A Missão da Igreja

A vida na igreja e a vida no ministério podem se tornar tão diversificadas e complexas, que corremos o risco de nossas prioridades ficarem um pouco distorcidas. Precisamos sempre estar falando de nossa maior prioridade.

II Coríntios 5
18 Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação,
19 a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.
20 De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus.
21 Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.

Há algum tempo, em um avião, eu estava sentado ao lado de um árabe, um cavalheiro que, como descobri mais tarde, era recém-chegado aos Estados Unidos. Percebi que ele estava muito curioso sobre a minha leitura da Bíblia. Após um certo tempo ele resolveu falar comigo.

  • Ele disse: – Vejo que você tem uma Bíblia.
  • Respondi: -Correto.
  • Ele disse: – Sou do Irã e cheguei agora nos Estados Unidos. Posso lhe fazer uma pergunta?
  • Respondi: – Claro.
  • Ele disse: – No meu país todos são muçulmanos, mas aqui existem tantas religiões. Eu não entendo a religião americana.
  • Respondi: – Bem, ficaria feliz em ajudá-lo.
  • Ele disse: – Você pode me dizer a diferença entre um católico e um protestante ou um batista?
  • Respondi: – Acho que posso.

E assim, falei um pouco sobre o catolicismo, a religião sacramental, a salvação pelas obras, cerimônias etc. E então, comecei a falar sobre o protestantismo, e um pouco sobre a Reforma, e como houve uma grande separação dentro do contexto mais amplo da cristandade quando se entendeu que o evangelho era um evangelho de perdão e graça e assim por diante, e expliquei que os batistas pertencem a essa categoria. Ele ouviu muito atentamente.

  • Eu disse: – Eu entendo que é difícil conseguir entender tudo isso nos Estados Unidos, porque há muitas religiões diferentes. Já que você me fez uma pergunta, poderia lhe fazer uma também?
  • Ele respondeu: – Claro.
  • Eu disse:– Eu sei que você é muçulmano, você considera que há pecados na religião muçulmana?
  • Ele respondeu: – Muitos, muitos pecados. Temos tantos pecados que nem consigo nomear todos eles.
  • Eu disse: – Você comete esses pecados?
  • Ele respondeu: – O tempo todo. Inclusive essa minha viagem é para cometer alguns pecados. Conheci uma garota quando cheguei aqui, e vamos pecar.
  • Eu disse: – Bem, como você acha que Deus se sente sobre o seu pecado?
  • Ele respondeu: – Sei que Deus reprova.
  • Eu disse: – Mas você continua fazendo mesmo assim?
  • Ele respondeu: – Sim.
  • Eu disse: – Você não teme o inferno?
  • Ele respondeu: – Bem, eu espero que Deus me perdoe.
  • Eu disse: – Com base em que e por que Ele te perdoaria?
  • Ele respondeu: – Não sei, mas espero que Deus me perdoe.
  • Eu disse: – Vejo que você não conhece a Deus.
  • Ele respondeu: – Você conhece a Deus pessoalmente? Por que está sentado aqui na classe econômica e no assento mais barato?

Ele deve ter pensado: “Quem esse cara está enganando, dizendo que conhece a Deus?”. A sua mente explodiu, porque eu disse que conhecia a Deus, algo impensável para ele. 

  • Eu disse: – Conheço a Deus e a Sua palavra bem o suficiente para saber que Ele não deixará de lado o seu pecado. Você morrerá em seus pecados e passará a eternidade no inferno. Agora que você ouviu as más notícias, posso te contar as boas notícias?
  • Ele respondeu: – Por favor, diga.

Então, eu falei sobre o que diz respeito a fé cristã, tratando do evangelho da reconciliação por meio do sacrifício de Jesus Cristo.

  • Ele disse: – Eu nunca, nunca entendi isso. Eu nunca entendi sobre Jesus. Ele é um profeta do Islã, mas nunca entendi porque Ele morreu.

Ele tinha um interesse elevado no evangelho, porque lhe dava esperança de escapar da condenação eterna e alcançar o perdão de seus pecados. Espero que ele tenha seguido em frente e tenha ido à igreja que eu indiquei para ele. Eu ainda enviei alguns materiais para ele. Eu não tive mais notícias dele.

Quando as pessoas me perguntam o que eu faço, qual a minha profissão, eu apenas digo o seguinte: “Eu tenho um trabalho excelente. Eu sou porta voz da mensagem divina da reconciliação”. E vou direto ao assunto. Essa mensagem trata da essência do problema do homem, aquilo que de fato importa para sua eternidade. É disso que 2º Coríntios 5: 18-21 trata, do ministério da reconciliação.

Estamos no ministério da reconciliação. Dizemos aos pecadores que eles podem se reconciliar com Deus. É isso que pregamos. Essa é a única razão pela qual realmente estamos aqui na Terra, tudo o mais podemos fazer melhor no céu. Nossa adoração e comunhão serão puras e intensas no céu, mas a proclamação do evangelho de Jesus Cristo será apenas aqui, e é por isso que a igreja está neste mundo.

A Bíblia deixa claro que todas as pessoas são pecadoras e estão separadas de Deus. Essa separação, por causa do pecado, impede que todo pecador tenha comunhão com Deus, que é perfeitamente santo para ter qualquer coisa a ver com os pecadores, exceto rejeitá-los e condená-los eternamente.

O pecado é o vírus mais mortal do mundo. E somente Deus tornou possível que os pecadores sejam curados. A reconciliação com Deus é a mais importante notícia que existe. Essa boa notícia encerra a hostilidade para sempre, e tudo se baseia nesta provisão de reconciliação que lemos em 2 Coríntios 5: 18-21.

A palavra “reconciliação” é usada cinco vezes nesse breve texto. “Reconciliação” significa simplesmente que o homem e Deus podem ficar juntos. Deus nos chamou para pregar essa mensagem, treinar nosso povo para que eles possam pregar essa mensagem. Essa é a missão da igreja. É isso que temos que fazer neste mundo. Isso é o que pregamos a todos. Esse é o conteúdo da Grande Comissão. E eu acredito que se houver algo que Satanás mais gostaria de atacar, seria o entendimento da igreja sobre essa mensagem e sobre essa missão.

Mas se não tivermos o evangelho verdadeiro, seremos neutralizados. Boa parte da cristandade não consegue falar de forma convincente sobre o significado da morte de Jesus Cristo. Muitos podem saber que Ele morreu pelos pecados, mas não saberiam o que realmente isso significa.

Nossa missão é levar a mensagem de reconciliação dos homens com Deus. Essa é nossa tarefa, nossa responsabilidade. Este é o ministério da reconciliação: somos embaixadores de Cristo em uma terra estrangeira. E a pergunta é: qual é essa mensagem de reconciliação mencionada em 2 Coríntios 5:19? A genuína mensagem da reconciliação se opõe a todos os mitos e falsificações.

Não recebemos nenhuma ajuda nesse dilema olhando para os anjos, porque quando eles caíram não havia provisão para reconciliação. Poderíamos ter concluído, se isso fosse tudo o que soubéssemos, que a reconciliação com Deus seria absolutamente impossível, pois não houve provisão feita para que os anjos caídos se reconciliassem.

Por mais impossível que seja para a mente humana imaginar um Deus santo comungando com pessoas perversas e ainda mantendo Sua santidade, essa é exatamente a verdade, e essa é a palavra de reconciliação que pregamos. Existe uma maneira de se reconciliar com Deus, e Deus nos comissionou para proclamá-la. É vital para a igreja entender essa mensagem de reconciliação.

Sem aprofundar o assunto, podemos destacar os componentes centrais da reconciliação no texto de 2 Coríntios 5: 18 a 21.

1) A reconciliação é pela vontade de Deus

  • “Tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo…” (2 Coríntios 5:18).
  • “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo…” (2 Coríntios 5:19).
  • “… Como se Deus exortasse por nosso intermédio…” (2 Coríntios 5:20)

Essas afirmações indicam que o plano vem de Deus. Ele é o reconciliador que recria o homem em Cristo.

Se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo (2 Coríntios 5:17)

Deus é aquele que providenciou tudo que era necessário para reconciliar o homem consigo mesmo, e tudo isso através do Cordeiro Santo de Deus, que tira pecado do mundo (João 1:29).

Deus, por natureza, é um Deus reconciliador. Isso parece óbvio, mas talvez não seja, se você pensar sobre isso. E talvez não fosse óbvio para os coríntios, para quem o apóstolo Paulo estava escrevendo isso, porque eles viviam em um tipo de mundo politeísta e cheio de falsos deuses. E, os falsos deuses criados pelo homem não são, por natureza, amigáveis com as pessoas. Eles são indiferentes e, por outro lado, hostis.

Normalmente, as religiões pagãs têm falsos deuses que precisam ser apaziguados para não despejarem sua fúria ou indiferença. Um exemplo era Maloque, um deus dos amonitas, que era adorado na terra de Canaã. O culto a Moloque ficou conhecido pelo sacrifício de crianças. Israel absorveu a idolatria de muitos povos e também sacrificou crianças a Maloque (Jeremias 32:35). Elias zombou dos profetas de Baal, sugerindo a indiferença dele (I Reis 18:27)

É por isso que na carta a Tito várias vezes Paulo chama Deus de nosso Salvador (1:3; 1:4; 2:10; 2:13; 3:4; 3:6). Deus não está indeciso ou relutante em salvar. Por natureza Ele é Salvador. A indiferença não está em Deus, mas no próprio homem, tal como foi com Israel.

O Senhor, Deus de seus pais, começando de madrugada, falou-lhes por intermédio dos seus mensageiros, porque se compadecera do seu povo e da sua própria morada. Eles, porém, zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do Senhor contra o seu povo, e não houve remédio algum. (2 Crônicas 36:15,16)

No Novo Testamento, encontramos o mesmo caráter de Deus. Temos, por exemplo, a história de Zaqueu (Lucas 19). Era um homem mergulhado no pecado que estava tentando ver Jesus. E Jesus lhe disse: “Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa” (Lucas 19:5). A multidão ficou chocada em saber que Jesus iria para a casa de um pecador tão vil.

Após receber Jesus em sua casa, Zaqueu declara seu arrependimento (Lucas 19:8), e Jesus lhe diz: “Hoje houve salvação nesta casa… o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19: 9,10).

Zaqueu estava em busca de Jesus, e o melhor que ele podia fazer era subir em uma árvore (Lucas 19: 3-4). De repente, é Jesus que se vira e começa a procurá-lo. E segue-se um encontro que resultou na bendita graça da salvação daquele homem que caminhava para o inferno. É o caráter de Deus manifestado.

Em Lucas 15, encontramos três ilustrações sobre isso: a parábola da ovelha perdida, uma parábola de uma moeda perdida e a parábola de dois filhos perdidos. Nós nos concentramos em um, mas na verdade havia dois filhos perdidos. Um era libertino e o outro religioso, mas os dois estavam na mesma situação espiritual na parábola.

a) A primeira história, em Lucas 15: 3 a 7, é sobre uma ovelha perdida. O pastor perdeu a ovelha e vai buscá-la, deixando as noventa e nove. E quando a encontra, ele a coloca sobre seus ombros, regozijando-se. No versículo 5, chega em casa, reúne seus amigos, seus vizinhos, dizendo-lhes: “Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha que estava perdida!”. E Jesus conclui dizendo; Haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”. (Lucas 15:7)

b) Na próxima história, em Lucas 15: 8-10, a moeda se perdeu e foi achada. E a mulher a procurou incansavelmente, até que a encontrou. Ela chama suas amigas e vizinhas para compartilhar sua alegria. E Jesus conclui dizendo: Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15:10). Nada acende mais a alegria exultante do céu do que o arrependimento de um pecador, porque eles sabem que isso agrada a Deus, os anjos se juntam na grande celebração.

c) E na história dos dois filhos (Lucas 15: 11-32),  um deles, esbanjador e perverso, despreza seu pai e desperdiça parte de seus bens. Ele volta arrependido. Quando seu pai o avistou, compadeceu-se dele, foi correndo a seu encontro e o abraçou e beijou. Ele foi restaurado. Seu pai promoveu uma grande festa para comemorar o fato, dizendo: “este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado” (Lucas 15:24). Por outro lado, o pecador farisaico, o irmão hipócrita, nunca se arrependeu e nem mesmo pode entrar na celebração.

Na primeira carta a Timóteo, Paulo fala da natureza de Deus como Salvador, mostrando que não precisamos implorar para que Ele seja salvador.

  • Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança (1 Timóteo 1:1)
  • Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (1 Timóteo 2:3,4)
  • Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis (1 Timóteo 4:10)

Os universalistas gostam de citar esse texto como prova de que, no fim, todos os homens serão salvos. Mas, em que sentido Deus é o Salvador de todos os homens? Temporal e fisicamente.

É óbvio que Paulo não está ensinando que todos os homens serão salvos no sentido espiritual e eterno, pois o restante da Escritura Sagrada ensina claramente que Deus não salvará a todos e que a maioria da humanidade passará a eternidade no inferno.

A palavra grega traduzida como “especialmente” em “Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis” (1 Tim. 4:10), significa que todos os homens desfrutam, de algum modo, da salvação divina, assim como desfrutam dela os que creem. O sentido de salvador de todos é temporal, enquanto dos que creem é eterno. Todos os homens têm acesso aos benefícios da bondade de Deus:

    • Graça comum:
      • A bondade de Deus exibida a toda humanidade (Salmos 145:9);
      • Refreando o pecado e o juízo (Rm. 2: 3-6, 15 );
      • Mantendo a ordem na sociedade por meio do governo (Rm. 13:1-5);
      • Capacitando o homem para que possa apreciar a beleza e a bondade (Salmos 50:2)
      • E ao derramar bênçãos temporais sobre ele (Mt. 5:45; Lc. 19:41; At. 14: 15-17; 17:25).
    • A compaixão: Que Deus demonstra a pecadores não regenerados, sem que possuam qualquer mérito (Mt. 23:37; Lc. 19:41-44; Is. 16: 11-13)
    • Admoestação a se arrepender: Deus constantemente adverte os pecadores sobre a condenação eterna. Ele não tem prazer na morte do ímpio (Ez. 18:30-32; 33:11).
    • Convite do evangelho: A salvação que é oferecida a todos (Mt. 11: 28-29; 22: 2-14; João 6: 35-40).

São expressões do amor salvador de Deus a todos de forma indistinta, mesmo em relação àqueles que nunca crerão e caminham para o inferno.

O próprio fato de que um pecador respirar pela segunda vez após seu primeiro pecado é um indicativo da misericórdia de Deus. Basta um pecado para ser digno do inferno. Deus demonstra que é por natureza um Deus salvador em Sua paciência, na graça comum e na maneira como Ele permite que os pecadores corram o curso de sua iniquidade e ainda desfrutem da doçura de Seu mundo criado.

A carta a Tito é uma epístola evangelística. Penso ser um tratado singular do Novo Testamento sobre como uma igreja evangeliza com eficácia. Paulo fala de Deus e Jesus como Salvador várias vezes (1:3,4; 2:10-11,13; 3:4,6). Em todas elas Ele é identificado quanto ao Seu propósito salvífico.

Como o propósito salvador de Deus se desdobrou na Carta a Tito?

No capítulo 1, pelo desenvolvimento de líderes fortes que podem ensinar o povo de Deus e fortalecê-los na fé. Capítulo 2, desenvolvendo congregações fortes construídas em torno da sã doutrina. E Paulo passa por todos os vários homens e mulheres na congregação, lembra-lhes do propósito salvador de Deus:

Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória de nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras. (Tito 2:11-14)

E no Capítulo 3, ocorre o mesmo. Nele Paulo expõe não apenas como você deve viver na igreja, mas no mundo também. Ele faz diversas recomendações que tratam de um viver santo, que se transforma em poderoso testemunho público da graça salvadora. Isso inclui paciência para com os incrédulos, lembrando que também andávamos no mesmo caminho deles antes de sermos regenerados. Ele diz:

… Estejam prontos para toda boa obra. Que não difamem ninguém. Que sejam pacíficos, cordiais, dando provas de toda cortesia para com todos. Pois nós também, no passado, éramos insensatos, desobedientes, desgarrados, escravos de todo tipo de paixões e prazeres, vivendo em maldade e inveja, sendo odiados e odiando-nos uns aos outros. Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor por todos, ele nos salvou, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia. Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (Tito 3:1-5)

Se vamos ganhar o mundo, isso começa com uma liderança espiritual forte que pode apontar o erro e nos levar à verdade. Congregações piedosas vivem para agradar a Deus em tudo, então o testemunho é notável e demonstra o poder salvador de Deus. É um viver santo “para que a palavra de Deus não seja difamada” (Tito 2:5). E Paulo exorta para que eles “deem prova de toda a fidelidade, a fim de que, em todas as coisas, manifestem a beleza da doutrina de Deus, nosso Salvador” (Tito 2:10).

Em tudo isso está o conceito de que Deus é um Deus salvador. Ele é, por natureza, um Salvador. Ele busca pecadores. A igreja está nesse mundo para ser testemunha de Deus a todos os povos (Atos 1:8).

Voltando a 2 Coríntios 5: 18-21, temos que Deus é o ponto de partida da reconciliação. É por causa de Sua natureza, de Sua vontade e por causa de seu plano. Nunca é por mérito ou iniciativa humana.

O homem nunca faz reconciliação com Deus. Essa é uma provisão divina pela qual o santo descontentamento de Deus foi apaziguado, a hostilidade removida e pecadores restaurados a Ele.

Colocando de outra forma: a reconciliação com Deus não é algo que realizamos deixando nossa rejeição a Ele, mas é algo que Ele realizou quando decidiu parar de nos rejeitar. Deus, então, é a fonte da reconciliação.

2) A reconciliação é pela vontade de Deus e é pelo perdão dos pecados. Não há reconciliação sem perdão dos pecados, sem justificação.

“Deus estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo” (2º Cor. 5:19). Como ele pôde fazer isso? Não contando suas ofensas contra eles. A única maneira de nos reconciliarmos com Deus é se a barreira, que é o pecado, estiver fora do caminho.

Os universalistas gostam muito da frase “Deus estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo”. Mas isso não significa que Deus reconciliou o mundo inteiro Consigo mesmo, porque se assim o fosse, ninguém estaria no inferno.

“Mundo” no texto se refere à humanidade, ou seja, à categoria dos seres para os quais Deus oferece a reconciliação, pessoas de todas as tribos, povos e nações, sem distinção alguma. Ele não ofereceu a reconciliação a nenhum anjo. Entretanto, a expiação real foi feita para os homens que creem (João 10: 11,15; 17:9; At. 13:48; 20:28; Rm. 8: 32-33; Ef. 5:25).

A expiação de Cristo foi totalmente eficaz para todos aqueles a quem o Pai elegeu na eternidade. Ele fez uma obra completa e sem necessidade de complementos humanos. O que Ele fez na cruz não foi uma expiação parcial ou uma potencial expiação, mas uma verdadeira expiação, real e limitada àqueles a quem o Pai chamou em Seu decreto eterno.

Não existe tal coisa como Jesus pagando pelos pecados de alguém e depois essa mesma pessoa vai continuar pagando eternamente no inferno. Isso diminui a obra de Cristo. É uma zombaria à obra da cruz.

É inconcebível pensar que o Pai puniu totalmente o Filho na cruz pelos pecados das pessoas que serão punidas por esses mesmos pecados para sempre no inferno. Ou seja, Ele pagou pelo pecado de todos e a maioria continuará pagando no inferno? Então, o pagamento seria falso.

A morte de Jesus, então, deve ser entendida como uma completa satisfação à santa justiça de Deus em favor de todos aqueles a quem Deus chamou para a salvação. [Leia: A Expiação Eficaz de Cristo]. Por isso, Jesus disse:

É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus… Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra (João 17: 9,20)

E como é que Deus pode se reconciliar com esses pecadores? Não imputando seus pecados a eles.

Bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado (Romanos 4:8)

A única maneira de Deus se reconciliar com o homem é se o pecado estiver fora da cena. E Deus não pode descartar o pecado sem punição, pois Ele é muito santo para isso. A questão do pecado tem que ser resolvida para que haja a reconciliação. E foi exatamente isso que Jesus fez na cruz.

3) Em terceiro lugar, a reconciliação é pela obediência da fé.

Não é sem fé. 2º Coríntios 5:20 diz: “rogamos que vos reconcilieis com Deus”. Por qual motivo recebemos o ministério da reconciliação e fomos instruídos a pregar a palavra de reconciliação? Há um componente maravilhoso e inescrutável no trabalho de reconciliação, que é a obediência da fé. E está implícito aqui. Então, saímos a pregar, e é como se Deus rogasse por nosso intermédio que os pecadores se reconciliem com Ele.

Se tudo está predeterminado por Deus, por que temos que dizer isso a todos os pecadores? Para nossa mente é uma questão complicada, mas isso não é um problema para Deus. É o aparente conflito entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. [Leia: Soberania de Deus e Responsabilidade Humana].

Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. (Romanos 10:9-10)

Então, o que fazemos? Dizemos aos pecadores para crerem.

Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? (Romanos 10: 11, 13-14)

Nós somos os pregadores. Nós pregamos o evangelho e chamamos todos à fé.

Portanto, a reconciliação é pela vontade de Deus, pelo ato de perdão e pela obediência da fé. E você sabe, o que é incrível sobre isso é que os pecadores são responsáveis por sua própria rejeição. Jesus disse:

Vocês morrerão em seus pecados. Se vocês não crerem que Eu Sou, de fato morrerão em seus pecados (João 8:24)

Resta um outro ponto para entender a reconciliação, e este é o cerne de tudo. A reconciliação é pela vontade de Deus, pelo ato da justificação e pela obediência da fé. Mas isso ainda levanta a questão:

Como pode Deus fazer isso? Como Ele lida com o pecado? Como Ele reconcilia os pecadores? Como Ele satisfaz Sua justa e santa condenação do pecado com uma punição completa e merecida, e ainda é capaz de mostrar misericórdia para os pecadores que não merecem misericórdia?

A resposta vem em quinze palavras gregas no versículo 21, e elas nos dizem este ponto final:

4) A reconciliação é pela obra de substituição. Isso já nos foi indicado no texto de 2º Coríntios 5:18-21.

  • Versículo 18: Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo
  • Versículo 19: Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo
  • Versículo 20: Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus.

Nesses textos é indicado que Jesus é o meio dessa reconciliação. O verso 21 diz que Jesus fez a obra de substituição.

  • Versículo 21: Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.

Esse é o trabalho de substituição. Esse é um versículo incrível! Vamos olhar apenas um pouco sobre isso e continuaremos na próxima vez.

Deus fez de Cristo pecado por nós. Novamente, vemos que foi Deus quem fez. Deus reconciliou, planejou, desenvolveu o ministério da reconciliação, revelou a palavra da reconciliação e nos envia como embaixadores. É totalmente Seu plano.

E no centro desse plano, “Ele enviou Aquele que não conheceu pecado para se tornasse pecado por nós.”  Jesus Cristo, o sem pecado, Aquele:

  • De quem o Pai disse: “Este é o meu Filho amado em quem me comprazo” (Mateus 3:17) .
  • De quem Pedro disse: “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (I Pedro 3:18).

Deus escolheu Aquele que não tinha pecado para ser feito pecado por nós. Em que sentido Jesus se tornou pecado por nós? O que isso significa? “Ele o fez pecado por nós”. A que isso se refere?

Alguns heréticos, que se dizem cristãos, afirmam que Jesus se tornou um pecador, foi para o inferno sofrer o justo castigo por Seu pecado por três dias, e quando Ele sofreu e expiou Seu pecado, Deus O libertou para ser levantado da tumba. Isso é uma terrível blasfêmia!

Na cruz, Jesus ainda era santo e imaculado. Ele era tão puro e sem pecado na cruz como sempre foi na eternidade. Ele era o Cordeiro puro e imaculado, sem mancha, diz Pedro. Ele não era um pecador na cruz, e não se tornou um pecador na cruz. Pedro diz que fomos “resgatados pelo precioso sangue de Cristo, como de Cordeiro sem mácula ou defeito algum” (I Pedro 1:19).

Cristo não se tornou um pecador, Ele nunca violou Sua perfeição. Ele não pecou, mas foi feito pecador neste sentido: Deus o tratou como se Ele fosse um pecador, embora Ele nunca tenha sido um pecador.

Isso é claro em qualquer estudo do sistema sacrificial. O animal no altar também não fez nada para merecer a morte, mas aquele animal era tratado como se fosse o pecador, para mostrar ao pecador o que o pecador merecia.

Na cruz, Jesus não era um pecador. Ele não se tornou um pecador, mas Deus tratou Jesus na cruz como se Ele tivesse cometido todos os pecados dos redimidos do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Deus lançou sobre Cristo a Sua ira contra o pecado.

Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens… (Rom. 1:18)

E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade. (Mt. 26:42)

Jesus não temia os sofrimentos físicos, Ele sabia o peso da ira de Deus contra o pecado. Deus O tratou como se Ele fosse um miserável pecador. Se você entende isso, você compreende a primeira metade da substituição e imputação. Mas há outro aspecto maravilhoso:

Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus (2º Cor. 5:21)

O que isso significa? Não há homem justo, mas Deus trata os redimidos como se eles fossem, pois Ele imputou a justiça de Cristo aos pecadores redimidos. Esse é o outro lado da substituição.

Por causa da cruz, ninguém é justo, mas Deus trata Seus filhos como se fossem justos. Todos os seus pecados foram punidos em Cristo, “o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (Is. 53:6). A sentença foi paga. A ira sobre os redimidos acabou e, portanto, “já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm. 8:1).

Isso é imputação e substituição. Jesus não era o pecador e os escolhidos não são justos. Mas Deus O cobriu com nossos pecados e O tratou como se Ele tivesse cometido nossos pecados. E então, Ele nos trata como se tivéssemos feito apenas as obras justas de Jesus. Esse é o evangelho. Esse é o ministério da reconciliação. E não há obras em lugar nenhum, é tudo pela graça.

Reconciliação é o nosso objetivo. Temos o maravilhoso privilégio de entrar neste mundo de pessoas morrendo do “vírus” pecado e proclamar a elas que sabemos a cura. Vamos orar.

Pai, agradecemos por este dia maravilhoso que o Senhor nos deu. São pensamentos de busca, pensamentos penetrantes no final de um longo dia cheio de todos os tipos de pensamentos, todos os tipos de interação, aprendizado, discussão e meditação. Senhor, às vezes absorvemos mais do que realmente podemos suportar, então pedimos, Senhor, que o Senhor nos ajude a filtrar as coisas que são mais necessárias.

Senhor, dê à Tua igreja uma compreensão clara do evangelho. Ajuda-nos a ir até os pecadores e explicar como eles podem ser reconciliados com Deus. Ajude-nos a passar dos problemas psicológicos para os reais. Ajude-nos a superar a superficialidade, para enxergarmos o fato de que Deus perdoará todos os pecados dos homens, se eles vierem a Ele; sabendo que, se eles não estão interessados nisso, são como o jovem rico, e terão que ir embora. Mas se estiverem, pela fé, podem receber o glorioso presente que Ele deu.

Pai, ajude-nos em nossas igrejas e em nossos ministérios a nunca perder de vista qual é a principal razão de estarmos aqui: o ministério da reconciliação. Preferiríamos estar no céu. Preferimos estar em Tua presença. Preferimos estar na perfeição da Tua glória. Preferimos estar cara a cara, para conhecer como somos conhecidos. Preferiríamos estar vagando pela Nova Jerusalém, conversar e reclinar à mesa com Abraão, ter a batalha da carne terminada, e que todos os medos, dúvidas, doenças, tristeza e morte desaparecessem.

Mas sabemos, como Paulo sabia, embora seja muito melhor partir e estar com Cristo, é mais necessário estar aqui, porque o Senhor ainda está trazendo o seu. E Você não apenas os escolheu, mas nos escolheu para ser o meio de alcançá-los. Que vocação elevada e sagrada é essa. E nos dê paixão por esse ministério de reconciliação.

Obrigado por esse grande privilégio. Faça-nos embaixadores dignos pela força do Seu Espírito, oramos em nome de Cristo. E todos disseram amém.


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Este texto é uma síntese do sermão “The Mission of the Church”, de John MacArthur em 9/3/1997

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/80-164/the-mission-of-the-church

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


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