A Morte de João Batista

Em nossa trilha pelo Evangelho de Marcos chegamos no capítulo 6, versículos 14 a 29. É o relato do assassinato de João Batista, o precursor do Messias e o último profeta do Velho Testamento, o homem de quem Jesus disse: “Entre os nascidos de mulher não se levantou ninguém maior do que João Batista”.

Antes de olharmos para a história, vamos ver um pouco de seu contexto. Se você ler o Antigo Testamento e a história de Israel, entrar no Novo Testamento e continuar a seguir a história de Israel, e então chegar até o momento atual, você perceberá que os judeus são o mais privilegiado povo da história humana.

  • Os judeus foram escolhidos por Deus para serem o recipiente da revelação divina.
  • A Israel foram dadas a Escritura, as alianças.
  • Eles foram adotados como povo especial de Deus.
  • A eles foram enviados os profetas, e a eles também foi primeiro pregado o evangelho.

Deus usou os judeus para escreverem o Antigo Testamento e o Novo Testamento. É um grande privilégio. O que eles fizeram com esse privilégio? Foi a tragédia de todas as tragédias. A tragédia final por terem um privilégio tão imenso e, ao mesmo tempo, voltar-se contra o próprio Deus que lhes deu esse privilégio.

A história de Israel é a história das pessoas mais privilegiadas que já viveram e, portanto, das pessoas a quem Deus atribuiu a maior responsabilidade, mas que desperdiçaram sua responsabilidade. Pior do que isso, voltaram-se contra o próprio Deus, não apenas rejeitando os profetas que foram enviados por Deus, mas matando muitos deles. Até que, finalmente, mataram o último dos profetas do Velho Testamento, Zacarias, filho de Baraquias, e eles o mataram entre santuário e o altar, no próprio templo de Jerusalém (Mt. 23:35).

Quinhentos anos mais tarde, quando surgiu o último e o maior profeta, João Batista, eles ficaram indiferentes enquanto ele era cruelmente assassinado. Era apenas uma prévia do que eles fariam ao profeta acima de todos os profetas, o próprio Messias, o Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo.

O comportamento mais hediondo e devastador que se possa imaginar é ser a nação escolhida por Deus para receber Sua revelação, todas as Suas promessas e alianças, e rejeitar essa revelação e depois matar sistematicamente os mensageiros que a trouxeram.

Antes de olharmos para o texto de Marcos 6:14-29, quero que você preste atenção nas palavras de nosso Senhor Jesus, que Ele falou na semana final de Sua vida aos líderes de Israel:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque edificais os sepulcros dos profetas, adornais os túmulos dos justos e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas! Assim, contra vós mesmos, testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? (Mateus 23:29-33)

Os líderes judeus e o povo nos dias de Jesus sabiam muito bem que seus ancestrais haviam assassinado os profetas, os mensageiros de Deus, e alegavam: “nós nunca teríamos feito isso, somos melhores do que eles.”

E então, nosso Senhor, tendo olhado para trás, olha para frente e lhes disse:

Por isso, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade (Mateus 23:34)

E depois esta conclusão pensativa:

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. (Mateus 23:37,38)

Essa é a acusação mais surpreendente e chocante jamais feita a um povo na história. O povo escolhido sistematicamente e consistentemente recusou obedecer à revelação de Deus, perseguiu e matou os mensageiros que trouxeram essa revelação. E agora, Jesus diz: “Vocês continuarão a fazer isso. Vocês farão o mesmo com os apóstolos e com aqueles que virão depois deles para pregar o evangelho”.

O ponto culminante da matança dos profetas da era do Antigo Testamento é dado a nós em Marcos 6: 14-29, o registro da execução de João Batista. Os judeus rejeitaram Jesus, clamaram e tramaram sua morte. Mas também rejeitaram João Batista, aquele que olhou para Jesus e declarou: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo… E tenho testificado que ele é o Filho de Deus” (João 1:29,34).

Portanto, se eles rejeitaram Jesus, também rejeitaram João Batista. Se eles tivessem recebido João Batista como um verdadeiro profeta, eles teriam crido em sua mensagem como a verdadeira Palavra de Deus, necessariamente teriam que receber Jesus Cristo de quem João falou.

Eles rejeitaram os dois e ambos foram assassinados. E o assassinato de João Batista é uma prévia do assassinato de Jesus Cristo. Os judeus não mataram João Batista e Jesus com suas próprias mãos. Herodes e os romanos fizeram por eles. E a morte de João Batista é uma união de inacreditável intriga, iniquidade e rebelião.

Em Marcos 6, João Batista já estava na prisão. A prisão dele é registrada em Marcos 1:14. Lucas 3:19-20 indica que a prisão de João Batista foi logo após a tentação e o batismo de Cristo. Ele estava há mais de um ano na prisão, por ordem de Herodes. Em Marcos 6: 14-29, vamos ler o relato de sua execução.

Marcos 6
14 Chegou isto aos ouvidos do rei Herodes, porque o nome de Jesus já se tornara notório; e alguns diziam: João Batista ressuscitou dentre os mortos, e, por isso, nele operam forças miraculosas.
15 Outros diziam: É Elias; ainda outros: É profeta como um dos profetas.
16 Herodes, porém, ouvindo isto, disse: É João, a quem eu mandei decapitar, que ressurgiu.

A primeira parte do verso 14 de Marcos 6 diz que algo chegou aos ouvidos de Herodes. O que foi esse algo? O registro está nos versículos anteriores:

Chamou Jesus os doze e passou a enviá-los de dois a dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos imundos… Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse; expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos… (Marcos 6:12-13)

Nosso Senhor fez tudo sozinho, os milagres e toda a pregação. Mas no final de Sua presença na Galileia, Jesus multiplicou os mensageiros e deu poder aos Doze, enviando-os. Ele delegou Seu poder a eles, poder sobre demônios, doenças e a morte, e deu-lhes a mensagem do Evangelho. Eles foram e causaram grande impacto. Houve muitos sinais e milagres e forte pregação do evangelho. As notícias se espalharam por toda a Galileia e chegaram aos ouvidos de Herodes.

Herodes vivia na luxúria, no luxo e na preguiça. Ele vivia em Tibério, um lugar em que os judeus não pisavam os pés, porque fora construído por Herodes no topo de um cemitério. Eles criam ser um terreno profanado, e não poriam os pés nele. Mas as notícias chegaram até ele, pois o nome de Jesus se tornou conhecido.

Era uma área pequena. Eles nunca tinham visto nada parecido antes. Eles sabiam que tudo estava sendo feito em nome de Jesus. E o que estava acontecendo excedia os sinais operados pelos profetas. Não havia nenhuma explicação humana para tantos sinais e maravilhas.

Então, começou a circular a notícia de mortos ressuscitados, e Herodes ouviu o povo dizer: “João Batista ressuscitou dentre os mortos, e, por isso, nele operam forças miraculosas”. Para muitos, Jesus poderia ser João Batista ressuscitado, para outros, Ele era Elias, e para outros, um novo profeta. Herodes não gostou de ouvir isso. Lucas 9:9 diz:

Herodes, porém, disse: Eu mandei decapitar a João; quem é, pois, este a respeito do qual tenho ouvido tais coisas? E se esforçava por vê-lo.

O pior cenário possível para Herodes era ver o homem que ele decapitou de volta do túmulo. Portanto, ele tinha motivos para se preocupar. Ele estava aterrorizado.

Ele conhecia bem João Batista, pois o manteve encarcerado na prisão de seu próprio palácio por mais de um ano. Ele sabia que João Batista era um homem justo e piedoso. Ele também sabia que o executou em uma festa bizarra, lasciva e perversa para satisfazer seu próprio orgulho e a vingança de Herodias, com quem estava casado.

E então, ele fica apavorado com o receio de João Batista ter voltado dos mortos, por isso que ele queria ver Jesus. Ele queria verificar se de fato era João Batista.

Por que Herodes prendeu e executou João Batista? Antes de tudo, vamos conhecer um pouco da história sobre Herodes.

Quem era Herodes?

Ele é chamado, em Lucas 3:1, de tetrarca, isso significa que ele era um governante de um quarto de uma região. Roma estabelecia governantes regionais, que obedeciam às ordens de César. Se qualquer coisa desagradasse a César, eles eram substituídos, e muitas vezes exilados ou executados. Eles governavam com mão pesada, eram governantes de segundo escalão que adotavam o título de “reis”.

O Herodes que mandou matar João Batista, e interrogou Jesus à véspera da crucificação (Lucas 23:7-12), era conhecido como Herodes Antipas. O pai dele era conhecido como Herodes, o Grande, que, segundo sua vontade, após a sua morte seu reino seria dividido entre três dos quatro filhos que ainda estavam vivos. O outro filho sobrevivente, Herodes Filipe, que vivia em Roma, foi ignorado na partilha.

Herodes, o Grande, não era judeu, mas era descendente de Esaú. Então, ele estava fora da aliança que Deus fez com Jacó, mas ele se apegou ao povo judeu, e na superfície era um prosélito do Judaísmo. Ele recebeu o governo de toda a terra de Israel, que manteve sob o domínio de Roma por trinta e seis anos. Ele reconstruiu o segundo Templo de Jerusalém, por vezes chamado de Templo de Herodes.

  • Herodes, o Grande, era um homem mau, luxurioso, cruel e assassino.
  • Ele tentou matar Jesus após seu nascimento, ordenando o assassinato de todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo (Mateus 2: 16).
  • Mateus 2:19-20 relata a morte de Herodes, o Grande, quando o anjo avisou a José para retornar com Maria e Jesus do Egito para a terra de Israel.
  • E Mateus 2:22 diz que José foi avisado por Deus para ir para as regiões da Galileia, pois Arquelau (filho de Herodes, o Grande) reinava na Judeia.

Pouco antes de sua morte, Herodes, o Grande, havia assassinado todas as pessoas que ele pensava que poderiam ser uma ameaça ao seu trono, também assassinou seu próprio filho, Antípatro, cinco dias antes de sua própria morte. Ele matou todo o Sinédrio, os setenta anciãos governantes de Israel. Após sua morte, o reino foi dividido entre seus filhos:

  • Arquelau, que governou a Judeia, Samaria e Idumeia. Este era tão violento e ineficiente, que foi deposto. Pôncio Pilatos foi o quinto governador da Judeia.
  • Herodes Felipe II, governou as regiões ao norte das Galileia (Lc 3:1). Ele não durou muito e foi sucedido por Herodes Agripa, que também não durou muito. Atos 12 relata que ele foi comido por vermes.
  • Herodes Antipas é o principal Herodes dos relatos dos Evangelhos. Ele governou a Galileia e a Pereia (Lc 3:1), foi quem mandou matar João Batista e interrogou Jesus à véspera da crucificação (Lucas 23:7-12)
  • Lisânias, que não era filho de Herodes, governou uma outra área, a noroeste da Galileia, chamada de Abilene (Lc. 3:1).

Esses quatro homens tinham seu pequeno pedaço de Israel sob o governo de Tibério César, um homem miserável que sucedeu a César Augusto. Tibério era um pedófilo de vida indescritível, apenas a menção de seus atos libidinosos em si seria pecaminosa.

Herodes Antipas foi colocado por Tibério nessa posição, e enquanto os outros não duraram muito no poder, ele durou 42 anos, durante toda a vida de nosso Senhor Jesus. Herodes Antipas era o governante mesquinho de Roma no reino da Galileia. Ele era, então, quem tinha mais a perder se um movimento de rebelião acontecesse. E como o resto dos Herodes, ele era paranoico sobre seu poder.

Ele temia que se de fato João Batista tivesse ressuscitado dos mortos, ele teria o poder de vencer a morte, então Herodes estaria com sérios problemas diante de Roma. Ele exclamou: “É João, a quem eu mandei decapitar, que ressurgiu” (Marcos 6:16). Lucas 7: 7-9 registra:

Ora, o tetrarca Herodes soube de tudo o que se passava e ficou perplexo, porque alguns diziam: João ressuscitou dentre os mortos; outros: Elias apareceu; e outros: Ressurgiu um dos antigos profetas. Herodes, porém, disse: Eu mandei decapitar a João; quem é, pois, este a respeito do qual tenho ouvido tais coisas? E se esforçava por vê-lo.

Lucas 13: 31-32, diz:

Naquela mesma hora, alguns fariseus vieram para dizer-lhe: Retira-te e vai-te daqui, porque Herodes quer matar-te. Ele, porém, lhes respondeu: Ide dizer a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei.

Herodes Antipas continuava sua busca, mas a resposta de Jesus foi, em outras palavras: “Sou invencível até cumprir o propósito de Meu Pai. Hoje, amanhã e todos os dias futuros, ele não vai me matar como matou João Batista, até que Minha obra esteja completa”.

Dois pontos que desejo destacar aqui: o medo de Herodes e a loucura de Herodes. Seu medo é um medo real. É um pânico. É terror. Ele deve ter pensado: “Um homem ressuscitado que eu decapitei está vivo e deve vir atrás de mim. Eu quero vê-lo. Eu quero ver se de fato ele é João Batista”. Certamente, ele intentava fazer novamente a João Batista o que ele havia feito antes.

O MEDO DE HERODES

A morte de João Batista foi um ato pessoal do próprio Herodes, não foi a pedido de Roma. Ele mandou prender e amarrar João Batista na prisão, e depois mandou decapitá-lo.

Onde estava João Batista? De acordo João: 22 a 24, ele estava em Enon, perto de Salim, batizando no rio Jordão. Herodes deve ter enviado alguns homens lá e, no meio do ministério de João Batista, em que ele chamava os judeus ao arrependimento e apontava a todos que Jesus era o Messias, ele foi preso em sua fortaleza por cerca de um ano. Mas os discípulos de João, de acordo com Lucas 7:18, foram autorizados a visitá-lo.

A questão é: por que ele fez isso? Por que Herodes o prendeu e depois o decapitou?

Marcos 6
17 Porque o mesmo Herodes, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe (porquanto Herodes se casara com ela), mandara prender a João e atá-lo no cárcere.
18 Pois João lhe dizia: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão.
19 E Herodias o odiava, querendo matá-lo, e não podia.

Por causa de Herodias, esposa de seu irmão Filipe, com quem Herodes se casou. Herodias não é chamada de esposa, mas sim de “esposa de seu irmão Filipe”. Ele se casou com ela, mas foi um casamento ilegítimo, porque ela deveria ter continuado a ser a esposa de seu irmão Filipe.

Herodes, literalmente, a seduziu e roubou de seu irmão. Ela ainda era legitimamente a esposa de seu irmão. As Escrituras, nesse sentido, não reconhecem seu casamento com Herodes, por causa de sua natureza maligna.

Herodes já era casado com Aretas, a filha de Nebateu, rei da Arábia. Herodes tinha um irmão chamado Herodes Filipe, um dos muitos filhos nascidos das dez esposas de Herodes, o Grande. Não era o mesmo que recebera uma porção de Israel para governar. Este Herodes Filipe vivia em Roma, ele foi deserdado pela família Herodes e vivia sem as regalias da linha real.

Herodes Felipe era casado com Herodias, que era filha de outro filho de Herodes, o Grande. Ela se casou com seu tio Filipe, meio-irmão de seu pai. Ou seja, era um relacionamento incestuoso. Herodias tinha um irmão chamado Herodes Agripa, aquele que um anjo do Senhor o feriu, por não haver dado glória a Deus e foi comido de vermes (Atos 12:23).

Herodes Antipas foi a Roma, visitar seu irmão, e tem início ali algo entre ele e Herodias, a mulher de seu irmão, os quais ficaram juntos dali em diante. Aretas, que era casada com Herodes Antipas, revoltada, reúne um exército e obtém uma grande vitória sobre ele. Herodes Antipas só foi salvo quando o exército romano veio em seu socorro. Muito sangue foi derramado por causa desse relacionamento entre Herodias e Herodes Antipas.

  • Quando Calígula subiu ao trono em Roma como César, o Filipe que fora tetrarca da Traquonite e Ituraea havia morrido, e Calígula o deu a Herodes Agripa.
  • Herodias ficou zangada com isso, pois achava que a região deveria ter sido adicionada ao território de Herodes Antipas, com quem vivia um casamento adúltero.
  • Ela forçou Herodes Antipas a ir para Roma e buscar o título, para ter um reino maior para que ela pudesse ser uma rainha maior.
  • Mas, Calígula estava convencido de que Herodes Antipas era um homem traiçoeiro e perigoso, então ele e Herodias foram exilados e morreram no exílio. Foi um dia ruim quando Herodes conheceu Herodias.

O contexto é bastante complexo. Como João Batista entrou nisso?

Marcos 6
18 Pois João lhe dizia: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão.
19 E Herodias o odiava, querendo matá-lo, e não podia.
20 Porque Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo, e o tinha em segurança. E, quando o ouvia, ficava perplexo, escutando-o de boa mente.

O texto original tem o sentido de que João Batista declarava insistentemente que Herodes Antipas não poderia ter tomado Herodias como sua esposa, pois ela era neta de Herodes, o Grande, o pai do próprio Herodes Antipas. Era uma relação de incesto, um pecado condenado na lei mosaica (Lev. 18:6,16; 20:21 etc.). João Batista se irou por ter um homem com tal pecado governando terras de Israel.

João Batista era um profeta poderoso e confrontador. Parte da marca de sua grandeza era a sua coragem de enfrentar os pecados das pessoas, até mesmo dos líderes mais elevados, mesmo aqueles que tinham poder para matá-lo. Ele não temia quaisquer consequências.

Herodias se encheu de rancor contra João Batista e queria matá-lo. Porém, Herodes temia muito, porque sabia que ele era um homem justo e santo. Ele o manteve seguro contra Herodias, na prisão. Mas é evidente que João Batista incomodava muito a Herodes, pois deveria ouvir sobre as consequências de seu pecado. Certamente, ele o queria morto, mas não tinha coragem de atentar contra sua vida.

Herodes não conseguia entender a mensagem de João Batista. Ele não conseguia entender o que ele estava dizendo sobre o Messias, sobre o julgamento. Mas, ele gostava de ouvi-lo. Era uma espécie de curiosidade. Ele temia João Batista, tinha medo de matá-lo e depois temeu que tivesse ressuscitado.

A LOUCURA DE HERODES

Marcos 6
21 E, chegando um dia favorável, em que Herodes no seu aniversário natalício dera um banquete aos seus dignitários, aos oficiais militares e aos principais da Galileia,
22 entrou a filha de Herodias e, dançando, agradou a Herodes e aos seus convivas. Então, disse o rei à jovem: Pede-me o que quiseres, e eu to darei.
23 E jurou-lhe: Se pedires mesmo que seja a metade do meu reino, eu te darei.
24 Saindo ela, perguntou à sua mãe: Que pedirei? Esta respondeu: A cabeça de João Batista.

Então, saímos do medo de Herodes e chegamos na loucura de Herodes. Era o aniversário de Herodes, ele deu um banquete. Os judeus odiavam as celebrações pagãs, basicamente ignoravam os aniversários em sua cultura, mas os romanos faziam dos aniversários uma grande festa. Era uma desculpa para uma folia lasciva.

Ele convidou nobres da Galileia e Pereia, área que estava sob sua jurisdição, bem como seus comandantes militares. Esses nobres eram coletores de impostos e outras pessoas subordinadas a ele. Isso incluía judeus que ganhavam fazendo aliança com ele.

No meio dessa gente havia os herodianos, que eram judeus que apoiavam o domínio romano e eram opositores dos fariseus. Eles são citados em Marcos 3:6, quando se uniram com os fariseus para tramar a morte de Jesus. Juntaram forças com seus oponentes para combater um inimigo em comum. Eles se tornaram cúmplices da morte de João Batista.

Os judeus, em regra, teriam evitado uma festa em Tibério, porque a cidade havia sido construída sobre um cemitério. E ali aconteceu um evento só com homens, com muita gula, embriaguez e lascívia em seu nível mais alto. O ponto mais baixo foi quando a filha de Herodias entrou e fez uma dança maligna, provocando forte lascívia em Herodes, que lhe ofereceu qualquer coisa que pedisse.

A verdade é que ele não tinha nada para dar. Tudo ali era de Roma. Se ele desse algum passo em falso, cairia em desgraça. Foi apenas fanfarronice. Ele chegou a dizer que daria metade do reino, mas o reino nunca foi dele para que ele pudesse dar a alguém. Sua luxúria pervertida, misturada com seu orgulho tolo, o levou a uma promessa que custaria muito caro.

A filha de Herodias era uma arma nas mãos de sua mãe. Diante da oferta de Herodes, Herodias instruiu sua filha a pedir a cabeça de João Batista. Ela queria morto o profeta que alertava acerca de seu pecado.

Marcos 6
25 No mesmo instante, voltando apressadamente para junto do rei, disse: Quero que, sem demora, me dês num prato a cabeça de João Batista.
26 Entristeceu-se profundamente o rei; mas, por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, não lhe quis negar.
27 E, enviando logo o executor, mandou que lhe trouxessem a cabeça de João. Ele foi, e o decapitou no cárcere,
28 e, trazendo a cabeça num prato, a entregou à jovem, e esta, por sua vez, a sua mãe.

Herodes sentiu o peso do pedido, arrependeu-se da promessa, mas por orgulho e arrogância de cumprir o que disse, imediatamente mandou decapitar João Batista na prisão. Sua cabeça foi trazida num prato, em uma cena macabra e infernal. Naquela época, não era incomum trazer a cabeça de alguém que havia sido morto para a pessoa que o ordenou, como uma prova segura de que a ordem havia sido obedecida.

Depois de ficar preso por mais de um ano, João Batista estava morto. Seu trabalho havia sido concluído. O maior homem havia vivido até aquele dia, o maior de todos os profetas, por causa de sua missão de apontar o Messias, o Redentor, foi brutalmente assassinado para satisfazer a lascívia de um homem embrutecido. Os judeus que estavam na festa não protestaram. João Batista era um nada para eles.

Marcos 16
29 Os discípulos de João, logo que souberam disto, vieram, levaram-lhe o corpo e o depositaram no túmulo.

João Batista tinha muitos seguidores que iam ao Jordão ouvi-lo pregar sobre o arrependimento, justiça e o Reino. E eles vieram para pegar seu corpo e sepultá-lo. Deve ter sido um dia trágico para eles, pois aguardavam o Messias e o reino que João Batista dizia estar chegando. Tudo pareceu parar bruscamente. O profeta foi decapitado.

A REAÇÃO DE JESUS

Mateus 14
12 Então, vieram os seus discípulos, levaram o corpo e o sepultaram; depois, foram e o anunciaram a Jesus.
13 Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, à parte; sabendo-o as multidões, vieram das cidades seguindo-o por terra.

Os discípulos de João Batista relaram a Jesus o que havia acontecido com o homem que veio preparar o caminho do Senhor (Mateus 3:3), que havia dito: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29) e “Eu batizo com água; mas, no meio de vós, está quem vós não conheceis, o qual vem após mim, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias” (João 1:26,27).

O precursor do Messias agora estava morto. Eles foram anunciar a Jesus o que havia acontecido. E Jesus retirou-se dali para um lugar deserto.

Por quê? Foi um evento esmagador. Era a prévia mais dramática do que iria acontecer mais tarde com Ele. Isso aperta o coração do Filho de Deus encarnado. Requer silêncio e solidão por um tempo. O assassinato de João Batista, a atitude de Herodes e a cumplicidade de todos os judeus da elite da Galileia foi um golpe que tornou a cruz que em breve viria, muito, muito vívida.

Jesus temeu Herodes? Não. Ele enviou uma mensagem: Lucas 13:31-32 diz:

Naquela mesma hora, alguns fariseus vieram para dizer-lhe: Retira-te e vai-te daqui, porque Herodes quer matar-te. Ele, porém, lhes respondeu: Ide dizer a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei.

Herodes não poderia interferir no propósito divino. Jesus cumpriria seu ministério e só morreria no tempo determinado por Deus. Herodes não iria vê-Lo, até que se cumprisse tudo. E Lucas 23 relata o momento em que Herodes Antipas, finalmente, viu Jesus:

Lucas 23
6 Tendo Pilatos ouvido isto, perguntou se aquele homem era galileu.
7 Ao saber que era da jurisdição de Herodes, estando este, naqueles dias, em Jerusalém, lho remeteu.
8 Herodes, vendo a Jesus, sobremaneira se alegrou, pois havia muito queria vê-lo, por ter ouvido falar a seu respeito; esperava também vê-lo fazer algum sinal.
9 E de muitos modos o interrogava; Jesus, porém, nada lhe respondia.
10 Os principais sacerdotes e os escribas ali presentes o acusavam com grande veemência.
11 Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos.
12 Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois, antes, viviam inimizados um com o outro.

Herodes queria vê-lo há muito tempo porque tinha ouvido falar de Jesus, e esperava ver algum sinal realizado por Ele. Aqui está novamente esta curiosidade superficial que as pessoas tinham sobre Jesus.

Herodes o questionou longamente, mas Jesus nada respondeu. Jesus o tratou como se ele não tivesse autoridade, nenhum poder, como de fato ele não tinha.

Mas, os principais sacerdotes e os escribas estavam lá acusando-O veementemente. E Herodes, com seus soldados, depois de tratar Jesus com desprezo e zombaria, vestiu-O com um lindo manto e O mandou de volta a Pilatos. Agora, Herodes e Pilatos tornaram-se amigos naquele mesmo dia, pois, antes disso, eles eram inimigos.

Eles se odiavam, mas, finalmente, encontraram algo em que podiam concordar, sua rejeição comum a Jesus. Herodes teve que vê-Lo, queria saber se Jesus era João Batista ressuscitado dos mortos.

Herodes foi um homem trágico, superficial e triste, o pior dos piores, o mais baixo entre os mais baixos, perdido para sempre no inferno. Por medo de uma mulher, medo de perder seu trono, entregou-se ao orgulho tolo e amaldiçoou sua própria alma.

Horas depois daquele encontro com Herodes, os judeus gritaram pelo sangue de Jesus e pediram aos romanos que fizessem o trabalho sujo. Os romanos executaram Jesus, assim como executam João Batista, mas a nação de Israel rejeitou a ambos. Jesus lhes disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados… Eis que a vossa casa vos ficará deserta. (Mateus 23:3

É uma tragédia horrível quando esse privilégio é concedido e o privilégio é rejeitado. Eles continuaram a perseguir os pregadores do evangelho, até que onze dos doze apóstolos foram martirizados. E a perseguição continuou depois disso. A rejeição ao verdadeiro evangelho é trágica.

Quem rejeita Jesus Cristo, está na lista de Seus algozes. Não há como escapar disso. Ou você O abraça como Senhor e Salvador ou O rejeita. E se você O rejeita, você concorda com quem O perseguiu e O crucificou. Mas, Jesus continua ainda chamando o homem ao arrependimento, ao novo nascimento, ao perdão de seus pecados e a uma vida sobrenatural que conduzirá à eternidade com Ele. Esse é o evangelho.

Sim, eles O colocaram na cruz em rejeição, mas naquele mesmo ato de morrer na cruz, Ele pagou o preço por todos os pecados de todos os que creram. E se você crê, então você faz parte de tudo isso. Jesus disse:

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus (João 3: 16-18)

Vamos orar:

Pai, obrigado por mais uma vez as maravilhosas percepções que a Palavra tem. No entanto, quando lemos isso, não é um texto feliz, é uma realidade de partir o coração, dolorosa e agonizante, que toda a nação seria cúmplice na execução do maior dos homens e até mesmo na execução do Filho de Deus. Como alguém pode se voltar contra os profetas que falaram por Ti? Como alguém pode se voltar contra Teu próprio Filho?

E ainda assim, isso acontece o tempo todo. Senhor, oro para que libertes aqueles que, mesmo em nosso meio hoje ao ouvir esta mensagem, foram culpados de rejeição a Cristo, que estão com os crucificadores, os algozes, rejeitando a única esperança de salvação, perdão, fuga do julgamento e alegria eterna no céu. Faça o Teu trabalho nos corações, nós oramos, Senhor. Faça o evangelho viver. Faça Cristo vivo. Faça os mortos ganharem vida pelo Teu poder, oramos em nome do Teu filho. Amém.


Leia também:


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série


Este texto é uma síntese do sermão “The Murder of the Greatest Prophet”, de John MacArthur em 14/3/2010

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-29/the-murder-of-the-greatest-prophet

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno

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