O Chamado Eficaz de Deus


Esta é uma série sobre as doutrinas da graça. Para melhor entendimento, sugerimos ler a sequência das mensagens, conforme links no fim deste texto.


Temos uma verdade bíblica maravilhosa para vermos hoje e vamos tentar espremê-la no pouco tempo que dispomos. Abra sua Bíblia em Romanos 8. Os versículos 28 a 30 são familiares a todos nós. É um bom ponto de partida.

Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.

Em nosso estudo doutrinário, falamos sobre presciência, predestinação ou a doutrina da eleição. Nós conversamos um pouco sobre justificação e glorificação. Mas, a única palavra que quero que você se concentre esta noite é “chamado”. O versículo 30 diz: “aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou”.

Agora, uma das palavras mais simples é “chamado”. Todos nós entendemos essa palavra. Nós a usamos diariamente. É uma das palavras mais comuns no nosso vocabulário.

Nós chamamos nossos filhos com a esperança de que eles responderão. Chamamos o nosso cônjuge para vir jantar e esperamos que ele responda. Chamamos nossos amigos ao telefone e esperamos que eles atendam. E, assim, ocorre em diversas situações cotidianas.

Se você receber uma convocação judicial é algo que não poderá ignorar. Talvez um pouco mais forte do que uma convocação é uma intimação, que inclui uma punição se você não atender.

E, assim, realmente há todos os tipos de chamados, atraentes ou não. Mas, em todos esses casos, você ainda pode optar por ignorá-los, resisti-los, seguir seu caminho e fazer o que quiser.

Porém, as Escrituras revelam uma verdade sobre um chamado, um que não pode ser ignorado e não pode ser resistido. É uma convocação inabalável de Deus.

É uma intimação para comparecer perante Ele, com o propósito de ser declarado justo, tendo todos seus pecados perdoados e libertado de qualquer julgamento ou condenação.

Este é o chamado que você lê em Romanos 8. Um chamado que justifica, que vem de acordo com o propósito divino. É um chamado que vem para aqueles que são predestinados, eleitos ou escolhidos.

É um chamado que nos leva, através da justificação, para a glória eterna. É o que foi denominado de chamado eficaz, chamado determinante, chamado decisivo, chamado conclusivo, chamado irresistível.

É o chamado à salvação. É a convocação divina. É a intimação divina, não para julgamento e castigo, mas para que você possa ser declarado justo, livre de condenação, perdoado. É o chamado à salvação.

A questão é: este chamado pode ser recusado por alguém que o recebeu? Pode ser negado? Pode ser resistido? Bem, o texto que lemos diz: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou”. Assim, este chamado é limitado aos eleitos.

Não estamos falando aqui de um chamado geral, nem como diz Mateus 22:14, em que “muitos são chamados , mas poucos escolhidos”, ou seja, muitos são chamados, mas apenas os eleitos atendem. Este texto de Mateus trata do equilíbrio entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem coexistindo juntas.

Mas, estamos falando de algo que vem apenas para o predestinado e que resulta efetivamente em justificação. E é por isso que dizemos ser um chamado eficaz.

Agora, eu quero que você olhe para a palavra “chamado” aqui. É parte de um grupo de palavras que saem de uma raiz “kaleō”, que significa “chamar a presença de alguém”, ou “convocar”. É usado, por exemplo, em Mateus 2: 7, onde diz: “Herodes chamou os magos à sua corte e eles vieram”.

A palavra pode ser usada em circunstâncias menos graves, mas é a palavra que é usada na Escritura para falar de uma convocação. Na verdade, é tão descritivo que nós, como crentes, realmente somos “os chamados”.

Nós somos chamados, a igreja é a “ekklēsia”, não de “kaleō”, mas de “ekkaleō” . “Kaleō” significa ser convocado. Mas, “Ekkaleo”, uma palavra mais forte, uma convocação mais forte, significa ser chamado para fora e a igreja, em seguida, torna-se o substantivo desse verbo, “os chamados”.

Então, se você perguntar: o que é uma igreja? É a assembleia dos chamados, convocados.

Agora, isso fica muito claro em toda a Escritura, não apenas em Romanos 8. Então, eu quero fazer um pequeno estudo bíblico com vocês. Voltem para Romanos 1. Vejam o verso 1: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus”.

Quando o chamado de Deus veio sobre a vida do apóstolo Paulo, foi uma convocação soberana, divina, graciosa e irresistível. Ele foi convocado na poeirenta estrada para Damasco e não fez nada mais além de atender. E foi um chamado apostólico.

Nos versos 5-7 ele fala sobre a obediência por fé e “a todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos”.

Vejam 1 Coríntios 1:1, que diz: “Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo”. Ele não quer dizer que esse é o título dele. Ele quer dizer que foi chamado por Deus, pela vontade de Deus, para ser um apóstolo de Jesus Cristo. E, novamente, não era algo que ele pudesse resistir.

Versículo 2: “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos”. Ele nos chamou, justificou e santificou. No verso 9: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor”. Veja os versos 23-24:

Mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.

Se você está entre os chamados, então quando Cristo crucificado é anunciado, Ele se torna para você o poder de Deus e a sabedoria de Deus. Para os judeus, um tropeço e para os gentios é tolice, mas para os chamados, tanto judeus como gentios, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus. Notem bem: aos chamados. Este é o chamado que torna alguém uma parte dos ‘chamados’, que é a igreja. Veja os versos 26-30:

Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.

E aí vocês têm seu chamado, irmãos. É um chamado baseado no fato de que Deus escolheu. Deus escolheu. Cristo torna-se para você a sabedoria de Deus em justiça, santificação e redenção por Sua ação. Ele te escolheu, você foi predestinado e Ele te chamou. A quem Ele predestinou, Ele chama, a quem Ele chama, Ele justifica e glorifica. Estamos falando aqui, então, de um chamado para a comunhão dos santos, em comunhão com Seu Filho.

Volte para Gálatas 1:6, que diz: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho”.

Os gálatas estavam vagando, sendo desviados por alguns falsos mestres, embora fossem crentes. E Paulo está dizendo aqui que Deus os chamou para Si mesmo e os convocou para Si mesmo por meio da graça de Cristo, de modo que Paulo diz que ficou espantado que os gálatas estivessem vagando para longe disso, perseguindo um evangelho enganador, distorcido e diferente. Nos versículos 11 e 16 ele diz:

Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo. Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava. E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais. Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue.

Paulo sabia que Deus o havia separado desde o ventre de sua mãe e o chamou pela Sua graça. Paulo entendeu que ele foi agarrado por Deus pelo pescoço, despertado para a glória de Cristo, salvo e feito um apóstolo.

Veja Efésios capítulo 4:1, novamente para que você entenda que esta é uma linguagem tão comum no Novo Testamento: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados”.

Isto não pode ser um apelo geral. Este não pode ser um chamado que você pode ouvir e ignorar ou recusar. É um chamado que exige que você viva de uma certa maneira. Portanto, é um chamado transformador e justificador.

Este é um chamado à salvação e nada mais. Este é um chamado para um só corpo, único Espírito, única esperança, único Senhor, única fé, único batismo, único Deus e Pai de todos nós (versos 2-6).

É um chamado, então, que pressupõe uma resposta de uma vida para que ande de uma maneira digna. Sempre que você vê a ideia de um chamado à salvação nas epístolas do Novo Testamento, é sempre esse chamado efetivo, determinante e eficaz, o chamado salvador.

Volte para Colossenses 3:15. E aqui diz, neste versículo familiar: “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos”. Aqui, também, fomos chamados ao corpo de Cristo, à paz através de Cristo, que agora governa nossos corações.

Vá para 1 Tessalonicenses 2:12, novamente ele diz o mesmo que está em Efésios 4:1, a saber: “exortamos, consolamos e admoestamos, para viverdes por modo digno de Deus, que vos chama para o seu reino e glória”.

Este é um apelo à comunhão, a um relacionamento com Jesus Cristo, à santidade, ao corpo de Cristo, para unir-nos com o único Espírito, o único Senhor, a única fé, o único Deus e Pai de todos nós.

E este é um chamado para Seu Reino e glória. Este é um chamado salvador. Esta é uma convocação divina. Gosto de chamá-la de convocação inabalável de Deus.

2 Tessalonicenses 2:13 diz: “devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”.

Essa é a grande doutrina da eleição. Deus te escolheu desde o princípio, antes que o tempo começasse, nos conselhos da eternidade, dentro da Trindade, Deus te escolheu para a salvação através da santificação pelo Espírito e da fé na verdade. No verso 14, ele completa: “para o que também vos chamou”.

Você foi chamado porque você foi escolhido. Você foi escolhido para ser santificado pelo Espírito, para crer na verdade, a fim de que você possa ganhar a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. A eleição levou a um chamado, que levou à salvação, justificação, santificação e glorificação final.

É o que ele diz no verso 14: “para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo”. Em II Timóteo 1:9 diz:

Que nos salvou e nos chamou com um santo chamado; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos.

Ele não diz que Deus que nos chamou com um chamado santo e, porque respondemos, Ele nos salvou. Não diz isso. Mas diz: “Ele nos salvou e nos chamou com um chamado santo”. Entende? “Não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos”.

Vamos para I Pedro 2:9. Este é um verso muito rico. “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.

Agora, eu acho que provavelmente quando você estuda sua Bíblia, cada vez que você encontrar esta palavra “chamado” nas epístolas você vai vê-la saltar da página. Trata-se de um chamado efetivo, determinante e eficaz.

Ele “chamou você das trevas para a Sua maravilhosa luz”. Ele não o chamou da escuridão esperando que você viesse, Ele “chamou você das trevas para Sua maravilhosa luz”. Quando Ele chama alguém para a Sua maravilhosa luz, é exatamente para lá que essa pessoa vai.

Quando Ele te chamou, você entrou em Seu tribunal e você foi declarado justo. Quando Ele te chamou, você entrou em Seu corpo e você se tornou uma parte do corpo de Cristo. Quando Ele te chamou, você entrou na comunhão. Quando Ele te chamou, você se tornou santo. Quando Ele te chamou, você foi santificado. Quando Ele te chamou foi para que você fosse finalmente glorificado.

O versículo 21 diz que você foi chamado para seguir os passos de Cristo. Foi um chamado para viver sua vida seguindo o exemplo do Salvador.

Em harmonia, I Pedro 3:9 diz: “Não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança”.

Este é um chamado que fez de você uma pessoa que poderia ser uma bênção. Este é um chamado que trouxe você para uma vida na qual você deve ter um andar digno. Este chamado tem um efeito eficaz.

I Pedro 5:10 diz: “Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”.

Que afirmação! Deus te chamou para justificação. Ele te chamou para santificação e santidade. Ele te chamou à comunhão e comunhão com os santos. Ele te chamou para viver uma vida piedosa e virtuosa, para um andar digno de seu chamado e adornar Seu nome. E Ele te chamou para Sua glória eterna em Cristo. Ele mesmo vai te “aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”. Ele te chamou porque Ele te escolheu e te predestinou para este fim. II Pedro 1: 2-3 diz:

Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude.

Ele nos chamou por Sua própria glória, por Sua própria excelência. E Ele nos deu tudo o que pertence à vida e à piedade. Coisas assombrosas, realmente. Este é o chamado interior que salva.

Finalmente, Hebreus 3: 1. Aqui está a diferença. “Portanto, irmãos santos“. Eu amo isso. Eu tenho que me referir a vocês mais frequentemente com esta distinção. É verdade, é verdade, é tudo verdade, separado, imputado com justiça. “Portanto, irmãos santos”.

Ele continua: “Por isso, santos irmãos, que participais do chamado celestial”. Este é um chamado divino, um chamado celestial. Vocês são santos por causa desse chamado divino. Esta é uma verdade gloriosa. Isso não é obscuro, não é? Isso está em toda parte nas Escrituras e há muito mais.

Do que estamos falando aqui? Estamos falando de um chamado de Deus que resulta na salvação de uma pessoa. E vou dizer de novo.

Todo uso da palavra “chamar” com relação à salvação, nas epístolas do Novo Testamento, não se refere a um chamado externo geral, mas a um ato de Deus específico, interno, eficaz e salvador. É, nesse sentido, uma convocação inabalável de Deus a que vocês responderão. É por isso que se chama de “graça irresistível”.

Eu gosto mais da palavra “chamado”. E eu gosto da ideia de uma convocação inflexível, porque isso enfatiza a obra inflexível e salvadora de Deus, ao invés da resistência do homem. Temos aqui a denominada “graça irresistível”. Quando Deus procura salvar e chamar um pecador das trevas para a Sua maravilhosa luz, a questão é: o pecador pode resistir?

Deus determinou, por Seu próprio propósito, desde a eternidade, a salvação para alguns e Ele estende a mão para salvá-los através deste chamado. Ele os chama das trevas, da incredulidade, da confusão e do caos.

Ele os chama do pecado e da impiedade. Este é o chamado soberano e salvador de Deus. E Ele é inflexível no exercício de Seu poder para fazer o pecador eleito entrar em Sua corte e ser apresentado como perdoado e justificado, no caminho para a glória eterna.

Agora, dizer isso incomoda algumas pessoas. Não me incomoda, porque a Bíblia diz isso. Incomoda algumas pessoas. Eles dizem: Bem, isso não está certo. Não é correto dizer que Deus vai trazer pecadores a Si mesmo a força. Dizer isto é dizer que você não pode lutar contra isso. Você não pode resistir. Deus vai dominá-lo contra sua vontade e violar sua liberdade”.

E muitos que dizem:

Deus não violará o nosso livre arbítrio”. Eu ouço isso o tempo todo… Eles dizem: ‘Deus não violará nossa liberdade de escolher.’ É como se dissessem: Bem, olhe, Deus faz sugestões realmente fortes. Isso é o que Ele faz. E, você sabe, às vezes Ele é realmente convincente. E muitas vezes Ele faz sugestões realmente fortes através de bons pregadores que são realmente convincentes. E podemos orar e pedir a Deus para que ocorram essas sugestões fortes. Podemos pedir a Deus para abrir a mente das pessoas, abrir seus corações, remover a sua cegueira e torná-los responsivos, mas não forçá-los a vir. Podemos pedir a Deus para dar-lhes oportunidade, bem como um monte de informações e motivação. Mas, no final, tem que ser com eles. Eles têm a palavra final e não Deus.

Um estudioso, que é até muito útil em alguns de seus escritos, Norman Geisler, escreveu um livro chamado “Chosen But Free” (Escolhidos, porém Livres). E ele apresenta a realidade da “graça irresistível” como, segundo ele, fazendo de Deus um ditador com poder que esmaga a nossa liberdade, arrastando-nos para o Seu Reino.

Bem, tudo isso é realmente desnecessário, porque isso não é o que as Escrituras dizem. Ninguém foi salvo contra sua vontade. Ninguém jamais foi levado para o Reino em meio a chutes, gritos e protestos. Isso não é o que as Escrituras ensinam.

Ninguém jamais foi salvo contra sua vontade. Ninguém jamais será. Todos os que são salvos o são porque querem crer no evangelho. Na verdade, eles crerão com todo o coração e alma. Ninguém é salvo sem estar disposto. É um ato da vontade de crer.

A questão é o que os fez querer? Ou melhor, quem os fez querer? Foram eles? Foi o pregador? Eles não estavam dispostos, mas se tornaram dispostos. Quem fez isto? O pregador? E por que a maioria rejeita? [Será que alguns homens são mais humildes ou mais dispostos naturalmente que outros e, com méritos próprios, atenderam o chamado do Evangelho?].

Há um pequeno verso escondido no Salmo 110. Diz isso: “Seu povo estará disposto no dia do Seu poder”. Nenhum pecador jamais estará disposto, até que venha o poder de Deus sobre aquele pecador. Não há nada no pecador para fazê-lo querer, mesmo sob o melhor esforço do pregador. É somente quando o poder de Deus o faz querer que ele se torna disposto.
Nenhum pecador tem a capacidade de estar disposto. Veja Romanos capítulo 3:10-18, que diz:

Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos.

Eu diria que é uma condição muito triste. Essa é uma maneira ampla de dizer que o coração do homem é enganoso acima de todas as coisas e desesperadamente perverso. Ouça bem o que o texto diz: Ninguém procura Deus. Ninguém sozinho está disposto.

Efésios 2:1 diz: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”. Aqui está o porquê. Os mortos não respondem. Veja os versos 2-3, que dizem:

Nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.

É você e eu aí. Não há esperança. Por quê? I Coríntios 2:14 diz:

Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.

Isto é o que queremos dizer com “total depravação”, a “total incapacidade do pecador” de estar disposto a buscar a Deus. Não há exceção. Todos estão neste ponto.

Nenhum pecador, por si mesmo, é capaz de mudar esta situação, se tornar disposto a compreender, a arrepender-se, a querer crer, a escolher Deus, Cristo e a salvação.

A corrupção é muito profunda e também espiritualmente sistêmica. Não podemos mudar isso. Não podemos buscar a justiça. O pecador só se torna disposto no dia do poder divino.

Deus deve mostrar Seu poder soberano em convocar-nos, ao nos dar a vontade de crer. Ele deve nos fazer querer. “Seu povo estará disposto no dia de Seu poder”.

Mas não é que o pecador venha chutando, gritando, protestando e tentando resistir, porque quando a convocação vem, o pecador é feito disposto. Na verdade, é a paixão de seu coração.

Quando o evangelho vem, o pecador estará extremamente ansioso para responder. Como pecadores perdidos, as pessoas têm a liberdade da vontade. Está certo. E o que elas fazem? Elas escolhem pecar. Elas fazem apenas isto.

O pecador perdido tem a liberdade da vontade. Na salvação, também temos a liberdade da vontade, mas em vez de escolher o pecado, escolhemos Cristo. E a diferença é porque fomos chamados com um chamado divino. Jonathan Edwards disse:

O que escolhemos não é realmente determinado pela vontade, como se ela existisse independentemente. O que nós escolhemos é realmente determinado pela mente e o que é que a mente pensa que é melhor. Quando confrontada com Deus, a mente do pecador nunca pensa que seguir ou obedecer a Deus é uma boa escolha.

A mente não é neutra e nem objetiva. A mente está corrompida. Então, o que a mente pensa ser o melhor é o que nós escolhemos. Somos livres para escolher o que a nossa mente pensa que é melhor, e escolher para além de Deus e para além de Cristo, a nossa mente está corrompida e pensa que o pecado é melhor.

Sua mente não considera a submissão a Deus e ao Evangelho como desejáveis, de modo que, a menos que Deus mude o modo como pensamos, nossa mente sempre nos dirá para nos rebelarmos contra Deus e o Evangelho. Que é precisamente o que fazemos.

O pecador resistirá até que venha o tipo de graça que sai do céu, um chamado celestial. Eu não gosto da ideia de “graça irresistível”, porque irresistível é negativo. Eu prefiro vê-lo como “chamamento inabalável de Deus”. Também por ser a graça totalmente de Deus, tornando redundante chama-la de irresistível. E também por sub-qualificar a graça, que não é apenas irresistível, mas santificadora, justificadora. Que tal chamá-lo de chamado de salvação? Efésios 2: 8-9 diz:

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.

A coisa toda vem como um presente de Deus para nós. Eu amo Filipenses 1:29, que diz: “Porque vos foi concedido, por amor de Cristo, não só crer Nele, mas sofrer por causa dele”. O chamado te trouxe à fé. O chamado te fez entender e trouxe à convicção, ao arrependimento, à fé. Claramente, este é um chamado de salvação e nada menos do que isso faz qualquer sentido na Escritura.

É como Atos 13:48 diz: “… e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna”. Como creram estes que foram nomeados para a vida eterna?

Porque Deus os chamou de sua ignorância. Ele os chamou de sua confusão, escuridão, Iniquidade e de seu pecado. E o chamado era um chamado eficaz, ativado pelo poder de Deus, que os levou à luz, à verdade, ao arrependimento e à fé.

É como Lídia, em Atos 16:14, onde “o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia”. Eu amo isso. “O Senhor abriu seu coração”. Esse é o chamado eficaz.

O Senhor abre a mente e o coração, e o indisposto se torna disposto a ouvir e crer no Evangelho. Atos 18:27 diz: Paulo “ajudou muito os que creram pela graça”.

Então, poderíamos chamar isso de graça. É a graça que realmente salva. O pecador não pode, por si mesmo, mudar sua vontade e buscar a Deus. Você se lembra de João 1:12?

Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

Não é porque o pecador é tomado por lucidez, ou persuadido pela pregação eloquente, inteligente, ou por algum apelo emocional. Essas são ilusões enganosas.

Não é porque você tem algo a mais que os outros homens e que atraiu Deus para você. Não é. Você é salvo porque Deus o chamou, e Ele faz isso mediante a proclamação e a compreensão do evangelho.

Esqueça todas as tolices. É apenas o Evangelho. É isto que Deus usa para despertar o pecador e Ele o torna disposto. Sem esta ação de Deus, o pecador jamais estaria disposto. É o Pai que nos leva a Cristo, e sem esta condução sobrenatural, jamais iríamos (João 6:44).

A confiança injustificada na capacidade humana é um produto da natureza humana caída. A única razão pela qual pensamos que podemos querer ser salvos é porque nosso pensamento é corrupto.

Esta falsa confiança enche o mundo evangélico com o evangelho da autoestima, da saúde e da riqueza, daqueles que transformaram o evangelho em um produto a ser vendido e pecadores em consumidores que querem comprar.

A graça de Deus em Cristo não é apenas necessária, mas é a única e eficiente causa da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e são incapazes mesmo de cooperar com a graça regeneradora.
Na salvação somos resgatados da ira de Deus por Sua graça.

É a obra sobrenatural do Espírito Santo que nos leva a Cristo, libertando-nos da nossa escravidão do pecado, elevando-nos da morte espiritual para a vida espiritual.

A salvação não é, em qualquer sentido, uma obra humana. Métodos humanos, técnicas ou estratégias, por si só, não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida por nossa natureza humana não regenerada.

Charles Wesley não cria na doutrina da eleição, mas escreveu um hino que diz:

Há muito tempo meu espírito aprisionado estava, amarrado ao pecado e na noite da natureza. Teu olho acendeu, um reluzir que traz a vida. Eu acordei em minha masmorra inflamada com luz. Minhas correntes caíram, meu coração estava livre. Eu me levantei, saí para Te seguir.

Agora, só alguém que crer na doutrina da eleição poderia escrever isso. O que? Ora, Charles Wesley disse que era um prisioneiro na escuridão e na noite, e, até que Deus brilhasse a luz e quebrasse suas correntes, nada poderia mudar. Esta é a glória desta grande verdade. No final, tudo vai para Deus.

Ao longo dos anos, várias vezes tivemos o Dr. Jim Boice pregando aqui. Grande, grande servo de Deus, grande erudito, pregador, vida monumental. E seus livros ainda são uma bênção para mim. Eu certamente o considerava um mentor.

Na verdade, R C Sproul me disse um dia que a morte de Jim Boice foi um julgamento de Deus sobre os Estados Unidos. Ele deixou uma lacuna enorme. Boice, que amava e escrevia hinos, escreveu em um de seus livros, sobre John Newton.

Foi em 1779, quando John Newton escreveu “Amazing Grace” (Maravilhosa Graça), que todos nós conhecemos. Mas eu não sei se todos vocês sabem toda a história deste homem, nascido em 1725 e que morreu em 1807. Deixe-me ler um pouco do que Boice escreveu sobre ele:

Newton foi criado em uma casa cristã, na qual lhe foram ensinados versículos da Bíblia. Mas, sua mãe morreu quando ele tinha apenas seis anos de idade, e ele foi enviado para morar com um parente que odiava a Bíblia e zombava do cristianismo.

Newton fugiu para o mar. Ele era rude nessa época e era até mesmo conhecido por blasfemar e praguejar por duas horas sem se reiterar. Ele foi forçado a se alistar na Marinha Britânica, mas desertou, foi capturado e espancado publicamente, como punição.

Newton entrou na Marinha Mercante e foi para a África. Em suas memórias, ele escreveu que, quando foi para a África, foi por uma única razão: ‘Para que eu pudesse pecar’.

Newton acabou ficando com um traficante de escravos português na África, em cuja casa ele foi cruelmente tratado. Esse homem costumava partir em expedições de escravidão e, quando ele saía, seu poder passava para sua mulher africana, a mulher-chefe de seu harém. Ela odiava todos os homens brancos e exibia seu ódio contra o pobre Newton.

Ele contou que durante meses ele foi forçado a se rastejar na terra, comendo sua comida do chão como um cachorro. Ele foi espancado sem piedade se tocasse na comida. Com o tempo, magro e mais magro, Newton foi parar no mar, onde foi apanhado por um navio britânico, que fazia a rota da costa para a Inglaterra. Quando o capitão do navio soube que o jovem conhecia algo sobre a navegação, como resultado de estar na Marinha Britânica, ele o fez empregado de seu navio.

Mas, mesmo assim, Newton estava em apuros. Um dia, quando o capitão desembarcou, Newton acabou com o suprimento de rum do navio, deixando toda a tripulação bêbada. Ele estava tão bêbado que, quando o capitão voltou e o golpeou na cabeça, Newton caiu ao mar e teria se afogado, se um dos marinheiros não o tivesse levado de volta a bordo.

Perto do final de uma viagem, à medida que se aproximavam da Escócia, o navio entrou em mau tempo e foi desviado do curso. A água entrou, o navio começou a afundar. O jovem libertino foi enviado para o buraco para bombear água. A tempestade durou dias. Newton estava aterrorizado. Ele tinha certeza que o navio iria afundar e ele iria se afogar.

Porém, no porão do navio, enquanto ele desesperadamente bombeava água, o Deus de toda a graça, a quem ele tentara esquecer, mas que nunca o esquecera, trouxe à sua mente os versículos bíblicos que tinha aprendido em sua casa quando criança. O caminho da salvação se abriu para ele, que nasceu de novo no porão do navio.

Ele foi profundamente transformado e, mais tarde, quando estava novamente na Inglaterra, Newton começou a estudar teologia, tornou-se o primeiro pregador em uma pequena cidade chamada Olney, e depois em Londres.

Desta tempestade, William Cooper, poeta britânico muito singular, que se tornou um amigo pessoal de Newton e viveu com ele por vários anos, escreveu sobre a tempestade em que Deus chamou Newton. Isto é o que ele escreveu. Você vai se lembrar dessas palavras:

“Deus se move de maneira misteriosa, Suas maravilhas para realizar, Ele planta Seus passos no mar e cavalga sobre a tempestade.”

E assim, Ele faz, diz Boice. “Newton era um grande pregador da graça, porque ele tinha aprendido que onde o pecado abundava, a graça abundava ainda mais. Ele é a prova de que a graça de Deus é suficiente para salvar quem quer que seja e que Ele os salva somente pela graça .”

E, agora, você sabe, quando John Newton escreveu “Maravilhosa graça, quão doce é o som…”, foi quando ele ouviu o chamado do som da graça de Deus através do qual ele foi despertado. E os crentes, desde então, têm cantado a ‘Amazing Grace’ [Maravilhosa Graça], a graça de como Deus chama o pecador para Si. Uma parte do hino diz:

Maravilhosa graça…
Oh! Quão doce é o som…
Que salvou um miserável como eu…
Eu estava perdido…
Mas agora fui achado…
Eu estava cego, mas agora eu vejo…

Curvem suas cabeças comigo.

Pai, esta grande verdade emociona nossos corações, ao vermos o quanto o Senhor se humilhou para nos chamar, porque nos escolheste para a glória. Nós Te bendizemos, louvamos, agradecemos.

Que vivamos vidas dignas deste chamado celestial, tendo sido chamados à santidade, à comunhão, ao corpo, à íntima união com Cristo, chamados a ser mensageiros. Que possamos ter um caminhar digno desse chamado. E Te louvamos em nome do Teu Filho. Amém.


Esta é uma série de 10 sermões sobre a doutrina da graça, conforme links abaixo.

01. A Perseverança dos Santos – Parte 1
02. A Perseverança dos Santos – Parte 2
03. A Perseverança dos Santos – Parte 3
04. A Doutrina da Eleição – Parte 1
05. A Doutrina da Eleição – Parte 2
06. A doutrina da Eleição – Parte 3
07. A Doutrina da Incapacidade Absoluta do Pecador
08. A Doutrina da Expiação Eficaz de Cristo, Parte 1
09. A Doutrina da Expiação Eficaz de Cristo, Parte 2
10. O Chamado Eficaz de Deus


Este texto é uma síntese do sermão “The Doctrine of God’s Effectual”, de John MacArthur em 18/09/2005.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/90-296/the-doctrine-of-gods-effectual-call

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


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1 Response

  1. clovis clagnan disse:

    achei excelente esta explicação sobre o chamado eficaz

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