O Plano de Deus e Israel (1)
Este é o primeiro de uma série de 4 sermões sobre Romanos 9 (veja links abaixo). John MacArthur mostra como as Escrituras Sagradas deixa muito clara a total compatibilidade do Plano Eterno de Deus com a incredulidade de Israel.
Hoje eu quero nos colocar no capítulo 9 de Romanos. E minha intenção hoje é simplesmente seguir esse capítulo o mais longe que pudermos. Não estou com muita pressa porque quero ajudá-lo a entender o capítulo. Eu não quero deixar nada de fora ou deixar algo confuso, para que possamos entender bem. Não é um capítulo fácil de entender. Mesmo quando você entende, não é fácil crer, porque há algumas coisas que são ditas aqui, algumas afirmações sobre a soberania de Deus que nos deixam com questões muito profundas. Mas, devemos cavar o capítulo, devemos entendê-lo, porque Deus nos revelou para sua própria glória.
Eu estive em Israel nas últimas duas semanas. É uma terra de grande história bíblica e contrastes. Israel agregou pessoas que criam no Senhor e aqueles que o rejeitaram. E lamento dizer que hoje é o mesmo que foi no tempo de nosso Senhor, no sentido de que eles o rejeitam agora como o rejeitaram antes.
Alguns judeus acreditam e afirmam que o Messias que é o estado de Israel. Para muitos deles, o estado de Israel é de fato o Messias. No voo para casa, eu li um livro que me foi dado por um dos guias que estava conosco, e esse livro afirma que Israel é o Messias. O livro tenta dizer que os cristãos têm o seu Messias, que é Jesus Cristo, e isso é bom para eles. E se eles querem acreditar que esse é o plano de Deus, está tudo bem. Mas, que os cristãos não devem querer empurrar sua visão para o judeu, não devem enviar missionários, não devem dar aos judeus o evangelho da Nova Aliança. Eles entendem quem é seu Messias e seu Messias não é outro senão a própria nação.
E o livro traça um paralelo muito interessante. Ele diz, em primeiro lugar, que o Messias nasceu da soberania de Deus, pela promessa de Deus. Cremos que foi Cristo, mas ele diz que é a nação de Israel. O Messias foi protegido no Egito, mas o livro não se refere a Cristo em relação a Herodes, ele diz que isto aconteceu quando Israel foi levado para o Egito em cativeiro para preservá-lo como uma nação durante a fome e outros tempos difíceis. A Bíblia diz que o Messias seria desprezado, rejeitado e odiado. Nós pensamos que é Cristo, mas ele diz que é a nação de Israel.
O Messias foi morto pelos romanos. Nós dizemos que é Cristo, ele diz que é a destruição romana de Jerusalém em 70 A.D. A Bíblia diz que o Messias ressuscitaria no terceiro dia. Nós dizemos que é Cristo, ele diz que é a nação de Israel, que depois de 2.000 anos de cativeiro ou 2.000 anos de julgamento, 2.000 anos de não existência como nação, chegou agora no terceiro milênio, e que vai desde então alcançar a plenitude. Enfim, muitos judeus veem o seu Messias como a nação de Israel. E assim, eles ainda rejeitam a Jesus Cristo como fizeram quando Ele estava na terra.
Agora, outros dentre os judeus estão esperando pelo Messias. Eles realmente acreditam que está vindo um Messias. Eles acreditam que o portão oriental de Jerusalém, que agora está selado (foi selado pelos turcos), será aberto na vinda do Messias e Ele entrará novamente na cidade de Jerusalém para tomar Seu trono, para reinar e governar para todo o sempre. Só que não vai ser a segunda vinda do Messias para eles, será a primeira vinda, porque creem que o Messias ainda não esteve aqui.
Agora, é interessante ver essas duas visões dominantes. Uma é a visão secular de que Israel é realmente o Messias, a própria nação, não existe um Messias atual, e então a outra visão de que virá um Messias. Ambas rejeitam o fato de que Jesus Cristo é o Messias. E esse é um tipo chocante de rejeição, porque a terra está literalmente cheia da revelação de Deus a respeito de seu Messias, Jesus Cristo. É impossível escapar do fato de que aquela terra foi palco dos profetas que deram instruções e palavras muito claras sobre a vinda do Messias; que aquela terra também foi o lugar do ministério do próprio Senhor Jesus com seus discípulos, um ministério de ensino e cura, um ministério que nunca poderia ser negado, um ministério que tocou a nação de cima para baixo.
E os eventos da vida de Jesus estão registrados, para todo o mundo conhecer. E ainda com todos os dados bíblicos, com toda a história ligada àquela terra, ainda há uma rejeição aberta quanto a Jesus Cristo. Israel foi escolhida unicamente por Deus para ser abençoada e para ser a fonte de uma bênção para o mundo inteiro. Mas, porque eles rejeitaram o Messias, eles não foram abençoados e não foram uma fonte de bênção para o mundo.
Agora, isso traz uma questão muito interessante que os judeus carregam. E esta questão foi trazida a mim pelo guia turístico da minha viagem: Como pode o evangelho, a Nova Aliança, a mensagem da salvação através da fé em Jesus Cristo, como pode realmente ser a mensagem de Deus, se os judeus nunca acreditaram nisso e ainda não acreditam, sendo que os judeus são o povo de Deus? Essa é a questão.
Ou seja, como Deus poderia dar uma mensagem que o seu povo rejeitaria? Em outras palavras, se os principais judeus e a maior parte do povo judeu, da época de Cristo, não acreditaram que Jesus era o Messias, sendo os judeus o povo escolhido de Deus, que têm a revelação de Deus, então Jesus não poderia ser o Messias. Você entende? Essa é realmente a questão com a qual eles lutam. Eles concluem que o cristianismo é apenas outra religião, uma heresia blasfema. Alguns deles querem manter um dialogo com os cristãos por causa da tendência pró-Israel dos cristãos.
Mas eles nos veem como um meio para um fim, na maior parte, para ajudá-los nos seus objetivos, sem aceitar que Jesus Cristo seja o Messias. E eles consideram que se Jesus fosse o Messias, os líderes israelitas o teriam aceitado naquela época. Eles consideram que os judeus são o povo escolhido, a quem Deus deu sua revelação, portanto, se a nação rejeitou Jesus naquela época, é uma prova de que ele não é o Messias.
Agora, isso não é novidade hoje. É exatamente assim que eles se sentiam nos dias de Paulo. Nada mudou. Eles não entendiam como Deus poderia ter dado um evangelho que seus próprios líderes negariam e considerariam ser uma heresia e uma blasfêmia. Pior ainda: que a Nova Aliança é dirigida aparentemente aos gentios. E isso torna ainda mais inaceitável que Deus volte as costas a Israel para chamar uma igreja gentia. Isso era algo impossível para eles. Deus rejeitando seu povo da aliança? Deus chamando os gentios e não mais considerando Israel como raça escolhida? É impossível para eles aceitar isso racionalmente, humanamente. E então, esse é realmente o dilema deles.
Essa objeção atual é a mesma que havia nos dias de Paulo, a qual ele responde em Romanos 9. E nós vamos levar algumas semanas para ver todo este capítulo. Paulo apresenta quatro razões pelas quais a incredulidade de Israel não viola o caráter de Deus. Você vê, o judeu vai dizer: “Rapaz, se Deus põe de lado o seu povo e envia um Messias no qual os judeus não creem, então a Palavra de Deus não significa nada, o caráter de Deus é mutável, suas promessas mudaram, suas alianças mudaram e tudo está revirado. Não podemos aceitar isso!”. E assim, Paulo faz quatro afirmações:
- A incredulidade de Israel não é inconsistente com a promessa de Deus;
- A incredulidade de Israel não é inconsistente com a pessoa de Deus;
- A incredulidade de Israel não é inconsistente com os profetas de Deus;
- A incredulidade de Israel não é inconsistente com o pré-requisito de Deus.
E o que ele está dizendo é que, porque Israel não acredita, não significa que Deus tenha violado sua promessa (versículos 6 a 13), não significa que Deus tenha violado sua integridade pessoal (versículos 14 a 24), não significa Deus violou a palavra de seus profetas (versículos 25 a 29), e certamente não significa que Deus violou seu pré-requisito (versos 30 a 33).
Os judeus estavam enfrentando um grande dilema. Deus cancelou suas promessas? Será que Deus de repente se tornou injusto e indigno de confiança? As palavras dos profetas estavam erradas? Vamos olhar com base nas quatro perspectivas de Paulo em Romanos 9. E aqui o Espírito Santo responde a qualquer acusação que possa ser dirigida a Deus.
Antes do capitulo 9, Paulo apresenta a justificação pela graça através da fé. Ele falou do plano redentor, da salvação. E então, ele se volta a responder a pergunta sobre onde o judeu se encaixa nisso tudo.
Você está lembrado que, conforme já vimos anteriormente, nos versos 1 a 5 Paulo fala como se importa com Israel. No verso 2, ele diz: “tenho grande tristeza e incessante dor no coração”, chegando a dizer que ele desejaria ser anátema (destinado à destruição no inferno eterno) separado de Cristo, por amor de seus compatriotas (verso 3). No verso 4, ele diz:
São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas;
- A adoção: Não no sentido de Deus conceder a salvação a todo judeu (8:15-23 e 9:6), mas de escolher, de modo soberano, toda uma nação para receber o seu chamado especial, aliança e bênção, bem como servir como uma nação testemunha (Ex. 4:22; 19:6; Os. 11:1; Is. 9:6).
- Glória: A nuvem da glória (shekinah) que no Antigo Testamento representava a presença do Senhor (Ex. 16:10; 24:16-17; 29:42-43). Sua gloria estava presente, de modo supremo, no Santo dos Santos, tanto no tabernáculo, como no templo, a qual servia como a sala do trono de Javé, o Rei de Israel (Ex. 25:22; 40:34; I Reis 8:11).
- Alianças: Uma aliança é uma promessa, um contrato legalmente acordado. A palavra “alianças” (no plural) é usada por três vezes no Novo Testamento (Gl. 4:4; Ef. 2:12). Todas as alianças de Deus com o ser humano, com exceção de uma, são eternas e unilaterais. Deus resolve fazer algo com base em seu própria caráter e não nas respostas ou ações do beneficiário prometido. As seis aliança bíblicas são: com Noé (Gen. 9:8-17); com Abraão (Gen. 12:1-3); a lei, dada por meio de Moisés (Ex. 19-31; Dt. 29-30); sacerdotal (aliança do reino eterno por intermédio de um descendente de Davi, II Sm. 7:8-16) e a nova aliança (Jr. 31:31-34; Ez. 37:26; Hb. 8:7-13). Todas, com exceção da aliança mosaica, são eternas e unilaterais. A mosaica foi abolida pelo pecado de Israel, dando lugar à nova aliança (Hb. 8:7-13).
- Culto: Melhor tradução seria: “culto no templo”. Diz respeito a todo o sistema oficial e de sacrifício revelado por Deus por intermédio de Moisés (Ex. 29:43-46).
- Promessas: Provavelmente refere-se à promessa do Messias, que sairia de Israel, trazendo vida eterna e reino eterno (At. 2:39; 13:32-34; 26:6; Gl. 3:16-21).
No verso 5, ele diz: “deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!”. Os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, por intermédio dos quais as promessas do Messias foram cumpridas. Ele afirma a divindade e soberania de Cristo.
Então, com todo esse privilégio, ele diz, é triste que eles não tenham crido. É triste que eles estejam perdidos, e é por isso que Paulo poderia desejar a si mesmo ser amaldiçoado para que eles fossem salvos, embora ele soubesse que essa mudança seria impossível. E o que ele está dizendo nos versículos 1 a 5, e ele diz isso por implicação em vez de diretamente, é que Israel não é mais uma nação abençoada, Israel não é mais em um sentido a menina dos olhos de Deus neste momento, que eles não são mais aqueles sobre quem Deus derrama as bênçãos de sua grande misericórdia e graça. E Paulo está triste com isso.
Os judeus sempre questionam: “Bem, por que eu deveria confiar em Cristo como meu redentor e salvador, se isso significa dizer que Deus não manteve seu concerto com Israel?”. Você entende o problema na mente deles? E então, Paulo quer responder a isso nos capítulos 9, 10 e 11, mostrando como o judeu se encaixa no plano redentor de Deus.
A maioria dos judeus acredita piamente que todo o Israel é salvo por nascimento, por ser descendência de Abraão, sendo então automaticamente parte do reino. Essa é a crença judaica comum. Assim, eles pensam que um evangelho que foi rejeitado pela nação não faz qualquer sentido. Então, Paulo quer nos ajudar a entender como o evangelho pode ser verdadeiro e, ao mesmo tempo, ser rejeitado pelo povo do pacto. E é isso que ele vai nos dizer quando chegarmos ao capítulo 9
Hoje veremos o primeiro argumento que Paulo usa para mostrar que a incredulidade de Israel não violou o caráter de Deus: a incredulidade de Israel não é inconsistente com a promessa de Deus. Veja os versículos de 6 a 13.
6 E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas;
7 nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência.
8 Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa.
9 Porque a palavra da promessa é esta: Por esse tempo, virei, e Sara terá um filho.
10 E não ela somente, mas também Rebeca, ao conceber de um só, Isaque, nosso pai.
11 E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama),
12 já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço.
13 Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú.
Aqui temos a primeira questão: a incredulidade de Israel não é inconsistente com a promessa de Deus. O fato de Israel não ter crido no Messias não é inconsistente com a promessa de Deus.
Veja o versículo 6: “E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado”. Em outras palavras, ele está dizendo:
Eu não digo nada que implique que a Palavra de Deus falhou, ou literalmente tenha caído. Quando eu digo que Israel foi posto de lado e Israel não é mais abençoado, que essa nação a quem Deus deu as alianças, as promessas, a lei, as cerimônias e tudo mais, foi deixada de lado, não quer dizer que a Palavra de Deus falhou. Isso não quer dizer que as promessas de Deus tenham sido violadas, quebradas ou canceladas.
O Antigo Testamento afirma que Deus não pode fazer isso. Jeremias 32:42 diz: “Assim diz o Senhor, Assim como eu trouxe todo este grande desastre sobre este povo, então eu vou trazer sobre eles todo o bem que eu tenho prometendo-os”.
Em outras palavras, Deus disse: “Porque assim diz o Senhor: Como eu trouxe sobre este povo todo este grande mal, assim eu trarei sobre ele todo o bem que lhes tenho declarado”. E em Isaías 55:11, Deus disse: “Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei”.
Então, o que Paulo quer dizer aqui? Que a rejeição de Israel é consistente com a promessa de Deus, consistente com a fidelidade de Deus, consistente com a aliança de Deus, e o que aparece como uma quebra de promessa é apenas algo aparente, não real.
Especificamente, no versículo 6, a Palavra de Deus não se refere tanto ao Antigo Testamento como um todo, mas às alianças e promessas do versículo 4. Quando Deus deu alianças e promessas a seu povo Israel para salvá-los, dar-lhes um reino, dar-lhes glória, abençoá-los, dar-lhes um Rei, e assim por diante, ele quis dizer o que ele disse. Isso não foi cancelado. Amado, você deve entender isso. É por isso que a nação de Israel ainda existe. É por isso que ainda está lá. De todas as pessoas daquela parte do mundo que existiam quando Israel existia, não sobrou ninguém além dos israelitas. E Deus os preservou, porque ele ainda tem que cumprir essas promessas e cumprir essas alianças. E a incredulidade deles não viola os planos de Deus de maneira alguma.
Bem, como você explica isso? O final do versículo 6: “porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas”. Essa é uma declaração muito importante, pois está dizendo que há os que não são Israel e são de Israel. O que ele quer dizer com isso? Ele quer dizer que Deus nunca prometeu nada incondicionalmente a cada filho de Abraão apenas porque ele é um filho de Abraão. Você entendeu isso? Você vê, o judeu acredita que, por ser descendente de Abraão, ele está incluído no pacto, porque ele é judeu de nascimento, e, portanto, é um filho da promessa, redimido e salvo. Mas Deus nunca pretendeu que todo o Israel fosse redimido, pois nem todos os descendentes naturais de Abraão são verdadeiros herdeiros da promessa.
Falando de outra forma, o verdadeiro Israel está contido dentro do Israel natural. O Israel espiritual está contido dentro do Israel físico. E embora a nação tenha sido escolhida para ser um veículo para transmitir as Escrituras, propagar a mensagem de um único Deus e ser uma nação testemunha, a escolha da nação como uma entidade não significa que cada indivíduo dentro dessa nação também foi escolhido para a salvação. Assim, o fato de a maior parte da nação não ter crido, não cancela as promessas, porque Deus nunca pretendeu, em sua soberania, que todo judeu cresse, mas que dentro do Israel físico haveria um remanescente crente. O verdadeiro Israel é o Israel da fé, e em toda a história de Israel houve judeus sem fé, não apenas no tempo de Cristo.
No capítulo 11 de Romanos, Paulo traz o relato no contexto em que o povo se inclinou à idolatria. Elias disse: “Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma?” (v.3). Mas qual foi a resposta divina: “Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal” (v.4). Comparando aquele remanescente com o que Jesus encontrou quando veio a este mundo, Paulo diz: “Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça”. Deus não escolheu esse remanescente por algum mérito dele ou por descendência racial, mas por causa de sua graça soberana. Você entende o ponto? Muito importante. A nação foi escolhida para privilegiar, mas os indivíduos são escolhidos para a salvação.
Veja Hebreus 11:4, “Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo”. A justiça não veio porque ele nasceu de Adão. A justiça não veio porque ele ofereceu um sacrifício. A justiça veio porque ele ofereceu um excelente sacrifício que nasceu da sua justiça. Em outras palavras, há uma diferença entre religião e retidão. O verdadeiro Israel é o Israel da justiça, o Israel da fé. Em João 1:47, Jesus fala sobre Natanael (ou Bartolomeu): “Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo”. Natanael não era apenas um judeu exterior, mas também no interior. Você consegue entender a distinção?
Em João 8, Jesus é confrontado pelos líderes religiosos. Eles estavam seguros no fato de serem descendentes de Abraão. Jesus lhes diz: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (v.32). Eles, então, respondem: “Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?” (v.33). E no verso 39, eles proclamam: “Nosso pai é Abraão”. Jesus lhes responde: “Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão” (v.39). Bem, no verso 44, Jesus diz o que eles são:
Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.
Veja que ali eram verdadeiros descendentes de Abraão, mas não faziam parte do Israel espiritual. Gálatas 3:6-7,9 diz:
6 Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
7 Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão.
9 De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão.
Essa é a questão. E quando voltamos para o capítulo 9 de Romanos, estamos realmente ouvindo um eco do que ele disse em Romanos 2:28-29, que diz:
28 Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne.
29 Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus
Então, há um fato muito básico de que nem todo Israel é realmente Israel. Ou nem todos os judeus são realmente salvos. Mas aqueles que têm fé em Deus, como Deus prescreveu na sua Palavra, esses são o verdadeiro Israel. Se você acredita que toda a nação israelita é salva, então você teria um problema em entender como eles poderiam rejeitar a verdadeira Palavra de Deus.
A razão pela qual a rejeição dos judeus não envolveu nenhum fracasso da parte da promessa divina é que a promessa nunca foi dirigida a todos os descendentes naturais de Abraão. O verdadeiro judeu e o bendito judeu é o judeu crente, e sempre foi assim. Quando um judeu recebe Jesus Cristo como Salvador e Messias, todas as promessas são cumpridas, esse judeu entra na bênção do pacto, no cumprimento das promessas. Essa é a promessa de Deus.
Gálatas 3:29 diz: “E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa”. Se você é de Cristo, então você é realmente semente e herdeiro de Abraão de acordo com a promessa. A promessa a Israel não é incondicional a todo Israel carnal, de modo algum. A promessa sempre foi para o Israel espiritual. E o fato de que a nação rejeita não significa que Deus mudou sua promessa. Muitas vezes em sua história, quando a nação estava mergulhada em terrível rebeldia, Deus sempre manteve um remanescente crente e fiel.
Romanos 9:29 diz: “E como antes disse Isaías: Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, Teríamos nos tornado como Sodoma, e teríamos sido feitos como Gomorra”. Em outras palavras, se Deus não firmasse um remanescente, uma semente justa, Israel teria sido eliminado do mapa assim como outros povos foram.
Assim, a doutrina do remanescente é muito importante para um judeu contemporâneo entender, como era para um judeu nos dias de Paulo. Significa que a descrença nacional e a rejeição de Israel não implicam que as promessas de Deus não são verdadeiras, nem que suas alianças não foram mantidas. Mas, tal doutrina simplesmente aponta para o óbvio, para algo que eles deveriam ter conhecido ao longo de toda a sua história, pois durante a maior parte da história de Israel a maior parte da nação rejeitou a verdade de Deus e sempre foi um remanescente que creu. E havia, a propósito, no tempo de Cristo, um remanescente redimido de judeus.
Então, a Palavra de Deus não foi violada de maneira alguma. Agora, no versículo 7 de Romanos 9, Paulo sustenta isso de uma maneira fascinante, levando-nos todo o caminho de volta a Abraão.
Nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência.
Agora, pegue a primeira metade deste verso, é muito interessante. Ele diz que nem porque são a semente de Abraão são todos filhos. Ele distingue entre a semente de Abraão e os filhos. Os filhos aqui se referem àqueles que entram na salvação, aqueles que entram nas bênçãos da aliança, aqueles que entram na promessa, a vida eterna. Ele diz que só porque você é a semente de Abraão – essa é uma frase que tem a ver com identidade racial – só porque você é judeu, só porque você descende de Abraão, não significa que você é um filho da salvação, ou um filho de bênção, ou um filho da promessa, ou um filho de Deus.
Aqui está sua ilustração: “Em Isaque a tua descendência será chamada”. Agora, isso é o mais importante. Porque sabemos que todo mundo que descende dos lombos de Abraão não está automaticamente no pacto, ou na promessa, ou na bênção da salvação, e a melhor maneira de prová-lo é voltar imediatamente para Abraão e olhar para a sua própria biografia.
Quem foi o primeiro filho nascido de Abraão? Ismael. Mas, Ismael foi excluído da promessa, do pacto. O segundo filho, que foi o primeiro filho legítimo nascido de Sara, foi Isaque. E Isaque foi incluído. Isaque era melhor? Ele mereceu isso? Não, tudo aconteceu antes de Isaque ou Ismael nascerem. Foi o chamado de Deus: “Em Isaque será chamada a tua semente”.
A promessa que foi dada por Deus a Abraão em Gênesis 12 foi se tornando humanamente impossível, pois a idade deles avançava e Sara era estéril. Em Gênesis 16, tomada de incredulidade e seguindo as tradições da época nos casos de esterilidade, Sara oferece a Abraão sua serva Agar, para dela gerar um descendente, para cumprimento da promessa de Deus. E assim nasceu Ismael. Deus prometeu a Agar que de Ismael viria uma grande nação, mas que a sua aliança seria estabelecida com Isaque e não com Ismael (Gênesis 17:20-21).
Abraão estava com 100 anos e Sara com 90 anos, ou seja, 25 anos já haviam se passado do momento em que Abraão saiu para Canaã sob a promessa de Deus. Deus diz a Abraão que Sara daria luz a um filho e dele sairiam reis. Abraão riu. Considerou impossível gerar um filho na idade dele e de Sara, e ainda diz a Deus: “Tomara que Ismael viva diante de teu rosto” (17:15-18).
Deus respondeu a Abraão que Sara daria luz a um filho e que ele se chamaria Isaque. E disse Deus: “A minha aliança, porém, estabelecerei com Isaque, o qual Sara dará à luz neste tempo determinado”. Este tempo seria de um ano a partir daquele momento (17:21-22).
Após a morte de Sara, Abraão casou-se com Quetura, da qual gerou outros filhos, mas ele deu tudo o que tinha a Isaque. Aos filhos de suas concubinas ele deu presentes e os separou de Isaque, enviando-os para as terras orientais (25:1-6). Então, ser filho de Abraão não coloca ninguém automaticamente no lugar da bênção. E isso é verificado pela própria ilustração do caso de Isaque. A nação escolhida viria pelos lombos de Isaque. O argumento de Paulo é muito simples. Ismael e Isaque demonstram que Deus nunca pretendeu que todos aqueles que naturalmente descenderiam de Abraão receberiam a bênção da aliança. O ponto é que Deus é seletivo, ou melhor, Deus é eletivo. E a palavra chave é “chamada”, ou seja, escolhida pela vontade soberana.
Quando você olha ao redor do mundo hoje e diz: “Por que, se o evangelho é verdadeiro, Israel não crê?”. Basta perguntar a si mesmo esta pergunta: Deus disse que todo judeu descendente de Abraão seria um filho da promessa? Apenas um dos filhos de Abraão foi escolhido para ser o filho da promessa. E tem sido assim em toda a história de Israel. Deus selecionou indivíduos, um remanescente para redimir. Ele não cancelou sua aliança e suas promessas, porque ele sempre foi eletivo quando deu essas promessas. E a história nos mostra que elas sempre foram destinadas a poucos e não a muitos.
E o verso seguinte explica isto, versículo 8: “Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa”. Ele está nos dando uma explicação adicional. Em outras palavras, apenas saindo fisicamente dos lombos de Abraão não significa que você é um filho de Deus. “Mas os filhos da promessa”, essa é outra maneira de dizer que os filhos de Deus, ou os filhos do versículo 7 “são contados como a semente”.
Quem são os verdadeiros filhos de Deus? São os filhos da promessa. Eles são chamados assim porque foram chamados por Deus para receber a promessa de salvação. Eles são considerados a verdadeira semente. Eles são considerados os recebedores da promessa. E Isaque é uma ilustração perfeita de um crente, porque ele nasceu por um ato especial de Deus, ele nasceu por meio de um poder sobrenatural e nasceu de acordo com uma promessa divina. Ele é uma ilustração do redimido.
Em síntese, o verso 8 diz: Aqueles que são filhos da carne de Abraão não são necessariamente filhos de Deus. Mas os filhos da promessa de Deus são contados como a semente verdadeira. A verdadeira semente, então, são aqueles que Deus elege dos filhos da carne.
Agora, versículo 9: “Porque a palavra da promessa é esta: Por esse tempo, virei, e Sara terá um filho”. Em detrimento de toda impossibilidade humana, de forma sobrenatural, Deus levantou uma descendência de Abraão a partir de Sara. Sara riu e disse: “Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu senhor já velho? Darei eu à luz ainda, havendo já envelhecido?” (Gênesis 18:12-13).
Agora, a palavra da promessa foi dada em Gênesis 18 e você se lembra, talvez, eu poderia ler dois versículos de Gênesis 18, caso você tenha esquecido. Versículo 10: “E ele disse: certamente te voltarei para ti, de acordo com o tempo da vida; e eis que Sara, tua mulher, terá um filho”. O verso 12 diz que Sara riu de incredulidade. O Senhor disse a Abraão: “Haveria coisa alguma difícil ao Senhor? Ao tempo determinado tornarei a ti por este tempo da vida, e Sara terá um filho” (Gênesis 18:14). E assim, Deus é seletivo. Isaque nasceu em um momento especial, nascido do poder especial de Deus e nascido da promessa de Deus. Ele é o filho da escolha divina, tal como Deus age na história humana. Gálatas 4:22-28 diz:
22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
24 O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar.
25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.
26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.
28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.
Deus age através de vários seres humanos em momentos especiais da História, assim como diz de Cristo: “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”. No momento certo, no tempo certo, pela escolha certa, Deus escolheu dar um filho da promessa, Isaque. E isso tudo é apenas uma ilustração, simplesmente apontando o fato de que Deus é seletivo.
É muito difícil para os judeus aceitarem isso. É inaceitável para eles compreenderem que dentro da raça judaica há alguns que são escolhidos para serem os filhos da promessa, mas não toda a nação. Portanto, a descrença judaica generalizada não pode nos fazer duvidar das promessas divinas. Então, a declaração de Paulo é que nem todo Israel é um remanescente. E assim, a incredulidade de Israel não significa que esta mensagem não pode ser verdadeira. Israel tem sido incrédulo para com todas as mensagens que Deus lhe enviou. Abraão teve vários filhos, apenas um foi escolhido por Deus. Apenas um era filho da promessa, apenas um. E Deus sempre trabalhou através de um remanescente eleito, uma minoria salva.
Mas, há ainda uma ilustração mais forte, versículo 10: “E não ela somente, mas também Rebeca, ao conceber de um só, Isaque, nosso pai”. Não apenas a ilustração de Abraão e Isaque, mas a ilustração de Isaque e Rebeca. Não só Sara recebeu junto com Abraão a promessa de um filho, mas também a esposa de Isaque, Rebeca, filha de Betuel, foi escolhida como esposa, como noiva de Isaque.
Você se lembra daquela grande história de como o servo foi encontrar uma noiva para Isaque. História maravilhosa, Gênesis 24. E ela deveria ser a noiva. E ela veio e e se tornou a noiva de Isaque. De acordo com Gênesis 25, Rebeca deu à luz a Jacó e Esaú. E daqueles dois Deus escolheu Jacó, através de quem viria a linha da promessa.
A eleição incondicional de Deus encontra sua expressão mais inequívoca na escolha do gêmeo mais jovem nascido de Rebeca. Esaú nasceu primeiro e deveria ter tido o direito de primogenitura, o que significava uma dupla bênção e duplo respeito. Mas, Deus escolheu Jacó, e isso significa que Deus é seletivo. E Ele não é apenas seletivo, mas, às vezes, Ele escolhe o que não parece ser aquilo que você escolheria. Ele tem esse direito soberano.
E, novamente, Paulo está dizendo: “Veja, nem todos os filhos naturais são os filhos da promessa. Eles não eram no caso de Abraão e não eram no caso de Isaque”. Veja Romanos 9:11-13:
11 E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama)
12 já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço.
Quem disse que o mais velho será servo do mais moço? Gênesis 25 diz que Deus disse isso. Deus diz que escolheu Jacó. Eu escolho o mais novo para ser colocado sobre o mais velho. E isso foi contra o curso normal da vida. Mas, essa foi a escolha de Deus.
Agora, se você ler Gênesis 25, encontrará muitas coisas interessantes sobre esses dois homens, Jacó e Esaú. O filho mais velho, o primogênito dos gêmeos, foi Esaú. Ele era um homem peludo, era um tipo de caçador e era o favorito de Isaque. Ele deveria ter tido a bênção especial, a herança dupla, como I Crônicas 5:1 registra. Ele deveria ter tido o duplo respeito, de acordo com II Crônicas 21:3.
Ele era um homem selvagem do deserto. À medida que ele cresceu e se desenvolveu, ele definitivamente não estava preocupado com as coisas de Deus. Envolveu-se com mulheres cananeias (Gênesis 26:34) e trouxe nada além de tristeza para seus pais. E então, para piorar as coisas, ele se casou com sua prima, filha de Ismael. Gênesis 28 fala sobre isso. Ele era um pagão e indiferente às coisas de Deus. Por uma refeição ele vendeu seu direito de primogenitura (Gênesis 25:29-34). Hebreus 12:16 diz:
16 E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura.
17 Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.
Ele era tão corrupto e tão mau, tão profano que mesmo quando ele intelectualmente queria se arrepender, não conseguia encontrar um lugar para o arrependimento. Ele não conseguia nem se arrepender, de tão perverso que era.
Então, ele foi o primeiro que nasceu. Ele não foi escolhido por Deus. E a vida dele confirmou isso. Deus rejeitou Esaú na linhagem da promessa. E Esaú também rejeitou a Deus. Deus escolheu um dos gêmeos para a bênção divina e o outro ele deixou para que seguisse sua natureza pecaminosa rumo ao juízo eterno. A escolha é divina, mas ela não exclui a responsabilidade do homem. O homem ruma à perdição por sua própria vontade. Porém, aprouve a Deus escolher alguns para a salvação.
O outro era Jacó, o mais novo. E o versículo 12 diz que o irmão mais velho servirá ao mais novo. Você pode ler em Gênesis 25 que Deus disse isso. O mais velho vai servir o mais novo. Ele comprou a primogenitura de Esaú. Ele recebeu a bênção ao enganar Isaque, em uma manobra ajudada por sua mãe, Rebeca (Gênesis 27).
Rebeca sabia que a escolha de Deus era Jacó. Por que ela não confiou em Deus e tentou fazer com que a escolha de Deus se tornasse uma realidade? Não é triste a maneira como as pessoas querem controlar as coisas em suas próprias mãos? Tudo o que Rebeca e Jacó tinham que fazer era esperar o tempo do Senhor, mas eles tentaram enganar e conseguir as coisas por conta própria e no tempo deles. E isso causou muitas dores a Jacó e a Rebeca. Por causa da fúria de Esaú, Jacó teve que partir para muito longe de sua casa. Rebeca nunca mais viu Jacó, que fugiu para não ser morto por Esaú. Jacó foi enganado por Labão, teve uma vida familiar cheia de conflitos e ficou exilado de sua família por longos anos.
Jacó procurou a Deus. Ele é aquele que lutou com um anjo e dessa luta Deus mudou seu nome de Jacó para o que? Para Israel (Gênesis 32). E ele buscou a Deus. Ele tinha um coração para Deus. Mas, ele sofreu por causa do seu pecado. Ele foi castigado pelo Senhor, odiado por seu irmão e sua vida estava cheia de dor e tristeza. Mas, ele buscou a Deus, ele foi o filho escolhido de Deus. Paulo, então, usou uma ilustração diferente para mostrar que não foram todos os filhos de Abraão que herdaram a promessa e nem todos os filhos de Isaque.
Deixe-me dar um passo além, uma verdade fascinante. Quando a Bíblia diz que o mais velho servirá ao mais novo, não acho que esteja falando simplesmente sobre Jacó e Esaú. Eu penso que está falando sobre o que viriam de seus lombos, as nações. Dos lombos de Jacó veio Israel. De Esaú veio Edom, que foi posta em servidão sob Israel. Em Gênesis 25:23, Deus disse a Rebeca: “Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor”.
Gênesis 36:8-9 diz que “Esaú habitou na montanha de Seir; Esaú é Edom. Estas, pois, são as gerações de Esaú, pai dos edomeus, na montanha de Seir”. II Crônicas 25 diz que eles eram adoradores de ídolos. Números 20:18 e seguintes e você verá que eles eram inimigos de Israel.
Então, Esaú desceu ao Monte Seir, da terra prometida, e produziu uma raça de edomitas, que eram pagãos, idólatras e anti-israelitas. E Deus deu algumas mensagens muito fortes para essas pessoas, tal como em Amós 1. Edom se pôs contra Israel. Mas, Deus trouxe juízo, expresso em Obadias 10: “Por causa da violência feita a teu irmão Jacó, cobrir-te-á a confusão, e serás exterminado para sempre”.
Então Israel, vindo dos lombos de Jacó, era a nação escolhida. Edom, dos lombos de Esaú, o objeto da ira. E ambos vieram de Isaque. E o que Paulo está dizendo de novo é que Deus é seletivo. Dois filhos nascidos de Isaque, e Isaque era o filho da promessa, mas novamente Deus escolheu. Essa foi a escolha de Deus.
Isto é confirmado por uma declaração chocante em Romanos 9:13, que diz: “Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú“. É uma citação direta de Malaquias 1: 2-4, que diz:
2 Eu vos tenho amado, diz o SENHOR. Mas vós dizeis: Em que nos tem amado? Não era Esaú irmão de Jacó? disse o SENHOR; todavia amei a Jacó,
3 E odiei a Esaú; e fiz dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos chacais do deserto.
4 Ainda que Edom diga: Empobrecidos estamos, porém tornaremos a edificar os lugares desolados; assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eles edificarão, e eu destruirei; e lhes chamarão: Termo de impiedade, e povo contra quem o SENHOR está irado para sempre.
O sentimento de ódio por Esaú e sua descendência não é o que está em pauta em Romanos 9:13. Malaquias, que escreveu essa declaração 1.500 anos depois da morte de Esaú e Isaque, estava relembrando esses dois homens – e por extensão as nações de Israel e Edom, que provieram deles. Deus escolheu uma para benção divina e outra para juízo.
Alguns tentaram dizer que o verso quer dizer que Deus amou mais a Jacó do que a Esaú. O texto não diz assim. Diz que Deus odiou Esaú. Ele odeia o mal, a idolatria, o paganismo e então Ele odeia Esaú. Você pode ler sobre o ódio de Deus no Salmo 5:5; 11: 5; 26:5, Provérbios 6:16, Jeremias 44:4, Oséias 9:15, Amós 5:21, Zacarias 8:17, Malaquias 2:16 e em muitos outros lugares. Deus odiou o que viu na semente de Esaú. Malaquias 1:4 diz que Deus está irado para sempre contra Edom.
Assim, o Senhor é seletivo. Esaú escolheu contra Deus, porque Deus escolheu contra Esaú. Jacó escolheu, mesmo apesar de seu pecado, por Deus, porque Deus escolheu Jacó. Ambos nasceram de Abraão, ambos nasceram de Isaque, mas um deles não era filho da promessa. E dos lombos de Abraão vieram duas nações, uma o povo da promessa, outra o povo de eterna indignação, julgamento e ira.
Agora, vamos concluir voltando a Romanos 9:11.
E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama).
O que é isso que ele está dizendo? Está dizendo que Deus escolheu entre Jacó e Esaú antes de eles nascerem. Deus os escolheu antes que eles fizessem algum bem ou mal. Essa é a eleição. Deus escolheu. Você diz: “Isso é uma coisa difícil para eu entender”. É claro que sim, mas isso ajuda você a ver que, quando eles viveram suas vidas, o que Deus escolheu demonstrou que ele também escolheu Deus. E aquele que Deus rejeitou demonstrou que ele também rejeitou a Deus. Isso traz algum equilíbrio? Para mim faz. O ponto aqui é que antes que qualquer um deles tivesse nascido, Deus escolheu para que o propósito divino, de acordo com a eleição, pudesse permanecer, não através de suas obras, mas do alto chamado de Deus.
Qual é o ponto? Se Deus escolheu você por causa do que você fez, então quem recebe a glória? Você. Mas o propósito de Deus é glorificar a si mesmo. Marque isso, que o propósito de Deus é glorificar seu nome. E a maneira que ele se glorifica é sendo o soberano que escolhe, não por causa do que você fez, mas por causa de seu próprio chamado soberano. O propósito de Deus é exaltar seu propósito soberano. E assim, ele escolhe antes mesmo de fazermos algo bom ou ruim, antes mesmo do nascimento. Toda glória é somente dele.
Toda pessoa escolhida para a salvação, seja em Israel ou na igreja, é escolhida por Deus antes do seu nascimento. A Bíblia diz que seu nome está escrito no Livro da Vida do Cordeiro desde a fundação do mundo. E você, durante sua vida, confirmará essa escolha crendo. Isso é um mistério.
Mas, veja você, agora ouça isso, eu vou encerrar, estamos tão acostumados com a teologia centrada no homem, que se tudo não começar com o homem, não podemos entendê-lo. Somos apresentados ao fato de que Deus escolhe entre Jacó e Esaú antes de nascerem e pensamos que isso é injusto. Por quê? Porque somos tão orgulhosos, egocêntricos, centrados no homem, mesmo em nossa teologia, que se ela não começar com a nossa escolha, não podemos lidar com isso. E preferimos acreditar que a decisão de voltarmos a Deus nasce em nós e Deus age apenas depois que decidimos por isso. Porém, a Bíblia afirma que Deus é quem faz a escolha.
Paulo argumenta isso aqui. Deus faz a escolha. Ele faz o chamado. É Ele quem chama. É um chamado eficaz. É o tipo de chamado mencionado em João 8:30; 9:27; 1 Coríntios 1: 9:1; 7:15; Gálatas 1: 6-15, Gálatas 5: 8-13 e Efésios 4: 1-4; Colossenses 3:15 e assim por diante. É o chamado efetivo.
Então, Paulo está afirmando o propósito da eleição de Deus que se distingue por sua própria vontade soberana. Todos esses versos do capítulo 9 de Romanos são uma ilustração disso. Não estamos surpresos pelo fato de toda a nação de Israel não crer, porque nem todo Israel é Israel. Deus tem o seu povo. E nós encontramos alguns deles lá, alguns dos remanescentes naquela terra. Nós temos alguns dos remanescentes de Israel em nossa igreja, Deus os abençoe. Que irmandade enriquecedora eles são para nós!
Eles se orgulhavam de sua ascendência abraâmica, mas Paulo desconstrói isso. Abraão teve dois filhos, apenas um era filho da promessa. Isaque teve dois filhos, apenas um era filho da promessa. E assim, a Palavra de Deus permanece, como sempre permanecerá, e a incredulidade de Israel não é inconsistente com a promessa de Deus. Da próxima vez, veremos que também não é inconsistente com a pessoa dele também. Vamos orar.
Senhor, agradecemos-te por esses momentos. Quão importante para nós é entendermos essa porção das Escrituras! Obrigado, Senhor, pela clareza com que tua Palavra e teu Espírito falam conosco. Damos-te louvor em nome de Cristo. Amém.
Esta é o primeiro de uma série de 4 sermões de John MacArthur sobre Romanos 9, conforme links abaixo:
- O Plano de Deus e Israel (1) – A incredulidade de Israel não é inconsistente com a promessa de Deus
- O Plano de Deus e Israel (2) – A incredulidade de Israel não é inconsistente com a pessoa de Deus
- O Plano de Deus e Israel (3) – Deus Chama e Endurece a Quem Ele Quer. Mas O Homem é Sempre Indesculpável
- O Plano de Deus e Israel (4) – A incredulidade de Israel não é inconsistente com os profetas e pré-requisitos de Deus
Este texto é uma síntese do sermão “Is Israel’s Unbelief Inconsistent with God’s Plan? Part 1”, de John MacArthur em 04/12/2003.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/45-71/is-israels-unbelief-inconsistent-with-gods-plan-part-1
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno