A Verdadeira Confissão

O Salmo 51 expressa um homem que, por causa de seu pecado, se sente sujo, doente, isolado e com medo. E então Davi expressa algo que tem todas os requisitos de uma confissão verdadeira: Ele viu seu pecado pelo que ele é; viu Deus por quem Deus é; e viu a si mesmo por quem ele é. Esses são os elementos de uma confissão verdadeira.

A razão pela qual temos tanta alegria é que nossa eternidade está estabelecida e segura no poder de Deus (1Pe 1.3-6), não temos medo da morte e nem medo do futuro. Não vivemos aterrorizados imaginando Satanás nos destruindo, pois sabemos que estamos guardados por um Deus soberano e Todo Poderoso.

Sabemos que nossas vidas estão seguras nos propósitos de Deus, na salvação de Deus concedida a nós em Cristo. Ele cuida de nós, supre nossas necessidades, provê para nós tudo o que precisaremos no tempo e na eternidade, e promete nos levar à glória. Sabemos que sua Palavra é verdadeira. Então vivemos nessa confiança e esperança que produz alegria.

E então descobriremos, se tivermos uma experiência de novo nascimento, que há uma alegria que não está necessariamente conectada às circunstâncias desta vida.

A queda do homem trouxe morte e dores profundas, entendemos o que é viver em um mundo caído e sob maldição. Todos nós entendemos a grande dor e dificuldade da vida. Mas ainda há algo tremendo que é ter confiança de que Deus está no comando de absolutamente tudo e nossa eternidade está estabelecida na promessa do céu.

Mas enquanto nós experimentamos alegria, mesmo em meio aos desafios da vida, nós também somos um povo muito sóbrio. Em um minuto louvando e adorando o Senhor com a mais profunda alegria, mas no minuto seguinte estamos prontos para confessar nossos pecados.

Vivemos na existência simultânea da celebração e da confissão, e é realmente assim que deve ser. Na verdade, a igreja é o único lugar onde seus membros se reúnem regularmente para se reconhecerem como pecadores miseráveis, dignos de nada além da condenação. Quanto mais piedosa e madura é uma igreja, mais sensível ela é em relação ao pecado.

É comum ouvirmos orações que negam e rejeitam os problemas, perdas, frustração de sonhos, desejos e ambições. No mínimo isso é uma demonstração de infantilidade e imaturidade, mas pode ser algo muito mais grave, tal como uma rejeição do evangelho genuíno.

O coração e a alma de um verdadeiro crente reconhece e enfrenta a realidade de sua própria pecaminosidade. Viemos para confessar nossa fraqueza, incapacidade, decepção, deslealdade, ansiedade, ira e outras inclinações pecaminosas de nossa carne.

Igrejas que falam somente sobre coisas que agradam as pessoas e nunca falam de pecado, jamais podem levar as pessoas à contemplação séria e confissão de pecado. Elas podem até ser igrejas, mas não são compostas por cristãos ou, se alguns são cristãos, são do tipo mais imaturo.

Quanto mais maduro for o crente, mais provável é que, ao abrir a boca em qualquer expressão de adoração, saia antes de tudo uma confissão de sua própria indignidade e miséria.

Um grande exemplo é a reação do profeta Isaías, que ao contemplar a glória do Senhor, disse: “ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Is 6.5). Somente com essa atitude ele pôde ter seus pecados perdoados (Is 6.6-7) e ser usado pelo Senhor.

Paulo, um homem que andou perto de Deus e foi usado profundamente por ele, perturbado com sua própria pecaminosidade, declarou: “Miserável homem que sou!” (Rm 7.24). Ele escreveu: “a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente” e que “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1Tm 1.13,15).  Ele reconhecia sua indignidade e miséria, e que só podia confiar na graça e misericórdia do Senhor. 

Reconhecemos que não apenas somos pecadores e indignos, mas nossos sonhos, ambições, desejos e objetivos estão corrompidos. Quando a igreja se reúne, tais declarações devem estar presentes. Mas, em vez disso, muitos se reúnem para dizer a Deus o que ele deve fazer, isso é um comportamento muito longe da verdade. O piedoso ora dizendo:

Senhor, as coisas que eu quero podem ser mundanas, terrenas, passageiras e até pecaminosas e corruptas. Por isso eu quero o que o Senhor quer para mim, sei que isso é o que realmente tem valor. Mas confesso que minha carne não é inclinada ter esse desejo, pois sou um miserável pecador.

A igreja adora mais puramente quando confessa sua própria pecaminosidade, porque essa é a forma pela qual entramos em adoração, reconhecendo a nossa própria indignidade.

1) O Salmo 51: Confissão e arrependimento

Todo mundo entende que Davi foi um grande adorador. Ele escreveu dezenas de Salmos. E nós usamos esses Salmos para adorar. Mas Davi também entendeu a miséria de seu próprio coração, ele era um verdadeiro adorador que dava glória a Deus, mas reconhecia sua própria indignidade.

Davi não escreveu o Salmo 51 em algum momento imaturo de sua vida, mas no auge de sua vida, no auge da bênção divina em sua vida. Ele era um homem segundo o coração de Deus, que odiava a iniquidade e a injustiça nos outros, mas odiava ainda mais em si mesmo.

Olhe para o Salmo 51 por um momento. Vamos apenas ter uma visão geral deste grande Salmo. Sua característica é a confissão verdadeira, é disso que se trata. Nele está descrito um coração quebrantado e contrito.

Ele diz: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17). Foi um salmo escrito a partir da dor, ansiedade, medo e revela a essência de uma confissão verdadeira.

Davi tinha alguns problemas. Ele era um homem pecador, embora tivesse sido perdoado por Deus. Ele teve sérios problemas em relação às mulheres, e seu mau exemplo foi multiplicado por seu filho Salomão.

No auge de sua vida, quando não lhe faltava as bênçãos do Senhor, ele adulterou com Bate-Seba (2Sm 11), esposa de um de seus oficiais militares chamado Urias. Bate-Seba não foi inocente na situação e foi engravidada por Davi.

Urias estava na guerra para defender Davi, a nação e seu reino. Davi deu ordens para que Urias fosse colocado em posição vulnerável na batalha, para que morresse atacado por algum inimigo. E foi exatamente isso que aconteceu. E então Davi tomou Bete-Seba como esposa.

O profeta Natã foi a Davi e lhe contou uma história de um homem muito rico que se apossou injustamente do pouco que um pobre tinha. Davi se irou e disse: “Tão certo como vive o Senhor, o homem que fez isso deve ser morto” (2Sm 12.5). Natã lhe respondeu: “Tu és esse homem Davi” (2Sm 12.7).

Davi se derramou em profundo arrependimento por seus atos tão baixos e repugnantes. Natã sabia que era uma atitude verdadeira e lhe disse: “O Senhor te perdoou o teu pecado” (2Sm 12.13). Mas Davi sofreria duras consequências daquele ato.

Além da morte de seu filho com Bete-Seba, o pecado deixou um profundo impacto sobre Davi. Aquele ato pecaminoso o atormentava. E o Salmo 51 registra a confissão de um homem que sente todo o fardo de sua própria culpa.

Se eu fosse resumir o que Davi estava sentindo, eu diria assim: O pecado o havia tornado sujo, e ele queria estar limpo. A culpa o havia deixado doente, e ele queria estar bem. A desobediência o havia deixado solitário, e ele queria se reconciliar. A rebelião o havia deixado com medo, e ele queria ser perdoado.

O Salmo 51 expressa um homem que se sente sujo, doente, isolado e com medo – tudo consequência do seu pecado. E a partir disso, ele derrama esta confissão, que tem todas as perspectivas certas de uma confissão verdadeira: Ele viu seu pecado pelo que ele é; viu Deus por quem Deus é; e viu a si mesmo por quem ele é. Esses são os elementos de uma confissão verdadeira.

2) O verdadeiro arrependido sabe que merece o julgamento

Ele diz a Deus: “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar” (Sl 51.4).

Davi percebeu o que todo crente que busca perdão precisa perceber. Apesar de seu pecado ter causado uma tragédia injusta perante outras pessoas, seu crime maior havia sido contra Deus e sua santa lei. Esta é uma confissão de sua própria culpa, ele reconheceu que merecia duro julgamento.

Ele estava tão ciente da gravidade de seu pecado que ele apela para a bondade e misericórdia do Senhor. Ele diz:

Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim (Sl 51.1-3).

Ele não podia apelar para a justiça de Deus. Ele estava ciente que merecia o juízo e que Deus seria justo se o condenasse. Ele clama pela única coisa pela qual podia clamar: a graça de Deus. No Salmo 103 ele diz:

O Senhor é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno. Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades. Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem (Sl 103.8-11).

Então ele sabe o que todo verdadeiro arrependido sabe: que merece o julgamento. Ele sente o peso do julgamento. Isso é humildade. Ele sabe que merecia o salário do pecado, que é a morte (Rm 6.23).

No mesmo sentido do Salmo 51, Daniel fez, provavelmente, a oração mais instrutiva do Antigo Testamento. Daniel ora por seu povo sabendo que Israel merecia o juízo por causa de seus pecados. Ele disse:

Temos pecado e cometido iniquidades, procedemos perversamente e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos […]  Ó Senhor, a nós pertence o corar de vergonha, aos nossos reis, aos nossos príncipes e aos nossos pais, porque temos pecado contra ti. Ao Senhor, nosso Deus, pertence a misericórdia e o perdão, pois nos temos rebelado contra ele e não obedecemos à voz do Senhor, nosso Deus, para andarmos nas suas leis, que nos deu por intermédio de seus servos, os profetas. Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, desviando-se, para não obedecer à tua voz; por isso, a maldição e as imprecações que estão escritas na Lei de Moisés, servo de Deus, se derramaram sobre nós, porque temos pecado contra ti. (Dn 9.5,8-11)

A verdadeira confissão sempre começa com um reconhecimento de que merecemos julgamento por causa de nossos pecados. Davi era um crente, ele não estava falando aqui sobre julgamento eterno e perpétuo, ele sabia que Deus tem o direito de, a qualquer tempo, trazer julgamento sobre nossas cabeças e nos disciplinar.

3) O verdadeiro arrependido sabe que só pode apelar à misericórdia de Deus

Foi exatamente isso que Daniel fez após confessar o grave pecado de Israel. Ele apelou a Deus em sua misericórdia e bondade. Ele disse:

Inclina, ó Deus meu, os ouvidos e ouve; abre os olhos e olha para a nossa desolação e para a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias. Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não te retardes, por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome (Dn 9.18-19).

No mesmo sentido Davi clamou: “Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões” (Sl 51.1).

Não podemos implorar por mais nada. Só podemos pedir misericórdia ou graça. Graça é favor imerecido. Entendemos que merecemos julgamento. Não há justiça em nós mesmos, só podemos implorar por graça. Essa é a essência de toda salvação genuína do Antigo Testamento.

4) O verdadeiro arrependido entende sua culpa e reconhece sua responsabilidade

Davi disse a Deus:

“… apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar (Sl 51.1-4).

Ele fala que caiu em transgressão, iniquidade e pecado. Ele sabe quão trágica é sua situação e reconhece sua culpa. Ele sabe que seu pecado foi um ato contra Deus, e reconhece que merecia o juízo.

Ele aceita toda a responsabilidade, e, por saber que merecia o juízo, ele apela para a graça de Deus. Ele não se justifica e nem busca culpados por seus pecados. Ele não fez como Adão e Eva, que não assumiram a culpa do pecado e tentaram se justificar. Davi confessou: “é meu pecado, é minha iniquidade, é minha transgressão, eu fiz isso”.

Ele sabe que havia se rebelado contra a vontade de Deus e desobedecido sua Palavra. Ele não culpa as circunstâncias, não culpa outras pessoas, não culpa Satanás e nem culpa a Deus, como Adão fez. Esta é a essência de uma confissão verdadeira.

Quando você pecar, não culpe ninguém, não culpe Satanás, não culpe as circunstâncias, não culpe Deus, não diminua nem um pouco sua inteira responsabilidade. Não destrua sua confissão. Você é o pecador e totalmente culpado. Você precisa apenas de graça.

5) O verdadeiro arrependido reconhece sua natureza

Davi disse: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Que declaração! Ele quis dizer que desde a concepção ele era um pecador miserável e corrupto.

Ele se referiu ao estado de depravação em que toda a humanidade foi jogada após a queda. Somente alguém quebrantado é capaz de tal reconhecimento.

Jeremias escreveu: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Paulo declarou: “miserável homem que sou!” (Rm 7.24). Após a pesca milagrosa, Pedro disse a Jesus: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5.8).

Você quer fazer uma confissão verdadeira do seu pecado? Então reconheça que você é um miserável pecador, que você é culpado e que merece o julgamento. E que o Senhor seria justo se o mandasse para o inferno e que a sua única esperança é a graça e a misericórdia do Senhor.

Seja honesto o suficiente para fazer isso. Se isso for uma realidade de seu coração, você alcançará o perdão restaurador de Deus. Davi escreveu: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17).

6) A esperança é encontrada na visão de Deus

Davi escreveu: “Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria” (Sl 51:6). Ele passou da visão do pecado para a visão de Deus.

6.1) Davi compreendeu que Deus deseja santidade interior. Deus deseja a verdade no íntimo, ou seja, honestidade, integridade e retidão. Era seu desejo limpar seu coração e que a sabedoria justa reinasse em seu interior.

É o elemento de uma confissão verdadeira ir a Deus com um coração arrependido, quebrantado por causa de seu próprio pecado, e entender que o que Deus quer não é algum tipo de limpeza superficial externa, mas algo que vai pegar o interior e limpá-lo completamente.

Deus não quer apenas certos comportamentos. Deus olha para o coração. A verdadeira confissão entende isso. Quando alguém vai ao Deus santo, precisa entender antes que ele não se contenta com uma mudança superficial, pois “o Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração” (1Sm 16:7).

Não podemos ir a Deus apenas para tratar de um pecado específico, temos que ir mais profundo para que todo nossos corações sejam desnudados, expondo todo o mal que há neles. Assim faremos uma confissão honesta, reconhecendo que Deus é um Deus de santidade e que quer pureza profunda em nosso interior.

6.2) Davi reconheceu não apenas a santidade de Deus, mas o poder de Deus. Por que isso é importante? Jamais seríamos purificados se Deus não tivesse poder para nos purificar.

Por isso ele escreveu: “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve” (Sl 51.7). Ou seja, ele quis dizer: “Se me limpares, ficarei limpo. Se me purificares, ficarei puro. Eu mesmo não consigo”.

Não podemos nos elevar por nossas próprias forças. Resoluções bem-intencionadas, por exemplo, resultará em nada se o poder de Deus não estiver agindo em nós. Só o poder de Deus pode mudar nosso ser.

Por que Davi disse a Deus: “purifica-me com hissopo”? Os sacerdotes do Antigo Testamento usavam o hissopo, uma folhagem, para espalhar sangue ou água sobre a pessoa que estava sendo cerimonialmente limpa de impurezas como a lepra ou contato com um defunto (Lv 14; Nm 19.16-19).

Aqui, o hissopo representa o desejo de Davi de ser espiritualmente limpo de sua impureza moral. Ao perdoar, Deus lava todo o pecado (cf. Sl 103.12; Is 1.16; Mq 7.19). Esse é o poder purificador de Deus.

7) A benignidade de Deus deve ser conhecida pelo coração arrependido

Davi disse: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade” (Sl 51.1). Ele experimentou que Deus é um Deus de graça, perdão, misericórdia, compaixão e benignidade. Isso é muito importante.

Então, certo disso, ele diz: “Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades” (Sl 51.8-9).

Davi sabe que Deus quer restauração e reconciliação. Ele diz que Deus quebrou seus ossos, uma figura de linguagem para dizer que ele estava experimentando um colapso pessoal por causa de sua culpa. No salmo 32, que tem como fundo o mesmo cenário do Salmo 51, Davi diz:

Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado (Sl 34:3-5).

Quando vamos ao Senhor e derramamos nossos corações em uma atitude de confissão verdadeira, sabemos que é isso que Deus está esperando. E diante de uma confissão assim, a disciplina acaba porque Deus é por natureza um Deus que perdoa. Em diversos salmos Davi repete essa confiança:

Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões. Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó (Sl 103.12-14).

Compadece-te de mim, ó Senhor, pois a ti clamo de contínuo. Alegra a alma do teu servo, porque a ti, Senhor, elevo a minha alma. Pois tu, Senhor, és bom e compassivo; abundante em benignidade para com todos os que te invocam (Sl 86.3-5).

Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado. Sendo assim, todo homem piedoso te fará súplicas em tempo de poder encontrar-te. Com efeito, quando transbordarem muitas águas, não o atingirão. Tu és o meu esconderijo; tu me preservas da tribulação e me cercas de alegres cantos de livramento (Sl 32.5-7).

Deus é santo e quer em nós a santidade. Ele é poderoso, isso estabelece a fonte dessa santidade em nós. Deus tem o poder de nos fazer santos e está disposto a fazer porque é o que Ele deseja. Ele está perdoando. Assim Davi entendeu seu pecado e entendeu seu Deus. E então Davi faz a oração de um coração arrependido:

Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário (Sl 51.10-12).

Ele está dizendo que quer perdão; um coração limpo e não um coração impuro; um espírito firme e não um espírito vacilante, dúbio e infiel. Ele não quer viver distante de Deus e nem perder a unção especial do Espírito Santo para o exercício de sua função real.

O Antigo Testamento diz que o Espírito de Deus capacitava pessoas específicas para desempenhar algo dentro dos propósitos de Deus (Gn 41:38; Ex 31:2-5; Nm 27:18; 1Sm 16:12-13).

Davi queria ter essa unção e a ter de volta a alegria da salvação. Ele não havia perdido sua salvação, mas perdeu a alegria. E ele queria um espírito disposto e devotado somente àquilo que agrada a Deus. Este é o clamor do coração de um homem verdadeiramente arrependido.

8) O quebrantamento nos faz úteis ao Senhor

Poderíamos dizer muito mais sobre isso, mas só para encerrar, há uma perspectiva sobre si mesmo que está em jogo aqui. Olhando agora para seu próprio propósito, sua própria vida.

Se você, como crente, lidar com o pecado da maneira certa e entender Deus da maneira certa, ainda tem de refletir sobre você mesmo, e Davi fez isso. Você tem que se perguntar: “O que o perdão faria por mim? Como isso me mudaria? Como isso me impactaria e me faria impactar os outros? Como isso afetará os pecadores?”.

Davi escreveu: “Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti” (Sl 51.13). Davi queria ter uma vida de testemunho; um padrão de vida eficaz que atraísse as pessoas para a salvação; ele queria ser capaz de ensinar aos transgressores os caminhos de Deus. Isso tem que estar presente em nós

Quando Isaías se deparou com a glória do Senhor, ele disse: “ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Is 6.5). Um dos serafins pegou uma brasa no altar, tocou seus lábios e lhe disse: “a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado” (Is 6.7),

E então Isaías escreveu: “depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim. Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais” (Is 6.8-9).

Isaías começou dizendo “ai de mim, sou um pecador”, e, por seu quebrantamento e humildade, terminou como uma voz a serviço do Senhor para exortar e chamar Israel ao arrependimento. 

E Davi prosseguiu dizendo: “Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua exaltará a tua justiça. Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores”. (Sl 51.14-15).

Isto é mais do seu testemunho. Ele pode cantar alegremente a justiça de Deus. Após ser purificado de seu pecado, tal como aconteceu com Isaías, ele poderia ser uma fiel testemunha para alcançar os pecadores. E ele continua dizendo:

Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu te daria; e não te agradas de holocaustos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus (Sl 51.16-17).

Em outras palavras, Davi está dizendo:

Eu quero uma vida que te agrade, Oh! Senhor! Eu quero que minha vida tenha um efeito sobre os pecadores e que os leve à conversão. Eu quero que o Senhor se delicie com minha vida. Eu quero que o Senhor encontre prazer em minha vida.

Ele entendeu que se sua própria vida não estiver certa, ele não seria útil a ninguém. Mas uma vez que ele é purificado, então ele seria útil aos outros. Por isso o salmista escreveu:

A ele clamei com a boca, com a língua o exaltei. Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido. Entretanto, Deus me tem ouvido e me tem atendido a voz da oração. Bendito seja Deus, que não me rejeita a -oração, nem aparta de mim a sua graça (Sl 66.17-20).

E então Davi ora por seu povo dizendo: “Faze bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém. Então, te agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; e sobre o teu altar se oferecerão novilhos” (Sl 51.18-19).

Ele agora sente que poderia orar pelo povo de Deus. O ponto é este: Se minha vida não for pura, então não posso ter um testemunho eficaz do evangelho para os pecadores, não posso agradar a Deus e não posso ser útil para interceder em favor dos santos.

A oração de um homem justo produz muito. O que está em jogo aqui? Sua utilidade para os perdidos, sua utilidade para a igreja e até mesmo sua utilidade para Deus. Vamos orar.

Pai, ao reconhecermos em nossas próprias vidas nossa própria pecaminosidade, que possamos ver o pecado da maneira como o salmista o viu, como digno de julgamento, necessitado de graça, produzindo culpa. Que possamos aceitar total responsabilidade por nosso pecado. Que possamos entender que ele é uma expressão de quem realmente somos em nossa carne.

Que possamos vir a ti como um Deus santo, que deseja pureza interior genuína, como um Deus que é poderoso o suficiente para efetuar essa transformação, que está disposto a perdoar. E que tu faças essa obra em nós. Purifica-nos, Senhor, para que possamos ser úteis aos pecadores e santos e que possamos até mesmo trazer alegria a ti.

Senhor, percebemos o que Davi ainda não sabia, que o Senhor Jesus Cristo pagou a penalidade na cruz para tornar esse perdão disponível. Não estamos pedindo salvação; queremos a alegria da nossa salvação de volta. Já pertencemos a ti. Queremos pureza de vida porque queremos utilidade, e queremos que o deleite venha até ti, e queremos ser capazes de administrar efetivamente aos santos.

Senhor, mova-se em cada coração pelo seu Espírito Santo para incitar essa convicção que leva à confissão e que seja uma confissão genuína. Produza em nós um espírito verdadeiro, quebrantado e contrito. Limpe-nos, crie em nós um coração limpo, renove um espírito correto que lhe agrade. Agradecemos-te pela cruz de Cristo, que torna esse perdão possível. Em nome de Jesus, amém.


Leia também: Confissão de Pecados


Este texto é uma síntese do sermão “The Believer’s Confession of Sin″, de John MacArthur, em 18/10/2009.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/80-353/the-believers-confession-of-sin

Tradução e síntese feitas pelo site Rei Eterno


 

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