Chamado de Judas Iscariotes (2)


Este texto é parte de uma série de 12 sermões sobre o chamado dos apóstolos. Veja os links dos demais textos no fim desta página.

Este texto é o segundo de  2 sermões sobre o chamado de Judas. Veja os links no fim desta página.


Vamos hoje continuar a história de Judas Iscariotes. Como já vimos ao longo desta série que intitulei “Homens comuns, chamado incomum”, em Lucas 6:12-16 Jesus separa 12 homens para a tarefa de continuar Seu ministério depois de Sua partida. E em todas as listas dos apóstolos existentes nos evangelhos (Mateus 10:2-4; Lucas 6:13-16; Marcos 3:16-19), Judas Iscariotes é sempre o último, recebendo o título de traidor.

Ele é o fracasso mais colossal, o mais perverso homem de toda a história humana. Ele cometeu o ato mais infame de todos os atos infames. Andou tanto tempo com o perfeito, sem pecado, o santo Filho de Deus, mas o traiu por dinheiro. Sua história de trevas é o exemplo mais realista do que o coração humano é capaz de fazer. Os anos que ele andou com Jesus fez seu coração se endurecer cada vez mais e mergulhar em densas trevas.

Os outros onze nos encorajam muito, porque eram homens comuns levados a um chamado incomum. E isso sempre é encorajador para nós, pois eles eram apenas homens comuns. Vimos como o Senhor tomou homens comuns, amou-os grandemente, ensinou-os, treinou-os e capacitou-os para o maior chamado que qualquer pessoa já teve: o de ser apóstolo de Jesus Cristo.

E Judas, tão comum e sem credenciais humanas, tal como os demais apóstolos, começou como os demais apóstolos começaram, mas nunca foi transformado como os outros foram. Enquanto eles estavam se aproximando cada vez mais de Deus, Judas estava se tornando cada vez mais um vil filho do inferno. Seu pecado está no topo da lista de crimes hediondos na história humana. Seu pecado ultrapassa o de todos os grandes criminosos.

O Novo Testamento nos diz muito sobre ele, o suficiente para nos dar um claro alerta do perigo de estarmos perto de Cristo e nos endurecer progressivamente. Bem como nos transmite como a soberania de Deus faz com que os planos divinos prevaleçam e não sofram qualquer prejuízo por qualquer ação humana ou diabólica. O propósito de Deus não pode ser frustrado. A pior de todas as traições se encontrava no cumprimento do plano divino. No final, Deus não pode ser vencido pela traição e o pecador é condenado em julgamento indescritível.

No primeiro sermão sobre o chamado de Judas, vimos que o nome “Judas” era muito comum. É a forma grega de Judá, que significa “Jeová conduz”. Um indicativo da esperança que seus pais tinham sobre ele. Vimos também que “Iscariotes” não era o nome de seu pai, que se chamava Simão (João 6:71). No grego, o nome é “Apa keriotu”, que significa “da cidade de Queriote” (ao sul de Jerusalém), cerca de quarenta quilômetros após Belém, mencionada em Josué 15:25. Ele era o único apóstolo não galileu. Ele era uma figura solitária, ninguém sabia algo sobre ele. Assim, foi mais fácil para ele viver hipocritamente nos meio dos demais.

Vimos também que ele seguiu Jesus por sua própria vontade. Ele tinha uma esperança messiânica como forma de alcançar suas ambições. Ele estava convencido de que Jesus tinha poderes que nenhum outro homem teve, e que Ele era realmente o Messias. Era uma boa notícia para seu projeto egoísta. As duras palavras de Jesus, intragáveis para seu mundo hipócrita, eram compensadas por aquilo que ele imaginava ganhar num esperado reino terreno de Jesus.

Por outro lado, vimos que Jesus bem sabia quem ele era. Em nenhum momento Jesus foi enganado. Judas era o cumprimento de profecias. O Salmo 55, onde Davi lamenta a traição de um amigo íntimo, possivelmente de Absalão ou Aitofel, encontra-se uma figura exata de Judas. O Salmo 41:9 diz “Meu amigo íntimo em quem eu confiei, que comeu o meu pão, levantou o calcanhar contra mim“. Uma profecia declarada como cumprida por Judas no Novo Testamento. Também vimos que Zacarias 11: 12-13 temos uma figura evidente da traição de Judas em troca de trinta moedas de prata, e que o dinheiro seria jogado no templo e que seguiria para um oleiro. Essa profecia foi cumprida por Judas, que vendeu Jesus por trinta moedas de prata, jogou as moedas no templo e elas foram dadas a um oleiro para comprar um campo (Mateus 27:3-7).

E assim, temos Judas, aquele traidor solitário, que por sua própria ganância e ambição, motivado por seu coração perverso, escolheu seguir Jesus. E, no entanto, Deus o escolheu ao mesmo tempo para se encaixar perfeitamente no Seu plano eterno. Ele sempre foi um diabo, Jesus disse isso em João 6:70. Ele sempre foi um filho da perdição, uma alma perdida cuja natureza era a condenação. Ele escolheu ser assim e Deus escolheu encaixá-lo no plano. Um exemplo claro das verdades bíblicas da soberania de Deus e da responsabilidade do homem, mostrando que elas caminham em paralelo e são conciliadas apenas na mente de Deus.

Lucas 22:21-22 resume tudo. Jesus disse: “Mas eis que a mão do que me trai está comigo à mesa. E, na verdade, o Filho do homem vai segundo o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído!”. Então, até aqui vimos apenas uma revisão do que olhamos na última vez. Agora vamos avançar, olhando mais de perto esta tragédia que foi a vida de Judas. É ainda um fato intensamente instrutivo para todos nós. O olhar definitivo sobre o desenvolvimento de Judas é trazido pelo apóstolo João em seu Evangelho.

Muitas vezes João dá impressões vívidas aos apóstolos. Eles são delineados em outros Evangelhos, mas João lhes acrescenta a cor, e isso certamente é verdade no caso de Judas. E você pode seguir o desenvolvimento, a progressão de Judas para seu último desastre no Evangelho de João.

Se olharmos a vida de Judas nos quatro Evangelhos, perceberemos como ele fica cada vez mais desiludido. Sua desilusão se transforma em ódio e seu ódio se transforma em traição. Quando ele começou a ver que as coisas não estavam indo como ele esperava, ele começa a se tornar o monstro que ocultamente foi durante todo o tempo.

No início, todos os apóstolos pensaram em Jesus como o Messias, ou não teriam deixado tudo para segui-Lo. Eles não foram todos espiritualmente motivados. Mesmo Tiago e João, que juntamente com Pedro, eram os mais íntimos de Jesus, enviaram sua mãe para pedir destaque sobre os outros em Seu reino. Eles acreditavam que seria um reino terrestre, um reino militar, um reino econômico.

Todos consideravam o Messias judeu nos termos de um monarca oriental que venceria os inimigos e livraria a terra de Israel da ocupação romana e estabeleceria o reino prometido a Davi. Todos consideravam Jesus como o Messias que tinha vindo fazer isso. Eles viram os sinais e maravilhas que Jesus operava. Eles perceberam que Jesus tinha poder sobre o reino das trevas, o mundo espiritual e também físico. Eles ouviram coisas que jamais foram ditas antes, com tanta autoridade e visíveis em Sua vida.

Mas, ao longo da caminhada com Jesus, os apóstolos aprenderam que suas noções acerca do Messias eram falsas. Foi apenas gradualmente que eles começaram a descobrir que Jesus não veio como o Leão da tribo de Judá, mas como o Cordeiro para o matadouro, em Isaías 53. Isso foi muito difícil para eles entenderem. Eles tiveram que repudiar sua visão tradicional de que o Messias viria em uma manifestação espetacular do poder divino e imediatamente instituir o reino e libertar Israel de seus inimigos.

Judas, como os outros apóstolos, era nacionalista, patriótico. Ele foi influenciado por tudo que Cristo demonstrava ser e por todas as suas obras. Ele se juntou a Cristo com o objetivo de ganhar algo, ou seja, posição e dinheiro. Ele não se importava quão difícil parecia ser. Ele cria que Jesus era grande, poderoso e esperava que ele tivesse um lugar nesse reino que Jesus estabeleceria.

Então, Judas era um homem com visões mundanas, mas, francamente, isso era algo que também estava presente na mente dos demais apóstolos. Mas, quando ficou claro que Jesus tratava de um reino espiritual, e que Jesus era um Cordeiro e não um leão, Judas teve que se tornar um perfeito hipócrita. E ele teve que procurar uma maneira de tirar algum dinheiro durante sua caminhada com Jesus e os demais.

Os onze estavam buscando assimilar o ensinamento de Jesus sobre o reino, respondendo à pessoa de Jesus, ao que Ele disse sobre o futuro, aos Seus comentários sobre Sua morte, amando-O cada vez mais. O amor por Ele começou a superar suas ambições mundanas. Eles começaram a ver o triunfo do espiritual sobre o material, embora fosse um processo lento e gradual. E como eles cresceram em amá-Lo mais e possuir o elemento espiritual de Seu reino! A ambição mundana foi derrotada. Eles começaram a ver que o reino era espiritual e não material.

Mas, o mundo nunca foi derrotado no coração de Judas, nunca. Ele se juntou a Jesus com a expectativa de uma glória e poder terrenais. Nunca houve uma dimensão espiritual em seu interior. Seu coração se tornou ainda mais corrupto e desapontado com Jesus. Na sua visão, Jesus roubou parte de sua vida e todas as suas esperanças. Sua ganância e mundanismo eram um bloqueio a qualquer influência de Cristo. Seu beijo traiçoeiro foi o sinal do amor derrotado em sua hipocrisia mais flagrante.

Então, uma vez que Judas viu o colapso de seu sonho, ele se tornou um tirano a procurar por extrair tudo que pudesse e sair. Sua avareza entrou em operação de pânico, ele tentava salvar algo do tempo desperdiçado com Jesus. Por fim, vendeu sua alma a Satanás. Ele apostou tudo e perdeu tudo para sempre.

Vamos seguir a história. Em João 11:54, depois que os líderes religiosos haviam decidido planejar Sua morte “Jesus, pois, já não andava manifestamente entre os judeus, mas retirou-se dali para a terra junto do deserto, para uma cidade chamada Efraim; e ali ficou com os seus discípulos”. E dali Ele partiria para a Páscoa em Jerusalém, onde seria crucificado. Os discípulos sabiam do perigo que representava ir a Jerusalém. No verso 7 eles lhe disseram: “Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas para lá?”. E Tomé disse aos demais: “Vamos nós também, para morrermos com ele” (v.16).

Mas, Jesus decidiu ir, e Ele foi. Eles estão agora em Jerusalém, na semana da Páscoa. João 12:1 diz que “foi, pois, Jesus seis dias antes da páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera, e a quem ressuscitara dentre os mortos”. E, então, os versos 2 e 3 dizem:

Deram-lhe, pois, ali, uma ceia; Marta servia, sendo Lázaro um dos que estavam com ele à mesa. Então, Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, mui precioso, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se toda a casa com o perfume do bálsamo.

Maria ungiu os pés de Jesus com nardo, um óleo valioso extraído da raiz de uma planta originária da Índia. Um ato de humilde devoção e amor de Maria é visto como um desperdício pelo coração avarento de Judas.

Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava para traí-lo, disse: Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres? (v. 4-5)

300 denários equivaliam a um ano de salário de um trabalhador comum. O suposto altruísmo de Judas foi um acobertamento para sua avareza. E todos os discípulos provavelmente se olharam e disseram: “Oh! Judas tem um grande coração!”. Mas João, que na época provavelmente não entendeu as motivações de Judas, diz:

Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava (v.6).

Imagine que tipo de coração tinha Judas. Fazendo parte de um grupo seleto de homens que andaram aqui na terra com o Deus encarnado, estava ali roubando o dinheiro que era ofertado para o sustento do Messias e dos demais apóstolos. Ele era uma pessoa miserável. Jesus, então, disse:

Deixa-a! Que ela guarde isto para o dia em que me embalsamarem; porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes (v.7).

Maria realizou aquele gesto para expressar sua devoção, mas como nas palavras de Caifás (João 11:49-52), seu gesto revelou mais do que ela imaginava naquele momento. Naquela época, grande somas de dinheiro eram gastas em funerais, incluindo perfumes caros para disfarçar o mau cheiro da decomposição.

Jesus enfrentou as palavras de Judas, Ele bem sabia o que havia em seu coração. Judas teve a oportunidade de se quebrantar, cair aos pés de Cristo em arrependimento e clamar por perdão e misericórdia. Mas, não foi assim que ele reagiu às palavras de Cristo. Ele reagiu com o ódio, afastou-se, deixou Betânia e caminhou até Jerusalém decidido a executar seu plano miserável. 

E tinha que haver um plano perfeito, pois a liderança religiosa temia a popularidade de Jesus. E de fato, no dia seguinte, quando Jesus entrou em Jerusalém, multidões “tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor” (João 12:13) . Os líderes judeus estavam tentando há muito tempo encontrar um caminho para tirar a vida de Jesus e não tiveram sucesso. Eles precisavam de um informante para que pudessem encontrá-Lo numa situação vulnerável, longe de multidões. E Judas seria uma peça essencial nessa trama.

O contraste é surpreendente. Em Betânia, no dia anterior, Jesus foi ungido com um amor sublime, quando Maria lavou seus pés com bálsamo de nardo puro, em profunda adoração. Mas, no dia seguinte, Jesus estava sendo traído através de um ato de profundo ódio. O ser humano tem duas vias: agir como Maria ou como Judas. Não há opção neutra.

Prosseguindo para João 13, Judas estava com os demais apóstolos e Jesus para ceia. No versículo 1 diz que Jesus sabia que o momento da cruz era chegado, e que amou seus discípulos até o fim. Porém, “acabada a ceia, tendo o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse” (v.2). Um homem que andou tão perto de Cristo por cerca de três anos tornou-se controlado por Satanás. Mas o diabo não frustrou em nada a obra de Deus, ele estava apenas cumprindo a profecia. O propósito de Deus estava por trás de toda aquela cena.

Jesus, em mais um gesto de sua profunda humildade, lavou os pés dos apóstolos, inclusive o de Judas. Jesus sabia que Judas era o maior hipócrita do mundo, mas não se recusou a lavar seus pés. E disse:

Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos. Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos (João 13:10-11).

A justificação realizada por Cristo na salvação não precisa nunca ser repetida. Ela é definitiva. Mas todos que experimentaram a justificação precisam de lavagem constate (no sentido de confissão e arrependimento diário), na medida em que continuam andando num mundo mal. Os pés simbolizam este contato do homem com o mundo. Mas, Judas não tinha um coração limpo. Jesus disse:

Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar. Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou (João 13:18-19).

Os discípulos conheciam o Salmo 41:9, sobre a traição de um amigo íntimo. Jesus então diz abertamente: “Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair” (João 13:21). Os discípulos ficaram atônitos, olhando um para o outro e perguntando: “Quem?”. Judas perguntou a Jesus: “acaso, sou eu, Mestre?” (Mateus 26:25). Jesus respondeu-lhe Jesus: “Tu o disseste”. Os versos 26-29, de João 13, dizem:

Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o bocado molhado. E, molhando o bocado, o deu a Judas Iscariotes, filho de Simão. E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa. E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto. Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres.

Jesus disse diretamente quem era o traidor. Mas nenhum dos apóstolos entendeu ou desconfiou de Judas. Todos pensaram que Jesus havia instruído Judas a comprar algo. Eles não conseguiam imaginar alguém que andou com Jesus todo aquele tempo fosse traí-Lo.

O verso 30 diz que “tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite”. Não era apenas noite no lado de fora, era noite em sua alma e ainda é noite agora. Jesus o mandou embora. Era noite para sempre. E, depois de sua saída, Jesus inicia uma conversa íntima, permeada de promessas e orientações, com os onze apóstolos, e então orou por eles (João 13 a 17). Judas não poderia estar mais lá.

Jesus é puro, sem pecado, imaculado e santo. Judas era um miserável e Satanás entrou nele. E Jesus não celebraria a Ceia com a presença do maligno. Ele diz a Judas: “O que fazes, faze-o depressa”. Ou seja: “Saia”. Jesus estava profundamente perturbado, a presença perversa e miserável de Judas estava poluindo a comunhão. Judas partiu e certamente foi diretamente ao Sinédrio, o órgão governante de Israel, composto por setenta anciãos. Antes daquele momento, Marcos 14:10-11 diz:

E Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes, para lhes entregar Jesus. Eles, ouvindo-o, alegraram-se e lhe prometeram dinheiro; nesse meio tempo, buscava ele uma boa ocasião para o entregar.

Ou seja, Judas não agiu em um momento de insanidade. Sua ação tenebrosa foi deliberadamente planejada. Ele é um traidor premeditado. Ele estava planejando isso há semanas, senão meses. Ele esperava uma hora oportuna. E, enquanto isto, roubava tudo que podia. Ele estava muito ciente que a liderança religiosa queria matar Jesus e tentava extrair o máximo que pudesse até isto acontecer.

Lucas 22:4-6 diz que, após Judas se entender com os sacerdotes e capitães, “concordou e buscava uma boa ocasião de lho entregar sem tumulto”. O covarde, valendo-se da proximidade com Jesus e os apóstolos, esperou um momento em que Jesus estivesse longe das multidões para entrega-Lo para ser preso. Ele estava tentando encontrar a porta do inferno que lhe era mais conveniente. E quando ele encontrou, ele mergulhou. Ele temia a popularidade de Jesus e a multidão. Então, enquanto Jesus estava instituindo a mesa do Senhor na sala superior, Judas estava fazendo arranjos para a captura Dele.

E ele estava tentando fazer uma barganha e tudo que conseguiu foram trinta moedas de prata, o preço de um escravo ferido (Êxodo 21:32). Tanto quanto Judas odiava Jesus, todos os líderes igualmente odiavam Jesus e odiavam Judas. Eles tinham desdém por Judas e por Jesus. Mas a ganância desesperada de Judas o levou a um acordo. Ele estabeleceu qualquer preço que pudesse obter. Judas disse aos príncipes dos sacerdotes: “Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei?” (Mateus 26:15). Então, “eles lhe pesaram trinta moedas de prata”. Ou seja, negócio fechado.

Em João 18:1, Jesus “saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto, no qual ele entrou e seus discípulos”. Durante toda a noite, desde que Judas partiu para negociar sua traição, o Senhor estava falando aos onze maravilhosas promessas (João 13 a 17). Todas elas se aplicam a nós. E enquanto Ele está derramando benção e benção, prometendo-lhes o Espírito Santo, que estaria com eles, amor, paz, poder, um lar no céu e tantas outras coisas, Judas estava excluído de todas essas preciosas promessas. Ele estava negociando o dinheiro do Seu sangue.

O verso 2 de João 18 diz que “Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos”. E o verso 3 diz que “Judas tendo recebido a escolta e, dos principais sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas”. A escolta, ou “coorte” romana tinha cerca de 600 homens, era um batalhão romano substancial.

O verso 4 diz que Jesus já sabia de tudo o que acontecia e disse-lhes: “A quem buscais?”. E então “responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles” (v.5). Jesus estava de pé com os onze apóstolos, e “quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra” (v.6). A própria afirmação do nome de Deus os derrubou, numa incrível exibição de poder. Aqui está Jesus dando outra evidência de que Ele era o Messias, outra evidência para Judas, revelando o poder divino convincente, o que torna o beijo subsequente ainda mais diabólico.

Judas havia combinado algo com sua comitiva: “O que eu beijar é esse; prendei-o” (Mateus 26:48). E, de forma sinistra, aproximou-se de Jesus e disse: “Eu te saúdo, Rabi” e “beijou-o” (Mateus 26:49). Que maneira diabólica de apontar Jesus! Mas sua miséria é tão profunda, sua hipocrisia é tão perversa que, aparentemente, isto não lhe pesou a consciência naquele momento. A expressão grega tem o sentido que ele “o beijou repetidamente”. E Jesus disse a ele: “Amigo, a que vieste?” (Mateus 26:50).

Beijar é uma marca de tributo. Ainda é. É uma marca de amor, de carinho, de ternura, de respeito e de intimidade. Judas agiu em fingida inocência, em hipocrisia tortuosa, tentando fazer Jesus pensar que ele não era o traidor. Ele o beija repetidamente, um ato bizarro de dissimulação de sua traição. E o ódio dos sacerdotes era uma coisa a suportar, o barulho ruidoso da multidão, a covardia de Pilatos, o maltrato de Anás e Caifás, o desdém de Herodes, a brutalidade dos soldados. Jesus sofreu tudo isso em relativa calma e quietude. Mas, isso O atravessou tão dolorosamente que Ele responde dizendo apenas: “Apenas faça o que você veio fazer”.

Ele profanou a Páscoa naquela noite, profanou o Filho de Deus, profanou o lugar de oração onde seu Mestre foi com Seus discípulos com tanta frequência para orar, traindo o Senhor com um beijo. Nós poderiamos perguntar se este ato de Judas foi um ato isolado. A resposta é: sim e não. Lemos no Antigo Testamento sobre os falsos mestres que afirmavam representar Deus. De acordo com Ezequiel, eles profanavam o nome de Deus entre as pessoas por punhados de cevada e por pão. Amós nos fala sobre aqueles que vendiam os justos por dinheiro. Sempre houve e sempre haverá aqueles que vendem Jesus para se enriquecer. Eles estão por todo o lado. Um poeta escreveu:

Pode não ser por prata, pode não ser por ouro.
Mas ainda por dezenas de milhares o Príncipe da Vida é vendido,
Vendido por uma amizade sem Deus, vendido por um alvo egoísta,
Vendido por uma trivialidade, vendido para um nome vazio,
Vendido no mercado da ciência, vendido na sede do poder,
Vendido no santuário da fortuna, vendido no pátio do prazer,
Vendido por uma barganha horrível, que ninguém, além dos olhos de Deus, pode ver.
Pondere, minha alma, deveria Ele ser vendido por ti?
Vendido, Ó Deus, que momento, acalmou a voz de sua consciência,
Vendido e um anjo chorando registra a escolha fatal.
Vendido, mas o preço aceito se torna uma brasa viva,
Queima profundamente a alma com dores de um tardio arrependimento.

Ele O vendeu. Ao vendê-Lo, sua consciência voltou a viver. E ele estava no seu próprio inferno, marcado por sua consciência pelo que havia feito. Mateus 27:3-5 diz:

Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, Dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.

O valor da traição era tão insignificante para os príncipes dos sacerdotes e anciãos, que simplesmente eles se recusaram a recebê-lo de volta. E então, Judas jogou as moedas no tempo e foi se matar. Ele já estava no auge de sua própria consciência. Mas, o inferno é um lugar onde a consciência não será silenciada.

O pecado deixa uma culpa terrível. Um pecado monumental deixa um culpa monumental. O pecado monumental de Judas provocou uma convicção insustentável. Ele não se arrependeu. Ele lamentava, porque não gostava do que sentia. Ele queria desfazer tudo, mas ele não queria mudar. Ele queria, de alguma forma, aliviar sua brutal consciência e a única coisa que sabia fazer era devolver dinheiro, porque ele vivia por dinheiro. Isso é tudo o que ele pensou.

Ele não buscou o perdão e a misericórdia de Deus. Ele não buscou se libertar de Satanás. Ele pensou: “Eu poderia pacificar minha consciência, se eu apenas devolvesse o dinheiro”. Seu pecado era insuportável e isso é o que é o inferno. De certa forma, o inferno não muda o pecador. Ele simplesmente cristaliza em permanência o que ele já é. Ele lamentou. Ele sentiu-se mal por isso. E então, seu coração implacável, em vez de gritar por um verdadeiro arrependimento, gritou por vingança em si mesmo, como costuma acontecer. Seu desespero era tão profundo, que ele mesmo exigia vingança sobre si mesmo e ele se afastou para se matar. Muitas pessoas se matam sob os gritos da consciência. Frenético, confuso, culpado, esse é o sofrimento de um louco que perdeu o controle. Em Atos 1:16-18 Pedro diz:

Irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus, porque ele era contado entre nós e teve parte neste ministério. Ora, este homem adquiriu um campo com o preço da iniquidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram.

Algumas pessoas sugeriram que isso é uma contradição, porque Mateus 27:5 diz que Judas “retirou-se e foi-se enforcar”. E é precisamente o que aconteceu. Os sacerdotes não colocaram as moedas no tesouro do templo, porque era dinheiro de sangue. Eles tiveram uma reunião, pegaram o dinheiro e compraram o campo do oleiro, para ser um local de enterro para estranhos (Mateus 27:6-8), um cumprimento profético de Zacarias 11:12-13.

O relato de Mateus sobre Judas termina aqui. O relato de Atos 1:16-18 é um prosseguimento. Judas era uma figura tão trágica que nem podia se matar da maneira que quis. Ao tentar se enforcar, provavelmente próximo a algum precipício, algo saiu errado e ele mergulhou profundezas abaixo, onde suas entranhas foram expostas. É a última coisa que a Escritura trata sobre Judas. Que tragédia incrível! Ele traiu o homem mais significativo que já viveu e o dinheiro que ele conseguiu acabou servindo para comprar um lugar para se enterrar pessoas insignificantes para Israel.

Judas pensou que poderia acabar com a miséria de sua consciência devolvendo o dinheiro. Não funcionou. Pensou que o suicídio resolveria. Não funcionou. Ele agora está sofrendo a miséria eterna, enquanto sua consciência grita sobre sua iniquidade. Atos 1:25 diz que “Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar”. Ou seja, o inferno eterno.

Podemos destacar algumas lições importantes:

1- Judas foi o maior exemplo mundial de oportunidade perdida. Ele estava no ambiente mais justo que o mundo já teve e tornou-se um homem maldito, apesar de gastar seu tempo na presença de Deus.

2- Judas foi o maior exemplo de privilégio desperdiçado do mundo; o maior privilégio, o maior desperdício. Ele quis se satisfazer com dinheiro e perdeu as verdadeiras riquezas. Uma barganha estúpida.

3- Judas é a maior ilustração de quão longe o amor ao dinheiro se torna a raiz de todo tipo de maldade. O amor ao dinheiro pode ser tão grande, que você venderia o Filho de Deus.

4- Judas é o maior exemplo de traição do mundo e há Judas em todas as épocas. Ele não é o único traidor, ele é apenas o modelo, o exemplo, o protótipo. Krummacher escreveu:

Que o beijo do traidor tivesse permanecido o único de seu tipo, mas, em um sentido espiritual, Jesus ainda o suportaria mil vezes até esta hora, por hipocritamente confessá-Lo com a boca enquanto a sua conduta o desmente; exaltar as virtudes de Sua humanidade aos céus enquanto O despoja da Sua glória divina e rasga a coroa da majestade universal da Sua cabeça; cantar entusiasticamente hinos e oratórios para Ele, enquanto pisa Seu evangelho com palavras e obras sob o pé. O que é tudo isso, senão um beijo de Judas, com o qual os homens têm a audácia de poluir Seu rosto novamente?

5- Judas patrocinou o maior exemplo de paciência e amor. Mesmo sabendo de tudo, Jesus o chama de “Amigo”.

6- Judas fornece uma qualificação essencial na preparação de Cristo para a Sua grandiosa obra sacerdotal. Jesus foi aperfeiçoado através do sofrimento e este foi o pior do sofrimento de Cristo antes cruz. Quando você pensa que foi traído, você pode ir a Jesus. Ele foi traído de forma incompreensível.

7- Judas é o maior exemplo do engano e infrutuosidade da hipocrisia. Jesus disse: “Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem” (João 15:6). Esse é o resultado da hipocrisia. Ele era tão bom hipócrita, que os demais apóstolos não desconfiaram dele em momento algum. Ele fingiu, mas no final aquele filho de perdição morreu e foi ao seu próprio lugar e o lugar onde ele está é o mais severo dos tormentos do inferno, porque ele estava exposto à maior luz.

Não seja hipócrita. Não se contente com uma falsa vida piedosa sem um verdadeiro amor a Cristo. Essa é a magnitude inimaginável de um pecado que resulta no mais severo julgamento eterno. O mundo pagão nunca poderia produzir um Judas. Ele só pode aparecer sob a luz brilhante de Cristo. Esse tipo de pessoa só pode ser produzida perto de Cristo. Assim, os castigos mais severos do inferno são reservados para aqueles que nunca creram, mas de alguma forma aparentaram estar associados a Cristo. Judas pensou estar vendendo Cristo por trinta moedas de prata, mas, na verdade, ele estava vendendo a si mesmo, e não a Cristo. Vamos orar.

Pai, esse relato desse homem é às vezes mais do que podemos suportar, saber que o Senhor sofreu com essa proximidade, que sofreu com essa traição. Senhor, Tu não mereceste sofrer isso, não mereceste morrer por nossos pecados, mas o Senhor o fez. Como nós Te amamos por isso! Como nós Te amamos como nosso salvador e como nosso sumo sacerdote simpatizante, que sabe o que é ser traído por aqueles a quem amamos, aqueles próximos. Oh, oro, Senhor, que não haja Judas aqui, que não haja hipócritas aqui, não hja pessoas que estão sendo endurecidas, e endurecidas e endurecidas pela verdade com a qual estão associadas. Que o Senhor quebre esse solo duro hoje, quebre essa hipocrisia e que a luz brilhante da verdade brilhe naquela escuridão e penetre-a. Que haja real arrependimento, fé e salvação. Isto oramos, no nome glorioso de Cristo. Amém.


Esta é uma série de 12 sermões sobre o chamado dos apóstolos

01. O chamado dos doze apóstolos
02. O chamado de Pedro (Parte 1)
03. O chamado de Pedro (Parte 2)
04. O chamado de Pedro (Parte 3)
05. O chamado de André e Tiago (irmão de João)
06. O chamado de João
07. O chamado de Filipe
08. O chamado de Natanael (Bartolomeu)
09. O chamado de Mateus e Tomé 
10. O Chamado de Tiago (filho de Alfeu), Simão (o zelote) e Judas Tadeu 
11. O chamado de Judas Iscariotes – Parte 1
12. O chamado de Judas Iscariotes – Parte 2


Este texto é uma síntese do sermão “Common Men, Uncommon Calling: Judas Iscariot, Part 2″, de John MacArthur, em 09/09/2001.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/42-82/common-men-uncommon-calling-judas-iscariot-part-2

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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3 Responses

  1. NILSON SILVA DANTAS disse:

    GOSTEI DA MATERIA E DESEJO RECEBER NOTIFICAÇÕES DE NOVAS MATERIAS .

  2. Administrador disse:

    Prezado, em todas as páginas há um formulário para cadastramento de recebimento automático de novos posts. Deus te abençoe.

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