O Significado da Cruz para Deus

Contemplar a cruz da perspectiva de Deus

Não é o modo comum que se pensa sobre a cruz. Pensamos quase que exclusivamente na cruz com relação a nós mesmos. Sempre repetimos que:

  • Cristo morreu pelos ímpios (Rom. 5:6)
  • Cristo morreu por nós (Rom. 5:8)
  • Cristo morreu pelos nossos pecados (I Cor. 15:3)
  • Cristo morreu por nossa salvação (João 3:16)
  • Cristo morreu para nos resgatar do juízo eterno (João 3:18,36)

Todas essas afirmações são bíblicas e, portanto, completamente verdadeiras. E, com certeza, devemos celebrar tudo aquilo que a cruz significa para nós.

No entanto, contemplando a expiação a partir da perspectiva celestial, também precisamos reconhecer e confessar que foi para Deus que Cristo morreu.

[Cristo] se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai (Gálatas 1:4).

Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou… (Romanos 8:32)

Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. (João 4:34)

Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. (João 6:38)

Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos. (Isaías 53:10)

Dizer que Jesus morreu em primeiro lugar para Deus pode causar espanto em muitos. E a causa disso é a falta de entendimento sobre a maneira pela qual a morte de Cristo satisfez a justiça de Deus, bem como a maneira pela qual a cruz glorifica a Deus.

Veja o que Paulo escreveu:

Romanos 11
33 Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
34 Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?
35 Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído?
36 Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!

Minha mente se detém nessa frase: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas”. A que Paulo se refere quando diz “todas as coisas”? As coisas relacionadas à salvação, ao evangelho, que foi o tema dos onze primeiros capítulos da carta aos Romanos.

Em Romanos 1 a 11 vemos que “todas as coisas” vem da parte Deus e são realizadas por intermédio de Deus, e servem para manifestar a sua glória. Mostram que Deus é a fonte, o meio e o objeto da obra redentora.

Tudo aponta para Deus, e essa foi a perspectiva clara de Jesus por toda a sua vida terrena. Veja o que Ele disse:

Quem fala por si mesmo está procurando a sua própria glória; mas o que procura a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça. (João 7:18)

E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada. (João 8:29)

O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou. (João 5:30)

E próximo a sua morte na cruz, Jesus disse:

Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer (João 17:4)

Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei. (João 12:27,28)

Por isso Pedro declarou: “para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo” (1 Pedro 4:11).

Temos a tendência de focar apenas sobre o que a cruz significa para nós e pouco pensamos sobre o que ela significa para Deus.

Para que a Cruz possa significar algo para nós, ela tem que significar tudo para Deus. Quanto melhor entendermos isso, entenderemos a cruz de forma bem mais clara.

A morte de Cristo foi um sacrifício para Deus

O Antigo Testamento detalha cuidadosamente o sistema de sacrifícios e de ofertas a Deus. Esse sistema foi uma maneira simbólica e temporária pela qual o pecador poderia se aproximar de Deus. Tudo deveria ser oferecido somente ao Deus verdadeiro.

Os sacrifícios e ofertas eram destinados a Deus, de forma que pudesse agradá-lo, pois o pecado é uma ofensa e desonra a Deus. O pecador está sob a ira de Deus, os sacrifícios e ofertas deveriam subir como incenso agradável a Deus (Lev. 1:9; 2:2 etc.).

Como o salário do pecado é a morte (Rom. 6:23), a punição do pecado é a morte. E os sacrifícios e ofertas tinham exatamente essa finalidade, tornar o animal sacrificado uma espécie de procurador pela culpa e castigo do pecador.

Esses sacrifícios tinham que ser repetidos de forma interminável, pois não poderiam cobrir o pecado em definitivo, “porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados” e “nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos” (Hebreus 10: 3-4).

Deus não se deleitava com holocaustos e ofertas pelos pecados (Hebreus 10:6). E então Jesus faz o sacrifício definitivo que satisfez plenamente a Deus.

Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus… (Hebreus 10:11-13)

Jesus não era apenas o sacrifício, mas também o sacerdote, o verdadeiro sumo-sacerdote, cuja oferta de si mesmo, uma vida sem pecado e perfeita, era o sacrifício completo, final e aceitável para Deus.

Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave. (Efésios 5:2)

Assim como eram os sacrifícios na Velha Aliança, Jesus morreu como um sacrifício para Deus, um incenso suave. A expiação nunca precisa ser repetida. Deus se satisfez, se tornou propício.

A morte de Cristo foi um ato de submissão para Deus

Hebreus 10
5 Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste;
6 não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado.
7 Então, eu disse: Eis aqui estou, para fazer, ó Deus, a tua vontade.
8 Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste,
9 então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo.

Quando Cristo fala sobre o sacrifício que agrada a Deus, Ele utiliza a linguagem do Velho Testamento. A morte de Cristo na cruz foi um ato de obediência à vontade do Pai.

A vida inteiro de Cristo foi perfeita. Ele fez tudo o que o Pai queria que Ele fizesse. Mesmo quando criança, com entendimento mais limitado, Ele obedeceu a Deus até onde podia entender (Lucas 2:49). A sua vida foi de uma obediência completa, e o seu prazer estava em fazer a vontade de Deus.

E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada. (João 8:29)

Ele foi obediente mesmo diante da realidade próxima de receber o cálice da ira de Deus. Ele nunca havia sido reprovado pelo Pai, mas, de forma humanamente incompreensível, Ele assumiu o castigo de miseráveis pecadores.

Tudo que Cristo fez foi resultado de sua submissão completa ao propósito do Pai, e sua justiça perfeita e imaculada, em toda a sua plenitude, é imputada a todos aqueles que creem.

A obra de Cristo a nosso favor não começou na cruz, por toda sua vida terrena ele estava cumprindo toda a justiça. Mesmo com o espanto de João Batista, ele foi batizado. E o foi apenas para que cumprisse toda justiça (Mateus 3:15). Ele não precisava do batismo de João, que era de arrependimento, mas sua justiça envolve até o símbolo do arrependimento.

[Cristo] subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. (Filipenses 2:6-8)

Sua vida perfeita é creditada na nossa conta como justiça, tal como sua obediência até a morte é creditada em nossa conta como pagamento pelo nosso pecado. Deus tinha que ser satisfeito com a submissão e o sacrifício, antes que a sua ira e a sua justiça se tornassem propícias

A morte de Cristo foi uma oferta substitutiva para Deus

Cristo foi oferecido somente uma vez para levar o pecado de muitos. Ele não morreu por seus próprios pecados, ele não tinha nenhum pecado. Ele foi oferecido em substituição aos eleitos de Deus.

Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus (1 Pedro 3:18)

Um morreu por todos; logo, todos morreram (2 Coríntios 5:14).

Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus. (2 Coríntios 5:21)

Ele mesmo carregou em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados. (1 Pedro 2:24)

Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.  (Isaías 53: 5-6)

Deus fez com que a iniquidade de todos os crentes caísse sobre Jesus. Essa é a substituição. O pecado é uma violação da lei de Deus e de sua santidade, bem como uma desonra para Deus. O pecado estragou a perfeição da criação e flagelou a humanidade.

Todo pecado deve ser punido. Nenhum pecado de toda a história humana ficará sem punição. A recompensa do pecado é a morte (Rom. 6:23), todos pecadores sofrerão a morte (Ezequiel 18:20). Isso é absoluto. A tragédia do pecado é consequência da ofensa e rebeldia contra Deus e não de suas consequências terrenas. Qualquer que seja o pecado, nunca será uma questão banal.

É uma mensagem que o mundo rejeita, mas isso não afasta essa realidade espiritual. Mas a morte de Cristo foi substitutiva em favor de todos que creem em seu nome. Ele cancelou a cédula de condenação que havia contra os eleitos de Deus e a cravou na cruz (Colossenses 2:14).

Devido ao fato de Jesus ser uma pessoa infinita, Ele ofereceu um sacrifício perfeito, sobre Ele pesou o cálice da ira de Deus contra o pecado. Todos os horrores do inferno eterno que merecíamos foram suportados por Cristo na cruz. A morte de Jesus é o único e perfeito sacrifício, seu poder de redimir todos os crentes é absoluto.

A morte de Cristo foi uma satisfação para Deus

Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos. (Isaías 53:10)

A oferta de Cristo foi suficiente para aplacar a ira de Deus contra o pecado e cumprir todas as exigências santas de sua justiça perfeita.

Deus não poderia estar satisfeito conosco até que o sacrifício do seu próprio filho pagasse completamente o preço de nosso pecado e não poderia nos receber em sua família até que Cristo comprasse o nosso perdão.

Como sabemos que Deus ficou satisfeito? Pelo fato de que Ele ressuscitou Cristo dentre os mortos, o levou para a glória e o assentou à sua direita (Hebreus 1:3).

É importante sabermos do que fomos salvos: da escravidão do pecado, do inferno eterno e do juízo eterno. Cristo foi enviado por Deus para satisfazer o julgamento divino, levando o castigo que era nosso (Isaías 53:5). E aquele que não crê em Cristo já está condenado (João 3:18).

A morte de Cristo foi a nossa salvação para Deus

Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. (Colossenses 1:13,14)

A salvação pode ser mais bem compreendida ao se entender duas palavras: Fomos remidos e resgatados.

  • Remir alguém é comprar a liberdade do homem da escravidão, do cativeiro ou do castigo.
  • O resgate é o preço pago pela redenção.

O Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. (Mateus 20:28)

Para quem foi pago o resgate do pecador? A Deus. Algumas pessoas pensam de forma errada, pensando que o regaste foi pago a Satanás. Não é Satanás que lançará a alma e corpo do ímpio no inferno, mas Deus (Mateus 10:28). O juiz de todos os homens é Deus e não Satanás (Hebreus 12:23).

É o próprio Deus, na pessoa de Jesus Cristo, que nos comprou com seu próprio sangue (Atos 10:28).

Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, (1 Pedro 1:18,19).

Com sua morte, Cristo pagou o resgate para remir o seu povo da maldição da lei. Ele se fez maldição por nós para tirar a maldição de nós (Gálatas 3:13), e Deus ficou muito satisfeito.

A morte de Cristo foi o meio da nossa filiação a Deus

Ao nos reconciliar com Deus, Cristo fornece tudo o que nos é necessário para nos tornamos filhos de Deus. Deus nos leva ao seu relacionamento e a sua comunhão mais íntima como família.

Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida; e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação. (Romanos 5:10,11)

Muitas pregações atuais colocam todo o destaque na hostilidade do pecador a Deus, e receio que isso tenha a tendência de dar a impressão aos pecadores que tudo o que se precise para a salvação é a decisão de seu próprio livre-arbítrio de parar de discordar de Deus.

A ideia de expiação sacrificial que nos propicia para Deus desapareceu completamente da mensagem que os cristãos proclamam ao mundo. Penso que muitas pessoas têm a imagem de Deus como uma divindade inofensiva e passiva, sentada no céu desejando que as pessoas parem de rejeitá-lo e começassem a amá-lo.

Isso não é o evangelho! A mensagem do evangelho não diz que Jesus morreu da cruz para tirar a nossa hostilidade contra Deus, mas para que Deus retirasse sua hostilidade contra nós. A mensagem do evangelho diz que a ira de Deus foi aplacada pela morte de Jesus Cristo.

Efésios 2
1 Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,
2 nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência;
3 entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.
4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou,
5 e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos,

Todos os que creem agora são bem-vindos para vir a Cristo para alcançar o perdão. A única razão pela qual podemos nos aproximar dele pela fé é porque, em um ato decisivo sobre a cruz, a hostilidade de Deus foi encerrada para todo aquele que nele crê.

A cruz primeiramente é tudo para Deus para depois ser algo para nós. E dizemos com Paulo: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gálatas 6:14).


Este texto é uma síntese do sermão “God’s Glory Through Christ’s Death”, de John MacArthur em 08/01/2006.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/80-300/gods-glory-through-christs-death

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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