Cristo, Superior aos Anjos (2)

Dando continuidade ao nosso estudo de Hebreus, iremos até o verso 14, do capítulo 1. Este é a continuação do primeiro sermão sobre este texto e tema.

Os primeiros 14 versículos de Hebreus são muito importantes e profundos. Há tanta profundidade,  em termos do que nos é apresentado sobre a pessoa de Jesus Cristo, que devemos olhar para esses versículos com muito cuidado, porque nos apresentam, talvez como em nenhum outro lugar nas Escrituras, uma declaração definitiva acerca da identidade de Jesus Cristo.

JESUS CRISTO É O TEMA DA BÍBLIA

O livro de Hebreus foi escrito para exaltar a Cristo, para mostrar ao leitor judeu que Cristo é superior a tudo e a todos, e assim, naturalmente, o primeiro capítulo trata das superioridades de Cristo.  Os versículos 4 a 14 tratam da superioridade de Jesus Cristo sobre os anjos, e assim continuaremos em nosso estudo desses versículos.

Nosso abençoado e incomparável Cristo é, então, a pessoa suprema no livro de Hebreus, como Ele o é em todo o Universo.  Em toda a Escritura, a pessoa de Jesus Cristo é exaltada. Ele é o tema do Antigo Testamento, assim como do Novo Testamento.

Em Mateus 5:17, p. ex., lemos: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim destruir, mas cumprir.Jesus é o cumprimento da verdade do Antigo Testamento.  Outro exemplo está em Lucas 24:27, onde temos Jesus falando aos discípulos no caminho de Emaús: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.” Ou seja, Jesus estava ensinando o que o Velho Testamento diz a respeito Dele mesmo.

No versículo 44, de Lucas 24, temos o registro das seguintes palavras de Jesus: “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos.” E Lucas conclui, dizendo: “Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras.

Não há como alguém, seja judeu ou gentio, entender o Antigo Testamento até que o entenda a partir da pessoa de Jesus Cristo.  Em João 5:39, outro exemplo, Jesus faz esta declaração clara: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam.” Ele está se referindo ao Antigo Testamento, pois o Novo Testamento ainda não havia sido escrito. Jesus está afirmando: “O Antigo Testamento testifica de Mim”.

Citando o Velho Testamento, o escritor de Hebreus destaca no capítulo 10,verso 7: “Então disse: Eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de mim), para fazer, ó Deus, a tua vontade.

O Antigo Testamento tem como tema a pessoa de Jesus Cristo.  E embora Ele não apareça e não seja detalhado quanto à Sua vida até o surgimento do Novo Testamento, Ele é mesmo assim o tema, o antítipo, Aquele profetizado no Antigo Testamento.  E não só isso, mas Jesus também é o tema do Novo Testamento.

João nos dá o propósito da escrita de seu livro, que podemos dizer muito bem ser o propósito da escrita de todo o Novo Testamento, quando João 20:31 diz: “Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”.

O que o Antigo Testamento encobre acerca de Cristo, o Novo Testamento revela.  O que o Antigo Testamento fala sobre Cristo, o Novo Testamento explica. O que o Antigo Testamento traz em preceito acerca de Cristo, o Novo traz em perfeição.

O que o Antigo Testamento apresentou de Cristo em sombra, o Novo Testamento apresenta em substância.  O que o Antigo Testamento apresentou de Cristo em ritual, o Novo Testamento apresenta na realidade.  O que o Antigo Testamento apresentou de Cristo em imagem, o Novo Testamento apresenta em pessoa.

No Novo Testamento, aquilo que foi predito no Antigo Testamento se cumpre, a profecia se torna história, a pré-encarnação se torna encarnação.  A apresentação de Jesus Cristo no Novo Testamento, então, traz o sentido do  Antigo Testamento.

Em 2 Coríntios 3:14-15, por exemplo, lemos o seguinte: “Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido; e até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.Não há como um homem entender o Antigo Testamento sem entender e conhecer Jesus Cristo, pois um véu está colocado até que ele se volte para Cristo.

E é por isso que é tão intensamente difícil para o judeu entender o Antigo Testamento.  Também é por isso que no Judaísmo hoje você tem um grupo muito pequeno de judeus ortodoxos, pois a grande maioria dos judeus se desviou para o que é chamado de Judaísmo conservador ou Judaísmo liberal, porque eles não podem aderir às pequenas coisas básicas do Judaísmo, visto que eles não encontram nenhum significado para elas sem o Novo Testamento.

A NATUREZA TEMPORÁRIA DA ANTIGA ALIANÇA E A NATUREZA ETERNA DA NOVA ALIANÇA

E esta é precisamente a mensagem que o escritor de Hebreus está trazendo: Jesus Cristo remove o véu e dá compreensão da Antiga Aliança.  Não só isso, Ele traz uma aliança melhor, pois tem acréscimos, além de explicar a Antiga.

Não é que tudo no Antigo Testamento seja obsoleto e deva ser descartado.  Ainda há princípios graciosos lá.  Existem princípios que são de Deus.  Há verdades que são eternas ali.

Não é que tudo do Velho Testamento tenha passado.  Algumas coisas passaram.  As formas, os tipos e os rituais passaram, porque a realidade chegou.  Mas os princípios de moralidade e a atitude de Deus em relação ao pecado permanecem os mesmos.

Hebreus fala da natureza temporária da Antiga Aliança quanto às suas formas.  Por exemplo, no capítulo 8, versículo 13, temos uma declaração muito importante: “Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar.

Isso não significa que tudo o que Deus disse no Antigo Testamento perdeu a eficácia. Não significa que agora você pode cobiçar, matar, e fazer o que quiser, porque toda a moralidade do Antigo Testamento se foi.  Não! Significa, no entanto, que as formas, os rituais, os tipos, as imagens, os símbolos do Antigo Testamento, todo o ritual de sacrifício na área simbólica se foi, porque a realidade chegou.  Essa é a questão.

Em Hebreus 10:1, temos: “Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam.

Todos os sacrifícios do Antigo Testamento não podiam tornar um homem sequer perfeito.  Eles eram apenas imagens de Cristo, que sozinho pode trazer a perfeição.  Adiante, no versículo 9: “Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo.

A tendência dos leitores judeus,  destinatários iniciais de Hebreus, era receber a Cristo, e então, apegarem-se aos rituais, ao simbolismo judaico.  E o escritor de Hebreus está dizendo: “você tem o novo, deixe o velho de lado. Você não pode misturar os dois.  Não há razão.  Não há sentido.”

No capítulo 11, versículo 40, lemos: “Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados.” Em outras palavras, não havia perfeição fornecida na Antiga Aliança.  Havia apenas uma imagem de perfeição, que veio na “coisa melhor“, a Nova Aliança.

E ao longo de Hebreus, encontramos todas estas declarações significativas:

a) O sacerdócio Aarônico precisava ser mudado, pois era um sacerdócio inadequado. Não só isso, mas até mesmo os rituais de Israel precisavam ser mudados. Os sacerdotes do Antigo Testamento eram apenas uma sombra do Sacerdote Celestial.

Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei (Hebreu 7:12)

b) Os rituais do Velho Testamento eram exemplo e sombra.

Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou. (Hebreus 8:5)

c) Os sacrifícios foram todos abolidos:

Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha aspergida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna (Hebreus 9: 12-15)

d) A antiga Aliança não era impecável, e por isso decaiu e desapareceu.

Porque, se aquela primeira fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda. (Hebreus 8:7)

Assim, vemos que a Antiga Aliança era meramente uma sombra temporária das coisas por vir.  E quando abrimos o livro de Hebreus, encontramos a Nova Aliança, que não é mais uma sombra, mas é a coisa real.  Não é uma imagem de alguém, mas a pessoa.

Não se trata de um sacerdócio imperfeito, mas do Sacerdote perfeito.  Não se trata de sacrifícios repetidos que não conseguiram fazer o trabalho de purificar do pecado, mas do único sacrifício que, de uma vez por todas, fez o trabalho.  E assim, em Hebreus, tudo é eterno:

  • Salvação eterna: “E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem.” (Hb. 5:9)
  • Juízo eterno: “E da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno. (Hb. 6:2)
  • Redenção eterna: “Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção.” (Hb. 9:12)
  • Herança eterna: “E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna.” (Hb. 9:15)
  • Aliança eterna:  – “Ora, o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus, grande pastor das ovelhas.” (Hb. 13:20)

A Nova Aliança é eterna.  A Velha era temporal e passageira.  E isso é fundamental para entendermos o conceito do Novo Testamento.  Os princípios do Antigo Testamento, a moralidade, o que é ensinado sobre Deus e sobre o homem ainda estão em vigor.

Porém, todo o ritual e toda a formalidade se apagaram, porque a realidade chegou.  E esta é precisamente a mensagem que o escritor de Hebreus quer transmitir:  “a Nova Aliança está aqui, não se apegue aos rituais da Antiga;  você não precisa mais deles.  O sumo sacerdote celestial chegou.  Você não precisa dos sacerdotes do Judaísmo.  O sacrifício de uma vez por todas foi realizado, esqueça o resto dos sacrifícios.  Acabou!”

Uma vez que a realidade chegou, o ritual que a prefigurava não é mais necessário.  Você entende esse ponto? E assim, o Espírito Santo está dizendo ao cristão hebreu: “Faça uma ruptura total e completa com o ritual judaico.  Não se prenda a nada disso;  você não precisa disso!”  E para o hebreu não salvo, Ele está dizendo: “Há uma aliança melhor.  Reconheça a melhor aliança, volte-se para Jesus Cristo e abrace-a.”

A propósito, isso traz à tona um ponto muito importante, que eu quero que você veja.  Trata-se da razão básica pela qual não acreditamos em rituais na igreja hoje.  Há muitas igrejas que são muito ritualísticas: levante-se, sente-se, marche para cá, vire-se para lá, diga alguma coisa, leia isso ou aquilo, e as pessoas simplesmente vão fazendo.

Há também vários simbolismos, seja na igreja católica, ou na igreja episcopal, ou qualquer outra. Mesmo às vezes igrejas batistas e presbiterianas, além de outras, caem em padrões de ritualismo. Mas, algo importante que você precisa perceber é que não há sentido nos símbolos, nos tipos e na liturgia, porque a realidade está aqui.  Você entende isso?

Por que eu deveria focar em coisas que simbolizam Jesus, quando posso me levantar e dizer “quero falar sobre Jesus”? Por que eu deveria passar por todo tipo de ladainha e rituais que metade das pessoas não consegue entender, quando posso me levantar e dizer: “deixe-me levá-lo aqui para este versículo, e mostrar-lhe  do que se trata”?

Em outras palavras, a vinda de Cristo significou o fim do ritualismo.  E isso é o que é tão trágico sobre a igreja hoje, porque grande parte da igreja hoje está fazendo como esses cristãos hebreus tendiam a fazer, apegando-se ao simbolismo e rejeitando a realidade. 

Não há lugar para ritualismo.  É absolutamente desnecessário, e o Senhor se certificou disso apenas nos colocando duas coisas que realmente deveríamos fazer e que são simbólicas:  a mesa do Senhor, que nos faz lembrar da cruz, e o batismo, que nos faz lembrar, significa e testifica nossa identificação com Cristo.  Além disso, não há nenhum ritual que pertença à igreja de Jesus Cristo.  Não precisamos de nada disso.  Essa é a mensagem para Israel, e também para nós.

Não devemos gastar nosso tempo indo atrás de formas e símbolos quando temos realidade. Muitas pessoas pensam que são religiosas porque cumprem rituais, mas a prática desses rituais é apenas uma declaração completa da parte deles de que não conhecem a realidade.  Eles substituem a realidade pelo formalismo.

Isso é algo trágico sobre as pessoas nas denominações que são assim, e na igreja católica.  E nós amamos essas pessoas, e nos preocupamos com elas, mas vemos muitas delas perdidas nos padrões do ritual, quando a verdade está lá, mas elas nunca podem vê-la.

Não precisamos de figuras e de ilustrações.  Temos a realização de tudo em Jesus Cristo.  E essa é a mensagem, não apenas para nós, mas para os crentes hebreus.  A pessoa chave, então, na Nova Aliança é Cristo.  Uma vez que Ele chegou, todo ritual, tipo, imagem, ilustração etc se foram.  A realidade veio.

Desse modo, para provar que o Novo Testamento é melhor que o Antigo, e que a Nova Aliança substitui as formas da Antiga pela realidade, o escritor de Hebreus deve então provar que Jesus é melhor do que qualquer um ligado à Antiga Aliança, pois se é uma aliança melhor, tem que ter um mediador melhor, certo?

E assim, o livro de Hebreus começa exatamente com este objetivo: mostrar que Jesus Cristo é superior a tudo e a todos ligados à Antiga Aliança.  O Seu sacerdócio é melhor do que o sacerdócio Aarônico.  Ele é um sacerdote ainda melhor do que Melquisedeque.

Jesus Cristo é melhor que Moisés.  Ele é melhor que Arão.  Ele é melhor do que todos e qualquer um conectado com a Antiga Aliança. E através de Hebreus, encontramos o escritor nos mostrando exatamente isso.

BREVE REVISÃO DO PRIMEIRO SERMÃO SOBRE A SUPERIORIDADE DE CRISTO SOBRE OS ANJOS

Aprendemos no sermão anterior que a Antiga Aliança foi mediada aos homens por anjos, e que o povo judeu reverenciava e estimava os anjos acima de qualquer outro ser criado.

Portanto, já que os anjos foram os mediadores da Antiga Aliança, o escritor de Hebreus deve provar que Jesus é melhor que os anjos.  Se Ele é um mediador melhor, com uma aliança melhor, Ele deve ser melhor que os anjos.  E assim, quando chegamos aos versículos 4-14, encontramos o assunto da superioridade de Jesus sobre os anjos.

Hebreus 1:4 afirma: “Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles.”  Essa é a introdução do tema a ser desenvolvido nos versículos 4-14. É o ponto que o escritor de Hebreus quer provar.  Nos versículos de 4 a 14, ele quer que vejamos que Jesus é melhor que os anjos.  Isso é o que eu quero que você veja também.

Vimos também que o verbo “feito“, no início do versículo 4, é a tradução da palavra “ginomai“, que ao pé da letra significa “tornou-se“.  Jesus se tornou, foi feito superior ou mais elevado que os anjos, glorificado e exaltado acima deles. Em Sua encarnação e humilhação, por um pouco de tempo Ele foi inferior, mas depois foi exaltado acima deles.

Ele era inferior no sentido de que se tornou um homem.  Ele não era inferior no sentido de Sua divindade, mas em Sua humanidade.  E assim, Hebreus continua o tema, indicando cinco razões pelas quais Jesus é melhor que os anjos: Seu título, Sua adoração, Sua natureza, Sua eternidade e Seu destino são superiores.

Vimos, em primeiro lugar, que Jesus é melhor que os anjos porque Ele tem um título melhor. Isso está estabelecido nos versos 4 e 5:

Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles. Porque, a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho? (Hb. 1:4-5)

Alguma vez Deus disse a um anjo: “Eu serei para você um Pai e você será para Mim um filho?”  E a resposta é: não.  E lembre-se do que eu disse no sermão anterior, sobre quão cuidadosa e habilmente o escritor usa o Antigo Testamento para provar Seu ponto de vista.  Ele faz sete citações neste pequeno sermão sobre Jesus ser melhor do que os anjos, e todas as sete vêm do Antigo Testamento, com razão, já que o Antigo Testamento fala de Cristo.

Assim, ele cita, no verso 5, o Salmo 2:7 e 2 Samuel 7:14. E ele nos mostra que Cristo tem um nome, um título melhor.  Um anjo é um anjo, um mensageiro.  Significa simplesmente um servo.  Jesus não é um servo, Ele é o Filho.  Ele não é um ajudante contratado.  Ele não é um mensageiro. Ele é o Filho.

Falamos também no sermão anterior sobre o fato de que este nome “Filho” pertence a Jesus em Sua encarnação.  Nas aparições de Cristo no Antigo Testamento, por exemplo, Ele não é chamado de Filho.  Ele é chamado de “Anjo do Senhor”.

Mesmo em Daniel 3:25 não temos um exemplo de Cristo sendo identificado como Filho de Deus no Antigo Testamento. Quando Nabucodonosor e os que estavam com ele olharam para a fornalha ardente, eles viram Sadraque, Mesaque e Abednego, além de outro homem: “Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses.”

Nas traduções mais modernas a declaração “semelhante ao Filho de Deus” foi substituída por “semelhante ao Filho dos deuses“, que é uma tradução melhor, pois se tratava de um comentário de um pagão, indicando que quem quer que fosse aquela quarta pessoa ali, parecia ser algo de outro mundo.  Assim, não se trata do título de Jesus Cristo como o Filho de Deus, pois  esse é um título do Novo Testamento que pertence à Sua encarnação.

Ele se tornou um Filho em Seu nascimento virginal e em Sua ressurreição.  Assim, mesmo em Sua humilhação, Ele ainda permaneceu sendo maior que os anjos.  Mesmo na humanidade, Ele ainda é um Filho, e eles ainda são servos.

Em segundo lugar, vimos que a adoração que é devida a Cristo indica que Ele é superior aos anjos.  Versículo 6: “E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem.

No sermão anterior, vimos a profecia do Salmo 97:7, indicando que na Segunda Vinda de Cristo todos os anjos de Deus serão chamados para adorá-Lo.  Sabemos, sem sombra de dúvida, que há anjos que vêem a  glória de Cristo agora.  Sabemos que há anjos agora que louvam a Sua glória. Mas nada disso é semelhante com o que acontecerá, de acordo com Apocalipse 5, no tempo de Sua Segunda Vinda.

Quando Jesus vier, então todo o céu irromperá em um grande clímax de louvor e honra a Jesus Cristo, quando Ele será aclamado Rei dos reis e Senhor dos senhores. E assim, já que Ele merece a adoração dos anjos,  Ele é melhor e superior a eles.

CONTINUAÇÃO DO SERMÃO ANTERIOR

E agora, chegamos ao ponto três, em continuação ao sermão anterior:

3) JESUS É SUPERIOR AOS ANJOS POR CAUSA DE SUA NATUREZA 

Não apenas Seu título é melhor, Sua adoração indica que Ele é melhor, mas Sua natureza  é superior.

O Espírito Santo mostra a diferença básica na natureza dos anjos e do Filho, Jesus Cristo.  E observe que algumas declarações tremendas são feitas no versículo 7: “E, em verdade quanto aos anjos, diz: Que faz dos seus anjos espíritos, e de seus ministros labareda de fogo.” Nesse versículo, vemos a natureza dos anjos.

Bem, em primeiro lugar, o verbo “faz”, da declaração  “que faz dos seus anjos”, é a palavra grega “poieō”, que significa criar. E a quem o versículo está se referindo, isto é, quem é que “faz dos seus anjos” ou quem criou os anjos? A resposta é: Cristo.

Tendo Cristo criado os anjos, Ele é o quê?  Melhor e maior que os anjos. Hebreus 1:2 declara: “A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” A palavra traduzida como “mundo” aí é “αἰών”, que significa Universo, tudo que existe, tudo o que foi criado, o que inclui os anjos. Jesus criou os anjos.  Sendo assim, os anjos são seres criados.

Além disso, o texto “que faz dos seus anjos” traz o pronome possessivo “seus” indicando que os anjos são criaturas que pertencem a Cristo. A propósito, essa é uma citação do Salmo 104:4, que diz: “Faz dos seus anjos espíritos, dos seus ministros um fogo abrasador.”  E novamente, Hebreus está usando o Antigo Testamento para verificar a superioridade de Cristo em relação aos anjos.

A palavra “espíritos” no texto acima também pode significar “ventos“. Por que eles seriam chamados de ventos?  Bem, por causa do seu movimento invisível, poderoso e rápido.  Eles também são chamados de “fogo abrasador” ou chamas de fogo.  E isso é interessante.  Os anjos não apenas sopram ou se movem rápida, invisível e poderosamente para cumprir a ordem de Deus, mas também são chamas de fogo.

Sempre que você ler sobre uma chama de fogo na Bíblia ou “fogo abrasador”, geralmente está em conexão com o julgamento divino.  E assim, vemos que os anjos são os executores dos juízos de Deus. Vejamos Gênesis 19, uma passagem familiar, que fala sobre a destruição de Sodoma. 

Gênesis 19
13 Porque nós vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem aumentado diante da face do SENHOR, e o SENHOR nos enviou a destruí-lo.
14 Então saiu Ló, e falou a seus genros, aos que haviam de tomar as suas filhas, e disse: Levantai-vos, saí deste lugar, porque o SENHOR há de destruir a cidade. Foi tido porém por zombador aos olhos de seus genros.
15 E ao amanhecer os anjos apertaram com Ló, dizendo: Levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças na injustiça desta cidade.
16 Ele, porém, demorava-se, e aqueles homens lhe pegaram pela mão, e pela mão de sua mulher e pela mão de suas duas filhas, sendo-lhe o SENHOR misericordioso, e tiraram-no, e puseram-no fora da cidade.

Aqueles anjos, enviados para destruir Sodoma, tiveram que pegar Ló e sua família, e arrastá-los para fora da cidade. Você deve se lembrar que a esposa de Ló foi avisada para não olhar para trás. Só que ela olhou, e se transformou em uma estátua de sal.  Portanto, em Gênesis 19, os anjos aparecem como executores do juizo de Deus, e eles trouxeram fogo e enxofre sobre Sodoma e Gomorra.

No Salmo 78:49 lemos o seguinte: “Lançou sobre eles o ardor da sua ira, furor, indignação, e angústia, mandando maus anjos contra eles.” Creio que a expressão “maus anjos” aqui não se refere a demônios, mas a anjos de julgamento, anjos que trazem juízo. Deus enviou Seus anjos de julgamento para trazer ira, furor e indignação.

O Novo Testamento nos ensina que existem anjos de juízo.  Em Mateus 13:41 e 42, lemos: “Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniquidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes.”  Assim, no Juízo Final, os anjos serão os carrascos.

Então, no Salmo 104:4, vemos que os anjos são ventos, isto é, eles são poderosos, rápidos, invisíveis.  Eles também são agentes de julgamento, mas,  significativamente, são seres criados por Jesus Cristo e  que pertencem a Ele. Os anjos são servos criados.  Eles não agem de acordo com a sua própria direção.  Eles operam na direção de Deus e de Cristo.

Mas e quanto a Cristo?  Qual é a diferença entre a natureza dos anjos e a natureza de Cristo?

E aqui, você vai ouvir uma das maiores declarações de toda a palavra de Deus.  Versículo 8: “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino.

Observe que aos anjos, Deus disse: “Vocês são apenas ministros, servos, seres criados.”  Mas, ao Filho, Ele diz: “Teu trono,  ó Deus, é para todo o sempre.” Portanto, o Filho é superior aos anjos porque Ele é o Deus eterno.

As pessoas que estão sempre por aí dizendo: “Jesus era apenas um homem” ou “Jesus era apenas um dos muitos anjos” ou “Jesus foi um dos muitos profetas de Deus” ou “Jesus era como muitos outros pequenos deuses, sub-deuses, os deuses inferiores”, estão mentindo e trazendo sobre si o anátema, a maldição de Deus.

Jesus é Deus.  Isso é o que Deus está dizendo.  O Pai diz ao Filho: “O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre”.  Isso é o Pai reconhecendo o Filho como Deus.  Acredito que esse versículo nos forneça a prova mais poderosa, clara, enfática e irrefutável da divindade de Cristo na Bíblia.

a) Em João 5:18, lemos: “Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.Jesus o tempo todo reivindicou a igualdade com Deus.

b) Em João 10:30, temos outro exemplo: “Eu e o Pai somos um.” E no verso 33, temos a reação dos judeus: “Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia e porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.Eles entenderam bem que quando Jesus afirmou ser um com o Pai, estava afirmando ser Deus.

c) Outro exemplo está em Romanos 9:5, tratando sobre Israel e todas as suas bênçãos: “Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém.” Outra afirmação de que Jesus Cristo é Deus.

d) Em 1 Timóteo 3:16, lemos: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória.” Jesus é Deus.

e) Em Tito 2:13, outro exemplo: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo.” Não há dúvida de que a Bíblia afirma que Jesus é Deus.

f) Em 1 João 5:20, lemos: “E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para que conheçamos ao Verdadeiro; e no que é Verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.” De forma muito clara, o texto afirma a divindade de Cristo.

g) No versículo 8, de Hebreus 1, lemos: “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino.” Ele tem um trono eterno  e um cetro, que é símbolo de governo. O trono é eterno. Deus é eterno.  Você sabia que Jesus Cristo governa a eternidade?  Ele é o Deus do reino eterno.

h) Hebreus 1:8, portanto, traz uma evidência poderosa da boca de Deus acerca da divindade de Jesus.  Ele é o Rei eterno, com um reino eterno e um cetro de justiça.  Ele governa corretamente, com justiça, com retidão.

Então, no versículo 9, o escritor de Hebreus volta para a Filiação encarnada e vê Jesus encarnado: “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros.” Aqui temos o outro lado da encarnação: não somente Jesus é Deus, mas como homem, é o Filho de Deus.

Este é um versículo interessante, porque nos diz algo sobre Jesus em Sua encarnação:  “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade…”.  Essas palavras revelam não apenas as ações de Jesus, mas Suas motivações.  Ele não apenas fez justiça, mas amou a justiça.  Quantas vezes em nossas vidas cristãs obedecemos sem alegria, e meio que em uma condescendência involuntária?  Jesus amava a justiça.  Ele a amou.

i) Em Tiago 1:17, lemos: “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Isso é justiça.  Nunca há qualquer variação em Deus. Sempre é justo.

j) Em 1 João 1:5, outro exemplo: “E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: Que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas.” Deus nunca varia.  Ele é luz total.  Ele é a justiça perfeita total.

Sendo Jesus Deus, Ele ama a justiça e odeia a iniquidade.  A fonte de tudo que Jesus fez foi Seu amor pela justiça.  Como o salmista, no Salmo 119:97, que disse: “Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia.

Naturalmente, por amar a justiça, Jesus odeia a iniquidade.  A palavra traduzida como iniquidade no texto acima é “anomia”, que significa ilegalidade.  Por Ele amar os padrões corretos de Deus, Ele odeia os padrões errados.  É inevitável.  Um não pode existir sem o outro.

Você não pode dizer: “eu amo a justiça, mas também gosto do pecado”. Quando há amor verdadeiro por Deus, também há amor verdadeiro pela justiça e ódio total pelo pecado.  Jesus odiava o pecado. Você vê isso em Sua tentação, na purificação do templo, em Sua morte na cruz.

E vou lhes dizer algo importante: quanto mais nós nos conformarmos com Jesus Cristo, mais amaremos a justiça e odiaremos o pecado.  Você pode muito bem avaliar o quão perto você está de ser conformado a Cristo através de sua atitude em relação à justiça e ao pecado. A maioria dos cristãos, infelizmente, concordaria que ama a justiça, mas também teria que concordar que ama o pecado, até certo ponto.

E então, Hebreus traz uma declaração direta acerca da  superioridade de Cristo em relação aos anjos no versículo 9: “Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros.

Alguns comentaristas entendem que a palavra “companheiros” no texto acima tem a ver com homens. Mas essa não é a interpretação correta da passagem.  Na verdade, “companheiros” nesse versículo significa simplesmente associados.  A palavra grega implica uma associação, nada mais.

O ponto que está sendo feito aqui é que Jesus Cristo é maior que os anjos, e os anjos eram apenas mensageiros de Deus.  Cristo é um mensageiro de Deus, porém maior do que eles. E assim, “companheiros”, eu creio, tem referência a anjos, e no Antigo Testamento Cristo foi até chamado de mensageiro do Senhor ou “Anjo do Senhor”.

Jesus é exaltado acima dos demais, do que Seus “companheiros”.  Essa é uma afirmação clara de que Jesus é melhor que os anjos;  não poderia ser mais claro.  O texto também diz que Deus ungiu Jesus. No Antigo Testamento, Deus havia planejado que apenas o rei fosse ungido.  E assim, sendo ungido, Jesus Cristo está no topo.  Ele é maior que Seus companheiros, superior aos anjos.

Ele é o ungido.  Em Atos 10:38, no sermão de Pedro na casa de Cornélio, lemos: “Como Deus ungiu Jesus de Nazaré”.  Deus O havia ungido e ordenado.  O Antigo Testamento trata sobre O ungido de Deus no Salmo 2:2 e em outras passagens.  Davi é o tipo do ungido do Senhor, mesmo em Sua própria unção.

A palavra usada no Antigo Testamento para o redentor vindouro era Messias.  Você sabe o que isso significa em hebraico?  O ungido.  Você sabe o que a palavra Cristo significa no Novo Testamento?  O ungido.

Jesus é o ungido de Deus.  E observe que Ele foi ungido com o óleo da alegria.  Você diz: “Quando isso aconteceu?”  Bem, pessoalmente, acredito que o que Hebreus 1:9  está se referindo aconteceu quando Jesus recebeu Sua coroação, quando Ele foi para o céu após Sua ressurreição. 

Foi nessa época que o Pai O exaltou, e lhe deu o nome acima de todo nome. Ele assumiu Seu reinado em Sua ascensão, e ainda não reuniu todo o Seu reino, mas em breve, Ele o fará.

Você poderia passar dias e meses estudando os versículos 7 a 9 de Hebreus 1, pois são riquíssimos.  Mas apenas olhando, por exemplo, nos versículos 8 e 9, você sabe o que aprendemos?  Tais versículos estabelecem:

  • A divindade de Cristo;
  • Sua posição exaltada;
  • Sua realeza;
  • A excelência de Seu governo;
  • A perfeição de Seu caráter encarnado;
  • Sua submissão voluntária a Deus na Filiação;
  • Sua coroação;
  • Sua preeminência.

4) JESUS É SUPERIOR AOS ANJOS POR CAUSA DE SUA ETERNIDADE

E isso é sugerido no versículo 8: “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino.”  E aqui, o Espírito Santo está citando o Salmo 102, versículos 25 a 27, para mostrar que Cristo é melhor, porque Ele é o eterno Criador, e existirá eternamente.

O versículo 10 é tremendo: “E: Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos.”  Isso é Deus falando com Jesus. Lembra o que eu te disse?  Se Jesus estava no princípio para criar todas as coisas, Ele deve ter sido antes do princípio, o que O torna sem princípio.

João 1:1 diz: “No princípio era o Verbo”.  Ele já estava lá. No versículo 10, de Hebreus 1, lemos que Cristo fundou a Terra, e os céus são obra de Suas mãos. Ora, se Ele criou tudo isso, então Ele deve tê-lo povoado também.  Então, se Ele criou todo o Universo, Ele deve tê-lo povoado com anjos;  assim, Ele foi o criador dos anjos, como é indicado no versículo 7.

A seguir, no versículo 11, lemos: “Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão.” Ou seja, o que Jesus criou – os céus e a Terra [expressão hebraica para Universo] – perecerá.  Pedro nos diz como isso acontecerá:  “Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios.” (2 Pedro 3:7).

Eles vão perecer, e o Senhor vai criar um novo céu e uma nova Terra.  “Eles perecerão;  mas Tu permanecerás” fala sobre a eternidade de Jesus Cristo. Verso 12: “E como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão.Jesus não é criatura.  Ele é eterno.  Ele é imutável, o que significa que Ele nunca muda.  Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente.

E assim, o escritor de Hebreus contrasta a passagem do temporal com o eterno. Ele está dizendo que tudo muda, mesmo as coisas que parecem tão permanentes.  Lembre-se do argumento das pessoas em 2 Pedro, quando ele as adverte sobre o fato de que Deus as julgará, e elas dizem: “Oh, tudo continua como era desde o princípio.”

Eles perecerão, mas Jesus permanecerá.  Eles envelhecerão como uma roupa – as roupas envelhecem, você as joga fora.  E olhe para isto: “E como um manto os enrolarás”. Você sabia que Deus vai enrolar os céus?  Eu posso te mostrar como será,  em Apocalipse 6:14, que diz: “E o céu retirou-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares.

Isso acontecerá durante o tempo da Tribulação. É como se a Terra e os céus estivessem esticados, e simplesmente rolassem para cima, como um pergaminho.  Isso é o que vai acontecer com todo o Universo.  As estrelas vão cair, bater na Terra.  Cada ilha e cada montanha sairá de seu lugar.  O mundo inteiro vai desmoronar.

A criação veio, e um dia a criação irá desaparecer.  Em Apocalipse 8:7, durante a Tribulação: “E o primeiro anjo tocou a sua trombeta, e houve saraiva e fogo misturado com sangue, e foram lançados na terra; e queimou-se a terça parte das árvores, e toda a erva verde foi queimada.

O texto continua:

Apocalipse 8
8 E o segundo anjo tocou a trombeta; e foi lançada no mar uma coisa como um grande monte ardendo em fogo, e tornou-se em sangue a terça parte do mar.
9 E morreu a terça parte das criaturas que tinham vida no mar; e perdeu-se a terça parte das naus.
10 E o terceiro anjo tocou a sua trombeta, e caiu do céu uma grande estrela ardendo como uma tocha, e caiu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas.
11 E o nome da estrela era Absinto, e a terça parte das águas tornou-se em absinto, e muitos homens morreram das águas, porque se tornaram amargas.
12 E o quarto anjo tocou a sua trombeta, e foi ferida a terça parte do sol, e a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas; para que a terça parte deles se escurecesse, e a terça parte do dia não brilhasse, e semelhantemente a noite.

Você consegue imaginar isso?  Sem a terça parte do Sol, nada pode crescer na Terra, por causa do desequilíbrio de luz e escuridão, calor e frio. Sem a terça parte da Lua, as marés enlouqueceriam.  Sem a terceira parte das estrelas, a nossa localização geográfica ficaria prejudicada.

Porém, o próximo versículo (14) diz que se você acha isso ruim, espere até ouvir as próximas trombetas.  Todo o Universo como o conhecemos está caminhando para um colapso.  E assim, quando a Bíblia diz que eles perecerão (Hb 1:11), significa exatamente isso.

Tudo vai perecer, mas Jesus não.  Ele criará um novo céu e uma nova Terra.  E assim, os homens vêm e vão.  Mundos vêm e vão.  As estrelas vêm e vão.  Os anjos estão sujeitos à decadência espiritual, como indica a queda dos anjos.  Jesus Cristo nunca muda, nunca está sujeito a mudanças, nunca está sujeito a alterações.  Ele é eternamente o mesmo.

5) JESUS É SUPERIOR AOS ANJOS POR CAUSA DE SEU DESTINO

Os versículos 13 e 14 nos dizem que o destino de Jesus é superior ao dos anjos. Nestes versículos, o escritor aos Hebreus traz a sétima citação do Antigo Testamento, e é do Salmo 110:1, culminando o tema da total superioridade de Cristo sobre os anjos.

Primeiro, o texto apresenta o destino de Cristo, e depois o dos anjos.  Versículo 13: “E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-te à minha destra, até que ponha a teus inimigos por escabelo de teus pés?” A qual dos anjos Deus já disse isso? Bem, a resposta é: a nenhum anjo.

Mas você sabe qual é o destino de Jesus Cristo? O destino de Jesus Cristo é que, em última análise, tudo no Universo estará sujeito a Ele. “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” (Fp 2:10-11).

Jesus Cristo, no plano de Deus, está destinado a ser o governante do Universo, e de tudo o que o habita.  Em 1 Coríntios 15:23, texto que trata sobre a ressurreição, lemos: “Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda.” Os versos seguintes, 24 a 26, informam o que acontecerá no final:

1 Coríntios 15
24 Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força.
25 Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés.
26 Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.

Em relação à Filiação, Jesus está subordinado a Deus, apenas na designação de Filiação;  e sob Seus pés estarão colocados todos os reinos, autoridades e poderes do mundo.  Você diz: “Quando isso acontecerá?” Em Sua Segunda Vinda.  Isso acontecerá quando Ele vier em glória.

Apocalipse 19:15 descreve isso: “E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso.” O versículo 16 continua, dizendo: “E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores.”  O destino de Jesus Cristo é um reino eterno.

Observe, no versículo 13, o verbo assentar: “E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-te à minha destra, até que ponha a teus inimigos por escabelo de teus pés?”  Em nenhum momento nas Escrituras você encontra um anjo fazendo isso.  Por quê?  O trabalho deles nunca termina.

Felizmente, nós cristãos poderemos fazer isso. Hebreus 4:9 diz: “Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus.”  Em Apocalipse 14:13, lemos: “Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem.” Mas nenhum anjo jamais se sentou.  Jesus se senta porque acabou Sua obra.  Ele reina.

O destino dos anjos está no versículo 14, de Hebreus 1: “Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?”  Jesus reina, esse é o Seu destino; os anjos servem – e continuarão servindo para sempre – àqueles que são os herdeiros da salvação: nós.

Isso não é ótimo?  Os anjos vão nos servir para sempre.  Você diz: “O que eles vão fazer por nós?”  Bem, os anjos já fazem muitas coisas. Por exemplo:  eles nos protegem do perigo temporal. Você se lembra de 2 Reis 6:8-22, em que Eliseu e seu servo estavam sendo ameaçados pelo rei da Síria?  Eles não tinham como se defender.  Mas, ouça isto, no verso 15: “E o servo do homem de Deus se levantou muito cedo e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu senhor! Que faremos?

Havia sírios por toda a parte. Eliseu responde ao seu servo, verso 16:  “Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles.

E ainda fez o seguinte, verso 17: “E orou Eliseu, e disse: SENHOR, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o SENHOR abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu.” Você sabe quem eles eram?  Anjos.  Os anjos protegem o crente, o santo, do perigo temporal.

Lembra dos anjos que agarraram Ló e sua família e os arrancaram de Sodoma? E dos anjos que desceram na cova dos leões com Daniel, e fecharam a boca dos leões?  Que verdade maravilhosa, saber que os anjos ministram a nós!  Seu destino é ministrar a nós por toda a eternidade.  O destino de Jesus é reinar.  Ele é, portanto, superior aos anjos.

Então, em Hebreus descobrimos que o Filho de Deus é superior aos anjos em todos os sentidos.  E cada uma de suas superioridades é confirmada por uma passagem do Antigo Testamento.  Jesus é o Messias.  Ele é Deus em carne.  Ele é o mediador da Nova Aliança, melhor que a Antiga.

E pense por um minuto:  neste pequeno e breve capítulo 1, de 14 versículos, vimos a divindade de Jesus Cristo estabelecida:

  • Através de Seus títulos divinos: Ele é chamado Filho, Senhor e Deus.
  • Através de Suas obras divinas: Ele está criando, sustentando, governando, redimindo e purgando o pecado.
  • Através de Seus atributos divinos: Ele é onisciente, onipotente, imutável e eterno.
  • Através da adoração prestada a Ele: Jesus é Aquele a ser adorado pelos anjos e por todas as criaturas do Universo.

E assim é proclamada a superioridade de Jesus Cristo. Você diz: “E o que isso significa?”  Bem, isso é sem dúvida o que o escritor pensou que você diria, e então Ele escreveu logo no início do do capítulo 2:

Hebreus 2
2 Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição,
3 Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram;
4 Testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade?

Ouça, se Deus esperava uma atitude de obediência com relação à Lei, que veio por meio dos anjos, o que você acha que Ele espera de você em relação à salvação que veio por meio de Jesus Cristo?

Vamos orar.

Pai, nós Te agradecemos por Jesus Cristo, por Suas superioridades, sobre as quais aprendemos nesta noite.  Obrigado por não estarmos adorando um líder religioso meramente humano.  Não estamos adorando um professor de ética.  Estamos adorando a Cristo, que é Deus, o Criador.  E pensar que Ele vive dentro de nós, e a pessoa do Espírito nos capacita e nos ama com um amor pessoal, se preocupa conosco, envia Seus anjos para ministrar a nós, é algo maravilhoso.

Mas Deus, tendo sido apresentados a todas estas verdades sobre Jesus Cristo, nossos corações estremecem ao saber que haverá algumas pessoas aqui esta noite negligenciando a salvação que ouviram.  Quem poderá deixar de prestar atenção ao que foi dito? Quem poderá dar as costas para Jesus Cristo e sair daqui para uma noite de pecado?  Deus, isso é quase inacreditável!  Senhor, se Jesus Cristo é Deus, como a Bíblia diz, então Ele tem direito a entrar em nossas vidas.  Devemos recebê-Lo, crer Nele como Senhor e Salvador.

E oramos para que isso ocorra, Pai, nesta noite, para que não haja ninguém neste lugar que vá embora sem ter um relacionamento pessoal com Jesus Cristo.  Alguns vieram duvidando, alguns vieram questionando, outros vieram se perguntando se é tudo assim.  Pai, que eles estejam dispostos a colocar Jesus à prova, como Jesus mesmo disse: “Se você realmente deseja conhecer a Minha vontade, você conhecerá a verdade”.  Então, Pai, oramos para que o coração honesto e buscador seja encontrado por Ti e esteja aberto para receber a Cristo esta noite.

Que nós, como cristãos, O vejamos ainda mais belo, porque vimos o que o escritor aos Hebreus nos ensinou neste capítulo maravilhoso.  Que possamos estar melhor equipados para testemunhar de Cristo, com mais poder e ousadia, porque conhecemos os fatos.  Abençoe-nos, oramos em nome de Jesus.  Amém.


Leia também


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre a carta aos Hebreus.

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série.


Este texto é uma síntese do sermão “Jesus Christ, Superior to Angels, Part 2”, de John MacArthur em 13/2/1972.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

http://www.gty.org/library/sermons-library/1603

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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