O Plano de Deus e Israel (2)
Este é o segundo de uma série de 4 sermões sobre Romanos 9 (veja links abaixo). John MacArthur mostra como as Escrituras Sagradas deixa muito clara a total compatibilidade do Plano Eterno de Deus com a incredulidade de Israel.
Hoje vamos continuar olhando para Romanos 9. Na última vez, vimos até o verso 13. Agora, vamos olhar para os versículos 14 a 19.
14 Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!
15 Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.
16 Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.
17 Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra.
18 Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.
19 Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade?
Esta é uma porção desafiadora e estimulante da Escritura. É inegavelmente difícil de entender. Sua ênfase está claramente na justiça soberana de Deus. Creio que é uma daquelas coisas escritas por Paulo sobre as quais Pedro disse serem difíceis de entender (II Pedro 3:16). Eu acho difícil entender em nossas mentes finitas o que é dito aqui. Mas, a sua dificuldade em compreender de modo algum diminui a importância do que está sendo dito. É veracidade e bem-aventurança. É importante, é verdade e é enriquecedor saber o que está aqui.
Muitas pessoas lutam com a verdade de que Deus é absolutamente soberano. Isto é, que Deus é livre para fazer o que quiser e determinar todas as coisas de acordo com o seu próprio prazer. Mas isso é exatamente o que a Escritura ensina. Deus é Deus e Deus faz exatamente o que Ele quer fazer. Ele é soberano e isto quer dizer que ele é o Altíssimo, isto é, é o rei absoluto, a autoridade suprema fazendo sua vontade no céu e na Terra. Ninguém pode impedi-lo e ninguém pode discutir com ele. Vamos dar uma olhada em alguns exemplos disso nas Escrituras.
No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada (Salmo 115:3).
Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes? (Daniel 4:35)
Esses textos afirmam o fato de que Deus está no comando, que Deus tem o controle de tudo, que Deus faz o que lhe agrada e que ninguém pode pará-lo ou questioná-lo. Isto tem sido uma coisa difícil para a igreja entender, que Deus tem o direito de governar seu universo, que ele tem o direito de fazer o que quiser, sempre que quiser e a quem quiser. Mas, ele assim procede. Em 1 Timóteo 6:15, é dito que Deus é o “único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores”. Em outras palavras, ele é o único no comando.
Agora, para ajudar você a entender como Deus é soberano, devemos começar lembrando a nós mesmos que Deus é soberano na criação. As pessoas que querem discutir com Deus no comando têm que voltar à criação e fazer a pergunta: “Bem, quando Deus criou, quem estava no comando?”. Quero dizer, antes que os homens estivessem por perto para dizer a Deus o que fazer, quem estava no comando? Apocalipse 4:11, diz:
Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.
Antes que houvesse qualquer coisa, Deus criou tudo o que é para seu próprio prazer, por Sua própria boa vontade. Por sua livre escolha, criou os anjos, o Universo, as estrelas, os planetas, o céu, a Terra. E na Terra, criou tudo que existe, inclusive todos os seres vivos. Se dissermos: “Por que Deus fez isso?”, a única resposta é: porque Ele queria fazer isso, não havia nada e ninguém lhe deu qualquer contribuição. Em 2 Samuel 10:12, temos: “e faça o Senhor o que bem parecer aos seus olhos”. Em Mateus 11:25-26, Jesus disse:
Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
Então, se você está preocupado sobre se Deus é ou não soberano, lembre-se de como era antes de haver qualquer coisa, pois tudo que existe é porque Ele soberanamente determinou que deveria existir. Mas, ele é soberano não apenas na criação, mas no que poderíamos chamar de administração dessa criação. Em Jó 23:13, lemos: “Mas, se ele resolveu alguma coisa, quem então o desviará? O que a sua alma quiser, isso fará”. Ele tem uma mente e faz o que quer e ninguém pode mudar isso. Veja esses textos:
Tema toda a terra ao Senhor; temam-no todos os moradores do mundo. Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu. O Senhor desfaz o conselho dos gentios, quebranta os intentos dos povos. O conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração (Salmo 33:8-11).
O Senhor tem estabelecido o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre tudo (Salmo 103:19).
Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás? (Isaías 14:27).
Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade (Isaías 46:9:10).
O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Os pés dos seus santos guardará, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas; porque o homem não prevalecerá pela força. (I Samuel 2:6-7,9).
Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos… (Atos 17:28)
Esses textos, e tantos outros, apresentam Deus como absolutamente soberano na criação e soberano na administração do Universo criado. Deixe-me dar um passo adiante e dizer que a Bíblia é muito clara sobre os aspectos da soberania de Deus, e nisto está incluso a salvação. Romanos 9 está nos ensinando que Deus é absolutamente soberano em matéria de salvação. E escolhe de acordo com seu próprio prazer.
Lembre-se de que Paulo está apresentando a doutrina da salvação em Romanos. Desde o capítulo 3 ele fala sobre justificação pela graça através da fé. Fala sobre todos os aspectos e dimensões da salvação. E ele disse que esta é a mensagem de Deus para o mundo, uma mensagem de salvação, de vida eterna e de paz. E assim, nos capítulos 3 a 8 foi apresentada a riqueza da salvação.
Agora, o resultado final da salvação nos foi dado no final do capítulo 8, lembra?
35 Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?
38 Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir,
39 Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.
O capítulo 8 encerra toda a discussão sobre a salvação, afirmando que ela é eterna e que nada pode tirá-la, nada pode nos separar dela. Então, você diz:
Ok. Então a Escritura diz que não há possibilidade de separação entre Cristo e aquele que foi verdadeiramente salvo, pois há uma aliança imutável. Mas, os judeus também tinham uma aliança com Deus, e eles eram o povo escolhido, e foram postos de lado. Se Deus mudou seu relacionamento com a nação de Israel, que garantia temos de que Ele não mudará sua relação conosco? Como podemos crer, quando até mesmo o povo escolhido de Deus, os judeus, rejeitou o evangelho?
E assim, à luz de tais questões, Paulo precisou passar algum tempo discutindo a relação única entre Deus e Israel, e é isso que ele faz nos capítulos 9, 10 e 11. E nesses três capítulos ele demonstra o propósito e plano de Deus para Israel. É uma seção muito importante das Escrituras.
Agora, quando olhamos para o capítulo 9, Paulo está tentando demonstrar que a incredulidade de Israel não viola a promessa de Deus; que Deus não quebrou nenhuma promessa; que seu caráter continua perfeito; que não nega a sua Palavra e não anula o que ele disse. E mais: não altera seu plano e mais tarde, no capítulo 11, ele aborda mais a questão da segurança quando fala sobre o fato de que Israel será salvo no futuro. Mas, ao abrir essa discussão sobre o lugar de Israel no plano, ele o faz primeiramente falando sobre o fato de que a descrença de Israel não altera o caráter de Deus.
Nos versículos 6 ao 33 de Romanos 9, Paulo está dizendo que, porque Israel não crê, não significa que Deus tenha violado sua promessa (versículos 6 a 13), não significa que Deus tenha violado sua integridade pessoal (versículos 14 a 24), não significa que Deus violou a palavra de seus profetas (versículos 25 a 29), e certamente não significa que Deus violou seu pré-requisito (versos 30 a 33).
Na última vez em nosso estudo, examinamos os versículos 6 a 13 e vimos que a incredulidade de Israel não é inconsistente com a promessa de Deus. Há um fato muito básico de que nem todo Israel é realmente Israel. Mas, aqueles que têm fé em Deus, como Deus prescreveu na sua Palavra, esses são o verdadeiro Israel. Deus nunca prometeu redimir todos os nascidos dos lombos de Abraão. Em outras palavras, a salvação nunca foi uma questão racial. Primeiro, de Abraão apenas Isaque foi chamado. E o primeiro filho de Abraão foi Ismael. Deus foi seletivo. E isso mostra que nem todos os nascidos de Abraão são filhos do pacto, pois somente Isaque foi escolhido.
E então, Isaque teve dois filhos. Quais foram seus nomes? Jacó e Esaú. E daqueles dois, Deus escolheu Jacó. Por quê? Eu não sei. Ninguém sabe. A única coisa que podemos responder é que Deus faz o que quer e teve prazer em escolher Isaque e se agradou de escolher Jacó. Isso nos diz que Deus nunca, desde o princípio, pretendia que toda a semente física de Abraão seria os filhos da promessa. Por isso a incredulidade de Israel não anula a promessa de Deus.
Agora, vamos ao segundo ponto desta seção e quero que vocês ouçam com muito cuidado, enquanto fazemos o melhor para explicar isso a vocês. A incredulidade de Israel não é inconsistente com a pessoa de Deus. E esta é uma sequência muito próxima da passagem que acabamos de concluir. Veremos os versos 14 ao 19 de Romanos, conforme lemos no início.
Veja o verso 14: “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!”. Aqui está a pergunta que Paulo antecipa, certo? Ele havia dito que Deus é seletivo, pois, no verso 11, antes de Esaú e Jacó terem nascido, antes de terem feito o bem ou o mal, Deus, de acordo com a eleição, escolheu Jacó. Isto não tinha nada a ver com Jacó, com o que Jacó fez ou iria fazer. Tinha apenas a ver com o bom prazer de Deus e seu propósito soberano eletivo. Então, Deus escolheu Jacó como Ele escolheu Isaque.
Agora, alguém vai dizer isto: “Deus não é justo. Isso não é justo”. E Paulo antecipa a questão: “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!”. O fato de Deus escolher homens significa que ele é injusto? Essa é a questão. E você quer saber de uma coisa? Essa é a mesma pergunta que as pessoas fazem hoje. A doutrina da eleição é rejeitada com a mesma argumentação: “Eu não posso aceitar essa doutrina, porque isso não é justo!”.
Muitos pensam que a doutrina da eleição soberana torna Deus injusto. O fato de a Palavra afirmar que Deus nos escolheu nele antes da fundação do mundo (Efésios 1:4) e “aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” é algo que produz desconforto a muitos.
E a objeção vem e é facilmente esperada da mente carnal: isso não é justo, isso é injusto, isso não está certo. Você vê, os homens são sempre propensos a questionar Deus, sempre propensos a questionar o caráter de Deus. A esposa de Jó disse: “Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre” (Jó 2:9), ou seja, ela quis dizer: “Deus não é justo!”. E para não ousarem acusar Deus de injustiça, muitos diminuem sua soberania e poder.
Qual é a resposta de Paulo? “Deus é injusto? De jeito nenhum”. Ele usa o mais forte negativo na língua grega. Em outras palavras, ele quis dizer: “não, não, não, nunca, de maneira alguma, impossível, absolutamente absurdo, esse pensamento é loucura, é blasfêmia, pois Deus é justo!”. O Salmo 145:7 diz “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras”. Temos muitos outros textos falando da sublimidade da justiça divina.
Deus nunca poderia agir de forma inconsistente com quem Ele é e nunca muda (Malaquias 3:6). Ele é totalmente santo e perfeito, ele nunca mudou e sempre foi justo. Essa concepção de uma injustiça divina só aparece na mente carnal, no conhecimento bíblico limitado e numa fé frágil. Então, quando alguém aparece e diz: “Bem, se você acredita em eleição, então Deus não é justo”, essa é a expressão de uma mente carnal, com conhecimento bíblico limitado ou com uma fé fraca, muito limitada.
Então, Paulo responde a questão se a escolha soberana de Deus seria uma injustiça, se a pessoa de Deus estava em dúvida. Sobre isto, ele diz: “jamais!”. Bem, você poderia dizer: “Bem, só porque ele negou esta possibilidade, não é suficiente para mim. Qual é a prova?”. E foi exatamente isto que Paulo demonstrou. Ele tira duas provas da Escritura. No versículo 15: “Pois Ele diz a Moisés”, e cita Êxodo 33:19. E então, no versículo 17, “Porque a Escritura diz a Faraó”, e cita Êxodo 9:16.
Você sabe o que Paulo faz? Ele faz duas citações do Antigo Testamento. Agora, aqui ele está lidando com uma questão muito intensa. O fato de Deus escolher pessoas para serem salvas, antes que elas nasçam, antes de fazerem algo certo ou errado, soa injusto para muitos. Paulo diz que não é injusto, simplesmente porque Deus é justo. E para provar, ele cita duas passagens das Escrituras.
E, você sabe, a maioria de nós em nossa cultura diria: “Ei, eu tenho que ter mais provas do que isso!”. Nós esperaríamos um argumento racional, algum tipo de lógica. Esperaríamos que ele fosse eloquente com alguma apologética filosófica. Esperaríamos que ele entrasse em um profundo raciocínio. Ele não faz isso. Ele ignora a mente humana. Por quê?
É a mente humana que nos colocou no problema, para começar. É nossa incapacidade de expandir nossa mente para compreender o direito de Deus eleger, escolher, que nos fez fazer a pergunta, e nossa mente humana não vai obter a resposta para nós. Então, Paulo ignora tudo isso e vai imediatamente para a revelação de Deus, versículo 15: “Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão”. Essa é uma citação direta de Êxodo 33:19.
Vamos ver isto de perto. Moisés pediu para ver uma revelação de Deus, ele queria ver e contemplar a glória de Deus. Por quê? Porque ele queria que sua fé se fortalecesse. Ele acabara de passar por uma experiência muito difícil no capítulo 32. Posso lembrá-lo disso brevemente? No capítulo 32, Israel estava em pecado, violando as leis de Deus. Eles estavam apostatando e adorando um bezerro de ouro. E é dito no capítulo 32, versículo 30, que eles caíram em um grande pecado.
Você sabe o que Deus fez? Matou 3.000 deles. Ele tinha o direito de matar toda a nação pelo pecado, mas matou apenas 3.000 deles em julgamento imediato. Bem, isso fez todos ficarem um pouco nervosos. Eles tiveram uma amostra do juízo e da ira de Deus contra o pecado. Assim, no capítulo 33, quando Deus está chamando Moisés para um lugar particular de liderança, ele diz a Moisés: “Conheço-te por teu nome, também achaste graça aos meus olhos” (v.12).
Bem, Moisés sabia que era um pecador e queria saber se também não seria morto. E pergunta: “Como, pois, se saberá agora que tenho achado graça aos teus olhos, eu e o teu povo?” (v.16) e no verso 18 ele faz um pedido: “Rogo-te que me mostres a tua glória”. E então, Deus lhe responde:
Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer.
Essa é uma declaração formal da prerrogativa divina. Ele diz que mostraria sua graça e misericórdia, e que se reserva o direito de se compadecer e ter misericórdia de quem ele quiser. Em outras palavras, Deus diz: “Eu lhe mostrarei minha soberana graça e misericórdia, que eu dispenso como eu quero. É meu direito como Deus julgar 3.000 e meu direito como Deus escolher ser bondoso com você. Essa é uma prerrogativa minha”.
E já que todos nós somos pecadores e todos nós merecemos o juízo, nenhum de nós pode reivindicar o direito à graça e à misericórdia. Nenhum de nós é injustiçado, se a misericórdia e a graça divinas forem retidas. Deus é Deus, todos os homens merecem julgamento. Deus escolhe ser misericordioso em si mesmo, não por causa de algo digno no pecador. Ele escolhe por causa de algo em si mesmo.
Misericórdia é a ação e compaixão é o sentimento por trás da ação. Quando Deus deseja ser compassivo, ele age em misericórdia. Assim, o Senhor não é injusto ao eleger, porque as Escrituras dizem que ele tem o direito de fazer isso. E essa é a resposta de Paulo. Ele não forneceu qualquer argumento racional, humanamente inteligível ou lógico, mas usou apenas um argumento bíblico.
E assim, Paulo prossegue em Romanos 9: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (v.16). Ou seja, não depende de quem deseja ou se esforce, mas da escolha soberana de Deus. Ismael e Esaú desejaram a benção, nenhum deles recebeu. Veja Hebreus 11:17-18, que diz:
17 Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito.
18 Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar;
Deus identifica claramente que Isaque é o escolhido. Isaque é aquele a quem a promessa é dada. Agora, quando Isaque tem dois filhos, Jacó e Esaú, o escolhido foi Jacó. A fé é a confirmação da eleição de Deus, ela sempre está presente. E Paulo prossegue em Romanos 9: 17-18, demonstrando tudo através de outra passagem da Escritura:
17 Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra.
18 Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.
A ilustração no verso 17 está em Êxodo 9:16-17. Veja, Faraó foi um eleito, não para a salvação, mas para um propósito único. “Eu te levantei”, no grego tem a ideia de “fiz com que você fosse grande”. É trazer alguém para um lugar de destaque no palco da História.
Assim, em Êxodo 9:16, Deus diz a Faraó: “para isto te mantive, para mostrar meu poder em ti, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra”. Em outras palavras: “você é o faraó porque eu determinei que você seria o faraó, para que eu pudesse mostrar o meu poder em você e o meu nome fosse declarado em toda a Terra”. Esse Faraó foi colocado no poder por aquele que controla a História. E assim aquele faraó esteve no palco da maior demonstração do Antigo Testamento do poder redentor de Deus.
A páscoa judaica celebra a libertação dos hebreus do Egito. Esse é o referencial de redenção do Antigo Testamento. E é por isso que os judeus mantiveram a Páscoa, porque foi a identificação de Deus como um Deus redentor, pois ele os redimiu do Egito. E isso também simbolizava a redenção da alma deles. E assim, Deus levanta este faraó apenas para demonstração de seu poder e de glorificação de seu nome. Deus realmente se colocou em evidência, porque esse homem estava no caminho. Ele foi usado por Deus para a própria demonstração de Deus da Sua glória.
Em Êxodo, capítulo 15, há um maravilhoso cântico de redenção escrito por Moisés. Ele diz:
2 O Senhor é a minha força, e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus, portanto lhe farei uma habitação; ele é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei.
4 Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus escolhidos príncipes afogaram-se no Mar Vermelho
6 A tua destra, ó Senhor, se tem glorificado em poder, a tua destra, ó SENHOR, tem despedaçado o inimigo.
11 Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas?
14 Os povos o ouviram, eles estremeceram, uma dor apoderou-se dos habitantes da Filistia.
15 Então os príncipes de Edom se pasmaram; dos poderosos dos moabitas apoderou-se um tremor; derreteram-se todos os habitantes de Canaã.
16 Espanto e pavor caiu sobre eles; pela grandeza do teu braço emudeceram como pedra; até que o teu povo houvesse passado, ó SENHOR, até que passasse este povo que adquiriste.
18 O Senhor reinará eterna e perpetuamente;
Esse é um hino de exaltação à soberania de Deus no Antigo Testamento. Deus obteve sua glória, demonstrou seu poder e manifestou seu nome em toda a Terra pelo que ele fez ao libertar os filhos de Israel da escravidão de Faraó. Ele diz, em Êxodo 9:16, que levantou Faraó para esse motivo. Verdade tremenda.
Note novamente no verso 17: “Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra”. E foi exatamente isso que aconteceu. Quando Deus fez isso, sua reputação se espalhou rapidamente por toda a Terra. A Filistia, os príncipes de Edom, os poderosos dos moabitas, os habitantes de Canaã e os povos temeram. Veja o que disse Raabe aos espias em Jericó em Josué 2:
9 Bem sei que o SENHOR vos deu esta terra e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desfalecidos diante de vós.
10 Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Siom e a Ogue, que estavam além do Jordão, os quais destruístes.
11 O que ouvindo, desfaleceu o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima nos céus e em baixo na terra.
Eles entenderam a mensagem. A glória de Deus foi manifesta àqueles povos. E Deus levantou Faraó apenas para este fim. E você lê, por exemplo, os Salmos 105, 106 e 136 celebram o fato de que o mundo dos homens ouviu sobre Deus, que separou o mar e libertou seu povo do Egito. Um escritor disse:
Ele era o adversário aberto de Deus, um adversário implacável declarado, mas um propósito divino foi cumprido em sua vida e esse propósito, e nada mais é, a explicação de seu próprio ser.
Romanos 9:18 diz: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz”. A primeira parte do versículo 18 se refere à ilustração de Moisés. A segunda parte desse verso está se referindo à ilustração do faraó, a quem ele endureceu.
Você diz: “Por que Faraó era tão teimoso, sempre dizendo que não permitiria o povo ir embora?”. Veja isso:
E disse o Senhor a Moisés: Quando voltares ao Egito, atenta que faças diante de Faraó todas as maravilhas que tenho posto na tua mão; mas eu lhe endurecerei o coração, para que não deixe ir o povo (Êxodo 4:21).
Deus endureceu o coração de Faraó. Você pode ver isto também em Êxodo 8:32; 9:12; 10:20; 10:27; 11:10 e 14;8. Deus endureceu o coração de Faraó, mas Faraó foi responsável por seus atos. Esta é uma demonstração das doutrinas da soberania de Deus e da responsabilidade do homem, que andam em paralelo e são humanamente inconciliáveis. É como Judas, que foi nomeado antes que ele nascesse para trair o Senhor Jesus Cristo, para cumprimento da Escritura Sagrada, mas foi responsável por seu ato miserável. E assim como Moisés enfatiza a misericórdia na soberania de Deus, Faraó enfatiza o endurecimento.
A passagem está dizendo que Deus terá misericórdia de quem ele quiser e endurecerá a quem quiser. Ele é o soberano Deus. Essa é uma afirmação forte. Paulo não fez o uso de raciocínios humanos para explicar o questionamento dos judeus sobre a justiça de Deus. Não. Ele diz que “Deus é justo” e ponto final. E a única justificativa que você terá de Paulo é o que a Bíblia diz que Deus disse: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e endurecerei quem eu quiser”. E se Deus diz isso, esse é o fim da discussão.
Se tentarmos usar nossos pequenos cérebros de ervilha para descobrirmos isso, vamos explodir nossos neurônios muito antes de chegarmos lá, e acabaremos acusando Deus de injustiça, que é loucura e blasfêmia. Em João 15:16, Jesus disse aos discípulos: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós”. Em João 6:44, Jesus diz: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer”. Sempre foi assim, nunca foi diferente.
Agora, isso traz uma segunda questão. Veja o versículo 19 de Romanos 9: “Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?”.
Você diz: “Se Deus escolhe de quem ele vai ter misericórdia e quem vai ficar endurecido, então como ele pode encontrar falhas em mim? Quer dizer, se eu não tenho escolha, como ele pode me culpar?”. Você entendeu a pergunta? Essa é a pergunta que as pessoas ainda fazem hoje. Primeiro de tudo, eles dizem: “Bem, se você acredita em eleição, então isso não é justo!”.
O justo é o que Deus é e faz e não aquilo que você pensa que ele deve ser e fazer. Deus não faz o que é justo, algo é justo porque Deus faz. Deus é justo pelo que ele é e não por aquilo que você pensa que Ele deveria ser. A relação é inversa. Deus é perfeitamente justo e santo, tudo que ele faz é para sua glória e cumprimento de sua vontade soberana. E sua vontade é santa e justa, e o ser humano é sempre miserável e merecedor do inferno.
Mas, muitos dizem: “Se Deus faz todas as escolhas, dando misericórdia a quem Ele quer e endurecendo a quem ele quer, como ele pode encontrar defeitos em mim? Como posso ser responsabilizado?”. Esta é uma boa pergunta. E vamos responder a essa pergunta na próxima vez.
Concluindo o assunto de hoje, vimos que Deus é um Deus que faz escolhas. Ele tem o direito de fazer escolhas e as faz de acordo com a sua vontade. Veja Josué 11: 18-20, que diz:
18 Por muito tempo Josué fez guerra contra todos estes reis.
19 Não houve cidade que fizesse paz com os filhos de Israel, senão os heveus, moradores de Gibeom; por guerra as tomaram todas.
20 Porquanto do Senhor vinha o endurecimento de seus corações, para saírem à guerra contra Israel, para que fossem totalmente destruídos e não achassem piedade alguma; mas para os destruir a todos como o SENHOR tinha ordenado a Moisés.
Quando Israel entrou na terra com Josué, todo mundo queria lutar contra Israel. Por quê? Porque Deus endureceu os corações daqueles povos para que viessem contra Israel em batalha. O que Deus pretendia? Destruí-los. Linguagem bem forte, não é?
Você diz: “Por que todas essas nações lutaram contra Israel?” O texto é claro: Deus endureceu seus corações e os trouxe para a batalha para serem destruídos. Vá para Romanos 11:7-8, que diz:
7 Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos.
8 Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje.
Apesar de seu intenso zelo religioso, a maioria dos judeus dos dias de Paulo falharam em obter a justiça de Deus. Aqueles que Deus, por sua graça, tinha escolhido, foram alcançados e encontraram a justiça. Por um ato judicial de Deus, ele lhes cegou os olhos e tapou seus ouvidos. Ele faz isso, é o que a Bíblia diz. Você não pode pôr isso em debate.
I Tessalonicenses 5:9 diz: “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo”. Você diz: “Ei, espere um minuto, você quer dizer que Deus apontou alguns para a ira?”. Sim. Mas não seus eleitos. Por que você está salvo? Porque Deus não te apontou para a ira, mas te designou para obter a salvação. Você sabe por que você é um cristão, querido amigo? Porque Deus te escolheu antes dos tempos dos séculos.
Você diz: “Por quê?”. Eu não sei. Você diz: “Que direito Deus tem de fazer isso?”. Ele tem o direito porque é Deus soberano, perfeito, justo, santo. Tudo que ele faz está em conformidade com seus atributos. Quer o homem entenda ou não. Ele faz tudo que lhe apraz.
Você diz: “Mas como pode ser?”. Ouça, amado, todos nós merecemos o juízo, a condenação eterna, o inferno, nada menos que isto. Se todos nós merecemos o inferno, como poderia ser injusto que Deus tenha escolhido alguns para salvar? Se você quer a justiça de Deus, prepara-se para o inferno. Simples.
Tudo isso me leva ao lugar onde eu sou totalmente grato a Deus pela minha salvação. Porque antes de eu nascer, ele me escolheu. Eu mereço ser julgado no inferno para sempre, mas Deus escolheu ser misericordioso com quem ele quiser e endurecer a quem ele quiser. Eu louvo seu nome por ter me escolhido. Eu não sei porque Ele me escolheu, não posso entender isto.
Em João 6:37, Jesus diz: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. Aqui temos a vontade soberana de Deus na escolha daqueles que o procuram em busca da salvação. A absoluta soberania de Deus é o fundamento da confiança de Jesus no sucesso de sua missão. A segurança da salvação repousa na soberania de Deus. Nenhum dos escolhidos se perderá. Eles são sustentados pelo poder de Deus (I Pedro 1:5; Judas 24; Filipenses 1:6 etc.etc.)
E o equilíbrio em minha mente com essa soberania absoluta e eletiva de Deus é que ele nunca recusa um ansioso pecador faminto que deseja vir a ele. O salvo é assim porque Deus o elegeu. Isso é o que a Bíblia ensina. E aqueles que estão perdidos, foram endurecidos e cegados por Deus. Mas, assim com foi com Judas e Faraó, entre tantos outros exemplos na Bíblia, os perdidos são responsáveis por sua incredulidade.
Moisés era judeu. Faraó era um gentio. Ambos eram pecadores. De fato, ambos eram assassinos. Ambos viram as maravilhas de Deus. Moisés foi salvo. Faraó perdido. Deus levantou faraó para revelar sua glória e poder. Ele mostrou misericórdia a Moisés para poder usá-lo para mostrar sua glória e poder. Moisés recebeu a misericórdia e a compaixão de Deus. Faraó foi endurecido.
Ambos dizem algo muito importante: Deus é santo e deve punir o pecado. Faraó ilustra isso. Deus é amoroso e deseja salvar os pecadores. Moisés ilustra isso. Suponho que, se todos fossem salvos, não entenderíamos a santidade de Deus. Se todos estivessem perdidos, não entenderíamos o seu amor. E assim, ele concede misericórdia a quem ele quer. E a quem quer endurecer, ele endurece. E nós entendemos a sua santidade e entendemos o seu amor.
E se você está no ponto agora onde Paulo está na passagem que lemos e está dizendo: “Bem, então como você pode responsabilizar as pessoas pelo que elas fazem?”. Espere até a próxima vez. Vamos responder a essa pergunta. E isso deve ser respondido. E isso será respondido. E tudo se juntará de uma maneira maravilhosa. Bem, vamos nos curvar em oração.
Pai, isso é o melhor que podemos fazer e por isso vivemos pela fé. Nós apenas confiamos que o Senhor é muito amoroso para ser desnecessariamente indelicado, sábio demais para cometer um erro, e sagrado demais para tolerar o pecado. E nós não temos como compreender-te com nossas próprias mentes. Ó Deus, livra-nos de te criar à nossa imagem. Ajuda-nos a entender que tu és o Deus soberano que age de acordo com o teu próprio prazer e, ainda assim, misteriosamente, isso não viola a vontade de um homem que pode escolher a vida ou a morte, o céu ou o inferno. E como essas duas realidades aparentemente opostas são harmonizadas é para o Senhor determinar, não nós.
Quando pensamos no fato de que podemos nos chegar a Cristo, somos gratos por essa oportunidade. E quando pensamos no fato de que fomos escolhidos antes da fundação do mundo, somos gratos por essa soberania. De qualquer forma, Senhor, oferecemos nosso louvor a ti e nossos agradecimentos por amor a Cristo. Amém.
Esta é o segundo de uma série de 4 sermões de John MacArthur sobre Romanos 9, conforme links abaixo:
- O Plano de Deus e Israel (1) – A incredulidade de Israel não é inconsistente com a promessa de Deus
- O Plano de Deus e Israel (2) – A incredulidade de Israel não é inconsistente com a pessoa de Deus
- O Plano de Deus e Israel (3) – Deus Chama e Endurece a Quem Ele Quer. Mas O Homem é Sempre Indesculpável
- O Plano de Deus e Israel (4) – A incredulidade de Israel não é inconsistente com os profetas e pré-requisitos de Deus
Este texto é uma síntese do sermão “Is Israel’s Unbelief Inconsistent with God’s Plan? Part 2”, de John MacArthur em 11/12/2003.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/45-72/is-israels-unbelief-inconsistent-with-gods-plan-part-2
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno