O cristão de coração dobre

Antes da leitura deste texto, sugerimos a prévia leitura do livro do Profeta Ageu.

Sinto-me na obrigação de compartilhar esta palavra com todos aqueles que o Senhor permitir ter acesso à mesma. Impressiona como a Bíblia é um todo harmônico e como o Espírito Santo falou antes de Jesus através de figuras que representavam as “sombras das coisas futuras”. Em resumo: toda a Bíblia trata de Jesus e da igreja, em seus diversos aspectos.

Os apóstolos já tinham essa revelação e a expressaram em suas cartas, como Sara e Agar representando a velha e nova aliança, o sacerdócio de Melquisedeque como figura do sacerdócio de Cristo, dentre outros. Alguém já teve a revelação de ver na restauração dos muros de Jerusalém na época de Neemias, a figura da restauração da igreja.

Mas, o que nos é revelado no livro do Profeta Ageu? A palavra do Senhor emitida através de Ageu tinha um destino: dois homens, Zorobabel e Josué, um governador de Judá e, o último, sumo-sacerdote.

Qual era a situação desses homens, por que Deus queria os repreender? Bem, as Escrituras nos revelam que eles tinham algo a fazer por ordem do Senhor, que era a construção da casa de Deus.

Todavia, tornaram-se negligentes em seu ofício, não cumprindo a ordem do Senhor, começando e não continuando e, portanto, não concluindo a obra, posto se encontrarem envolvidos com os seus próprios negócios.

Ao invés de empenharem seus esforços naquilo que era do Senhor, gastavam-se no que era para eles mesmos. Com certeza não eram os únicos a agir dessa maneira, mas eram líderes e a palavra de exortação teria que vir primeiramente a eles.

Hoje, podemos nos perguntar quantos de nós somos Zorobabel e Josué. Um dia o Senhor nos chamou para a sua “soberana vocação”, mas com o passar do tempo para alguns pouco há construído do edifício de Deus, porque os cuidados dessa vida lhes roubaram as energias, o tempo, o ânimo, o vigor para a obra confiada pelo Senhor.

Não falo aqui de obra no sentido religiosamente impregnado em nossas mentes, sinônimo de ativismo. Falo de construção do edifício, da casa de Deus, que somos nós (I Co, 3:9; Ef., 2:21).

Essa é uma geração de pessoas cansadas, desatentas, ansiosas, estressadas. Uma parte disso se deve à tônica desse último tempo que se caracteriza por dias trabalhosos.

O faraó desse século, o diabo, implantou um espírito no mundo em que ninguém consegue ficar parado e muitos não podem. Assim como Faraó acrescentou trabalho aos filhos de Israel para eles não terem tempo de buscar a Deus, assim acontece hoje.

Só que ao lado disso, e o que é pior, essa é uma geração de cristãos, se é que se pode assim chamar, amantes do mundo. Muitos pensam que pelo fato de não estarem envolvidos em bebedices e glutonarias não têm o mundo no coração.

O mundo tem algo muito mais sutil do que o adultério, a mentira, a fornicação e tantos outros pecados dos quais suspiramos aliviados por não mais os termos na nossa prática diária: o desejo de ter, de ser, de sentir (I Jo., 2:16) é a essência do mundo e muitos dos que se dizem cristãos hoje estão tão envolvidos nos projetos alimentados por tais desejos que se tornaram negligentes na construção da Casa do Senhor. São de pouca oração, pouco jejum, pouca aspiração celestial, pouco compromisso. Algumas causas disso:

Medo do futuro

A ansiedade pelo dia de amanhã, pelo que comeremos ou com o que nos vestiremos tem levado cristãos a negligenciar uma vida de edificação no Senhor. Entremetem-se em toda sorte de ocupação pelo simples fato de que não conhecem a Deus e não podem depender tranqüilamente dEle e nem têm tempo de conhecê-lo, posto que as suas ocupações de fato ou mentais, não lhes permitem.

E mesmo quando estão parados, sem nada para fazer, não conseguem se concentrar na presença do Senhor, dada a frivolidade de seus ânimos.
Tornam-se pais negligentes, que, no máximo, transmitem alguma teoria cristã aos filhos, mas não há poder suficiente fluindo de suas vidas para desafiá-los a uma vida cristã de verdade, são também falhos no serviço, verdadeiros inimigos da cruz de Cristo, que só pensam nas coisas terrenas (Fp 3:18-19) ou pensam nelas mais do que deviam.

Jesus já profetizou sobre a maior crise que haveria nesses dias que antecedem a sua volta: a crise da fé. A ansiedade é ausência de fé.

Falta de contentamento

Vivemos na era da ansiedade. Quase ninguém é satisfeito com nada. Sempre falta alguma coisa. Essa marca está em muitos dos discípulos-de-Jesus-de-hoje. Ao contrário dos discípulos do passado, que quando enxergavam a Cristo abriam mão de sonhos, bens, projetos, posições, da vida literalmente, os discípulos-de-Jesus-de-hoje tentam, em vão, conciliar o seguir a Cristo com seus desejos terrenos.

Esta é, sem dúvida, uma geração de cristãos consumistas, levados pelas tendências, pela moda, pelo desejo de Ter-apenas-porque-não-têm, e não porque precisam ter. Nesse caminho, muitos têm se embaraçado com os cuidados dessa vida. Têm se endividado, gastado tempo e esforço com a vaidade. Quantas mães não são presentes em casa e quantos pais não governam seus lares!

Quantas mulheres sonham com o dia de verem os filhos criados para acabar com o empecilho de poderem sair para ganhar um pouco mais de dinheiro na desculpa de cooperarem com o sustento do lar, mas que na verdade é para satisfazerem seu consumismo mundano! Quantos homens que não desafiam a família a uma vida constante de oração, jejum, meditação na Palavra!

As crianças frutos desses lares-quase-cristãos desde cedo são educadas nessa atmosfera mundana mesclada com encontros ‘espirituais’ no tempo que sobra para pensar nas coisas que são do alto. Essa geração de ambiciosos-ingratos, apesar de não admitir, entende ser melhor receber do que dar. A lógica do mundo está em seus corações.

Estagnação no caminhar

Um dia recebemos Jesus, provamos dEle como o cordeiro pascal. Ele é a nossa salvação e dessa maneira o conhecemos na porta de entrada do Reino de Deus. Que maravilha!!! Todavia, é só o começo. Muitos não desejam prosseguir para provar de Cristo como o maná diário, até que num estágio posterior estejam de tal modo incluídos nEle, como os hebreus ao entrarem na terra prometida.

Não podemos nos esquecer que essa geração é superficial. Tudo deve ser muito rápido, on line . Não há tempo para se aprofundar em nada. Muitos dos discípulos de Jesus começam a caminhar, experimentam algo de Jesus e isto os leva à tomada de posturas coerentes com a sua fé. Todavia, acampam-se nesse estágio e isso pode representar a sua ruína, pois a conseqüência é a ausência de frutos.

E todos sabem o fim do infrutífero: é cortado e lançado no fogo. Conhecer a Cristo é uma experiência diária e infinita. Entretanto, quanto mais se conhece dEle, maior é a necessidade de prosseguir a conhecê-lo. Não é apenas ter a doutrina em mente.

Isso não basta. É ter uma convivência PESSOAL com Jesus. O fruto disso é santidade, humildade, amor fraternal não fingido, transparência, desprendimento do mundo e tudo o mais o que é presente em quem de fato anda com Jesus. O andar com Jesus conduz naturalmente a uma vida de frutificação, isto é, a vida de Jesus sendo manifesta através de nossa vida e desafiando a outros a tê-la.

Por outro lado, a conseqüência da estagnação é se distrair com as coisas do mundo e, num estágio quase que imediatamente posterior, envolver-se com elas.

Um ponto a ser destacado no livro do profeta Ageu é que embora o povo empenhava seus esforços e trabalho na construção de seus próprios projetos, eles não alcançavam êxito.

Por que? O Texto Sagrado deixa claro que Deus os embaraçava, enviando alterações climáticas, pragas, a fim de que eles se arrependessem e voltassem à obra de edificação da casa de deus. Que misericórdia!! Quantos de nós já vimos ou já passamos por isso!! Quantas pessoas se esforçam para ter e nunca têm, não alcançam aquilo que perseguem.

Glória a Deus por já ter presenciado esta cena. Pessoas que foram embaraçadas a tal ponto que reconheceram sua corrida em vão e se arrependeram, voltando a edificar a casa do Senhor.

Após caminharem em círculos, reconheceram que estavam investindo nos seus próprios interesses para, finalmente, voltarem à soberana vocação e aí se tornarem cristãos de oração, cuja boca se enche da Palavra de Deus, porque o seu coração está cheio dela, voltado que está para os valores do céu. São felizes, bem-aventurados, pois são pobres de espírito, não ambicionam coisas altas, contentam-se com as pequenas. O reino dos céus lhes pertence.

Uma outra trágica consequência para os discípulos-de-Jesus-de-hoje, que vivem consultando a carne e o sangue, é a frieza, a apatia pela volta de Cristo. No dizer e no cantar proclamam que o esperam. E até pregam isto ao pobre pecador.

Mas a quantidade de projetos de curto, médio e longo prazo que nutrem no coração, ainda que sutilmente, desmentem que estão vigiando e aguardando seu Mestre. Não nos esqueçamos que este é um tempo profético. Vivemos os dias que a Palavra fala em que seria difícil ser cristão, em que muitos apostatariam da fé, e muitos não teriam óleo em suas lâmpadas, em que o amor se esfriaria e a fé seria escassa.

São tempos de falsas doutrinas e falsos profetas, de homens amantes de si mesmos e mais amantes dos deleites do que de Deus. É tempo de vigilância e de apego à Palavra.

Se possível fosse, até os escolhidos seriam enganados por essa lógica mundana e se não fossem abreviados esses dias, nenhuma carne se salvaria. Mas, em meio a isso tudo não há na grande parte dos cristãos uma expectativa real e constante pela volta de Jesus.

Essa expectativa não é emocional. A Bíblia nos diz o sinal de quem realmente tem essa esperança: a si mesmo se purifica. Limpa-se dos valores do mundo, volta-se diariamente para o Senhor, na esperança de gozar, por mais um dia, da sua doce presença.
Todavia, a volta de Jesus, para muitos, seria uma frustração para os seus planos terrenos.

É tão intrigante como os cristãos antigos ansiavam por esse dia, a ponto de Paulo ter que lhes escrever acalmando os ânimos, esclarecendo-lhes, pela revelação do Espírito que lhe era abundante, que naquela geração não aconteceria o cumprimento do que vemos hoje em nossos dias. Mais recentemente, por volta de dois ou três séculos para cá, os cristãos compunham hinos belíssimos, que hoje estão fora das paradas de sucesso, baseados no anseio que tinham por Jesus e sua volta.

Eles cantavam: “quem ama este mundo no céu não tem nada, mas quem tem Jesus Cristo no céu tem morada”; “riquezas não preciso ter, mas sim celestes bens…com Cristo estou contente, Ele me satisfaz…”; “anelo por Cristo Jesus salvador…precioso é Jesus para mim…”; “quando se fizer chamada lá estarei…”; “não sei quando Cristo Jesus há de vir e nem qual o dia em que hei de partir, mas eu sei que o falar de Jesus o meu rei, só isso será céu prá mim….”, dentre outras riquezas do repertório cristão que hoje parecem não inspirar muito os que enxergam muitas belezas nessa terra. Que aquele dia não nos surpreenda como o ladrão!

Que possamos amar a volta de Jesus e ansiar por ela, não nos momentos em que esse mundo revela explicitamente sua real aparência, mas nos momentos de maior satisfação e realização possamos dizer: isso aqui é bom, mas eu espero e continuarei esperando pelo meu Senhor, pois esse mundo com suas realizações passageiras não me ilude, distrai ou satisfaz. Ninguém que milita no exército do Senhor pode se distrair com seus próprios negócios, esquecendo-se daquele que o chamou. Que o Senhor nos revele essas coisas!!

Sei que a quantos o Espírito revelar esta Palavra, também revelará como vivê-la, em equilíbrio, paz, firmeza e seriedade. A promessa para quem se gasta na construção da casa de deus é vê-la cheia da glória do Senhor. Não há vida cheia do Espírito se não há casa a ser cheia por Ele. Amém. 

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1 Response

  1. Adalberto Lima disse:

    Glória a Deus, leia até o final, essa carta veio por meio da inspiração do Espírito Santo, despertemos mesmo que o sono venha!!!
    Resistência ao sono da indolência.
    Servo Adalberto Lima

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