Evolução: ciência ou ideologia?
Desnudando Darwin: ciência ou ideologia?
Ou a relação incestuosa da mídia brasileira com a nomenclatura científica
“Se se pudesse demonstrar a existência de algum órgão complexo que não pudesse de maneira alguma ser formado através de modificações ligeiras, sucessivas e numerosas, minha teoria ruiria inteiramente por terra.” Charles Darwin, in A origem das espécies, p. 161
(Leia mais em A caixa preta de Darwin, de Michael J. Behe, que aceitou o desafio darwinista)
“É absolutamente seguro dizer que, se você encontrar alguém que afirme não acreditar na evolução, esta pessoa é ignorante, imbecil ou insana (ou maligna, mas eu prefiro não considerá-la assim).” Richard Dawkins, eminente zoólogo, cientista, autor e professor da Oxford University
Teoria da Evolução… por que questionar esta teoria científica? Ela não é um dos modelos científicos de maior aceitação entre biólogos e demais cientistas? Todos os leigos, apesar de a maioria desconhecê-la completamente, “confiam” nela. Por que então questionar na mídia o lugar de honra que lhe foi concedido pela Academia? “Todos os biólogos e cientistas aceitam a teoria da evolução”, “Não há crise no neodarwinismo” é o que é propalado com destaque pelos cientistas. Mas será que é assim mesmo?
Há mais de 30 anos (isso mesmo – mais de 30 anos!) o paradigma neodarwinista (ou teoria sintética – combinação do Darwinismo clássico com a genética mendeliana) vem apresentando dificuldades teórico-empíricas discutidas intramuros, publicamente em alguns jornais e revistas especializados bem como em livros. O interessante é que os autores são todos cientistas evolucionistas de renome internacional.
Mas o mais interessante mesmo é a postura da mídia brasileira em relação a tão importante fato: silêncio total!
O que está ocorrendo com o neodarwinismo é o que Thomas S. Khun brilhantemente apontou no seu A Estrutura das Revoluções Científicas (1998, São Paulo, Perspectiva): quando existem anomalias que a teoria não previu e às quais não consegue mais responder, o paradigma entra em crise, teorias ad hoc são criadas pelos cientistas na tentativa da manutenção/salvação do modelo científico. Quando isso não ocorre, um novo paradigma científico se faz necessário. Kuhn, contudo, não estipulou quantos anos de anomalias não-resolvidas seriam necessários para o surgimento de um novo modelo científico…
Os paradigmas em física são mais rapidamente modificados. Por quê? Será que os físicos sabem de ‘algo mais’ para o qual não há saída, a não ser a humilde resposta sobre as origens do Universo “Não sabemos”? A ciência não é omnicompetente…
Ao longo desses mais de 30 anos, o que se questiona pelo rigor do método científico é: qual mecanismo teria ocasionado, ao longo do tempo (bilhões de anos), o processo evolutivo da origem da vida – Elementos químicos adequados + forças naturais + tempo (bilhões de anos) + acaso (seleção natural + mutações genéticas). A abiogênese [teoria da geração espontânea], sem nenhum respaldo do método científico (Redi e Pasteur há muito inviabilizaram esta hipótese), é aceita como tendo produzido o primeiro ser vivo simples de uma base não-viva que se transformou num ser vivo mais complexo. É engraçado e até irônico: um sapo ser beijado por uma princesa e transformado em príncipe é história da carochinha. Agora, um suposto ser unicelular (inobservado) ao longo de bilhões de anos se transformar em Australopithecus e depois em Charles Darwin (inobservado), isso sim, é considerado ciência!
Ironia à parte, alô Popper, alô Kuhn, alô Feyerebend, anunciaram o fim da Ciência. Precisamos de vocês, câmbio… cambrio… cambriano… O Big Bang da Vida – o tendão de Aquiles das teorias da evolução!!!
Não há medição científica confiável além de 1 milhão de anos (Dr. Carl Swisher e Dr. Garniss Curtis, do Institute of Human Origins, Berkeley, especialistas em geocronologia, Time, March 4, 1994, pp. 33 e 33).
Cheiro de metafísica…
Não são 30 dias de debates. São 38 anos. Jornalistas científicos deveriam considerar o questionamento levantado por G. A. Kerkut (evolucionista) em relação à evidência inadequada de sete importantes inferências evolucionistas [Teoria Geral da Evolução]:
1. Coisas não-vivas deram origem a organismos vivos;
2. A abiogênese ocorreu uma vez;
3. Os vírus, bactérias, plantas e animais são todos inter-relacionados;
4. Os protozoários deram origem aos metazoários;
5. Vários filos de invertebrados são inter-relacionados;
6. Os invertebrados deram origem aos vertebrados; e
7. Peixes, répteis, aves e mamíferos tiveram origem ancestral comum. In Implications of Evolution, New York, Pergamon, 1960, pp. 150-157.
Até hoje, nenhum cientista evolucionista solucionou estas dificuldades teórico-empíricas. Percebe-se, contudo, no que é veiculado nas reportagens científicas uma certa preocupação quanto ao tempos verbais: todos no condicional. Isso é bom porque não atribui como “fato” determinadas descobertas. Contudo, não é salientado para os leitores quais aspectos da teoria neodarwinista estariam sendo corroborados/questionados.
Por que essa omissão? O que se vê no jornalismo científico, supostamente objetivo, é um jornalismo ideologicamente naturalista mascarado de jornalismo científico. Pseudo-jornalismo científico a ser desmascarado. Com muito rigor científico.
Ciência fundamentalista
Onde é que fica a visão kuhniana em toda esta história? As anomalias existem, o modelo teórico não consegue mais respondê-las, a teoria entrou em crise, há debates intramuros, foram criadas teorias ad hoc (será que diferem do deus das lacunas? – parece que não) para salvar/manter o paradigma. Estamos vivendo a transitoriedade crítica do neodarwinismo. Há outras propostas, como o Planejamento Inteligente (Michael J. Behe – A caixa preta de Darwin, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1997), mas a Nomenklatura acadêmica nem sequer deseja ouvir o pleito dos inovadores.
Estranho paradoxo esse, mas o grande empecilho para o livre e pleno desenvolvimento da ciência são os cientistas fundamentalistas. Galileu Galilei foi condenado pela Igreja, mas com o aval do conhecimento científico da Academia que, unanimemente, acreditava ser a Terra o centro do Universo… Já acreditaram também que a Terra era quadrada. E cientistas de renome internacional daquela época. Não muito diferente dos renomados cientistas modernos. Os cientistas não são tão assépticos quanto seus aventais… Pasteur que o diga!
Nas reportagens científicas, não há uma distinção no termo teoria da evolução: Teoria Especial da Evolução (Dobzhansky) – microevoluções ocorrem intra-espécies e são observadas e empiricamente comprovadas; Teoria Geral da Evolução (Goldschmidt) – macro-evoluções ocorrendo inter-espécies, eventos inusitados, inobservados, ocorridos uma vez em passado mui distante, não têm como ser comprovados empiricamente. Por que essa distinção precípua não é feita? A Teoria Geral da Evolução é apresentada como se fosse fato inconteste.
Toda idéia ou teoria científica deve ser debatida para o bem da ciência. Esta é a máxima propalada pelos cientistas, mas pouco seguida por eles mesmos. Especialmente a Teoria da Evolução. Por quê? Porque ela permeia toda a nossa Weltanschauung cultural atual. Por que o neodarwinismo não pode ser submetido ao rigor do método científico? Por que não o debate público de suas teorias? O modelo neodarwinista deve ser trazido para este debate racional, porque como teoria não pode arrogar o status de “fato” acima de quaisquer suspeitas em contrário. Se não, temos aqui o exemplo ímpar de theoria perennis. Não fazer isso é condenar o mundo a um poço profundo de ignorância intelectual. Se o paradigma científico estiver errado, quais foram/são/serão as conseqüências para as pesquisas biológicas???
O método científico (Gewandsznajder, Fernando. O que é o método científico? São Paulo, Pioneira, 1989) ainda é o parâmetro aceito pela Academia para a aceitação de quaisquer teorias científicas. O neodarwinismo passaria pelo rigor do método científico? Parece que não. Por que este modelo teórico não é considerado pelos jornalistas científicos por este critério aceito pela própria ciência? É o medo de Darwin ser encontrado nu? De o neodarwinismo ser encontrado em falta como teoria científica? O que há por trás das reações emotivas de cientistas fundamentalistas/ultra-darwinistas como Richard Dawkins, Daniel Dennett e outros? Os limites da seleção natural não seriam uma razão muito forte para se considerar novas teorias (Stephen C. Meyer, filósofo em ciências, Cambridge University)? Qual a razão desse silêncio tumular da mídia sobre tão importante assunto?
Destruindo ídolos
Esse “silêncio” da mídia em torno das dificuldades teórico-empíricas do neodarwinismo é devido ao fato de Darwin ser um ícone científico. Ídolo. É, mas todo ídolo está destinado à destruição. Marx e Freud, como ídolos científicos já foram. Quem será o Finéias de Darwin? Nietzsche disse, em algum livro, “Derrubar ídolos – isso sim, já faz parte de meu ofício”. Esse espírito nitzscheano está em falta no jornalismo brasileiro. Teoria Especial da Evolução – Darwin tem toda a razão. Teoria Geral da Evolução – Darwin não tem razão nenhuma, está nu e há algo de podre na Nomenklatura científica em não querer divulgar isso para os estudantes e o público leitor não-especializado.
Quando Karl Popper concluiu em 1976 que “o darwinismo não é uma teoria científica testável, mas um programa de pesquisa metafísica” [Unended quest: an intellectual autobiography, La Salle, IL, Open Court, p. 168], qual foi a reação da Nomenklatura científica? Lidar com a proposição popperiana, demonstrar o contrário ou negar-lhe cidadania no reino científico por não “rezar” pelo cânon vigente? Não lidaram com a proposição popperiana e quase lhe cassaram a cidadania no reino científico – este, por razões pragmáticas de sobrevivência na Academia, abjurou de muitas de suas teses céticas em relação à ciência biológica. Patrulhamento ideológico. Verdadeira Inquisição. Sem fogueiras… Tratamento diferente do dispensado a Galileu? Não!
Logo em seguida, Collin Patterson, paleontólogo, evolucionista, do Museu de História Natural de Londres, no dia 5 de novembro de 1981, no Museu Americano de História Natural, diante de uma platéia formada por cientistas americanos, todos evolucionistas, perguntou:
“Vocês podem me dizer alguma coisa sobre evolução, qualquer coisa que seja verdade?”
A platéia ficou muda. São passados 17 anos e a pergunta de Patterson continua sem resposta. Nenhum Nobel em Biologia, até hoje, respondeu à sua pergunta… Collin Patterson, pressionado pela Nomenklatura científica, também cedeu um pouco nas suas críticas ao neodarwinismo e tentou, mais tarde, explicar o inexplicável de sua famosa pergunta. Por quê? Medo de perder a reputação acadêmica e o cargo no Museu de História Natural em Londres. Diferente de Galileu, que ousou ir contra a Academia do seu tempo…
Em 1985, Michael Denton, Senior Research Fellow, especialista em Genética Humana, da Universidade Otago, Nova Zelândia, escreveu o livro Evolution: a theory in crisis [inédito em português] apresentando suas objeções ao neodarwinismo: há muitos órgãos altamente complexos, bem como sistemas e estruturas que não podem ser concebidos como tendo surgido em termos de acumulação gradual de mutações ao acaso, ao longo dos anos. Como era de se esperar, a Nomenklatura reagiu e continua reagindo às objeções do Dr. Denton. Este, contudo, vem resistindo aos ataques pessoais desfechados. Escreveu outro livro: Nature’s destiny – how the laws of biology reveal purpose in the Universe [também inédito em português].
Phillip E. Johnson, professor de Direito na Universidade da Califórnia, Berkeley, em 1993 escreveu um livro – Darwin on trial [a ser publicado no Brasil em meados de 1999]. Por esse e por outros livros publicados, como Defeating Darwinism by Opening Minds, Objections Sustained e Reason in the Balance, o Dr. Johnson vem sofrendo ataques virulentos da Nomenklatura científica, porque ele não dispõe de formação científica afim. Acabaram de negar o direito a Darwin de escrever o seu A origem das espécies (que lida com tudo, menos com as origens das espécies… Leia e comprove): estudou Teologia em Cambridge e foi naturalista muito mais por hobby do que por formação acadêmica…
Abrindo a caixa preta
Mas eis que surgiu Michael J. Behe, bioquímico, professor-assistente na Lehigh University, Pensilvânia, com a tese do Planejamento Inteligente e da Complexidade Irredutível bem delineados no seu livro – A caixa preta de Darwin [Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1997]. Como era de se esperar, a Nomenklatura foi visceralmente contra. No neodarwinismo todos têm que ser como soldadinhos de chumbo: idênticos e uniformes. Qualquer “diversidade” é heresia. Mas entre os evolucionistas houve quem destacasse a proposição de Behe como uma que não pode deixar de ser examinada. Cum granum salis. Foram poucos os da Academia. Assim como com Galileu…
Há outros nesse crescente movimento do planejamento inteligente. Todos cientistas, biólogos, bioquímicos e filósofos de ciência de peso como Charles Thaxton, David Berlinski, Walter Bradley, William A. Dembski, Stephen C. Meyer, Jonatham Wells. Todos questionando a validade científica do paradigma neodarwinista em muitos aspectos.
Há mais de 10 anos (isso mesmo – há mais de 10 anos) venho salientando isso a diretores de redação/editores de Ciência dos maiores veículos de comunicação do Brasil: Veja, Folha de S. Paulo, e recentemente, Superinteressante, Globo Ciência (hoje Galileu) e Época.
A resposta que obtive, até de ombudsman (Caio Túlio Costa et al.) é que iriam conferir se as minhas colocações realmente procediam. Ou então a resposta automática de Veja: agradecemos o seu interesse, blá, blá, blá… Dificilmente lidaram com os aspectos científicos salientados. A resposta mais precisa que obtive foi do diretor de Redação de Veja: não avaliamos o valor científico da pesquisa/achado, somente informamos. Numa reportagem seguinte, Veja se contradisse. Seus repórteres seguiram ‘cegamente’ os enunciados neodarwinistas…
O jornalismo científico tem relevância científica? Tem, porque é o jornalista quem difunde idéias e teorias científicas para os leigos. O jornalismo científico tem relevância social? Tem, porque é um dos elos que mostram a Academia como ela é à sociedade. Infelizmente, ao difundir idéias e teorias científicas, o jornalismo científico brasileiro não tem provocado o debate, não tem “ouvido o outro lado”. É preciso levantar o porquê de os cientistas evolucionistas não quererem o debate público dessas anomalias. Uma pista – os que praticam ciência normal se sentem ameaçados nos seus postos e pesquisas se passarem a questionar o modelo científico mais aceito pela Nomenklatura científica de fim de século: bolsas de estudos, fundos para pesquisas, reputação acadêmica, projeção na comunidade internacional, medo de ser tachado de louco, ignorante, crente do geocentrismo e outros epítetos desvairados usado pelos “sóbrios e elegantes senhores da Academia”… O debate em jornalismo científico deve ser a norma, e não a exceção. Scientia Qua Scientia [Wissenschaft] pelo rigor cético do método científico. Nada mais, nada menos.
Quanto à sua relevância social, o jornalismo científico precisa mostrar um outro ângulo desconhecido da Nomenklatura: o conceito popular da ‘integridade intelectual’ dos cientistas, e de que a ciência atualmente praticada é feita totalmente despojada de ideologia ou isenta de um particular Weltanschauung.
O jornalismo científico perdeu uma boa oportunidade de mostrar que é um jornalismo investigativo quando, ao longo de mais de 10 anos recebendo dados sobre o assunto, deixou de tornar conhecidas do público as muitas anomalias do neodarwinismo. Isso, mais por um posicionamento ideológico atrelado à Nomenklatura do que por amor à “verdade científica”. Um novo paradigma científico em Biologia está sofrendo as ores de parto, mas a KGB científica através de seus agentes deseja abortá-lo. Mas são muitos os biólogos, bioquímicos e cientistas evolucionistas que desejam ver este filho nascer. Vade retro Herodes (Dawkins, Dennett et al.)!
O jornalismo científico, ao cobrir idéias e teorias sobre a origem da vida, tem que ter interesse em formular perguntas – O que somos? De onde viemos? Ex-nihilo pode criar alguma coisa? A ciência tem competência nessa área ou ao formular essas teorias não está substituindo os “mitos religiosos” por “contos de fadas para adultos”? O Zeitgeist influenciaria a Weltanschauung dos que fazem ciência? Seriam os cientistas “objetivos”, “neutros”, dignos de confiança nas suas pesquisas? O que dizer das muitas fraudes ocorridas e que ainda ocorrem nos meios científicos?
Um mito refinado
À primeira vista estas perguntas podem parecer pueris, mas são fundamentais. São fundamentais porque as teorias científicas que temos sobre a origem do universo e da vida não diferem dos mitos religiosos: são inobserváveis e há um quê de onipotência naturalista. Quando Darwin elaborou sua teoria, ele o fez com velados interesses filosóficos naturalistas de sua época. Um mito refinado e bem apoiado até por um Zeitgeist onde impera o naturalismo filosófico travestido de ciência.
O jornalismo científico precisa informar ao público leitor que, ao contrário do que é veiculado na mídia, Galileu-herético enfrentou maior oposição dos luminares/pares da Academia de então. A mesma coisa Darwin. Não há mais como esconder a falência do paradigma neodarwinista – Empirica empirice tratanda! Em ciência, paradigma morto, paradigma posto. Apesar de posar como “ortodoxia científica”, o neodarwinismo já morreu. Que venha o novo paradigma – Planejamento inteligente!
Há, pelo menos, cinco crises dentro do atual modelo. Mesmo as teorias ad hoc criadas não conseguiram salvar a teoria, antes, trouxeram mais problemas:
1.Não-substanciação de um mecanismo darwinista de evolução;
2. Falha total dos estudos sobre a origem da vida em produzir um modelo teórico que funcione;
3. Inabilidade do mecanismo evolucionista em explicar a origem das adaptações complexas;
4. Falência da hipótese do ‘relojoeiro cego’ (Dawkins);
5. A evidência biológica de que a regra na Natureza é a estabilidade morfológica ao longo do tempo, e não mudança constante.
Se alguém percorrer as páginas de nossas revistas e jornais, apesar da ressalva feita por alguns jornalistas científicos de que as teorias científicas são construtos próximos da verdade, a evolução das espécies – em nível macro – é mencionada como se tivesse ocorrido. Empiricamente a verdade é outra… O registro fóssil diz não desde o tempo de Darwin. A biologia molecular também. A bioquímica idem. Alguns jornalistas tiveram acesso ao questionamento de abalizados cientistas evolucionistas. Outros não. Dos que sabiam, por que não lidaram com aquelas dificuldades teórico-empíricas? Desonestidade jornalística ou a presença de “camisa de força” nas redações imposta pelo Zeitgeist e pela Nomenklatura científica?
Depois do aqui exposto, alguns órgãos da mídia brasileira vão ter que lidar com as seguintes perguntas e hipóteses: Por que as dificuldades teórico-empíricas do neodarwinismo não são apresentadas ao público leitor? (PC) Em torno dessa, as seguintes perguntas foram concebidas: havia conhecimento da parte dos jornalistas científicos das “anomalias” não respondidas pelo neodarwinismo como paradigma científico? (P1) Se havia conhecimento, por que não considerar a proposição de Kuhn (A estrutura das revoluções científicas, especialmente o cap. 8) de uma crise paradigmática demandando o surgimento de um novo paradigma? (P2) Qual o lugar específico da “filosofia naturalista” da parte dos jornalistas na manutenção de um modelo científico que, apesar de ser considerado “o mais confiável” entre os cientistas, sugere ser mais metafísica do que propriamente ciência? (P3) Por que os jornalistas científicos não fazem distinção entre Teoria Especial da Evolução (micro-evoluções, intra-espécies, empiricamente comprovadas) e a Teoria Geral da Evolução (macro-evoluções, inter-espécies, empiricamente não-comprovadas) se esta distinção é precípua para a compreensão de todo o referencial teórico evolutivo? (P4) Por que os editores de Ciência não salientaram estas “anomalias” para seus jornalistas quando da elaboração de reportagens sobre o tema? (P5)
A hipótese central que sugiro para responder à pergunta central (PC) é a seguinte: as dificuldades teórico-empíricas do neodarwinismo não foram salientadas ao público-leitor por causa da Weltanschauung totalmente influenciada pelo naturalismo filosófico mascarado de ciência, conscientemente por parte de alguns jornalistas e inconscientemente da parte de outros. (HC) As demais hipóteses oferecidas às demais perguntas são estas: Conforme correspondência desse autor com algumas editorias de Ciência, já havia conhecimento dessas anomalias, outras desconheciam-nas completamente. Desonestidade jornalística das que sabiam e falta de atualização científica de outras. (H1)
Kuhn preconiza que há relutância da parte dos que praticam Ciência Normal em aceitar uma mudança paradigmática, partindo para ou esperando a criação de teorias ad hoc visando salvar o antigo modelo científico. Isso também se aplica aos que praticam Jornalismo Normal. (H2) A “filosofia naturalista” ocupa, consciente ou inconscientemente, o “topos epistemológico” não somente no Zeitgeist e Weltanschauung dos cientistas, mas dos jornalistas científicos também, sem nenhum questionamento desse posicionamento através do método científico. (H3) Esta distinção não é feita porque alguns jornalistas científicos não conhecem devidamente a Teoria da Evolução para fazer aos leitores este tipo de diferenciação teórica. (H4) As editorias de Ciências não salientaram estas “anomalias” teórico-empíricas do paradigma neodarwinista, pelo seu “reducionismo epistemológico” totalmente embasado na “filosofia naturalista”, em vez de seguir o rigor do método científico para a Teoria Geral da Evolução. (H5)
Ouvir o “outro lado”
A editoria de Ciência que publicar um sólido texto sobre as dificuldades teórico-empíricas do neodarwinismo terá que, para “ouvir o outro lado”, salientar os seguintes pontos essenciais: Ciência e Método Científico; Darwinismo: Ciência ou Filosofia (Fatos ou Fé); Origem da Vida; a Seleção Natural; o Registro Fóssil; a Explosão Cambriana e a Origem do Filo; Macro-evolução; Estase; Mutações; Homologia.
Existem artigos e livros de cientistas evolucionistas lidando com estes aspectos. Por que não “reduplicá-los”? Haveria um “filtro ideológico” sobre o que deve ser publicado ou não? Fique aqui registrado um primeiro passo da Folha de S. Paulo/Caderno Mais, que publicou reportagem, embora limitada, sobre as dificuldades desse modelo científico.
Este artigo é uma modificação de um projeto de trabalho apresentado no dia 16/11/98 à Coordenação de Pós-Graduação em Educação – Mestrado em Ciências, na Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), sobre a total omissão nos livros-textos de Biologia de 2° grau dessas anomalias. Projeto rejeitado sem direito a apelação… Apliquei-o ao jornalismo científico porque foi nas correspondências enviadas às editorias de Ciências que a idéia surgiu, de verificar se os mais iluminados estariam lidando com o tema. Ledo engano.
O jornalismo científico, pro bonum publico, deve se conscientizar de que o jornalismo nessa área é um apontar de horizontes. Educação, como pensar criticamente, e não a presente situação fossilizada pelo dogma mitológico do neodarwinismo – ideologia, no que se deve pensar (somente o que pontifica a Nomenklatura acadêmica). Não fazer isso é condenar toda uma geração de estudantes e leitores não-especializados a um profundo poço de ignorância científica e ser, em alguns casos, jornalisticamente desonesto!
Darwin morreu…Viva Darwin!!!
Esperando contra a esperança o surgimento de um novo paradigma em Biologia!
(1) James A. Shapiro, James Shreeve, Robert Shapiro e outros cientistas que o espaço não me permite citar.
Autor do texto: Enézio E. de Almeida Filho
Pesquisador em Educação em Ciências.