O preço de seguir Jesus – 2
Estamos chegando agora ao ensinamento da Palavra de Deus. Este é o ponto alto do culto, quando nos inclinamos diante da própria declaração que vem do trono celestial. Abra sua Bíblia em Lucas 14.
Para aqueles que estão nos visitando, estamos muito felizes em tê-los aqui. Quando nos reunimos, olhamos para a Palavra de Deus, a fim de compreendê-la. Nosso objetivo é determinar o significado das Escrituras e sua aplicação para nossas vidas. Há alguns anos estamos trilhando um estudo minucioso do Evangelho de Lucas.
E nós nos encontramos no capítulo 14 de Lucas, em um momento na vida de nosso Senhor quando Ele está se movendo de cidade em cidade e aldeia em aldeia. Ele está pregando ao povo, fazendo milagres, curando. Sempre está chamando as pessoas a segui-Lo, a se tornarem Seus discípulos. E parágrafo após parágrafo ouvimos as palavras de Jesus.
Neste particular, temos um forte chamado ao discipulado. É um exemplo de como Jesus sempre chamou as pessoas a segui-Lo. Na verdade, as palavras que Ele dá aqui são encontradas em muitos outros lugares nos quatro Evangelhos. Sabemos que isso é um padrão constante em Seu ensinamento.
E Suas chamadas são extremas em qualquer medida. Você vai entender quando você ouvir o que Ele disse em Lucas 14.
Lucas 14
25 Grandes multidões o acompanhavam, e Jesus, voltando-se, lhes disse:
26 Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo.
28 Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir?
29 Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele,
30 dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar.
31 Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil?
32 Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz.
33 Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.
34 O sal é certamente bom; caso, porém, se torne insípido, como restaurar-lhe o sabor?
35 Nem presta para a terra, nem mesmo para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
O texto mostra o caráter extremo do discipulado. A linguagem é inconfundivelmente absoluta, definitiva e severa, você poderia dizer. Mas este é o próprio Deus falando. O Deus encarnado, o Senhor, Jesus Cristo.
Ele estabelece os padrões de discipulado. Ele determina o caráter do verdadeiro arrependimento e da fé salvadora. E parece que, ao estudar as palavras de Jesus, vemos que em vez de Ele fazer do discipulado algo fácil, Ele sempre parece torná-lo difícil. De fato, pela maioria das avaliações humanas, Ele o torna praticamente impossível.
Nós somos bons em nossa cultura em fazer coisas fáceis. Simplificar para tornar as coisas mais fáceis é o pensamento que nos cerca. Tornar tudo tão fácil quanto possível.
E este tipo de pensamento invadiu a igreja, e a fez corromper a mensagem do Evangelho, para torná-lo aceitável e fácil de acreditar. Exatamente o oposto do que Jesus fez.
O verdadeiro evangelho, o verdadeiro chamado para seguir a Jesus, é um chamado à abnegação. Não é um chamado à autorrealização. Não é uma mensagem centrada no homem, de busca de suas realizações pessoais.
O evangelho é um chamado aos pecadores para se submeterem tudo a Jesus Cristo. Simplesmente, é um chamado para encontrar sua vida na morte. É um chamado para encontrar a sua vida perdendo-a, ganhando-a ao abandoná-la, esvaziando-se.
As palavras de Nosso Senhor, francamente, não eram muito amigáveis. Eram assustadoras e não confortáveis. Não eram fáceis, eram duras.
E seus convites à salvação, motivados pelo amor e pela compaixão, cheios de graça e misericórdia, oferecendo perdão, paz e alegria agora e para sempre, ainda exigiam o que qualquer um diria que é um nível muito extremo.
Este é claramente o evangelismo de porta estreita. Ele exige uma alteração grave na vida, que basicamente é uma espécie de morte. Isto inverte e redefine tudo o que importa: como você vê seus relacionamentos mais próximos, como você se vê e como vê tudo o que possui, todas as pessoas em sua vida, sua própria vida e todas as suas coisas.
E Jesus diz: Se você não odeia as pessoas que estão mais próximas de você, sua própria vida e não está disposto a desistir de todas as suas posses, você não pode ser meu discípulo.
Ele deixa muito claro que se você não estiver disposto a renunciar tudo, negar-se a si mesmo e relativizar todos seus relacionamentos humanos, não há como você ser um verdadeiro discípulo Dele.
Ele não está oferecendo uma reforma em sua vida ou alguns melhoramentos, Ele está chamando para algo radical e extremo.
O falso evangelho parece querer fazer tudo para tornar as coisas mais fáceis, mas Jesus quis fazer que tudo parecesse impossível.
Ninguém jamais poderia acusar Jesus de dar a alguém um caminho fácil e, portanto, contribuir para uma falsa confiança, um falso senso de salvação. Ele fez exigências extremas.
Ele é Deus. Ele é o Soberano do universo e Ele tem o direito de ser adorado, amado, servido e obedecido. Na verdade, o Antigo Testamento nos diz que os mandamentos são todos resumidos em um grande mandamento: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, alma, mente e força”.
E é isso que Jesus está pedindo, um amor além de todos os outros amores, um amor supremo. E Ele está frustrando a superficialidade.
Aqui temos, neste texto, uma amostra de Seu chamado à salvação. Temos visto em Lucas, que Jesus pregou de cidade em cidade e aldeia em aldeia e casa em casa. Ele estava chamando as pessoas para a salvação.
Neste texto não temos todos os componentes do Evangelho. Aqui Ele não está falando sobre o conteúdo objetivo do evangelho, Ele está falando sobre a atitude subjetiva de quem vem ao evangelho. Qual é o tipo de compromisso que devemos fazer ao Cristo do evangelho? Esse é o problema aqui. E a extremidade disso é óbvia.
Agora, na última vez, falei sobre três pontos no texto de Lucas 14, versículos de 25 a 35. Já vimos o primeiro, agora vamos fazer uma pequena revisão e em seguida veremos os outros dois.
A primeira coisa é esta: Jesus disse que, para se tornar Seu discípulo, Ele exige o abandono de prioridades passadas.
Nossas vidas são basicamente resumidas em três dimensões: as pessoas em nossas vidas, nós mesmos e nossas coisas. Ou seja, nossos relacionamentos, desejos pessoais, metas, ambições e as posses que temos.
E Jesus, como você se lembra, está dizendo que você tem que reverter completamente sua atitude em relação a essas coisas. O versículo 25 diz que grandes multidões O acompanhavam. Ele estava se movendo por vários lugares em direção a Jerusalém, onde seria crucificado.
Jesus voltou-se para aquela multidão e disse: “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (verso 26).
“Aborrecer”, seria melhor traduzido como “odiar”, que era um hebraísmo para designar “preferência”. Não se trata de amargura, hostilidade, ódio.
Tem a ver com Lucas 16:13, onde Jesus diz: “Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”. É uma maneira de indicar preferência ou amar mais um que o outro.
O mesmo que Jesus diz em Mateus 10:37, que diz: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim”.
É o que Deus disse também no Antigo Testamento, repetido no Novo: “Eu amei a Jacó e odiei a Esaú”. Isso não significa que Deus, literalmente, emocionalmente, odiou e desprezou Esaú. Significava que Sua prioridade, Sua aliança, Sua promessa, Seu amor nesse sentido com todas as implicações foram dadas a Jacó e não a Esaú. Jacó, era, então, o preferido.
Vimos isto em relação a Jacó e suas esposas Raquel e Lia. Ele amava Raquel e odiava Lia. Não era hostilidade contra Lia, mas uma forma hebraica de dizer que ele amava mais a Raquel do que a Lia.
E é isso que Jesus está dizendo aqui. Você tem que entender isso, que enquanto sua prioridade estiver no tempo passado, você não pode ser Seu discípulo.
Seu chamado é para amá-Lo de todo o coração, alma, mente e força. Isto deve estar acima de todos seus relacionamentos. É prioridade total.
Ele também disse, no final do versículo 26, isso não é apenas verdade para as pessoas ao seu redor, mas sobre a sua própria visão de si mesmo. Você tem que odiar sua própria vida.
O que isso significa? Que você tem que ter algum tipo de atitude mórbida, suicida? Que você é um tanto masoquista ou autodestrutivo? Não.
O que significa é que você considera a si mesmo, sua vontade, sua ambição, seu desejo e seus propósitos como menores, minúsculos, sem importância em comparação com o seu desejo de fazer o que honra o seu Senhor.
Quando você vai a Jesus, Ele não se torna simplesmente uma peça decorativa em sua vida, Ele se torna Senhor absoluto. Assim, você poderá receber o perdão dos pecados e a benção maravilhosa da vida eterna. Uma satisfação plena e eterna.
Mas, esse dom é resultado do controle divino sobre sua vida, onde Ele vai conduzir tudo para a glória Dele e para seu bem.
É por isso que Romanos 8:28 diz: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”. Por quê? Porque Deus está trabalhando o que é melhor para o tempo e a eternidade, naqueles e através daqueles que são Seus.
Então, você está disposto a subordinar todos os relacionamentos ao senhorio de Cristo. Você está disposto a subordinar sua própria vida ao Senhor.
Literalmente, é uma espécie de morte. Você perde a vida para encontrá-la. Você morre para viver. E isso é exatamente o que Ele diz no verso 27: “Quem não carregar a sua própria cruz e vir após Mim, não pode ser Meu discípulo”.
O preço para seguir Jesus naqueles dias, e na história, em muitos lugares, e mesmo hoje, em várias partes do mundo, poderia custar a vida da pessoa.
A cruz aqui é simplesmente um símbolo da morte. Era um instrumento de tortura usado para executar pessoas. Não é uma ideia mística. É uma forma muito concreta de expressar o martírio.
Você está disposto a dar a sua vida? Você está disposto, não só a abandonar seus desejos, suas ambições, seus sonhos, suas esperanças, tudo aquilo que você acha que são seus propósitos e planos bem elaborados, abandonando-os à Sua autoridade soberana, subordinando-os à Sua vontade, mesmo ao ponto onde poderia custar sua vida?
Você está disposto a dizer como o apóstolo Paulo: “Porque para mim viver é Cristo e morrer é lucro?” Você está disposto a dizer isso?
Você está tão ansioso para ter seus pecados perdoados e a esperança da vida eterna que, se custar-lhe mesmo a sua vida neste mundo, é um pequeno preço a pagar?
Existem muitas pessoas que viriam a Cristo, se isso não lhes custasse seus relacionamentos, se não lhes custasse seus sonhos.
Você ouve as pessoas dizerem hoje: ‘Oh, você sabe, venha para Jesus e Ele vai consertar todos os seus relacionamentos. Ele vai fazer sua vida feliz. Venha para Jesus e Ele vai cumprir tudo o que você quiser. Ele vai realizar seus sonhos’.
Essas são mentiras enganosas. O chamado de Cristo é oposto a isto. Não é o caso de você ter seus desejos e planos pessoais realizados, mas de lhe custar tudo.
É você ir a Ele mesmo diante da morte, desejando-o ardentemente, aspirando ao perdão de seus pecados e ao céu. O Evangelho não oferece o céu na terra, mas o céu no céu. E isto pode custar-lhe, neste mundo, seus relacionamentos, seus sonhos, sua vida.
É um desprezo por aquilo que perece, que o ladrão pode minar e roubar, que a ferrugem pode destruir, e um apego ao tesouro assegurado por Cristo para a Eternidade. E pondo no Senhor toda sua confiança, você crê que está nas mãos Dele, e que tudo está trabalhando, juntamente, para o seu bem.
Bem, no versículo 33, Jesus diz: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo”.
Fomos despojados de relacionamentos e interesses próprios em termos de prioridade, e agora estamos basicamente lidando com tudo o que temos. Isso é tão definitivo. É algo dito a todos, a qualquer um.
Em que sentido você renuncia a tudo que tem? Como você se torna um cristão? Será que você tem que dar tudo que tem e se tornar um mendigo? É disso que Ele está falando? No idioma original (grego), o versículo 33, “renunciar” é “apotassō”, que quer dizer “adeus”. É exatamente isso que significa, dizer adeus.
Em que sentido? Você se torna um mordomo de tudo e um dono de nada.
Você não terá relacionamentos que não estejam subordinados ao senhorio de Cristo. Tudo que você tem estará subordinado ao que Deus quer de você.
Você vai envolver todo seu esforço, ânimo, tempo, disciplina etc., para ser útil ao Senhor. Fazer de sua mente e corpo tudo o que puder para servi-Lo. Usar tudo o que Deus lhe deu, seja casa, carro e recursos para a glória do Seu reino.
Você estaria disposto se o discipulado lhe custasse a inimizade de seus familiares? Se lhe custasse ambições e projetos pessoais?
Se Ele pedisse para você morrer na causa de Seu reino? Se Ele mandasse você dar tudo que tem aos pobres, tal como fez com o jovem rico?
Você entende que se tornará mordomo de tudo e dono de nada?
Sua prioridade será amar ao Senhor de todo o seu coração, alma, mente e força. Um amor que se sobrepõe a qualquer outro amor.
Jesus não está pedindo que você O adicione aos outros interesses que você tem. Não. Esse é o primeiro ponto. Tornar-se discípulo de Cristo exige um abandono das prioridades do passado. Tudo muda. É uma visão totalmente nova da vida.
É olhar para trás e fazer como Paulo diz em Filipenses 3:8, ou seja, considerar tudo como “estrume”, “escória”, “esterco”, pois é o que tudo parece diante da sublimidade do conhecimento de Cristo.
O segundo e crítico componente em ser discípulo de Cristo é que, além do abandono das prioridades passadas, há a avaliação dos poderes presentes.
Você quer vir a Cristo, quer ser um cristão, quer a vida eterna. O rico governante veio e disse: “O que faço para herdar a vida eterna?”
E Jesus disse: “Vamos falar sobre o seu pecado.” Ele disse: “Eu não tenho nenhum”. Jesus disse: “Vamos falar sobre quem está no comando”. Ele disse: “Não você”. Esse foi o fim da discussão.
Você tem isso em você para fazer o compromisso? Nos versículos 28-30, Jesus ilustra:
Lucas 14
28 Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir?
29 Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele,
30 dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar.
Agora, você tem que entender que a cultura do Oriente Próximo antigo era uma cultura de honra e vergonha. A pessoa não fazia aquilo que trazia vergonha a si mesma. Era muito importante proteger a honra.
E o ponto é, quando você vai fazer algo tão formidável como construir uma torre, seja para vigilância ou armazenamento de produção, todos na comunidade saberão do empreendimento. E ninguém faria isto para deixar inacabado e todo mundo rindo dele.
No versículo 30, a expressão “este homem”, no original grego, é uma expressão com depreciativo. Poderia ser traduzido como “esse sujeito”, uma espécie de desprezo ou ridicularização. Isso era um enorme elemento de desonra no pensamento do antigo Oriente Próximo.
Então, ao desejar construir uma torre, um homem faria as contas para ver se teria como terminá-la ou acabá-la. A palavra grega, usada nos versos 29-30, é uma intensificação da palavra “Está consumado!” que Jesus disse na cruz, ou seja, ‘está terminado, completado até o último componente’. Você não quer sua vida exposta ao ridículo.
Então, o que Jesus está dizendo? Ele está dizendo para ninguém vir a Ele por algum motivo emocional e superficial. Você deve, em primeiro lugar, estar disposto a abandonar todas as prioridades do passado que dominaram sua vida, de modo que é uma espécie de morrer para viver. E você tem que avaliar a legitimidade e a integridade de sua decisão de ir a Ele.
Há muitos indo a Cristo ao responderem emoções de momento, muitas vezes manipuladas a fazerem compromissos superficiais. John Stott escreveu:
A paisagem cristã está tomada pelos destroços de torres abandonadas e inacabadas. São as ruínas daqueles que começaram a construir e foram incapazes de terminar.
Multidões ainda ignoram as advertências de Cristo e se comprometem a segui-Lo sem antes parar para refletir sobre o custo do discipulado. Este é o grande escândalo da cristandade, o chamado cristianismo nominal.
Em países onde a civilização cristã se espalhou, um grande número de pessoas se cobriu com um decente, mas diluído verniz de cristianismo. Eles se permitiram se tornarem um pouco envolvidos, o suficiente para serem respeitáveis, mas não o suficiente para serem desconfortáveis.
A religião deles é uma almofada grande e macia. Ela os protege do duro desagrado da vida, alterando o seu lugar e forma para atender sua conveniência. Não admira que os cínicos falem de hipócritas na igreja e descartem a religião como escapismo.
Eu não estou falando sobre isso. Jesus está dizendo: avalie se você tem o que é necessário para realmente realizar essa ação.
E Ele dá uma segunda história nos versículos 31-32, com um detalhe diferente. O primeiro é um ato voluntário. O homem sai para construir uma torre.
Numa outra situação, temos um homem que vai para a guerra. Obviamente, seu inimigo está no caminho para atacá-lo.
Lucas 14
31 Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil?
32 Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz.
Este é um dilema sobre o qual ele realmente não tem controle. Ele percebe a chegada de seu inimigo com 20.000.
Que homem, que rei, que líder vai colocar seus 10.000 em perigo, antes de se sentar e avaliar se há ou não uma estratégia, ou se está ou não melhor armado, melhor equipado ou se tem um melhor conhecimento do terreno, ou o que quer que seja para vencer a batalha?
Isto ele fará para não expor à morte seus comandados e a si mesmo. E se ele chegar à conclusão de que ele não pode vencer, enquanto o outro ainda está longe, ele vai enviar uma delegação e pedir termos de paz. Eles perderão a liberdade e sofrerão restrições, mas, ao menos, conservarão suas vidas.
E Jesus não está dando alegorias ou histórias complexas aqui. Ele está simplesmente dizendo que há questões na vida que são grandes o suficiente para ser cuidadosamente avaliadas.
Você está olhando para a realidade que vai custar-lhe seus relacionamentos como uma prioridade, seus interesses pessoais como uma prioridade e todas as suas coisas como uma prioridade.
Agora, pare e avalie honestamente se você está se movendo por emoções ou se está apenas reagindo por causa de alguma necessidade ou trauma. Você precisa medir se sua fé é correta e suficiente para manter seu compromisso até o final.
Não é incrível? Quero dizer, é realmente incrível. Jesus não diz para simplesmente fazermos uma oração decisória. Não mesmo. Quando você for pregar o Evangelho, você deve falar de Cristo, de sua vida e obra, em todos seus aspectos.
Mas não fique apenas por aqui. Você deve dizer ao pecador sobre a necessidade de ele amar a Jesus como Senhor, colocá-lo acima de todas as coisas em sua vida, desde os mais próximos relacionamentos, até à sua própria vida e posses.
Não tenha pressa aqui. Leve-o a avaliar se ele realmente tem o que é preciso para construir uma torre ou arcar com os custos. O que Jesus nos ensina aqui tem implicações maciças. O homem deve avaliar se poderá concluir aquilo que se propõe a começar. Ele não pode começar algo tão drástico motivado por um emocionalismo passageiro.
Um verdadeiro arrependimento, gerado pela obra miraculosa do Espírito Santo, resultará em uma fé verdadeira que atravessará todas as barreiras, pois é Deus que a sustenta.
Você faz todas as coisas importantes na vida calculando com cuidado. E um passo para o reino de Deus é mais importante do que qualquer torre que você construa, mais importante do que qualquer batalha que lhe desafia.
E assim o Senhor diz: Você quer ser meu discípulo, não é? Bem, você tem que abandonar suas prioridades passadas e você tem que avaliar seus poderes atuais.
Terceiro ponto: Ser discípulo de Cristo exige lealdade aos futuros privilégios, possibilidades futuras.
Ser discípulo de Cristo exige não apenas um olhar para trás e um olhar para o presente para ver se o poder real está lá para fazer esse compromisso, mas também envolve um olhar para o futuro.
Lucas 14
34 O sal é certamente bom; caso, porém, se torne insípido, como restaurar-lhe o sabor?
35 Nem presta para a terra, nem mesmo para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Jesus diz que você precisa olhar para trás se você quer ser Seu discípulo. Você precisa considerar o presente e os poderes, os verdadeiros poderes do seu compromisso. E você precisa olhar para o futuro. Isso é ilustrado aqui por este sal.
Ele diz: “O sal é bom”. Vamos falar sobre sal no sentido de que o sal é uma ilustração. O sal serve por ter funções. O sal tem valor e é útil. Todos nós entendemos isso. O sal é sinônimo de preservação. No mundo antigo, quando não havia refrigeração, o sal era usado para preservar as coisas, assim como é ainda usado hoje.
A propósito, nos acordos do Velho Testamento o sal estava associado. Quando as ofertas eram trazidas, o sal era incluído. E o sal era o símbolo de uma lealdade permanente à aliança. O sal era o símbolo da lealdade, preservando algo. Você pode ler sobre isso em Levítico, 2:13, que diz:
E todas as tuas ofertas dos teus alimentos temperarás com sal; e não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal.
Números 18 associa sal com a aliança sacerdotal. Ezequiel 43 associa o sal com a Nova Aliança. Na história judaica, o sal era associado a promessas e pactos como símbolo de lealdade.
De um modo geral, sal permanece sal. Algumas pessoas disseram que Jesus fez um tipo de declaração estranha, porque o sal não pode se tornar insípido. É por isso que ele pode preservar outras coisas, porque sua própria natureza não é diminuída.
Mas, o fato interessante é que, embora houvesse diferentes fontes de sal, havia pelo menos uma fonte de sal em Israel nos tempos antigos, que saía do Mar Morto e era o sal que estava bastante comprometido com gipsita [sulfato de cálcio hidratado ou gesso].
Se ele não fosse processado corretamente, poderia diminuir sua eficácia como sal. E literalmente ficaria sem gosto. Então, ele não poderia fazer o seu trabalho. Deixaria de ser o que era. Deixaria de ser capaz de preservar. Perderia o seu potencial e utilidade.
O que se fazia com ele? Se jogasse na terra, mataria todas as plantas. Nem sequer servia para se juntar ao esterco. Ele se tornava um problema.
Jesus já havia dito isso, provavelmente, em muitas ocasiões: você é o sal da terra. E Ele mesmo disse se o sal perde o seu sabor, então para nada serve.
Logo, o que Ele está dizendo aqui é exatamente isto. O que Ele está pedindo de você é isto: colocar o passado de lado, avaliar o presente e comprometer-se lealmente com Ele de agora em diante. Assim, Ele fará de você uma influência de justiça. Você se tornará sal da terra.
O curso de sua vida será alterado e você passará a ter um papel importante a desempenhar na terra e na sociedade, em prol dos interesses do reino de Deus.
Ser sal significa uma vida constante e perseverante, que conserva a justiça e fornece o “tempero” divino por onde você anda.
É algo que atinge o longo prazo, não é algo momentâneo. Não se trata de compromissos efêmeros e desprovidos de lealdade, tal como a multidão em João 6.
Pessoas assim são inúteis, não há lugar para elas no discipulado. O que resta a elas é o juízo eterno, o choro, o ranger de dentes, o fogo eterno, a segunda morte.
Jesus alerta para não começar a segui-lo até que esteja pronto para deixar o passado, até que o arrependimento e a fé conduzam ao pleno compromisso e a uma vida de serviço leal de longo prazo, para ser sal em um mundo decadente e apodrecendo. Você está colocando tudo nas mãos do Senhor: passado, presente e futuro.
Mantemos todas essas promessas? Nossas vidas estão cheias de momentos de fracasso. Momentos em que a família domina sobre a vontade do Senhor, em que o eu domina sobre a vontade do Senhor, em que as coisas dominam sobre a vontade do Senhor.
Há momentos em que nos perguntamos se a nossa fé é tudo o que deveria ser e se temos o que é preciso para terminar. Há momentos em que começamos, mesmo como sal, a perder nossa influência por causa do pecado em nossas vidas.
Momentos de falha, no entanto, não invalidam a direção do coração. E nós lamentamos esses momentos. Sabemos que eles vão estar lá enquanto estivermos ainda em nossa carne humana, mas eles não invalidam os desejos do coração.
Se isso é o que você deseja, se a vida eterna em Jesus Cristo é o que você anseia até o ponto em que seu passado, presente e futuro são entregues a Cristo, então você pode ser Seu discípulo.
Ele fecha com um convite no versículo 35: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”. Se você compreendeu, abrace isso. Não seja como aqueles que, quando ouviram e entenderam, rejeitaram e, em seguida, veio o juízo sobre eles, e já não podiam mais ver e entender (Lucas 8:10).
Deus está falando. Jesus está falando. Este é Seu chamado ao discipulado. Se você tem ouvidos para ouvir, se você ainda pode entender, então é melhor abraçar esse chamado, porque o dia pode vir quando você, mesmo ouvindo, não entenderá.
Pai, chegamos a Ti, no final desta grande seção das Escrituras, agradecidos pela verdade que nos transmite com tanta clareza e poder. Sabemos que isso vem de Ti, porque este é um padrão santo.
Está acima de nós e além de nós. É impossível. A única maneira de podermos abandonar o passado, a única maneira pela qual poderíamos experimentar o poder de ver isso, a única maneira pela qual poderíamos ser sustentados em um serviço fiel e privilegiado, leal por toda a vida, é pelo Teu poder.
É no dia do Teu poder que nos tornamos dispostos e capazes. Ajude-nos a saber que somente o Espírito de Deus, por meio da Palavra de Deus, opera em nós a vontade, a convicção, o arrependimento e a fé para seguir o Senhor Jesus Cristo desta maneira. Não é por nós mesmos, mas é de acordo com o Teu poder.
Senhor, experimentamos o poder do Espírito de Deus operando em nós, fazendo-nos regozijar-nos em um abandono, em uma avaliação, em uma aliança ao futuro, fazendo-nos regozijar-nos de que Tu fizeste um trabalho em nós que está além de nossa capacidade. Nós Te agradecemos pelo trabalho que Tu fizeste em nós.
Nós oramos, oh Deus, para que Tu trabalhes esta obra na vida dos outros, que Tu produzas um verdadeiro arrependimento, uma verdadeira fé e uma verdadeira devoção a Cristo que irá poderosamente ultrapassar todas as barreiras, que considerarão tudo como perda, resíduos, estrume, como Paulo chamou, em comparação com o conhecimento de Cristo e receber a vida eterna.
Sabemos que Tu não estás a pedir-nos que façamos isso em nossa carne humana, mas sabemos que devemos estar dispostos, como o Teu Espírito nos domina na direção de Cristo.
Oramos, Deus, para que Tu faças isso nos corações daqueles que estão aqui hoje que não vieram a Cristo e talvez alguns que pensam que vieram porque fizeram algum compromisso superficial.
Que haja uma obra verdadeira, obra poderosa do Teu Espírito Santo, para que as pessoas nasçam do Espírito. E nós Te agradecemos em nome de Teu Filho. Amém.
Esta é uma série de 2 sermões. conforme links abaixo.
01. O preço de seguir Jesus (Parte 1)
02. O preço de seguir Jesus (Parte 2)
Este texto é uma síntese do sermão “The Extreme Nature of True Discipleship, Part 2″, de John MacArthur em 23/10/2005.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
http://www.gty.org/resources/sermons/42-196/the-extreme-nature-of-true-discipleship-part-2
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno