Fome e Sede de Justiça
Em Mateus, capítulo 5, Jesus prega um grande sermão, que vai até o final do capítulo 7. É um sermão bastante longo. Mateus, lembre-se, introduz Jesus como Rei. Neste sermão encontramos o manifesto do Rei, ou os princípios de Seu reino.
Jesus ofereceu às pessoas um reino de bem-aventuranças, de felicidades. A palavra traduzida como “bem-aventurados” pode ser também “abençoados, felizes, satisfeitos”. Porém, Jesus estava oferecendo um reino em termos muito diferentes do que os judeus esperavam.
Cada uma das bem-aventuranças expressa condições e características que pertencem àqueles que entram em Seu reino. Cristo veio como Rei, Mateus aponta isso. Seu reino é um reino espiritual. Ele governa os corações e as vidas daqueles que creem em Seu nome.
Esse reino tem certas características e estas são delineadas nas bem-aventuranças. Este reino é composto por pessoas pobres de espírito, que choram, que são humildes, que têm fome e sede de justiça, que são misericordiosas, puras de coração, pacificadoras e que foram perseguidas, insultadas e contra quem todos os tipos de mal foi falado falsamente.
Essas são as características daqueles que estão no reino do Senhor. As pessoas do Reino estão felizes porque são caracterizadas por essas condições.
Esta noite vamos para o versículo 6, o quarto nesta lista das bem-aventuranças, dessas declarações de bênção. O versículo 6 diz: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados (ou fartos)”.
Esta beatitude fala de um forte desejo. Fala sobre uma paixão que move, uma fome e uma sede de justiça. Fome e sede aqui nos comunicam algo de uma necessidade profundamente sentida. Esse é exatamente o ponto que nosso Senhor está querendo comunicar.
As pessoas que entram e vivem em Seu reino são caracterizadas por um certo tipo de fome e sede. Elas têm um forte desejo. São movidas por uma ambição apaixonada. Estão em uma perseguição muito intensa pela justiça.
Não é incomum a humanidade ser intensa, ser apaixonada, estar perseguindo algo. Na verdade, a maioria das pessoas gasta suas vidas perseguindo a coisa errada. Muitas pessoas, naturalmente, têm ambições pervertidas, mas mesmo aqueles que têm ambições para o que, em nível humano, possa ser nobre, somente as alcançam no final de suas vidas, ou nunca chegaram a alcançar aquilo que perseguiram, ou alcançaram e estão frustrados por descobrir que ambicionaram coisas que não são o que pareciam ser. É fácil gastar sua vida procurando a coisa errada.
Há muitas ilustrações na Bíblia daqueles que perseguiram a coisa errada. Eu penso, antes de tudo, em Lúcifer, por exemplo, que já foi a criação mais gloriosa de Deus, que já era o anjo supremo entre os anjos, e ainda assim ele foi levado por uma ambição apaixonada, um forte desejo, uma busca inconsequente.
Ele tinha uma ambição decidida de ser como Deus (Isaías 14:13-14). Ele disse: “Eu serei como Deus”. Ele estava com fome de poder. Ele estava com fome de glória. E Deus reagiu o expulsando do céu (Isaías 14:15).
Outro que era muito ambicioso, que perseguia, com paixão, os objetivos da vida que ele mesmo tinha estabelecido, foi Nabucodonosor, o grande rei da Babilônia, o maior dos impérios do mundo antigo, como indicado por Daniel, o mais glorioso Império na história humana.
Ele tinha um forte desejo por glória. Ele queria que toda a glória viesse a si mesmo. Isso é, naturalmente, porque ele queria que todos se curvassem e o adorassem e não orassem a outros deuses.
Tudo isso acabou fazendo com que os amigos de Daniel fossem lançados numa fornalha ardente, por terem desobedecido aos desejos do rei. Mas, em Daniel 4, verso 30, o rei refletiu e disse: “Não é esta Babilônia, a grande que eu mesmo edifiquei como residência real, pelo meu poder e para a glória de minha majestade?” Aqui estava um indivíduo faminto por louvor. Deus reagiu a ele, ao expulsá-lo do palácio para o campo, onde viveu como um animal por sete anos.
Nessa situação, seu cabelo cresceu, como as penas de águia e as unhas como garras de pássaro. Ele perdeu o juízo. Ele estava desprovido de sentidos e tornou-se um louco por sete anos, quando Deus puniu sua ambição pervertida.
Jesus conta a história de alguém que é geralmente chamado de ‘o rico tolo’. A história está em Lucas 12. Ele estava tão encantado com suas ricas e abundantes colheitas, que pensou logo em algo para armazena-la, para que, sozinho, pudesse desfrutar de suas riquezas por uma longa vida.
Ele pensou em grandes celeiros que pudessem garantir uma longa satisfação de sua alma e muitos prazeres. Aqui está um homem que persegue possessões e o prazer. Ele nunca pensou que já tivesse o suficiente, ele só queria mais e mais.
Mas, Jesus disse que ele não era mais nada que um tolo. E no verso 20, diz: “Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus”.
É assim que a vida no mundo é. As pessoas no mundo buscam fama, fortuna, glória e posses, realizações que lhes trarão certa quantidade de poder, de louvor, de conforto, facilidade ou prazer.
E às vezes, por causa de todas essas ambições erradas, a própria ambição é de alguma forma posta de lado. Mas, a ambição é uma coisa maravilhosa, se for direcionada da maneira correta.
Na verdade, é exatamente disso que esta passagem está falando. O apóstolo Paulo, lembre-se, disse aos coríntios que tinha uma ambição e que sua ambição era agradar a Deus.
Nada de errado em perseguir um objetivo. E essa é a implicação aqui em Mateus capítulo 5, de que as pessoas que entram no reino e as pessoas que vivem no reino são pessoas que ambicionam algo. Elas estão muito conscientes do que não têm e do que querem desesperadamente. E isso é representado na linguagem da fome e da sede.
As pessoas no reino têm uma paixão por algo. Elas têm um forte desejo e estão perseguindo ambiciosamente isso. Não se trata de algo material. Não é glória ou honra mundana ou posses. É justiça. E a justiça é alimento para o cidadão do reino e água para a sua sede. É por isso que o paralelo é tão bom. Alimentos e água são necessidades, não são luxos. E assim é a justiça.
Você não pode viver sem comida e sem água. Da mesma forma, é impossível viver no reino de Deus sem justiça. Nossa vida física depende de comida e água, nossa vida espiritual depende da retidão.
E esta fome física do homem, que se torna tão desesperadora, é apenas uma espécie de pequeno símbolo da fome mais profunda e mais grave do coração que é identificada aqui – a fome que é uma fome espiritual.
Quando dizemos que alguém está com fome e sede, nós queremos dizer que está esperando uma refeição e um copo cheio de água. Mas, quando a Bíblia fala de fome e sede, está falando de uma necessidade para a qual não há solução imediata. Fala de um nível de desespero.
As pessoas que entram no reino de Deus vêm com um desespero, pois elas foram despertadas por Cristo e têm uma imensa compulsão em direção à justiça, que nada mais pode satisfazer.
No coração do ímpio há uma fome pelo pecado. Mas Deus, por seu poder, alcança esse coração, levando-o à convicção, tira essa fome de pecado e a substitui por uma fome de justiça, uma busca pelo verdadeiro pão da vida.
Vivemos em um mundo de pessoas famintas, sedentas e ambiciosas. E elas estão correndo como se estivessem morrendo de fome e sede, buscando satisfação. As pessoas no reino também são ambiciosas, só que pela justiça.
Pense no filho pródigo (Lucas 15). Ele tinha muitas paixões. Primeiro de tudo, ele tinha um desejo por dinheiro, um tesouro terreno. Ele tinha um desejo consumado pelo que poderia aquirir por meio de bens e prazer. Ele tinha paixão pela iniquidade e, por causa de seu impulso pelo pecado e de seu impulso pelo prazer, de seu impulso pelas posses e de seu impulso pelas coisas materiais, foi para o pai e basicamente exigiu sua herança.
E então, ele tomou sua herança e saiu, desperdiçou tudo em todas aquelas coisas que ele apaixonadamente desejou. Ele acabou satisfeito? Não, terminou vazio. Quando ele conseguiu pegar tudo o que estava perseguindo, quando conseguiu alcançar todos os seus objetivos e experimentar todas as suas ambições, ele estava vazio.
Por fim, foi buscar as bolotas dos porcos para se alimentar. Quando você alcança tudo o que você pensou que fosse te satisfazer, você descobrirá que não conseguiu nada mais que bolotas de porcos. I João 2:15-17 diz:
Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.
É tudo um vapor, um sonho, uma fantasia. Não fornece nenhuma satisfação, nenhuma. Assim, logo no começo, ao olhar para esta beatitude, de volta ao capítulo 5 de Mateus, você pode perguntar a si mesmo: Pelo que eu realmente tenho fome? Porque os resultados dessa pergunta, a resposta a essa pergunta dir-lhe-á se você é um cidadão do reino ou não.
Quer dizer, qual é a ambição que move sua vida? Qual é o desejo convincente do seu coração? O que é que você realmente deseja? O que é que você realmente quer? As pessoas que entraram e vivem no Reino de Deus têm fome e sede de justiça.
Agora, a fim de falar um pouco mais sobre esta beatitude, vamos fazer algumas perguntas.
A pergunta número um: Como essa beatitude se encaixa com as beatitudes anteriores, ou seja, com ser manso, humilde de espírito e reconhecer lamentosamente sua própria falência?
Bem, lembre-se agora, pobre de espírito significa ser moralmente falido. Alguém que entra no reino, que é cidadão do reino, reconhece sua própria falência moral, incapacidade, maldade e pecaminosidade.
Ele reconhece que não têm nada a oferecer ao Senhor para que Ele lhe conceda a salvação. Ele sabe que não tem mérito algum. Ele não pode fazer nada para ganhar Sua graça. E assim, há uma pobreza de espírito. Há uma falência de espírito.
Isso produz a segunda beatitude, a de luto, de choro. Ele se arrepende por causa de sua condição pecaminosa e o sofrimento por essa condição pecaminosa produz mansidão. Ou seja, quando você se percebe como moralmente falido, e quando você está verdadeiramente consciente sobre isso, você vai tomar o lugar mais baixo, diante de um Deus santo.
Mas ao invés de ficar apenas em um tipo de condição mórbida, a beatitude que estamos olhando hoje à noite nos diz que você passa a ter fome e sede de justiça. Uma fome que só é saciada com a justiça divina.
Tendo reconhecido que você não é e não tem nada, você sabe que precisa de Cristo, da justiça. Quando em mansidão, em luto e em quebrantamento, você vê sua verdadeira condição pecaminosa e começa a sentir fome e sede de justiça.
Então, veja, há uma sequência aqui. Vivemos em uma sociedade perseguindo todas as coisas erradas, até mesmo religiosas. Algumas virtudes humanas faz o homem acreditar que é suficiente. Esta é a falência do ser humano. Mas, ele não reconhece sua absoluta falência.
Mesmo aqueles que estão confusos em vários problemas, não estão sob um forte peso de convicção de pecado, de falência e miséria espiritual.
Jesus diz, em outras palavras: ‘Essas são as mesmas pessoas que, nesta condição, vão reconhecer que o que precisam desesperadamente é de justiça e o que não têm é justiça e por isso, têm fome e sede de justiça.’ É assim que esta beatitude se encaixa com as demais bem-aventuranças, ou seja, com os humildes, com os que choram sua falência, com os mansos e agora, com os famintos.
Essas são características de quem entra e está no reino de Deus. Você não para de perceber sua falência moral depois de entrar no reino. Pelo contrário: você provavelmente tem uma maior compreensão agora. Você não para de se lamentar por seu pecado, mas você provavelmente se aflige mais agora do que antes, pois conhece mais ao Senhor e as Escrituras Sagradas.
Quanto mais tempo no reino de Deus, mais intolerável fica o orgulho para você, então a humildade se torna algo mais desejável. Quanto mais perto do Senhor, mais você percebe a sua própria insignificância.
Agora, o versículo 6 também é transitório, não só por causa do que foi antes, mas por causa do que vem depois. Se você notar nos versículos seguintes, Jesus diz: “Bem-aventurados os misericordiosos, bem-aventurados os puros de coração, bem-aventurados os pacificadores”.
Até que você tenha fome e sede de justiça e esteja satisfeito, não poderá ser misericordioso, puro de coração e pacificador. As bem-aventuranças têm uma sequência maravilhosa e abençoada.
Uma segunda pergunta: O que significam fome e sede? Bem, eu já disse que é a ideia de um desejo intenso. De que estamos realmente falando aqui?
Vamos olhar um pouco mais para isso. A força das palavras de Cristo, novamente, pode não ser clara para nós, porque não sabemos o que é estar com fome e sede.
No mundo antigo eles lidavam com baixos salários e com comida escassa. Não havia lugares como restaurantes fast food, não havia fartura de comida. A perda de colheitas provocava tragédias. A luta não era, para a grande maioria, por prosperidade, mas por subsistência.
É neste contexto que Cristo falou. As pessoas em Seu reino são pessoas que buscam a justiça. É isso que elas querem. Elas não estão procurando a prosperidade material, curas, riquezas, sucesso, saúde, casamento, um ambiente mais feliz ou um trabalho melhor.
Elas não estão pedindo a Deus para apenas ajustar a sua vida um pouco e corrigir algumas das coisas das quais não gostam. Há um desespero em suas vidas, mas não tem nada a ver com esses assuntos temporais.
Moisés tinha recebido a lei de Deus e visto a glória de Deus. Em obediência, você se lembra, ao comando de Deus, ele erigiu o tabernáculo. E quando o tabernáculo foi concluído, ele entrou no tabernáculo e na presença de Deus, fez um pedido que revela o que realmente estava em seu coração. Êxodo 33:13, ele diz: “Mostra-me agora o teu caminho, para que eu te conheça”. E no versículo 18 ele diz: “Eu te suplico, Deus, mostra-me a tua glória”.
Qual é o ponto? Tudo o que Deus já lhe tinha mostrado só foi suficiente para criar um maior apetite por mais. Ele não orou uma oração de agradecimento por ter visto a glória de Deus, ao ver a mão de Deus nos maravilhosos caminhos através dos quais Deus tinha revelado a Si mesmo até aquele ponto. Ele não disse: ‘Eu já tive o suficiente, agradeço.’ Ele disse: ‘Mostre-me mais!’
Davi andou em tão íntima comunhão com Deus, que escreveu Salmos sobre a presença de Deus. Muitos dos Salmos falam sobre como Davi desfrutou e se alegrou na presença do Senhor e como ele mesmo foi consolado e como seu povo foi confortado pela presença do Senhor.
Foi Davi quem disse: “O Senhor é o meu Pastor” (Salmo 23:1). E ainda no Salmo 63: 1 e 2, Davi diz: “Ó Deus, tu és o meu Deus, desde cedo te procurarei. A minha alma tem sede de Ti. Minha carne anseia por Ti em uma terra seca e sedenta onde não há água para ver Seu poder e Sua glória”. Sempre querendo mais, sempre com fome, sempre sedento.
Paulo, em Filipenses 3, diz: “Para que eu possa conhecê-Lo”. Mas, Paulo conhecia o Senhor? Ele diria: ‘Preciso conhecê-lo mais!’
Pedro disse: “Crescei na graça e no conhecimento do vosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. E nós entendemos isso.
Eu acredito, e sempre disse isto: as pessoas se tornam cristãs quando atingem esse nível de desespero. Muitas pessoas entram e saem da igreja e fazem algum tipo de compromisso momentâneo com Jesus Cristo. Elas são como aquele terreno rochoso em Mateus 13, ou como aquele terreno cheio de ervas daninhas espinhosas. Elas vêm por um tempo, há um pouco de demonstração de resposta e depois, desaparecem.
A verdadeira questão é: o que realmente estava errado? O nível de desespero não era alto o suficiente. Elas podem ter ficado desesperadas por causa de algum problema, não por sede e fome de justiça.
O que leva legitimamente as pessoas a Deus não é uma fome e sede de uma vida melhor, prosperidade, felicidade, alegria, etc. O que impulsiona as pessoas é fome e sede de justiça. É quando elas percebem sua falência moral. Esse é o problema. Isso é o que deve estar no coração de quem vem ao reino. Ficar com fome não é suficiente. Devo estar morrendo de fome para saber o que há no coração de Deus para mim.
O que significa fome e sede? Significa estar desesperado em busca de algo extremamente necessário. Alguém assim está literalmente sobrecarregado com seu pecado e o que o leva a Cristo é uma verdadeira conversão, um anseio por justiça.
Agora, a terceira pergunta: Qual é o objetivo desse desejo?
Bem, o objetivo é receber justiça. Ele não diz que é para receber a felicidade. Eles não estão com fome e sede de felicidade. Eles estão com fome e sede de justiça. E é por isso que eles estão felizes.
Você não busca diretamente a felicidade. Deus a dá. Ele abençoa aqueles que estão sobrecarregados pela sua falência moral, que são subjugados pelo seu pecado e luto, que são mansos e humildes, que estão buscando desesperadamente justiça.
Eles não estão buscando a felicidade, eles simplesmente a recebem de Deus. Aquele que persegue a felicidade geralmente está condenado à miséria. Pessoas que ouvem o evangelho e fazem algum movimento em direção a Cristo porque querem que Jesus os faça felizes, nada alcançam.
Seria como um homem, com uma doença terrível, querendo uma anestesia para curar sua enfermidade. Se ele está apenas preocupado com o alívio de sua dor, ele é um tolo. Algo muito mais importante precisa ser feito. Ele precisa ser curado de sua doença mortal.
Assim é a realidade de tantos que vagueiam pela igreja buscando satisfação de necessidades psicológicas, emocionais, sociais, econômicas e físicas. É por isso que há tantas conversões superficiais, tanto cultivo de sementes infrutíferas.
O mundo gostaria de eliminar a dor e não o problema. Grande diferença. E o problema por trás da dor é o pecado. Muitos estão buscando êxtases espirituais, riquezas, alegria e alívio de dor. Isso não vai trazê-los para o reino. O problema permanecerá intacto.
Só iremos encontrar a saída quando estivermos ansiando pela justiça, cansados do pecado e desejando uma reconciliação com o Criador. Quando nosso desejo é o Céu e não a Terra.
Esta é a mensagem que a igreja deve levar ao mundo. O homem precisa reconhecer sua falência total. Qualquer outra coisa é uma mensagem falsa, uma solução falsa.
Assim, em primeiro lugar, a fome e a sede de justiça têm a ver com a salvação. Todas as demais coisas não são o problema. A questão é eterna, é sobre o meu relacionamento com o Deus eterno. É sobre o problema do pecado.
O homem que tem fome e sede de justiça vê, angustiado, que o pecado o separou de um Deus santo. Foi uma rebelião que produziu uma separação com imensas implicações no tempo e mais notavelmente na eternidade, ou seja, a punição eterna no inferno.
A pessoa anseia por terminar essa separação, anseia por acabar com a rebelião, anseia por ser perdoada do pecado, para que possa entrar na bênção de Deus no tempo e no céu de Deus na eternidade. Esse é o problema. As pessoas não vão ser salvas quando buscam uma vida feliz. Elas vão entrar no reino quando buscam a justiça. Martyn Lloyd-Jones escreveu:
Fome e sede de justiça é desejar ser livre de si mesmo, em todas as suas manifestações horríveis, em todas as suas formas. Quando consideramos o homem manso, vimos que ele está livre de si mesmo em todas as suas formas: orgulho, jactância, autoproteção, sensibilidade, imaginação de que as pessoas estão contra ele e um desejo de se proteger e glorificar a si mesmo. O homem que tem fome e sede de justiça é um homem que anseia estar livre de tudo isso.
Em muitas passagens do Velho Testamento, a justiça é sinônimo de salvação. Eu não vou ter tempo para desenvolver isso, mas eu posso pensar em pelo menos meia dúzia de vezes no livro de Isaías onde justiça e salvação são equiparadas.
Então a salvação, que é o perdão do pecado e a entrada no reino de Deus, pertence àqueles que têm fome e sede de um relacionamento correto com Deus.
E quando eles ouvem isso, essa correta relação com Deus está disponível através de Jesus Cristo, eles vêm abraçando Cristo em desespero. Eles sabem que são incapazes de agradar a Deus em sua própria carne, porque estão falidos moralmente.
Um homem deve desejar justiça suficiente para abandonar toda esperança de alcançar a salvação por seus próprios esforços, pelos esforços de outra pessoa, algum intercessor terrestre ou algum sistema religioso.
E quando a pessoa chega a esse ponto e persegue o perdão do pecado por meio de Jesus Cristo e a justiça de Deus, que então é imputada a ele, como a Bíblia diz, pela fé, quando o ser humano busca essa justiça, ele é satisfeito. Deus dá a ele. E, antes de tudo, é a justiça da salvação.
Mas, em segundo lugar, eu acho que teríamos que acrescentar que também é a justiça da santificação, porque depois que você entrou no reino porque está buscando a justiça, você não para de buscá-la. Você continua a buscá-la, não no sentido imputado de justificação, mas no sentido de santificação.
Tenho certeza que é verdade em você, como um cristão, o querer contínuo pela justiça. É um modo de vida. Você quer o que Deus quer. Você odeia o seu pecado. A vida se torna uma questão de buscar a justiça.
Você deseja não somente a justiça que vem junto com a salvação, pelo ato de Deus declarando-o justo e imputando a justiça de Cristo mesmo a você, mas você deseja a justiça que vem em santificação, que é a contínua conformidade com Cristo.
Eu tenho recebido Sua justiça em justificação e estou perseguindo Sua justiça em santificação. Sua justa vida perfeita foi posta em minha conta em justificação, mas estou trabalhando para ter minha própria vida em conformidade com Seu caráter em santificação.
Agora, de volta ao versículo 6, outra pequena nota sobre a linguagem aqui: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça“. É uma justiça total que está sendo buscada aqui, nada abaixo disso. No grego, o sentido é de ter um desejo de justiça perfeita. É um anseio de plena justiça.
Você está com fome para o que é a justiça muito abrangente, completa e total de Deus. Ela começa com a salvação e continua com a santificação.
Você foi declarado justo. Isso é salvação, justificação. E agora, você precisa buscar a justiça em santificação. Muito importante. E o que isso significa é : sim, sou justo como Cristo em justificação na salvação, por imputação, mas desejo ser tão justo como Cristo na minha santificação.
Isso é exatamente o que Paulo estava dizendo quando disse: “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3:14).
Se você é chamado do alto, qual é o prêmio? Ser como Cristo. Paulo diz que é o prêmio e esse é o objetivo, eu quero ser como Cristo. Paulo disse aos Gálatas: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós” (4:19).
E este conhecimento pleno de Cristo é algo que não alcançaremos neste corpo mortal, como Paulo diz: “Prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus.” (Filipenses 3:12).
Agora, qual é o resultado? Bem, o resultado é dado no versículo 6: “Eles serão satisfeitos … e abençoados”. No grego, a ideia é de estar totalmente cheio.
A busca da justiça traz satisfação. Se você perseguir, você receberá. Salmo 107:9 diz: “Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma faminta”. Salmo 34:10 diz que “àqueles que buscam ao Senhor bem nenhum faltará”. O Salmo 23:1 diz: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará”.
Jeremias 31:14 diz: “O meu povo se fartará da minha bondade, diz o Senhor”. Efésios 1:3 diz que Deus “nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”.
Efésios 1:3 diz que Deus “é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera”. Você terá toda a plenitude de Cristo habitando em você, todas as riquezas e tesouros da divindade estão Nele e tudo o que Ele é habita em você.
Isso é o que significa estar satisfeito. Você está buscando a justiça de Cristo para ser imputada a você em salvação, você vai recebê-la. Você está procurando ser conformado à imagem de Cristo em santificação. E, ao prosseguir, Deus concederá graciosamente a você. Até um dia em que você será feito como Ele, porque você O verá como Ele é. Aí vem a felicidade.
Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro. (I João 3:2-3)
Agora, finalmente, uma pergunta pessoal: como eu sei se estou realmente com fome e sede de justiça? Algumas perguntas, você pode respondê-las por si mesmo.
Primeira pergunta: você está insatisfeito com você mesmo? Você realmente é uma pessoa que diz: “Ó homem miserável que eu sou” (Romanos 7)? Você se sente constantemente em falta? Você sente uma dor constante, mordaz, porque você sempre está aquém?
Você está mais triste porque você sabe que Deus é desonrado por suas ações ou palavras ou atitudes? Você está mais preocupado com as implicações divinas de seus fracassos do que as implicações humanas?
A questão é, você está insatisfeito com você mesmo? E quem está realmente perseguindo a justiça, qualquer um que é novo nascido, diz: “Sim, eu entendo essa insatisfação. É assim que me sinto”.
E, você sabe, à medida que você cresce, como um cristão, você terá uma maior fome de justiça, porque quanto mais maduro você se tornar como um crente, maior será o seu pecado para você e mais insatisfeito você vai se tornar.
É realmente uma coisa estranha de viver. Quanto mais você é um cristão, quanto mais você anda fielmente com o Senhor, mais o pecado diminui. Mas, mesmo que possa haver pecado menos freqüente, ele é mais odioso para você porque você cultivou anseios elevados diante de Deus.
Segunda pergunta: você acha que as coisas externas não satisfazem você? Você acha cada vez mais que as coisas têm pouca influência sobre como você se sente?
Houve um tempo em sua vida em que era muito importante ter certas coisas, conseguir certas coisas, satisfazer certos objetivos, mas você descobriu que, como você continuou a buscar a justiça, as coisas têm pouca influência?
Se as coisas o enchem e o satisfazem, comprometendo seu apetite de justiça, você pode estar em uma condição séria. Se você der flores para alguém com fome, não ajuda. Se você tocar uma bela melodia para alguém sedento, ou então ter uma boa conversa com ele, não ajuda. Nada satisfará, a não ser comida e água. Você pode se satisfazer com coisas externas?
Terceira pergunta: tenho um grande apetite pela Palavra? Acho que é uma pergunta justa. Se você quer saber se você está com fome e sede de justiça, você anseia por estar na Palavra? Você ama a verdade de Deus? Você ama a Escritura? Você ama ler a Palavra de Deus? Você tem esse desejo de aumentar seu conhecimento de Deus para que você possa conhecê-Lo mais e ser capaz de imitá-Lo?
Quarta pergunta: as coisas de Deus são preciosas para você? Você se delicia com tudo aquilo que vem do Senhor? Elas produzem satisfação a você?
Quinta pergunta: sua fome e sede são incondicionais, absolutamente incondicionais? Você pode dizer como o salmista: “A minha alma está quebrantada de desejar os teus juízos em todo o tempo”? (Salmo 119:30).
Você pode dizer como Isaias: “Com minha alma te desejei de noite, e com o meu espírito, que está dentro de mim, madrugarei a buscar-te”?(Isaias 26:9).
Você pode dizer com Davi: “Ó Deus, tu és o meu Deus, de madrugada te buscarei; a minha alma tem sede de ti; a minha carne te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água” (Salmo 63:1)?
Estendo para ti as minhas mãos; a minha alma tem sede de ti, como terra sedenta (Salmo 143:6)
Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? (Salmo 42: 1-2)
Estas são perguntas muito básicas para fazer o inventário essencial do seu próprio coração. Se há alguma dúvida sobre o seu desejo de justiça, pode ser que você não seja um cristão verdadeiro. Ou então, você se afastou tão tragicamente das prioridades, que passou a desejar as coisas perecíveis. É um momento de arrependimento. Vamos orar.
Nosso Deus, estamos continuamente perplexos pela imensidão do tesouro da Escritura. Nós não podemos nem tocar a superfície de tudo o que poderia ser dito sobre o rico conceito de fome e sede de justiça e sobre estar satisfeito. Senhor, como oro para que o que foi dito tenha sido claro, cativante, convincente, e traga a todos a um verdadeiro exame honesto de nossos corações. Senhor, todos nós admitimos que estamos com fome de uma justiça que sabemos que não temos. Somente se o Senhor nos conceder a justiça de Cristo em justificação e se pelo Teu Espírito nos conformar com Tua imagem em santificação, pode a fome ser satisfeita. Mas, esses são desejos santos, essas são aspirações justas que pertencem ao povo do reino. Pai, deixa tudo isso claro em nossas mentes, a fim de que possamos examinar a nós mesmos e que possamos ajudar os outros a compreenderem também estas profundas e penetrantes palavras do próprio Salvador, em cujo nome pedimos. Amém.
Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre o Sermão da Montanha
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Este texto é uma síntese do sermão “The Only Way to Happiness: Thirst for Holiness”, de John MacArthur em 31/05/1998.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/90-192/the-only-way-to-happiness-thirst-for-holiness
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno
Gostei muito do seu artigo, tem muito conteúdo de valor, parabéns, nota 10, gostei muito.