Uma palavra aos adolescentes
“E crescia o menino [Jesus] em sabedoria, em estatura e graça para com Deus e os homens.”
(Lucas 2:52)
Esse texto é bastante conhecido. Vamos lembrar do contexto dele?
Jesus estava com 12 anos e tinha ido a Jerusalém com os seus pais, a fim de celebrarem uma das festas do calendário judaico. Havia muita gente nessas épocas de festa em Jerusalém, pois vinham judeus de toda parte. Era um momento de adoração, de súplica e sacrifício para perdão dos pecados, mas também de comunhão, de alegria em conjunto. Imagine a parentada se encontrando, velhos amigos se revendo… Alguns só se falavam nessas oportunidades (lembre-se que o meio de comunicação mais avançado da época era através de cartas!).
Nessa bagunça, gente indo e voltando nas ruas estreitas de Jerusalém, milhares de animais sendo mortos em sacrifício, muita gente acampada, Jesus com certeza estava participando de toda comunhão, mas deveria estar contemplando de perto aquilo que um dia iria ser cumprido em sua própria carne. Daí, foi atraído não para as brincadeiras intermináveis dos meninos de sua idade ou conversas fúteis, vazias. Não. Foi atraído à presença dos doutores da lei, nos arredores do Templo. Seus assuntos eram outros. Enquanto estava ali tinha a responsabilidade de tratar dos assuntos do Pai. E tinha que fazê-lo rápido, pois iria logo embora.
Mas, a conversa estava tão boa, que nem Jesus, nem os sacerdotes conseguiam terminá-la.
José e Maria arrumaram a bagagem e partiram em viagem de volta. Estavam tão envolvidos com as pessoas, a festa em si, as despedidas, que não se lembraram de avisar a Jesus que já estava na hora de ir. Sim, porque se eles O tivessem avisado, Ele teria ido prontamente, pois em tudo era sujeito aos pais terrenos que Deus lhe deu. Jesus poderia ter vindo a terra já como homem formado (como Adão), mas não veio. Teve a experiência de ser criança, de ser cuidado, de ter limites, de receber ordens.
Antes de vir a Terra, Ele nunca havia experimentado isso, pois era Deus e como Deus o seu relacionamento com as outras Pessoas da Trindade era diferente, pois em seu Santo relacionamento, cada um honra o outro. É uma unidade perfeita, uma perfeição que é indescritível com as nossas limitadas palavras. Mas, como criança e adolescente recebia ordens, e quem sabe alguma bronca injusta de seus pais (como a que Maria lhe deu no final da história).
Pois é, José e Maria andaram, andaram, e quando já estavam no caminho de um dia perceberam que Jesus não estava com a caravana. Também perceberam que foram displicentes e se esqueceram de chamá-lo. Daí, foram apressadamente procurá-lo, e essa procura os levou de volta a Jerusalém, de volta ao Templo, de volta aos assuntos do Pai. Onde mais Jesus poderia estar? Quando O encontraram ficaram aliviados e ao mesmo tempo, como todo pai e mãe, ensaiaram uma bronquinha.
Jesus poderia ter-lhes argumentado (como muitas vezes os filhos dessa idade fazem com os pais, o que na verdade em sua maioria nada mais é do que uma resistência disfarçada). Mas, Ele não os resistiu, não chegou para Maria e disse: — Você não acha que a culpa não foi minha, que vocês é que se esqueceram de mim? Mas, Ele não fez isso. Ele em tudo era sujeito a José e Maria. Apenas lhes deu uma dica: que da próxima vez, não esquecessem de que Ele não estaria no meio da folia, da brincadeira, do tempo desperdiçado só brincando, brincando, jogando conversa fora, mas estaria cuidando dos assuntos do Pai.
Que garoto diferente, pensavam todos! Tão amável, tão obediente, tão interessado nas coisas de Deus, tão sábio, tão gracioso, tão prestativo! Jesus crescia em estatura, mas também em graça e sabedoria diante de Deus e dos homens.
A adolescência é um período de crescimento, de aprendizado, de treinamento para a vida. Mas, infelizmente, muitos só crescem em estatura, isto é, em físico, em tamanho. Seu corpo muda a cada dia. Não só esteticamente e exteriormente, mas internamente. Hormônios são produzidos em escala ascendente e com isso há novas sensações, o despertar para o sexo oposto, uma sensação de poder, de não depender. O pensamento é: já sei, já aprendi, já sei decidir, meus pais ou meus orientadores estão por fora. Quem age assim, desperdiça um tempo precioso, pois não cresce em graça e em sabedoria.
O crescimento completo do filho de Deus não é do tipo físico-emocional, como apregoa o mundo. Vai muito além disso: é crescer em estatura, mas, principalmente, em graça e sabedoria. Graça aqui está no sentido de ser gracioso, de se doar, de não resistir. Quem age assim, ama, ajuda, compreende, obedece, ouve. Sabedoria não se confunde com inteligência, embora que o sábio sempre será mais inteligente. Ser sábio, segundo Deus, é afastar-se do mal, é temer a Deus. Um adolescente que busca esse crescimento, com certeza será motivo de alegria para Deus e para os homens.
E como alcançar esse crescimento triplo? Olhe para Jesus. A Bíblia não revela muito da sua vida privada antes de iniciar o Ministério terreno. Isso porque o Espírito Santo é econômico e não inspirou a Bíblia para ser um livro de biografias, história ou coisa parecida. Mas, deixou esse registro único da adolescência de Jesus, para nos dar estas lições e para nos mostrar que para crescer em graça e sabedoria precisamos fazer as escolhas certas de como gastar o nosso tempo, estabelecer as nossas prioridades e alvos.
Jesus era um adolescente, mas estava preocupado em tratar dos assuntos do Pai, preferia estar na presença de Deus e buscava ter relacionamento com pessoas que lhe fossem acrescentar e não como muitos jovens de hoje, cujas amizades acabam corrompendo os seus bons costumes. Mais tarde Ele foi o Amigo dos publicanos e pecadores. Mas, naquela fase de sua vida Ele sabia que era hora de semear e estava nos deixando, na verdade, um exemplo a ser seguido.
E você, o quanto tem buscado esse crescimento triplo? Não deixe a melhor fase de sua vida passar sem dar prioridade a Deus.
(Ecles. 12:12)