Visão Panorâmica de Hebreus

O livro de Hebreus pode ser intitulado como “A Superioridade ou Preeminência de Jesus Cristo”, pois essa é a mensagem da carta aos Hebreus. Ela fala da superioridade de Jesus Cristo sobre tudo e todos.

Vamos começar com uma introdução a Hebreus, e ela está nos três primeiros versículos. Mas, antes de olharmos para esses versículos, quero fazer algumas observações necessárias como base para o que vamos estudar.

Vamos iniciar uma das aventuras mais incomuns que você já passou, e isso é se aventurar pelo livro de Hebreus. Este é um livro tremendo. É um livro difícil. É um livro que contém muitas verdades profundas, difíceis de entender, caso não sejamos realmente diligentes e fiéis em nosso estudo. Há coisas aqui que estão além do entendimento, sem um profundo conhecimento do Espírito de Deus e um compromisso de compreender a Palavra de Deus em sua totalidade.

Meu ex-professor de Antigo Testamento, Dr. Feinberg, que também ensinou o livro de Hebreus – e eu fiz o curso dele – disse que você não pode entender o livro de Hebreus a menos que você entenda o livro de Levítico, porque o livro de Hebreus é baseado nos princípios do sacerdócio levítico.

Mas não entre em pânico e não se preocupe com sua falta de compreensão de Levítico. Quando terminarmos Hebreus, você terá uma boa compreensão de Levítico junto com Hebreus. Mas, pode ser útil você se familiarizar também com Levítico.

AUTOR DA CARTA AOS HEBREUS

A epístola aos Hebreus foi escrita por um autor desconhecido. Alguns dizem ter sido escrita por Paulo, outros por Apolo, alguns dizem ser Pedro o autor. Eu fico na mesma posição de grandes mestres da igreja primitiva, como Orígenes, que afirmou: ninguém sabe quem é o autor de Hebreus. E assim, durante toda esta série, faremos referência ao fato de que Hebreus foi escrito pelo Espírito Santo.

Foi escrito por um autor desconhecido, para um grupo de judeus sofredores e perseguidos em algum lugar do leste. Não em Israel, mas fora de Israel.

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DOS DESTINATÁRIOS DA CARTA

Não há referências a gentios no livro. O problema de gentios e judeus juntos na igreja não está aqui, indicando que a pequena congregação para a qual Hebreus foi escrito era estritamente judaica, pois não havia conflito entre gentios. Para esse grupo perseguido e sofredor de crentes e incrédulos judeus, o autor aos Hebreus escreveu, a fim de revelar os méritos de Jesus Cristo e da Nova Aliança em oposição à Antiga Aliança.

Não sabemos a localização exata desses hebreus, talvez habitassem em algum lugar perto da Grécia. Mas, sabemos que essa comunidade judaica foi evangelizada pelos apóstolos e profetas. E foi evangelizada, evidentemente, pouco tempo depois que Cristo viveu, morreu e ressuscitou.

Quando a carta aos Hebreus foi escrita, já havia um pequeno grupo, uma pequena congregação local de crentes. Incluídos como destinatários da carta aos Hebreus estavam também os incrédulos que, evidentemente, também faziam parte daquela pequena comunidade judaica.

Agora, ao contrário dos judeus de Jerusalém ou dos da Galileia, os destinatários de Hebreus nunca haviam encontrado Jesus. Tudo o que sabiam sobre Ele havia sido conseguido de segunda mão. Eles realmente não tinham nenhum escrito do Novo Testamento, como o conhecemos hoje, pois não havia sido compilado ainda.

E então, tudo o que eles conheciam sobre Jesus e o evangelho, eles obtiveram diretamente da boca dos apóstolos e dos profetas – e por profetas, quero dizer profetas do Novo Testamento. Desse modo, eles eram uma espécie de cristãos de segunda geração frutos do trabalho missionário apostólico.

DATA EM QUE A CARTA AOS HEBREUS FOI ESCRITA

Deve ter sido escrito entre algum tempo depois da ascensão de Cristo, que teria sido por volta de 30 d.C., e algum tempo antes da destruição de Jerusalém, que teria sido 70 d.C., porque Jerusalém ainda estava de pé no contexto da Carta.

Eu acredito que provavelmente Hebreus foi escrito bem perto dos anos 70, em algum ponto entre 60 e 69, provavelmente cerca de 65, porque tinha que haver tempo para o trabalho missionário apostólico ter começado, e nós sabemos que não havia realmente nenhum trabalho missionário apostólico de Jerusalém até pelo menos sete anos depois que a igreja foi fundada lá. Provavelmente, foi algum tempo depois que eles chegaram a essa pequena comunidade judaica.

E também, depois que aquela comunidade de judeus foi alcançada, transcorreu um certo tempo em que deveria haver crescimento espiritual, porque no capítulo 5, versículo 12, o Espírito Santo diz a eles:

Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento.

Em outras palavras: “Vocês tiveram tempo suficiente para ser maduros, mas, em vez disso, não são”. Então, teve que transcorrer algum tempo depois que os missionários apostólicos saíssem, estabelecessem a pequena congregação, e então eles teriam o suficiente para amadurecer espiritualmente.

Os destinatários de Hebreus ainda estavam no primeiro século. Eles ainda estavam perto do calor em termos da vida de Jesus Cristo, embora nunca O tivessem conhecido.

DESTINATÁRIOS DA CARTA AOS HEBREUS

Agora, aqui está a base para entender o livro, e é aqui que as pessoas ficam todas confusas, especialmente interpretando o capítulo 6 de Hebreus. Devemos entender que havia três tipos de destinatários desta epístola. Se você não entender isso, ficará muito confuso.

Se, por exemplo, como alguns disseram, admitirmos que tudo o que está em Hebreus foi escrito para cristãos, então haverá problemas monstruosos. Mas, também, Hebreus não pode ter sido escrito apenas para incrédulos, porque fala demais sobre os crentes. Então, a conclusão é que a carta deve ter sido escrita para uma combinação de destinatários.

E, de fato, havia evidentemente três grupos básicos de destinatários naquela pequena comunidade judaica para a qual o escritor da epístola escreveu:

Grupo 1: Cristãos hebreus

Havia naquela pequena comunidade uma congregação legítima de verdadeiros crentes em Jesus Cristo. Eles tinham saído do judaísmo. Eles haviam sido fundamentados e criados no Judaísmo. Mas, eles haviam nascido de novo. 

Eles se tornaram seguidores de Jesus Cristo e, naturalmente, o resultado disso foi uma tremenda hostilidade de seu próprio povo contra eles. Rejeitados por sua família, perseguidos e sofrendo, embora nunca tenham sido mortos – Hebreus aponta isso – eles sofreram muito.

Perseguidos, não apenas por seus próprios compatriotas judeus, mas também talvez por gentios. Eles já deveriam ter mais conhecimento, ser mais maduros, mas eles não eram. Eles não tinham confiança. Eles corriam o risco de voltar aos padrões do Judaísmo. Não correndo o risco de perder a salvação, mas correndo o risco de confundir a salvação com o legalismo, entendem?

Eles não conseguiam fazer uma separação clara entre a Nova Aliança em Cristo e todas as formas, cerimônias, padrões e métodos de sua antiga vida no Judaísmo. Eles estavam tendo dificuldades com essa questão. Ainda estavam presos, por exemplo, ao ritual do templo e à adoração no templo.

E é por isso que o Senhor, através de Hebreus, continuou falando com eles sobre um novo sacerdócio, um novo tipo de templo, um novo tipo de sacrifício, um novo tipo de santuário – melhor do que o antigo – porque eles ainda estavam presos ao antigo. Eles tinham ido além do Judaísmo ao receber Jesus Cristo, mas ainda mantinham muitos dos hábitos judaicos que tanto faziam parte de suas vidas, e isso era compreensível.

Especialmente quando seus próprios amigos e compatriotas começaram a persegui-los, eles tendiam a sentir a pressão disso e a se apegar ainda mais a algumas das antigas tradições judaicas para pelo menos ter um ponto de apoio em seus relacionamentos com seu próprio povo.

Fazer a ruptura com o Judaísmo era algo muito difícil. E assim, com toda a pressão que sofriam, juntamente com sua fé fraca e sua ignorância espiritual, eles corriam grande perigo de misturar o novo com o antigo. Eles corriam grande perigo de chegar a um Cristianismo ritualístico, cerimonial e legalista. Eles eram uma congregação inteira de fracos, como mencionado em Romanos 14.

Assim, o Espírito Santo dirigiu esta carta a eles para fortalecer sua fé na Nova Aliança, para lhes mostrar que eles não precisavam do antigo templo – que, aliás, em questão de alguns anos seria destruído por Tito Vespasiano, mostrando que Deus trouxe um fim a toda aquela era judaica.

Eles não precisavam mais do antigo sacerdócio Aarônico, o sacerdócio levítico. Eles não precisavam dos velhos sacrifícios do dia-a-dia. Eles tinham uma nova e melhor aliança, com um novo e melhor sacerdócio, um novo e melhor santuário, um novo e melhor sacrifício. E assim, Hebreus foi escrito para dar confiança àqueles crentes vacilantes.

O autor aos Hebreus estava falando aos cristãos, dizendo-lhes para se apegarem à melhor aliança, ao melhor sacerdócio, e não voltarem aos padrões do Judaísmo, mas para manterem esse novo relacionamento. Assim, o primeiro grupo de destinatários de Hebreus, então, são os cristãos hebreus.

Grupo 2: Hebreus não cristãos que estavam intelectualmente convencidos acerca do evangelho.

Você conhece esse tipo? Pessoas que conhecem a verdade, mas nunca se comprometeram com ela? Você já conheceu muitas pessoas assim, não é?

Esses são aqueles que já ouviram a verdade de Jesus Cristo, acreditam, estão intelectualmente convencidos de que Cristo é realmente quem Ele afirmou ser, mas eles não estão dispostos a assumir um compromisso de fé com Ele.

E assim, neste pequeno grupo em particular, havia alguns daqueles hebreus não-cristãos, como há em todos os grupos. Inclusive, existem pessoas assim que estão aqui esta noite. Pessoas que estão convencidas de que Jesus é o Cristo, mas nunca se comprometeram com Ele.

E assim, esses hebreus não-cristãos intelectualmente convencidos eram os destinatários de algumas das declarações que o escritor aos Hebreus tinha a dizer. Eles acreditavam que Jesus era o Messias, mas não estavam dispostos a recebê-lo pessoalmente. Por quê? Porque eram como aqueles mencionados no Evangelho de João 12:42-43, que diz:

João 12
42 Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.
43 Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus.

Eles não estavam dispostos a fazer o sacrifício. E assim, esses em particular são exortados pelo Espírito Santo no livro de Hebreus a percorrerem todo o caminho até a fé salvadora, chegarem ao compromisso. Deixem-me mostrar isso no texto da carta, citando alguns exemplos:

1° exemplo: O capítulo 2, versículo 1, é uma dessas declarações particulares para este grupo de descomprometidos intelectualmente convencidos:

Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas.

Eles estavam a ponto de crer, mas não de se comprometer com Cristo. Incorriam no grande pecado de negligenciar fazer o que eles estavam intelectualmente convencidos de que era o certo. O autor aos Hebreus estava lhes dizendo, em outras palavras: “Vocês deveriam ter mais conhecimento da verdade, pois tudo foi confirmado pelos apóstolos com todos os milagres e dons do Espírito Santo”, versículo 4.

2° exemplo 

Hebreus 6
4 Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, 5 E provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do século futuro,
6 E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério.

Você sabe o que a palavra “iluminados”, do verso 4, significa no texto? Não significa salvo, significa intelectualmente convencido. Para aqueles que uma vez foram intelectualmente convencidos, que provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, provaram a boa Palavra de Deus, os poderes da era por vir, se eles caírem, é impossível renová-los novamente ao arrependimento.

Há um alerta para o intelectualmente convencido, pois quando um homem estiver totalmente convencido de que Jesus Cristo é quem Ele afirmou ser, e mesmo assim ele se recusa a crer de fato, tal homem não tem esperança. Porque ele está convencido da verdade, mas não se compromete. Nada mais Deus pode fazer por tal pessoa. E assim, o Espírito Santo traz o alerta em Hebreus.

3° exemplo: Qual é o maior pecado que um homem pode cometer? O pecado de rejeitar a Cristo, não é? 

Hebreus 10
26 Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados,
27 Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.

Se um homem tem acesso à verdade, recebe-a, entende-a, está intelectualmente convencido e rejeita a Cristo voluntariamente, o que Deus pode fazer? Nada. Essa é mais uma advertência aos hebreus não cristãos, intelectualmente convencidos.

Agora, olhe para o versículo 29:

De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?

Em outras palavras, quando você conhece a verdade e a rejeita, a sua punição será mais severa.

4° exemplo

Hebreus 12
15 Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem.
16 E ninguém seja fornicador, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura.
17 Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.

Essa é, novamente, uma advertência para o indivíduo convicto que nunca se comprometeu com Cristo.

Grupo 3: Hebreus não cristãos que não estavam convencidos intelectualmente acerca de Cristo 

O Espírito Santo também fala com aqueles que ainda não creram, pois não estão convencidos de nada. E para esses últimos, Ele lhes dá informações suficientes para mostrar-lhes que Jesus é de fato quem Ele afirmou ser, e é isso que acontece no capítulo 9, direcionado especialmente para esse grupo.

Hebreus 9
11 Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação
14 Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?

15 E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna.

Ainda, versos 27 e 28:

27 E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo,
28 Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para levar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação.

Essas são mensagens dadas a quem é incrédulo, não a um cristão e não a alguém que está convencido intelectualmente, mas a quem precisa saber quem Cristo realmente é, e há muitas outras ilustrações semelhantes a essas em Hebreus.

Portanto, há três grupos de destinatários da epístola. E a chave para interpretar Hebreus é entender para qual grupo ele está falando. E se não entendermos isso, então estragaremos tudo, porque confundiremos os assuntos.

Por exemplo, Hebreus não está dizendo aos crentes que aos homens está ordenado morrer uma vez e depois disso o julgamento. Essa declaração não é para os destinatários crentes da epístola.

Devemos entender a qual desses 3 grupos cada texto é destinado. Ao longo de todo o estudo do livro de Hebreus, relacionaremos cada texto a cada grupo específico. O fluxo geral do texto é para os crentes. Periodicamente, porém, há avisos para aqueles dois grupos de incrédulos que mencionei, os intelectualmente convencidos e os não convencidos.

E de uma maneira magistral, de uma maneira que só poderia ser feita por uma mente divina, o Espírito Santo reúne esses três grupos e atende a cada uma de suas necessidades e questões particulares na mesma carta. No livro de Hebreus:

  • Há confiança e segurança para o cristão.
  • Há uma advertência para o intelectualmente convencido de que ele deve receber a Cristo ou seu conhecimento o condenará.
  • Há uma apresentação convincente ao incrédulo, que não está intelectualmente convencido de que ele realmente deveria crer em Jesus Cristo.

TEMA DE HEBREUS

E assim, com tais objetivos, Hebreus foi escrito. Trata-se simplesmente, então, de uma apresentação de Cristo, o Messias, o Autor de uma Nova Aliança, melhor do que a Antiga que Deus havia feito no Antigo Testamento. Não que a Antiga Aliança fosse errada, mas era incompleta.

O tema do livro, então, é a superioridade ou a preeminência de Cristo. Hebreus mostra àqueles judeus que Cristo é melhor do que qualquer coisa que eles tinham. Que Ele é melhor do que qualquer coisa que exista. Ele é melhor do que as pessoas do Antigo Testamento. Ele é melhor do que as instituições do Antigo Testamento. Ele é melhor do que os rituais do Antigo Testamento. Ele é melhor do que os sacrifícios do Antigo Testamento. Ele é melhor que tudo.

ESBOÇO GERAL DE HEBREUS

  1. A superioridade de Cristo sobre tudo e todos.
  2. A superioridade de Cristo sobre os anjos.
  3. A superioridade de Cristo sobre Moisés.
  4. A superioridade de Cristo sobre Josué.
  5. A superioridade de Cristo sobre Arão e seu sacerdócio.
  6. A superioridade de Cristo sobre a Antiga Aliança.
  7. A superioridade do sacrifício de Cristo sobre os antigos sacrifícios.
  8. A superioridade dos fiéis de Cristo sobre todos os infiéis.
  9. A superioridade do testemunho de Cristo sobre o testemunho de qualquer outro.

Esse pequeno esboço lhe dá o fluxo do livro, que ensina a superioridade de Jesus Cristo.

Para o judeu, sempre foi uma coisa perigosa aproximar-se de Deus. E, no grande dia da expiação (Yom Kippur), que os judeus ainda guardam em um grau ou outro, que ocorria uma vez por ano, naquela época e somente nesse tempo o sumo sacerdote poderia entrar no Santo dos Santos, onde habitava a glória, a Shekinah, onde estava a presença de Deus. Eles não podiam ver Deus. Eles não podiam contemplar Deus.

Eles não podiam chegar perto de Deus, exceto em um dia por ano, e apenas um dentre eles podia fazer isso, que tinha que entrar no Santo dos Santos, fazer seu serviço e sair dali. O sacerdote não ficava lá por muito tempo. De fato, a Bíblia diz que ele não podia ficar ali para não colocar Israel em terror.

Mas, nesse tipo de situação, onde não havia proximidade com Deus, tinha que haver uma base para algum relacionamento entre Deus e Israel. Então, Deus estabeleceu uma aliança. E uma aliança significava que Deus, em Sua graça e em Sua iniciativa soberana, criou a nação de Israel e, então, ofereceu à mesma um relacionamento especial com Ele.

De uma maneira muito singular, Ele seria o Deus deles e eles seriam o seu povo. Eles teriam um acesso especial a Ele, se fossem obedientes às Suas leis. Quebrar a lei era pecado, e o pecado interrompia o acesso a Deus. Mas, como sempre havia pecado, o acesso era sempre interrompido.

E assim, Deus instituiu um sistema de sacrifícios. Todo o sacerdócio levítico, todos os sacerdotes que ministravam em Israel e todos os sacrifícios eram para expiar o pecado, a fim de que a barreira fosse derrubada e houvesse acesso a Deus.

Funcionava assim:

  • Deus deu Sua aliança, Sua lei e, através da obediência, o homem poderia ter acesso a Ele.
  • Mas, o homem pecava e, assim, quebrava a aliança.
  • O pecado estabelece uma barreira entre Deus e o homem.
  • O sacrifício, então, era feito pelo pecado.
  • Esse sacrifício derrubava a barreira, para que o relacionamento pudesse ser consumado.

Você diz: “Bem, quantas vezes eles tinham que fazer o sacrifício?” Eles tinham que fazer isso incessantemente, hora após hora, dia após dia, mês após mês, ano após ano. Eles nunca paravam. E para piorar as coisas, os sacerdotes eram todos pecadores também. Eles tinham que fazer sacrifícios por seus próprios pecados para se prepararem para fazer sacrifícios pelos pecados do povo.

A barreira entre Deus e o homem subia e descia o tempo todo. E, claro, isso é prova da ineficácia de todo o sistema. Era uma batalha perdida. O homem precisava de um sacerdote perfeito e de um sacrifício perfeito que pudessem abrir o acesso a Deus de uma vez por todas. Algum tipo de sacrifício que não lidava apenas com um pecado, mas algo que eliminasse tudo de uma vez. Eles precisavam de um sacerdote perfeito e de um sacrifício perfeito. E isso, diz o escritor de Hebreus, é exatamente o que Jesus é e o que Ele fez.

E assim, Jesus veio como o mediador de uma aliança melhor, porque é aquela que não precisa ser repetida a cada hora. Ele veio como o mediador de uma aliança melhor, porque Seu sacrifício cobre todos os pecados cometidos, de uma vez por todas. Ele veio como mediador de uma aliança melhor, porque é um sacerdote que não precisa fazer nenhum sacrifício por Si mesmo. Ele é totalmente perfeito. O sacerdote é perfeito e o sacrifício é perfeito. E Jesus Cristo, em Seu próprio sacrifício, mostrou a perfeição que eliminou o pecado.

Em Hebreus 10:10, lemos: “Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez.” Agora, amigos, isso era algo novo no sistema de sacrifícios. Um sacrifício apenas fez tudo isso. Essa é uma aliança melhor.

Versículo 12: “Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus”. Agora, isso é algo que nenhum sacerdote da Antiga Aliança jamais poderia fazer. Não havia sequer assentos no templo ou no tabernáculo judaico. Os sacerdotes não se sentavam, pois tinham que continuar fazendo sacrifícios. Jesus fez um apenas e se sentou, significando que tudo foi realizado, consumado.

Versículo 14: “Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados.” Há um sacerdote melhor fazendo um sacrifício melhor. E, veja, esta é a mensagem do livro de Hebreus para os seus destinatários:

  • Para o convertido, ele está dizendo para ter confiança nisso.
  • Para o intelectualmente convencido, está dizendo: receba-o, você está no limite, não caia na perdição pois está a apenas um passo de distância dela.
  • Para o incrédulo, ele diz: quão melhor é receber a Cristo!

O escritor está dizendo a todos: por toda a vida, vocês judeus têm procurado o sacerdote perfeito e o sacrifício final perfeito. Eu lhes apresento a vocês: Jesus Cristo.

E assim, a preeminência ou superioridade de Cristo sobre todos os outros é o tema do livro de Hebreus. Agora, tenha em mente que isso não é fácil para os judeus aceitarem. É extremamente difícil para eles aceitarem a superioridade da Nova Aliança. E é especialmente difícil para eles romperem com o antigo.

Os gentios não tinham esse tipo de problema, porque por longos séculos eles não acreditavam em muita coisa consistente. Eles haviam perdido, há muito tempo, o conhecimento do verdadeiro Deus e, em consequência, adoravam ídolos e assim por diante. Porém, mantenha em mente: os judeus sempre tiveram uma religião divina, um local de adoração divinamente designado. Deus havia estabelecido sua religião.

Não era como ir a um gentio e dizer: “aqui está a verdade!”. Quando um cristão se dirigia a um judeu e dizia: “aqui está a verdade!”, ele replicaria: “bem, eu já conheço verdade”. Aí o cristão diria “mas isso é de Deus”, e ouviria do judeu “o que eu conheço também é”. Não era uma coisa fácil fazer a transição do Judaísmo para o Cristianismo.

Tenha isso em mente: ser chamado a abandonar completamente toda a herança que foi de autoria de Deus não era algo fácil para um judeu. E mesmo entre os judeus que foram salvos, foi algo difícil. Havia um desejo natural para um judeu cristão de manter algumas das formas e das cerimônias que faziam parte de sua vida, de como ele foi criado. E isso é parte do problema tratado no livro de Hebreus, que confronta o judeu nascido de novo com o fato de que ele pode deixar o Judaísmo para trás.

Essa transição foi especialmente difícil para os destinatários originais da carta aos Hebreus, pois o templo de Jerusalém ainda estava de pé naquela época e os sacerdotes ainda ministravam nele. Ficou mais fácil depois que o templo foi destruído, em 70 d.C. Acrescente a todas as dificuldades enfrentadas por aqueles judeus a intensa perseguição pela qual estavam passando.

De fato, o sumo sacerdote Ananias realmente permitiu que eles fossem perseguidos por abraçarem o Cristianismo. Qualquer judeu que se tornasse um cristão era automaticamente banido dos lugares sagrados. Isso era difícil de lidar. Era uma restrição que estavam sofrendo em seu próprio país. Durante toda a vida, eles tiveram acesso aos lugares sagrados, mas uma vez convertidos ao Cristianismo não podiam nem participar dos cultos designados por Deus.

Eles eram considerados impuros. Eles não podiam ir ao templo. Eles não podiam ir ao altar. Eles não podiam ir aos sacrifícios, não podiam se comunicar com os sacerdotes e não tinham nada a ver com seu próprio povo. Eles eram cortados de sua sociedade. Eles não poderiam estar nas sinagogas.

Ao se apegarem ao Messias, eram banidos de tudo o que conheciam. Eram considerados piores que os gentios, embora fossem os únicos judeus verdadeiros, “porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne.” (Rm 2:28).

E então, eles estavam começando a dizer para si mesmos que era difícil fazer a ruptura com o Judaísmo. Diante de tanta perseguição, dúvidas sobre o fato de ser Jesus realmente o Messias vinham em suas mentes e isso era um problema. Eles eram tão espiritualmente infantis em seus próprios conceitos que realmente não tinham nenhum recurso para o qual recorrer.

Assim, o livro de Hebreus fala a esses amados cristãos e diz a eles que depositem sua confiança na Nova Aliança, que coloquem sua confiança em Cristo, o mediador de uma melhor aliança, o novo e grande Sumo Sacerdote. Hebreus também os lembra que eles não estavam perdendo nada, mas que estavam conseguindo algo melhor.

  • Eles haviam sido privados de um templo terreno, mas iam conseguir um celestial.
  • Eles foram privados de um sacerdócio terreno, mas tinham um sacerdote celestial.
  • Eles foram privados do padrão de sacrifícios, mas obtiveram um sacrifício final, definitivo.

E, assim, no livro tudo é apresentado como algo melhor. Você encontrará estas frases no livro de Hebreus: uma esperança melhor, um testamento melhor, uma promessa melhor, um sacrifício melhor, uma substância melhor, um país melhor, uma ressurreição melhor.

Jesus Cristo é apresentado em Hebreus e nós somos apresentados como estando Nele, habitando em um novo tipo de dimensão, a celestial. E assim, lemos em Hebreus sobre um Cristo celestial, um chamado celestial, o dom celestial, o país celestial, a Jerusalém celestial e que nossos nomes estão escritos nos lugares celestiais.

Tudo é novo. Tudo é melhor. Não precisamos do velho. E se você quiser obter um resumo do livro de Hebreus, está no capítulo 8:1, que diz: “Ora, o resumo do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da majestade”.

Aqui está o resumo de Hebreus. Temos um tipo superior de Sumo Sacerdote. Quem precisa da velha economia? E o significado de que o nosso Sumo Sacerdote está sentado é que seu trabalho foi o quê? Realizado, consumado.

Essas são algumas notas para apresentá-lo ao livro. Apenas tenha em mente os três grupos de destinatários de Hebreus e que o objetivo do livro é mostrar a todos os três grupos que Cristo é melhor do que qualquer coisa no Antigo Testamento, que a Nova Aliança é melhor que a Antiga e que eles podem deixar o antigo para trás, porque tudo o que eles têm em Cristo é infinitamente suficiente.

O escritor aos Hebreus faz o fabuloso trabalho de apresentar seu ponto logo no primeiro verso do primeiro capítulo do livro. E vamos olhar para os três primeiros versículos, que são muito simples, vamos considerá-los. Eles nos dizem que Cristo é superior a tudo e a todos. Agora, quero que você veja três características aqui: a preparação para Cristo, a apresentação de Cristo e a preeminência de Cristo.

Tenha em mente que no decorrer de todo o livro o autor está apresentando Cristo como melhor do que tudo, melhor do que o Antigo Testamento, melhor do que a Antiga Aliança.

Hebreus 1
1 Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
2 nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.
3 Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas.

A PREPARAÇÃO PARA CRISTO

Veja o verso 1: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas…”. Isso nos dá uma indicação de como Deus escreveu o Antigo Testamento. E o Antigo Testamento tinha como propósito preparar o povo para a vinda de Cristo, seja através de profecia, tipo, princípio, mandamento ou qualquer outra coisa. Tudo era uma preparação para Cristo.

Veja, os sentidos do homem, por mais maravilhosos que sejam, são incapazes de ir além do mundo natural. Assim, para sabermos alguma coisa sobre Deus, Ele deve nos falar. O verso 1 declara que Deus falou. Nunca conheceríamos a Deus se Ele não falasse. Você não pode conhecer Deus com sua habilidade natural. Você não pode fazê-lo.

Vivemos em uma dimensão natural. Imagine que essa dimensão é uma caixa e que você está dentro dela. E nós estamos nesta pequena caixa natural que representa toda existência espaço-tempo.

E fora de nossa caixa natural está o sobrenatural. Sabemos que o sobrenatural existe, mas realmente não sabemos nada sobre isso. E aí, as pessoas vêm e dizem: “devemos descobrir o sobrenatural! Vamos começar uma religião!” Acreditam que Deus estará sentado em uma nuvem com uma placa “Oi, Eu sou Deus, onde você esteve?”

  • Os budistas, por exemplo, dizem que você deve seguir os preceitos do Budismo para chegar ao nirvana e, assim, sairá da caixa natural e descobrirá Deus.
  • Outras religiões, como o Zoroastrismo, são a mesma tentativa de escapar do natural para o sobrenatural.

Seja uma seita ou uma religião, eles dizem para você: “saia da caixa natural”. Mas, o problema é que você não pode sair. Pela própria definição dos termos, o homem natural não pode escapar para o sobrenatural. Isso não pode acontecer.

Se você quiser saber alguma coisa sobre Deus, você não saberá porque você descobriu por si mesmo. Mas você só saberá porque Deus revelou. Você entende isso?

Você não pode entender Deus mais do que um inseto pode te entender.  E então, Deus se tornou um homem e entrou no nosso mundo natural para nos falar sobre Si mesmo. Isso é o que revelação significa.

Você consegue enxergar que toda religião do mundo é uma situação retrógrada, porque toda religião do mundo é a tentativa de o homem sair da caixa (do mundo natural)?

Há apenas uma religião no mundo que é o oposto disso, e é o Cristianismo, que diz que o Filho do homem veio buscar e salvar. Ele veio para a nossa caixa. Quando Deus irrompeu na nossa caixa, Ele o fez em forma humana, e o nome dessa forma humana é Jesus Cristo. Essa é a diferença entre o Cristianismo e todas as outras religiões do mundo.

As pessoas dizem: “bem, você pode acreditar no que quiser, em qualquer religião que quiser.” Não, você não pode. Toda religião é a tentativa do homem de conhecer Deus. Cristianismo é Deus irrompendo no mundo do homem e dizendo a ele como Ele é.

E assim, o homem é sensorialmente incapaz de compreender, identificar ou compreender Deus. Deus deve invadir seu mundo, e assim, Deus falou. E Deus falou primeiro através das palavras do Antigo Testamento.

Você sabe que os homens não são os autores da Bíblia. Eles foram usados como instrumentos, mas Deus estava por trás disso, o Autor energizante.

Deus não é mudo. Os deístas pensam que Deus começou o mundo e depois saiu de férias e o deixou seguir seu curso. Deus não é desapegado. Deus não está sem envolvimento. O Deus verdadeiro e vivo, ao contrário dos ídolos dos pagãos, não é um ser mudo. O Deus das Escrituras, ao contrário da primeira causa impessoal dos filósofos e evolucionistas, não é silencioso. Ele fala.

E Ele falou no Velho Testamento. O capítulo 1 de Hebreus é uma grande passagem que sustenta a inspiração divina do Antigo Testamento. Meus amigos, o Antigo Testamento não é a sabedoria do homem, é a voz de quem? De Deus.

Agora, observe como Deus falou: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras. Esse é um belo jogo de palavras usado aqui pelo escritor. Ele diz que Deus falou “polumerōs” e “polutropōs”, e essas duas palavras são interessantes. Significam que Deus falou através de muitas porções, diversas vezes, em livros diferentes e de muitas maneiras diferentes.

Você sabe que há muitos livros no Antigo Testamento, certo? Na verdade, você sabe quantos, não sabe? Trinta e nove. E em todas essas muitas porções, “polumerōs”, por várias vezes e de muitas maneiras diferentes, Deus falou. Às vezes através de uma visão, ou de uma parábola, outras vezes por meio de um tipo ou símbolo.

Existiram várias diferentes maneiras pelas quais Deus falou no Antigo Testamento, mas era sempre Deus falando. Os homens foram usados, suas personalidades foram usadas e suas mentes foram usadas, mas eles eram totalmente controlados pelo Espírito de Deus para que cada palavra que eles dissessem fosse a palavra que Deus decidiu que eles deveriam dizer, e isso foi do Seu agrado.

Parte do Antigo Testamento é história. Parte dele é poesia em bela métrica hebraica. Parte dele é lei. Há algumas profecias também. Mas, é tudo Deus falando. A revelação era fragmentária no Antigo Testamento, era incompleta. Ela foi dada no decorrer de um período de mais de 1500 anos, através de mais de 40 escritores, cada um fornecendo uma peça diferente, um elemento da verdade e, assim, a revelação foi construída.

E o Velho Testamento, meus amigos, é o que chamamos de revelação progressiva. Você não vai encontrar toda a verdade do Antigo Testamento em Gênesis. Mas, através de Gênesis, você terá um pouco da verdade, em Êxodo mais um pouco, e assim sucessivamente. É revelação progressiva.

Não significa que o Velho Testamento parte do erro e vai até a verdade, mas vai da incompletude para uma completude. E a completude só é alcançada com o Novo Testamento. No Antigo Testamento, Deus se agradou, por aquele tempo, em dispensar Sua graciosa verdade aos judeus pela boca de Seus profetas, de muitas maneiras diferentes, levando Sua revelação de um grau menor de luz para um grau maior, progressivamente.

Agora, deixe-me acrescentar algo, porque eu quero que você entenda bem o que estou afirmando: isso não significa que o que está no Antigo Testamento esteja errado. Não está errado. Há um desenvolvimento, no entanto, no Antigo Testamento até mesmo dos padrões de moralidade, até que eles se tornaram totalmente refinados em Jesus.

Deus deu uma revelação progressiva. A distinção não está na natureza da verdade revelada, mas está na quantidade e no tempo de sua revelação. Assim como as crianças aprendem primeiro as letras e depois se preocupam com as palavras e depois se preocupam com as frases, foi assim que Deus deu Sua revelação. Começou com uma espécie de livro de ortografia de tipos, cerimônias, profecias e progrediu até a conclusão final, em Cristo.

Agora, deixe-me acrescentar também que embora Deus tenha falado de muitas maneiras, em muitas partes, isso não quer dizer que o Velho Testamento é uma miscelânea de revelação humana e divina. Não está cheio de opinião humana, como tantas pessoas tentam te fazer crer. Elas dizem que a Bíblia foi toda uma ideia de homens, foi escrita por homens. É verdade que os homens a escreveram, mas aquilo que escreveram foi tudo falado por Deus.

Agora, voltando ao verso 1 de Hebreus: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas…”. “Aos pais” se refere aos nossos ancestrais, às pessoas do Antigo Testamento, ancestrais espirituais ou físicos, se você for judeu. Ele até falou com alguns de nossos ancestrais gentios.

Deus havia falado aos pais, muitas vezes, de muitas maneiras diferentes, através dos profetas, que eram os mensageiros de Deus. Um profeta é aquele que traz a palavra de Deus aos homens. Um sacerdote é aquele que fala com Deus em favor dos homens. Essa é a diferença. O sacerdote levava o problema do homem a Deus, o profeta trazia a mensagem de Deus aos homens.

Assim, o Espírito Santo estabelece, no versículo 1, a exatidão do Antigo Testamento e sua autoria divina. Em todo o Novo Testamento, isso é afirmado.

Vamos ver alguns exemplos, começando com 1 Pedro 1:21, que diz: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” A palavra “profecia” aí se refere ao Velho Testamento. Ninguém escreveu qualquer parte do Antigo Testamento por vontade própria. Mas, homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.

Em 2 Timóteo 3:16 é dito: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça”Assim, o Antigo Testamento é verdadeiro e foi a preparação progressiva para Jesus Cristo.

A APRESENTAÇÃO DE CRISTO

A primeira parte de Hebreus 1:2 diz: “nestes últimos dias, nos falou pelo Filho”.

Tremendo! Essa é a finalização da revelação. Deus, que costumava falar de muitas maneiras, de muitas formas, através de muitas pessoas, finalmente falou de uma maneira, através de uma pessoa, Jesus Cristo.

Todo o Novo Testamento está centrado em Cristo. Os Evangelhos contam a Sua história, todas as epístolas falam sobre Ele e Apocalipse conta o desfecho de tudo. Mas, é tudo sobre Cristo, do começo ao fim do Novo Testamento.

Nenhum profeta compreendeu toda a verdade. Só Jesus é toda a verdade. O Antigo Testamento contém pedaços, fragmentos da revelação. Jesus é a revelação completa e final.

O que significa a expressão contida no verso 1, “nestes últimos dias”?

  • O autor poderia estar se referindo aos últimos dias da revelação.
  • Ele também poderia estar dizendo que Cristo é a revelação final, não há dúvida sobre isso, pois em Cristo não há mais nada a acrescentar.
  • Mas, ele poderia estar se referindo também aos últimos dias da revelação, que veio através de Jesus.

Porém, melhor do que isso, creio que Ele está fazendo uma referência messiânica aqui, porque a expressão “últimos dias”, para o judeu, era muito, muito familiar. E já que o autor de Hebreus está escrevendo para os judeus, vamos considerar a expressão “últimos dias” nesse contexto.

Sempre que o judeu via a expressão “últimos dias”, ele imediatamente tinha pensamentos messiânicos, porque a promessa era que nos últimos dias o Messias viria. E assim, o autor aos Hebreus está se referindo aos últimos dias prometidos, quando o Messias viria. E Jesus era aquele Messias, bem como trouxe a revelação final de Deus.

Os últimos dias ocorreram quando Jesus veio. Infelizmente, eles rejeitaram o Messias e, então, o cumprimento de todas as promessas dos últimos dias teve que ser adiado, e a era da graça da igreja se iniciou.

Portanto, “últimos dias” era uma expressão familiar para os judeus, que se referia aos dias messiânicos, quando Deus falou por Seu Filho. Primeiro, Ele trouxe Sua revelação através de palavras e então, falou em uma pessoa, Jesus Cristo, Seu Filho.

Em João 4:25, lemos as palavras ditas pela mulher do poço de Sicar: “Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo.” Ela esperava que quando o Messias viesse, Ele “nos anunciará tudo”. Ela sabia que quando o Messias chegasse, Ele traria a revelação completa e final de Deus e, de fato, Ele trouxe.

E, meus amigos, acrescentar algo ao Novo Testamento é uma blasfêmia. Acrescentar a ele o livro de Mórmon, ou “Ciência e Saúde” e “Chave para as Escrituras” [esses dois últimos livros são a base da seita Ciência Cristã], ou qualquer outra coisa que afirme ser revelação de Deus, é blasfêmia.

Nestes “últimos dias”, Deus finalizou Sua revelação em Seu Filho, e cessou a revelação. O final do livro de Apocalipse diz que se alguém acrescentar ou retirar qualquer coisa à revelação, será acrescentado a tal pessoa as pragas descritas no livro. A revelação final de Deus foi feita em Alguém maior que os profetas, Jesus Cristo.

Toda a revelação do Antigo Testamento veio em fragmentos, pedaços.

  • A Noé foi revelada a região do mundo de onde viria o Messias.
  • A Abraão, a nação do Messias.
  • A Jacó, a tribo do Messias.
  • A Davi e Isaías, a família do Messias.
  • Para Miquéias, a cidade onde Ele nasceria.
  • Para Daniel, o tempo em que Ele nasceria.
  • Para Malaquias, o precursor do Messias.
  • Em Jonas, a ressurreição do Messias foi tipificada.

E cada uma dessas peças e pedaços se juntam. Mas, em Jesus Cristo, tudo foi completo e total, e a revelação foi plena e completa.

A PREEMINÊNCIA OU SUPERIORIDADE DE CRISTO

Ele é maior que os profetas. Ele é maior do que qualquer revelação no Antigo Testamento, pois Ele é a revelação encarnada. Deus se expressou plenamente em Cristo.

Por hora, vamos parar por aqui. E da próxima vez, veremos os versículos 2 e 3 e trataremos mais sobre a preeminência de Cristo. É um assunto muito importante. Mantenha isso em mente.

O Espírito Santo, então, estabelece no versículo 2 a superioridade de Cristo sobre todos os profetas da Antiga Aliança.

  • Primeiro, no caráter, porque a Velha era fragmentária, a Nova é perfeita.
  • Segundo, a Nova Aliança é melhor até por causa do instrumento que a trouxe. Na Velha aliança, foi o homem pecador, na Nova, foi o Filho de Deus. A revelação em Cristo é definitiva, pois é a plena expressão da revelação de Deus.

Então, imediatamente, já no primeiro versículo de Hebreus, o Espírito Santo estabelece a preeminência de Jesus Cristo sobre todo o Antigo Testamento. E isso é exatamente sobre o que aqueles queridos cristãos e os hebreus incrédulos precisavam ouvir: a superioridade de Cristo.

CONCLUSÃO

Alguns de vocês aqui talvez nunca tenham conhecido Jesus Cristo como seu Salvador. Talvez você coloque sua fé em um monte de coisas. Talvez você coloque sua fé no dinheiro. Talvez você coloque sua fé na popularidade, prestígio, sucesso. Jesus Cristo é superior a tudo e a qualquer coisa. Pedro disse, em Atos 4:12: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.”

Não há outro caminho para Deus. Jesus Cristo é superior a qualquer método, qualquer religião, qualquer tipo de filosofia, qualquer coisa que exista. Jesus Cristo é superior. Ele é o preeminente, e a menos que um homem coloque sua fé em Jesus Cristo, esse homem está condenado. Pois é somente Cristo quem é a revelação de Deus e o redentor enviado por Deus.

Vamos orar.

Nosso Pai, nós Te agradecemos por nos deixar começar essa série esta noite e estabelecer algumas bases. Senhor, estou emocionado e animado já com a próxima semana, porque sei que vamos falar sobre a preeminência de Cristo. Vamos falar sobre as sete glórias do Cristo preeminente e, Senhor, eu simplesmente me emociono quando vejo a magnificência de Teu Filho. E me alegro por saber que Ele me ama e habita em mim.

Pai, eu oro nesta noite para que todos nós vejamos Jesus Cristo exaltado. Que sejamos atraídos a Ele. Pai, nós Te agradecemos porque a Bíblia não é algo que foi escrito por homens, mas pelo Espírito de Deus. Senhor, que possamos receber a mensagem nesta noite que o Senhor direcionou primariamente àqueles cristãos hebreus.

Para aqueles que são crentes, Pai, mas cuja fé esteja vacilante e estejam voltando aos velhos padrões, tendo falta de confiança, que possam ser lembrados novamente de que Jesus Cristo é Rei dos reis e Senhor dos senhores, de que no mundo teremos tribulações, mas Ele venceu o mundo, de que pertencemos a Ele e nada pode mudar isso, e algum dia Ele nos ressuscitará para sermos Seus em glória para sempre. Que nunca percamos essa confiança.

E, oh, Pai, agora oro por aqueles que estão convencidos de que Jesus é o Cristo, mas não querem assumir um compromisso com Ele. Pai, quão trágico, quão doloroso castigo será o deles, por fazerem pouco caso do sangue de Cristo!

E, Pai, eu oro por aqueles que estão aqui como aqueles naquela comunidade judaica que realmente não crêem em nada, que eles vejam a beleza de Jesus Cristo, a verdade da Palavra de Deus, que eles venham a um conhecimento Dele como Salvador. Pai, ao encerrarmos o culto esta noite, fale conosco. Faça o Teu trabalho perfeito em nossos corações. Obrigado por nos ensinar nesta noite. Oramos em nome de Jesus. Amém.


Leia também:


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre a carta aos Hebreus.

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série.


Este texto é uma síntese do sermão “Introduction to Hebrews”, de John MacArthur em 23/01/1972.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/1600

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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