Privilégios Espirituais – 6
Este é o sexto de uma série de 6 sermões de John MacArthur sobre os privilégios espirituais dos crentes em Cristo, relatados em I Pedro 2:4-10. Veja os links no final do texto.
Tema do 6º sermão: Separação, possessão e iluminação. A finalidade dos privilégios espirituais.
Temos tido um tempo glorioso na maravilhosa Primeira Epístola Pedro, a primeira de duas epístolas escritas pelo mais favorito dos discípulos de nosso Senhor. Estamos no capítulo 2, vendo os versículos de 4 a 10, sob o título “Privilégios Espirituais“. Quando eu comecei a série cinco ou seis semanas atrás, eu não tinha ideia de quanto tempo gastaríamos examinando essa Epístola, mas estou feliz que tenhamos passado tanto tempo vendo-a, por causa da tremenda riqueza desta grande porção das Escrituras.
Vimos que esta maravilhosa carta escrita por Pedro foi endereçada aos cristãos dispersos. Eles estavam em circunstâncias muito difíceis, pagando o preço por viver sua experiência cristã em um mundo hostil. E nesta seção em particular talvez tenhamos o coração do encorajamento desta carta. Pedro lista os benefícios que Deus nos deu por Sua graça.
Há um custo muito alto em ser um cristão, mas nesta seção, Pedro não está falando sobre isso. Ele trata dos privilégios espirituais que temos em Cristo. São posses preciosas que pertencem aos filhos de Deus. Como vimos anteriormente, nesses versículos Pedro trata de muitos desses precisos privilégios. São tesouros básicos da salvação mantida à luz da graça de Deus e que revelam padrões majestosos de privilégios espirituais, que são nossos porque somos de Cristo. Aqui Pedro não trata sobre deveres e responsabilidades, apenas sobre privilégios.
Antes de entrarmos no sétimo privilégio mencionado por Pedro, vamos dar uma rápida revisada nos seis primeiros que vimos nas semanas anteriores.
O primeiro privilégio espiritual que Pedro trata é da nossa união com o Senhor Jesus Cristo. Em I Pedro 2:5 é dito: “como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual”. Nós nos tornamos a casa em que o Espírito de Deus habita. Nós, como pedras vivas, estamos unidos à “pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa”. Estamos unidos a Ele como pedras vivas. Somos edificados para ser a própria morada de Deus.
Em segundo lugar, falamos sobre o acesso que temos ao Senhor Jesus. I Pedro 2:5 diz: “para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo”. Vimos exaustivamente tudo que representa ser um sacerdote espiritual. E que riqueza vimos!
Em terceiro lugar, vimos a segurança que temos em nosso Senhor. I Pedro 2:6 diz: “Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, desapontado”. Há uma grande segurança em conhecer a Cristo. Nós nunca ficaremos desapontados, desiludidos ou decepcionados. Estamos seguros na promessa da Sua Palavra.
Em quarto lugar, vimos o privilégio espiritual de nossa afeição por nosso Senhor. I Pedro 2:7-8 diz: “E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, A pedra que os edificadores reprovaram, Essa foi a principal da esquina, e uma pedra de tropeço e rocha de escândalo”. Um dos grandes benefícios de ser cristão é que Cristo se torna precioso para você e você tem o privilégio de amá-Lo. E o amor, é claro, é a mais maravilhosa de todas as emoções e expressões. Portanto, é um privilégio espiritual manter Cristo precioso e amar Aquele a quem o mundo rejeita.
E então, em quinto lugar, vimos o privilégio espiritual da nossa eleição por nosso Senhor. Observamos no versículo 9: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Ele nos escolheu puramente com base em Sua própria predeterminação soberana, porque Ele queria nos amar e não há nada nesse ato que tenha algo a ver com nosso merecimento, direito ou dignidade. Fomos amados puramente como resultado de Sua própria escolha.
Em sexto lugar, famamos sobre privilégio espiritual do domínio com nosso Senhor. Conforme o verso 9, não somos apenas uma raça escolhida, mas somos um sacerdócio real; não apenas um sacerdócio, não apenas um sacerdócio santo, mas também um sacerdócio real que indica nosso domínio. Nós governamos e reinamos com Ele.
Agora Pedro prossegue e chega ao sétimo privilégio espiritual. O versículo 9 não diz apenas que somos uma raça escolhida e um sacerdócio real, mas também diz que somos uma nação santa. A palavra “nação” é “ethnos”, da qual obtemos a palavra etnia. Significa simplesmente um povo. Nós somos um povo santo. O que significa “santo”? Significa separado. Nós somos um povo santo.
Vimos que Pedro baseou essa seção em seu conhecimento do Antigo Testamento. E quando ele diz que somos uma nação santa, sem dúvida ele tem Êxodo 19:6 em mente, porque é exatamente o que diz sobre o povo de Deus, Israel, sob a Antiga Aliança. Deus diz a Moisés: “E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel”. Essa afirmação também está em Levítico 19:2; 20:26, Deuteronômio 7:6 e Isaías 7:6.
O Antigo Testamento mostra o quão trágico foi para Israel, por causa da descrença, perder os grandes privilégios que tinha por pertencer a Deus. E o que foi tragédia para Israel, tornou-se uma bênção para nós. Deus agora tem um novo povo. E este será o novo povo até que Israel finalmente se para o Messias com fé. Nós somos, então, a nova nação santa. Até que ocorra a salvação de Israel, somos a nação santa de Deus.
Agora, o que isso significa? Bem, apenas que fomos separados para Deus. Você diz: “Isso é separação para o serviço?” Sim, mas principalmente separação para um relacionamento, porque o serviço surge do relacionamento. Deus, por Sua grande graça, fez o que é inconcebível para nós. É francamente inconcebível que Deus traga pecadores para Si mesmo, que Deus atraia para Si pecadores maus e vis, tirando-os das trevas para a luz, da morte para a vida, do reino de Satanás para o reino de Seu querido Filho, tirando homens da comunhão com Satanás para trazê-los para Si. É exatamente o que Deus fez.
Deus nos separou do pecado, de Satanás e do mundo. Ele nos separou para Si mesmo. Talvez a palavra que a teologia mais tenha usado para descrever isso seja “santificação”. Somos um povo santificado. É isso que nação santa significa. Fomos separados do que é profano e fomos devotados a Deus.
Como isso aconteceu? I Pedro 1:1-2 responde: fomos escolhidos desde a eternidade. Fomos eleitos e depois regeneramos. Deus nos elegeu, o Espírito nos separou para Deus, a fim de que pudéssemos obedecer a Jesus Cristo e manter uma aliança com Ele. Uma aliança de obediência que é expressa na declaração: “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pedro 1:2).
A salvação não significa apenas o perdão dos pecados e o escape da segunda morte. A salvação leva o homem à intimidade com Deus, resultando em relacionamento e obediência. Embora eleitos desde antes da fundação do mundo, éramos parte da humanidade não redimida até que, na salvação, o Espírito Santo nos separou do mundo, do pecado e da morte, nos destinando para Deus.
A santificação está ligada à salvação. Quando você foi salvo, você foi separado para Deus. Você se tornou uma nação santa pela obra inicial de salvação produzida pelo Espírito Santo em você. É por isso que 1 Coríntios 1:30 diz: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”.
A santificação não é apenas um estado, ela se torna um padrão de vida progressivo. Fomos designados para pertencer a Deus. Fomos libertos de pertencer ao pecado, de estar em escravidão ao pecado, ao diabo e à morte. Você foi separado para Deus. Em certo sentido, essa é a sua santificação posicional. Sua posição é que você pertence a Deus.
Mas isso apenas o introduziu em uma santificação progressiva, na qual seu padrão de vida muda. Agora, tendo sido separado para Deus, você começa a viver para Deus. E você continua cada vez mais separado do pecado que era o padrão dominante de sua vida. É por isso que, por um lado, Pedro diz que somos “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito” (I Pedro 1:2) e que “segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento”.
Na santificação posicional, em minha salvação, fui tirado do reino das trevas, colocado no reino do querido Filho de Deus. Fui tirado da morte e colocado em vida. Não estou mais sob o domínio do diabo, mas do Deus vivo. Eu pertenço a Ele. Eu sou sua possessão. Fui separado do pecado em termos de sua penalidade e de seu impacto. Essa é a minha santificação posicional. Mas há uma realidade progressiva em que devo viver cada vez mais de uma maneira sagrada e separada, de modo a trazer à tona na vida a realidade da minha posição. Há ainda a santificação suprema, quando seremos glorificados e nos tornaremos como Cristo.
Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro ( I João 3:2-3).
Na salvação, temos o privilégio de sermos separados para Deus, tornamo-nos Sua possessão, o pecado não tem mais domínio sobre nós (Romanos 6). Não somos mais escravos do pecado. Não somos mais filhos de Satanás. Fomos separados como povo santo de Deus. E agora precisamos agir de acordo com essa posição. Em Atos 26:16-18, diante de Agripa, Paulo cita algo que o Senhor lhe falou na estrada de Damasco:
Levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim.
Vemos aí santificação como uma palavra paralela à salvação. Pela fé você é santificado, salvo, perdoado, recebe uma herança e sai das trevas para a luz, do domínio de Satanás para Deus. Está tudo nesses versos.
Portanto, temos um privilégio maravilhoso. Agora somos um povo santo. O que isso significa? Fomos separados para Deus. Não somos mais possuídos por Satanás, não estamos mais no cativeiro do pecado. Entramos em um novo relacionamento. Agora somos um povo separado para Deus. Essa é a posição. De forma progressiva e prática, trabalhamos para viver à luz dessa identidade sagrada, vivendo de acordo com nossa posição e nos tornando o que somos.
Somos um povo santo chamado para ser santo, ser separado para Deus. E por que o pecado é um desastre em nossas vidas? Porque é contrário à nossa união com Cristo; contrário ao que somos como povo santo. Isso desafia tudo sobre nosso caráter, pois fomos separados para Deus.
E como essa separação acontece na prática de nossas vidas? Vamos primeiro ver o que não é separação produzida pelo Espírito Santo. Não é se isolar do mundo. Isso é externo, que não faz nada pelo coração. Não é separação tal como um monge faz. Também não é a separação do fariseu, que dentro de si está cheio de coisas imundas.
Não é a separação do estoico, que acredita que é um pecado mortal ser feliz e anda com um olhar severo no rosto, tem um tipo severo de seriedade, um tipo doentio de piedade. Isso também é uma coisa externa.
A santificação prática é simplesmente cultivar uma intimidade pessoal e eficaz com Cristo. Quando dizemos que somos designados para Cristo, assim dizemos que não apenas somos designados a Ele posicionalmente, agora que somos Seus filhos, mas somos designados a Ele pessoalmente em termos de intimidade. Tiago 4:8 diz: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós”.
O ponto central da santificação é o fato de eu cultivar um relacionamento íntimo com Jesus Cristo. I Coríntios 6:17 diz: “o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito”. Eu já fui unido a Cristo. É por isso que a imoralidade é uma coisa tão vil, porque une Cristo à prostituta. No verso 15 Paulo diz: “Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo, e fá-los-ei membros de uma meretriz?”.
Uma nação santa é, antes de tudo, posicionalmente separada; depois, intimamente separada. E você nunca será uma pessoa santa, no sentido mais pleno, até ter cultivado um relacionamento de intimidade com o Cristo vivo. Essa é a maravilhosa busca da santificação. As pessoas sempre querem entender o que significa ser santificado. Significa buscar intimidade com o Cristo vivo. Você nunca controlará sua conduta fora de um relacionamento de intimidade com o Cristo vivo.
No meio do cristianismo foi criado um novo tipo santificação: a santificação sem Cristo. Isso não funciona. É por isso que tantos ministérios estão caindo, tantas pessoas caindo no pecado, porque estão tentando viver uma vida cristã e uma identidade santa sem o Cristo vivo, fazendo isso por métodos e meios e pela psicologia que se diz cristã. Sem intimidade com Cristo não há santificação.
A busca de nossa santidade é a busca de um relacionamento íntimo. Isso envolve vulnerabilidade e grande exposição, porque, ao se aproximar de Cristo, teremos inevitavelmente clareza sobre nossos próprios pecados. É absolutamente crucial o relacionamento íntimo com Cristo.
Há muito mais que gostaria de falar sobre isto, mas precisamos avançar para o 8º privilégio espiritual mencionado por Pedro: A posse de nosso Senhor. Não apenas somos separação para nosso Senhor, mas somos também posse exclusiva de nosso Senhor. I Pedro2:9 diz: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”.
E novamente Pedro está pensando em Êxodo 19: 5, onde Deus diz a Israel: “Se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos” ou outros textos como Isaías 43:21; Deuteronômio 7:6, 14:2, 26:18; Malaquias 3:17 etc.
Somos possessão de Deus. O sentido é de algo adquirido por um preço. É a mesma palavra usada em Efésios 1:14, que diz: “redenção da possessão adquirida”. Nós somos propriedade de Deus, porque Ele pagou o preço. Qual foi o preço? Atos 20:28 diz: “A igreja de Deus, que Ele comprou com seu próprio sangue”.
Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (I Cor. 6:20)
[Jesus Cristo] a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras (Tito 2:14).
O preço foi a morte do Senhor Jesus Cristo. Ele nos adquiriu. Deus, por eleição soberana, nos escolheu e pelo sacrifício de Cristo pagou o preço para nos comprar de volta. E assim pertencemos a Ele. Não posso pensar em algo mais maravilhoso do que ser a possessão pessoal do Cristo vivo, possessão pessoal de Deus.
Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. (João 10: 14-15; 27-29)
Um antigo hino diz:
Eu sou Dele e Ele é meu. Jesus, meu Senhor, me amará para sempre. Dele, nenhum poder do mal pode cortar. Ele deu a vida para resgatar a minha alma. Agora eu pertenço a Jesus e Ele me pertence, não apenas pelos anos, mas pela eternidade.
Nós somos possessão do Senhor. Nós somos Dele. Nós pertencemos a Ele. Que privilégio! Que privilégio glorioso!
E depois Pedro fala do 9º privilégio espiritual. Ate aqui, desde o verso de I Pedro 2, ele já falou sobre nossa união com Cristo, nosso acesso a Ele, nossa segurança no Senhor, nossa afeição pelo Senhor, nossa eleição feita pelo Senhor, nosso domínio com o Senhor, nossa separação pelo Senhor e nossa posse pelo Senhor. Agora ele trata de nossa iluminação em nosso Senhor. O verso 9 diz: “a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
O que são as trevas? É o estado desastroso do pecado. É o estado desastroso dos não regenerados que estão sob a escuridão do príncipe das trevas, o próprio Satanás. A escuridão fala de duas coisas: ignorância e imoralidade. Em outras palavras, há uma escuridão intelectual e uma escuridão moral. Escuridão intelectual significa que você não pode ver a verdade. A escuridão moral significa que você não pode ver a justiça. Você não sabe o que é certo e não pode fazer o que é certo.
Pedro diz que fomos chamados das trevas. Foi Ele quem nos chamou. Toda vez que você vê a palavra “chamado” nas epístolas, ela sempre indica a iniciativa salvadora de Deus. É um termo técnico para a eleição de Deus posta em ação. Nunca nas epístolas há um chamado geral às massas para a salvação. É sempre a chamado eficaz de Deus que resulta em salvação. Pedro está dizendo que, soberanamente, o Senhor nos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz.
O chamado eficaz da salvação é que está na mente de Pedro. Em I Pedro 1:1-2, ele diz como somos escolhidos, eleitos. No verso 15 diz que “é santo aquele que nos chamou”. No capítulo 2:21 diz que fomos chamados para a salvação. No capítulo 3, verso 9 diz que fomos “chamados, a fim de receberdes bênção por herança”. No capítulo 5, verso 10 diz que “Cristo nos chamou à sua eterna glória”. Toda vez que é usado “chamado”, significa um chamado eficaz à salvação.
Então, em I Pedro 2:9, ele diz que Deus nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Muito parecido com Colossenses 1:13, que diz: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor”.
Este é outro dos nossos privilégios: fomos chamados das trevas para a luz. O que significa estarmos agora na luz? Temos entendimento e caráter moral. Não apenas sabemos o que é certo, mas podemos fazer o que é certo. Há verdade e justiça, conhecimento e obediência. Pois ambos fazem parte da luz, pois ambos estavam ausentes nas trevas. Fomos resgatados porque não sabíamos a vontade de Deus e nem poderíamos fazer a vontade de Deus. Essa transformação é incrível.
Deixe-me dizer por que é incrível. Siga esse pensamento: não apenas porque o incrédulo está nas trevas, mas porque a escuridão está no incrédulo. Quem anda nas trevas não sabe para onde vai (João12:35). Você era um filho das trevas. Você estava andando nas trevas e amando as trevas. Jesus disse que “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (João 3:19). Os homens amam as trevas porque suas ações são más, eles querem se esconder nas trevas de seus pecados.
Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus (João 3:20-21)
É por isso que alguém pode ser ateu por toda a vida e não pensar na luz, porque a escuridão não compreende a luz. A profundidade das trevas é terrível. Deus em Sua graça simplesmente nos chama das trevas por causa de Seu próprio desejo de fazer isto. Que verdade tremenda! Fomos resgatados das trevas e não há mérito algum nosso, foi obra soberana do Senhor.
Então, Pedro avança para o 10º privilégio espiritual: A misericórdia de Deus sobre nós. Em I Pedro 2:10, ele diz: “vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia”. Ele está citando o profeta Oséias.
Pedro está realmente nos mostrando seu conhecimento do Antigo Testamento. Em Oséias 1 Deus diz que Israel não era mais um povo Dele, mas seria novamente um povo. Haveria um tempo em que Israel não receberia misericórdia e, em seguida, um momento em que receberia misericórdia. No Novo Testamento, o que foi dito de Israel é aplicado aos gentios. Em Oséias 2:23, Deus diz: “Direi àquele que não era meu povo: Tu és meu povo; e ele dirá: Tu és meu Deus”. Compare com o que Deus disse a Moisés: “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (Romanos 9:15).
Pedro usou o mesmo texto que Paulo também usou em Romanos 9. Pedro e Paulo estão se referindo à igreja, que antes não era um povo, mas agora é o povo de Deus. E particularmente os gentios eram o “não povo” que agora são o povo de Deus. A propósito, isso é uma coisa interessante, porque indica para nós que Pedro não está escrevendo particularmente e exclusivamente aos judeus nesta epístola, mas abrange a igreja que também envolve os gentios.
Deus diz que somos Seu povo por meio de Sua misericórdia. No verso 10, lemos: “não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia”. Misericórdia é compaixão, amor. Então dizemos que um dos nossos privilégios espirituais é a compaixão de nosso Senhor. Ele nos mostrou misericórdia. Ele nos mostrou compaixão. Israel havia se tornado um “não povo” através do pecado e da apostasia. E um “não povo”, os gentios, tornou-se povo de Deus através da misericórdia.
Eu gostaria de poder dizer muito acerca dessa misericórdia. É algo tremendo. Poderíamos passar semanas apenas estudando a misericórdia de Deus. Mas deixe-me aplicá-la neste contexto. O que é misericórdia? Basicamente, compaixão. Deus retira de nós a justa punição de nossos pecados.
Existem dois tipos de misericórdia. A primeira é a misericórdia geral. Ela é vista na criação, na providência de Deus para a mais ampla gama de seres humanos. Deus mostra Sua misericórdia tolerante com os pecadores, porque Ele poderia destruir imediatamente um mundo que O odeia e O rejeita. Lamentações 3:22 diz que “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim”.
O Salmo 145:9 diz: “O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias são sobre todas as suas obras”. Essa misericórdia geral alivia o potencial desastre provocado pelo pecado. Essa é a misericórdia geral que atinge todas as pessoas. Em Isaias 27:11, Deus diz: “porque este povo não é povo de entendimento, assim aquele que o fez não se compadecerá dele, e aquele que o formou não lhe mostrará nenhum favor”. Chega um momento em que a misericórdia de Deus se esgota e todo o potencial do pecado é sentido.
Mas, em I Pedro 2:10, Pedro não está tratando da misericórdia geral, mas da misericórdia especial, que recai apenas sobre os eleitos. Essa é uma misericórdia única. Mas, preste bem atenção: essa misericórdia é igualmente não merecedora, pois somos pecadores como os demais homens. Para algumas pessoas, Deus é geralmente misericordioso nesta vida, aliviando o atual potencial desastroso do pecado. Para outras pessoas, Ele alivia para sempre o desastre potencial do pecado. Esses são os eleitos, que recebem não apenas a misericórdia geral nesta vida, mas a misericórdia especial na vida futura. No caso dos não regenerados, Ele apenas retém o juízo para o futuro. No caso dos eleitos, Ele perdoa o pecado e elimina o juízo.
Você diz: “Por quê?” Porque Ele quis assim. “Por que Ele quis?” Porque Ele é um Deus de amor. “Por que Ele nos escolheu?” Eu não sei. Ele disse a Moisés: “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (Rom. 9:15). É tudo o que Ele diz. E no verso 16, Paulo acrescenta: “isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece”. E você diz: “Mas, mas, mas….” E Ele diz:
Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou. (Rom. 9:20-23).
Deus não é influenciado pela miséria dos pecadores, ou então Ele salvaria a todos, porque todos são miseráveis. Ninguém é mais digno de misericórdia do que outro. Nenhum de nós é digno de nada, a não ser do juízo eterno. Isaías 64:6 e Romanos 3:10,23 dizem:
Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam.
Não há um justo, nem um sequer. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.
A misericórdia de Deus para com Seus eleitos existe desde a eternidade. Ela não passou a existir depois da obra de Cristo na cruz. Ser misericordioso é um atributo inerente a Deus. A nossa miséria não despertou em Deus a misericórdia. Não há pecadores mais dignos de misericórdia do que outros. Fomos escolhidos desde a eternidade por Seu amor soberano, sem influência de qualquer outra coisa. A.W. Pink escreveu: “A misericórdia surge unicamente do prazer imperial de Deus”. Que bênção tremenda nos foi concedida! Veja esse textos:
Louvar-te-ei, Senhor, entre os povos; eu te cantarei entre as nações. Pois a tua misericórdia é grande até aos céus, e a tua verdade até às nuvens. (Salmos 57:9-10)
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação (II Cor. 1:3)
Mas quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador (Tito 3:4-6)
Pedro avança e fala do 11º privilégio espiritual final. Vamos chamá-lo de proclamação de nosso Senhor.
E para este, voltamos ao versículo 9 de I Pedro 2. Qual é o propósito de todos os privilégios que temos? Por que somos tão privilegiados? Por que o Senhor fez tudo isso por nós? União com Ele, acesso a Ele, segurança Nele, afeição por Ele, domínio com Ele, separação com Ele, posse por Ele, iluminação Dele, compaixão Dele… Por quê? “A fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
Você pode pensar em um privilégio mais elevado do que ser o embaixador do Deus vivo? A palavra “proclamar” é usada apenas aqui. É uma palavra muito, muito incomum. Não aparece em nenhum outro lugar na Bíblia inteira. Significa anunciar. E tem a força de contar algo de outra maneira desconhecido. A palavra traduzida como “virtudes”, no grego significa “capacidade de realizar ações heroicas”. Proclamamos que Deus realiza atos poderosos. Temos o privilégio de sermos anunciadores dos poderosos e heroicos feitos do Deus vivo que nos chamou para Seu serviço.
Lembro-me de um grande empresário, dono de um grande jornal. Ele esteve aqui conosco e disse que eu tinha muita influência, e perguntou por que eu não eu não falava sobre todas as questões do mundo, dando minha opinião.
Eu disse: “Aprecio sua confiança em minha opinião, mas você realmente acha que o mundo precisa da opinião de outro cara?”
E ele meio que riu.
E eu perguntei: “O mundo precisa saber sobre minha visão?”
Ele disse: “Bem, como você se vê, qual é o seu papel?”
Eu respondi: “Muito simples, fui chamado para falar a opinião de Deus”.
Ele exclamou: “Oh, eu nunca ouvi alguém dizer isso.”
Eu completei: “Estou aqui apenas para contar a todos o que Deus diz e proclamá-Lo”.
II Corintios 5:20 diz que “somos embaixadores da parte de Cristo”. As últimas palavras do Senhor aos apóstolos foram: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Que privilégio espiritual!
Bem, que imagem vimos em cada um desses onze privilégios! Você sabe por que temos esses privilégios? Apenas uma razão: porque estamos em Cristo. Estamos em união com Deus porque estamos em Cristo e Cristo é um com o Pai. Temos acesso ao Pai e à Sua presença gloriosa através de Cristo. Estamos seguros em nosso relacionamento com Deus, porque estamos em Cristo e Ele está seguro em Seu relacionamento com Deus por causa da Trindade.
Nossa segurança está em Cristo. Nosso acesso ao Pai em Cristo. Nossa união está Nele. Temos afeição pelo Senhor, amamos a Deus, sentimos a plenitude dessa afeição, porque Seu amor foi derramado em nossos corações, e amamos porque fomos amados em Cristo. A única razão pela qual somos eleitos é porque somos eleitos Nele, a Bíblia diz. Fomos escolhidos Nele antes da fundação do mundo. É somente Nele que nos tornamos os escolhidos. E no que diz respeito ao domínio, nosso domínio é porque reinamos com Ele. E a separação, uma nação santa, nós somos apenas santos porque estamos Nele.
Somos apenas a possessão de Deus, porque estamos em Cristo, que é o próprio Filho de Deus. Nós somos iluminados porque estamos Naquele que é a luz. E temos compaixão de Deus somente porque Jesus Cristo morreu por nós e por isso Ele pode nos amar em Cristo e nos dar misericórdia. E, finalmente, só podemos proclamar Suas excelências quando é o poder de Cristo em nós proclamando através de nós. Efésios 1:3-7 diz:
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça.
Somos um grupo heterogêneo de pecadores que merece a condenação eterna, mas porque estamos em Cristo, temos todos esses privilégios espirituais. Você é grato por tamanhos privilégios? Vamos orar.
Querido Senhor Jesus, consideramos-Te o mais justo de todos. Agradecemos-Te por Tua obra e por aquilo que temos sido por Tua causa. Todos esses privilégios espirituais nos maravilham. Ajuda-nos a sermos gratos e fieis. Oro por cada um dos que estão aqui nesta noite, para que possamos ser tomadps por gratidão, por termos sido resgatados do inferno eterno e recebido tais magníficos privilégios. Nós, que não somos justos em nós mesmos, carregados de pecados, fomos unidos ao Justo Senhor Jesus, unicamente por Tua graça e misericórdia. Senhor, quão gratos somos por isso! Que possamos expressar essa gratidão em nossas vodas, em nome de Cristo, amém.
Esta é uma série de 6 sermões sobre os privilégios do cristãos em Cristo, conforme I Pedro 2:4-10.
- Os Privilégios Espirituais dos Crentes em Cristo – (Parte 1)
- Os Privilégios Espirituais dos Crentes em Cristo – (Parte 2)
- Os Privilégios Espirituais dos Crentes em Cristo – (Parte 3)
- Os Privilégios Espirituais dos Crentes em Cristo – (Parte 4)
- Os Privilégios Espirituais dos Crentes em Cristo – (Parte 5)
- Os Privilégios Espirituais dos Crentes em Cristo – (Parte 6)
Este texto é uma síntese do sermão “The Believer’s Privileges, Part 6, de John MacArthur em 19/02/1989.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/60-22/the-believers-privileges-part-6-separation-possession-illumination
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno