Parábola dos Lavradores Maus

Na parábola dos lavradores maus, o filho foi morto. A história mudou de uma vinha para um edifício onde o Filho ressurreto e glorificado se tornou a pedra angular (Ef. 2:20-22). Deus  removeu a mordomia de seus oráculos da classe religiosa e a entregou aos apóstolos, cuja doutrina fundamentou a igreja (At. 2:42).

Sempre houve críticos que disseram que Jesus era um nobre mestre, um líder religioso e um homem espiritual com ideias grandiosas. Que ele teria feito um nobre esforço mal sucedido e que terminou em tragédia.

Esse pensamento é totalmente falso. Jesus não foi surpreendido com a cruz, ele veio exatamente para isso. Ele era o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap. 13:8). Antes de chegar a Jerusalém para a última semana de sua vida, ele falou sobre isso com frequência.

Então, começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias, ressuscitasse. (Mc. 8:31)

Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas; condená-lo-ão à morte e o entregarão aos gentios; hão de escarnecê-lo, cuspir nele, açoitá-lo e matá-lo; mas, depois de três dias, ressuscitará. (Mc. 10:33-34).

Não há absolutamente nenhuma dúvida sobre o fato de que ele sabia sobre Sua morte vindoura. Ele sabia todos os detalhes, coisas que nem os líderes religiosos e carrascos romanos sabiam.

Ele disse que “o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc. 10:45). Jesus não morreria uma morte solitária de um homem desapontado, Ele morreria uma morte que foi um resgate para Deus por muitos.

Ele entendia perfeitamente a realidade substitutiva de Sua morte. Ele sabia que estava cumprindo o propósito do Pai para resgatar aqueles a quem Deus havia escolhido.

Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. […] Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. (João 6: 37, 44).

Em Marcos 12 registra a quarta-feira da semana da cruz, na sexta Jesus seria crucificado. Ele havia entrado triunfalmente em Jerusalém na segunda-feira, sendo aclamado como rei por uma multidão superficial (Mc. 11:1-10). Sua popularidade estava enorme.

Na terça-feira ele entrou no templo e expulsou de lá os mercadores que operavam negócios imundos conduzidos pela liderança religiosa (Mc. 11:11-18). A popularidade momentânea de Jesus provocou o ódio mortal da liderança religiosa.

Ali Jesus exibiu um imenso poder, e sua aceitação pelo povo era enorme. Mas ele sabia que aquele mesmo povo iria se voltar contra ele dois dias depois, pedindo sua morte.

Vimos nos sermão anterior o confronto que ele teve com a liderança religiosa, que o questionou dizendo: “Com que autoridade fazes estas coisas? Ou quem te deu tal autoridade para as fazeres?” (Marcos 11:28). Eles estavam decididos a matá-lo.

Ao chegarmos ao capítulo 12, Jesus está na área do templo pregando. Por pelo menos um dia ou mais, o templo ficou livre dos negócios corruptos e deu lugar a presença santa de Jesus e sua pregação.

O desejo da liderança religiosa pela morte de Jesus e a compreensão que Jesus tinha sobre sua morte vindoura se unem em uma parábola.

Esta é uma história dramática, inesquecível e inconfundível, que aponta para as más intenções assassinas dos líderes de Israel e também aponta para a morte de Cristo. Ambas eram uma realidade.

Marcos 12:1-9 registra a parábola dos lavradores maus, que também está registrada em Mateus 21:33-46 e Lucas 20:9-19.

Marcos 12
1 Depois, entrou Jesus a falar-lhes por parábola: Um homem plantou uma vinha, cercou-a de uma sebe, construiu um lagar, edificou uma torre, arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país.
2 No tempo da colheita, enviou um servo aos lavradores para que recebesse deles dos frutos da vinha;
3 eles, porém, o agarraram, espancaram e o despacharam vazio.
4 De novo, lhes enviou outro servo, e eles o esbordoaram na cabeça e o insultaram.
5 Ainda outro lhes mandou, e a este mataram. Muitos outros lhes enviou, dos quais espancaram uns e mataram outros.
6 Restava-lhe ainda um, seu filho amado; a este lhes enviou, por fim, dizendo: Respeitarão a meu filho.
7 Mas os tais lavradores disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo, e a herança será nossa.
8 E, agarrando-o, mataram-no e o atiraram para fora da vinha.
9 Que fará, pois, o dono da vinha? Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros.

A parábola demonstra a malignidade daqueles lavradores que arrendaram a terra de um proprietário que plantou uma vinha. Nesta parábola Jesus atingiu em cheio os líderes religiosos de Israel que estavam ali para afrontá-lo, tal como vimos no sermão anterior, sobre  Marcos 11:27-33.

Ali estavam presentes o povo e os líderes religiosos. Esses líderes legalistas hipócritas se consideravam a essência da pureza e da justiça. Na parábola Jesus demonstrou sua indignação contra aqueles lavradores maus, que eram a exata figura da liderança religiosa de Israel.

O drama dessa parábola é chocante, retratando a perversidade daqueles homens. E Jesus estava tratando da liderança religiosa que se orgulhava de bondade, devoção e autojustiça. Eles procuravam a todo custo manter uma autoimagem pública. Essa parábola foi uma terrível afronta intolerável para eles. Quando Jesus terminou a parábola Lucas 20:19 diz:

Naquela mesma hora, os escribas e os principais sacerdotes procuravam lançar-lhe as mãos, pois perceberam que, em referência a eles, dissera esta parábola; mas temiam o povo.

Vamos então ver esta parábola de Jesus em detalhes.

Marcos 12
1 Depois, entrou Jesus a falar-lhes por parábola: Um homem plantou uma vinha, cercou-a de uma sebe, construiu um lagar, edificou uma torre, arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país.
2 No tempo da colheita, enviou um servo aos lavradores para que recebesse deles dos frutos da vinha;

É uma citação de Isaías 5:1-2, que diz:

Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu amado a respeito da sua vinha. O meu amado teve uma vinha num outeiro fertilíssimo. Sachou-a, limpou-a das pedras e a plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre e também abriu um lagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas.

O texto de Isaías diz que o proprietário tomou todas as providências necessárias para que a vinha fosse produtiva e tivesse proteção. A plantação foi em uma terra muito fértil. É uma figura clara da eleição de Israel por Deus, mas, em vez de produzir boas uvas, a nação somente produziu uvas azedas e não comestíveis, ou seja, imprestáveis.

Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do Senhor; este desejou que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor. (Isaías 5:7)

O plantador da vinha é o Senhor e a vinha é a casa de Israel. Deus plantou Israel para produzir bons frutos. Ele queria frutos de justiça, mas só viu iniquidades. Por isso Jesus usou essa passagem de Isaías nesta parábola. 

No caso de Isaías, o que aconteceu? Israel desertou, produziu bagas azedas. Este é um símbolo de sua apostasia. No restante do capítulo 5 de Isaías, o Senhor profere diversos juízos a Israel, entre eles:

Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito! (Isaías 5:20,21).

Então, da mesma forma de Isaías, Jesus retrata a história de Israel nesta parábola. E Ele disse que o proprietário arrendou a vinha a uns lavradores e se ausentou do país por um prazo longo (Lc. 20:9).

Esse tipo de arrendamento era muito comum na época de Jesus e existe até hoje com muita frequência. Nem todo mundo que cultiva a terra é o dono da terra. Os lavradores arrendavam a terra através de um contrato e davam uma parte dos rendimentos da colheita ao proprietário.

Geralmente levava cinco anos desde o momento em que um vinhedo era plantado, para chegar à época da colheita. Então teria sido, com certeza, uma longa viagem do proprietário. Na época os proprietários enviavam seus servos para receber sua parte na vinha. Os mandatários do proprietário cobravam a quantia contratada que lhe era devida.

A ação perversa dos lavradores

Marcos 12
2 No tempo da colheita, enviou um servo aos lavradores para que recebesse deles dos frutos da vinha;
3 eles, porém, o agarraram, espancaram e o despacharam vazio.

Que conduta terrível, ultrajante e ingrata! A maior parte da colheita era dos lavradores, mas em atitude terrível de ingratidão e rebelião, eles espancaram o servo do proprietário e o mandaram embora sem nada.

Marcos 12
4 De novo, lhes enviou outro servo, e eles o esbordoaram na cabeça e o insultaram.
5 Ainda outro lhes mandou, e a este mataram. Muitos outros lhes enviou, dos quais espancaram uns e mataram outros

O proprietário mandou outro servos, mas o resultado foi o mesmo. Insistiu enviando outros, alguns eles espancaram e outros eles mataram. Terrível!. Um comportamento bizarro!

Talvez você diga: “Ei, chega! Manda um exército e resolve isso de uma vez! Isso resolve com certeza!” Mas a história fica ainda mais incrível. O proprietário resolveu enviar seu filho amado.

Marcos 12
6 Restava-lhe ainda um, seu filho amado; a este lhes enviou, por fim, dizendo: Respeitarão a meu filho.
7 Mas os tais lavradores disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo, e a herança será nossa.
8 E, agarrando-o, mataram-no e o atiraram para fora da vinha.

O filho era herdeiro, era o mais precioso da casa. Mas os lavradores cresceram em perversidade, ambicionando tomar tudo, mataram o filho do proprietário.

Jesus adorava colocar esses aspectos chocantes, inexplicáveis, inesperados e inaceitáveis em suas parábolas. Claro que a multidão esperava que o proprietário enviasse uma força bruta para tratar com aqueles lavradores e não seu próprio filho.

Mas não, ele enviou seu filho, e, sem hesitação, eles o mataram e nem sequer lhe deram um enterro, apenas o jogaram fora da vinha para ser consumido pelos necrófagos. Ninguém sobrou para enviar, todas as opções possíveis foram esgotadas.

Marcos 12
9 Que fará, pois, o dono da vinha? Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros.

Uma pergunta provocativa: “O que fará o dono da vinha?”

Bem, se ele exigisse a lei do Antigo Testamento, seria a pena de morte para todos eles (Gen. 9:6).

Mateus registrou uma resposta que deram a essa pergunta: “Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos” (Mateus 21:41). Certamente outros da multidão devem ter concordado, dizendo: “Exato! É isso mesmo que ele tem que fazer”.

Mas, Lucas 21:40-41 registra uma reação hostil de alguns: “Que lhes fará, pois, o dono da vinha? Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros. Ao ouvirem isto, disseram: Tal não aconteça!”

Por que eles diriam “que isso nunca aconteça!”?

Lucas 20:19, Marcos 12:12 e Mateus 20:45 registram que os escribas e os principais sacerdotes perceberam que a parábola se referia a eles. Muitos ali entenderam o significado da parábola.

Essa é a parábola, agora vamos ver o seu significado

1) Vimos que o plantador e proprietário da vinha é Deus. A vinha é Israel. Esse é um princípio chave de interpretação através de Isaías 5.

2) Quem são os lavradores que arrendaram a vinha? Os líderes religiosos de Israel aqueles que tinham a tarefa de serem os mordomos da propriedade de Deus, de cuidar de Israel, ou seja, do povo de Deus.

Eles eram miseráveis e hipócritas, de acordo com as palavras de Jesus nesta mesma semana em Mateus 23. Jesus os considerou filhos do inferno (Mt. 23:15). Mas eles eram os líderes religiosos: o Sinédrio, os escribas, os fariseus e os saduceus

3) A que se refere a viagem do proprietário, o tempo que esteve fora? Este é um período da história do Antigo Testamento. Através da história de Israel, Deus plantou seu povo desde Abraão, e colocou sobre eles sacerdotes, uma linhagem sacerdotal.

Ele lhes deu Sua lei. Ele trouxe pessoas para o estudo dessa lei – escribas com o propósito de ensinar essa lei, com o propósito de distribuir a eles sua própria revelação, sua própria vontade e trazê-los à verdadeira adoração. Esses líderes tinham a responsabilidade diante de Deus de dar a verdade ao seu povo.

4) O que é o tempo de colheita? Essa é a época em que Deus espera o fruto espiritual. Deus espera por causa do que Ele deu: a verdade, a lei, as Escrituras, o Antigo Testamento para Israel. E Ele colocou sobre eles aqueles que estudam a lei, como Esdras, para disseminar a verdade de Deus ao povo e levá-los a um lugar de verdadeira adoração.

No entanto, quando chega a hora de Deus olhar para o Seu povo e avaliar a situação, encontrou uma situação de tragédia espiritual. Ele esperava fruto espiritual, mas, por inúmeras vezes, encontrou Israel infiel a Ele. Foram sempre uvas bravas ou azedas, imprestáveis (Is. 5:1-2).

5) Quem são os servos que Deus enviou? Os profetas do Antigo Testamento. Deus enviou um após o outro para exortar Israel. Os profetas denunciaram o pecado e clamaram por arrependimento e retidão.

Todos eles chamaram a nação para produzir frutos para a honra e glória de Deus, dar a Deus a colheita devida, à santidade, justiça, verdadeiro arrependimento e fé. Todos os profetas fizeram isso, de Moisés a João Batista.

6) E o que Israel fez com os profetas? Rejeição, violência, assassinato etc. Essa é a história de Israel, repleta de maus-tratos aos profetas enviados por Deus.

Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados… (Hebreus 11:35-37)

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque edificais os sepulcros dos profetas, adornais os túmulos dos justos! e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas! Assim, contra vós mesmos, testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. (Mateus 23:29-31)

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!… (Mateus 23:37)

Eles sabiam que haviam matado os profetas. Essa foi a história deles. Todos eles sabiam disso. Quando eles alegavam que não fariam o mesmo, estavam assumindo que eram filhos dos que assassinaram os profetas enviados por Deus.

E Jesus acrescentou que eles fariam a mesma coisa que os pais deles, pois agora iriam perseguir, espancar, rejeitar e matar aqueles que Jesus iria enviar para pregar o Evangelho e formar a igreja.

Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? Por isso, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade; (Mateus 23:33,34).

Em outras palavras, Jesus estava dizendo a eles: “Vocês não terminaram ainda a obra perversa de perseguir os que são enviados por Deus. Vocês perseguirão aqueles a quem enviarei com a mensagem do Evangelho”.

Aquela geração que se gabava de não ser capaz de matar os profetas, foi a pior geração de toda a história de Israel. As outras gerações rejeitaram, perseguiram, maltrataram e mataram os servos enviados por Deus, mas aquela geração perseguiu, rejeitou, maltratou e matou o Filho de Deus, o Messias.

Jesus foi diferente de todos os outros mensageiros enviados por Deus. Ele é o filho, o único Filho, o último mensageiro de Deus, o herdeiro de todas as posses de Deus.

Eles deveriam respeitá-Lo, mas eles não o fizeram. Eles disseram: “Este é o herdeiro! Vamos matá-lo e levaremos tudo!”. Essa foi a atitude dos líderes de Israel. Eles queriam dominar a propriedade de Deus, eles não aceitaram que Jesus interferisse no sistema miserável deles.

Eles planejaram a morte de quem era uma ameaça ao poder, prestígio e controle. Eles fizeram exatamente o que seus pais fizeram. Eles seriam a próxima e a última geração a matar os profetas. E então passaram a ser a primeira geração a perseguir e massacrar os cristãos.

Na história, eles não apenas mataram o filho, como também o expulsaram da vinha, o que provavelmente se refere ao fato de que toda a nação rejeitou a Cristo. Jesus “veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (João 1:11).

Eles o expulsaram dizendo: “quem te deu tal autoridade para fazer essas coisas?” (Marcos 11:28), ou seja, “o reino é nosso, a herança é nossa, não se meta no que é nosso”.

7) O que o Senhor iria fazer com eles? “Que fará, pois, o dono da vinha? Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros”. O juízo de Deus iria cair sobre eles.

Deus foi muito paciente com eles por séculos. E no ano 70 d.C., cerca de 40 anos depois desse incidente, os romanos massacraram Israel e destruíram o templo. E a destruição continuou nos anos subsequentes.

Assim como Deus usou os babilônios como instrumentos de julgamento, aqui ele usou os romanos. O templo nunca foi reconstruído, Israel vive há 2.000 anos sem o templo no Monte Moriá, em Jerusalém.

Todos os registros foram destruídos, nenhum judeu sabe mais de que tribo pertence, portanto ninguém sabe quem são os sacerdotes. Não há identificações tribais. Não há sacerdócio, não há sacrifícios, não há cerimônias. Não há saduceus, nem fariseus, nem sacerdotes e nem sumos sacerdotes. Todo o sistema foi absolutamente destruído.

E isso não foi o pior. Mais terrível ainda é que todas aquelas pessoas que faziam parte daquele sistema apodrecido foram para a condenação eterna.

Eles receberam uma mordomia. Você entende isso? Eles receberam uma mordomia dos oráculos de Deus em nome do povo de Deus; e eles prostituíram tudo, e isso foi tirado deles em um julgamento devastador, como havia sido no julgamento da Babilônia.

8) Mas o que significa quando Jesus disse: “Ele passará a vinha a outros”? Mateus 21:43 diz:

A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos.

Jesus está falando sobre os líderes. Ele está falando sobre os arrendatários, não está falando sobre as pessoas. Ele tem Seu povo, mas colocou pessoas diferentes no comando deles. Outros serão os guardiões da verdade. Outros serão os guardiões das Escrituras. Outros terão a responsabilidade de dar supervisão espiritual e liderança espiritual à Sua vinha, ao Seu povo.

Quem serão os novos comissários? Quem são os novos administradores do reino? Quem são os responsáveis pela recepção, proclamação e preservação da verdade? Os apóstolos.

Isso foi literalmente um escândalo horrendo para os líderes de Israel, o povo arrogante do Sinédrio, pensar que aqueles ninguéns da Galileia, aqueles doze homens comuns se tornariam os novos mordomos da revelação divina a ser disseminada ao povo de Deus.

A transição já havia começado. Jesus havia dado autoridade aos Seus apóstolos: autoridade sobre doenças, autoridade sobre demônios, e dado a eles a verdade; disse-lhes para irem pregar o reino, pregar o evangelho. Já vimos isso no comissionamento dos apóstolos. Essa transição ocorreu.

Na dia seguinte, quinta-feira à noite, Jesus se encontrou com Seus discípulos no cenáculo e lhes disse:

E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros. Ainda por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, me vereis; porque eu vivo, vós também vivereis. Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós. […] Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. (João 14:16-20,26)

Os apóstolos, com um ministério único, tinham a mordomia, eram os repositórios da verdade. Eles foram o meio pelo qual Deus distribuiu a revelação que conhecemos como o Novo Testamento, que completou Sua revelação, e eles se tornaram os mordomos dessa revelação.

É por isso que quando a igreja primitiva se reunia, eles estudavam a doutrina dos fariseus? Não. Eles estudavam a doutrina dos rabinos? Não. Eles estudaram a doutrina dos sacerdotes? Não. Eles estudaram a doutrina dos saduceus? Não. O que eles estudavam?

E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. (Atos 2:42)

Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor (EF. 2:19-22)

Esta foi uma grande transição. Todos os rabinos do passado não importam. Você pode pegar todo aquele ensinamento rabínico e deixá-lo de lado, não importa. Eles não são os mordomos da verdade divina.

A única maneira de entender o Antigo Testamento é entender o Novo Testamento. O Antigo Testamento é incompreensível sem o Novo Testamento, sem Cristo. E os rabinos que adicionaram e deturparam a Escritura não são fonte da verdade.

Os novos mordomos são os apóstolos. Todos os que defendem e proclamam a doutrina dos apóstolos estão na linha dessa mordomia. Pode ser surpreendente para você pensar sobre isso, mas todos os pregadores e mestres completamente fiéis à doutrina dos apóstolos estão na linha dessa mordomia.

Esse é o fim da parábola, mas não é realmente o fim da história. O Senhor acrescenta uma palavra muito importante, e nela há uma acusação.

Marcos 12
10 Ainda não lestes esta Escritura: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular;

Que acusação! O Senhor citou o Salmo 118, que diz:

A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos. […] Bendito o que vem em nome do Senhor. A vós outros da Casa do Senhor, nós vos abençoamos. O Senhor é Deus, ele é a nossa luz; adornai a festa com ramos até às pontas do altar. (Salmo 118: 22-23; 26-27).

Em outras palavras, Jesus disse: “Vocês não leem a Escritura? Vocês nem mesmo entendem que aqueles que vocês rejeitam é a pedra angular?”.

Pedra angular significava a principal pedra de sustentação que era usada na construção de um edifício na antiguidade. Jesus, a quem eles rejeitaram, é a Pedra Angular do reino de Deus. Vários textos bíblicos citam Jesus como a Pedra angular: Atos. 4:11; 1 Pedro 2:6-8; Romanos 9:32-33 e Efésios 2:20.

O filho então, na parábola, morre. A metáfora muda de uma vinha para um edifício e o Filho se tornou a pedra angular (Ef. 2:20-22). E a mudança de nosso Senhor de uma parábola para uma profecia é mais uma acusação da razão pela qual a mordomia estava sendo removida deles. Eles não conheciam a Escritura.

Para eles, a pedra angular não estava à altura. Jesus foi a pedra angular rejeitada. Eles consideravam Jesus inadequado, imperfeito e inaceitável para sustentar toda a estrutura e simetria do glorioso reino de Deus. Pedro escreveu que Jesus era  a “pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa” (1 Pedro 2:4).

Eles estavam errados. Jesus era a pedra angular vinda de Deus. Aquele de quem disseram na segunda-feira: “Bendito o rei que vem em nome do Senhor” (Mc. 11:10), é a pedra angular, como Jesus afirmou nesta quarta-feira.

Lucas registra algo que Jesus disse: “Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó” (Lucas 20:18).

Esta é uma declaração esmagadora sobre o julgamento. Jesus não é apenas a pedra angular que dá estrutura e simetria à igreja, mas Ele é a pedra de julgamento esmagadora sobre todos aqueles que o rejeitam.

Essas palavras em Lucas 20:18, são extraídos de um antigo ditado rabínico. Os rabinos costumavam dizer: “Se uma pedra cair em um pote, ela esmagará o pote. Se um pote cair sobre uma pedra, ela quebrará o pote.” Podemos ver isso em Isaias:

Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto. Ele vos será santuário; mas será pedra de tropeço e rocha de ofensa às duas casas de Israel, laço e armadilha aos moradores de Jerusalém. Muitos dentre eles tropeçarão e cairão, serão quebrantados, enlaçados e presos. (Isaías 8:13-15).

Um dos primeiros títulos cristãos para Cristo foi “a Pedra”. Você certamente é abençoado por fazer parte do reino construído sobre a pedra angular. Aqueles que o rejeitam estão condenados a ser esmagados por Ele.

Esta parábola causou profunda indignação à liderança religiosa.

Marcos 12
12 E procuravam prendê-lo, mas temiam o povo; porque compreenderam que contra eles proferira esta parábola. Então, desistindo, retiraram-se.

As pessoas entenderam. Eles sabiam do que Jesus estava falando. Eles conheciam sua história. Eles sabiam que seus ancestrais haviam maltratado e matado os profetas.

E eles sabiam o que estavam planejando para Jesus: sua morte. E Jesus disse isso. Eles sabiam. Teria sido um bom momento para se arrependerem, não é? Eles apenas saíram e foram embora.

Marcos 12
13 E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.

Espiritualmente eles foram embora para sempre. Eles enviaram alguns dos fariseus e dos herodianos, tentar pegar Jesus em alguma palavra para o condenar a morte. Eles haviam decidido por uma rejeição final a Jesus. Que tragédia!

Jesus sabia que ia morrer? Claro. Ele sabia os detalhes. Ele sabia como isso se encaixava na história de Israel. E Ele sabia que venceria a morte e ressuscitaria, como Ele dizia, e se tornaria a pedra angular, rejeitada, mas exaltada.

E então, para muitos, a maioria, Jesus é uma pedra de juízo. Cristo pode ser para você a pedra angular, e você é parte da glória daquele reino que Ele está construindo; ou Ele pode ser a pedra esmagadora de juízo. A sua fé em Jesus Cristo faz toda a diferença.

Vamos nos curvar em oração.

Pai, nós Te agradecemos por este tempo maravilhoso de comunhão e adoração com aqueles que amamos e aqueles a quem Tu amas e aqueles que Te amam.

Somos uma irmandade de amor, ainda que a mensagem que trazemos seja firme, exclusiva e séria. Obrigado por nos amar o suficiente para enviar Cristo. Obrigado por nos amar o suficiente para nos exortar.

Eu oro hoje para que não haja ninguém aqui que, como estes, se viraria e iria embora, talvez para nunca mais voltar. Ó Senhor, eu apenas oro para que hoje sejam alguns que corram do esmagamento da pedra angular para fazer parte daquela alegria gloriosa e eterna que pertence àqueles que estão em Seu reino.

Obrigado novamente pela realidade da Escritura, que vem sobre nós com tanto poder e clareza que sabemos que estamos ouvindo de Ti. Que privilégio. Nós Te daremos graças por isso em nome de Cristo. Amém.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série


Este texto é uma síntese do sermão “The Rejected Cornerstone”, de John MacArthur, em 20/2/2011

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-60/the-rejected-cornerstone

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

 

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