Perder a Vida para Salvá-la

Seguindo nossa trilha no Evangelho de Marcos, vamos olhar agora para Marcos 8:34-38. Essa porção é uma grande joia desse evangelho, é o ápice do ensino de Jesus, no que diz respeito a convidar os pecadores a virem a Ele para obter perdão, bênção, paz, alegria e vida eterna. Este é o próprio convite de nosso Senhor.

Esse convite de Jesus é o modelo para todos os convites. Os pregadores e todos os crentes precisam entender esse convite. Aqui está o caminho para a vida, para o perdão, para o céu, para a alegria e a paz.

Marcos 8
34 Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.
35 Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á.
36 Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
37 Que daria um homem em troca de sua alma?
38 Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.

Este relato é tão importante que também está registrado em Mateus 16:18-28 e Lucas 9:23-27. E palavras muito semelhantes são expressas em muitas outras porções dos evangelhos.

Esse convite de Jesus é um golpe mortal para os convites centrados no homem. Não é um convite para a saúde, riqueza, lucro, prosperidade, cura, autorrealização ou uma vida sem problemas. Este é um convite à abnegação, a carregar a cruz e à obediência. Este é o convite do Senhor.

Se alguém imagina que essas são palavras isoladas de nosso Senhor, que não foi o centro de seu convite, observe dois exemplos de como elas se repetem nos evangelhos.

Em Mateus 10:32-39 Jesus disse:

Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus. Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.

Em Lucas 14:26-33 Jesus disse para as grandes multidões que o acompanhavam:

Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruze vier após mim não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz. Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.

Então, vir a Jesus nunca foi fácil, nunca foi algo que as pessoas faziam em troca de vantagens. A exigência é alta. O convite de Jesus não é fácil. Ele sempre deixou claro que o custo para aceitar seu convite é muito alto e que a recusa significa o desastre eterno.

Bem, voltando para o nosso texto, em Marcos 8: 34-38, temos o princípio de ganhar perdendo. É um princípio paradoxal, então veremos o princípio e o paradoxo.

O contexto de Marcos 8:34-38

Temos que entender o contexto desse momento do ministério de Jesus. Se voltarmos 7 versículos, em Marcos 8:27-29, vemos esse diálogo de Jesus e os discípulos:

Marcos 8
27 [Jesus lhes perguntou] Quem dizem os homens que sou eu?
28 E responderam: João Batista; outros: Elias; mas outros: Algum dos profetas.
29 Então, lhes perguntou: Mas vós, quem dizeis que eu sou? Respondendo, Pedro lhe disse: Tu és o Cristo.

Mateus registra a resposta de Pedro de forma mais completa: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16). Eles entenderam que Jesus era Deus em carne humana, que Ele era o Messias prometido. Depois de tudo que eles viram, eles agora estavam convencidos de que Ele era Deus em carne humana e era, de fato, o Messias.

A visão deles era que o Messias viria e logo estabeleceria um reino, salvaria todo Israel, faria de Israel a nação mais poderosa do mundo e que governaria o mundo a partir de Jerusalém.

Então todas as promessas a Abraão, a Davi, dos profetas e todas as descrições do glorioso reino messiânico dadas no Antigo Testamento se cumpririam. Eles estavam eufóricos.

Mas, em Marcos 8:31, Jesus diz algo que assustou muito a eles:

Então, começou Jesus a ensinar que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias, ressuscitasse.

Isso era tão contrário a tudo o que eles acreditavam e esperavam. Marcos 8:32 diz que Pedro começo a reprovar as palavras de Jesus. Em Mateus 16:22 registra que Pedro disse a Jesus: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá”.

Jesus respondeu de forma rápida e direta: “Arreda, Satanás! Porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Marcos 8:33).

O homem está interessado apenas na glória, no reino e nas bênçãos. Mas Deus requer a cruz. Não haveria reino, não haveria bênção e não haveria glória se não houvesse o sacrifício pelo pecado.

Então, os discípulos caíram da euforia para o pânico. Foi um baque. A visão humana deles sobre o reino messiânico era de um reino satânico. Eles estavam tão errados. Tinha que haver uma cruz antes que houvesse uma coroa. Tinha que haver dor antes que houvesse vitória. Tinha que haver sofrimento antes que houvesse glória.

Eles foram informados de uma cruz em que Jesus enfrentaria. E mais, eles ouviram isso: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8:34). Eles tinham que ir pelo caminho da cruz também. Chocante para quem esperava tronos de para reinar sobre o mundo naquele momento.

E esse convite de Jesus foi para toda a multidão que o seguia, como diz Marcos 8:34. O convite de Jesus exige abnegação e uma cruz. Não há um outro convite mais fácil.

Negar a si mesmo

Marcos 8
34 Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.

Vir a Cristo começa com o “negar a si mesmo”. E essa é uma expressão muito forte no original grego, que significa “recusar-se a associar-se ou fazer companhia a alguém”.

“Negar a si mesmo” é o mesmo que dizer: “Não quero mais me associar com a pessoa que sou. Eu percebo minha miséria espiritual. Eu abandono meu auto esforço, eu reconheço que não mereço nada e que não posso conquistar nada com minhas obras. Eu abandono todo esforço próprio, toda autoconfiança, toda vontade própria, minhas próprias ambições, minha própria agenda e meus próprios planos”.

E isso é exatamente o que o pecador arrependido diz. “Eu me rejeito. Não quero mais nada com o velho homem”. A alma natural, depravada, pecaminosa, caída e egoísta, na qual não habita nada realmente bom, é abandonada e desprezada.

Quando o pecador vem a Cristo, ele nega a si mesmo e aborrece sua própria vida (Lucas 14:26). Ele enxerga que todos seus desejos são a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, que não procedem de Deus, mas do mundo (I João 2:16).

Esta é a verdadeira conversão. Este é o fundamento do novo nascimento. O coração quebrantado vê em si mesmo apenas pecado e miséria, percebe que deve abandonar a si mesmo para que haja alguma esperança de um relacionamento com Deus.

Ele renuncia a sua independência, desiste de sua autoconfiança e passa a depender somente de Cristo. Ele diz: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:19-20).

Quando alguém nasce de novo, está não só abraçando os recursos e dons que Cristo provê, mas está se colocando sob Seu senhorio soberano e diz: “Tu és o Senhor da minha vida; Tu estás no comando da minha vida; Tua vontade, Teus desejos, Teus planos e Teus propósitos é tudo que eu quero na minha vida”. Ninguém pode vir a Cristo se não for com essa atitude.

Paulo era um judeu cheio de autojustiça, autoconfiança e credenciais religiosas, mas quando ele nasceu de novo, declarou:

Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte (Filipenses 3:7-10)

Isso é abnegação, negar a si mesmo. Nada do que o homem conquista com seus esforços e talentos é digno de salvação e perdão. Abandonar todo esforço próprio e autojustiça, admitir sua pecaminosidade, reconhecer que Cristo é o Senhor e entregar sua vida a Ele é o único caminho. Não há outro. Assim a ambição, vontade e propósito de Cristo tornam-se também do coração convertido.

Esta é a mensagem contundente Jesus pregou no sermão da montanha, no início de seu ministério na Galileia. As bem-aventuranças começa com “bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”.

Quem são esses humildes de espírito? São as pessoas que sabem que estão falidas espiritualmente, que sabem que não são justas, que sabem que não merecem nada e que não podem alcançar nada a partir de si mesmo. Este é o estado fundamental do coração que alcança a verdadeira salvação: Há uma constante sensação de miséria e de busca da misericórdia divina.

Jesus contou uma parábola onde o fariseu, confiante em sua autojustiça e auto esforço, orava assim:

Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. (Lucas 18:11,12)

Já o publicano, certo de sua miséria e pecaminosidade, não ousava nem levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13)

E Jesus concluiu: “O publicano desceu justificado para sua casa, e o fariseu não, porque todo aquele que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (Lucas 18:14).

  • Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado (Salmos 34:18)
  • Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus (Salmos 51:17)

Até mesmo a Lei, no Antigo Testamento, foi dada para demonstrar a miséria de nossos próprios corações para que, como o publicano, batesse em nosso peito e dissesse:

Deus, tem misericórdia de mim, pecador. Não tenho nada de bom em minha carne para oferecer. Não posso ganhar minha salvação, nem quero controlar minha vida. Quero me desassociar da pessoa que sou e quero me tornar a pessoa que Tu podes me fazer ser.

O pecador vai a Cristo nos termos Dele, não seus próprios termos. O pecador orgulhoso quer Cristo, mas também quer manter seu prazer, posses, pecados e ambições. Mas o pecador arrependido está esmagado, falido e tão desesperado que desiste de tudo para ter a Cristo.

Jesus contou duas pequenas parábolas em Mateus 13: 

  • Uma sobre um homem que encontrou uma pérola de grande valor e, para obtê-la, vendeu tudo.
  • Outra sobre um homem que encontrou um tesouro escondido em um campo e, para pegá-lo, vendeu tudo porque o tesouro valia mais do que tudo o que ele tinha. 

Essa é a imagem de vir a Cristo. E esse quebrantamento profundo se torna o modo de vida permanente de quem nasceu de novo. O verdadeiro cristão não está esmagado, quebrado e humilhado apenas no começo, ele permanece assim durante toda sua vida. Quanto mais seu conhecimento aumenta, mais aumenta sua humildade.

O cristão genuíno sempre reconhece que nunca haverá qualquer mérito em si mesmo. Quanto mais ele cresce, pior avaliação tem si mesmo e cada vez mais profunda a percepção de sua indignidade à medida que aprende mais sobre a glória, santidade e graça de Deus. O começo de tudo é negar a si mesmo.

Tomar a cruz

Marcos 8
34 Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.

Após falar sobre negar a si mesmo, Jesus disse: “tome a sua cruz e siga-me”. Em Lucas 14:27, em outra ocasião, Jesus disse a mesma coisa: “Qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo”.

Você diz: “Bem, o que Jesus quis dizer com “tomar a sua cruz”? Jesus ainda não havia dito aos discípulos que Ele morreria crucificado. Ele já havia dito que iria sofrer e morrer (Marcos: 8:31), mas Ele ainda não os havia contado sobre Sua crucificação.

Mesmo assim eles só poderiam pensar em morte por crucificação. Trinta mil judeus foram crucificados pelos romanos. Eles estavam acostumados a ver pessoas crucificadas. E os romanos sempre os colocavam nas estradas para que todos pudessem ver. Era uma visão muito comum a todos eles.

Eles sabiam exatamente o que significava quando Jesus disse: “Você tem que tomar a sua cruz”, porque as vítimas que seriam crucificadas tinham que carregar a cruz para o local de sua própria execução.

Em outras palavras, Jesus estava dizendo:

Bem, se vocês quiserem Me seguir, terão que seguir Minha reprovação. Estou indo para a morte e, francamente, vocês também. Olhem, quão valioso é este presente da salvação que estou oferecendo a vocês? É valioso o suficiente para você desistir de tudo até a morte?

Esta é uma disposição para suportar a perseguição. A cruz, aqui, é uma espécie de metáfora para o sofrimento. Nem todo crente que vem a Cristo morrerá por causa de sua fé, mas há sofrimento ao longo do caminho, rejeição pela família, pelos parentes, pelas pessoas com quem trabalhamos e pessoas que conhecemos, pessoas com quem nos importamos.

Há uma séria hostilidade contra aqueles que são cristãos fiéis, cujas vidas piedosas são verdadeiras repreensões ao mundo, e que causam muitos incômodos a quem está nas trevas.

Ou seja, Jesus disse: “se você vier a Mim, terá que suportar perseguição, rejeição, reprovação e vergonha.” E no relato de Lucas, Jesus disse que essa cruz é diária: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23).

Em 1 Coríntios 15:31 Paulo disse que morria diariamente, que todos os dias da sua vida enfrentava a morte pela causa do evangelho.

Então os discípulos, que eram muito familiarizados com a crucificação, sabiam exatamente que Jesus estava dizendo: “Isso vai te custar tudo.”

Ele não estava falando da glória final no reino. Não se tratava de riqueza e prosperidade que virá um dia no glorioso reino de Cristo, quando Ele retornar. Por enquanto, trata-se de sofrimento. Estamos em um mundo hostil contra Cristo e, consequentemente, contra seus seguidores. Cristo ainda não voltou para estabelecer o reino e a glória.

Então, primeiro eles foram instruídos a dizer não a si mesmos, e agora a dizer não a uma vida segura e tranquila. Eles deveriam estar dispostos a pagar qualquer preço, porque a salvação é muito valiosa, é uma pérola e um tesouro de valor tão imensurável que o pecador deve estar disposto a se desfazer de si mesmo, de seus relacionamentos, valores, ambições, sonhos e de tudo que possui para obtê-la.

O evangelho nunca foi pregado por Jesus e pelos apóstolos com base em outra coisa. Nunca foi dito algo como: “Se você vir a Cristo, terá tudo o que deseja”. O evangelho sempre foi pregado como um tesouro que deve ser recebido em meio às renúncias profundas.

Essa mensagem é insuportável e estranha para quem está preso no mundo temporal passageiro, para quem não tem noção do que é eterno. A verdadeira conversão vê Cristo, o evangelho, a salvação e o céu tão preciosos que nenhum sacrifício pessoal é demais.

Os ímpios gastam suas vidas por aquilo que é passageiro, efêmero e sem futuro. Quando Estevão testemunhava de Cristo para os escribas e fariseus, eles se enfureceram a ponto de matá-lo por apedrejamento. Muitas podem pensar que Estevão desperdiçou sua vida. Mas, antes de morrer, Estevão declarou o tesouro imensurável que somente o salvo pode contemplar e usufruir:

Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus […] E apedrejavam Estêvão, que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito! Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado! Com estas palavras, adormeceu (Atos 7: 55-56; 59-60).

Os homens costumam dedicar suas vidas pelas causas temporais e meramente humanas, mas aqui está um homem que deu sua vida por uma causa sublime e eterna.

E se você tivesse que passar por isso, você se alegraria de ser apedrejado até morte vendo Jesus em pé à direita de Deus e ser recebido nas glórias do céu eterno? Quão valioso é isso? Esse é um amor por Cristo que supera os instintos de autopreservação.

Mas aquele que se contenta com as coisas temporais, buscando apenas o aqui e agora, vive para o que é passageiro e nada tem para a eternidade. Mas, o “que é a vossa vida? Sois, apenas, como vapor que aparece por instante e logo se dissipa” (Tiago 4:14).

E a propósito, quando você enfrentar esse momento, você receberá graça para isso. Os maiores testemunhos de cristãos ao longo dos séculos foram registrados quando enfrentam a morte. E nunca houve tanta morte de cristãos por causa de sua fé como nos dias de hoje. Pedro escreveu:

Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. (1 Pedro 4:12-14).

Assim, Cristo, carregando Sua cruz, conduz todos os Seus seguidores, carregando suas cruzes, através do sofrimento. Uma grande procissão através do sofrimento, do outro lado, para a glória eterna. Este é um modo de vida para nós. Seremos fiéis à verdade de Cristo, não importa o custo.

Mesmo que não estejamos sofrendo a ameaças de morte por causa de nossa fé, temos que entender o que significa ser perseguido por causa de nosso compromisso com Cristo. Mas, seja como for, nossas vidas devem estar completamente nas mãos do Senhor, com a plena disposição para tudo por amor a ele. Sobre isso, Paulo escreveu:

Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor (Romanos 14:7-8).

Venha a vida ou venha a morte, o que Deus quiser, temos que descansar no que Ele der, no que Ele pedir, porque a vida eterna vale qualquer preço. Essa é a mensagem que Jesus está dando. Não é sobre o que você ganha neste mundo; é sobre o que você entesoura para a eternidade. Jesus ensinou:

Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração (Mateus 6:19-21).

Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me (Marcos 8:34)

“Siga-me”

Marcos 8
34 Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.

Jesus falou de negar, negar a si mesmo e agora ele fala sobre obediência: “Siga-me”. O original grego tem o sentido de uma ação contínua.

A palavra significa “imitar”. O novo nascido imita a Cristo. I Joao 2:6 diz: “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou”. É um querer de ser como Cristo.

A obediência é condição do discipulado. Nossas vidas são marcadas pela obediência. Obedecemos a Palavra de Deus com alegria, amor, gratidão e de bom grado.

  • “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:31,32)
  • “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (João 15:14)
  • “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia” (Mateus 7:24,26).

Então nosso padrão de vida é a negação de si mesmo, a disposição de sofrer o que quer que seja por Cristo e a obediência leal.

É como uma viagem: A primeira coisa que você faz é dizer adeus, a segunda coisa que você faz é carregar sua bagagem, e a terceira coisa que você faz é prosseguir em sua jornada. Isso é tudo que Ele está dizendo. Diga adeus a si mesmo, pegue sua cruz e prossiga firme. Muito simples.

O paradoxo: Perder a vida por Cristo e pelo evangelho, para ganha-la

Marcos 8
35 Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.

Vimos o princípio, e agora está o paradoxo. Se você quiser manter o controle de sua vida e viver do seu jeito, você pode salvar sua vida temporalmente, mas a perderá eternamente.

Jesus foi claro: “perder a vida por amor a mim e do evangelho”. Ele não está falando de filantropia, de dar a vida pelos pobres ou de dedicar a vida por alguma causa nobre. Ninguém alcançará algo diante de Deus por seus próprios méritos e esforços. Nada disso tem a ver com salvação.

É somente quando você perde sua vida, e a entrega por Cristo e pelo evangelho, que você a salva. Essa disposição tão humilde e abnegada vem porque você entende o desespero de sua condição e entende a enorme glória do dom da salvação. E Jesus continua:

Marcos 8
36 Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?
37 Ou, que daria o homem pelo resgate da sua alma?

Esse é o pior negócio que alguém pode fazer: Ganhar o mundo todo e perder sua alma eternamente. Assim o homem diz: “Eu vou viver a vida do jeito que eu quiser neste mundo e como recompensa vou viver eternamente no inferno”. Isso faz sentido? Mas o negócio é exatamente este.

Na parábola do rico insensato, o homem rico disse:

Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. (Lucas 12:18,19)

E Deus disse:

Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? (Lucas 12:20).

Por isso Jesus perguntou: “que daria o homem pelo resgate da sua alma?” (Marcos 8:37). Como você vai comprar de volta sua alma? Mesmo que você fosse dono do mundo inteiro não poderia pagar o preço por sua alma. Nada deste mundo reservado para o fogo e destruição tem valor eterno. Tudo que o mundo tem não pode comprar sequer uma alma.

Não há preço para uma alma, exceto a provisão de Jesus Cristo na cruz. Ele pagou um preço infinito por causa de um valor infinito ligado a você. Esse é o dom da salvação.

E Jesus finaliza dizendo:

Marcos 8
38 Porquanto, qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos.

Haverá um julgamento vindouro. Isso é bem claro. Em 2 Tessalonicenses 1:7-9 diz:

[…] quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, com labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição

É disso que se trata. É um aviso. Jesus fez um convite que requer negar a si mesmo, suportar a cruz, obediência leal e entrega da vida para salvá-la. Mas se o pecador se apegar à sua própria vida e ter vergonha de Cristo e de suas palavras, sofrerá o desprezo eterno junto a sua geração pervertida.

O ímpio não suporta ouvir sobre o juízo eterno. Ele não suporta restrições para viver desfrutando de seus pecados neste mundo pervertido. O ímpio quer ganhar o mundo temporal, salvando sua vida, mesmo que lhe custe a eternidade. Para o ímpio só resta o juízo no dia em que o Filho do Homem vier na glória de Seu Pai com os santos anjos.

A pergunta é simples. Quão valiosa você acha que sua alma é? Foi valioso para Deus que enviou Seu Filho para fornecer o preço de compra, ou seja, Sua própria morte, para comprar sua alma eterna.

Ele foi capaz de comprar almas que não poderiam ser compradas mesmo se você possuísse o planeta inteiro. Quanto vale a sua alma? Ela viverá para sempre. Você conscientemente viverá para sempre. Você vai viver no inferno para sempre em trevas ou no céu para sempre em alegria?

Como você redime sua alma? Vindo a Cristo, negando a si mesmo, tomando sua cruz, sofrendo como Ele exige para a glória que será revelada no futuro. Vamos orar.

Pai, nós Te agradecemos pelo esse tempo maravilhoso que tivemos agora. Somos profundamente abençoados por viver todos os dias em Tua presença, pois Tu vives em nós. As Escrituras dizem que quando somos crentes, Teu Espírito Santo passa a residir dentro de nós, e o Senhor produz em nós amor, paz, alegria, mansidão, bondade, fé e humildade.

O Senhor nos faz adoradores, testemunhas e servos. A vida é rica, abençoada e plena, e isso é apenas uma amostra, apenas uma prévia das grandiosas bênçãos celestiais.

Grato Senhor por Sua bondade para conosco, sua misericórdia para com pecadores indignos como nós. É por isso que estamos aqui; é por isso que cantamos com nossos corações e  vozes para Ti, porque esta é uma maneira de expressarmos nosso amor. E assim é a nossa obediência, e assim é a nossa fidelidade. Sustenta-nos nessas coisas para tua glória. Em nome de Cristo, amém.


Nota: Como os sermões sobre a Transfiguração de Jesus (Marcos 9:1 a 13) já constam na série de Lucas. Por economia de tempo, o site não traduziu na série de Marcos. Ler em A Transfiguração de Jesus – 1A Transfiguração de Jesus – 2.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série


Este texto é uma síntese do sermão “Losing Your Life to Save”, de John MacArthur em 19/9/2010

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-41/losing-your-life-to-save-it

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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