Introdução a Efésios

A graça é a fonte e a paz é o rio que nasce dela. Porque temos fé em Deus, temos paz com Deus. A mensagem de Efésios é que você possa compreender a graça de Deus, possuir a paz de Deus, fazer parte da sua Igreja e ter à sua disposição as suas infinitas riquezas. É um livro sobre riquezas espirituais, herança, plenitude, que nos diz o que possuímos em Cristo

A Carta aos Efésios é um tesouro para a igreja, suas riquezas são ilimitadas. Apenas como introdução, veremos agora seus dois primeiros versículos.

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo (Ef 1.1-2)

Conheço histórias de pessoas avarentas que morreram por desnutrição grave. Uma delas tinha uma grande fortuna na conta bancária, mas chegou ao extremo de comer apenas mingau frio de aveia e acabou morrendo desnutrida.

O livro de Efésios foi escrito para cristãos assim. O tipo de cristão que não compreende as riquezas que possui em Cristo; que vagueia pela vida em estado de desnutrição espiritual e que não sabe onde está o banquete. O tipo de cristão que não sabe como aproveitar seus recursos, talvez porque não saiba quais são, e por isso nunca descobre de fato o quão rico é.

As riquezas espirituais do crente

Se você entender o livro de Efésios, você compreenderá as profundas riquezas disponíveis para o crente. É um livro sobre riquezas espirituais, herança, plenitude, que nos diz o que possuímos em Cristo. Alguns o chamam de a casa do tesouro da Bíblia. Temos neles riquezas inesgotáveis.

Efésios 1.7 fala das riquezas da sua graça; Efésios 3.8 fala sobre as riquezas insondáveis de Cristo; Efésios 3.16 fala das riquezas da sua glória. Ou seja, as riquezas da sua graça, as riquezas de Cristo e as riquezas de sua glória.

Deus exibe todas as suas riquezas no livro de Efésios. A palavra “graça” é usada 12 vezes. “Graça” significa a bondade e o favor imerecidos de Deus. A palavra “glória” é usada 8 vezes. A palavra “herança” é usada 4 vezes. A palavra “riquezas” é usada 5 vezes. As palavras “plenitude” e “cheio” são usadas 7 vezes. E a chave para tudo é que, porque estamos em Cristo, toda a plenitude das riquezas da herança da glória da Sua graça é nossa. Você entendeu?

Porque somos um com Cristo em sua Igreja e somos redimidos, essa plenitude incrível é nossa. Talvez a síntese de tudo isso esteja no capítulo 3, versículo 19, que diz: “e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus”. E então “iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos” (Ef 1.18).

E, num pensamento maravilhoso, Paulo diz: “àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3.20-21).

São todos conceitos grandiosos. Temos a plenitude do Pai, do Filho e do Espírito Santo:

E conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus (Ef 3.19)

Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4.13)

E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito (Ef 5.18)

E há uma garantia de ouro para tudo isso. Paulo escreveu:

[…] depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória (Ef 1.13,14).

Romanos 8.17 diz: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados”. Possuímos o que ele possui; todas as suas riquezas estão à nossa disposição.

Pedro a chama de herança incorruptível e imaculada, reservada nos céus para nós (1Pe 1.3-5). Em Cristo “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3). Tudo isso é nosso por estarmos em Cristo, não é uma riqueza que conquistamos, tudo é por causa dele.

Em Efésios, todas as nossas riquezas se baseiam: na sua vontade (1.25); na sua graça (1.6-7); na sua glória (1.12-14); no seu poder (1.19); no seu amor (2.4); no seu consentimento (1.9); no seu propósito (1.11); no seu chamado (1.18); na sua herança (1.18); na sua obra (2.10). Tudo isso é por causa dele. É tudo o que somos em Cristo, e assim essas coisas se tornam nossas.

Esta é a casa do tesouro. É aqui que você verifica seus recursos. Nos três primeiros capítulos, ele diz o que são esses recursos (as riquezas do crente). Não fala apenas sobre as nossas riquezas, mas também de que tudo isso é nosso pelo fato de sermos membros do corpo de Cristo. E nos últimos três capítulos, ele diz como usá-los (a prática).

O mistério oculto que foi revelado ao santos do Novo Testamento

A carta aos efésios diz como a Igreja funciona, como atuamos na Igreja e fala das riquezas da Igreja. O pensamento-chave em relação à Igreja é a seguinte declaração:

Pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, a saber, que os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho (Ef 3:3-6).

Paulo apresenta o mistério da Igreja que lhe foi divinamente revelado. Que mistério era esse que estava oculto aos santos do Antigo Testamento? Os gentios e os judeus seriam um só corpo na Igreja.

A quem Deus se revela?

1) Há a revelação geral, que são coisas que Deus revela a toda a humanidade, de forma indistinta. O Salmo 19.1 diz: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos”. E Romanos 1.18-20 diz:

A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis.

2) Há alguns segredos que Deus nunca revela a ninguém, em nenhum momento. Ninguém conhece esses segredos. Deuteronômio 29.29 diz: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”.

3) Há segredos que Deus revela a pessoas especiais. E essas pessoas são os crentes. Tudo o que Deus revelou ao seu povo é para todo o seu povo saber. É por isso que está registrado nas páginas da Palavra de Deus.

O segredo do Senhor é para os que o temem; e ele lhes fará saber o seu concerto (Sl 25:14);

Certamente o Senhor Jeová não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas (Am 3:7);

Porque o perverso é abominação ao Senhor; mas com os justos está o seu segredo (Pv 3.32)

Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11.25-27)

4) Há algumas coisas que Deus mantém em segredo de todos, por um período de tempo, e finalmente revela ao seu povo especial no Novo Testamento.

Não se perca. Ponto um: Deus guarda alguns segredos permanentemente. Ponto dois: Ele revela algumas coisas a todo o seu povo ao longo da história. Ponto três: Ele guardou alguns segredos ao longo de todo o Antigo Testamento e os revelou apenas ao povo do Novo Testamento.

Sabemos coisas que os santos do Antigo Testamento não sabiam. O Novo Testamento é uma nova verdade para uma nova era, segredos sagrados revelados por Deus. De fato, os santos do Antigo Testamento costumavam olhar para tentar ver o significado das coisas.

Por exemplo, em 1 Pedro 1.10-12, o apóstolo diz que os santos do Antigo Testamento olhavam para aquilo que eles estavam escrevendo sobre a redenção e não sabiam quando viria o redentor e nem quem seria o redentor. Eles sabiam que o servo sofredor viria, e a salvação deles era baseada na fé de que Deus enviaria esse redentor.

Sempre que você vê a palavra “mistério” no Novo Testamento, ela significa simplesmente algo que estava oculto e agora está revelado no Novo Testamento. E qual era o mistério que Paulo fala aos efésios? Que a Igreja viria à existência e que seria um só corpo, incorporando judeus e gentios em um único organismo vivo (Ef 3.1-6). Isso é algo que os santos do Antigo Testamento nunca viram.

Sabemos coisas que os santos do Antigo Testamento jamais conheceram. Temos verdade espiritual e recursos espirituais que eles nunca tiveram. As riquezas descritas na carta aos Efésios estão disponíveis para a igreja de Cristo. Veja esse texto:

Então, se aproximaram os discípulos e lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido (Mt 13.10-11).

Por que Jesus disse isso? 1 Coríntios 2.14-15 responde:

Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo”.

Jesus falava em parábolas para revelar coisas apenas aos que criam e escondê-las dos incrédulos. Deus sempre guardou seus segredos para o seu povo. Os mistérios são algo oculto que Deus revela ao seu povo especial na era do Novo Testamento. Veja o que Mateus escreveu:

Tudo isso disse Jesus por parábolas à multidão e nada lhes falava sem parábolas, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas a boca; publicarei coisas ocultas desde a criação do mundo (Mt 13.34-35).

Os mistérios do Reino do Céus

Os mistérios do reino dos céus foram segredos desde a fundação do mundo até a era do Novo Testamento, quando Jesus abriu a boca e os ensinou. Que recurso espiritual! Que tesouro de realidade divina é o nosso, porque estamos em Cristo e em Sua igreja, e vivendo nesta era incrível em que a revelação de Deus é plena e completa.

Em Mateus 13.11 Jesus diz: “Porque vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos céus…”. Jesus não fala de “mistério”, mas de “mistérios”. Vamos entender por que Jesus falou de “mistérios” (no plural) e não de mistério (no singular).

Os santos do Antigo Testamento sabiam que haveria um reino, eles criam e esperavam por esse reino. Eles aguardavam o Messias (que significa Rei). Jacó profetizou: “O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos” (Gn 49.10). Siló é um referência ao Messias, um Rei a quem pertenceria o Reino.

Não havia mistério algum sobre um reino no Antigo Testamento. O último profeta do Antigo Testamento, João Batista, pregava no deserto da Judeia: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3.2).

Quando Jesus começou seu ministério, ele pregava: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4.17). Jesus ofereceu um reino a Israel, ele era o Rei. Ele veio para estabelecer um reino. Todo judeu esperava por isso.

Então você pergunta: “Então, de que mistério Paulo se refere em Efésios 3.1-6?”. O mistério não é que o Rei viria e traria um reino, o mistério é o que aconteceu quando Israel rejeitou o Rei.

Enquanto Pilatos queria soltar Jesus, a multidão clamava: “Crucifica-o! Crucifica-o!” (Jo 19.6); “Não temos rei, senão César!” (Jo 19.15); “Fora com este! Solta-nos Barrabás!” (Lc 23:18). Ou seja, eles disseram: “não queremos que este homem reine sobre nós”.

O reino foi adiado e virá no futuro, na volta do Rei. Apocalipse 20.4 diz que, após a volta de Jesus e a prisão de Satanás, os santos viverão e reinarão com Cristo durante mil anos. As promessas de Deus a Israel, através das alianças Abraâmica, Davídica e Nova Aliança, serão cumpridas.

Cristo veio como Rei, mas o reino foi adiado porque o Rei foi rejeitado. O que temos até que esse reino seja estabelecido no futuro nunca foi visto pelos santos do Antigo Testamento. Esta é a forma misteriosa do Reino dos céus, a parte que os santos do Antigo Testamento não viram.

E nesta forma de mistério, há um monte de mistérios. É por isso que Jesus falou desses mistérios no plural (Mt 13.11). Se o intervalo entre a primeira vinda do Rei e a sua volta para estabelecer o reino nunca foi conhecido pelos santos do Antigo Testamento, então as coisas que ocorrem neste intervalo também nunca foram conhecidas.

Estamos vivendo em um tempo que não há definições e descrições no Antigo Testamento. Judeus e gentios sendo um na Igreja e Deus deixando Israel de lado por um tempo e chamando gentios para si.

A conversão de gentios ocorreu no Antigo Testamento, mas nunca houve um tempo em que Deus chamou os gentios para serem seu povo da maneira como vemos na era da Igreja, unidos a judeus em um só corpo em Cristo. Este é o mistério nunca revelado. Um segredo incrível nunca conhecido ou compreendido.

O Reino Interno e o Reino Milenar

Você pergunta: “Isso é chamado de uma forma misteriosa do reino. Em que sentido isso é um reino se o Rei está ausente? O Rei está no céu”.

Colossenses 1.13 diz: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor”. Estamos em um reino.

Mas você questiona: “Que reino é esse? Satanás é o deus e o príncipe deste mundo (2Co 4.4; Jo 14.30). Ele é o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência’ (Ef 2.2). Ele governa este mundo. Como pode haver um reino santo diante disso”?

Quando Jesus voltar teremos seu reinado de mil anos nesta terra. A besta e o falso profeta serão lançados no lago de fogo, os inimigos de Deus serão destruídos, Satanás será aprisionado, e os santos reinarão com Cristo por mil anos (Ap 19.20-21; 20.1-6). Será um reino de paz neste mundo. Isso foi definido e descrito no Antigo Testamento.

Mas, enquanto a volta de Jesus não acontece, estamos em um período intermediário, que Paulo chama de mistério. Neste período Cristo não governa externamente, mas Ele governa internamente nos corações dos redimidos.

No milênio Cristo governará e reinará no trono em Jerusalém, na cidade de Davi. Na dispensação da graça ele reina no coração do crente. Ele está entronizado em nossos corações.

No reino milenar haverá paz, hoje ele é a paz que habita no coração do crente. Por isso Filipenses 4.7 diz: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”.
No reino milenar Cristo dispensará a salvação. Ele a dispensou em nossas vidas agora.
No reino milenar haverá alegria, felicidade e bênçãos, e as coisas florescerão, e o mesmo acontece na vida de um crente obediente agora.

Portanto, o que é externo no milênio é interno na forma de mistério na presente dispensação. E assim, estamos desfrutando algo que será ainda mais tremendo no reino milenar de Cristo. É por isso que, quando a Igreja nasceu, Pedro se levantou e citou a passagem de Joel e disse: “Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne…” (Ef 2.16-17).

O que vivemos hoje é um cumprimento preliminar e misterioso daquilo que finalmente ocorrerá no reino. Portanto, estamos vivendo em um segredo sagrado; estamos vivendo em uma era que o Antigo Testamento nunca viu: a forma misteriosa do reino.

E a chave para esse mistério é a incrível verdade de que Deus tomaria judeus e gentios e os tornaria um só corpo. Somos um só corpo em Jesus Cristo. Efésios 2.14 diz: “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio”.

Colossenses 1.26-27 diz: “o mistério que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora, foi manifesto aos seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória”.

Dentro deste reino de mistério, existem todos os tipos de outros mistérios. E o Novo Testamento está repleto deles. Há o mistério da habitação de Cristo (Cl 1:26). Os santos do Antigo Testamento nunca viram a realidade de que Cristo habitaria no coração do Seu povo. Por quê? Porque viam apenas um reino externo.

Em Colossenses 2:2-3 fala do mistério de Deus em carne. Eles nem sequer viam claramente a encarnação divina. Romanos 11.25 fala do mistério da incredulidade de Israel. Eles nunca imaginaram que Israel chegaria a uma incredulidade tão grande a ponto de ser completamente posto de lado por um tempo e a igreja gentia tomaria o seu lugar.

Apocalipse 17 fala do mistério da Babilônia, o terrível e vil sistema econômico e religioso do fim dos tempos não foi visto no Antigo Testamento. O mistério da unidade dos crentes (Ef 3 e 4). O mistério do arrebatamento (1Ts 4.17). O arrebatamento da igreja não está no Antigo Testamento, porque a Igreja não está e nem foi vista no Antigo Testamento.

Mas o mistério de Deus estará completo na volta de Jesus. Apocalipse 10.7 diz: “mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos”.

O corpo de Cristo

Portanto, toda esta era está repleta de segredos sagrados sendo revelados. Agora, amados, fazemos parte desta era em que Deus revelou verdades incríveis e colocou à nossa disposição riquezas inacreditáveis. E o livro de Efésios revela tudo isso.

Mas a verdade fundamental é que o livro de Efésios apresenta a igreja como um corpo (Ef 3.6). É uma metáfora perfeita. Metáfora é uma maneira de dizer algo que lhe dá uma melhor compreensão. A Igreja é como um corpo, um organismo interligado.

A Igreja não é uma organização e nem um edifício. É um organismo. Somos todos um em Cristo, e através de nós pulsa o sangue, por assim dizer, da vida de Deus. Se um crente no corpo não faz o que deveria fazer, o corpo funciona mal naquele lugar, e quando funciona mal, alguém tem que assumir a responsabilidade. E o corpo manca.

O corpo deve ser íntegro e completo, e é por isso que Efésios 4.13 diz: “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”.

Gosto de chamar a Igreja de “corpo dois”. O corpo um é o Cristo encarnado. O corpo dois é Cristo encarnado em Sua Igreja. E devemos ser tão íntegros e tão plenos quanto ele era quando andou aqui em corpo. A Igreja é um corpo.

Existem outras metáforas usadas para a igreja que têm paralelos no Antigo Testamento, mas corpo não é um deles. No livro de Oseias, Deus compara Israel a um noiva. Em Isaías 5 Deus chama Israel de videira. Isaías 40 e Salmo 23 retrata Israel como um rebanho.

A ideia de videira, de rebanho e de noiva é do Antigo Testamento. E do Novo Testamento também. Em Efésios 5.22-33 e Apocalipse 22.17 a igreja é vista como a noiva de Cristo. Em João 10 a igreja é vista como um rebanho e Cristo o Bom Pastor.

E há outras metáforas usadas. Por exemplo, o povo de Deus é um reino no Antigo Testamento e no Novo Testamento. No Antigo Testamento, Deus via Israel como uma família, e eles o chamavam de Pai. No Novo Testamento, somos a família de Deus, diz Efésios 2.

Portanto, as metáforas de Israel e da Igreja são sinônimas até chegarmos a uma metáfora inédita no Novo Testamento, que é o corpo. E não há uso dessa metáfora no Antigo Testamento. Essa é a verdade única, misteriosa, não revelada.

E, amados, é por isso que todos nós precisamos estar funcionando no corpo. E o corpo funciona por meio dos dons espirituais, por meio das responsabilidades de comunhão e ministério mútuo. E então Cristo atinge a plenitude em Sua Igreja. E a razão pela qual o mundo tem dificuldade em acreditar em nós é por causa da confusão inacreditável da Igreja, que apresenta um Cristo que, na verdade, não é muito claro.

Somos um corpo. Portanto, a unidade é a chave. As outras metáforas dão a ideia disso, mas o corpo é o melhor de todos. Somos uma só esposa com um só marido, um só rebanho com um só pastor, um só conjunto de ramos com uma só videira, um só reino com um só rei, uma só família com um só pai, um só edifício com um só fundamento e um só corpo com uma só cabeça.

E num corpo você vê a unidade de uma forma que não a vê em nenhum outro lugar. Um só corpo, e ainda assim uma diversidade e dependência mútua incríveis. O corpo humano é uma ilustração perfeita de como a Igreja deve funcionar.

E quando aprendemos essas verdades, deixamos de ser um grupo de pessoas sentadas em nosso próprio cantinho santificado, observando tudo acontecer, e começamos a funcionar como um corpo, coordenando-nos, ministrando, amando e compartilhando mutuamente, então começamos a nos mover. E então começamos a compreender a riqueza dos nossos recursos em Cristo.

Os três primeiros capítulos de Efésios nos apresentam a teologia do corpo e a doutrina, os três últimos, o comportamento e a prática. E você verá como este maravilhoso corpo de Cristo funciona, quão rico ele é, e como você toma essas riquezas e esses recursos e os usa para a glória de Deus.

Como Paulo se identifica aos efésios

Vamos voltar, para encerrar, analisando a introdução, os dois primeiros versos do capítulo 1 de Efésios. Estou dando a vocês uma ideia geral do livro, e agora quero voltar e retomar os dois primeiros versos, porque eles ilustrarão o que eu disse.

Efésios 1
¹ Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus,
² graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Eu disse que este é um livro sobre riquezas, herança, plenitude e abundância na Igreja em Cristo. E é exatamente isso que vocês encontram nos dois primeiros versículos, porque tudo o que Paulo diz nesses dois versículos ele diz de forma dupla.

Em primeiro lugar, uma dupla fonte de autoridade: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus”. Bastaria dizer: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo”. Não se você estiver escrevendo a Carta aos Efésios, aqui você precisa dizer: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo”número um; e número dois — “pela vontade de Deus”.

Ele introduz a plenitude de Deus e de Cristo. Essa é a natureza da Carta aos Efésios. É um livro sobre plenitude. O que você pode dizer sobre Paulo? Ele começa com a primeira palavra, “Paulo”, e poderíamos continuar por meses. Não faremos isso. O que podemos dizer sobre ele em poucas palavras?

Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo. (Fp 3.4-8).

Seu nome da nascimento era Saulo, se tornou um grande e conhecido rabino, líder anticristão, professor e membro do Sinédrio. Foi muito bem treinado na escola de Gamaliel (At 2.23), que era um fariseu e mestre da lei muito conhecido e que tinha o respeito do povo. Paulo era um homem cosmopolita, conhecia as sociedades, filosofias e Escrituras do Antigo Testamento. Ele odiava os cristãos e os perseguia com unhas e dentes.

Ele estava a caminho de Damasco para perseguir cristão quando o Senhor o deteve, converteu-o e fez dele um pregador do Evangelho (At 9). Depois de alguns anos no deserto da Arábia, foi pastorear uma igreja em Antioquia. Pastoreou lá com outros quatro companheiros por um tempo, e um dia o Espírito Santo disse: “Separem-me Paulo e Barnabé para a obra a que os tenho chamado” (At 13.2).

E o Senhor lhe disse: “Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra” (At 13.47). E ele deu início ao maior empreendimento missionário da história da Igreja. Fundou igrejas no mundo gentio, e o Evangelho se tornou uma mensagem mundial.

Possivelmente foi uma carta que circulou em muitas igrejas

Na saudação inicial, há uma frase de Paulo: “aos santos que vivem em Éfeso” (Ef 1.1). Mas esta frase não aparece em todos os manuscritos antigos. Em alguns manuscritos, há um espaço em branco. E há uma razão para isso. Não há menção de pessoas, cidade ou declaração sobre nenhum indivíduo em nenhuma congregação. Não há nada pessoal, local ou geográfico na Carta aos Efésios, esta é uma carta sobre plenitude.

E esta é uma carta sobre todo o corpo de Cristo. Não é algo localizado. E assim ele fala a toda a Igreja sobre a identidade de toda a Igreja. E a razão pela qual há espaços em branco na saudação inicial, a maioria dos estudiosos acredita que esta foi uma carta circular enviada às igrejas da Ásia Menor, uma das quais era Éfeso, e cada Igreja colocou seu próprio nome no espaço em branco.

Na Carta aos Colossenses, Paulo escreveu: “E, uma vez lida esta epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses; e a dos de Laodiceia, lede-a igualmente perante vós”. 

A Carta aos Efésios pode ter ido para Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Éfeso – em todo o ciclo de igrejas, e cada uma teria escrito seu próprio nome na pequena linha onde aqui está “em Éfeso”. Esta é a mensagem de Paulo à Igreja sobre a identidade da Igreja, e a questão do local não faz parte do seu problema aqui.

A autoridade única dos apóstolos designados por Cristo

Agora, observe que ele se autodenomina apóstolo. Ele não é apenas mais um carta com outra opinião. Ele fala por Deus. Ele é o porta-voz de Jesus Cristo. Você sabia que existem apenas 14 homens na história que poderiam se chamar apóstolos com “A” maiúsculo?

Dos primeiros 12 apóstolos, Judas saiu e foi substituído por Matias (At 1.21-26), e mais tarde Paulo foi adicionado (At 9). Apenas 13 homens continuaram sendo considerados apóstolos de Jesus Cristo pela vontade de Deus. Eram porta-vozes de Jesus Cristo, especialmente credenciados. E essas era a credencial de que eles precisavam. Aqueles homens foram escolhidos para uma missão única e exclusiva.

Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular (Ef 2.19-20).

Os apóstolos foram fundadores, escritores das Escrituras, estabeleceram doutrinas, falaram por Cristo e proferiram a revelação divina. Após a morte do apóstolo João, esse ministério especial foi encerrado. A igreja já tem nas Escrituras tudo que é necessário.

Paulo considerou suficiente dizer que foi chamado por Cristo, de acordo com a vontade de Deus. Ele não precisava de outras credenciais. Humildemente ele reconhecia que havia sido “blasfemo, e perseguidor, e insolente, mas obtive misericórdia…”. E declarou: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior” (1Tm 1.13,15).

Sua devoção a Cristo era tão grande, que ele declarou: “porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fp 1:21). Servir a Cristo era a única coisa que ele queria fazer em toda a sua vida após a conversão. Apóstolo significa “um enviado” para levar o Evangelho. Ele tinha poder delegado por Jesus Cristo.

Deus tomou esse homem, que era um perseguidor de cristãos, e o transformou e fez dele um apóstolo. E ele tinha dupla autoridade: de Jesus Cristo e da vontade de Deus. E essas duas estão sempre em concordância.

A dupla designação dos crentes

Vemos não apenas uma autoridade dupla, mas também uma dupla designação dos crentes. E isso é muito simples e vou mencioná-lo rapidamente. Diz no final do versículo 1: “aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus”. Ele chama os cristãos por dois termos: santos e fiéis.

Da parte de Deus, nos tornamos santos. Da nossa parte, exercemos a fé. Somos os santos, por definição divina; os fiéis, por definição humana. E é em virtude de sermos cheios de fé que fomos feitos santos. Fomos “justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1), pois “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2Co 5.21).

Portanto, há uma dupla designação dos crentes. Nós somos os santos e fiéis. Nós cremos em Cristo e ele nos santificou. Isso não é um ótimo começo? E então há uma dupla bênção: “graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Ef 2.2).

Graça e paz

Graça é a tradução da palavra grega “χάρις”, que significa bondade de Deus para com pessoas que não a merecem. “Graça a vós outros e paz” era uma saudação comum na Igreja primitiva, que Paulo usa em todas as suas cartas.

Era como dizer: “Desejo ser gracioso com você”. Porém, mais do que isso, tinha um significado teológico. Era um lembrete de que eles eram o que eram pela graça.

Normalmente os crentes atuais, quando encontram uma pessoa, diz: “Olá”. O que significa “olá”? Isso não é nada gratificante ou significativo. Ou então dizemos: “Como vai?”; “Tudo bem?”.

Temos todos o costume de falar essas coisas sem sentido. Quão mais significativo seria se, ao nos conhecermos, disséssemos: “Graça e paz a você”; “a graça amorosa de Deus a você, a minha graciosidade a você. Graça a você”. E isso seria um lembrete constante de que somos o que somos pela graça. A comunidade de crentes que forma uma igreja é construída sobre a graça.

A graça é a fonte de todas as bênçãos. É da graça de Deus que tudo vem. Ao nos cumprimentarmos, devemos quebrar alguns hábitos. Quando nos cumprimentarmos, devemos dizer uns aos outros: “Graça e a paz de Cristo seja sobre você”. Sejamos bíblicos.

No Novo Testamento “paz” é a tradução da palavra grega “εἱρήνη“. No Antigo Testamento, paz vem da palavra de “Shalom” (“שלום”). A graça é a fonte e a paz é o rio que nasce dela. Porque tenho fé em Deus, tenho paz com Deus.

Então, quando você for falar com alguém, em vez de dizer algo bobo como “Como vai?”, diga “Graça e paz a você”. Se você começar a dizer isso para todo mundo que encontrar, eles logo vão perceber algo diferente em você.

Se alguém lhe perguntar: “Por que você diz isso? E então você pode responder: “Ah, porque eu quero lhe oferecer a graça de Deus, meu desejo é que você a experimente em sua vida”.

É por causa da sua graça que temos a sua paz. Não haveria paz sem a sua graça. Portanto, dupla autoridade, dupla designação dos crentes, dupla bênção e, finalmente, uma dupla fonte para toda a graça e paz. Ela vem de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo.

Você vê toda essa plenitude, essa dupla essência nos dois primeiros versículos da Carta aos Efésios, e você pode perceber logo as riquezas tremendas no restante da carta. Tudo vem de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo.

A mensagem de Paulo ao longo da Carta aos Efésios é esta: para que você possa compreender a graça de Deus, possuir a paz de Deus, fazer parte da sua Igreja e ter à sua disposição as suas infinitas riquezas. Espero que você consiga sintonizar seu coração e mente com o que Deus tem a dizer. Vamos orar.

Pai, ao contemplarmos a era dos mistérios e vermos a tremenda alegria que sentimos por todas as riquezas que o Senhor depositou em nossa conta, somos lembrados de dizer obrigado; somos lembrados de expressar nosso amor e louvor. Obrigado pela graça que nos concede a paz.

Obrigado por nos fazer um só corpo, com Ti como cabeça, e por nos colocar à disposição as riquezas de todos os recursos divinos. Ensina-nos a saber quem somos, quão ricos somos e como usar as riquezas que possuímos para a Tua glória, oramos em nome de Cristo. Amém.


Esta é uma série de sermões sobre as Cartas de Paulo. Clique aqui e veja o índice. 


Este texto é uma síntese do sermão “Introduction to Ephesians″, de John MacArthur, em 1/1/1978.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/1901/introduction-to-ephesians

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

Compartilhe

You may also like...

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.