Os Dons Permanentes (1)
Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre dons espirituais e homens especialmente dotados. Veja os links no final deste texto.
1. INTRODUÇÃO
Nós temos discutido em nossa série em 1 Coríntios nas manhãs de domingo sobre os dons espirituais. Vamos continuar nesse estudo esta manhã e espero que você seja encorajado e abençoado pelo que abordaremos, porque é muito, muito útil para a vida de cada um de nós como crentes, mas especialmente para aqueles de nós que podem ter os dons ou uma combinação de qualquer um dos dons sobre os quais falaremos nesta manhã. Se você quer descobrir onde estaremos, você tem que manter sua Bíblia aberta em dois trechos: Romanos 12:6-8 e 1 Coríntios 12:8-10. E nessas duas porções examinaremos os dons espirituais que a Bíblia registra.
Ontem [27/06/1976], algo muito significativo aconteceu no mundo do atletismo. Eu estava lendo o jornal esta manhã e descobri que Bruce Jenner havia novamente quebrado o recorde mundial no decatlo. Desde que eu era um garotinho, em minha mente o decatlo sempre foi a conquista mais incrível que um ser humano poderia alcançar, do ponto de vista físico.
Há dez modalidades esportivas diferentes que são exigidas no decatlon, desde corridas de longa distância, obstáculos, saltos, salto à distância, arremesso de disco, arremesso de dardo, salto com vara, dentre outros. Cada uma dessas modalidades contidas no decatlon já seriam tremendos eventos esportivos em si mesmas. Vencer em qualquer uma delas já seria uma conquista digna de grande honra no mundo atlético. Mas, quando alguém se destaca em todas elas e é reconhecido como o maior atleta do mundo, isso é realmente algo muito excitante e interessante de ver.
Lembro-me do ano passado, quando assisti à competição, a qual durou dois dias. É muito demorada. Fiquei espantado ao ver o que vi. Eu vi cerca de 25 desses atletas competindo. E o que foi tão esmagador para mim, e continua sendo, é o fato de que o corpo humano pode funcionar assim. Isso é incrível, porque é um contraste do que conhecemos do funcionamento do corpo humano. Quero dizer, você sabe, você mal consegue levantar da cama no domingo de manhã, e depois meio que se joga numa poltrona. E depois, passa o dia sentando aqui e ali, seja em casa, no trabalho ou no carro. Depois, tenta se manter acordado, só até chegar em casa e voltar a dormir.
Essa realmente não é a intenção que Deus tinha em mente quando fez nossos corpos. Alguns de nós não entendem o que significa “que teríamos força renovada como águias”. Nós não podemos nem nos comparar com águias. Nós somos uma espécie de pardais, na melhor das hipóteses. Mas o que é incrível para mim é ver o corpo humano quando ele funciona em uma potência máxima. É incrível. E você só pode ver essa alta performance do corpo humano quando vê esse tipo de espécime em ação, os decatletas, e percebe o potencial que Deus colocou dentro do corpo humano para a atividade, capacidade e produtividade. E isso é excitante.
E então, lembro vividamente, que enquanto estava assistindo ao decatlon ano passado, estava pensando comigo mesmo: Ah! se o corpo de Cristo operasse assim… se todas as células e todos os membros e todas as capacidades estivessem operando no máximo… que tremenda influência teríamos no mundo! Mas isso é exatamente o que Deus pretendia. Assim como Ele pretendia que o corpo físico fosse usado para esse resultado máximo, Ele também pretendia que a Igreja fosse capaz disso.
Você diz: “Mas como?”. Bem, para um atleta operar assim nessa alta performance, todas as células, todos os músculos, tecidos, fibras e todas as capacidades do corpo têm que se unir, desde o aspecto mental até o físico, para operar. E é o mesmo com a Igreja. Se a Igreja vai ser tudo o que Deus planejou, se vai dar glória a Cristo, como o corpo de um decatleta lhe dá glória, ela terá que funcionar com cada parte fazendo o que tem que fazer ao máximo. E é exatamente onde o ministério dos dons espirituais se une.
Somos um corpo. Veremos isso mais profundamente quando chegarmos ao versículo 12 de 1 Coríntios 12. E esse texto fala sobre os membros do corpo e como os membros cooperam para fazer o corpo funcionar da maneira que deveria funcionar. Os dons espirituais, então, são vitais. Se o corpo de Cristo é para honrar a Cristo, isso ocorrerá quando formos um corpo inteiro, funcional e maximizado. Isso só acontecerá quando todos nós estivermos ministrando os dons que o Espírito de Deus tão graciosamente nos concedeu.
Quando o corpo funciona como deveria, existem quatro resultados básicos que ocorrem e que são muito importantes. Número um, isso é abençoador. Você será abençoado quando ministrar e ver o fruto do seu trabalho. Deus nunca pretendeu que o ministério fosse realizado por profissionais enquanto todos os outros membros do corpo apenas sentam e assistem passivamente.
Deus quer que todos nós ministremos, para que todos nós vejamos Deus trabalhando, para que todos nós possamos ver frutos, para que todos sintamos a alegria e a bênção em resposta a eles. Então, um dos benefícios quando o corpo opera é que as pessoas recebem a bênção. Você recebe a plenitude do que Deus planejou para você receber.
Em segundo lugar, quando todos fazem sua parte e o corpo realmente funciona, o testemunho é dinâmico. Uma comunidade resgatada em pleno funcionamento no meio de uma comunidade não resgatada é dinâmica. Quando Pedro exerceu seu dom de profecia, ou proclamação, no dia de Pentecostes, 3.000 pessoas foram salvas. Em Atos, quando os crentes exerceram o dom de doar e compartilharam o que tinham, o Senhor acrescentou diariamente à Igreja pessoas que viam esse tipo de amor e queriam fazer parte dele. A vida daquela igreja primitiva em Jerusalém, no livro de Atos, mostra como o ministério dos dons dos crentes criou resposta na comunidade não redimida e não-salva.
Um terceiro resultado, não apenas que as pessoas recebam a bênção e o mundo receba o testemunho, mas, surgem líderes. Em um corpo de crentes funcionando em sua plenitude, os líderes são formados. Eles emergem. Temos muito “material de formação de liderança” disponível para a Igreja hoje, porque existe uma necessidade real de liderança. Essa é a grande necessidade da Igreja.
Você não pode fazer com que as pessoas façam o que as pessoas devem fazer, a menos que você tenha alguém para ajudá-las, mostrá-las e trabalhar com elas. Então, a liderança é uma prioridade. E é incrível como a Igreja tenta encontrar seus líderes. Você pode ir a seminários de liderança e ler livros sobre liderança, e você encontrará uma grande quantidade de material que é simplesmente uma adaptação do sistema mundano de obtenção de líderes.
É a velha síndrome do FLN, o forte líder natural. Você pega o sujeito com todas as qualificações psicológicas etc e o treina e o eleva à categoria de líder. E como a Igreja tem se tornado mais e mais semelhante ao mundo, tendemos a optar pelos padrões do mundo. Oh, quando a Igreja diz, você sabe, “nós temos que educar nosso povo”, ela pensa num sujeito que tenha um diploma em educação para vir fazer o serviço. Ou a Igreja diz: “Temos muito problemas. É melhor buscar alguém com algum treinamento psicológico para lidar com nossos problemas”. Ou “Temos muitos jovens que têm necessidades. É melhor encontrarmos um especialista na área da juventude”. Ou “O mundo deveria ouvir falar de nós. Vamos contratar um especialista em relações públicas”.
Ou: “Nossos cultos de adoração são bastante sem graça. Vamos providenciar muitos músicos e assim por diante, e realmente animar a coisa. Um pouco de adoração criativa, pendurar alguns balões, ter algumas pessoas dançando para cima e para baixo nos corredores…. e o que for preciso para sairmos dessa rotina de manivela que temos na adoração”. E assim, a Igreja opta por ter a liderança estilizada que o mundo oferece, quando a verdade é que tudo o que Deus espera dos líderes da igreja é que eles tenham certos dons do Espírito Santo e certas qualificações morais e espirituais que se tornam manifestos na ministração dos mesmos à igreja.
À medida que tais pessoas ministram seus dons, elas simplesmente emergem do meio da igreja como líderes. Vemos isso aqui o tempo todo, continuamente, dia após dia, novos líderes despontando. A liderança cheia do Espírito sempre emerge rapidamente quando não há obstáculos para Deus trabalhar livremente em Seu corpo.
Em quarto lugar, um dos benefícios de um funcionamento efetivo do corpo é que a unidade se desenvolve, e há um amor belo, uma maravilhosa comunhão. E isso supre as nossas necessidades e ainda se estende para tocar a vida das pessoas que gostariam de ter o mesmo que nós temos. Todos esses benefícios são o resultado de quando o corpo realmente funciona. E a chave para esse funcionamento pleno é o uso dos dons espirituais.
2. OS DONS PERMANENTES
Todos nós recebemos dons. Temos tratado desse assunto há algumas semanas e terminamos na semana passada o assunto sobre os homens dotados que o Senhor deu à igreja. Hoje, porém, avançaremos para tratar dos dons permanentes. Há alguns dons que o Espírito de Deus deu à Igreja pelo tempo em que a Igreja durar. Esses dons são permanentes. São dons que devem ser ministrados em todos os momentos na vida da Igreja. Existem ainda os dons temporários, que foram concedidos apenas por um período especial de tempo, para um propósito muito específico, e vamos falar sobre eles no futuro.
Mas por agora, olharemos para os dons permanentes. Existem duas categorias de dons permanentes. Veja o que diz 1 Pedro 4:10: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu…”. Ou seja, seja qual for o seu dom – e ele é provavelmente uma combinação de várias habilidades, como já vimos – ministre-o aos outros. Utilize o dom. Isso é vital. Ministre-o “como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”. Se você é um mordomo, ministre seu dom.
Agora, em seguida, ele divide o dom em duas categorias: “Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá…”. Aqui temos dois tipos de dons: dons de falar e dons de servir. Todos os dons envolvem serviço em certo sentido, mas Pedro usa essa terminologia para nos ajudar a distinguir as duas categorias: dons verbais (dons de falar) e dons não verbais (dons de servir). Mas, essa classificação não é totalmente precisa, porque mesmo os dons de serviço podem englobar alguma verbalização.
Essas duas categorias gerais englobam onze dons que são permanentes. Quanto aos dons de falar, vamos olhar para cinco deles que são mencionados em Romanos 12: 6-8 e 1 Coríntios 12: 8-10:
2.1. DONS DE FALAR OU DE LINGUAGEM
■ 1. DOM DE PROFECIA – Há um grande debate hoje sobre se o dom de profecia ainda existe. Há aqueles que dizem que este dom já foi extinto, baseados em 1 Coríntios 13:8 e 10, que diz: “O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá… Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado”. Segundo estes, o dom de profecia ficou no passado, pois aquilo que é perfeito, a Bíblia, já chegou.
Não só o dom de profecia foi extinto, mas as línguas, e o conhecimento (ciência). Normalmente, este trecho de 1 Coríntios é usado para respaldar a extinção do dom de línguas, mas, por consequência, acaba respaldando a extinção dos outros dons mencionados, sendo que a profecia é um deles. Mas eu creio que tal interpretação gera alguns graves problemas. Vamos chegar a 1 Coríntios 13:8 no futuro e explicar tudo sobre ele, mas por hora, vamos começar com o dom de profecia, e presumir que ele não foi extinto, ok?
Então, vamos supor que o dom de profecia ainda exista, e eu vou mostrar-lhe porque, e, em seguida, vamos ver mais tarde o capítulo 13, verso 8. Mas, neste momento, vamos supor que o dom de profecia ainda exista. A palavra profecia no grego é “prophetea”, que deriva do verbo “prophatuofor”. A palavra “prophetea” tem o sufixo pro, que significa antes, e phetea, que significa falar. Assim, “prophetea” quer dizer: “falar antes”. Mas, o sentido dessa palavra no idioma grego não é “falar antes que algo aconteça”, ou seja, predizer o futuro, mas “falar diante de alguém ou de um público”.
Não tem o sentido de falar antes em termos de predizer o futuro. É falar perante uma audiência. Literalmente, é falar perante ou diante de alguém. Assim, falar em público, proclamar é o dom de profecia. Não se refere a uma revelação direta de Deus. É, simplesmente, uma comunicação no presente, de acordo com o significado da palavra no idioma grego.
A ideia de profecia como prever o futuro só veio a existir na língua inglesa na Idade Média. Mas, um grego ou um hebreu sabiam o que a palavra significava. Simplesmente seu significado é proclamar diante de alguém. É falar publicamente. Sendo assim, qual é o dom de profecia? A partir da definição da própria palavra, é a capacidade dada pelo Espírito de Deus a uma pessoa para proclamar a verdade de Deus para os outros. Proclamar a verdade de Deus publicamente. Esse é o dom.
Veja o capítulo 14:3, de 1 Coríntios. Isso vai ajudar: “Mas o que profetiza fala aos homens…”. De um modo muito fácil de entender temos a definição do dom de profecia neste versículo: falar aos homens. É o dom de proclamar. Como eu gostaria que as traduções da Bíblia trouxessem a palavra proclamação no lugar de profecia. É o dom de proclamar. O dom de falar diante dos homens. E essa é a definição mais simples que você pode encontrar na Bíblia.
Agora, Deus sempre concedeu esse dom. Nunca houve um tempo na história do lidar de Deus com os homens em que alguém não tivesse esse dom, porque em todos os momentos Deus tinha alguém falando Sua Palavra. Veja, isso é tudo o que a palavra profetizar significa. O Antigo Testamento, por exemplo, está repleto de usos da capacitação para profetizar. Qual a função principal do profeta do Antigo Testamento? Proclamar a Palavra de Deus. Parte desse ministério se referia ao futuro, outra parte se referia ao presente e ainda outra parte era uma reiteração daquilo que o Senhor havia falado no passado.
Muitas vezes os profetas falaram sobre o que Deus já havia feito. A profecia nem sempre era uma previsão do futuro. Aliás, a previsão do futuro corresponde apenas a um terço da profecia no Velho Testamento. O sentido típico de profetizar era simplesmente falar diante de alguém, proclamar a verdade de Deus e falar a Palavra de Deus.
E tenho plena convicção, e tenho certeza de que você também, se você estuda o Antigo Testamento em detalhes, de que os profetas e o dom da profecia estavam em primeiro lugar no Antigo Testamento, porque ele é composto dessa profecia. É o que Deus proclamou que está registrado no Antigo Testamento. Isso constitui o Antigo Testamento.
De fato, Pedro comenta sobre o Antigo Testamento e diz: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”, 2 Pedro 1:21. A “profecia” aqui se refere ao Antigo Testamento. É uma proclamação de Deus. E o Novo Testamento não é diferente. Nele a profecia é vital, porque Deus está revelando a Si mesmo novamente. Ele revela todos os mistérios, Ele dá a conhecer aos apóstolos a Sua vontade. “O Espírito de Deus trará em sua lembrança todas as coisas que Eu tenho dito”, disse Jesus, para que eles pudessem posteriormente escrever o Novo Testamento.
Os escritores do Novo Testamento afirmam ser inspirados por Deus. Eles estavam proclamando a Palavra de Deus e, quando todo o Novo Testamento foi concluído, ele também é uma profecia, uma proclamação de Deus. Na verdade, João diz em Apocalipse 1:3, “Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” O que isso significa? A proclamação da verdade de Deus.
Seja no Antigo Testamento ou no Novo Testamento, o ponto vital é a proclamação da verdade de Deus. E creio que nesta era pós-Novo Testamento isso é ainda mais vital. Pessoas proclamando a verdade de Deus é o que Deus deseja, é o que Deus quer e é uma prioridade. E é por isso que em 1 Coríntios 14:1 , é dito: “Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar.” Isso é vital. Quando nos reunimos como uma congregação, devemos desejar que a profecia seja o dom que é ministrado.
Veja o verso 39, do capítulo 14, de 1 Coríntios: “Portanto, irmãos…”, ele fala no plural, “procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas.” Tudo o que eles estavam fazendo quando se reuniam era apenas falar em línguas. Paulo está dizendo, em outras palavras, que o dom de falar em línguas tinha o seu lugar, mas eles deveriam parar de fazer isso o tempo todo e deveriam desejar, quando se reunissem, que o dom de profecia fosse exercitado. Por quê? Porque é o mais vital. Por quê? Porque é uma proclamação da verdade de Deus.
Agora, essa é uma simples olhada no conceito de profecia. Deixe-me acelerar para adicionar algo para ajudar você a entender. A profecia é vital, porque ministra aos crentes. Veja o versículo 3 do capítulo 14: “Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação.” Ministra aos crentes nessas três maneiras. Mas, a profecia é também importante, porque ministra aos incrédulos. Veja os versículos 24 e 25:
Mas, se todos profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado. E, portanto, os segredos do seu coração ficam manifestos, e assim, lançando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós.
Paulo está dizendo, em outras palavras:
Olhem, quando vocês se reúnem e todos vocês tagarelam nessas línguas, as pessoas chegam no meio de vocês e pensam que são loucos. Elas pensam que vocês perderam a cabeça. Mas, se vocês profetizassem, eles entrariam, escutariam e seriam condenados, cairiam em seus rostos e se arrependeriam e creriam.
A profecia, então, ministra aos crentes e aos incrédulos, e é por isso que Paulo diz que você precisa ter certeza de que está exercendo essa área.
Agora, amado, não penso nem por um minuto que podemos restringir a profecia apenas a uma nova revelação de Deus. Às vezes, quando aquelas pessoas falavam, elas estavam reiterando algo já revelado. Eles certamente não podiam pregar o Evangelho proclamando uma revelação nova, dada por Deus. O Evangelho já havia sido revelado. Assim, se eles estivessem proclamando o evangelho, como indicado nos versos 24 e 25, para incrédulos, simplesmente estariam reiterando algo que Deus já havia revelado. Então, concluímos que a profecia se encaixaria em uma das duas categorias: revelação ou reiteração.
Agora, olhe para o aspecto revelador da profecia. O que é revelação? Dizer algo nunca antes dito. Conhecer algo nunca antes conhecido. Isso é revelação. Quando Deus revela algo nunca antes conhecido. Agora, às vezes, um profeta abria a boca e falava algo totalmente novo, nunca antes dito ou conhecido, algo vindo da mente de Deus. E essa revelação é o conteúdo da Escritura. Essa foi a revelação divina. A profecia, nesse sentido, poderia até ser uma palavra prática que não está registrada nas Escrituras, mas que veio diretamente de Deus. Então, há o aspecto revelador.
Agora, esse é o uso comum da profecia do Antigo Testamento. O profeta falava a revelação vinda de Deus: “A palavra do Senhor veio a Ezequiel… e Ezequiel disse”; “A Palavra do Senhor veio a mim…”, diz Amós, “e o leão rugiu, e o que eu poderia fazer senão falar?”; “A palavra do Senhor veio a mim…”, disse o profeta, “e foi como fogo em meus ossos”. Em outras palavras, isso foi revelação. Deus derramando a Sua Palavra através do profeta.
Mas, houve outras ocasiões em que um profeta pregou e simplesmente repetiu uma mensagem que Deus já havia dado. Há ocasiões no Antigo Testamento em que os profetas simplesmente reiteraram algo que era de conhecimento comum e estavam proclamando algo que Deus já tinha revelado. O mesmo ocorre no Novo Testamento. Às vezes, o profeta ou apóstolo do Novo Testamento, que exercia o dom da profecia, teria uma revelação divina e, pela primeira vez, ele estaria falando algo que nunca foi dito. Outras vezes, ele estaria repetindo algo que já havia sido dito.
Nessa área de revelação, às vezes a profecia era doutrinal. Às vezes era prática. Por exemplo, um grupo de anciãos se reuniu para separar Timóteo para o ministério. Leia em 1 Timóteo 1:18 e 1 Timóteo 4:14 e você verá. “E eles colocaram as mãos sobre ele.” E Paulo diz a Timóteo, posteriormente: “Não negligencie o dom que te foi dado por profecia na imposição das mãos”. Naquela ocasião, quando colocaram as mãos em Timóteo e o comissionaram, alguém recebeu a profecia de Deus, uma mensagem de Deus, e proclamou: “Timóteo, você tem o dom de evangelista”, etc., etc. E havia várias profecias sobre sua vida. Esse é um exemplo de revelação direta.
Algumas dessas revelações diretas eram para compor as Escrituras. Algumas delas se referiram a uma área prática para a vida de alguém. Outras delas também se referiram a áreas práticas para algumas comunidades crentes. Em Atos 11: 27-28, um profeta chamado Ágabo profetizou uma fome, e por isso houve alguns cristãos que enviaram auxílio àqueles que seriam oprimidos pela fome.
Então, a profecia tem um sentido revelador. Na época em que as Escrituras estavam no processo de serem escritas, Deus falou Sua palavra diretamente através dos profetas e não havia outro meio de Sua palavra ser conhecida, porque nunca havia sido dita antes. Mas também, a profecia pode ser reiteração. Eu não acho justo dizer que não há ninguém proclamando a palavra de Deus [ou profetizando] hoje. Não há ninguém com o dom de falar diante das pessoas? Então, como você chama meu dom?
Você diz: “Bem, isso é diferente…”. Mas, não se trata de proclamar a verdade de Deus anteriormente revelada? Isso não é profetizar? Bem, teremos que criar um novo nome para o dom só porque seu conceito é tão deturpado hoje na igreja? É uma palavra tão boa quanto qualquer outra: proclamar. A característica da profecia não é que seja sempre de conteúdo revelatório. O ponto chave da profecia é dado em Apocalipse 19:10 e aí encontramos uma definição de profecia. Ouça o que está escrito no final do versículo 10: “… porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.” Em outras palavras, o coração de toda proclamação é Cristo. E alguém que se levanta e proclama a Cristo está cumprindo o espírito de profecia. Alguém que dá o testemunho de Cristo está ministrando o dom da profecia.
A palavra “profetizar” significa “falar diante de”. E, nesse sentido, o dom de profetizar permanece até hoje, pois ainda há pessoas que têm a capacidade de falar diante de outras pessoas e proclamar a Palavra de Deus. E a palavra “profetizar”, pela sua simplicidade, tem a possibilidade de implicações amplas. Vejamos 1 Tessalonicenses 5:20. Esse é um texto interessante. Você sabe, 1 Tessalonicenses 5 foi organizado como um monte de pequenos trechos sem conexão. E lemos: “Alegrai-vos sempre”; “Orai sem cessar”; “Em tudo dai graças”; e nós não conectamos todos esses trechos, mas eles estão sim conectados.
Você sabe, na língua original em que o Novo Testamento foi escrito, não havia parágrafos e não havia versos. Então, não havia pontuação alguma, de modo que todos esses trechos de 1 Tessalonicenses 5 que lemos separados, sem conexão, na verdade foram escritos todos interligados, conectados. Diante disso, você deve ler 1 Tessalonicenses 5:19 a 22 como um único trecho, assim: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco, não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias, examinai tudo, retende o bem, abstende-vos de toda a aparência do mal.”
Isso é muito interessante. Ouça, o texto diz: “Não desprezeis as profecias”. Nós não cremos na profecia revelatória para os nossos dias. Tudo bem. Mas, não desprezem a profecia [no sentido de proclamação da verdade]. Por quê? Verso 19, se você desprezá-la, você vai o que? Apagar ou extinguir o Espírito. Por quê? Porque isso é algo que o Espírito tem dado.
O versículo 21 diz para fazer o que? Examine o que está sendo proclamado e retenha o que bom. O Espírito deu à Igreja pessoas que proclamam a verdade [que profetizam]. Não despreze isso, não apague o Espírito com tal desprezo. Apenas examine a profecia, isto é, aquilo que está sendo proclamado, e retenha o que é bom.
Você diz: “Mas John, como fazemos tal exame?”. Tudo bem, 1 Coríntios, 14:37, diz como: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.” Agora, quais são as coisas que Paulo escreveu que são os mandamentos do Senhor? As epístolas do Novo Testamento. Certo? Então, ele diz que se alguém afirma ser um profeta e profetiza, que deve fazê-lo somente em acordo com a Palavra escrita.
Portanto, não despreze a profecia. Isso seria extinguir o Espírito. Basta testá-la, examiná-la à luz das Escrituras. Descubra o que é bom. E qual é o teste? Como você sabe se um profeta está certo ou errado? Se o que ele diz, proclama está dentro do que as Escrituras dizem, ele foi aprovado no teste. Esse é o exame. Deixe-me dar-lhes outro trecho da Escritura para apoiar o mesmo pensamento. De volta a Romanos 12:6. Eu estava passando por Romanos 12, lendo o texto original grego, e me deparei com algo muito interessante e isso me abalou. E eu pulei na minha cadeira um pouco e pensei: “Eu realmente descobri uma mina de ouro aqui!”.
Escute isso. Romanos 12: 6: “De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé”. Paulo continua mencionando outros dons. Curiosamente, nenhum dos dons mencionados aqui é da categoria dos dons milagrosos. Mas, a profecia está incluída com estes dons não miraculosos listados em Romanos 12. O que é interessante, porque todos os dons listados em 1 Coríntios 12 têm uma caráter miraculoso.
Mas, nenhum dos que estão em Romanos 12 são miraculosos e a profecia está incluída aqui. Isso nos diz que a profecia pode ter o caráter de dom miraculoso, quando ela é revelatória, ou pode ter o caráter normal de proclamação da verdade. Por isso a profecia pode estar incluída tanto na lista dos dons miraculosos, como na listas dos dons que não envolvem operação de milagres. Porém, observe: “se é profecia, seja ela segundo a medida da fé”.
É importante notar que a palavra “medida” [ou “proporção”] nesse texto significa aquilo que pode ser medido, limitado, a proporção adequada. Agora, note a palavra fé (Rm 12:6) no texto: “se é profecia, seja ela segundo a medida da fé”. A fé aqui não está no sentido de capacidade de crer, de acreditar, mas no sentido de conjunto de crenças ou doutrinas. Você quer saber algo interessante? A construção do texto no grego não é “da fé”, mas só contém o artigo definido “a”, ou seja “a fé”: “se é profecia, seja ela de acordo com a fé”. O texto significa que, se você for profetizar, tenha certeza de que sua profecia está de acordo com o já revelado corpo de verdade chamado fé [a fé cristã ou a fé bíblica].
Então, aqui você vê o aspecto não-revelatório da profecia em uma lista de dons que não são milagrosos. Eles são sobrenaturais, pois são energizados pelo Espírito. Mas, o texto está dizendo que se você tem o dom de profecia, então tenha certeza de que você profetiza de acordo com a proporção da fé, ou a verdade medida da fé, ou seja, com o que já foi revelado, que é a Palavra de Deus. A fé aí, no texto de Romanos 12, tem exatamente a mesma construção de Judas 3, onde é dito que devemos “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”. A fé aí também está no sentido de verdade revelada e não no sentido de capacidade de crer, de acreditar.
Não se trata de nossa fé subjetiva, mas essa fé objetiva deve ser o critério sobre o qual o dom da profecia, em seu sentido não revelador, funciona. Então você vê, profetizar é proclamar. A profecia, como um dom revelatório, foi dado à igreja por um período de tempo nos primórdios da igreja. Mas, acredite, quando a Bíblia foi concluída com a seguinte declaração: “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro” (Ap 22:18), o aspecto revelador da profecia já foi extinto.
Esse dom de profecia revelatória foi dado no tempo da infância da Igreja, até o fechamento do cânon, e cessou naquele ponto. A profecia como proclamação reiterativa, não revelatória, continua até hoje e, graças a Deus, ao longo da história da Igreja tem havido grandes proclamadores de Cristo. E ainda existem hoje.
■ 2. PALAVRA DA SABEDORIA – É o segundo dom, mencionado em 1 Coríntios 12:8, “a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência”. E, Mais uma vez, penso que tal dom poderia ter tido também um sentido revelatório, na Igreja primitiva, quando Deus entregava alguma sabedoria especial. A palavra grega traduzida como sabedoria é “sophia” e é usada muitas vezes no Novo Testamento, de muitas maneiras diferentes, de modo que é impossível dizer que o único sentido dela seja “revelação”.
E o que é o dom da palavra da sabedoria, então? Bem, esse dom difere do conhecimento (ou ciência) pois sua ênfase está na habilidade de aplicação e não no conhecimento dos fatos. Sabedoria é a capacidade de pegar os fatos que o dom do conhecimento trouxe e fazer uma aplicação hábil deles. Tal dom pode pertencer, por exemplo, a um conselheiro cristão, que vê um problema e, por seu conhecimento da Palavra de Deus, elabora os princípios que podem ser aplicados de maneira prática à solução do problema.
Este também é o dom do expositor da Palavra, que pode pegar a Palavra de Deus, estudar os comentários, como eu faço, aprendendo com todos aqueles que têm o dom do conhecimento e, a partir disso, desenvolver o princípio aplicável à vida. Mas, tal dom também pode ser algo que um crente ministra a outro crente, na área de assistência em sua vida prática. E você sabe, os dons de conhecimento e sabedoria são muito diferentes. Todos vocês conheceram pessoas que têm muito conhecimento bíblico, mas não têm sabedoria suficiente, de modo que são simplesmente ridículos quando se trata de aplicação. Quero dizer, eu li coisas assim.
Eu tenho um amigo muito querido que eu diria que ele tem o dom do conhecimento. E ele me pediu para ler um artigo seu. E eu li e não entendi uma só palavra do que ele disse. Eu terminei de ler e lhe disse: “Este artigo pode ser bom, mas você nunca poderia me convencer, porque eu nem sei do que você está falando…”. O texto era sobre detalhes do hebraico e coisas semelhantes. Mas alguém com o dom da sabedoria pode pegar um texto assim e traduzi-lo em algo prático.
O dom da palavra de sabedoria, então, é a habilidade de aplicar os fatos que foram descobertos por aqueles que têm o dom do conhecimento. Agora, às vezes, alguém pode ter os dois. Ou, como eu disse, uma combinação deles. Mas, a palavra sabedoria, “sophia”, é muito ampla. Não podemos pensar que ela tem apenas o sentido de “revelação”. De fato, no Novo Testamento, 12 dos 27 livros usam a palavra “sophia”, e ela é usada em cinco categorias diferentes, a saber: como um atributo de Deus; como capacidade intelectual; como a pessoa de Jesus Cristo, que é a sabedoria de Deus; como a sabedoria humana orgulhosa, oposta a Deus, em Tiago 3; e, em seu uso dominante, como entendimento espiritual da vontade de Deus.
Esse é o principal uso de “sophia”: compreensão espiritual da vontade de Deus. E eu creio que é exatamente o que o esse dom é: a capacidade de entender a vontade de Deus e fazer uma aplicação dessa vontade que conduza à obediência. E é assim que é usado principalmente no Novo Testamento, ou seja, conhecer a vontade de Deus e se comportar em resposta a ela. E não vou ter tempo para lhe dar as 20 ilustrações que anotei, passagens bíblicas, mas elas estão lá. Eu vou apenas mencionar algumas referências: Mateus 11:19, 13:54; Marcos 6: 2; Lucas 7:35; Lucas 21:15; Atos 6:10; Tiago 1: 5; Tiago 3:13 e 3:17; 2 Pedro 3:15 .
Agora, essas passagens são exemplos do uso principal da sabedoria, ou seja conhecermos e nos comportarmos de acordo com a vontade de Deus. O que é o dom da sabedoria? A capacidade dada pelo Espírito Santo de mostrar os princípios que precisamos conhecer e obedecer, para cumprir a vontade de Deus.
Sim, esse dom também teve um aspecto revelatório, certamente, na igreja primitiva. Na verdade, todos os dons de falar tiveram esse aspecto. Mas, o caráter revelatório não era sua marca exclusiva. Alguém disse: “O conhecimento faz o professor; a sabedoria, o pregador e o pastor”. Mas eu gostaria até mesmo de ir além disso, e eu diria que o conhecimento [ciência] é a coleta de fatos; a sabedoria é a sua aplicação.
Agora, gastei mais tempo falando sobre esse assunto, porque eu queria que você visse o quão importante é o entendermos. Há pessoas que entendem que os dons de profecia, de conhecimento, sabedoria já cessaram, mas isso gera um problema, pois se dissermos que o dom de profecia se foi, então qual o dom das pessoas que proclamam a Palavra? [Nota: nos sermões seguintes, John MacArthur vai mostrar que tais dons foram extintos apenas em seu caráter revelatório, mas no sentido de proclamação e aplicação das verdades já reveladas, eles permanecem até hoje].
Se dissermos que o dom de conhecimento [ou ciência] já cessou, então qual é o dom dos teólogos e das pessoas têm a habilidade de esclarecer as profundezas da verdade? E, se afirmarmos que o dom de sabedoria já não mais existe, então qual é o dom daqueles que são capazes de pegar a verdade e aplicá-la à vida? Você teria que criar novos nomes para esses dons, porque Deus ainda os está concedendo à Sua igreja.
■ 3. PALAVRA DE CIÊNCIA OU CONHECIMENTO – Vamos para o segundo dom da lista de 1 Coríntios 12:8, que diz: “Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência”. Em outras versões, a “palavra de conhecimento”. Agora, conhecimento ou sabedoria são palavras de sentido muito amplo e que desafiam uma definição em um sentido mais estrito. É muito difícil especificar o que isso significa. Uma palavra de conhecimento é um dom de falar. A expressão do conhecimento. No texto no original grego, o termo traduzido como palavra no verso 8 é “logos”, que pode significar tanto a palavra escrita, como a falada para uma multidão ou falada em particular a alguém.
Aqui está uma definição do dom da palavra de conhecimento ou ciência: é a capacidade dada pelo Espírito de observar fatos bíblicos e tirar conclusões. Em outras palavras, é a capacidade de entender a Bíblia. Eu louvo a Deus por pessoas assim. Eu não tenho o dom do conhecimento. Eu tenho que ler o que outras pessoas que têm esse dom escreveram para me ajudar a entender a Palavra. Então, eu posso entendê-la e aplicá-la.
Você sabe, é fantástico. Você vai a uma livraria e pega um livro escrito por alguém que tem o dom do conhecimento, alguém que entendeu todas essas verdades bíblicas, reuniu-as e formulou uma conclusão fantástica sobre tais verdades. Este é o tipo de dom que é básico e fundamental para a interpretação bíblica. Pessoas assim continuam se aperfeiçoando para poderem lidar com o seu dom, como, por exemplo, alguém assim se especializa em escrita cuneiforme e sânscrito, para que possam decifrar os escritos antigos. E a partir disso, eles começam a coletar fatos bíblicos e chegar a conclusões, que mais tarde podem ser traduzidas em informações práticas.
Essa é uma área vital. A capacidade de entender a Bíblia. Há maneiras diferentes de manifestar esse dom. Ele pode pertencer a pessoas comuns, que nunca estiveram numa faculdade ou num seminário, mas que têm a capacidade de estudar a Bíblia e extrair fatos, de fazer conclusões observando. É um tremendo dom. E ele se manifesta de modos diferentes. Pode haver cem pessoas com esse dom e sempre ele vai operar de maneira diferente. O conhecimento e a sabedoria geralmente estão presentes nesse dom. Mas essa é a beleza de como tudo funciona.
Houve uma época na história da igreja em que o dom da palavra do conhecimento poderia ter também o caráter revelatório. Deus revelava a Sua vontade a alguém e essa pessoa transmitia aos outros. A verdade era transmitida diretamente de Deus para a pessoa. Eu acredito que Paulo recebeu esse tipo de dom de conhecimento. Leia Efésios 3. Leia Colossenses 1. Deus deu-lhe palavra direta de conhecimento, e ele proclamou essa palavra. Assim, o dom poderia ter um cunho revelatório de vez em quando.
Mas, em outras vezes, não tinha tal característica. O dom consistia em simplesmente pegar o que já tinha sido revelado e expandir. A palavra traduzida como “conhecimento” é usada mais de trezentas vezes no Novo Testamento. E é usada no sentido de “revelação”, mas não apenas nesse sentido. A Bíblia diz que o cristão deve ser cheio de conhecimento. Acho que a melhor definição desse dom está em 1 Coríntios 13: 2: “ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência…”.
Este é o dom da compreensão, amado. Este é o dom de compreender os mistérios que foram revelados. Paulo está dizendo, em outras palavras: “Se eu tiver o dom da proclamação [profecia], se eu entender tudo o que é proclamado e tiver todo o conhecimento…“. O que estou querendo dizer é que é simplesmente a capacidade de entender.
Existem algumas pessoas que são escritores, estudiosos, são professores, pesquisadores, que simplesmente estão disponíveis para serem contratados por um escritor ou um autor ou uma instituição para pesquisar uma determinada área da verdade bíblica e extrair dela todas as conclusões básicas como base para o livro de alguém, ou o curso de alguém, ou seja o que for. Tais podem escrever ou falar com compreensão da verdade de Deus.
■ 4. DOM DE ENSINAR – Novamente, Romanos 12:7, e isso é muito interessante: “se é ensinar, haja dedicação ao ensino”. [Nas versões NVI e King James Atualizada: “se é ensinar, ensine”]. Aqui está o dom de ensinar e o texto está dizendo que você deve ser coerente com tudo o que ensina. O que é o dom de ensinar? Bem, devemos distinguir entre o dom de ensinar e o ofício de ensinar. Você pode ser um professor na Igreja e essa é uma posição oficial. Seria bom que todos os professores tivessem o dom de ensinar. Mas nem todos têm. E nem todos os que têm o dom de ensinar são necessariamente professores nomeados ou reconhecidos para este fim.
O dom de ensinar pode ser exercido de muitas maneiras. Deixe-me definir esse dom: é a capacidade, dada pelo Espírito Santo, de transmitir a verdade a outra pessoa. A profecia consiste em proclamar Cristo para um público. Ensinar é transmitir a verdade a outra pessoa para que ela a receba e implemente. Este é um dom de vital importância. Por quê? Nós devemos ensinar e ensinar e ensinar. O Novo Testamento fala sobre isso o tempo todo.
Na palavra grega “dedascolos” e suas variações, seja “dedasco” ou “dedactocast”, há uma raiz que significa “ensino sistemático” ou um “treinamento sistemático”. É a palavra, por exemplo, que seria usada para se referir a um regente de um coral que o treina durante um longo período de ensaios até que possa se apresentar. O dom da profecia poderia se referir a uma proclamação única de Cristo, mas o dom de ensinar é um programa de treinamento sistemático para levar uma pessoa de um estágio para outro. A diferença entre esses dois dons pode estar na continuidade envolvida.
Qual é o conteúdo a ser ensinado? A Bíblia. A Palavra de Deus. O dom de ensinar pode ser usado por homens ou mulheres ensinando desde uma pessoa até uma multidão. Pode ser usado por uma senhora ensinando a um pequeno grupo de crianças, ou por uma mãe ensinando a um filho, ou um marido para com a esposa. Pode ser usado de qualquer maneira concebível que o Espírito de Deus deseje. O dom de ensinar, então, é a capacidade de transmitir a verdade em uma progressão sistemática para que alguém a receba, implemente e ocorra uma mudança de comportamento. Na verdade, acho que é um dom que muitos de nós têm e nem imaginamos.
■ 5. DOM DE EXORTAR – Romanos 12: 8: “o que exorta, use esse dom em exortar”. Se você vai exortar alguém, exorte. Qual é a palavra grega usada aí para exortação? “Paracalan”, que pode variar para “Paracleto”ou “Paracletas”. Nós conhecemos essa palavra. Ela é traduzida como “Consolador”. A palavra significa confortar, ajudar, aconselhar ou fortalecer. Eu gosto desse último significado: fortalecer. O dom de fortalecimento. Isso é bom, não é?
Deus deu algumas pessoas ao corpo não necessariamente para proclamar, ou ensinar, ou para descobrir os princípios e aplicá-los em sabedoria, mas para fortalecer as pessoas. Elas fazem aquelas pequenas intervenções que agitam você e te encorajam, ajudam. Elas aconselham, fortalecem. Se você quiser uma definição simples do dom de exortar, ele é a capacidade de fornecer conforto, coragem, ajuda e força para alguém que precisa.
A exortação pode vir através de um proclamador. Pode vir através do púlpito, porque a profecia [proclamação] é exortação. Pode vir através do ensino, através de aconselhamento. Pode vir de várias formas. É o dom de fortalecer alguém. É a capacidade de lidar com alguém que tem um problema e edificá-lo, encorajá-lo, fortalecê-lo. Suportar sua carga. As pessoas dizem: “Oh, sim. É o dom do aconselhamento”. Errado. Aconselhamento não é um dom. Aconselhamento é um processo.
Creio que haja alguns conselheiros que exercem o dom de ensinar, alguns que exercem o dom de fortalecer. E há conselheiros, como eu, que exercem o dom de proclamar, o que nem sempre funciona em uma situação de aconselhamento. Mas não há dom de aconselhamento. O dom de exortação, enfim, pode ser usado no aconselhamento. Pode ser usado no ensino. Pode ser usado em conversas informais.
Conheço pessoas nesta congregação, conheço pessoas de nossa equipe que têm o dom de fortalecer, porque elas me fortalecem e eu as vejo fazendo isso com vocês. Eu gosto da definição de Lutero. Ele disse isto: “O ensino é dirigido ao ignorante; a exortação àqueles que sabem mais”. Isso é bom, não é?
Agora, ouça isto: vimos cinco dons e eu quero que você perceba uma linda progressão. Você está pronto para isso? É assim que Deus ministra ao Seu corpo: a profecia proclama a verdade; o conhecimento esclarece a verdade; a sabedoria aplica a verdade; o ensino transmite a verdade a outra pessoa; a exortação exige que a verdade seja obedecida. Viu a progressão? Tudo isso vem junto quando ministramos uns aos outros, para que o corpo possa ser edificado. Vamos orar.
Senhor, obrigado novamente esta manhã por nos ter ministrado. Obrigado pelos dons que Tu nos deste e que pudemos compartilhar, e oramos para que possamos ministrar esses dons. Que aqueles que têm o dom de profetizar ou proclamar, o dom de conhecimento ou sabedoria ou ensino ou fortalecimento, oramos, Senhor, para que ministrem o dom como bons mordomos da multiforme graça de Deus. Assim como o Senhor, graciosamente, derrama essas habilidades, que nós, em obediência e gratidão, possamos ministrar da mesma forma para os outros. Obrigado por nossa comunhão e por estares aqui conosco. Em nome de Cristo, amém.
Esta é uma série de sermões sobre os dons do Espírito Santo e homens especialmente dotados, conforme links abaixo
- Já Recebemos o Espírito Santo?
- Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo
- O que é o Batismo com o Espírito Santo?
- Sobre Dons Espirituais, Parte 1
- Sobre Dons Espirituais, Parte 2
- Sobre Dons Espirituais, Parte 3
- Homens Dotados (1): Profetas e Apóstolos
- Homens Dotados (2): Evangelistas, Pastores e Mestres
- Os Dons de Edificação Permanentes, Parte 1
- Os Dons de Edificação Permanentes, Parte 2
- Os Dons de Edificação Permanentes, Parte 3
- Os Dons Temporários, Parte 1 – Operação de Milagres
- Os Dons Temporários, Parte 2 – Curas (Parte 1)
- Os Dons Temporários, Parte 3 – Curas (Parte 2)
- Os Dons Temporários, Parte 4 – Dom de línguas (Parte 1)
- Os Dons Temporários, Parte 5 – Dom de línguas (Parte 2)
Este texto é uma síntese do sermão “The Permanent Edifying Gifts, Part 1”, de John MacArthur em 27/06/1976.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/1853
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno