Domar a Língua – 2


Este é o segundo de dois sermões de John MacArthur sobre “Domar a Língua”, conforme links no final deste texto.


Em nosso estudo bíblico, voltaremos para Tiago, capítulo 3, continuando com o assunto “Domar a Língua“. Enquanto eu pensava no que está escrito no capítulo 3 de Tiago, fiquei refletindo sobre essa questão da língua. E olhei para a minha própria infância. Uma das coisas que eu me lembro na minha mente muito vividamente, ecoando pelos corredores da minha memória, é uma declaração que minha mãe costumava usar com freqüência para mim.

Era mais ou menos assim: “Johnny, se alguma vez ouvir você dizer algo assim novamente, vou lavar sua boca com sabão!”. Algum de vocês já ouviu isso? Não sei se isso está sendo dito hoje. Hoje em dia há muita opinião sobre o que deve ser dito pelos pais no processo de educação de seus filhos. Mas, em nossa família, qualquer palavra má, qualquer palavra desagradável, qualquer palavra grosseira eram raras, mas quando elas ocorriam, minha mãe lavava minha boca com sabão. Eu quero que você saiba que eu ainda posso sentir o gosto daquele sabão… lembro até da marca: ‘Fels Naptha’… [ risos]. Muito amargo…

Mas, essa disciplina realmente teve um efeito sobre mim. Na verdade, até o dia de hoje, não tenho tolerância para com o discurso maligno, má fala, linguagem suja, e acho que isso pode estar relacionado não só com a minha teologia, mas com o fato de minha mãe ter lavado minha boca com sabão em várias ocasiões .

Agora, eu poderia dizer que minha mãe era alguém que fazia parte do grupo de pessoas que deseja o falar puro. E Tiago está certamente na liderança desse grupo, do ponto de vista humano, porque essa passagem do capítulo 3 é a mais definitiva em toda a Bíblia em relação ao discurso puro. E se Tiago estivesse vivo e pudesse nos falar hoje, ele enfatizaria ainda mais a necessidade de as pessoas lavarem as bocas espiritualmente, se não literalmente.

Tenho certeza de que Tiago foi muito preocupado sobre essa questão da pureza no falar, porque ele entendeu que seu Senhor também tratava esse assunto como algo muito importante em Seu ensino. Ele entendeu o que vimos na semana passada, em Mateus, capítulo 12, onde Jesus disse que seremos responsáveis ​​perante Deus por cada palavra ociosa. Não apenas palavras malignas, mas palavras ociosas, palavras descuidadas, palavras que não servem a um propósito bom, positivo. E conhecer o modo como o Senhor tratou o discurso maligno deu-lhe um grande impulso para tratá-lo da mesma maneira. E, assim como Jesus ensinou que a fala deveria ser pura, Tiago também ensinou.

E assim como Jesus ensinou que o coração é revelado pelo que fala a boca, Tiago está ensinando a mesma coisa, e eu quero que você entenda isso. Em Mateus 12:34 a 37, como vimos na última vez, Jesus diz que você será justificado pelo seu discurso ou você será condenado pelo seu discurso. Em outras palavras, seu discurso é tão revelador do seu coração que, com base na maneira como você fala, seu destino eterno pode ser presumido.

A língua fornece a evidência do que seu coração realmente é. Isso é algo muito, muito importante. O novo nascimento, regeneração, salvação, com a sua transformação e santificação, faz de você uma nova criação. E uma parte de ser uma nova criação é ter um novo discurso. Os cristãos falam de maneira diferente das outras pessoas. Não são perfeitos, mas certamente diferentes.

Ouça o que o apóstolo Paulo disse em Colossenses, texto muito importante, capítulo 3, versos 1 a 3:

Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. 

Paulo diz que você morreu, e você tem uma nova vida escondida com Cristo em Deus. Portanto, com sua nova vida, você deve estabelecer sua mente nas coisas de cima, e não nas coisas que estão na Terra. Versos 5 a 7:

Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a fornicação, a impureza, o afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência; nas quais, também, em outro tempo andastes, quando vivíeis nelas.

A implicação é que agora que você é uma nova criação, você tem uma nova abordagem para vida, tem uma natureza transformada e um comportamento transformado. Então, ele diz no versículo 8:

Mas agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. 

Você deve se desfazer de todos eles; eles não têm lugar na vida de um crente.

Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou. (versos 9-10).

Então, agora que você é um crente, você tem um novo coração. Agora que você tem um novo coração, você deve ter um novo comportamento. Esse novo comportamento também envolve um novo discurso – uma nova fala. De fato, seu discurso está melhor definido nos versículos 16 e 17:

A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.

Portanto, seu discurso é dramaticamente afetado pela sua nova natureza, pela sua transformação. O novo homem em Cristo tem uma nova boca, tem uma nova língua, um novo discurso. Então, a língua se torna um verdadeiro tipo de teste de fogo para o coração.

De volta ao capítulo 1, você se lembra do versículo 26? Se alguém entre vocês parece ser religioso, ou pensa ser religioso, ou se apresenta como religioso, mas não reprime a língua, está enganando seu próprio coração e sua religião é inútil. Se sua suposta salvação não se manifesta na maneira como você fala, sua salvação não passa de um auto-engano, ou seja, você pensa ser salvo, mas não é.

Então, diria, como Tiago disse no capítulo 2, que a fé produz obras. Uma das obras que a fé produz é uma fala para a honra de Deus. Agora, eu quero falar sobre isso por apenas um momento, para que você entenda claramente algumas distinções teológicas. Verdadeiros crentes terão uma língua santificada. Você entendeu isso? Os verdadeiros crentes, verdadeiros cristãos, pessoas totalmente transformadas, aqueles que foram criados em Cristo, terão uma língua santificada.

Deixe-me adicionar algo a isso: os verdadeiros crentes devem ter uma língua santificada. Você compreende isso? Os verdadeiros crentes terão uma língua santificada. Os verdadeiros crentes devem ter uma língua santificada. Você diz: “Bem, espere um minuto, se teremos, então, por que você nos diz que devemos ter?”. Porque na primeira declaração se encontra uma realidade soberana no novo nascimento, e a segunda fala de uma responsabilidade humana que é realmente  nossa a cumprir; e esse é o surpreendente paradoxo de nossa experiência cristã.

Se somos verdadeiramente novos-nascidos em Cristo, teremos um discurso puro. E se formos verdadeiramente novos-nascidos em Cristo, tomaremos a responsabilidade de ter certeza de que temos um discurso puro. Esse é um constante paradoxo bíblico. Se você entender isso – e falamos disso muitas vezes em nosso estudo bíblico -, mas se você entender isso, você realmente está a caminho do entendimento de um mistério.

Você não pode compreendê-lo completamente, mas deixe-me colocá-lo assim: somos salvos pela graça soberana, certo? Escolhidos Nele antes da fundação do mundo, mas, ainda assim, devemos crer [ou seja, nossa eleição não anula o fato de que devamos crer]. Nós somos mantidos salvos pela segurança de Deus em Seu decreto soberano, mas, ainda assim, devemos perseverar [ou seja, é Deus quem nos mantém salvos, mas isso não anula o fato de que devemos perseverar]. Vivemos através da força do poder soberano de Deus – não eu, mas Cristo que vive em mim -, mas, ainda assim, devemos obedecer [ou seja, o fato de Cristo viver em nós não anula o fato de que devemos obedecer].

E, como Tiago disse, pelo fato de sermos novas criaturas, aguardamos provações e devemos resistir. Receberemos a Palavra e obedeceremos, e devemos receber a Palavra e devemos obedecer. Seremos graciosos para os necessitados sem parcialidade, e devemos ser graciosos para com os necessitados sem parcialidade. Produziremos boas obras e devemos produzir boas obras. Em outras palavras, você nunca será capaz de resolver o paradoxo de que o que Deus diz que será verdadeiro em você, deve ser verdadeiro em você. [A soberania de Deus para realizar todas as coisas e a responsabilidade do homem são duas verdades que caminham paralelas nas Escrituras].

Só porque Deus disse certas coisas acerca dos verdadeiros crentes, isso não significa que podemos nos deitar relaxados e esperar que isso aconteça. E esse é realmente o mistério dos aparentes paradoxos da experiência cristã. Onde há fé genuína, viva e verdadeira regeneração e transformação, essas coisas serão o resultado, e elas devem ser o resultado. Deus as produzirá em nós, mas Ele as produz em nosso compromisso com elas. Você entende isso? É até onde podemos ir com este assunto, pois além disso não temos como entendê-lo.

Então, quando Tiago fala da língua, ele fala da verdade de que a língua revelará a condição do nosso coração e, ao mesmo tempo, ele nos chama para fazer tudo o que pudermos fazer para que a língua de fato revele nosso novo coração. Para que não venhamos apenas sentar e dizer: “Bem, Deus diz que eu sou uma nova criação. Tudo acontecerá por si só.” Deus diz que você é uma nova criação e tudo acontecerá, mas não por si só, mas através de seu compromisso energizado pelo Espírito. Essa é uma verdade muito básica.

Então, enquanto esta passagem é uma declaração sobre o caráter da fé viva, revelada através do nosso falar, também é um apelo para que nós corrijamos nosso falar, porque os dois [coração e fala] estão de mãos dadas. O que Deus diz que será verdadeiro para nós, deve ser verdadeiro para nós. Deus cuida do “será“, e nós, em submissão ao Seu poder, cuidamos do “deve ser“.

Agora, Tiago então estabelece cinco razões convincentes para o controle da nossa língua. Você se lembra das duas primeiras que vimos na última vez? Número um: seu potencial para condenar. Versículos 1 e 2:

Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.

E aqui, Tiago diz que a língua tem um enorme potencial para condenar e ele usa os mestres como ilustração. Ele diz: “Que ninguém se apresse no ministério de ensino“, porque já que a língua tem tanto potencial para condená-lo, você não vai querer entrar em qualquer tipo de situação em que estará usando sua língua, a menos que você entenda o perigo em potencial disso. Não se apressem a ser ensinadores da Sagrada Escritura, porque ninguém pode evitar ofender com a língua.

E quando você é um mestre e ofende com a língua, as ramificações são de grande alcance. Observe, por favor, que ele não diz “que ninguém seja um mestre”, ele diz: “que muitos não sejam mestres”. Aqueles que são chamados, aqueles que são dotados e aqueles que estão preparados, tudo bem. Mas, o resto, é melhor ficar longe disso, por causa do tremendo potencial da língua para falar o que é errado, para deturpar a verdade de Deus e, portanto, trazer sobre você um grande julgamento.

Agora, deixe-me ser pessoal por um minuto. É realmente minha convicção – e eu não digo isso com muita frequência, mas é minha convicção – que há muitas pessoas ensinando a Bíblia hoje, gente demais. E eu não estou dizendo que há uma passagem bíblica que eu possa olhar para provar isso, mas acho que o que Tiago está dizendo aqui presume que muitas pessoas vão inundar as fileiras de ensino que realmente não pertencem a elas, e vão trazer sobre si mesmas circunstâncias muito severas em termos do castigo de Deus, ou do que quer que seja.

É minha convicção de que há muitas pessoas que ensinam a Palavra de Deus, que na verdade são mal-aconselhados a fazê-lo, que estão mal equipados, que estão mal preparados e, em virtude dos erros em seus ensinamentos, estão trazendo sobre si mesmos um julgamento mais rigoroso do que jamais experimentariam, se nunca ensinassem.

Precisamos de menos mestres. Estou convencido de que precisamos de menos igrejas. Precisamos de mestres mais excelentes e igrejas mais excelentes. E Tiago está pedindo a mesma coisa – um sentimento acerca da seriedade da questão do ensino, por causa do potencial da língua para cometer graves e graves erros. Portanto, a língua deve ser controlada devido ao seu potencial para condenar.

Em segundo lugar, a língua deve ser controlada devido ao seu poder de controle. Se você não a controla, ela pode controlar tudo. Do Versículo 2 ao 4:

Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo. Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo. Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa.

Tiago está dizendo, em outras palavras, é que a língua tem um tremendo poder para controlar. É como um arreio que, pressionando a língua, controla todo o corpo do cavalo. É como um leme, que guiado pelo timoneiro, direciona o grande navio. A língua é um membro pequeno, possui grandes coisas, e tem todas as razões para se orgulhar de grandes coisas, porque pode conseguir efeitos de grande alcance, embora seja pequeno.

E somente uma pessoa absolutamente perfeita e sem pecado nunca ofenderia com sua língua, de modo que somente Jesus conseguiu cumprir isso. Um crente amadurecido, se ele caminha na semelhança de Cristo, o quanto for humanamente possível, controlará sua língua. Mas nós, que estamos nesta carne humana, todos pecaremos com a nossa língua, e a língua tem um tremendo poder para controlar.

Na verdade, o que vimos na última vez é que Tiago diz: “Controle sua língua”, pois esse é o seu membro mais pecador, e se você controlar sua língua, você controlará todo o resto, porque a dinâmica espiritual que controla sua língua controlará todas as batalhas espirituais menores com as várias outras partes da sua humanidade. Então, quando você aplica os meios de graça para a disciplina e a santificação da língua, isso irá abranger todas as outras áreas de sua vida, porque a língua é a líder no que tange ao pecado. Você peca com ela com mais freqüência do que qualquer outra parte do seu corpo.

Você pode pecar com a sua língua simplesmente dizendo algo. Como eu disse na última vez, você não pode fazer tudo, mas você certamente pode dizer qualquer coisa. Você peca mais facilmente com sua língua. Nós pecamos mais prontamente com nossa língua. Nós pecamos com a nossa língua com mais força. Portanto, devemos controlar a língua por causa de seu potencial para condenar e seu poder de controle.

Agora, em terceiro lugar, devemos domar a língua por causa de seu perigo de corrupção. A língua é muito perigosa. Nos versos 2 a 5, Tiago simplesmente fala do poder controlador da língua. Ele não disse que ela era ruim. Ele não disse que era boa. Ele diz apenas que a língua é um membro controlador. Ela domina uma pessoa, e é a chave para o seu comportamento; e por causa de seu poder de controle, ela deve ser controlada. Ele mostra que a língua, por causa do seu poder de controle, é uma coisa tremendamente perigosa.

O poder de controlar que a língua possui não é sempre bom. Na verdade, muitas vezes é ruim, e um tom negativo definido domina as palavras de Tiago, enquanto fala sobre o poder da língua e seu perigo. Veja o versículo 5 novamente. Ele diz:

Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas . Vejam como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha.

Agora, esta é uma advertência acerca do perigo da língua. Ela tem um potencial terrível para a destruição. O texto realmente diz – preste atenção nisso – “como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha“, ou literalmente, compare o tamanho da floresta com o  tamanho da fagulha que provoca o incêndio na floresta. O contraste é assombroso. Um incêndio florestal pode começar a partir de um toco de cigarro queimado e criar milhares e dezenas de milhares de hectares de chamas.

O fogo é uma coisa fascinante. Você pode pegar uma pequena chama e ter uma cidade inteira incendiada no chão. O fogo tem uma capacidade incrível. A água não pode se multiplicar. Se você tiver um copo de água e você derramar, não se tornará uma inundação. Não pode. Mas, se você tiver uma faísca, você pode começar um incêndio florestal ou queimar uma cidade inteira, porque o fogo se multiplica. E a língua não é como a água, é como o fogo. O que sai da nossa boca pode incendiar uma floresta inteira.

E a imagem aqui é vívida, porque com todos aqueles arbustos secos da Palestina, uma pequena faísca poderia tocar o chão seco na estação seca e criar um incêndio que, literalmente, cobriria a paisagem e destruiria tudo em seu caminho. Nós conhecemos bem isso aqui na Califórnia, porque o terreno aqui é quase o mesmo da Palestina. No Salmo 83, lemos: “Deus meu, faze-os como um tufão, como a aresta diante do vento. Como o fogo que queima um bosque, e como a chama que incendeia as brenhas…“. O salmista ali alude ao fato de que uma pequena chama pode colocar uma montanha inteira, toda uma floresta em chamas.

Agora, isso é óbvio. Isso é o que chamamos de axioma ou  truísmo. Em Chicago, 8 de outubro de 1871, às 8:30 da manhã, uma faísca começou no celeiro da Sra. O’Leary e incendiou 17.500 edifícios. 300 pessoas morreram, 125 mil pessoas ficaram sem lar e, em 1871, estimaram o dano em US$ 400 milhões – uma simples faísca. Eu estava lendo que em 1903, uma panela de arroz cozida em um fogão a carvão em uma pequena casa na Coréia causou o incêndio de 3.000 edifícios, que ficaram totalmente destruídos.

Agora, isso ilustra o poder do fogo, e você entende isso. E, então, o que Tiago diz no versículo 5 é: “vejam como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha“. E então, no versículo 6, ele faz o seu argumento: “A língua também é um fogo… “. Provérbios 15:28 diz: “… a boca dos ímpios jorra coisas más.” Provérbios 16:27 diz: “O homem ímpio cava o mal, e nos seus lábios há como que uma fogueira.” Tudo o que a sua boca ardente toca é incendiado e o fogo se espalha.

Provérbios 26:20 diz: “Sem lenha, o fogo se apagará; e não havendo mexeriqueiro, cessará a contenda.” E a imagem aqui é que o mexeriqueiro, ou aquele que transmite o relatório maligno, a calúnia, ou a fofoca, ou a mentira, é como a madeira que alimenta o fogo. A mesma passagem em provérbios, versículo 21, diz: “Como o carvão para as brasas, e a lenha para o fogo, assim é o homem contencioso para acender rixas.“. A palavra  “acender” aí significa queimar. A imagem novamente da fofoca, difamação ou disputa é de um incêndio destruidor.

No Salmo 52:2, “A tua língua intenta o mal, como uma navalha amolada, traçando enganos.” Essa também é uma imagem fascinante. A língua é como uma navalha. Ela corta. A língua é uma “uma navalha afiada”, como dito no Salmo. A língua é um fogo que acende e queima. O mesmo Salmo 52: 2, que diz que a língua é uma navalha afiada, também diz nos versículos 3 e 4: “Tu amas mais o mal do que o bem, e a mentira mais do que o falar a retidão. Amas todas as palavras devoradoras, ó língua fraudulenta.

E no verso 5: “Também Deus te destruirá para sempre; arrebatar-te-á e arrancar-te-á da tua habitação, e desarraigar-te-á da terra dos viventes.” Deus julgará aqueles cujas línguas são danosas. Salmo 57:4, o salmista diz: “A minha alma está entre leões, e eu estou entre aqueles que estão abrasados, filhos dos homens, cujos dentes são lanças e flechas, e a sua língua espada afiada.

Jó 19: 2, Jó diz: “Até quando afligireis a minha alma, e me quebrantareis com palavras?“. O poder devastador de uma língua para iniciar um rumor, espalhar uma mentira maligna, o mal em sua intenção, é um incêndio que não pode ser interrompido. Lembro-me de tantas vezes que meu pai me disse: “O meu maior medo no ministério é do que as pessoas podem dizer“. A língua pode destruir totalmente um ministério.

Ele costumava me dizer: “As pessoas podem dizer qualquer coisa. Ore para que Deus te proteja do mal das línguas das pessoas que difamam, pois você nunca pode recuperar o estrago que elas fazem.” A língua é um fogo. É uma coisa devastadora. A língua deve ser mantida sob controle. Morgan Blake, um escritor de esportes para o Atlanta Journal, escreveu o que eu acho ser uma declaração interessante. Ele disse:

Eu sou mais mortal do que o projétil lançado por um canhão poderoso  Eu venço sem matar. Destruo lares, quebro corações e arruíno vidas. Eu viajo nas asas do vento. Nenhuma inocência é forte o suficiente para me intimidar. Não há pureza pura o suficiente para me assustar. Não tenho respeito pela verdade, nenhum respeito pela justiça, sem piedade para os indefesos. Minhas vítimas são tão numerosas como a areia do mar, e muitas vezes são inocentes. Eu nunca esqueço e raramente perdoo. E meu nome é fofoqueiro.

E é por isso que o versículo 19 de Provérbios, capítulo 10, diz: “Aquele que retém seus lábios é sábio.” Não seja combustível para o fogo de ninguém! Não seja a madeira ou o carvão que mantenham o fogo aceso! E, em seguida, observe o versículo 6 novamente. E aqui, eu acredito, é a declaração mais forte já feita sobre o perigo da língua. Na verdade, a afirmação é tão forte, que não tenho a certeza se posso transmitir-lhe tudo o que gostaria. Minhas habilidades na linguagem não são boas o suficiente para eu ser prosaico o suficiente para conseguir isso. Mas,eu confiarei que o Espírito de Deus fará isso.

Esta é a declaração mais poderosa já feita sobre o perigo da língua: “A língua é um fogo“, e então: “como um mundo de iniquidade”. É um kosmos de iniquidade. E continua: “… a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno.” A afirmação é  esmagadora. Podemos dividi-la em quatro partes, e quero que você preste muita atenção, porque elas nos avisam sobre o perigo da língua.

Número um: a língua é um sistema de iniquidade. Agora, esse é um estranho título para uma língua – um kosmos. A palavra grega Kosmos, muitas vezes é traduzida como mundo, mas é mundo não no sentido de Terra, não no sentido da terra física, mas do sistema do mal. E o que ele está dizendo é que a língua é um sistema de iniquidade. Trata-se de um sistema injusto, hostil e rebelde dentro da nossa humanidade. É todo um mal potencial que fica aquém do padrão de Deus. É o ponto focal de injustiça comportamental dentro do homem. Ela inflama todas as nossas capacidades em seu esforço para capturar a pessoa inteira no seu sistema perverso.

Um comentarista disse sobre a língua: “É o microcosmo do mal entre os nossos membros. A língua é um sistema vil, miserável e perverso em sua humanidade carnal. Nenhuma outra parte do corpo tem potencial de grande alcance para o desastre como a língua. Em primeiro lugar, em si mesma e por si só, é um sistema de iniquidade. É uma rede que gera o mal.

Em segundo lugar: a língua está definida entre os nossos membros como aquele que contamina todo o corpo. Ela em si mesma é um sistema de maldade, e então, contamina todo o corpo. É como a fumaça de um fogo: mancha tudo o que não queima. Mancha tudo.

Então, a língua é um fogo furioso, e o que não pode consumir, ele irá manchar com sua fumaça podre e suja. E assim você tem em seu corpo, atrás de seus dentes e murada pela sua boca, este sistema de iniquidade. O que a língua faz é manchar toda a sua pessoa com a fumaça, se não com as chamas, da sua má intenção. Tiago diz que ela está entre os nossos membros, ou nossas partes corporais. Ou seja, está incluída em todas as nossas capacidades humanas. A língua mancha tudo.

Tiago usa a palavra “contamina“, verso 6. Essa é uma palavra muito vívida. É usada em Judas 23, e  significa poluir: “… arrebatando-os do fogo, odiando até a túnica contaminada da carne“, algo que foi poluído e tornado grosseiro, mau ou miserável . Então, ouça: uma língua suja resulta em uma pessoa imunda. Uma língua imunda mancha toda a pessoa. Há um mundo de iniquidade em sua boca que pode queimar ou manchar de fumaça toda a sua pessoa.

É o que o Marcos 7, versículo 20, fala: “O que sai do homem, contamina o homem“. Versículo 23: “Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” E quais são estes males? Bem, Jesus menciona entre eles: o engano, lascívia, blasfêmia, orgulho, loucura e aqueles que envolvem pecados da língua. E até os outros pecados podem ter relações com a língua. Então, uma pessoa é moralmente contaminada por uma faísca da língua.

A palavra “corpo” aqui no verso 6, de Tiago 3, simplesmente significa a pessoa por completo. E não significa apenas seu corpo físico, significa a pessoa total, a alma também. Então, antes de tudo, na sua boca você tem um sistema de iniquidade. Em segundo lugar, esse sistema irá manchar e queimar toda a sua pessoa.

E, em terceiro lugar: “e inflama todo o curso da natureza”. Numa tradução mais literal, teríamos “está incendiando o círculo da vida“. O que isso significa? Note que o pensamento está se expandindo: primeiro diz que a língua é um sistema de maldade; em segundo lugar, ela mancha toda a pessoa; agora, ela está incendiando ou inflamando o que seria no grego “a roda do nascimento” ou “o círculo da vida“. O que isso significa? Toda a maquinaria de sua vida. Não só mancha você, mas mancha tudo o que você toca. Isso afeta toda a maquinaria de sua vida. A língua se estende além do corpo para tocar cada participante no círculo de sua vida.

As pessoas conhecem como você fala, certo? Elas te conhecem através de como você fala. A língua se estende além da boca para manchar seu corpo. Chega além do seu corpo para tocar toda a rede de pessoas que são tocadas por você. Fofoca, rumores, calúnia, falsas acusações, mentiras, discurso maligno podem manchar, poluir e destruir toda uma família, todo um grupo de pessoas, uma escola, uma igreja, uma comunidade.

E então, Tiago fala de um quarto fator, que é a declaração mais devastadora sobre o perigo da língua. Ele diz, finalmente, no final do versículo 6: “é inflamada pelo inferno.”

A declaração está no tempo presente, significando que a língua está habitualmente inflamada pelo inferno. Que pensamento! A palavra grega aqui para “inferno” é “Gehenna”. A palavra “Gehenna” é usada em todo o Novo Testamento apenas nos Evangelhos, com esta única exceção: esta é a única vez que ela aparece fora dos Evangelhos.

O Senhor a usou pelo menos dez vezes e Ele sempre usou a palavra Gehenna para se referir ao lugar de fogo eterno para onde as almas malditas irão. É o lugar onde o fogo nunca apaga, onde o verme nunca morre, onde a sede nunca está satisfeita. Mas, o que a palavra Gehenna significa? Ela é traduzida como inferno. Mas, o versículo poderia simplesmente ser traduzido assim: “é inflamada pela Gehenna“. O que é Gehenna?

Ao sul de Jerusalém, está o monte Sião. De lá, se olhar para o sul, você vê um vale profundo conhecido como o “Vale de Hinnom“. A Gehenna é o Vale de Hinnom. É a palavra grega para o hebraicoVale de Hinnom“. Agora, deixe-me falar sobre esse lugar. Em 2 Reis 23:10, temos o rei Josias – você se lembra do jovem Josias, que trouxe um grande avivamento, trazendo o povo de Israel de volta a Deus? Uma das coisas que ele fez foi abolir a idolatria. Uma das formas de idolatria era o sacrifício humano.

Os adoradores de Moloque o adoravam oferecendo-lhe seus filhos ao fogo para serem queimados, literalmente, sacrifícios humanos. Quando Josias se tornou o rei em Judá, ele impediu todos os adoradores de Moloque de queimarem seus filhos vivos. Por sinal, o deus Moloque era um touro que tinha os braços estendidos, sendo que naqueles braços estendidos havia fogo, e as pequenas crianças eram colocadas sobre os braços de Moloque e queimadas em sacrifícios humanos.

Josias aboliu esses sacrifícios, que ocorriam no vale de Hinnom. Assim, desde o início, o Vale de Hinnom era um lugar de queima, com o cheiro abominável da carne de crianças pequenas sendo queimadas vivas. Os judeus, então, odiavam aquele lugar. E, mais tarde, esse vale muito profundo tornou-se o depósito de lixo da cidade. Lixo, recusas, cadáveres de animais e criminosos eram lançados no vale de Hinnom ou Gehenna. Agora, para queimar todo esse lixo – que era abundante – incluindo os cadáveres de animais e criminosos que eram jogados lá, o fogo queimava o tempo todo.

Desse vale saia um fedor doentio, a combinação de lixo e carne queimada. O local tornou-se conhecido como “Gehenna de fogo“, porque o fogo nunca se apagava. E então, a Gehenna tornou-se um símbolo apropriado do fogo que nunca se apaga e dos vermes rastejantes para ilustrar o futuro inferno dos ímpios. Nesse inferno, Jesus disse: “o fogo nunca se apaga“. Podemos dizer que o inferno, então, é a eterna pilha de lixo do universo.

Portanto, observe que a língua é um sistema de mal por si mesma, mas ela afeta a pessoa inteira, vomitando a sua imundície, e põe sua fumaça imunda e fogo em todos os aspectos da vida, abrangendo toda a rede da influência de uma pessoa. A língua é inflamada pelo próprio inferno. Em outras palavras, por trás disso tudo está Satanás.

Essa língua que você tem e que eu tenho é uma ferramenta de Satanás para poluir toda a sua pessoa, para corromper todo o seu círculo de vida, e tudo vem diretamente do poço do inferno e tudo isso leva de volta ao poço de inferno. Pessoal, essa é uma descrição bastante forte, não é? Que descrição do perigo da língua! Ela é corrupta, muito perigosa, tão perigosa! E não é de admirar que Tiago esteja tão preocupado em que coloquemos a língua sob controle, para a honra de Deus, por causa de seu tremendo potencial.

Você se lembra do Salmo 55:21, onde Davi diz: “As palavras da sua boca eram mais macias do que a manteiga, mas havia guerra no seu coração: as suas palavras eram mais brandas do que o azeite; contudo, eram espadas desembainhadas. Às vezes, a língua é tão sutil que nós pensamos que ela pretende o bem, quando pretende o mal. Deve ser controlada. E todo crente percebe que, em sua queda, em sua carne, em sua humanidade, ainda resta o poder devastador da língua.

Sua língua, querido amigo, ainda não foi glorificada. Não será maravilhoso ter uma língua glorificada que não faça nada além de louvar a Deus e falar da justiça? Portanto, devemos controlar a língua por causa de seu potencial para condenar, de seu poder de controle e de seu perigo de corrupção.

Em quarto lugar, a língua é indomável. E eu chamo isso de um combate primitivo. Agora, o que quero dizer com primitividade é que a língua é selvagem,  indomável, incivilizada, indisciplinada, irreprimível, irresponsável. E a língua irá lutar contra todos os esforços para controlá-la. Você percebeu isso? Ela quer controlar, não ser controlada. Então, observe o que Tiago diz nos versículos 7 e 8: “Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana; mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.

Agora, o que ele está dizendo é que a língua é indomável. É primitiva, nesse sentido. É incivilizada, indisciplinada, humanamente indomável. É por isso que é tão perigosa. E as línguas não regeneradas são ainda mais perigosas. É incrível. A língua não pode ser domesticada.

Tiago diz que Deus deu ao homem o poder de controlar os animais – volte para o capítulo 1 de Gênesis. Mesmo depois da queda, Deus reiterou a Noé que ele poderia conseguir colocar todos os animais na arca. Quando Deus disse: “Você vai trazê-los de dois por dois“, Deus deu a Noé a habilidade de controlar esses animais para se certificar de que entrariam lá de dois em dois.

E hoje, o homem ainda é capaz de domar os animais. Você já esteve no circo e viu leões que são domesticados. Você já viu um sujeito ficar com a cabeça na boca de um leão. Você já viu pessoas montarem em baleias assassinas. Quero dizer, em grande parte, o homem é capaz de domar os animais selvagens, as bestas ferozes, grandes e fortes, as mais ferozes delas, as mais mortíferas delas. Eu já vi pessoas, e você também, com cobras rastejando por cima delas. Elas são capazes de domá-las.

Então, Tiago diz no versículo 7, que todo tipo de feras podem ser domadas. Ele primeiro fala dos animais que caminham e voam e depois fala daqueles que nadam e rastejam. O homem pode domesticar os animais selvagens. E ele pode domar os pássaros, pode domar os répteis e  as criaturas do mar. Nós todos sabemos disso. Mas, ninguém pode domesticar a língua. Ninguém entre os homens pode domesticar a língua. Ninguém é capaz de fazê-lo. Mesmo nós, os crentes.  A nossa língua sai da jaula, certo? Não podemos controlá-la.

Tiago não diz que a língua não pode ser domesticada. Preste atenção nisso: ele diz que o homem não pode domesticá-la. Há uma diferença. Você entendeu? Quem, então, pode domesticar, domar a língua? Deus pode, pelo Seu poder. Se o primeiro pecado registrado após a Queda veio de uma língua indomável – e foi, quando Adão culpou a Deus – então, o primeiro ato da nova criação e da igreja foi o domar da língua, porque a primeira coisa que aconteceu após a vinda do Espírito Santo foi, por assim dizer, as línguas de fogo divididas, e todos imediatamente falaram as maravilhosas obras de Deus.

O primeiro pecado foi um pecado da língua, e no nascimento da igreja, a língua purificada falava as maravilhosas obras de Deus. Mas aqui, Tiago diz que a  incapacidade do homem para controlar sua língua selvagem vem do fato de a língua ser um mal que não se pode frear. Está sempre pronta para sair. Ela luta contra qualquer restrição que lhe seja imposta. Não quer ser retida. Não é apenas como um animal enjaulado, um monstro querendo sair de sua restrição, mas quando ela sai da jaula,  carrega um veneno mortal, como a língua de uma cobra.

Romanos 3:13 diz: “veneno de áspides está debaixo dos seus lábios…“. Você se lembra do Salmo 140, verso 3? “Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios.” A língua é como uma cobra mortal. Libera um veneno fatal. A língua é um assassino. No Salmo 64, apenas os dez versículos deste Salmo, escute o que eles dizem:

Ouve, ó Deus, a minha voz na minha oração; guarda a minha vida do temor do inimigo. Esconde-me do secreto conselho dos maus, e do tumulto dos que praticam a iniquidade. Que afiaram as suas línguas como espadas; e armaram por suas flechas palavras amargas… [como se afia uma espada] A fim de atirarem em lugar oculto ao que é íntegro; disparam sobre ele repentinamente, e não temem. Firmam-se em mau intento; falam de armar laços secretamente, e dizem: Quem os verá?  Andam inquirindo malícias, inquirem tudo o que se pode inquirir; e ambos, o íntimo pensamento de cada um deles, e o coração, são profundos. Mas Deus atirará sobre eles uma seta, e de repente ficarão feridos. Assim eles farão com que as suas línguas tropecem contra si mesmos; todos aqueles que os virem, fugirão.

Deus vai voltar suas línguas contra eles mesmos. Mas, suas línguas são como flechas, lanças e espadas. A língua é um assassino. Você lembra que os príncipes de Ammon falaram mentiras contra Davi, acusando-o de hipocrisia em honrar Naás, seu rei e seu filho, Hanun? (2 Samuel, 10). O resultado foi que o rei montou um exército com milhares de seus soldados e acrescentou mercenários, além de outros, e os enviou para destruir Davi sem motivo, por causa dessa mentira. E o resultado foi uma terrível matança em que pereceram mais de 40 mil homens. Tudo por causa da mentira de um homem.

Você se lembra que a língua venenosa de Hamã deveria ser a ferramenta satânica para o extermínio dos judeus pelos medo-persas no livro de Ester, mas Deus os salvou através de Mordecai e Ester. E Hamã, que conspirou tudo com sua língua maligna, foi enforcado na forca que ele havia feito para os judeus. Você também se lembra dos homens de língua indomável que mentiram para o rei Zedequias sobre Jeremias, de modo que o rei lançou Jeremias num poço, onde ele mergulhou na sujeira – Jeremias 38.

E você se lembra dos lábios inquietos, aborrecedores e venenosos dos líderes judeus, que acusaram o maior profeta dentre todos os homens, João Batista, de ter um demônio e acusaram o Filho de Deus imaculado de ser um glutão, um bêbado, um amigo dos perdidos e um pecador possuído por demônios. E o resultado disso foi que João Batista e Cristo foram assassinados. Muitas pessoas morreram por causa do veneno mortal da língua; até mesmo nosso próprio Senhor.

Os odiadores do evangelho, com línguas inflamadas, induziram secretamente alguns homens a mentirem sobre Estevão e dizerem que ele havia falado blasfêmias contra Moisés e contra Deus. Eles agitaram o povo com suas palavras e o feriram até a morte, como é dito em Atos, capítulo 6. E quando Paulo chegou a Jerusalém, em Atos 21, os judeus da Ásia agitaram o povo contra ele, acusando-o falsamente de trazer um gentio ao templo. Eles arrastaram Paulo para matá-lo, mas ele foi resgatado pelos romanos. Porém, ele passou os próximos dois anos na prisão.

E assim vai.  O poder e o perigo da língua.  É um veneno mortal e uma arma mortal, matando a reputação, matando a alegria,  a paz, o amor, matando tudo no seu rastro. Portanto, a língua deve ser controlada por causa de seu potencial para condenar, seu poder de controle, seu perigo para corrupção e seu caráter selvagem.

Finalmente, o último ponto: a perfídia da língua. Perfídia significa traição, significa uma violação deliberada de confiança, infidelidade, hipocrisia, inconsistência, duplicidade.

A língua é um hipócrita. Ela tem a capacidade de contar uma versão e depois inventar outra versão para ser contada. Note que a língua também pode ser nobre, versículo 9: “com ela…” – isto é, com a língua – “…bendizemos a Deus e Pai…“. Não é maravilhoso? Sua língua, minha língua podem ser usadas para bendizer a Deus, o Pai. Isso é muito relevante, aliás, para os judeus a quem Tiago escreveu, porque sempre que eles mencionavam o nome de Deus, eles sempre falavam acompanhado destas palavras: “Bendito seja Ele, bendito seja Ele”.

E assim, com sua língua estavam sempre e sempre bendizendo a Deus. Três vezes por dia os judeus tinham que repetir o Shemoneh Esrei, as dezoito orações. E todas aquelas dezoito orações que repetiam três vezes por dia acabavam assim: “Bendito sejas, ó Deus“. Era costume Judeu usar a língua para bendizer a Deus o tempo todo. Os Salmos estão cheios de tais palavras direcionadas a Deus. E a função mais maravilhosa da língua é bendizer a Deus.

Então, no versículo 9, Tiago diz: “Com ela [a língua] bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.” Veja a duplicidade da língua, sua hipocrisia, sua perfídia, sua traição. A mesma língua que bendiz a Deus, amaldiçoa aqueles feitos à Sua imagem, calunia-os, critica-os, acusa-os, abusa-os, com raiva, ciúmes, inveja, ódio e amargura. Amaldiçoar significa desejar o mal a alguém. Porém, o homem é feito à semelhança de Deus.

É, aliás, uma semelhança indestrutível. O homem foi maculado, mas essa é uma semelhança indestrutível. Mesmo caído, o homem pecador ainda está na semelhança de Deus – em que sentido? Esse homem, como Deus, é racional, é pessoal, é um ser moral; o homem, como Deus, é autoconsciente. O homem tem vontade, consciência, razão. O homem pode saber, o homem pode amar. O homem pode agir com base no pensamento racional, na motivação e na intenção. E assim, ele é feito à imagem de Deus.

Como, então, o homem pode bendizer a Deus e amaldiçoar o homem, quando o homem é feito à imagem de Deus? E assim, no versículo 10, ele diz: “De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.” E há ilustração após ilustração sobre isso, não apenas na Escritura, mas certamente nas vidas de todos nós.

As mesmas bocas dos fariseus que, em um só suspiro, bendiziam a Deus, amaldiçoaram o Cristo. E então, eu sempre penso na boca de Pedro, que disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo“, e algumas semanas depois, está amaldiçoando venenosamente, dizendo: “Eu não conheço este homem!” – a mesmo boca. A boca do apóstolo Paulo fala verdades gloriosas e maravilhosas, e então, em Atos 23, amaldiçoa o sumo sacerdote de Deus em linguagem que não tem lugar na boca de um servo de Deus – “Deus te fira, parede branqueada!”, ele diz.

A mesma boca, minha boca, sua boca, a boca de todos nós, vem abençoando e amaldiçoando. E assim, ele diz no final do versículo 10: “Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.” Não está certo. Na língua original, essa é uma expressão bastante negativa, a propósito. É usada apenas aqui em todo o Novo Testamento. “Não convém“, ele está dizendo. Ou “isso não está certo“. Qualquer discurso profano é inconsistente, é inaceitável, é uma transigência com o pecado.

Deus nos salvou, e quando Deus nos salvou, Ele nos transformou, e quando Ele nos transformou, Ele nos deu uma capacidade de nova fala, e Ele espera que nós falemos assim. Tiago ilustra o óbvio com três imagens. Verso 11:  “Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?“. Qual é a resposta? A resposta é “não”. É possível que da mesma abertura na rocha, de onde flui a fonte de água doce (glukus, no grego), jorre também água amarga (pikros, no grego)? Claro que não, é impossível!  Essa é uma ilustração simples, não é?

Verso 12: “Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos?“. Totalmente impossível, absolutamente impossível. Deixe a natureza ensinar-lhe o que é óbvio. Você não pode ter água doce e amarga saindo da mesma fonte, você não pode ter azeitonas em uma figueira, e você não pode ter figos em uma videira. E então, vem a declaração de fato que termina a passagem, no verso 12: “Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.

Essa é uma conclusão, meus amigos, não uma pergunta. Ele está dizendo que um coração limpo, um coração fresco, não pode produzir água amarga, e um coração amargo não pode produzir água fresca. Então, o gosto do produto diz a natureza da fonte, certo? Tiago voltou para onde começou: o verdadeiros crentes serão revelados em seu discurso. E se você é um verdadeiro crente, isso pode ser visto pelo seu discurso, será visto pelo seu discurso.

Você diz: “Bem, espere um minuto, de vez em quando há um pouco de água amarga entre a doce…”. Eu sei disso. Mas Tiago está desenhando linhas exatas para nós, e ele está dizendo que é uma verdade que a água amarga não pode sair de uma fonte fresca. E é uma verdade em sua vida que se você foi transformado por Cristo, seu discurso irá mostrar isso. É o que ele está dizendo. Um figo deve vir de uma figueira. Uma uva deve vir de uma videira. Uma azeitona deve vir de uma oliveira.

A água amarga vem de uma fonte que tem sais amargos. A água doce vem de uma fonte de água doce. As palavras amargas vêm de um coração amargo. As palavras críticas vêm de um coração crítico. Palavras difamatórias e não amorosas vêm de um coração onde o amor de Jesus é um estranho. Os verdadeiros crentes serão revelados através de seu falar, e devem ser revelados através de seu falar.

E então, Tiago aborda esse assunto tendo em vista o paradoxo que o acompanha. Em um momento, ele está dizendo: “Se você é um cristão, é assim que será“. Em outro momento, ele está dizendo: “Se você é um cristão, é assim que deve ser“. E, enquanto ele diz que o falar santo é uma realidade em nossas vidas, ele também nos diz para buscarmos ter a certeza de que isso é uma realidade em nós. E esse é o paradoxo em que temos que viver.

Em Lucas 6, versículos 43-45, Jesus disse:

Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca.

E eu acredito que Tiago tinha essa passagem em mente quando ele escreveu isso. Ele estava realmente se referindo ao que nosso Senhor havia dito. O verdadeiro crente é conhecido por seu falar. Um verdadeiro crente fala com uma língua que está sob controle. Pedro diz que “quem quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano.” Por um lado, nós vamos ter esse padrão no falar. Por outro lado, devemos ter.

Tiago nos adverte sobre duas coisas:  que somos revelados através da nossa bocaque nossa boca tem um tremendo potencial de causar desastre. E assim, ele pede que tenhamos uma língua domada. E se o fizermos, é prova de que somos cristãos. E se o fizermos, é prova de que estamos caminhando em obediência. E quando você examina a sua vida, amado, se você vir que as coisas que saem da sua boca não deveriam sair, você precisa confessar como pecado e se afastar disso.

E a maneira como você reage àqueles momentos em que a água amarga sai da fonte doce é a chave para a sua força espiritual, a chave para o seu poder e efetividade espiritual. Bem, muito mais a ser dito, mas vamos orar.

Pai, agradecemos-Te novamente esta noite pela Tua Palavra para nós. Ajude-nos a controlar a língua. Dá-nos o poder de fazer isso. Que possamos ser os homens bons, que do bom tesouro de nosso coração produzimos boas coisas; fontes doces que produzem água doce. Que toda vez que abramos a boca, ministremos graça aos ouvintes.

Ó Senhor, lembramo-nos da maravilhosa passagem do apóstolo Paulo, em Efésios 4, onde ele diz: “Não deixe a palavra torpe sair da sua boca, mas só o que é bom para a edificação, para ministrar graça aos ouvintes.” E lembramos que a Escritura diz: “Deixe seu falar ser misericordioso, temperado com sal.”

Senhor, que eles nos conheçam não só pelo que fazemos, mas que eles nos conheçam pelo que nós dizemos. Que possamos ser identificados pelo discurso sagrado, e assim conhecidos como filhos de Deus. E nós agradecemos ao Senhor por nos permitir fazer isso, porque o Senhor nos deu um novo coração, e com isso, uma nova língua. Bendizemos o Teu nome, pelo amor do Salvador. Amém.


Esta é uma série de 2 sermões sobre ‘Domar a Língua”.  Links dos sermões já publicados:


Este texto é uma síntese do sermão “Taming the Tongue, Part 2”, de John MacArthur em 14/12/1986.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/59-18/taming-the-tongue-part-2

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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