Poder e Piedade de Jesus (2)


Este é o segundo sermão sobre Marcos 5:21-43. No primeiro sermão, Jesus é abordado por um oficial da sinagoga, chamado Jairo, que clamou pela vida de sua filha e também tratou da cura uma mulher que sofria há doze anos de forte hemorragia. Neste segundo sermão Jesus vai a casa de Jairo  e ressuscita sua filha. Jesus deixa evidente tremendos aspectos de Sua vida e ministério.


INTRODUÇÃO

Vamos voltar para Marcos 5:21 a 43, que começamos a ver no sermão anterior até o versículo 34. Nessa porção, Marcos registra dois incidentes com Jesus, um dentro do outro. Antes de prosseguirmos, vamos fazer uma pequena revisão dos versículos de 21 a 34. O que veremos nos versículos de 35 a 43 é Jesus ressuscitando a filha de Jairo, um oficial da sinagoga.

Os funerais são as ocasiões e experiências humanas mais desesperadoras. A Bíblia diz, com precisão, que toda a raça humana está escravizada ao medo da morte (Hebreus 2:15), que é o salário do pecado (Romanos 6:23). A morte, com sua realidade ameaçadora, é o medo supremo. É por isso que Jó 18:14 chama a morte de terror. O Salmo 55: 4-5 diz:

Estremece-me no peito o coração, terrores de morte me salteiam; temor e tremor me sobrevêm, e o horror se apodera de mim.

Toda a raça humana entende o medo e o terror da morte, e isso então levanta a questão de todas as questões: “Há alguém venceu a morte e pode me ajudar a triunfar sobre ela?”.

Muitos anos atrás, havia um cientista canadense chamado G. B. Hardy que, em sua busca pela religião verdadeira, disse: “Eu só tenho duas perguntas: A morte foi conquistada? E foi conquistada para mim?”. E sua busca acabou resultando em Jesus Cristo, que ressuscitou dos mortos e, por Sua ressurreição, fornece ressurreição para todos os que colocam sua confiança Nele.

Ele disse que essa é a única pergunta que alguém deve fazer a respeito da escolha de uma religião: “Alguém venceu a morte? E esse triunfo pode ser aplicado a mim?”. Ele verificou e disse: “Todos os líderes religiosos do mundo que já morreram ocupam tumbas. Apenas o túmulo de Jesus está vazio”.

Os quatro Evangelhos trazem registros de que Jesus afirmou ter poder sobre a morte. Por exemplo, Jesus diz:

Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto? (João 11:25-26)

Em João 2:19 Jesus disse: “Destruí este santuário, e em três dias eu o ressuscitarei”. Os judeus não entenderam, pensando que Ele se referia ao templo de Jerusalém, que levou 46 anos para ser construído. Mas, Jesus se referia a Seu corpo e à Sua vitória sobre a morte. O verso 22 diz que quando Jesus ressuscitou dentre os mortos, os discípulos lembraram-se disso e creram Nele e nas Escrituras.

Os quatro Evangelhos terminam com o relato histórico da ressurreição de Jesus Cristo, relato esse inequivocamente verdadeiro, porque havia mais de quinhentas testemunhas oculares. Todas as evidências estão presentes. Ele conquistou a morte para Si mesmo.

Mas, não apenas para Si mesmo. Quando os discípulos de João Batista queriam saber se Jesus era o Messias, eles Lhe perguntaram: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” (Mateus 11:3). Ele respondeu: “Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho”. (Mateus 11:4,5)

Uma coisa é alguém afirmar que pode ressuscitar pessoas, outra é ressuscitá-las. Uma coisa é alguém afirmar que conquistará a morte, outra é conquistar a morte. E Jesus mostrou Seu poder sobre a morte nas ressurreições que operou e em Sua própria ressurreição. Hebreus 2:14-15 diz que Jesus destruiu aquele tinha o poder da morte, isto é o diabo, e nos libertou do pavor escravizante da morte.

BREVE RESUMO DO PRIMEIRO SERMÃO

  • Em Marcos 5, temos uma visão do poder de Jesus.
  • Já tínhamos visto Seu poder sobre o mar e o vento em Marcos 4.
  • O capítulo 5 começa com uma legião de demônios se curvando diante Dele e a libertação de um homem que estava escravizado por essa legião.
  • Seguimos vendo no sermão anterior a cura milagrosa de uma mulher que sofria uma terrível hemorragia há 12 anos. 

Não há ninguém, em toda a história, que fez tais coisas. Jesus é único. Vamos rever o cenário de Marcos 5:21-43.

Marcos 5
21 Tendo Jesus voltado no barco, para o outro lado, afluiu para ele grande multidão; e ele estava junto do mar.
22 Eis que se chegou a ele um dos principais da sinagoga, chamado Jairo, e, vendo-o, prostrou-se a seus pés
23 e insistentemente lhe suplicou: Minha filhinha está à morte; vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá.
24 Jesus foi com ele. Grande multidão o seguia, comprimindo-o.

Vimos que Jairo era um pai desesperado, sua filha de 12 anos estava sucumbindo diante da morte. Ele era um oficial da sinagoga, então ele fazia parte do sistema religioso. Ele não era um rabino, sacerdote, fariseu ou um escriba, mas um leigo que fazia parte do sistema clerical sob a autoridade dos escribas e fariseus, que tinham ódio mortal de Jesus.

Mas Jairo se tornou infiel ao seu sistema religioso. Ele passou a crer em Jesus e em Seu poder. Ele estava tão confiante, que não mediu as consequências do ato de crer e buscar Jesus. Ele se prostrou em adoração diante de Jesus e fez uma confissão pública de reconhecimento do poder de Jesus: “Vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá”.

Ele certamente estaria ciente dos milagres que Jesus operava. Jesus havia feito muitos milagres em Cafarnaum, e Sua fama andou velozmente. Ele pode ter estado na mesma sinagoga onde Jesus maravilhou a todos com a autoridade de Seus ensinos e onde um demônio, ao se curvar diante da autoridade de Jesus, bradou dizendo que Jesus era o Santo de Deus (Marcos 1:21-24). Ele estava totalmente confiante no poder de Jesus.

Vimos que Jesus era acessível às pessoas. Ele não vivia isolado, inacessível e protegido do contato com as pessoas. Todo o Seu ministério foi gasto em público, exceto quando ocasionalmente se retirava para orar, instruir os discípulos ou descansar. E aqui estava Jesus atendendo a um indivíduo desesperado pela vida de sua filha. Marcos 5:24 diz que Jesus foi com ele, mesmo com uma multidão o pressionando.

E da mesma forma que Jesus era acessível, Ele se deixava ser interrompido. Marcos 5:25 diz que a caminho da casa de Jairo, Jesus foi abordado por uma mulher que sofria uma terrível hemorragia. E Jesus a curou na hora. E no final, disse à mulher: “Filha, a tua fé te salvou, vai em paz” (Marcos 5:34). O verbo traduzido como “salvou”, é usado quando a Escritura se refere à salvação eterna. Ele ali operou dois milagres: a cura do corpo e a cura da alma daquela mulher.

A RESSURREIÇÃO DA FILHA DE JAIRO

Marcos 5
34 E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre do teu mal.
35 Falava ele ainda, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, a quem disseram: Tua filha já morreu; por que ainda incomodas o Mestre?

Jesus ainda estava conversando com a mulher quando chegam mensageiros disseram a Jairo: “Sua filha morreu, não incomode mais o Mestre”. Em outras palavras: “O Mestre demorou de vir, e sua filha morreu, não há nada mais que possa ser feito”. São palavras semelhantes a que Marta disse a Jesus antes da ressurreição de Lázaro: “Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão” (João 11:21).

Essas pessoas viram o poder milagroso de Jesus, mas acharam difícil acreditar que Ele poderia ressuscitar os mortos. A confiança que Jairo tinha em Jesus não era a mesma dos seus servos. Note que eles chamam Jesus de Mestre, pois Sua mensagem era mais importante do que Seus milagres. Seus milagres mostraram que Ele era divino, mas Sua mensagem impactou a nação.

Jesus está no meio de uma multidão barulhenta, exigente, que O pressionava, e era até mesmo agressiva. E no meio dela surgem os mensageiros para trazer a notícia da morte da filha de Jairo, dizendo, em outras palavras: “Tudo está perdido, volte para casa, não incomode mais o Mestre”.

Marcos 5
36 Mas Jesus, sem levar em conta tais palavras, disse ao chefe da sinagoga: Não temas, crê somente.

Em todo este cenário de caos, Jesus estava tranquilo e sereno, movendo-se segundo o propósito soberano de Deus. Ele desconsiderou as palavras dos mensageiros e disse a Jairo, em outras palavras: “Pare de temer, creia apenas, substitua o teu medo pela fé”. No Salmo 22, Há uma maravilhosa demonstração disso:

Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego. Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel. Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste. A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos. (Salmos 22: 1-5).

Davi está louvando para que sua fé triunfe sobre seu medo. Essa é a atitude que Jesus queria desse homem. Em Lucas 8:50, Jesus disse: “Não temas, crê somente, e ela será salva”. E aí Jesus lhe disse o que ele tanto queria ouvir. A perspectiva de nosso Senhor é completamente diferente de todos ao Seu redor, porque Ele se move no conhecimento perfeito da vontade de Seu Pai.

Marcos 5
37 Contudo, Jesus não permitiu que alguém o acompanhasse, senão Pedro e os irmãos Tiago e João.

Essa é a primeira vez no ministério de nosso Senhor que Ele separa Pedro, Tiago e João de todos. Eles foram três dos primeiros quatro apóstolos que Jesus chamou. Tiago e João eram irmãos, Pedro e André eram irmãos. Pedro se tornou o líder de todos os apóstolos. Foi através destes três que se disseminaram as experiências e as instruções para os demais.

Marcos 5
38 Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus o alvoroço, os que choravam e os que pranteavam muito.

Demorou um pouco até que Jesus chegasse à casa de Jairo. Eu imagino que a ocasião com a mulher foi mais longa do que podemos perceber na leitura do texto. As histórias foram resumidas nos Evangelhos, certamente foram muito mais extensas do que possamos imaginar ao ler o texto.

Quando Jesus chegou à casa de Jairo, já havia um funeral em andamento. As pessoas estavam chorando e lamentando ruidosamente. Mateus 9:23 diz que no local havia “tocadores de flauta e o povo em alvoroço”. Mas, Jesus permanecia tranquilo, pois sempre Se movia no tempo e no propósito do Pai.

Os funerais judeus tinham três elementos:

  • A pessoa ia e expressava sua dor em voz alta; depois disso, chorava em voz alta; e também era necessário que a pessoa rasgasse as próprias roupas. A tradição judaica tinha trinta e nove regulamentos sobre como rasgar suas roupas. E a vestimenta rasgada deveria ser usada por um período de trinta dias, para que a pessoa continuasse a mostrar sua atitude de luto. Poderia costurá-la, mas tinha que ficar evidente que ela havia sido rasgada. Então, ali havia pessoas gritando, chorando em voz muito alta, lamentando e rasgando suas roupas.
  • O segundo elemento de um funeral era trazer os lamentadores profissionais que haviam desenvolvido a arte de chorar de forma muito alta, com uivos e gritos. Pode-se dizer, para fazer todo mundo chorar. A agonia era ampliada através deles. 
  • E então, o terceiro elemento de um funeral judeu era que eles tinham que tocar flautas. Esse era o instrumento mais comum. Muitas pessoas sabiam tocar flautas e muitos iam aos funerais para tocar flautas. O mais pobre dos israelitas precisava contratar pelo menos duas flautas e uma mulher que chorasse. 

Era algo muito diferente dos funerais que estamos habituados. Isso fazia parte do Mundo Antigo. Sêneca, o estadista romano, relatou que houve tantos gritos e lamentações com a morte do imperador Cláudio, que ele sentiu que Cláudio ouviu do túmulo. E era isso que estava acontecendo na cena da morte da filha de Jairo, um verdadeiro caos.

Marcos 5
39 Ao entrar, lhes disse: Por que estais em alvoroço e chorais? A criança não está morta, mas dorme.

Mateus registra uma palavra mais dura de Jesus: “Retirai-vos, porque não está morta a menina, mas dorme”. Em Atos 9:40, quando Tabita foi ressuscitada na casa de Dorcas, Pedro disse o mesmo aos pranteadores, “pedindo a todos que saíssem do quarto” e então pelo poder de Cristo a ressuscitou dentre os mortos.

Em outras palavras, Jesus disse: “Parem com isso, este não é um lugar para gritar, uivar e lamentar. Afastem-se, o funeral acabou”. É Jesus em Sua autoridade magnífica e majestosa. Claro que essas palavras chocariam a multidão. Eles faziam o que sua tradição mandava. E então, o Senhor explica o motivo de suas palavras: “A criança não morreu, mas está dormindo”.

Naquele momento, Jesus redefiniu a morte como uma condição temporária. É por isso que Ele usa a metáfora do sono. O sono é uma desconexão temporária, somos insensíveis ao ambiente ao nosso redor quando estamos dormindo.

Eles nunca tinham visto alguém sendo ressuscitado. Para eles, a morte não era algo temporário. A definição de Jesus sobre a morte ser como um sono foi repetida pelos apóstolos. Por exemplo, em I Tessalonicenses 4:13-17, Paulo diz:

Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança […]Os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem. Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens.

Aqueles que conhecem ao Senhor e morrem, o corpo dorme, mas a alma imediatamente vai para a presença do Senhor. Filipenses 1:21-23 diz:

Porquanto, para mim o viver é cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.

Essa é a alma. Mas o corpo dorme até a gloriosa ressurreição no retorno de Cristo, quando ganharemos um novo corpo glorificado, incorruptível, semelhante ao de Cristo, para estarmos na presenta de Deus por toda a eternidade. I Coríntios 15:51-53 diz:

Nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, em um abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade.

Então, podemos nos referir à morte de um cristão como uma liberação da alma para a presença do Senhor, mas o corpo dorme até o dia da ressurreição. E assim, a morte, em certo sentido para um cristão, é descrita como sono, porque é um estado temporário.

Marcos 5
39 Ao entrar, Jesus lhes disse: Por que estais em alvoroço e chorais? A criança não está morta, mas dorme.
40 E riam-se dele. Tendo Jesus, porém, mandado sair a todos, tomou o pai e a mãe da criança e os que vieram com ele e entrou onde ela estava.

A reação daquelas pessoas enlutadas dá uma impressão de que não tinham nenhum respeito por Jesus. Elas riram de Jesus porque Ele havia dito que a menina apenas dormia. As risadas foram de escárnio e desprezo. Jesus não respondeu ao escárnio deles, apenas mandou que todos saíssem dali e deixou no ambiente apenas os pais da menina e Pedro, Tiago e João.

O mundo ainda zomba da realidade do poder de Cristo sobre a morte, mas isso não O limita de forma alguma. Jesus permaneceu ali acessível, disponível, imperturbável e perfeitamente calmo.

E por último, Jesus demonstrou Sua ternura, amor e bondade. Ele exibiu Seu poder e ternura. Ele afastou a multidão e levou consigo os pais da menina. Ele os trouxe para Si naquele momento, confortando seus corações. E ali também estavam Pedro, Tiago e João.

Marcos 5
41 [Jesus] Tomando-a pela mão, disse: Talitá cumi!, que quer dizer: Menina, eu te mando, levanta-te!
42 Imediatamente, a menina se levantou e pôs-se a andar; pois tinha doze anos. Então, ficaram todos sobremaneira admirados.

Marcos é o único evangelista que registra as palavras originais de Jesus em aramaico: “Talitá cumi”. “Talitá” é uma forma feminina de “cordeiro” ou “jovem”. “Cumi” é um imperativo, com o sentido “levante-se”.

Como em outras circunstâncias semelhantes, Jesus dirigiu-se à pessoa que estava sendo ressuscitada, não apenas ao corpo sem vida. Assim também foi quando Jesus ressuscitou o filho único de uma viúva (Lucas 7:12-15) e na ressureição de Lázaro (João 11: 43-44).

Assim como nas outras ressureições, Jesus falou diretamente com a pessoa morta, dando ordens diretamente a ela. E ela imediatamente reviveu. Ela estava viva, respirando normalmente e sem sequelas. Ela levantou e andou como se nada tivesse acontecido. O sentido original do texto diz que ela se levantou e caminhou por toda a parte. Não houve necessidade de reabilitação.

É assim que aconteceu em cada milagre que Jesus fez. Não há nenhum registro na Bíblia onde precisou-se de reabilitação, cada milagre foi um milagre completo. Ela reviveu saudável e com todo vigor de sua idade.

Marcos 5
43 Mas Jesus ordenou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e mandou que dessem de comer à menina.

O Senhor poderia tê-la curado de longe. Ele não precisava ir para a casa de Jairo. Mas Jesus foi lá por Sua bondade, simpatia, compaixão e amor. Ele ainda pediu para que dessem algo para a menina comer. Houve ali uma grande festa, alegria e emoção.

E ninguém sequer pensou em dar a ela algo para comer. Com a doença terminal que tinha, provavelmente ela não comia há muito tempo. E então, vem a terna sensibilidade de Jesus, atendendo à sua necessidade mais simples de comida, de nutrição.

Marcos 5:42 diz que houve grande espanto por parte dos pais e de todos os outros que estavam na sala, incluindo Pedro, Tiago e João. O texto tem o sentido de “perplexidade”. Eles viram acontecer algo inexplicável, sobrenatural, uma demonstração do poder divino de nosso Senhor.

E, finalmente, em Marcos 5:43 Jesus pede para que aquilo não fosse contado para ninguém. Jesus pediu a mesma coisa em outras situações, a exemplo de Marcos 7:36, na cura de um surdo e gago; Marcos 9:9, na Sua transfiguração; Marcos 8:30, em relação a afirmação de Pedro de que Jesus era o Cristo etc.

Por que Ele sempre dizia isso? Houve uma conversa naquela casa com Jesus e aquela família, mas não temos o registro disso. Mas, Jairo teve sua fé confirmada. Penso que vamos encontrar Jairo no céu, muito provavelmente aquela garotinha também. A força da fé de Pedro, Tiago e João certamente aumentou muito.

E então, se isso fortaleceu a fé deles, por que não espalhar a notícia? Nosso Senhor dá esta declaração explícita: “Não fale a ninguém”. Mas Ele não diz o porquê. E nas outras vezes que Ele disse isso, nunca foi dito o motivo. Podemos pensar em alguns motivos:

  • Ele poderia ter dito isso para evitar um alvoroço na casa, para que a família tivesse tempo para alimentar a menina e se alegrar com ela.
  • Também Jesus poderia querer evitar a empolgação da multidão que queria ver uma demonstração de poder de Jesus para organizar um levante contra Roma, algo totalmente fora do propósito divino. Veja o que diz João 6:15, quando algo assim aconteceu: “Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte”.
  • É possível que Ele estivesse tentando manter baixa a chama das expectativas messiânicas erradas daquela multidão, e não as atiçar com o relato de uma ressurreição.
  • Ou talvez fosse porque Ele não queria aumentar o medo e o ódio dos escribas e fariseus, que eram Seus inimigos. Em outras situações Ele evitou isso, pois o tempo de todas as coisas eram pré-determinadas.
  • Mas eu penso que o principal motivo era que Ele queria ser conhecido como aquele que trazia o evangelho, e não como um fazedor de milagres.

Não era a hora de espalhar notícias sobre Jesus Cristo, era hora de ouvi-Lo. Até à cruz, o pleno entendimento de Sua missão não podia ser conhecido. As pessoas podiam ser salvas arrependendo-se e crendo Nele, como fazia qualquer um santo do Antigo Testamento, mas a mensagem a ser proclamada é uma mensagem que tem no âmago a cruz.

Ele faz milagres, muito além dos que foram registrados. Ele é o maior mestre de todos os tempos, Ele é o Santo e Filho de Deus, mas, para compreender plenamente Sua missão, você deve compreender Sua morte. Pois é nela que Ele é revelado como Redentor e Salvador, e substituto dos pecadores. Por isso, Marcos 15:39 diz:

E, quando o centurião, que estava bem em frente de Jesus, ouviu o seu brado e viu a maneira como morreu, exclamou: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus!

A história completa deve incluir a cruz. Depois da cruz, a ressurreição. Após a ressurreição, Jesus então diz o seguinte: “recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8).

Jesus não pode ser totalmente compreendido até que você O veja como o conquistador do pecado na cruz, como nosso substituto e nosso Redentor, e Sua morte na cruz então ratificada por Sua gloriosa ressurreição. Isso permite que Ele não apenas dê vida temporária a uma garota morta, mas também dê vida eterna a uma alma espiritualmente morta.

A cruz é tudo. E é por isso que em I Coríntios 2:2, Paulo diz: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado”. Pregamos o Cristo crucificado.

Jesus deu o perfeito exemplo de ministério. Ele é: acessível, disponível, interrompível, firme, imperturbável e amoroso. E o ato supremo de Seu amor foi o sacrifício de Si mesmo. E nós, deste lado da cruz, temos a mensagem completa. Não somos gratos por isso? Vamos orar.

Pai, agradecemos por Tua Palavra novamente, enquanto estudamos a vida de nosso Salvador. Como é emocionante passar um dia com Ele, assistir a um funeral com Ele, estar na ressurreição com Ele e compreender que a cruz, mesmo então, estava em Seu coração, poucos meses antes de se concretizar. Agradecemos por Ele ter dado Sua vida, por ser mais do que um fazedor de milagres, mais do que um mestre. Ele é o Redentor, o Salvador, Aquele que deu a vida em nosso lugar. Nós Te louvamos por isso.

Pedimos, Senhor, que por Tua graça, imprimas a verdade do evangelho de Cristo que se entregou pelos pecadores, ressuscitou, triunfou sobre a morte, para que também aqueles que crêem Nele possam viver para sempre. Transmita essa mensagem a cada coração. Abra o coração para a verdadeira compreensão do pecado, da necessidade de arrependimento e da fé em Cristo nosso Salvador, nosso Redentor. Essa é nossa oração em Teu nome. Amém.


Esta é um série de dois sermões:


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série


Este texto é uma síntese do sermão “The Power and Pity of Jesus, Part 2 ”, de John MacArthur em 7/2/2010

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-25/the-power-and-pity-of-jesus-part-2

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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