Confissão de Pecados

A confissão bíblica de pecados

Vamos analisar profundamente a preciosa porção da Palavra de Deus contida de I João 1: 5 a I João 2:1, que diz:

I João 1
5 Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma.
6 Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.
7 Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.
8 Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.
9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
10 Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.

I João 2
1 Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo.

A palavra pecado é a que domina nesta passagem, em meio às impressionantes metáforas de escuridão e luz. Esta é uma seção sobre o pecado. Poderíamos realmente intitular esta seção como “a certeza do pecado” ou “confissão de pecado, uma evidência da salvação”.

Conforme vimos, João começou essa epístola tratando da certeza da encarnação de Jesus Cristo (I João 1: 1-4). Ele declarou:

O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida. (1 João 1:1)

E continuando sua apresentação de certezas, ele lida agora com a certeza do pecado, que exigiu que o verbo encarnado viesse, para que “aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (II Cor. 5:21).

Se alguém é um verdadeiro cristão, reconhece a realidade da encarnação de Jesus Cristo, bem como reconhece a realidade de seu pecado. E assim faz João, sem alarde, sem preliminares, sem qualquer saudação, salta com força total nas questões da certeza, certo da Palavra encarnada da vida e certo da realidade do pecado.

A responsabilidade de proclamar a verdade para proteger a igreja do erro

Antes de nos aprofundarmos nisso, gostaria de dizer que uma das responsabilidades dos pastores é a proteção. E isso inclui o dever de alertar. No livro de Atos registra os cuidados de Paulo com os Efésios. Ele diz:

Vocês sabem que não deixei de pregar-lhes nada que fosse proveitoso, mas ensinei-lhes tudo publicamente e de casa em casa… eu lhes declaro hoje que estou inocente do sangue de todos. Pois não deixei de proclamar-lhes toda a vontade de Deus. Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. Por isso, vigiem! Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir a cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas. (Atos 20:20. 26-27,29, 31)

Os pastores têm o dever de proteção do rebanho. E essa é a atitude com a qual João escreve. Ele está protegendo os fiéis. Ele repete a verdade para proteger a igreja do erro. Ele deseja manter a igreja segura na verdade. Ele está agindo como um protetor.

Na sua Segunda Carta, João diz:

II João
1 O presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade,
2 por causa da verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre,
3 a graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor.
4 Fiquei sobremodo alegre em ter encontrado dentre os teus filhos os que andam na verdade, de acordo com o mandamento que recebemos da parte do Pai.

O “presbítero” é uma referência a si mesmo. A “senhora eleita” é a própria igreja. Ele gira todas suas palavras em torno da verdade, na proteção da igreja em manter-se na verdade. Em sua Terceira Carta, ele diz:

Pois fiquei sobremodo alegre pela vinda de irmãos e pelo seu testemunho da tua verdade, como tu andas na verdade. Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade. (3 João 1:3,4)

O que motivou João foi chamar a atenção para que os irmãos andassem na verdade. Sua alegria era ver os irmãos andando na verdade. Ele sabia muito bem que nossa liberdade vem de conhecer a verdade. Jesus disse:

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (João 8:32)

O pastor não pode se mover ou ser motivado por nada a não ser ver que a igreja anda na verdade. Não deve viver de discursos, mas de profundo discernimento da Palavra de Deus, para que possa transmitir a verdade divina ao povo de Deus.

Qualquer pessoa que ama a verdade se torna um grande opositor do erro. Veja como João diz:

2 João 1
7 Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo.
8 Acautelai-vos, para não perderdes aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes completo galardão.
9 Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho.
10 Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas.
11 Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más.

Esse deve ser o coração de um pastor. Como todos os pastores fiéis fazem, João é totalmente dedicado à verdade. Ele procura ensinar a verdade a seu povo e protegê-los daqueles que ameaçam a verdade. Ao proteger a igreja da intrusão de falsos mestres, enganadores e anticristos, ele deve conhecer a sã doutrina, deve ensinar essa doutrina e, então, fornecer testes pelos quais os verdadeiros crentes possam ser distinguidos dos falsos.

Discernir o verdadeiro cristão e o falso cristão

O primeiro ponto de partida para proteger uma igreja é determinar quem é um verdadeiro cristão. Você nunca será capaz de proteger uma igreja de mentiras e enganos, da influência do ensino do anticristo, de falsos mestres, se você não consegue distinguir quem é um verdadeiro cristão e quem não é. Isso é essencial para a proteção da igreja.

Infelizmente, a maior parte da igreja está totalmente desprotegida hoje. Ela tem assumido um comportamento de tolerância e transigência com o erro, abrindo portas para a entrada de tudo. A igreja tem perdido a vontade de discernir. E quando a igreja não consegue mais distinguir o verdadeiro cristão do falso, ela já perdeu a distinção entre a verdade e o erro.

A clareza e convicção doutrinárias são essenciais para a igreja, mas ela tem se enfraquecido, até mesmo sobre essa questão. O novo “evangelho” inclusivo quer fazer de todo mundo um cristão, mesmo que não conheçam a Jesus. É o caminho para a autodestruição da igreja.

João disse que os enganadores devem ser identificados. Alguns são muito sutis, sempre haverá joio crescendo junto com o trigo, que não é possível distinguir. Mas aqueles identificados devem ser expostos para proteção da igreja. Isso é feito inicialmente identificando quem é um crente verdadeiro, pois ele não defende o falso evangelho.

Em sua Primeira Carta, João fornece testes pelos quais a igreja pode determinar quem é verdadeiramente um crente. Existe o teste objetivo da doutrina e existem os testes subjetivos de moralidade e amor. E ao fornecer à igreja esses testes, ele fornece os meios pelos quais uma pessoa pode avaliar sua própria condição espiritual, um meio pelo qual a igreja pode avaliar a condição espiritual de alguém. Aqueles que passam nos testes são conhecidos por representar a verdade. Aqueles que não passam nos testes são um perigo potencial para a igreja.

João escreveu com o objetivo de tornar nossa alegria plena. E a certeza da vida eterna produz segurança, maior desejo de santidade e discernimento sobre os falsos mestres. Ele disse:

Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus. Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. (1 João 5:13,20)

A confissão de pecados

O primeiro teste de autenticidade da fé é o teste de perspectiva sobre o pecado. Alguém que é verdadeiramente convertido tem o conhecimento de sua própria condição pecaminosa.

  • Não podemos entender a graça se não entendermos a lei.
  • Não podemos entender o perdão se não entendemos o pecado.
  • Não podemos entender o que significa ser libertado da condenação, a menos que entendamos a condenação.
  • Não podemos termos o valor de estarmos livres do juízo eterno sem entendermos a doutrina do castigo eterno.

É isso que nos enche da alegria: a compreensão do que significa ser libertos e ter a promessa de vida eterna no céu. Pessoas regeneradas confessam seus pecados prontamente. Ele diz:

I João 1
9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
10 Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.

O primeiro teste pelo qual podemos medir se uma pessoa é um cristão genuíno é sua atitude em relação ao pecado. Em termos simples, as pessoas regeneradas confessam seus pecados e as pessoas não regeneradas tendem a esconder seu pecado.

A confissão do pecado é algo absolutamente básico na experiência de alguém que nasceu de novo. A Escritura tem registros incríveis de confissões.

  • 1 Crônicas 21:17 Disse Davi a Deus: Não sou eu o que disse que se contasse o povo? Eu é que pequei, eu é que fiz muito mal…
  • Isaías 6:5 [Disse Isaías] ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios…
  • Salmo 32:3-5 Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado.
  • Salmo 38:4,6,18 Elevam acima de minha cabeça as minhas iniquidades; como fardos pesados, excedem as minhas forças… Sinto-me encurvado e sobremodo abatido, ando de luto o dia todo. Confesso a minha iniquidade; suporto tristeza por causa do meu pecado.

Todas essas são confissões de pecado. São reconhecimentos saudáveis, precisos e honestos da verdadeira condição de uma pessoa, isso produz cura. É o esmagamento da busca nociva e sinistra da autoestima, tão pregada pela Psicologia.

  • Daniel foi um homem piedoso do Antigo Testamento. Ele disse: “Falava eu ainda, e orava, e confessava o meu pecado e o pecado do meu povo de Israel, e lançava a minha súplica perante a face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus!”. (Daniel 9:20)
  • O apóstolo Pedro “prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador” (Lucas 5:8)
  • Na Parábola do fariseu e do publicano, Jesus disse que o publicano “não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13), enquanto o fariseu se vangloriava (Lucas 18:11-12).
  • O apóstolo Paulo disse: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”. (1 Timóteo 1:15)

Essas são grandes declarações de confissão. E somos chamados a tal reconhecimento de nossa pecaminosidade. Isso é básico para uma verdadeira compreensão da condição de si mesmo

Em Josué, capítulo 7, há um evento trágico. Israel havia vagado quarenta anos no deserto, e agora era a hora de entrar na terra prometida e Josué estava liderando seu povo. Eles vinham de uma grande vitória em Jericó para a cidade de Ai. Mas ali foram completamente derrotados. Josué ficou muito abatido.

Então, Josué rasgou as suas vestes e se prostrou em terra sobre o rosto perante a arca do Senhor até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e deitaram pó sobre a cabeça. Disse Josué: Ah! Senhor Deus, por que fizeste este povo passar o Jordão, para nos entregares nas mãos dos amorreus, para nos fazerem perecer (Josué 7:6,7).

Mas Deus disse a Josué:

Levanta-te! Por que estás prostrado assim sobre o rosto? Israel pecou, e violaram a minha aliança, aquilo que eu lhes ordenara, pois tomaram das coisas condenadas, e furtaram, e dissimularam, e até debaixo da sua bagagem o puseram… já não serei convosco, se não eliminardes do vosso meio a coisa roubada. Dispõe-te, santifica o povo e dize: Santificai-vos para amanhã, porque assim diz o Senhor, Deus de Israel: Há coisas condenadas no vosso meio, ó Israel; aos vossos inimigos não podereis resistir, enquanto não eliminardes do vosso meio as coisas condenadas. (Josué 7: 10-13)

E então, foi revelado o pecado no meio do povo:

Então, disse Josué a Acã: Filho meu, dá glória ao Senhor , Deus de Israel, e a ele rende louvores; e declara-me, agora, o que fizeste; não mo ocultes. Respondeu Acã a Josué e disse: Verdadeiramente, pequei contra o Senhor, Deus de Israel, e fiz assim e assim (Josué 7: 19-20).

Podemos ver a sequência do pecado de Acã:

Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma barra de ouro do peso de cinquenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata, por baixo. (Josué 7:21)

Ele primeiro viu os despojos, depois os cobiçou, então tomou os despojos e depois os escondeu, para que seu pecado ficasse oculto. E Josué foi muito severo em tratar esse pecado camuflado:

Então, Josué e todo o Israel com ele tomaram Acã, filho de Zera, e a prata, e a capa, e a barra de ouro, e seus filhos, e suas filhas, e seus bois, e seus jumentos, e suas ovelhas, e sua tenda, e tudo quanto tinha e levaram-nos ao vale de Acor. Disse Josué: Por que nos conturbaste? O Senhor , hoje, te conturbará. E todo o Israel o apedrejou; e, depois de apedrejá-los, queimou-os. (Josué 7:24,25)

Acã confessou seu pecado, e mesmo assim ele e os demais envolvidos foram mortos. Obviamente houve cumplicidade de toda a sua família no processo de esconder isso.

Você deve estar se perguntando: “Isso não foi muito severo?”. Deus é glorificado como sendo puro demais para olhar para a iniquidade. A santidade de Deus é protegida. Deus é glorificado quando confessamos nossos pecados, mas quando Deus castiga o confessor, Ele é honrado como sendo justo e santo.

A confissão de pecado é a coisa nobre a se fazer. Libera Deus para punir ou corrigir sem ser acusado de ser injusto. Mas os homens não gostam de confessar seus pecados. Eles desenvolvem sistemas filosóficos e até religiosos muito complicados para remover a necessidade de confessar seus pecados. Eles vão tão longe, a ponto de negar que o pecado existe ou alegam que o pecado tem uma causa física.

O homem criou muitas maneiras de negar o pecado, mas as leis da moralidade estão embutidas no homem. Romanos 2 relata a luta do homem com sua consciência. O homem faz tudo o que pode para silenciar a voz da sua consciência, escapar da acusação, negar o pecado e o juízo. Ele tenta se convencer de que o pecado não existe e que o julgamento também não existirá. Não é apenas um pensamento filosófico, trata-se de amar o pecado e não querer as consequências.

Em Malaquias há uma ilustração de como os testes doutrinários sobre o pecado são importantes, de forma semelhante com que João trata em suas Cartas. Aqui Malaquias está tratando com os sacerdotes.

  • Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e ainda perguntais: Em que te havemos profanado? Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal (1:7-8).
  • Ainda fazeis isto: cobris o altar do Senhor de lágrimas, de choro e de gemidos, de sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer da vossa mão. E perguntais: Por quê? Porque o Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. (2:13,14).
  • Enfadais o Senhor com vossas palavras; e ainda dizeis: Em que o enfadamos? Nisto, que pensais: Qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos do Senhor, e desses é que ele se agrada; ou: Onde está o Deus do juízo? (2:17).
  • Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros, diz o Senhor dos Exércitos; mas vós dizeis: Em que havemos de tornar? (3:7).
  • Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. (3:8).

E no fim, o profeta diz:

Pois eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e todos os que cometem perversidade serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo. Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas; saireis e saltareis como bezerros soltos da estrebaria. (Malaquias 4:1,2).

Deus leva muito a sério alguém que não reconhece o pecado. A razão pela qual as pessoas não confessam seus pecados é porque desejam o pecado impunemente.

E então, quando Deus vem com o julgamento da justiça, eles disseram: “Ó, onde está o Deus da justiça? Isso não é justo. O que nós fizemos de errado? Somos bons.

É isso que as pessoas no mundo estão fazendo hoje. Elas pensam que o Deus verdadeiro é injusto porque enviará os ímpios para o inferno eterno. Pensam que Ele é injusto. E isso é porque eles não reconhecem seus pecados.

Mas quando o homem nasce de novo e confessa seu pecado, ele glorifica ao Senhor por tão grande salvação, mas não deixa de reconhecer que se dependesse de si mesmo, mereceria o inferno, o juízo e a morte. Ele reconhece que foi liberto pelo mérito de Cristo, que o justificou. E assim O glorifica como santo e justo.

Mas a mensagem do evangelho é uma ofensa ao mundo. A ira e o juízo de Deus sobre os pecadores é algo incompreensível. O mundo se recusa a reconhecer sua condição pecaminosa, e diz: “Que tipo de Deus traria o juízo? Por que Ele faria isso? Isso não é justo!”.

Então, voltando para a Primeira Carta de João, vemos a preocupação do apóstolo com as igrejas da Ásia Menor, que estavam sendo atacadas por enganadores e falsos mestres que negavam o pecado.

A situação não era muito diferente em relação aos nossos dias. O homem hoje não é definido em termos morais, mas psicológicos. Ele não é definido como pecador, mas como psicologicamente doente, e é tratado com terapias ou remédios. Deixar a mente humana funcionando apenas pela metade é visto como uma solução. Mas Jesus disse:

Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem. (Marcos 7:21-23)

Esse diagnóstico nunca é feito. E nunca a Psicologia ou qualquer outro conhecimento reconhecerá ou saberá lidar com a realidade do pecado. Até mesmo a igreja hoje reluta em fazer esse diagnóstico, porque o mundo vê isso como muito ofensivo. As pessoas querem continuar a pecar sem quaisquer consequências negativas. E então, quando confrontados, elas são como as pessoas da época de Malaquias: “O que nós fizemos? Nós somos bons!”.

João sabia que nas igrejas da Ásia Menor havia falsos mestres negando a realidade do pecado, bem como negando que Jesus fosse uma pessoa real. Por exemplo, Cerinto ensinava que Cristo era um espírito celeste separado do homem Jesus. Por isso João começou sua Primeira Carta dizendo:

O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (1 João 1:1)

A heresia do gnosticismo, influenciada por filósofos como Platão, alegava que o espírito do homem é sempre bom e a matéria (corpo) é sempre perversa. Então qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não tem valor algum, porque a vida verdadeira existe no reino espiritual apenas. Os gnósticos se enxergam como uma classe privilegiada e mais elevada sobre todas as outras devido ao seu suposto conhecimento superior e mais profundo de Deus.

Alguém tomado por essa filosofia não está disposto a confessar seu pecado e nem admitir sua culpa pela iniquidade. A palavra traduzida como “confessar”, no original grego, tem o sentido de “dizer o mesmo que Deus diz acerca do pecado”, vendo o pecado da perspectiva divina.

Mas o misticismo herético em desenvolvimento, que estava entrando nas igrejas naquela época, mais tarde se desenvolveu em um gnosticismo completo, está presente em toda história até nossos dias. Essa heresia não reconhece que o pecado seja um problema, porque diz que o espírito não é afetado pelas obras da carne. Então nega o pecado, isenta o homem de culpa e diz que nenhum juízo o aguarda por suas iniquidades.

E então, João confronta essa heresia e diz:

Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. (1 João 1:9,10)

E esse se torna o primeiro teste pelo qual você pode determinar um verdadeiro cristão. Qualquer pessoa que não reconhece ser um pecador e não confessa seus pecados, não pode ser um cristão. Não se trata de uma mera profissão verbal, mas movido pela ação do Espírito Santo.

E onde está o ponto de partida para se entender o pecado?

Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. (1 João 1:5)

O ponto de partida para entender o pecado é a natureza de Deus. Se temos um verdadeiro entendimento da natureza de Deus, entenderemos o que é o pecado.

E da próxima vez vamos descobrir o que significa “Deus é luz”. Esse é o ponto de partida para qualquer doutrina do pecado. E é o ponto de partida para a igreja determinar os falsos mestres, que virão das fileiras daqueles que não têm um verdadeiro entendimento de sua própria pecaminosidade.

Vamos orar.

Pai, é uma riqueza além da compreensão saber a Tua verdade. Nós simplesmente nunca deixamos de nos surpreender com sua profundidade. Nós vamos mais fundo e mais fundo, e mais largo e mais largo, e não chegamos perto da borda do fundo. Tão rico, tão rico. Este é um assunto doloroso, mas necessário. Ajude-nos a ter discernimento sobre nossas próprias vidas, a saber que podemos ter certeza de nossa salvação se confessarmos genuinamente nossos pecados.

Também podemos ser protegidos como igreja por saber quem é que tem uma compreensão exata e bíblica do pecado, crê nisso, porque os falsos mestres não só terão uma doutrina errada de Cristo, eles terão uma doutrina errada de si mesmos. Não apenas sua cristologia estará errada, mas sua antropologia também. E isso vai levar a uma soteriologia errada. E assim, na proteção da Tua igreja, temos que começar com uma verdadeira compreensão do pecado, bem como chegar a uma verdadeira certeza por saber que temos uma doutrina exata do pecado que se aplica a nós; e entendendo isso, estamos ansiosos para confessar e nos arrepender disso.

Continue a nos dirigir e a encher nossos corações com o desejo de glorificar-Te, confessando o pecado, mesmo que isso signifique que o Senhor é livre para nos punir, pelo que Te glorificaríamos por Tua santidade. Obrigado pelo nosso dia juntos e por esta Palavra que o Senhor nos enviou através do Teu Espírito, em nome do Teu Filho, Amém.


Este sermão faz parte de uma série, em breve publicaremos os seguintes.


Este texto é uma síntese do sermão “The Certainty of Sin, Part 1”, de John MacArthur em 5/5/2002

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/62-4/the-certainty-of-sin-part-1

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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2 Responses

  1. ROBINSON DANIEL DOS SANTOS disse:

    O texto é excelente.
    E demonstra, muito bem, a necessidade de confissão.
    No entanto, não fica claro porque, mesmo chegando tão próximo de luminosa verdade, reneguem o sacramento da penitência, que amplia esse horizonte e refaz o canal da Graça.
    É como se estivesse em num banquete, mas rejeitassem o prato principal!

  2. Site Rei Eterno - ADM disse:

    Prezado, o “prato principal”, mencionado por você, é algo totalmente estranho à Palavra de Deus, bem como inconsistente com a obra de Cristo consumada na cruz. O perdão é um dom de Deus, que foi concedido por inteiro mérito de Cristo. A confissão de pecados, biblicamente falando, não tem função de completar a obra de Cristo, é apenas um ato natural que o novo nascido faz por conhecer quão indigno ele é. É um reconhecimento da miséria humana e, ao mesmo, tempo, contemplação da grandiosidade da salvação, que ser humano algum jamais mereceu.

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