Felizes os que Choram…

Sermão do Monte – Marcas do Cristão

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados (Mateus 5:4)

No Salmo 55 Davi faz um clamor típico de homens com desânimo, angústias, frustações, mágoas e que experimentaram tragédias. Ele diz:

Estremece-me no peito o coração, terrores de morte me salteiam; temor e tremor me sobrevêm, e o horror se apodera de mim. Então, disse eu: quem me dera asas como de pomba! Voaria e acharia pouso. Eis que fugiria para longe e ficaria no deserto. Dar-me-ia pressa em abrigar-me do vendaval e da procela. (Salmos 55:4-8)

É um clamor da humanidade caída, um clamor por liberdade, um clamor para ter vida com asas, para voar longe e ser livre da dor, das mágoas e da angústia.

Todos nós já passamos por isso. E quanto mais profunda a angústia, mais profunda a dor, mais difícil de encontrar um lugar de conforto.

Mas nas bem-aventuranças Jesus fala algo que contraria esse pensamento: “Felizes os que choram”. Isso é contrário ao senso comum, é algo humanamente estranho e contraditório.

A palavra grega “makarios”, traduzida como “bem-aventurados” ou “felizes” refere-se a uma felicidade interior, um sentimento profundo e genuíno de bênção, uma felicidade que o mundo não pode oferecer. É uma felicidade que não pode ser produzida, tocada ou alterada pelo mundo e nem pelas circunstâncias.

O homem busca o prazer, diversão, emoção, dinheiro e realização, e o faz para fugir do luto, da angústia e da dor. Mas Jesus disse: “Felizes são os que choram”. Parece estranho, não? E Jesus disse mais:

Ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação. Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar. Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas (Lucas 6:24-26).

Isso é exatamente o oposto da filosofia do mundo. Jesus contradiz o senso comum, trazendo uma nova abordagem para a vida. Condena a alegria aparente do mundo e profere bênção, paz e conforto para aqueles que choram.

O que significa esse palavra “choram” usada no sermão da montanha?

Como a história do homem é uma história de lágrimas, há no grego diferentes verbos para falar de luto e que foram usados no Novo Testamento. E o que está em Mateus 5:4 é o mais severo de todos.

A Bíblia fala sobre todos os tipos diferentes de choro, vamos falar um pouco sobre os tipos de choros não pecaminosos. Mas não são esses choros que Jesus se referiu no Sermão do Monte. 

1) Lamento comum, normal e aceitável

Chorar e lamentar nesse sentido faz parte da vida humana. Na verdade, é um dom de Deus. A dor presa dentro da pessoa esmagaria as emoções se não pudesse ser solta em lágrimas. É como aliviar a pressão interior. É um processo de cura. É muito natural lamentar. O salmista disse:

Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus? As minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite, enquanto me dizem continuamente: O teu Deus, onde está? (Salmos 42:1-3)

O sofrimento por causa da ausência de Deus foi externado pelo salmista através das lágrimas que escorriam sobre sua face. Ele estava sofrendo por causa da solidão. As lágrimas são uma forma muito normal de lidar com esse sofrimento.

2) O choro por desânimo

Timóteo estava chorando por causa do grande desânimo e o sentimento de fracasso. E Paulo lhe diz:

“… me lembro de ti nas minhas orações, noite e dia. Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria (2 Timóteo 1: 3-4(.

3) O choro por frustração

Jeremias foi chamado por Deus para alerta Israel sobre um julgamento que viria sobre o povo. E isso pesou muito no coração do profeta. Ele disse:

Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então, choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo. (Jeremias 9:1)

Jeremias chorou porque ele viu o julgamento de Deus prestes a cair sobre o povo que ele amava. Ele estava terrivelmente frustrado. Ele desejou que sua cabeça inteira fosse como um rio para que pudesse sair de dentro dele em forma de lágrimas.

4) O choro pelo zelo

Diante dois presbíteros de Éfeso Paulo disse: “Vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (Atos 20:31).

O salmista chorou porque ele estava só, Timóteo chorou porque estava desanimado, Jeremias chorou de frustração e Paulo chorou de preocupação.

5) O salmista fala do choro que revela profundo amor pelos perdidos:

Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes. (Salmos 126:5,6)

6) O choro de devoção e amor

Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento. (Lucas 7:36-38)

Foram lágrimas de devoção, louvor e gratidão. Jesus chorou por Jerusalém porque ele amava o povo e teve compaixão (Mat. 23).

É como se lágrimas fossem uma dádiva de Deus para liberar a pressão da dor interna. Há “tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria” (Eclesiastes 3:4).

O choro pecaminoso, quando um homem chora porque não consegue satisfazer sua cobiça, por um desejo ruim não alcançado. Também não é sobre ele que Jesus tratou no Sermão do Monte. Vejamos alguns exemplos.

1) Amnom se angustiou por Tamar, sua irmã, a ponto de adoecer, querendo possui-la sexualmente (2 Samuel 13:2). Acabe andava desgostoso e se lamentando por não conseguir satisfazer sua cobiça pela vinha de Nabote, deixando até de comer (1 Reis 21:4).

2) Há o lamento prolongado de pessoas que não conseguem lidar com a morte de alguém, muitos ficam até enlouquecidos. Acontece até entre cristãos, que por vezes lamentam a morte de um cônjuge que partiu para estar com Jesus. Isso é egoísmo. O lamento depressivo de alguém que é tão egoísta que não consegue se regozijar com a exaltação de quem ele ama tanto.

3) Há uma tristeza ilícita e exagerada por causa de culpa, como se isso fosse expiar seus próprios pecados. Uma boa ilustração bíblica disso é Davi. Absalão, seu filho, tentou destronar Davi do trono (2 Samuel 15 a 20). Davi teve que fugir de Jerusalém. Houve uma batalha e Absalão foi morto.

Davi havia pedido a seus soldados para tratar Absalão com brandura (2 Samuel 18:5). Mas quando Davi ficou sabendo que ele estava morto, lamentou: “Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!”.

Por que Davi estava cheio de culpa? porque ele foi um pai omisso, e sua tristeza foi algo como uma tentativa de purificar sua própria alma de suas falhas terríveis.

Quatro grandes tragédias aconteceram com Davi: o bebê nascido de seu pecado com Bateseba morreu; sua filha Tamar foi pecaminosamente violada pelo seu filho Amnon; seu filho Amnon foi morto por seu filho Absalão e, por fim, Absalão liderou uma rebelião contra seu pai e foi massacrado pelos soldados de Davi.

O luto de Davi era tão errado que seus soldados ficaram chocados, a ponto de Joabe dizer a Davi:

Hoje, envergonhaste a face de todos os teus servos, que livraram, hoje, a tua vida, e a vida de teus filhos, e de tuas filhas, e a vida de tuas mulheres, e de tuas concubinas, amando tu os que te aborrecem e aborrecendo aos que te amam; porque, hoje, dás a entender que nada valem para contigo príncipes e servos; porque entendo, agora, que, se Absalão vivesse e todos nós, hoje, fôssemos mortos, então, estarias contente. (2 Samuel 19:5,6).

O choro que edifica e o choro que destrói

Alguns dizem: “Quando você chora muito você geralmente se sente melhor”. Há uma tristeza que pode fazer você crescer e se fortalecer, há outra que conduz à morte.

A tristeza nos ensina muito, mas a tristeza que que edifica é a tristeza segundo Deus e não a tristeza segundo o mundo, que é destruidora. E é da tristeza segundo Deus que Jesus está falando no Sermão da Montanha.

Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte. (2 Coríntios 7:10)

Só há um tipo de tristeza que leva a vida, e essa é a tristeza segundo Deus, que leva você ao Arrependimento. Essa tristeza tem como razão o pecado.

Você pode chorar amargamente por várias coisas, tais como por seus problemas, solidão, desejos frustrados etc. E você pode gastar longo tempo se lamentando, mas, no final, essa tristeza não vai lhe dar vida.

A tristeza do mundo é inútil, pois produz morte. A tristeza segundo Deus traz o arrependimento, que traz salvação e conforto. Não é ficar triste porque se sente tão culpado, é estar triste por ser um pecador. Essa é a questão. Não é lamentar as circunstâncias, mas o pecado.

Ser humilde de espírito conduz ao lamento (choro) pela pecaminosidade

  • Jesus começa o Sermão da Montanha falando “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5:3). O que significa ser humilde de espírito? Reconhecer-se uma pessoa espiritualmente falida.
  • E logo depois Jesus diz: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mateus 5:4). É o lamento por essa falência.

O povo do reino de Deus é assim. Humildade de espírito é um reconhecimento de que não temos nada, e que não somos nada e não podemos fazer nada. É como um mendigo encolhido, sem capacidade de ajudar a si mesmo, precisando de alguém para ajudá-lo.

Em outras palavras, Jesus disse: “Feliz é o homem que está totalmente desamparado espiritualmente, que não é nada mais que um mendigo que tem que implorar por misericórdia e graça”. Porque é esse tipo de homem que entra no reino de Deus.

A entrada para o Reino de Deus implica necessariamente a convicção pessoal de miséria espiritual, um senso de falência espiritual. E isso permanece durante toda a vida. Isso identifica o verdadeiro cristão. George McDonald escreveu: “Quando um homem diz, ‘Sou pequeno e sem valor,’ aí então a porta do reino começa a se abrir para ele”.

Essa humildade produz avassaladora convicção de pecado que desemboca no choro, no lamento verdadeiro por causa do pecado. É um lamento que produz reações como essas:

  • Isaías disse: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Isaías 6:5)
  • No Salmo 51, Davi lamenta profundamente sua miséria e pecado, chegando a dizer: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (verso 5).
  • Jó foi esmagado por Deus até entender que não era nada. E ele diz: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:5,6).

O sentido de choro usado por Jesus no Sermão da Montanha

A palavra grega traduzida como “chorar” em Mateus 5:4 é a mais forte de todas as palavras gregas para expressar choro ou lamento. É usada para expressar o lamento e choro pela morte. O lamento impetuoso por alguém muito amado que você perdeu.

  • Na versão Septuaginta da Bíblia, é usada para expressar o luto de Jacó quando ele pensava que seu filho José estava morto (Gênesis 37:34).
  • É usada em Marcos 16:10 para expressar o lamento daqueles que haviam sido companheiros de Jesus, abatidos fortemente pela crucificação do Senhor.

Essa palavra transmite uma ideia de agonia interna profunda, não simplesmente um choro externo. Ele diz respeito a uma dor interna muito profunda, tal como Davi expressou no Salmo 32:

Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. (Salmos 32:3,4)

Mas o lamento profundo de Davi foi uma tristeza segundo Deus, que produz vida e não a tristeza segundo o mundo, que produz a morte (2 Cor. 7:10). Sendo assim Davi continuou o Salmo 32 dizendo:

Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado. Sendo assim, todo homem piedoso te fará súplicas em tempo de poder encontrar-te. Com efeito, quando transbordarem muitas águas, não o atingirão. Tu és o meu esconderijo; tu me preservas da tribulação e me cercas de alegres cantos de livramento. Alegrai-vos no Senhor e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de coração. (Salmos 32:5-7,11)

Quando Davi chorou por seu pecado e confessou seu pecado, ele foi limpo. Foi uma atitude totalmente diferente. Por isso ele declarou no mesmo Salmo 32:

Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo (Salmos 32:1,2)

Essa alegria não vem no choro ou lamento. Vem no que Deus faz em resposta a isso. Você pode até tentar, como um cristão, manter o pecado em sua vida dentro de uma garrafa fechada e você vai ver como isso vai te trazer ruína. Você confessa e vê a liberdade e a alegria que vem com o perdão.

Davi experimentou lágrimas da solidão, de rejeição, de frustração, de desânimo, de decepção e de derrota. Mas as lágrimas por seus pecados os consumiram profundamente. E seu quebrantamento verdadeiro resultou em uma obra divina de restauração. Tiago escreveu:

Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará. (Tiago 4:8-10)

Isso destoa da frivolidade, tolices e bobagens que acontecem em nome de cristianismo. A igreja moderna precisa de choro e não de riso.

Ninguém entra no reino de Deus sem ter chorado por sua própria pecaminosidade, e isso permanece durante a vida inteira. O lamento não é temporário. Isso é uma marca do verdadeiro cristão. Não há como desfrutar da alegria da salvação sem o constante lamento por causa do pecado.

Veja como o riso no lugar do choro foi uma ruína para Israel;

Filho do homem, profetiza e dize: Assim diz o Senhor: A espada, a espada está afiada e polida; afiada para matança, polida para reluzir como relâmpago. Israel diz: Alegremo-nos […] grita e geme, ó filho do homem, porque ela será contra o meu povo, contra todos os príncipes de Israel (Ezequiel 21:9-10,12)

Deus estava pronto para aplicar um duro juízo contra Israel. O profeta exclama o riso. Parecia que tudo não passava de uma piada. Mas Deus diz ao profeta: “grita e geme”.

O Senhor, o Senhor dos Exércitos, vos convida naquele dia para chorar, prantear, rapar a cabeça e cingir o cilício. Porém é só gozo e alegria que se veem; matam-se bois, degolam-se ovelhas, come-se carne, bebe-se vinho e se diz: Comamos e bebamos, que amanhã morreremos. Mas o Senhor dos Exércitos se declara aos meus ouvidos, dizendo: Certamente, esta maldade não será perdoada, até que morrais, diz o Senhor, o Senhor dos Exércitos. (Isaías 22:12-14)

Em outras palavras, só havia festa e banquete. Mas o Senhor declarou que aquele povo morreria em suas maldades.

Você ri quando vê o mal? Você ri quando o mal é exibido em sua casa através da TV? Você ri de piadas que falam sobre a impiedade? Essas coisas são coisas que lhe fazem rir?

A igreja hoje tem um senso de pecado deficiente. Tem uma doutrina do pecado deficiente. Muitos pensam que a vida cristã é uma piada, que esse mundo é um parque de diversões e que a igreja é algo para não ser levada a sério. Muitos riem e fazem piadas sobre a igreja.

E muitos críticos da igreja fazem sátiras sobre a igreja como se a igreja fosse uma piada, como se fosse algo que você pudesse rir a respeito. Eles gastam todo o seu tempo pensando em formas engraçadas que podem comentar sobre o cristianismo. Torna-se um cristianismo frívolo. Não é pecado rir, mas estamos tão desequilibrados que rimos de coisas que são extremamente sérias.

Convicção e lamento permanente de pecado deve marcar a conversão e a vida cristão. Esse é o caminho que Jesus apresentou na bem-aventurança.

Muitos cristãos gastam suas vidas em busca de encontrar alegria em algo, e pensam que o segredo do cristianismo é te uma vida feliz. E o que eles realmente precisam fazer é lamentar, porque esse é o caminho para a felicidade.

O falido espiritualmente pode se humilhar diante do Senhor e lamentar sua pecaminosidade ou fazer como um típico fariseu, cuja vida espiritual era apenas uma fachada cheia de hipocrisia e engano.

A conversão não é um ato de levantar a mão em uma igreja, e muitos falam disso como a grande experiência cristã que tiveram. Mas não é isso. A conversão é um ato profundo de humilhação diante de Deus, de reconhecimento de falência espiritual, de lamento profundo pela própria pecaminosidade.

Um verdadeiro cristão nunca abandona essa condição, ele sempre declara essas coisas do mais profundo coração. Isso não é auto-piedade, é fruto de um arrependimento genuíno. Por isso o salmista diz:

Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus. (Salmos 51:17)

Em Romanos 7 Paulo reconhece que o mal habita em sua carne e quão miserável homem ele é. Ele exclama: “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (v.24). E ele diz:

Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. (Romanos 7:25).

E tal era o reconhecimento de Paulo sobre sua carne pecaminosa, que deseja profundamente a redenção do corpo na glorificação dos santos:

Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. (Romanos 8:22-23)

E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial; se, todavia, formos encontrados vestidos e não nus. Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. (2 Coríntios 5:2-4)

Somos salvos quando reconhecemos nossa falência e lamentamos nosso pecado. Esse é uma condição permanente no verdadeiro cristão, não é algo que acontece apenas na conversão. E isso é um teste para identificar um verdadeiro cristão. João escreveu:

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. (1 João 1:9,10)

Os perdoados, os súditos do reino, os filhos de rei, os filhos de Deus, são caracterizados pela confissão constante de pecados. Essa condição permanecerá até o dia da glorificação dos santos.

Os evangelhos registraram que Jesus chorou, teve fome, ficou irado com a hipocrisia etc. Mas não registra que Ele andou por aí dando risadas. Ele sofria a cada momento com a terrível condição espiritual da humanidade.

Mas hoje a igreja parece encarar o mundo como um parque de diversões, buscando entretenimento, emoção e desesperada pela buscar de prazer de tolos, bobos e comediantes.

Há pouco tempo foi exibido em um canal cristão um homem conhecido como o maior cristão comediante! Quem precisa disso? Essa é uma tolice que atrai multidões.

Qual é o resultado disso?

Você diz, “então o que isso vai fazer por mim? Eu lamento, fico triste, desolado pelo pecado, o que eu recebo?” Conforto! Pranteadores não são abençoados porque lamentam, mas porque são confortados.

A tristeza segundo Deus opera vida, consolo, alegria e paz, mas a tristeza segundo o mundo produz a morte. O sentido original de Mateus 5:4 tem um sentido enfático: “bem-aventurado são aqueles que choram continuamente porque somente eles serão consolados”.

Enquanto nosso lamento sobe ao trono de Deus, seu conforto incomparável desce Dele através de Cristo para nós. Deus é “o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação” (2 Coríntios 1:3).

Quem é o consolador?

E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros. (João 14: 16-17)

O primeiro consolador foi Jesus. Ele foi o primeiro “paracleto”, palavra grega que significa “aquele que defende e protege outra pessoa, intercessor, auxiliador, defensor, advogado”.

E o Espírito Santo deu sequência a essa obra. Deus é um Deus de toda consolação. Cristo é um Cristo de consolo. O Espírito Santo é um Espírito de consolo. Temos esse consolo hoje e de forma completa em nossa redenção, quando Deus enxugará nossas lágrimas e a morte não mais existirá (Apocalipse 21:4).

Temos dentro de nós a presença do Espírito Santo, o consolador enviado por Cristo. E ainda temos a consolação das Escrituras Sagradas, conforme Paulo descreve:

Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança. Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus (Romanos 15:4,5).

A Escritura é consoladora porque ela nos fala do amor de Deus, do perdão e sobre todas as bênçãos celestiais que temos em Cristo Jesus. Deus nos consola com a obra interior do Espírito, pela obra da Palavra, e também pelo ministério de outros crentes, como muitas vezes Paulo se referiu:

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus. (2 Coríntios 1:3,4)

Deus, que conforta os abatidos, nos consolou com a chegada de Tito; e não somente com a sua chegada, mas também pelo conforto que recebeu de vós, referindo-nos a vossa saudade, o vosso pranto, o vosso zelo por mim, aumentando, assim, meu regozijo. (2 Coríntios 7:6,7)

E quando somos consolados, então estamos felizes. A felicidade vem para pessoas tristes, não porque estão tristes, mas porque a sua tristeza leva ao consolo. Jesus disse: ” Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” (Mateus 13:28).

Não há algo mais terrível que carregar o fardo da pecaminosidade. Quando lamentamos e confessamos nossos pecados diante do Senhor, ele nos consola. E nesse consolo vem a felicidade, conforme Jesus se referiu no Sermão do Monte.

Como se tornar um pranteador?

Primeiro é preciso eliminar os obstáculos.

A maioria dos cristãos tem obstáculos que impedem de realmente perceber o pecado, e isso se deve a um endurecimento que produz resistência ao Espírito, e por consequência, a insensibilidade. Um coração de pedra é desprovido de graça, o arado de Deus não pode quebrar um coração assim. E isso é resultado de algumas coisas:

1) Amor ao pecado: Se você ama seu pecado, seu coração vai resistir ao arrependimento. Seu coração será petrificado.

Exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado. (Hebreus 3:13)

2) Desespero: Quando o pecador acha seu pecado imperdoável. Isso é subestimas o poder de Deus, minimizar o sangue de Cristo, desvalorizar a graça de Deus e diminuir a grandeza de Deus.

[…] Convertei-vos, pois, agora, cada um do seu mau proceder e emendai os vossos caminhos e as vossas ações. Mas eles dizem: Não há esperança, porque andaremos consoante os nossos projetos, e cada um fará segundo a dureza do seu coração maligno. (Jeremias 18:11-12)

Em outras palavras: “Deus não pode fazer nada por nós. Estamos sem esperança, então vamos em frente com nossos próprios pensamentos”. Esse é o desespero que esconde a misericórdia atrás da ignorância, oculta a graça por trás dúvida.

Não me importa a maldade do pecador, a graça de Deus é capaz de alcançá-lo e transformá-lo. Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. (Ezequiel 36:25-26)

3) A prepotência: Alguns dizem: “Bem, eu não sou tão ruim assim. Você não me conhece, se você acha que eu deveria ficar triste com o que eu sou. Estou bem. Na verdade, eu sou muito bom”. Mas a Palavra diz:

Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. (Romanos 3:10-12)

Se Jesus Cristo teve que derramar Seu sangue e morrer na cruz por causa dos seus pecados, você é mau, como todos são. E se você acha que não é mau, você é pior de todos.

4) A presunção: Muitos consideram suficiente levantar a mão em uma igreja, ser batizado e continuar sua vida de pecados. É a graça barata. Qualquer experiência que não leve ao pecador odiar o pecado é falsa.

Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor. (Isaías 55:7)

Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus. (1 João 3:9)

5) A procrastinação: Quando o pecador acha que sempre haverá um amanhã para tratar com seus pecados. Tiago 4:14 diz: ” Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.”

6) O riso. Você diz: “O que você quer dizer com isso?” Quero dizer que há algumas pessoas que simplesmente não querem lidar realisticamente com a vida. Elas só querem rir o tempo todo.

Amós 6:5-7 descreve aqueles que buscavam momentos de risos, quando deveriam estar em lamento. E o profeta disse a eles: “Portanto, agora, ireis em cativeiro entre os primeiros que forem levados cativos”. Eram tolos que estavam rindo quando não havia nenhum motivo para o riso, e sim de lamento.

E como se livrar desses obstáculos?

1) Olhar para a cruz. Cristo morreu por nós e se isso não quebrantar nosso coração de pedra, eu não sei o que seria capaz.

Olhe para a cruz e veja o quanto você precisa de Jesus Cristo, o quanto você precisa enfrentar seu pecado. Veja o tanto que custou.

2) Estude sobre o pecado nas Escrituras. Veja o que disse alguns que conheceram a Palavra de Deus:

Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. (Salmos 51:3)

Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! (Isaías 6:5)

Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador. (Lucas 5:8)

Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. (1 Timóteo 1:15)

E preste atenção no que eles falam sobre seus pecados. E então, quando você se comparar com os alguns dos melhores homens que já viveram, sua convicção de pecado aumentará.

O pecado pisoteia as leis de Deus, despreza seu amor e sua benção e entristece o Espírito. O pecado nos afeta drasticamente, promovendo danos terríveis.

3) Peça a Deus um coração contrito. Só Ele pode fazer isso.

Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito reto (Salmos 51:10)

Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. (Salmos 51:17)

Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito (Salmos 34:18)

Concluindo, como posso saber se sou um pranteador?

Pergunte a si mesmo se você é sensível ao pecado. Como você reage ao pecado? Você ri dele? Você relativiza o pecado? Você tem prazer nele?

Talvez seja um pecado da imoralidade, ou um pecado nos seu trabalho, ou a desonestidade, ou falta de oração etc. Talvez seja uma falta de bons pensamentos, uma falta de ser amoroso. Talvez seja qualquer outra coisa? Como você reage a isso?

Você chora por causa do seu pecado? Se você é um verdadeiro lamentador, você não só vai chorar por causa do seu pecado, mas você vai lamentar pelos pecados do mundo. Tal como Jeremias:

Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então, choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo. Prouvera a Deus eu tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes! Então, deixaria o meu povo e me apartaria dele, porque todos eles são adúlteros, são um bando de traidores; curvam a língua, como se fosse o seu arco, para a mentira; fortalecem-se na terra, mas não para a verdade, porque avançam de malícia em malícia e não me conhecem, diz o Senhor. (Jeremias 9:1-3)

Ou como Jesus fez:

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta (Mateus 23:37-38)

Ou como o salmista fez:

Torrentes de água nascem dos meus olhos, porque os homens não guardam a tua lei. (Salmos 119:136)

E por fim, uma maneira de saber se você é um lamentador é se você tem conhecimento do perdão de Deus? Você tem alegria em sua vida? Você conhece a verdadeira paz, a verdadeira felicidade, o consolo real que chega na vida de quem é perdoado e purificado?

Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo. (Salmos 32:1,2)

Vamos orar.

Pai, queremos muito te agradecer por este tempo maravilhoso em Tua Palavra. Quão rico, quão profundo, cumprir estas grandes verdades. Abençoe cada vida aqui. Senhor, ajuda-me a ser um dos que choram. Eu quero ser o tipo de pessoa que Tu queres que eu seja.

Eu quero sentir dor quando o Senhor sente dor. Eu quero ser sensível ao meu próprio pecado. E, ó Deus, eu quero ter o mesmo sentimento que o Senhor tem pelo pecado neste mundo. Que eu possa sempre me sentir entristecido por causa do pecado.

Peço que não deixe que eu perca esta sensibilidade. Ajuda-me a lutar por Tua honra com grande zelo para defender o Teu padrão de justiça. E quando eu o quebrar ou qualquer outra pessoa o quebrar, que meu coração fique angustiado, porque só depois disso conhecerei o grande consolo e a alegria que o Senhor quer dar.

Senhor, se há alguém aqui esta noite que nunca foi quebrantado por causa do pecado, que nunca se sentiu falido espiritualmente oro para para que possa sair daqui chorando. E que elas possam vir para o único que pode consolar, o Senhor Jesus Cristo, que morreu para pagar o preço do pecado.

E para nós que somos cristãos, afasta de nós a insensibilidade, não permitas que o mundo nos esfrie com aquilo que o Senhor rejeita. Senhor, renova um espírito justo em nós, para que possamos sentir o que o Senhor sente sobre todas as coisas.  E seja qual for o nível de relacionamento que temos contigo, traga-nos para onde o Senhor quer que estejamos. Em nome de Cristo oramos. Amem.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Sermão da Montanha

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série

Clique aqui e veja também o índice com os links dos sermões traduzidos sobre o Evangelho de Mateus


Este texto é uma síntese do sermão “Happy Are the Sad”, de John MacArthur em 17/09/1978.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/2199/happy-are-the-sad

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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