A Cilada da Autoconfiança

Em João 17 Jesus intercedeu por todos que iriam crer ao longo dos séculos. Se um cristão genuíno enfrentar o que os apóstolos e irmãos sofreram e tem sofrido, o Senhor lhe dará a graça. Somos alvos da intercessão de Jesus. A fé de um verdadeiro cristão não falhará. Devemos manter uma posição de comprometimento total com o Senhor.

Continuando nossa trilha no Evangelho de Marcos, veremos agora Marcos 14:27-31. Como vimos no sermão anterior, Jesus havia celebrado a Páscoa com seus discípulos a partir do pôr-do-sol até por volta da meia-noite. Ali Jesus transformou os elementos da Páscoa nos elementos da Mesa do Senhor.

Naqueles momentos várias coisas importantes aconteceram. O Senhor ensinou extensivamente aos onze discípulos, lhes dando grandiosas promessas, registradas em João 13 a 16, encerrando com a grande oração sacerdotal em João 17. Então cantaram o Salmo 136 e partiram para o Monte das Oliveiras (Mc. 14:26). E Marcos prossegue:

Marcos 14
27 Então, lhes disse Jesus: Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas.
28 Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galileia.
29 Disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!
30 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes.
31 Mas ele insistia com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. Assim disseram todos.

Esta é uma visão da fraqueza dos onze discípulos. Eles eram muito diferentes de Judas, não eram traidores, mas sucumbiram em certo momento e não quiseram ser identificados com Jesus.

A vergonha de Judas foi resultado de sua incredulidade, foi um vergonha irrecuperável e resultou no seu suicídio. A vergonha dos onze foi resultado da fraqueza, mas foi temporária e transformada depois em uma fé sólida.

Eles ficaram apavorados quando o sofrimento parecia cair sobre eles. Mas, em Atos 5:41, quando ameaçados pelo Sinédrio, eles se regozijaram por terem sido dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus. Eles deram suas vidas por Cristo e pelo evangelho. Eles pertenciam ao Senhor e receberam os recursos sobrenaturais do Senhor.

Mas com Judas foi diferente. Ele tinha ambições humanas e ficou decepcionado com o Messias. As coisas não estavam acontecendo como ele imaginava. Ele se envergonhou de Jesus Cristo, o rejeitou e o traiu. O Senhor disse:

Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do homem, igualmente, se envergonhará dele, quando voltar em sua glória e sob as honrarias do Pai e dos santos anjos (Lucas 9:26)

Esse foi o caso de Judas e não dos onze discípulos. Todos nós já tivemos momentos em que, para não sofrermos rejeição e hostilidade, evitamos nos identificar com Cristo. Martyn Lloyd-Jones disse:

Se você nunca teve vergonha de proclamar abertamente o evangelho, não é porque você é tão corajoso; é porque você provavelmente não entende o evangelho. Porque se você realmente proclamou o evangelho completo, você terá que confrontar o pecador de uma forma que fará com que o pecador rejeite o que você diz e rejeite você também. E isso pode nos levar ao silêncio.

Portanto, será útil entendermos como esses homens passaram por aquela experiência de vergonha e acabaram proclamadores ousados do evangelho. Eles foram dispersos, mas foram recuperados. Mas o que brilha através disso é a majestade, a magnificência e a glória do Filho de Deus.

O contexto de Marcos 14:27-31

Mateus, Marcos, Lucas e João possuem 89 capítulos, sendo que 29 capítulos são destinados à semana da cruz e 13 capítulos apenas para a sexta-feira da cruz. São muitas informações, porque esse foi o momento mais importante.

Como vimos no sermão anterior, por diferença na forma de contar os dias, os galileus celebravam a Páscoa na quinta-feira e os da Judeia na sexta-feira. Ambos os dias eram reconhecidos como legítimos da Páscoa.

O Senhor celebrou a Páscoa na quinta-feira à noite e deixou preciosas promessas aos discípulos, registradas em João 13 a 17. E então eles foram para ao Monte das Oliveiras (Mc. 14:26), onde ocorreu o incidente registrado em Marcos 14:27-31.

E logo depois eles foram a um lugar chamado Getsêmani (Mt. 26:36), onde Judas consumou sua traição. Ali Jesus foi preso (Mt. 26:46-56). Ele seria julgado na sexta-feira pela manhã, crucificado mais tarde pela manhã, para morrer às três horas da tarde, no mesmo horário em que os sacerdotes sacrificavam os cordeiros. Ele é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29).

Ao se dirigirem para o Monte das Oliveiras, saindo do cenáculo, por volta da meia-noite, em direção à encosta leste do monte do templo, eles atravessaram o vale do Cedron, onde fluía um riacho naquela época de chuvas (primavera), e a água do riacho se misturava com o sangue de todos os cordeiros que estavam sendo abatidos no templo.

As casas da cidade estavam iluminadas com velas porque todos estavam acordados com os acontecimentos emocionantes daqueles dias. E alguns da Galileia estavam celebrando naquela noite a refeição da Páscoa, outros estavam preparando a refeição da Páscoa para o dia seguinte.

Então, eles cruzaram o riacho e subiram a encosta oeste do Monte das Oliveiras. Pode ter vindo na mente do Senhor que Ele estava seguindo a mesma rota que Davi havia percorrido quando fugia da perseguição de Absalão (2 Samuel 15), quando Davi subiu o Monte das Oliveiras descalço e chorando.

A fatal autoconfiança dos discípulos e a demonstração da majestade do Senhor

Assim, quando os discípulos deixaram a cidade para encontrar tranquilidade num lugar muito familiar para eles, estavam prestes a ter um confronto com o Senhor no qual afirmaram confiança, força e coragem incondicionais.

Mas Jesus lhes diz a verdade sobre o que eles realmente fariam. Vemos aqui a majestade de Cristo. Não faz sentido olhar para a fraqueza deles, com elas nós podemos nos identificar, temos que olhar para o nosso Senhor.

1) O conhecimento de Jesus

Marcos 14
27 Então, lhes disse Jesus: Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas.
28 Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galileia.

Os discípulos eram ignorantes em relação ao futuro, mesmo sobre coisas que Jesus havia dito a eles, mas que eles não conseguiam entender e aceitar.

No meio da ignorância, eles estavam cheios de medo e de dúvidas, que resultaram em pânico e terror, fazendo-os fugir e até negar Cristo repetidamente, como no caso de Pedro. O medo surgiu da ignorância deles.

Em contraste com tudo isso estava o conhecimento sobrenatural e maravilhoso de Cristo. Citando Zacarias 13:7, Jesus disse: “vocês se escandalizarão e se dispersarão”. Ou seja: “vocês vão desertar”. E Jesus sabia que em pouco tempo isso seria uma realidade. Ele sabia que a traição de Judas, a fuga dos discípulos, a prisão e crucificação estavam às portas.

O capítulo 13 de Zacarias nos dá um pouco do cenário em que esta profecia é dada.

Desperta, ó espada, contra o meu pastor e contra o homem que é o meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos; fere o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas; mas volverei a mão para os pequeninos (Zacarias 13:7)

Deus invocou Sua própria espada contra Seu próprio Pastor, o representante pessoal de Deus. E foi Deus quem golpeou o Messias. Não foi Judas, nem o Sinédrio, nem os romanos, nem Pilatos e nem Caifás ou Herodes. Foi Deus.

Zacarias escreveu “contra o homem que é o meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos”. No original hebraico, “meu companheiro” é “o homem da minha união, o homem que está unido a Mim, meu igual”.

E a palavra “homem” em Zacarias 13:7 não é a palavra hebraica normal para homem; é a palavra para um “homem forte ou poderoso”. É uma referência ao Messias, o Filho de Deus.

O profeta disse que o próprio Deus, com Sua própria espada, mataria Aquele que é Seu representante pessoal, que é Seu igual. Esta é a afirmação da natureza de Cristo como tendo a mesma essência do próprio Deus. O resultado do Pastor ser ferido por Deus seria a dispersão das ovelhas.

A dispersão é uma aplicação principalmente aos apóstolos, porque é assim que Jesus o aplica. Se Jesus interpretou Zacarias 13:7 e o aplicou aos apóstolos, então se deve aplicar principalmente a eles, e poderia ser estendido ao fato de que Israel, em sua rejeição, também foi disperso. Mas a ênfase principal foi para os apóstolos.

Zacarias 13:7 finaliza dizendo: “mas volverei a mão para os pequeninos”. Isso se refere ao fato de que Deus permitirá que os Seus sejam perseguidos. Por causa da pureza da igreja primitiva e do evangelho, viria a perseguição. Chegou primeiro aos apóstolos, à igreja primitiva e continuou ao longo da história até nossos dias.

Jesus conhecia o futuro. Ele sabia o que estava por vir. Ele sabia o que iria acontecer com os discípulos e com a nação. Ele sabia que a perseguição seguiria contra eles e contra os crentes mesmo além deles. Tudo isso foi profetizado no Antigo Testamento. Ele sabia tudo o que estava acontecendo com Judas e com os judeus. Tudo ficaria claro em poucas horas. Ele não era um mero homem; ele é o Messias, o Filho de Deus.

Os melhores, os mais devotos, os mais verdadeiros em Israel foram os 11 apóstolos. Eles eram verdadeiros crentes em Cristo. Eles O confessaram como Senhor, Deus e Messias. Eles receberam a salvação. Mas o Senhor sabia que eles estavam prestes a fraquejar diante do que viria, havia lições importantes para eles aprenderem. David Thomas escreveu:

Cristo sabia bem tudo o que estava acontecendo naquela noite. Ele não apenas viu todas as nuvens que enegreceriam os céus, mas também conhecia cada estrondo de trovão, cada relâmpago, cada gota de chuva que elas enviariam sobre Seu espírito naquela noite. Tudo era conhecido e arranjado de antemão. A própria perspectiva de todas as provações de nossas vidas nos esmagaria muito antes de elas acontecerem, mas Cristo tinha aquela magnanimidade sublime que lhe permitiu olhar para elas, em toda a sua enormidade, à distância, aproximar-se delas sem um passo vacilante, entrar nelas com um espírito de lealdade invencível ao céu, e passar por elas com a poder de Deus.

Se soubéssemos tudo o que iria acontecer conosco no futuro, ficaríamos traumatizados até a paralisia. Nosso Senhor conhecia cada detalhe, cada movimento que aconteceria com Ele e Seus seguidores. Mas, em meio a tudo isso, naquela noite de sua prisão, ele disse: 

Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. (João 14:27)

2) A coragem de Jesus

Jesus disse aos discípulos: “Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas”. (Mc. 14:27)”.

Os discípulos seriam tomados pelo medo e iriam se dispersar, tal como disse o profeta Zacarias. E foi exatamente isso que aconteceu. Quando a pressão aumentou e Cristo foi levado cativo para ser morto, os discípulos se dispersaram. Houve um implosão temporária no grupo. Pedro e João são vistos juntos, mas o grupo essencialmente se dissolveu. Isto explica, por exemplo:

A ausência de Tomé na noite de domingo após a ressurreição (João 20:24-25);
Porque dois deles estavam vagando pelo caminho de Emaús (Lc. 24:13-35);
Porque quando o Senhor ressurreto apareceu a eles na Galileia, havia apenas sete deles juntos à beira do lago (João 21:2). E foi só algum tempo depois, os onze estão reunidos novamente (Mt. 28:16).

Eles foram reunidos novamente para Sua ascensão e para o envio do Espírito Santo. Mas no dia da morte do Senhor, o seu pequeno grupo se fragmentou por medo. Ser identificado com Cristo naquele momento seria uma ameaça para suas vidas.

Como Jesus seria crucifiucado, eles temeram ser os próximos, Eles ainda não estavam prontos para dar suas vidas. Mateus 26:56 diz: “Tudo isto, porém, aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas. Então, os discípulos todos, deixando-o, fugiram”.

Identificar-se com Jesus Cristo é perigoso hoje e foi perigoso ao longo de toda a história da igreja. Hebreus 11:26 diz que Moisés “considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão”.

Por causa de sua fé muitos “foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados” (Hb. 11:37).

Naquela noite o preço era muito alto. O momento foi muito assustador e eles fugiram para um lugar seguro e se dispersaram. Pedro se esgueira na escuridão à distância (Mc. 14:54), tentando lidar com a tensão que sente entre seu amor por Cristo e seu medo por sua própria vida. Eles estavam ainda fracos e covardes.

E em contraste com isso vemos a incrível coragem de Cristo. Sua coragem incomparável suportou o ódio, a dor, a indignidade, a traição, a morte na cruz e o cálice da ira de Deus. Como ele estava sendo castigado por nossos pecados, Deus o abandonou em Sua hora mais sombria (Mt. 26:46).

Os discípulos não apenas fugiram quando ele foi preso, mas dormiram na hora de Sua agonia no Jardim do Getsêmani. Naquela ocasião Jesus disse aos discípulos: “Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?” (Mt. 26:40). E os alertou: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt. 26:41).

Jesus se destacava por seu conhecimento e coragem. Os discípulos eram os melhores homens, mas não estavam à altura do caráter de Cristo. O Senhor é majestoso, mesmo quando falhamos, ele não se envergonha de nos chamar de irmãos (Hb. 2:11).

O apóstolo Pedro, que naquela ocasião ainda não estava pronto para sofrer por Cristo, por sua ignorância, medo e autoconfiança, em meio aos terríveis sofrimentos que padeceu para cumprir seu ministério apostólico, escreveu:

Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome. (1 Pedro 4:14-16).

O apóstolo Paulo escreveu:

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. (Romanos 1:16,17)

O Senhor foi abandonado por aqueles homens que deveriam tê-lo apoiado, mas Ele sabia que aquilo iria acontecer e que depois eles seriam restaurados, ele tinha pleno conhecimento de tudo. Ele permaneceu ali firme e corajoso em cumprir a vontade do Pai.

3) O poder de Jesus

Marcos 14
28 Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galileia.

O Senhor sabia que iria morrer na cruz, ele sabia que os discípulos iriam fugir e se dispersar, mas também ele sabia que iria ressuscitar dos mortos. Ele havia dito isso repetidas vezes (Mc. 9:9, 9:31, 10:34; Lc. 9:22 Mt. 16:21 etc.). Da mesma forma que Abraão creu que Deus ressuscitaria Isaque do mortos (Hb. 11:17-19, Ele sabia que o Pai o ressuscitaria dentre os mortos.

Ele próprio havia ressuscitado Lázaro da sepultura (João 11); a filha de Jairo, chefe da sinagoga (Mc. 5:35-43); e o filho da viúva de Naim (Lc. 7:11-17). Ele tinha poder sobre a morte. Mas os discípulos temiam a morte, por isso que eles fugiram.

O Senhor não temeu a morte e nem o sofrimento, mas pesava sobre ele os horrores do cálice da ira de Deus que teria que suportar por causa de nossos pecados. No Getsêmani ele orou: “Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade” (Mateus 26:42).

Em Apocalipse 1:17-18 Jesus se apresentou ao apóstolo João dizendo: “Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno”.

Repetidas vezes Jesus expressou Seu poder de ressurreição. Ele disse:

Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. (João 6:37-39)

Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto? (João 11:25,26).

Hebreus 2:14 diz que “por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”. Em Marcos 14:28 ele prometeu aos discípulos: “depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galileia”.

Ele prometeu retornar após Sua morte e, pessoalmente, reunir as ovelhas dispersas. E foi isso que Ele fez. Ele os reuniu na Galileia (Mt. 28:10,16-17). E naquela ocasião, ele lhes disse:

Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século. (Mateus 28:18-20)

Os discípulos estavam reunidos em Jerusalém quando ele ascendeu aos céus (Atos 1) e estavam juntos no cenáculo quando ele enviou o Espírito Santo (Atos 2).

Jesus recuperou e restaurou todos aqueles onze discípulos. A deserção deles não foi semelhante à de Judas, que foi um apóstata. O caso deles não foi apostasia, mas um fracasso momentâneo.

4) A humildade de Jesus

Marcos 14
29 Disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!
30 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes.
31 Mas ele insistia com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. Assim disseram todos.

A orgulhosa confiança demonstrada por Pedro e os demais discípulos se contrastava com a humildade de Jesus. Em João 13:37 Pedro disse a Jesus: “Por ti darei a própria vida”. E, de fato, quando cheio do Espírito Santo, ele deu sua vida por Cristo.

Mas, naquele momento, antes da cruz, Pedro e os demais discípulos estavam confiantes orgulhosamente em si mesmos, e por isso experimentaram um terrível fracasso.

Jesus disse a Pedro que ele iria negá-lo ainda naquela noite. Em outras palavras, de forma veemente, Pedro lhe respondeu: “Senhor, você está errado, eu jamais recuarei diante de qualquer coisa, eu nunca te negarei”. Marcos 14:31 diz que todos os demais falaram a mesma coisa. Todos estavam enganados. Lucas registrou:

Lucas 22
31 Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!
32 Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos.
33 Ele, porém, respondeu: Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte.
34 Mas Jesus lhe disse: Afirmo-te, Pedro, que, hoje, três vezes negarás que me conheces, antes que o galo cante.

Jesus disse a Pedro que ele o negaria em três ocasiões distintas. E acrescentou: “Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!”. Essa colocação foi para todos, não somente para Pedro, o original grego está no plural. Peneirar tem o sentido de que as provações iminentes, embora perturbadoras e indesejáveis, teriam um efeito de refino.

Jesus intercedeu por todos eles, e disse especificamente a Pedro que havia orado por ele e pela sua vitória no final, para que ele pudesse encorajar os demais.

Mas Pedro, de forma veemente, disse que estava pronto para enfrentar a prisão e a morte. Assim concordaram os demais (Mc. 14:31). Mas Jesus sabia que eles estavam enganados na autoconfiança. E Diz a Pedro que ele o negaria três vezes.

Pedro se considerava forte e pronto para superar qualquer adversidade. Esse é um terreno bastante traiçoeiro, ele estava correndo sério perigo com seu orgulho. Ele se colocou numa posição muito vulnerável, em um terreno muito perigoso. Todos os onze viviam com uma ilusão sobre uma suposta força espiritual própria. E fraquejaram, tal como Jesus havia dito.

Três pecados realmente sérios: Eles refutaram o que o Senhor havia dito; Pedro se considerou mais forte que os demais; Pedro e os demais confiaram em suas próprias forças.

Provérbios 29:23 diz: “a soberba do homem o abaterá”. E Provérbios 11:2 diz: “Em vindo a soberba, sobrevém a desonra”.

A deserção dos onze foi temporária

Jesus disse a Pedro: “antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes” (Mc. 14:30). Os judeus dividiam a noite em quatro segmentos.

Das 18h às 21h era chamada de noite;
Das 21h à 0h era chamada de meia-noite;
Da 0h às 3h era chamado de canto do galo;
Das 3h às 6h era chamada de manhã.

Jesus quis dizer: “Pedro, antes das 3 da madrugada você terá me negado três vezes”. Após negar a Cristo três vezes, Pedro ouviu o galo cantar e se lembrou das Palavras de Jesus, então saiu e chorou amargamente (Mt. 26:75; Lc. 22:61-62).

Todos eles tiveram a mesma ilusão. Pedro disse: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei” (Mc. 14:31). Todos os outros disseram a mesma coisa. Eles estavam tão orgulhosos e tão cheios de autoconfiança que passaram a contradizer o Senhor.

E diante daquele orgulho, em contraste, estava a incrível humildade de Cristo, que humildemente enfrentou a cruz abandonado por seus discípulos, bem como foi odiado e rejeitado por Sua própria nação.

E Jesus lhes disse: “Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo” (João 16:32).

Mas a fuga dos onze não foi uma deserção terminal e nem uma apostasia. Eles foram restaurados após a ressurreição. Em Atos 5:41 diz que os apóstolos se regozijavam por serem considerados digno de sofrer pelo nome de Jesus. Isso foi possível com o derramar do Espírito Santo, uma promessa que Jesus fez a eles.

E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. (João 14:16,17)

E após o Pentecostes (Atos 2), ele passaram a pregar o evangelho com muita ousadia, não temendo ameaças, perseguições, prisões e a morte. Pedro e João, diante da ameaça do Sinédrio, disseram: “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (Atos 4:19,20).

Ao longo da história, os verdadeiros cristãos foram fiéis até o fim. A história do martírio começa com os apóstolos e atravessa toda a história da igreja e chega até o tempo atual.

Somos chamados a sofrer por Cristo

Na noite em que foi preso, Jesus disse aos discípulos:

Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. (João 15:18,19)

A teologia islâmica ensina que um mulçumano pode negar ser mulçumano ou mentir sobre qualquer coisa para escapar de uma situação de risco ou para avançar a causa do islamismo. Diz que Alá perdoará quem agir assim.

Isso é bem diferente do testemunho cristão. O evangelho diz que os verdadeiros cristãos, capacitados pelo poder do Espírito Santo, dizem sempre a verdade de forma incondicional, mesmo que isso signifique a morte e sofrimentos. Jesus disse:

E, por causa do meu Nome, sereis odiados de todos. Contudo, aquele que permanecer firme até o fim será salvo (Mt. 10:22).

E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo. […] Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também (Mt. 10:28,32-33).

Jesus deixou muito claro àqueles homens que o ódio do mundo rebelde contra ele e contra o Pai resultaria em duras perseguições a seus servos. Mas ele prometeu o Espírito Santo para que eles fossem capacitados e fortalecidos.

João 15
20 Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros…
21 Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou.
22 Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado.
23 Quem me odeia, odeia também a meu Pai.
26 Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim;
27 e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio.

E, em João 17, na sua grande oração sacerdotal, após concluir os últimos ensinos a seus discípulos expostos em João 13 a 16, Jesus orou:

João 17
14 Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou.
15 Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.
17 Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
18 Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
19 E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade.
20 Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra;

Somos protegidos de uma deserção final pela vontade do nosso Salvador. Nesta oração intercessora, Jesus orou de acordo com a vontade do Pai, para que nada nos separe Dele. E sabemos que o Pai sempre lhe ouve.

Se você algum dia enfrentar o que os apóstolos enfrentaram, a perseguição e o martírio que os crentes sofreram e sofrem ao longo dos anos, o Senhor lhe dará a graça que você precisa, pois somos alvos da intercessão de Jesus Cristo. Como um verdadeiro crente, sua fé não falhará. Devemos manter uma posição de comprometimento total com o Senhor:

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. (Romanos 1:16,17).

Vamos orar.

Senhor, não queremos ser uma decepção para Ti, que nos ama perfeitamente. Não queremos nos envergonhar de Ti e da Tua Palavra. Ajuda-nos a proclamar a pura verdade com intrepidez e coragem.

Livra-nos de ter vergonha do evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para a salvação. Que possamos superar nossas próprias fraquezas em Tua força. Que possamos superar nossa tendência ao fracasso e à autoproteção pelo poder do Espírito Santo que habita em nós, que nos capacita a sermos o que o Senhor deseja de nós.

Que possamos permanecer na longa fila daqueles que viveram e até enfrentaram a morte fiéis a Ti. Tu és digno dessa fidelidade e desse tipo de integridade. Queremos honrar o Teu nome vivendo assim.

Capacita-nos, Senhor. Livra-nos da autoconfiança. Não temos qualquer capacidade para sermos fiéis, que possamos depender profundamente de TI em todo o momento. Dá-nos, então, a ousadia que deveríamos ter para pregar o Teu glorioso evangelho.

Agradecemos a Ti por podermos contemplar a majestade de nosso Salvador em Seu conhecimento, em Sua humildade, em Seu poder, e até mesmo nos momentos de deserção temporária de seus discípulos. Ajude-nos a sempre dar-Lhe honra e nunca ser uma decepção. Essa é a nossa oração e esse é o nosso desejo, porque essa é a Tua vontade para nós.

Agradecemos-Te, Senhor, pela promessa de capacitação e poder disponível para nós se formos obedientes de boa vontade. Nós te agradecemos em nome do teu Filho, Senhor, amém.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos.

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série.


Este texto é uma síntese do sermão “The Prophecy of Failure”, de John MacArthur, em 17/4/2011.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-74/the-prophecy-of-failure

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno.


 

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