. Por isso, Isaías disse: “sou homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios” (Isaías 6:5). Foi assim que Isaías identificou a miséria de seu coração e a do povo (Isaías 6:5).

Todo o princípio é que o mal não vem de fora, mas de dentro do homem. E isso foi chocante para os fariseus e escribas. Eles rejeitaram esse ensino. Não era assim que eles pensavam. Sobre eles, Jesus disse:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! (Mateus 23:27)

Mas, de onde veio toda essa estrutura de obras externas que os fazia pensar que eram santos?

Em Levítico, existem todos os tipos de prescrições cerimoniais que foram colocadas sobre o povo de Deus. Levítico está cheio de listas, inclusive de coisas que contaminam, que não deveriam ser tocadas e outras que não poderiam ser ingeridas. Por exemplo:

  • Eles não deveriam tocar em um cadáver (21:11).
  • Não deveriam entrar em contato com quaisquer fluidos corporais (15: 1-33).
  • Mulheres que tivessem um bebê seriam consideradas contaminadas até que passassem por uma cerimônia de purificação após o parto (12:1-8).
  • Pessoas com lepra eram consideradas contaminadas (13: 1-59).
  • Pessoas que contatassem répteis seriam contaminadas. (11:29-31)

Havia alguns princípios levíticos muito estritos de contaminação externa que são apresentados inquestionavelmente nas Escrituras. Então, foi aí que tudo começou, embora que essas prescrições do Velho Testamento nunca tiveram o sentido dado pela judaísmo apóstata, eram apenas simbólicas das questões do coração.

Por exemplo, circuncisão. Todo homem deveria ser purificado pela circuncisão. Havia uma razão para isso. Ao longo da História, as mulheres judias tiveram a menor porcentagem de certas doenças por causa da circuncisão. Existem registros sobre isso. Portanto, foi realmente uma coisa saudável a se fazer pelas mulheres judias.

Porém, mais do que isso, a circuncisão era um símbolo da necessidade de uma purificação do coração e do fato de que o homem é um pecador e que produz pecadores. Então, ele precisava de limpeza. A circuncisão demonstra isso.

Os tipos simbólicos de limpeza que foram prescritos eram como figuras em um livro de imagens antes de a criança ler palavras. Eles eram como símbolos, imagens e sombras da realidade espiritual.

Mas, o judaísmo apóstata ficou retido nas sombras e nunca chegou ao coração. E então, os judeus acharam necessário acrescentar novas prescrições, elaborando um complexo sistema de limpezas externas. Como vimos no sermão anterior, havia volumes escritos sobre como lavar e enxaguar as mãos.

E esse sistema era tão complicado e tão impossível, que eles, finalmente, chegaram com o que chamamos de “leis da intenção”. Em vez de tentar cumprir todo aquele sistema complexo, você poderia simplesmente se levantar todas as manhãs e dizer: “pretendo ser imaculado hoje”. E se você dissesse isso, poderia renunciar a todas as cerimônias do dia. Era tudo sobre aspectos externos, nada estava relacionado à pureza do coração.

Os preceitos da lei eram apenas símbolos, não eram a essência do que Deus sempre quis

Todos os preceitos da lei sobre purificação eram apenas símbolos que representavam uma realidade espiritual. Mas a essência do que Deus realmente sempre desejou é um coração puro e quebrantado.

Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus (Salmos 51: 10,17)

Quem poderá subir o monte do Senhor? Quem poderá entrar no seu Santo Lugar? Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro… (Salmos 24:3)

A lei tinha “a sombra dos bens futuros e não a imagem exata das coisas” (Hebreus 10:1). Quando chegamos ao Novo Testamento, tudo isso desaparece. Somos chamados a abandonar as sombras, as imagens e sacrifícios da Antiga Aliança e vir a Cristo, a substância. E quando veio a Nova Aliança, a Antiga foi extinta, e com ela todos seus preceitos cerimoniais e rituais (Hebreus 8 a 10).

Mas, o judaísmo apóstata ignorava as realidades interiores e se firmou nas sombras, no exterior. É por isso que Jesus disse a seus líderes:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniquidade. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. (Mateus 23: 25-28).

E veja a circuncisão, por exemplo. Ela foi revogada no Novo Testamento. Confiar nela é anular a obra de Cristo.

Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor. (Gálatas 5: 1,2,6).

Nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura. (Gálatas 6:15)

Se estamos em Cristo, fomos libertos de todas as regras cerimoniais da lei. A Antiga Aliança se foi, ela foi substituída por algo infinitamente superior, e tudo se resume na obra de Cristo, nada mais. Paulo diz:

Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques naquilo, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. (Colossenses 2:20-22)

As tentativas de reintrodução de regras cerimoniais na igreja

A tentativa de reintroduzir isso na Igreja é antiga. Até mesmo os apóstolos enfrentaram problemas com isso na fase de transição da Antiga Aliança para a Nova Aliança. Em Atos 10, temos Deus ensinando sobre isso a Pedro, demonstrando que os preceitos antigos haviam passado.

De vez em quando aparecem livros defendendo que todos nós voltemos à dieta do Antigo Testamento para experimentarmos a bênção de Deus. Paulo chamou isso de “espíritos enganadores”“doutrinas de demônios”, exortando Timóteo a se afastar das fábulas e crendices, dizendo que o único exercício que produz frutos é o da piedade (I Tim. 4: 1-9).

Todo esse sistema foi destruído. Acabou. É por isso que no Novo Testamento não há rituais, ritos e cerimônias. Sempre que você vê uma religião cheia de cerimônias externas, rituais e ritos, trata-se do farisaísmo vazio de novo. Tudo que isso pode produzir é uma religião externa, onde a impureza, a hipocrisia e a corrupção avançarão.

Então, Jesus confronta o sistema religioso externo, com suas cerimônias, rituais, lavagens etc. E Ele diz: “Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele isso é que contamina o homem” (Marcos 7:15).

Todas as imagens de limpeza do Antigo Testamento foram finalmente resolvidas em Cristo. Ele veio para trazer a limpeza de que todos tanto necessitavam. E uma vez que Ele veio, todas as figuras deveriam ter desaparecido. Ele veio para cumprir toda a lei (Mateus 5:17).

No Novo Testamento não há rituais, lavagens, sacrifícios e cerimônias. A mesa do Senhor e o batismo não são rituais. O Novo Testamento fala apenas do que contamina o interior, como a incredulidade (Tito 1), a idolatria (I Cor. 8), a amargura do coração (Hebreus 12) e a influência contaminadora do pecado (Judas 23). Não há referência a coisas externas.

Os discípulos tiveram que romper com a velha estrutura de ensino que haviam recebidos  

Marcos 7
17 Quando entrou em casa, deixando a multidão, os seus discípulos o interrogaram acerca da parábola.

Eu penso que eles entenderam o que Jesus estava ensinando, mas era muito contrário ao que eles sempre haviam sido ensinados. Eles foram habituados a entender que eram bons por dentro e a contaminação procedia de fora, até mesmo por esbarrar em alguém contaminado ou comer algo sem passar pelas lavagens cerimoniais.

Para entender o que eles disseram, precisamos recorrer a Mateus 15, pois Marcos não fornece todas as informações dessa conversa.

Mateus 15
12 Então, aproximando-se dele os discípulos, disseram: Sabes que os fariseus, ouvindo a tua palavra, se escandalizaram?

Isso mostra que Eles entenderam o que Jesus disse, mas sabiam que aquele ensino era contrário ao sistema farisaico que dizia que a contaminação era algo que vinha de fora do homem e, assim, deveriam ser observados os rituais e cerimônias da tradição dos anciãos.

Como vimos no sermão anterior, os fariseus já haviam tido um embate com Jesus porque Seus discípulos comiam sem as lavagens ensinadas pela tradição dos anciãos (Marcos 7: 1 a 13). Eles não estavam preocupados com higiene, mas com cerimônias.

O juízo proferido contra a liderança  do judaísmo apóstata

Jesus foi direto ao centro da questão e respondeu:

Mateus 15
13 Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada.
14 Deixai-os; são cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco.

Se pudermos pegar emprestado a linguagem de Mateus 13:28-30, Jesus está falando do joio semeado por Satanás que é reservado para ser queimado.  Há pessoas no Reino de Deus que se parecem com trigo, mas na verdade são joio, são semeadas por Satanás, e esses seriam os fariseus e os escribas. Isso seria qualquer falso religioso em nosso tempo ou em qualquer época.

Jesus diz algo grave: “Deixe-os em paz”. É algo como o que Deus disse com a humanidade pervertida antes do julgamento do dilúvio: “Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem” (Gênesis 6:3).  A paciência de Deus para com eles havia acabado. Era apenas uma turba de cegos caminhando para o buraco eterno.

Eles marchavam para o desastre eterno, bem como todos os que seguiam seus ensino heréticos. E, claro que eles ficaram ofendidos, pois o ensino de Jesus desmontou a estrutura da religião falsa que eles usavam para se justificar. Jesus diz: “Deixe-os ir embora”. Que cena trágica!

Jesus explica a parábola a seus discípulos

Marcos 7
18 Então, lhes disse: Assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar?
19 porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, considerou ele puros todos os alimentos.
20 E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina.

Os apóstolos, ainda perplexos com as palavras de Jesus, questionam-Lhe para entender mais profundamente o significado. Era algo chocante para quem passou a vida escutando a religião de obras externas. O ensino de Jesus era algo tão chocante para o judaísmo apóstata, que Gutman Locks, professor ortodoxo judeu, escreveu em 2010:

Aceitar Jesus como o Messias significaria a destruição do povo judeu, pois Jesus se opunha ao ensino judaico. Ele fazia coisas como pegar comida no campo no sábado.

O que? Eles ainda estão presos nisso? Dois mil anos depois, ainda é sobre coisas externas, nada mudou. Essa é a religião apóstata!

Portanto, nosso Senhor afirma claramente a verdade, reconhece que a verdade não é compreendida e diz aos apóstolos: “Vocês também não compreendem isso? Não conseguem entender que o que contamina o homem é o que vem de dentro do homem e não o que está fora do homem?”. Ele reafirma: o que contamina o homem procede de dentro dele e não de fora dele.

E então, Jesus explica a parábola, vejamos nos registos de Marcos e Mateus.

Marcos 7
21 Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios,
22 a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.
23 Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.

Mateus 15
17 Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e, depois, é lançado em lugar escuso?
18 Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem.
19 Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.
20 São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina.

Mateus fala da boca, que simboliza, na analogia, o canal de saída do mal que vem do coração. Mas, a verdadeira fossa é o coração, o eu interior, a mente, a atitude, motivos e desejos.

O que sai? Maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. É isso que está no coração das pessoas, incluindo os líderes da religião falsa.

Ele fala dos maus desígnios ou maus pensamentos, que são perversidade nas intenções, atitudes, pensamentos, percepções, ideias, projetos, invenções e reflexões. É a concupiscência concebida no coração (Tiago 1:14-15).

Fala da fornicação (palavra grega “porneia”), de onde vem pornografia. Significa todo tipo de pecado sexual. É por isso que a Internet, tomada pela pornografia, reflete o coração humano.

E segue adiante, falando do que realmente procede do coração do homem e o contamina. Nenhum ritual, cerimônia etc vai alterar, limpar um coração contaminado e cheio de sujeira. Só um novo coração pode resolver isso. Por isso o Senhor prometeu:

Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis. (Ezequiel 36:26,27)

Essa é a promessa de salvação. Deus fez uma obra no interior dos seus escolhidos. Por isso Jesus disse a Nicodemos:

Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus… importa-vos nascer de novo. (João 3:3,7)

Em outra palavras: você precisa de um coração novo, não há como fazer remendos no coração velho. Você tem que ser gerado novamente, o velho homem tem que morrer.

Paulo, tratando do mesmo assunto, escreveu:

Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo. (Tito 3:4,5)

Regeneração significa que algo morre e algo novo nasce. É a lavagem de uma transformação total, um novo coração, uma nova mente, uma nova alma. E pela renovação do Espírito Santo, somos lavados, ganhamos um novo coração e o Espírito Santo passa a residir em nós. Essa é a transformação. Não importa o ambiente em que você vive, não importa em que mundo você vive, a obra de Deus é no coração do homem.

As pessoas dizem: “É muito difícil viver neste mundo”. E você imagina que viver no mundo que os apóstolos viveram era fácil?  Sempre foi muito difícil viver em um mundo ímpio. Não importa em que cultura você viva, ela está sempre cheia de pessoas que amam o pecado.

É por isso que a Bíblia diz que as más companhias corrompem os bons costumes (I Cor. 15:33). Estamos andando em uma sociedade corrupta e  que ficará cada vez mais corrupta. Mas nós e nossos filhos não devemos temer a poluição que está lá fora, mas a que está dentro de nós.

E se você tem um novo coração, foi lavado e recebeu o Espírito Santo, então está tudo bem entre você e Deus. Essa é uma transação eterna, não é? É um milagre eterno. É um novo começo que não tem fim. Isso é o que o evangelho oferece quando você coloca sua fé em Cristo.

Se você se considera bom e acha que tudo o que precisa fazer é controlar o ambiente, você está em um engano completo, pois o mal está dentro do homem. Buscar um ambiente diferente não resolverá o problema do coração.

E esse foi o erro fatal dos líderes hipócritas que afrontavam Jesus. Eles cuidavam do exterior, consideravam tudo imundo e criaram regras que apenas produziram sepulcros caiados.

Você precisa ser lavado por dentro, e é isso que o Espírito de Deus faz quando você coloca sua fé em Jesus Cristo. Esse é o evangelho. E você não faz nenhuma contribuição para isso, a não ser sob o poder do Espírito Santo para se arrepender de seu pecado e abraçar a Cristo. Oremos.

Pai, obrigado pelo nosso tempo nesta manhã, olhando para esta maravilhosa porção rica das Escrituras.  Tanto pode ser dito sobre isso, tão definitivo é! Mas nós entendemos.  Acho que os discípulos provavelmente entenderam também, quando Jesus terminou de explicar.  Obrigado por esse entendimento claro que nos é dado nas Escrituras.

Ajude-nos a saber que o problema está em nós, e só pode ser resolvido por um novo coração, um novo espírito, lavagem interna, a lavagem da água da Palavra – Palavra significando a Palavra de Deus, significando o evangelho.  Somente o evangelho pode nos lavar por dentro.

Oh, Pai, como oramos para que haja alguns hoje que sejam lavados, que reconheçam onde está a verdadeira corrupção e abram seus corações para aquela limpeza que vem para aqueles que colocam sua confiança em Cristo.  Oramos em nome de Cristo.  Amém.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série


Este texto é uma síntese do sermão “The Inside Story on Defilement”, de John MacArthur em 25/4/2010

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-32/scripturetwisting-tradition

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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