Divórcio e Novo Casamento – 1
Este é o primeiro de 6 sermões sobre Mateus 19:1-12, quando Jesus foi questionado pelos fariseus sobre o divórcio e o novo casamento. Nesses sermões, John MacArthur faz um extenso estudo da Palavra de Deus, envolvendo vários textos bíblicos que tratam do princípio bíblico da indissolubilidade do casamento e a exceção mencionada por Jesus . O texto abaixo, síntese do primeiro sermão, poderíamos chamar de uma introdução aos sermões seguintes.
Continuando nosso estudo do Evangelho de Mateus, chegamos ao capítulo 19. Pegue sua Bíblia e vamos ler os versículos de 1 a 12. Vamos ficar neste texto por duas semanas, quando trataremos da questão do divórcio.
E aconteceu que, concluindo Jesus estas palavras, deixou a Galileia e foi para o território da Judeia, além do Jordão. Seguiram-no muitas multidões, e curou-as ali. Vieram a ele alguns fariseus e o experimentavam, perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo? Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Replicaram-lhe: Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar? Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio. Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra comete adultério [e o que casar com a repudiada comete adultério]. Disseram-lhe os discípulos: Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar. Jesus, porém, lhes respondeu: Nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a quem é dado. Porque há eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir admita.
O divórcio se tornou não só epidêmico, mas pandêmico, ao ponto onde todos nós somos tocados por ele em nossa família ou círculo de amigos. Milhões de divórcios acontecem todos os anos. E debaixo dos escombros dessas estatísticas entorpecentes estão as vidas esmagadas de homens, mulheres e crianças. O divórcio é um problema grave e assombroso e cresce a taxas sinistras. As leis estão sendo atualizadas para facilitar sua ocorrência.
Três razões sustentavam o casamento. Em primeiro lugar, havia força moral familiar. Em outras palavras, você tinha uma família, e uma família significava algo para você. Mamãe significava algo, e papai significava algo, e seu marido, sua esposa, seus filhos, tios, suas tias, seus irmãos e suas irmãs. Em outras palavras, a família era realmente importante.
A vida girava em torno da família. Amor, cuidado, esperança, conforto e segurança tinham seu lugar na família. E, então, a família começou a se despedaçar pela invasão da televisão, pelas pessoas que saíam para ir trabalhar, pela mobilidade da nossa sociedade, pelo automóvel e por todas as outras coisas. Quando a família começou a se desintegrar, aquela unidade coesiva que poderia forçar um sistema de valores morais aos seus membros foi abalada. Vivemos numa sociedade que rejeita a família e cada vez mais as pessoas vivem sozinhas.
Há um segundo fator que mantinha o casamento unido: a expectativa da comunidade, certa quantidade de tradição comunitária que exercia uma forte influência nas pessoas. Ser divorciado era um escândalo. Havia certa pressão exercida pela expectativa de uma comunidade que valorizava o casamento. E isso também se foi. A comunidade hoje abandonou essa tradição. E se qualquer tradição é deixada, torna-se terrivelmente difícil recuperá-la.
Uma terceira, e talvez a mais poderosa de todas as forças que mantinham o casamento unido: a doutrina da igreja. Mas, isso também foi descartado convenientemente à medida que os conceitos do mundo a invadiu. A igreja moveu-se para concordar com as demandas da sociedade, que sempre está pedindo, o tempo todo, mais concessões.
E assim, o divórcio se torna literalmente uma realidade assombrosa. A família tem se dissolvido na sociedade e parece que a igreja está disposta a abandonar seu papel, assim como os outros. As questões referentes ao direito de família enchem os tribunais. A maioria dos casamentos acaba em divórcio, que se tornou um importante negócio no mundo jurídico.
Há pouco tempo, uma apresentadora bem conhecida, que afirma ser cristã, se divorciou de seu marido para, segundo ela, prosseguir sua carreira. Ela disse: “Estou mais feliz do que antes do divórcio, porque sou minha própria pessoa tomando decisões por conta própria”. O egoísmo tornou-se algo maravilhoso. E quanto ao que Deus pensa, ela disse:
Em minha mente, Deus é um pai que perdoa e ele me ama apesar do divórcio. Então, eu estou esperando que não seja julgada por causa de um divórcio. Eu e meu ex-marido somos mais felizes como amigos divorciados do que como inimigos casados.
Tudo parece tão sinistramente bom e lógico. O vínculo sagrado do casamento está sendo rompido a um ritmo incrível, mesmo a igreja sucumbiu a isto, olhando da perspectiva do mundo e não da Palavra de Deus.
Temos duas escolhas: ouvir o que o mundo pensa ou o que diz a Palavra do Senhor. Essas são as duas únicas opções. Ou seguimos o curso do mundo e nos adequamos a ele ou diremos como Josué:
Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais… Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor (Josué 24:15).
Agora, você diz: ‘Mas mesmo quando você diz isso, John, você ainda se depara com um problema, porque parece haver uma enorme confusão sobre o que a Bíblia ensina sobre o divórcio. Você pode encontrar alguém que alega ter a Bíblia e ensinar quase qualquer coisa sobre o divórcio’.
Deixe-me ver se posso ajudá-lo a pensar um pouco sobre isso. Sou realmente espantado que haja tanta discrepância. A Bíblia é muito clara sobre o que diz do divórcio e do novo casamento. Ela sempre disse a mesma coisa. O problema não é que a Bíblia não seja clara, mas que o pensamento dos homens é confuso. Eles vão para a Bíblia com certos conceitos pré-definidos.
Alguns tentam resolver o problema dizendo que o divórcio é totalmente impossível na Bíblia, não importa qual seja a razão. Isso soa como uma coisa muito boa. Na verdade, eu gostaria de poder acreditar nesta doutrina, porque iria acabar com um monte de problemas. Nós diríamos em todas as situações: “Todo divórcio é errado, nenhum novo casamento é permitido, ponto final e assunto encerrado”.
Mas, por outro lado, você tem as pessoas que olham para o mundo e dizem: “Olhe para o problema. Temos de ministrar a essas pessoas, cuidar dessas pessoas, amar essas pessoas e aceitar essas pessoas. Então, vamos derrubar o padrão para acomodar todo mundo para que não se ponha qualquer pressão indevida sobre eles. E, basicamente, queremos que todos sejam felizes, então diremos a eles que trabalhem da melhor maneira possível e que o Senhor os perdoe”.
Por um lado, você tem pessoas que querem elevar o padrão, por outro lado, você tem pessoas que querem baixar o padrão. Nós devemos voltar e ver o que Jesus disse e o que Deus diz nas páginas da Escritura. Vamos começar nos dois primeiros versículos, e esse é o cenário para o ensinamento do Senhor.
E aconteceu que, concluindo Jesus estas palavras, deixou a Galileia e foi para o território da Judéia, além do Jordão. Seguiram-no muitas multidões, e curou-as ali. (Mateus 19: 1-2).
Esses dois versículos são muito importantes para entendermos o assunto, e a maioria das pessoas que estudam a Bíblia podem apenas vê-los rapidamente e passar para o versículo seguinte, quando os fariseus questionam Jesus a respeito do divórcio.
Mas, eu quero que você pare comigo por um momento sobre esses dois primeiros versos, porque eles marcam uma transição muito significativa na vida de nosso Senhor. Eles representam o fim do ministério de Jesus na Galileia, iniciado no capítulo 4 de Mateus, a partir do versículo 12.
A terra de Zebulom, e a terra de Naftali, Junto ao caminho do mar, além do Jordão, A Galileia das nações; O povo, que estava assentado em trevas, Viu uma grande luz; E, aos que estavam assentados na região e sombra da morte, A luz raiou. Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus (Mateus 4:15-16).
Por dois anos ou mais Ele esteve naquela área, pregando, ensinando, curando e preparando Seus discípulos. E em Mateus 19, a luz se apaga, no sentido de que parte do Seu ministério terminou. O Senhor deixou a Galileia para trás e foi em direção a Jerusalém, iniciando a última fase de Sua vida, até à cruz e Sua ressurreição.
Ele “deixou a Galileia”, a luz foi embora, as pessoas tiveram sua oportunidade, seu dia no sol, seu momento da verdade, e agora terminou para elas. E quão triste, quão pateticamente Ele foi rejeitado, e até mesmo em Sua própria cidade, eles tentaram matá-Lo.
O texto diz: “concluindo Jesus estas palavras, deixou a Galileia”. Aqui se faz referência às palavras do capítulo 18, quando Jesus havia terminado de ensinar sobre a natureza da verdadeira fé: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mateus 18:3). A partir dessa afirmação, Ele ensinou grandes verdades.
Então, logo no início do versículo 19, é dito: “concluindo Jesus estas palavras”. É uma afirmação muito interessante, aparece várias vezes em Mateus, na conclusão dos principais sermões. É quase como assinar um ensino profundo, tal como vemos em Mateus 7:28; 11:1; 13:53; 19:1 e 26:1.
Então, o Senhor terminou esse discurso e partiu da Galileia, dirigiu-se aos confins da Judeia, além do Jordão. O Rio Jordão, ponto muito importante no centro de Israel, dividia as terras de Israel ao meio, dividindo o norte (onde estava a Galileia) e o sul, onde estava Judá. A Galileia era uma área rural, Judá era a área mais povoada, onde está Jerusalém.
O Senhor está saindo da Galileia, mas em vez de ir direto para Judá, Ele vai para o leste, cruza o rio Jordão, desce a parte de trás do Jordão, no lado oriental, e vai outra vez ao sul, por Jericó, para subir a montanha para Jerusalém. Esse é o caminho que Ele toma.
A área além do Jordão era chamada pelos judeus de “o além”, porque estava além do Jordão. O termo é “Perea”, que significa “o além”. Os capítulos 19 e 20 retratam o nosso Senhor na área da Perea, que havia se tornado densamente povoada na época de nosso Senhor. Era um território também sob o controle de Herodes Antipas, o mesmo que mandou decapitar João Batista.
Jesus foi lá para ministrar a muitos judeus que lá se estabeleceram. Além disso, qualquer judeu que viajasse do norte para o sul passava por esse caminho, evitando a terra dos samaritanos, povo que eles consideravam profano e bastante perigoso. Nas épocas das festas judaicas em Jerusalém, havia um enorme fluxo de peregrinos naquela região. Então, Jesus também ministrou a eles. E “seguiram-no grandes multidões e curou-as ali” (v.2). Exatamente como havia ocorrido na Galileia (Mateus 4:25). Seu poder e compaixão manifestavam que Ele era o Messias.
Daqui em diante, temos a apresentação final do Rei e a rejeição final por parte da nação de Israel. Então, estamos entrando na seção final do Evangelho de Mateus. Jesus é rejeitado e finalmente crucificado. Enquanto Ele se move junto com esta multidão e cura a todos, chegamos ao versículo 3 e isso nos atrai diretamente para o nosso assunto: “Os fariseus também vieram até Ele”.
Seus passos foram perseguidos pelos fariseus. Não O deixaram em paz, eles eram Seus inimigos. Eles fizeram tramas sinistras para tirar Sua vida e desacreditá-Lo, conforme vemos nos relatos dos Evangelhos.
Os fariseus eram a religião estabelecida. E eles estavam sendo golpeados pela verdade que Jesus estava pregando. Odiavam-No, desprezavam-No, queriam fazer tudo o que podiam para tirá-Lo de cena e eliminá-Lo. E assim, chegamos ao versículo 3 e encontramos os fariseus prosseguindo em sua perseguição a Jesus.
Eles estavam testando Jesus e esperando que Ele falhasse. Eles queriam coloca-Lo em algo embaraçoso e que pudesse conduzi-Lo ao erro. Eles tinham duas coisas em mente: desacreditá-Lo perante o povo e destruí-Lo. Primeiro, queriam torna-Lo impopular, para depois mata-Lo.
E assim, eles inventaram um teste. Foi uma pergunta calculada, estudada e pensada para testá-Lo, desacreditá-Lo e causar Sua destruição. Perguntam: “É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?” (v.3).
Parece uma pergunta um tanto inocente, sem maldades, mas eles pensaram sobre isto de forma calculada. Foi uma pergunta inteligente, astuta e sinistra, destinada a atacar Jesus Cristo, desacreditá-Lo e depois destruí-Lo. Vou te explicar a razão disto.
Primeiro de tudo, deixe-me dizer-lhe como eles pretendiam desacreditá-Lo. O divórcio era uma questão volátil entre os judeus. O divórcio era muito, muito comum. As mulheres eram tratadas como se não tivessem direitos. E os fariseus eram líderes nisso, não apenas pelo que ensinavam, mas pelo exemplo de suas vidas.
Eles estavam constantemente e continuamente se divorciando de suas esposas. Eles ensinavam que você poderia se divorciar de sua esposa por qualquer motivo. Essa era basicamente sua doutrina. Isso é o que a maioria acreditava. Era uma doutrina popular entre as pessoas que queriam obter o divórcio, acomodando os pecadores no nível de seu pecado.
Havia uma disputa rabínica sobre o divórcio. Um rabino chamado Shammai não aceitava o divórcio, mas ele não tinha muitos seguidores, pois não era uma visão popular. Outro rabino chamado Hillel, que havia morrido 20 anos antes do ministério de Cristo, mas sua influência ainda estava viva e dominante, ensinava que você poderia se divorciar de sua esposa por qualquer razão que você quisesse.
Hillel ensinava que você poderia se divorciar de sua esposa por ela ter queimado o jantar, ter errado na quantidade de sal na comida, conversado com um homem na rua, ter falado algo desagradável sobre a sogra, por você ter encontrado uma mulher mais bonita, por ela ser infértil, por ela não ter dado um filho homem e etc. etc. Enfim, você poderia se divorciar por qualquer motivo. Essa era a visão que os fariseus ensinavam.
Agora, creio que os fariseus, ali presentes, sabiam que Jesus não ensinava isso, porque Ele já tinha falado sobre o divórcio antes. Em Mateus 5:32 Jesus havia dito:
Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de fornicação, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério.
Aqui Jesus havia ensinado sobre a indissolubilidade do casamento, exceto por um único motivo (isto será minunciosamente explicado nos próximos sermões). Além dessa situação, qualquer novo casamento é adultério. Neste caso, o marido que se divorciou e casou de novo, torna-se adúltero, juntamente com quem se casou. E a mulher de quem ele se separou, casando com outro, torna-se adultera, assim como o homem com quem ela se casou. O marido está reproduzindo adultério por todo parte por causa do divórcio sem causa.
Então, eles sabiam que Jesus havia proferido um ensino duro sobre o divórcio e que este ensino não era popular. Na verdade, caiu como bomba para eles. Jesus foi muito claro: “Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério; e aquele que casa com a mulher repudiada pelo marido também comete adultério” (Lucas 16:18). Este versículo deve ser entendido à luz de Mateus 5:32 e 19:9.
Penso que eles estavam esperando que Jesus fizesse outra declaração dura sobre o divórcio, provocando rejeição entre na maioria que não concordaria com Ele, inclusive havia muitos ali que haviam se divorciado sem motivo. Talvez esperassem Jesus dizer: “Vocês são um bando de adúlteros e fornicadores”. Assim, a popularidade de Jesus seria devastada.
Eles queriam flagrar Jesus como sendo intolerante e não comprometido com o ensinamento dos rabinos e dos fariseus. Eles esperavam desacreditar Jesus, mostrando -O como um homem que violentava a visão popular.
Eles não apenas estavam interessados em desacreditar Jesus, mas também em destruí-lo. Eles O queriam morto. Mesmo que ninguém acreditasse no ensino de Cristo, Ele era uma dor de cabeça para eles, por causa de Seu confronto intimidador acerca de seus pecados e doutrinas.
Então, eles querem destruí-Lo. Você diz: “Como poderia esta pergunta ser usada para destruir Cristo?” Eu vou te dizer como. Na região de Perea havia uma cidade chamada Betânia. Nesta cidade havia uma fortaleza, um palácio onde Herodes Antipas frequentava. Ali era mantida uma prisão, a mesma em que João Batista foi preso.
Você diz: “Isso é importante?” Sim, é. Eu vou te mostrar a razão. Volte para o capítulo 14 de Mateus, e você vai se lembrar disso. Veja o verso: “Porque Herodes tinha prendido João, e tinha-o maniatado e encerrado no cárcere, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe”.
Essa é uma declaração muito importante. Sabe quem era Herodias? A esposa de Herodes Antipas. Ela era a esposa do seu irmão, antes que Herodes a seduzisse e a tomasse como esposa. Mas Deus, em Sua Palavra, não reconhece um casamento constituído sob o adultério.
Quando diz na Bíblia que Herodias era a esposa de seu irmão Filipe, é para dizer que, aos olhos de Deus, é assim que deveria ser. Herodes Antipas havia seduzido a mulher de seu próprio irmão, tirou-a dele e casou-se com ela. Não só era esposa de seu próprio irmão, mas ela era sua parente de sangue, então não era só adultério, mas também incesto. Assim, ele teve uma união incestuosa, adúltera, que a Palavra de Deus não reconhece.
Você diz: “Bem, o que isso tem a ver com Jesus falando sobre o divórcio?” Olhe para o próximo versículo. “Porque João lhe dissera: Não te é lícito possuí-la”. João foi preso e decapitado por Herodes Antipas porque falou sobre a lei divina do divórcio. Ele os havia confrontado com o fato de que não era legal diante de Deus fazer o que eles fizeram.
Agora, se isto custou a vida de João Batista, também poderia custar a de Jesus. Você entende o ponto? Eu acredito que eles estavam trazendo Jesus ao mesmo ponto onde Ele declararia adúltero o monarca reinante da área. Não foi apenas uma pergunta caprichosa. Você entende agora? Eles querem desacreditá-Lo destruí-Lo. Foi um ataque sinistro. Mas, a resposta de Jesus foi desnorteadora. Ele é Deus, Sua sabedoria é infinita. Veja os versículos 4 a 6 de Mateus 19:
Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.
Jesus não respondeu a pergunta deles imediatamente de Seu próprio ponto de vista. Ele foi além de Si mesmo, além dos costumes, além dos rabinos, além das tradições. Ele foi todo o caminho de volta para Deus. E Ele diz: “Deixe-me citar Deus”. Ele não usou próprios argumentos, mas a Palavra de Deus. Jesus foi um tanto irônico, pois eles passavam o tempo todo lendo a Bíblia, interpretando a Bíblia, e sarcasticamente Ele diz: “Vocês não leram?”.
Jesus citou Gênesis 1:27 e 2:24 e perguntou : “Vocês não leram?”. Ele apenas apontou para a total ignorância deles. Foi uma bofetada no orgulho religioso e o vangloriado conhecimento da lei que eles tinham. Em outras palavras: “Vocês que são tão espertos, que dizem ser os que possuem, mantêm e interpretam a lei, vocês não leram, nem o princípio?”.
E então, Ele continuou a citar Deus a partir do livro de Gênesis. E esta é a parte principal do que vamos estudar no próximo sermão: ‘Quatro razões pelas quais Deus rejeita o divórcio’.
Razão número um: Um homem foi criado para uma mulher. Você entende isso? “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27). Em outras palavras, Jesus havia dito aos fariseus:
Amigos, vocês não leram sobre a criação, vocês não estão cientes disso? Vocês não entraram nesse texto? Vocês se lembram do que o texto diz? Que Deus os fez um macho e uma fêmea.
E pela forma como eles estão na posição enfática no texto, o macho e a fêmea é a ênfase. Você vê, quando Deus criou, Ele criou Adão e ele criou Eva. Não havia peças sobressalentes. Ele não disse: “Tentem aí, se não funcionar tentem outra pessoa”. Não havia alternativas. E essa era a intenção divina no princípio: um homem, uma mulher, plano divino, nenhuma outra opção.
Quando os fez, fez deles um macho e uma fêmea, e foi isso. Não um macho e duas fêmeas ou qualquer outra combinação. Muito básico. Assim, no caso de Adão e Eva, o divórcio não era apenas errado, era absolutamente impossível. Não havia alternativas. Não havia para onde ir, ninguém mais para conversar, nada mais. Esta é a criação pretendida de Deus, uma união indissolúvel. Você entende isso? Um homem, uma mulher, Ele criou dessa maneira.
Quando Deus fez isso, ele colocou em movimento toda a história humana, de como deveria ser. Um homem, uma mulher, nenhuma opção, indissolúvel. E só porque outros homens e mulheres vieram ao longo do tempo, nada mudou a intenção original de Deus, você entende? Não mudou nada. E Deus nunca quis que duas pessoas se casassem e estivessem andando por aí vendo se elas gostariam de alguém melhor. Essa não é uma alternativa que Deus quis, e isso é óbvio na criação.
Segunda razão: o casamento é um vínculo forte. Quando Deus trouxe um homem e uma mulher juntos, Ele realmente os uniu. Diz no versículo 5: “Por esta causa -“ isto é, por causa desta união entre um macho e uma fêmea “- um homem deixa seu pai e sua mãe e se apega a sua esposa”.
Então, no verso 5 de Mateus 19, Jesus migra de Gênesis 1:27 (citado no verso 4) para Gênesis 2:24, que diz: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. A divina e maravilhosa ordem de Deus. O propósito e plano perfeito de Deus, em que eles devem deixar seus pais e se unirem.
Unir aqui significa “ter um laço que não pode ser quebrado”. Essa é a ideia aqui. Você está preso a um vínculo, colado a um vínculo. “Um homem deve ser colado a sua esposa”. Duas pessoas presas em um vínculo indissolúvel. Colados na mente, na vontade, no espírito e na emoção.
Na linguagem judaica, eles têm uma palavra para o casamento vinda do hebraico: “kiddushin”. Basicamente significa “consagração” ou “santificação“. “Consagrar” significa “separar algo para Deus”. “Santificar” significa a mesma coisa. Falamos de ser consagrados a Deus ou santificados, separados para Deus, ou seja, pertencer apenas a Deus.
Qualquer coisa totalmente entregue a Deus era “kiddushin”. E essa é a palavra deles para o casamento. Assim, o casamento é uma consagração de duas pessoas entre si. É uma consagração que diz: “Eu estou totalmente separado, além de qualquer outra coisa para você. Eu sou totalmente consagrado e dedicado a você”. É uma união, então, de duas pessoas, cuja devoção total é para o outro, que se tornam a possessão pessoal da outra pessoa. É por isso que I Coríntios 7:4 diz:
A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher.
Ou seja, você não pertence a você, mas ao seu cônjuge, e seu cônjuge pertence a você. É uma troca. É um absoluto e total abandono de mim mesmo para com meu cônjuge. Isso é “kiddushin”.
Está inerente na palavra judaica a ideia de que o casamento é uma separação e uma consagração dessa união a Deus. E essa é a perspectiva mais pura do casamento.
Assim, quando falam de casamento em hebraico, falam de total comprometimento, consagração total, separação total, santificação total, onde uma pessoa se torna a possessão absoluta e exclusiva da outra pessoa, tanto quanto um sacrifício trazido por um judeu ao altar era “kiddushin” para Deus.
Estou oferecendo-me totalmente, inteiramente entregue a meu cônjuge. Essa é a essência do casamento, uma união indissolúvel sem opção. Ligação forte, possuindo um ao outro, um macho, uma fêmea.
Há uma terceira razão pela qual o casamento não permite ser quebrado: uma só carne. Ele diz: “…Tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne…” (V. 5-6).
Portanto, não são mais dois, mas uma só carne. Você não pode dividir algo indivisível. Eles não são mais dois, então você não pode separá-los mais. Eles se tornaram um, e um é indivisível. Você não pode ter metade de uma pessoa. Metade de uma pessoa é ninguém. Eles se tornaram uma pessoa na união do casamento. É um número indivisível.
Agora você diz: “O que essa pessoa significa?” Penso que é uma percepção divina. Quando duas pessoas se casam, literalmente, na visão de Deus, tornam-se uma pessoa. Eles se abandonam um ao outro. Eles se tornam a posse total um do outro. Eles são um em mente, espírito, metas, direção, emoção, sentimento, e vontade. Esta unidade, em última análise, é bem visível nos filhos que eles produzem, um emblema perfeito da sua união. Porque o filho carrega tudo que eles são em um, torna-se o emblema ou o símbolo ou a representação de sua unicidade.
Você não pode falar sobre dividir duas pessoas em um casamento. Quando você quebra um casamento, você corta uma pessoa ao meio, e o que você tem? Você tem duas metades e isso não é ninguém, seguindo a mesma metáfora.
Então, finalmente, a quarta razão, a mais forte de todas as razões bíblicas: o divórcio não é o desejo de Deus. Veja o que Jesus disse no final do verso 6: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”. “Separe” aqui é a palavra grega “χωριζέτω” (chórizó), que quer dizer “separar, dividir ou pôr em pedaços”, referindo-se ao divórcio. É a mesma palavra usada em I Coríntios 7:11. Ou seja, Jesus disse: “O que Deus uniu, não se divorcia”.
- Eu já ouvi e li esse verso sendo tantas vezes mal usado. Muitos dizem: “Bem, essa é a saída que estávamos procurando, pessoal, porque não foi Deus que nos uniu, portanto podemos nos divorciar”.
Isso é estúpido. Isso é antibíblico. É uma violação de toda a intenção do que Jesus disse. Jesus não estava falando sobre como você se vê. É Deus que estabelece a verdade sobre o casamento. E Deus disse: “Eu faço o casamento, não os separe”. Ele não está necessariamente falando sobre casamentos cristãos ou não cristãos. É uma instituição ordenada por Deus.
Foi Deus que fez um homem e uma mulher se complementarem, de modo que eles se juntam com a capacidade de desfrutar um do outro, de um completar o outro, de produzirem filhos. É um milagre de Deus que cada união exista.
Cada vez que um casal se reúne e experimenta a alegria da companhia, da amizade, do sexo ou de qualquer outra coisa, eles estão experimentando o milagre de Deus. O milagre de que o homem ame tanto uma mulher, e uma mulher ame tanto um homem, que podem se abandonar um ao outro na plenitude de um relacionamento significativo, que é um ato de Deus.
Mesmo as pessoas incrédulas podem desfrutar da alegria, da emoção e da significação de uma união amorosa. Isso é um milagre de Deus e todo casamento é um milagre de Deus. Não é uma questão de se você se casou ou não na “vontade de Deus”. Isso não é o que Ele está dizendo aqui. É simplesmente definir que, no início, Deus disse: “Eu faço casamentos”, e quando você se divorcia, você está despedaçando algo que Deus construiu.
Você pode fazer uma comparação. É como uma criança que nasceu. Creio que toda criança nascida no mundo é uma criatura de Deus. Você acredita nisso? Deus criou a todos. Não importa se seus pais são ambos incrédulos. Não importa se eles são pagãos no meio de uma tribo isolada que não conheça a Deus. Essa criança é um milagre de Deus, e o mesmo vale para o casamento. O casamento que produz a criança é um ato de Deus, pelo qual duas pessoas complementares são reunidas para desfrutar a plenitude da vida humana.
É por isso que digo isso. O aborto é o que o divórcio é para o casamento. Como o aborto mata a criação de Deus, o divórcio também mata, e é exatamente isso que o versículo significa. “O que Deus ajuntou, não o separe o homem”. Não quebre um casamento, meu amigo, seu ou de qualquer outro. É melhor você não fazer isso porque você está adulterando a obra do Deus Todo-Poderoso, que faz o casamento.
Eles haviam perguntado ao Senhor: “É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?” (v.3). O Senhor respondeu:
Ouçam o que Deus disse. O que Deus disse é isto: Um homem, uma mulher e nenhuma opção. O que Deus disse é sobre um forte laço. O que Deus disse é uma carne indivisível. O que Deus disse é: Faço casamentos, se você quebra-lo, você está quebrando o que Eu fiz.
É uma posição muito, muito séria. Então, se você está quebrando seu casamento, lembre-se que você estará quebrando algo que Deus fez. E não nos diga nada sobre o fato de que o Senhor te guiou. Oh, como eu odeio ouvir pessoas dizendo que o Senhor quebrou o casamento delas para lhes dar outro! Não o Senhor, você apenas violou o que o Senhor fez com seu ato pecaminoso.
Então, o que Jesus está fazendo é levá-los todo o caminho de volta ao começo. Ele perguntou aos fariseus: “Vocês não leram o que Deus disse no início?”. E eu digo a você o mesmo: Antes de você pensar em divórcio, enquanto você se senta e tenta julgar se está certo ou errado, você leu o que Deus disse no início? É bastante claro.
Essa é a resposta dele, mas essa não é toda a resposta. Vamos continuar na próxima vez. Vamos curvar-nos juntos em oração.
Nosso Pai, sabemos que o mundo tão facilmente nos pressiona em suas próprias opiniões, faz nos conformar com o seu próprio molde, intimida a nos acreditar em suas próprias teorias, dominando-nos com um mar de mentiras.
Mas, Senhor, ajude-nos a permanecermos verdadeiros em Tua Palavra, no fato de o Senhor ter ordenado o casamento para duas pessoas, para a vida toda, sem opções, possuindo-se um com o outro, mantendo esse vínculo forte, uma carne, para que eles possam ter a emoção e a alegria de manter unido o que Deus uniu.
Em vez de desfazer a obra de Deus, estar comprometido com a sua realização. Abençoe todos os casamentos neste lugar. E Pai, toda pessoa que veio de um casamento quebrado, ata suas feridas, dá-lhes um coração arrependido e o desejo de andar em Sua vontade. Obrigado por o Senhor nos restaurar.
Pai, ajude-nos a manter o padrão de Tua verdade e a aplicá-la ao nosso mundo desordenado. E para nunca baixarmos o padrão, nunca mudá-lo, mas deixá-lo exatamente onde o Senhor o colocou.
Dá-nos a graça de sermos obedientes, e a força para Te proclamar. E oramos para que, por nossa obediência a Ti, Tu possas ser glorificado. Em nome de Jesus, amém.
Esta é uma série de 6 sermões sobre Mateus 19:1-12 e outros textos bíblicos sobre divórcio e novo casamento, conforme links abaixo.
01. Divórcio e Novo Casamento – Parte 1
02. Divórcio e Novo Casamento – Parte 2
03. Divórcio e Novo Casamento – Parte 3
04. Divórcio e Novo Casamento – Parte 4
05. Divórcio e Novo Casamento – Parte 5
06. Divórcio e Novo Casamento – Parte 6
Este texto é uma síntese do sermão “Jesus’ Teaching on Divorce, Part 1″, de John MacArthur em 10/04/1983.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/2336/jesus-teaching-on-divorce-part-1
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno
Excelente quem dera todos tivessem essa mesma percepção.