Uma geração construindo cisternas rotas

No crepúsculo da minha vida, com a herança espiritual que Deus me deu de avivamentos e experiências sobrenaturais. Eu pergunto: o que minha geração vai passar para a próxima geração? Como podemos passar o sobrenatural para uma outra geração?

Necessidade Desesperada de uma Visitação de Deus!

O que vejo nas igrejas hoje me preocupa. Ha cada vez mais conflitos e brigas internas e cada vez menos ênfase sobre avivamento. Os seminários e cursos sobre sucesso, crescimento e conflitos interiores são cada vez mais populares. Mas ninguém se interessa pela oração. O entusiasmo por mudanças estruturais é grande, enquanto a fome por renovação espiritual é rara. As igrejas crescem por transferência de membros ou por pessoas que gostam das programações, mas há pouco crescimento por genuínas conversões. Um bom sinal é que algumas vozes proféticas estão levantando para falar sobre estas coisas.

Precisamos desesperadamente de uma visitação de Deus entre nós! Há uma tendência de todas as organizações, inclusive da igreja, de ter muita força e visão no começo. Tornam-se movimentos fortes e sadios. Mas depois começam a decair, e se esta tendência não for revertida, chegará ao estágio onde Deus retira sua mão. Deus escreve em cima destes movimentos estagnados: “Icabode — a Glória se apartou dele”. Isto tem acontecido e está acontecendo em muitos lugares ainda hoje.

Pela minha observação, tenho concluído que este processo é inevitável, a menos que seja revertido por uma visão forte e corajosa, capaz de tomar decisões duras no caminho descendente, e/ou por uma renovação ou avivamento enviado por Deus.

Vejamos a passagem de Jeremias 2.11-13. O ministério de Jeremias estendeu-se durante os reinados de cinco reis. Ele ministrou durante o tempo do rei Josias, e por isso presenciou avivamento e renovação naquela época. Mas apesar deste avivamento ter sido muito importante e poderoso, só durou até a morte de Josias.

Veja o que Jeremias disse:

“Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto que não eram deuses? Todavia o meu povo trocou a sua Gloria por aquilo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, oh céus, e horrorizai-vos! ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas.”

Cisternas são necessárias: são legitimas: existe um uso apropriado delas. Mas o problema com cisternas ou recipientes de água é que apesar da sua utilidade para captar e guardar a água da chuva para épocas quando não há chuva, podem também tornar-se em lugares de poluição e estagnação, e podem ficar trincados e vazar. Neste caso, ficam inúteis.

O povo de Israel estava num lugar onde ignoravam seu Deus completamente. Jeremias 2.5 diz que haviam se afastado dele, e no versículo 7 diz que fizeram da herança de Deus uma “abominação”. Os sacerdotes estavam calados. Os governantes tinham transgredido, e os profetas estavam profetizando por meio de outros deuses. Era uma hora negra na historia do povo de Israel. Abandonaram a Deus, e colocaram no lugar “cisternas rotas”, feitas por si mesmos.

Substitutos para a Realidade na Igreja Hoje

Quero mostrar algumas coisas que os evangélicos usam hoje como substitutos para “funcionar”. Obviamente, embora pensemos que estamos funcionando com estes substitutos, estamos fazendo o que Paulo disse para não fazer: comparar-nos conosco mesmos (2 Co 10.12). Temos os padrões errados para medir o sucesso. Sentimos que temos vida porque estamos crescendo. Mas um exame mais minucioso revelará provavelmente que estamos crescendo de formas não muito saudáveis.

Estou usando a palavra “substituto”. Eu poderia usar a palavra “ídolo”. Poderia usar a palavra usada em 2 Crônicas 7.14: “maus caminhos”. Seria mais correto.

1) Quero começar com tecnologia sem limites. A tecnologia exerceu uma influência poderosa sobre esta geração em particular. Esta geração viu mudanças mais rápidas do que qualquer outra geração anterior na face da terra. Esta mudança rápida em tecnologia nos afetou como indivíduos e também afetou a igreja que convive com esta sociedade de ritmo acelerado.

Tecnologia sem limites substitui a intervenção sobrenatural de Deus. Sempre tem algo mais que os pastores podem tentar para motivar, ou trazer crescimento e ânimo: mais um programa, mais uma técnica, mais um truque. Recorremos a estas coisas, e deixamos de buscar uma intervenção sobrenatural de Deus. Assim demora mais para esgotarmos nossos próprios recursos e depender Dele.

2) O segundo é evangelismo sem convicção de pecados em contraste com arrependimento radical. No anseio de ter crescimento e sucesso, temos nos excedido em tornar o nosso produto atraente e em procurar satisfazer o “cliente”.
As pessoas vêm para Cristo sem realmente confrontar sua culpa e seu pecado. A maneira como se tem o primeiro encontro com Cristo tem grande influência em como se crescerá Nele. É muito difícil edificar uma vida cristã num fundamento sem arrependimento.

3) Terceiro, aconselhamento cristão está substituindo o retorno à cruz. Se o aconselhamento cristão não direciona as pessoas à cruz, à morte para si mesmo, e à plenitude do Espírito Santo, estamos ensinando um atalho mais fácil. Mas será uma solução temporária e logo as mesmas pessoas estarão de volta na sala de aconselhamento precisando de mais ajuda, de mais uma muleta. Temos de voltar à cruz para mostrar que Cristo não só morreu por nós. Mas que nós morremos com Ele, e que podemos ser libertos da vida carnal e do pecado, e viver uma vida vitoriosa. Infelizmente, o aconselhamento nem sempre leva as pessoas a voltar para a cruz.

4) O quarto substituto é homilética focada no homem em contraste à pregação que aponta para Deus. Consiste em pregar sobre os desejos e necessidades do homem, ao invés de pregar sobre os desejos e plano de Deus. A maioria das pessoas na congregação está interessada em resolver os próprios problemas. O pregador sabe disso, e por isso dá um pouco de Palavra e um pouco de psicologia. Ministra para as necessidades conscientes, e as pessoas voltam para casa com uma solução temporária que dura poucos dias. Estas pessoas precisam é de serem apresentadas a Deus! Precisam conhecer a Ele! Grande parte da congregação não sabe quem é o verdadeiro Deus.

5) Um outro substituto é mediação profissional no lugar de reconciliação bíblica. Não é raro atualmente que uma igreja ou denominação inteira se envolva com processos legais e litígios. Ignora-se quase que universalmente a instrução de 1 Coríntios 6, onde os cristãos são instruídos a não irem ao tribunal diante de incrédulos. Gastam-se quantias enormes de dinheiro nestes processos.

Será que nos esquecemos que os cristãos receberam a mensagem de reconciliação e o ministério da reconciliação? Mas geralmente deixamos isto de lado nas igrejas e recorremos à mediação profissional no lugar daquilo que Deus proveu.

6) Outro substituto é oração focalizada no grupinho próprio ao invés de intercessão publica para a igreja universal e o mundo. Graças a Deus pelos grupinhos de oração: nasceram junto com a primeira igreja. Mas geralmente o grupinho de oração focaliza quase que exclusivamente em preocupações pessoais, familiares e do próprio grupo. Não é o tipo de oração ampla que traz progresso em missões ou conduz a igreja em vitória nesta era pós moderna.

7) Depois temos a ortodoxia evangélica no lugar de encontros verdadeiros com o Espírito Santo. É muito fácil ser evangelicamente ortodoxo e concordar com uma declaração de fé, mas é algo bem diferente levar nosso povo a uma experiência com o Espírito Santo. Ele é a Pessoa que foi enviada para formar Cristo em nós. E para fazer de nós um povo santo e consagrado. Esta é a Sua tarefa. Não temos caminhado muito com Ele neste propósito.

8) Um outro substituto é contribuir visando beneficio próprio, ao invés de contribuir para o Reino. A. B. Simpson certa vez pregou um sermão sobre sete tipos de contribuição. Destes, seis eram classificados como voltados para si mesmo. Por exemplo, contribuir para o salário do pastor traz benefícios, pois ele serve a você e à sua família. Ajudar comprar instrumentos musicais para a igreja também tem um retorno pessoal. Não são formas erradas de contribuir, mas não representam a forma mais difícil que e realmente dar onde não há possibilidade de ganhar algo de volta. E dar heroicamente, fora do seu círculo de benefícios. Isto ocorre quando você dá a missões, a trabalhos de recuperação, ao evangelismo. Isto é bem mais raro.

9) Mais um substituto e a nova cruz versus a velha cruz. Foi A. W. Tozer que mostrou esta diferença entre a nova e a velha. Segundo ele, “a nova cruz não mata o pecador; apenas oferece-lhe uma nova direção. Estimula-o a viver de maneira mais limpa e mais feliz, e resgata seu auto-respeito. Aqueles que gostam de se afirmar, diz: ‘Venha e se afirme em Cristo’. Ao egoísta, diz: ‘Venha e gabe-se no Senhor’. Aquele que anda procurando sensações e emoções, diz: Venha e delicie-se nas sensações tremendas que há na comunhão e no louvor cristão’.Visualizar alterações (abrir em uma nova aba)

“Mas a velha cruz é um símbolo de morte. Representa o final abrupto e violento do ser humano. O homem que tomasse a sua cruz e começasse a caminhar nos tempos romanos já havia dado adeus aos seus amigos. Ele não voltaria. Não estava apenas redirecionando a sua vida; iria terminá-la. A cruz não negocia. Não modifica parte da vida. Não poupa nada: mata o homem por completo e para sempre…”

Estamos conduzindo as pessoas hoje a uma cruz que foi desinfetada, polida e que não trata com o velho homem, como o faz a velha rude cruz. Todos sabem que a cruz é um enorme tropeço. É difícil “satisfazer o cliente” e oferecer uma religião baseada na cruz. Temos tentado fazer justamente isso. Mas é um fracasso total.

10) Estamos adorando o louvor no lugar de adorar a Deus. Estudamos o louvor, conversamos sobre o louvor, dissecamos o louvor, para ver que tipo de louvor faz sentido para nós. Até discutimos sobre o louvor. Esquecemo-nos que o louvor é para Deus. E não para nós.

Os Substitutos Não Funcionam

Por quanto tempo a igreja evangélica vai tentar viver com os substitutos? A verdade é que os substitutos não funcionam. No principio. Deus falou claramente sobre substitutos Ele rejeitou a oferta de Caim como inaceitável, e aceitou a oferta de Abel. No segundo mandamento. Deus reforçou que “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma…” (Êxodo 20.4). Em Atos 8.18- 24. Lemos que Simão, o ex-mágico, foi severamente repreendido porque julgava “adquirir por meio de dinheiro o dom de Deus” (o Espírito Santo). Em Apocalipse 2 e 3. Deus nos lembra das igrejas no primeiro século que já estavam tentando funcionar com substitutos, depois de apenas 35 a 40 anos. E cinco das sete foram exortadas a se “arrependerem”!

Precisamos compreender que quando usamos substitutos, estamos roubando Deus da sua gloria. Ele já disse: “Eu sou o Senhor teu Deus. Deus ciumento…” (Êxodo 20.5). “A minha glória não a darei a outrem” (Isaias 42.8). Estamos roubando Deus da sua glória quando tentamos funcionar com substitutos. Estamos levando nosso povo por caminhos errados. Estamos dando a impressão que está tudo bem. Tudo não está bem. Estamos tentando viver com cisternas rotas.

Precisamos reconhecer que pagamos um preço muito elevado por substitutos — preço elevado em relação a nossos filhos, pois podemos perdê-los por nunca terem visto o sobrenatural na vida de seus pais. Isto não transmitira o cristianismo para a geração deles. O cristianismo sempre está a apenas uma geração de extinção. Veja a terra da Turquia, por exemplo, aquela terra das igrejas do Novo Testamento (as sete igrejas do Apocalipse, e muitas outras, como da Galácia). Hoje há somente quinhentos a seiscentos cristãos entre os mais de 60 milhões da população total. O cristianismo pode extinguir-se. Não podemos sobreviver com substitutos.

Estou fazendo agora a oração de Salmo 71.17.18: “Tu me tens ensinado, ó Deus desde a minha mocidade. e até agora tenho anunciado as tuas maravilhas. Não me desampares, pois, ó Deus, até a minha velhice e às cãs, até que eu tenha declarado a presente geração a tua força, e às vindouras, o teu poder.”
Eu achava antes que éramos responsáveis somente por uma geração, aquela em que vivemos. Não penso mais assim. Somos responsáveis por esta geração e pela próxima, a geração de nossos filhos. Temos de passar a fé para eles, e agora estou acrescentando mais uma, a geração dos nossos netos.

Deus é um Deus de Abraão, Isaque, e Jacó. Ele é um Deus que guarda Sua aliança para mil gerações, e Seu plano desde o principio era que uma geração o passasse para a próxima, e assim sucessivamente. Não podemos perder uma única geração.

Qual é o Segredo?

O segredo é encontrado em palavras como “obras maravilhosas”, poder” e “obras tremendas” — expressões que refletem todo esse assunto do sobrenatural. Nossos filhos e netos precisam ver o sobrenatural nas nossas vidas, se é que vão abraçar a fé na sua geração. Agostinho disse que cada geração precisa se apoiar nos ombros da geração anterior, e alcançar posições cada vez mais altas e mais profundas. Esta é minha oração por todos nós.

Ó Deus, estamos pagando um preço altíssimo por substitutos! Levanta pastores e lideres que ensinem o povo e que guiem a Igreja a renovação e avivamento. Oramos em nome de Jesus!

Arnold Cook

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