Sobre Dons Espirituais (2)


Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre dons espirituais e homens especialmente dotados. Veja os links no final deste texto.


Voltamos hoje para o capítulo 12 de 1 Coríntios. E gostaria que voltássemos a olhar para a primeira parte do capítulo 12, à medida que continuamos a nossa série sobre os dons do Espírito.

Agora, como eu disse anteriormente na minha oração, Jesus deixou claro que nós, que conhecemos a Deus, somos sal e luz no mundo. A Escritura também nos chama, através da terminologia do apóstolo Paulo, em 2 Coríntios capítulo 5:20, de “embaixadores da parte de Cristo“. No primeiro capítulo de 2 Pedro, somos chamados de “peregrinos no mundo“. Paulo disse aos filipenses que a nossa cidadania não está aqui, mas no céu. Estamos apenas de passagem nesse mundo.

Então, fomos dados ao mundo, para o percorrermos, sendo embaixadores de Deus,  sal e luz. Existe um propósito para a nossa existência individual, como crentes, na sociedade em que vivemos. E esse propósito é conduzir  homens a Deus, a Cristo. Somos uma comunidade de testemunhas. Somos um grupo de pessoas colocadas no mundo para chamar a atenção do mundo para Deus.

Agora, em Efésios, talvez o conceito mais emocionante de todos ao nos identificar, encontra-se no quarto capítulo, verso 13: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo“.

Agora, essa passagem diz que o design da igreja é ser conduzida à semelhança de Cristo. Até que todos cheguemos à estatura completa de Cristo. Deus deu apóstolos, profetas, evangelistas, mestres, para o aperfeiçoamento dos santos, ou para o amadurecimento dos santos, para o trabalho do ministério, para que o corpo possa ser construído, para que seja possível uma plenitude da semelhança de Cristo.

Agora, isso me leva a dizer que não só devemos ser sal e luz, embaixadores e peregrinos, e assim por diante, no mundo, mas devemos ser Cristo no mundo. Este é um conceito muito vital. A igreja deve ser Cristo no mundo. É por isso que, frequentemente, refiro-me à igreja como o corpo número dois. A encarnação foi o corpo número um, Cristo num corpo humano. Nós somos o corpo dois, Cristo, vivo no mundo, na igreja. Esta é uma realidade muito vital e é algo que temos que entender.

O Senhor Jesus quis deixar-se no mundo, mesmo depois que Ele ascendeu. Ele quer que sejamos Cristo no mundo. Ele quer reproduzir em nós Sua própria essência, Sua própria vida, Sua própria personalidade, Seu próprio caráter, para O manifestarmos ao mundo, no sentido tão real como Ele se manifestou em forma humana quando estava andando neste mundo.

Agora, o que significa que Deus tenha nos criado para sermos Cristo no mundo? Como é que podemos, literalmente, representá-Lo? Como é que podemos manifestar Seu caráter a este mundo? Em primeiro lugar, a Bíblia diz que Ele plantou dentro de nós o Espírito de Cristo e, se alguém não tem o Espírito de Cristo, essa pessoa não é Dele. Mas nós recebemos o Espírito de Cristo. Portanto, Paulo diz que a vida que um filho de Deus vive é a vida de Cristo nele. Então, Cristo será reproduzido no mundo vivendo em cada crente.

Agora, um passo além disso: Cristo não apenas habita em todos os crentes individuais, mas habita na igreja corporativa. O capítulo 2 de Efésios diz que a igreja é construída em conjunto como habitação para o Espírito de Cristo. Assim, Jesus existe, não só na vida individual de um cristão, mas na vida corporativa da comunidade dos crentes, conhecida como o corpo de Cristo. Desse modo, Ele produz seu caráter em nós, antes de tudo, habitando em nós.

Agora, vejamos exatamente como isso funciona em conjunto. Antes de olharmos para 1 Coríntios 12, volte um pouco mais para o fim do Novo Testamento, para o quarto capítulo de Efésios, e eu quero apenas expor alguns pensamentos muito relacionados aqui. No capítulo 4, versículo 7 se encontra basicamente a explicação mais simples de como Cristo realmente se reproduz na igreja, pois isso opera a partir de Sua presença na igreja.

Sua presença está na igreja, mas Seu caráter se manifesta desta maneira: “Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. Agora, Cristo deu, pela graça, certos dons. Os dons vêm Dele. Eles são enobrecimentos divinos dados ao crente, a cada um de nós. Nenhum cristão é excluído. É por graça,  isto é, não merecemos isso, não podemos obter dons por mérito pessoal. É dado de acordo com a medida, isto é, é medido individualmente e exclusivamente para cada cristão.

Cristo, então, dá um dom. É uma doação espiritual, um enobrecimento espiritual para cada crente, único para aquele crente. Ele nos deu todos os dons. Você diz: “Por que o texto diz dom, no singular, se alguns de nós podem ter mais de um?”. Porque creio que dentro do conceito de “dom de Cristo” estão inseridos todos os dons. Assim, o “dom de Cristo” se refere a todos os dons, a uma pluralidade de dons. O meu dom, da parte de Deus, pode ser o de pregar ou ensinar, de administração, tudo combinado no dom que Ele me dá.

Às vezes, você abre um pacote e obtém três coisas em uma mesma caixa. Bem, essa é a mesma ideia. O dom é um aspecto do caráter de Cristo que Ele nos dá. Veja o versículo 8: “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens.” Quando Cristo morreu na cruz, ele reuniu alguns despojos – que seriam as almas dos homens e mulheres que Ele ganhou na cruz. Ele entregou alguns desses despojos  à igreja em forma de dons.

Nota do site: Em Efésios 4:8, Paulo usou uma tradução interpretativa do Salmo 68:18, como uma analogia alternativa para mostrar como Cristo recebeu o direito de conceder dons espirituais. O Salmo 68 é um hino de vitória composto por Davi para celebrar a conquista da cidade de Jerusalém dos jebuseus por Deus e a triunfante ascensão de Deus ao monte Sião. (…). Depois desse triunfo, o rei levou para casa os despojos e os prisioneiros. Aqui Paulo retrata Cristo retornando de sua batalha na Terra para a glória da cidade celestial com os prêmios de sua grande vitória no calvário. (…). Mediante a sua crucificação e ressurreição, Cristo venceu Satanás e a morte e, em triunfo, devolveu a Deus aqueles que, antes, eram pecadores e prisioneiros de Satanás. (…). Ele distribuiu os despojos por todo o seu reino. (Extraído da Bíblia de Estudos John MacArthur).

Veja o versículo 11. E aqui estão esses dons: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores“. Agora, estes são os homens dotados que são dados à igreja. O versículo 7 nos fala que Cristo deu dons aos crentes como indivíduos, mas é papel desses homens dotados do verso 11 equipar os crentes para usarem seus dons.  Esse é o propósito e é o que o versículo 12 diz: “Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério…“.

Agora, o Senhor Jesus Cristo deu a cada crente um dom espiritual. Mas esse dom é para o propósito de manifestar Cristo na igreja e, finalmente, no mundo, a fim de permitir o uso mais completo dos dons e levá-los à maturidade e ao máximo de seu funcionamento. Verso 11:  “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores“. E o resultado está no verso 12, a edificação do corpo de Cristo, e no 13: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”.

Agora, esse é um conceito excelente e é muito básico na identificação da igreja: os homens dotados equipam os santos para estes usarem seus dons para edificação do corpo, para que o corpo possa manifestar Cristo. Para que possamos ser, literalmente, Cristo. Agora, se os homens dotados não aperfeiçoarem os santos ou se os santos não ministrarem os seus dons, o corpo não será edificado. Se o corpo de Cristo não for edificado, então ele não manifesta Cristo.

Muitas vezes dissemos que uma das dificuldades de hoje, na igreja, é o fato de que ela é tão fraturada e os cristãos são tão desobedientes na área dos dons e os líderes estão falhando tanto no aperfeiçoamento dos santos, que todo o corpo de Cristo está paralisado, distorcido e confuso e o mundo não pode ver verdadeiramente a manifestação de Jesus Cristo. Todos os dons são dados à igreja, até o objetivo final, que é a igreja edificada na plenitude da estatura de Cristo, de modo que individualmente e corporativamente representemos Cristo.

Agora, eu quero dar um passo adiante, porque é importante que você entenda isso: todos os dons espirituais estão completos em Cristo. Por exemplo, você tem o dom da profecia ou o dom da pregação. Cristo pregou? Sim. Ele é o melhor? Claro. Você tem o dom de ensinar. Cristo ensinou? Sim. Ele é o melhor professor? Sim. Você tem o dom de mostrar misericórdia. Cristo mostrou misericórdia? Sim. Magnanimamente Ele mostrou misericórdia? Como nenhuma outra pessoa que já tenha vivido, Ele mostrou misericórdia.

Você tem os dons de governar, de ajudar, dar e  de fé, sendo que cada um deles tem seu exemplo perfeito em Jesus Cristo, que dá como ninguém nunca deu, que governa como ninguém nunca governou, que crê no Pai como ninguém jamais creu. Em outras palavras, os dons espirituais  são características de Cristo que se manifestam através da igreja como corpo de Cristo, como eles se manifestaram através do corpo encarnado do Senhor. Esse é o propósito dos dons espirituais.

E você diz: “E quanto aos dons milagrosos?” Cristo tinha capacidade milagrosa como confirmação de Sua identidade. E esses dons de operar milagres foram dados nos primeiros anos da igreja para confirmar a mensagem . E assim, todos os dons encontram sua perfeição em Cristo e a razão pela qual Deus os deu à igreja, quando Ele enviou o Espírito, foi para re-manifestar Cristo no mundo.

Nota do site: John MacArthur não está dizendo que Deus não opera milagres hoje, apenas que não há mais homens dotados especialmente para realizar os feitos milagrosos como Pedro e Paulo fizeram muitas vezes. Os apóstolos foram dotados assim por causa da missão especial que tiveram em iniciar e doutrinar a igreja. Esses dons tornaram-se raros no fim do ministério dos apóstolos e não há relatos deles no séculos seguintes. Veremos isto com detalhes nos sermões seguintes.

Agora, quando nós pregamos, ensinamos ou mostramos misericórdia, ajudamos, conduzimos ou temos fé, ou qualquer um desses dons que exercitamos, cremos que essas são atividades sobrenaturais dotadas e habilitadas pelo Espírito de Deus, que manifestam Cristo para a edificação do corpo. Assim, Cristo se torna real no mundo à medida que o corpo (a igreja) cresce. Então, vemos que os dons não são aleatórios, mas especificamente encontram sua fonte em Deus, têm seu canal no Espírito e seu padrão, seu exemplo, a sua plenitude na pessoa de Jesus Cristo. Os dons são essenciais, pois são aquilo que manifestam Cristo, que edificam a igreja.

Agora, o incrível da igreja de Corinto era que eles tinham todos os dons – todos eles. O verso 7, do primeiro capítulo diz: “nenhum dom vos falta”. Eles eram dotados de todos os dons espirituais. Eles estavam totalmente equipados para amadurecer, para ministrar, para serem semelhantes a Cristo. Mas, ao invés disso, havia um caos absoluto. Houve um fracasso na parte dos homens dotados para fazer o trabalho que deveriam fazer para amadurecer os santos. Houve uma falha por parte dos santos para ministrarem os dons que receberam.

Os dons estavam sendo falsificados, explorados, negligenciados, abusados, confundidos e o resultado era o terrível caos que aparece nos capítulos 12 a 14 na igreja coríntia em relação aos dons espirituais. Agora, Paulo escreve os capítulos 12 a 14 para lidar com a necessidade urgente de uma compreensão adequada dos dons, da ministração apropriada dos mesmos como doações espirituais da parte de Deus. Portanto, essa é uma porção muito, muito importante das Escrituras, importante para nós, como foi para os coríntios.

Agora, vamos olhar para trás um pouco, de volta ao capítulo 12 de 1 Coríntios. Lembre-se de algo que aprendemos na semana passada e que revisamos várias vezes em nosso estudo em 1 Coríntios: a igreja coríntia era basicamente carnal, caótica e havia pouca ou nenhuma ordem acontecendo por lá. Eles foram assediados por toda tentação, toda turbulência e todo pecado que se possa imaginar. Eles conseguiram perverter a vida da igreja de todas as formas possíveis e incluíram nessa perversão os dons espirituais.

Como vimos na semana passada, a sociedade coríntia estava mergulhada no mar das religiões de mistérios. Essas religiões se caracterizavam por duas palavras: o êxtase e o entusiasmo. Assim, toda a vida religiosa era caracterizada por ações irracionais, cheias de êxtase, de estado de transe. Como resultado, o extremismo histérico e os delírios em relação aos verdadeiros dons infiltraram a igreja em Corinto e agora tudo estava confuso.

Seu culto público se transformou em um desastre, um exercício de egoísmo, gula, embriaguez, frenesi orgiástico cheio de êxtase, enquanto Satanás estava ocupado falsificando os dons espirituais, de modo que as pessoas carnais ficaram confusas quanto ao que era realmente vindo de Deus e ao que não era. Eles exaltavam o êxtase, de modo que perverteram o dom das línguas, particularmente, transformando-o em um discurso de êxtase. E nenhum outro dom sofreu mais com esses abusos do que este.

Como resultado de tudo isso, alguns escreveram para Paulo e disseram: “Você nos ajudará a corrigir essa bagunça?”. E assim, o apóstolo escreveu os capítulos 12 a 14 em resposta à terrível união do frenesi das religiões de mistérios com a verdade da graça dos dons do Espírito de Deus, pois essa mistura ocorria muitas vezes na assembléia coríntia.

Agora, como dissemos na última vez, no capítulo 12, Paulo estabelece a teologia básica acerca do assunto dos dons. No capítulo 13, ele fala sobre o amor, o contexto em que todos os dons operam. No capítulo 14, ele lida diretamente com os abusos. Três características são identificadas na apresentação de Paulo sobre os dons: 1. a importância; 2. a fonte; 3. os tipos de dons.

Na última vez, vimos o versículo um. Nós vamos chegar um pouco mais longe hoje, mas eu não estou com pressa, porque é muito importante que tenhamos uma base muito sólida sobre esse assunto e, então, as coisas começarão a voar um pouco mais rápido, à medida que avançarmos. Número um, discutimos a importância dos dons espirituais. Verso 1: “Acerca dos [dons] espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes“. Ele usa a palavra espirituais. Este é o primeiro termo descritivo para os dons de Cristo concedidos à igreja. O texto fala de sua origem.

Sejam quais forem os dons que Deus deu à igreja, eles são chamados de espirituais. Agora, o que isso significa? Que os dons são controlados ou caracterizados pelo Espírito Santo. Vimos também que Paulo usou cinco palavras diferentes para descrever os dons espirituais nesta parte da Carta. A primeira palavra explica o fato de que os dons são caracterizados e controlados pelo Espírito Santo. Então, ele diz: “não quero, irmãos, que sejais ignorantes”. E isso é algo que é muito, muito importante. É essencial para a igreja que não tenhamos ignorância neste assunto.

Agora, vejamos os versículos 2 e 3:  “Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.” Esses dois versos, são tremendamente críticos para entendermos o que estava acontecendo na Igreja de Corinto. Por isso é importante entendê-los.

Observe primeiro como inicia o versículo 2: “Vós bem sabeis que éreis gentios…”. A palavra gentio, em seu sentido técnico, significa nãojudeu. No sentido não técnico, significa não-cristão. A palavra usada no original aí pode significar gentio ou pode ser traduzida como pagão. E um pagão é alguém que não conhece Deus. Por isso, não tem sentido cristão que a palavra gentio seja usada aqui no sentido de não-judeu. Para uma comparação, você pode olhar para 1 Tessalonicenses 4:5, onde Paulo usa a palavra da mesma maneira.

Então, ele diz: “Você era pagão“. Agora, deixe-me caracterizar seu paganismo: eles eram “levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados.” Aí você tem um retrato de uma vítima, de alguém em um sistema de religião que tem pouca ou nenhuma escolha sobre o que está acontecendo lá. Ele está sendo conduzido e  levado para ídolos mudos. Ele é estritamente uma vítima. A palavra levados no texto é um verbo usado frequentemente na Bíblia para falar de levar um prisioneiro ou uma pessoa condenada para a prisão. Você pode verificá-la em Marcos 14:44 e 15:16, e verá que esse é seu uso em ambas as ocasiões.

Então, o verbo retrata alguém que é pego e arrastado para um ídolo mudo. Ele não tem escolha. Os pagãos não são retratados como pessoas inteligentes, escolhendo livremente seguir o que a mente deles escolheu, mas são retratados como escravos do pecado.

Eu não penso que todas as pessoas percebam isso. Eu conversei com muitas pessoas. Penso em uma pessoa em particular que conseguiu entrar na minha vida nos últimos 15 anos. Este indivíduo particular sempre me disse: “Eu me tornaria um cristão, mas não quero desistir da minha liberdade. Não quero ficar restrito a ter que fazer certas coisas, porque agora posso escolher o que quiser”. Lembro-me de muitas passagens das Escrituras, todas as quais eu compartilhei com ele, mas sobre essa questão de ser livre, eu lhe apresentei esse texto que estamos examinando.

Um pagão não é alguém livre, mas é um prisioneiro. Paulo diz em Romanos 6: “Você é escravo do pecado“. Esta é a imagem do pagão, do homem ímpio. Ele é conduzido para adorar um não-deus. Ele é conduzido para adorar uma não-deidade. E, acredite em mim, todo homem está adorando a alguém ou alguma coisa. Você não escolhe se você vai ou não adorar, você simplesmente escolhe o que vai adorar. No caso do povo coríntio, eles foram levados para a sua idolatria, adorando deuses que eram ídolos mudos.

Paulo os chama de mudos no sentido de que eles não podiam falar, não podiam responder, não podiam dar nenhuma direção, nenhuma revelação. Mas, essa é a situação do homem religioso sem Cristo. O homem religioso que não conhece o Deus verdadeiro é levado a um falso deus limitado e nunca conhece a verdadeira liberdade e a verdadeira dignidade de um filho de Deus.

A Bíblia repete várias vezes que as pessoas não regeneradas são irremediavelmente levadas para deidades mudas. Veja 1 Coríntios 10:19-20, que diz: “Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios.

No capítulo 4 de Gálatas, no versículo 8: “Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses.” Efésios, capítulo 4, versículos 17 e 18: “E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente. Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração“.

Os textos falam de escuridão, cegueira, alienação, ignorância. Tudo isso caracteriza a adoração de um indivíduo não regenerado. Isso é muito repetido nas Escrituras. Ainda, Tito 3: 3, que diz: “Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros.” Isso caracteriza o não regenerado, a pessoa ímpia.

Também 1 Pedro 4:3 diz: “Porque é bastante que no tempo passado da vida fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias“, etc. As Escrituras mostram o retrato trágico de um homem não regenerado. Ele está sendo conduzido como uma vítima do mal, sendo levado a deidades mudas que não podem lhe responder, por mais religioso que ele seja. Essa é a situação dos pagãos em todo o mundo, de todos que não adoram o verdadeiro Deus.

Agora, você diz: “Bem, qual é a conexão, John, entre isso e os dons espirituais? Paulo começa falando dos dons no versículo 1, e então, de repente, passa a tratar dos pagãos no verso 2…”. Bem, a conexão vem na última frase no versículo 2: “…conforme vocês eram guiados.“.  Aqui o verbo guiar implica ser levado para longe. Está na voz passiva. Mostra que os pagãos são vítimas.

O uso deste verbo, em certo sentido, nesta passagem, tem a função de afirmar a passividade do ímpio, ou seja de que ele é levado de forma irresistível aos ídolos. Em 2 Timóteo 3: 6, o mesmo verbo grego aparece novamente: “Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências“. Tanto este texto, como o de 1 Coríntios que estamos vendo, tratam da implicação de que os ímpios são guiados passivamente a esses pecados. Paulo estava dizendo, em outras palavras:

Vocês foram vítimas. Vocês foram levados pelos demônios para adorarem deuses falsos e o resultado disso foi que vocês se estabeleceram em uma religião pagã e se entregaram a uma religião de êxtases que se tornou parte de sua cultura, de sua sociedade. Vocês costumavam adorar do modo como os pagãos fazem, conduzidos pelos demônios para os êxtases e o entusiasmo que caracterizam as religiões místicas. Vocês trouxeram esses padrões antigos agora para a igreja e estão deixando os demônios invadirem sua adoração. Vocês costumavam fazer um certo tipo de adoração. Era um culto cujo objetivo era ser levado ao êxtase. Vocês eram conduzidos nesse processo, eram como vítimas passivas. Era assim que vocês costumavam adorar quando eram pagãos. Mas, agora, vocês  trouxeram tudo isso para a igreja!.

Os corintios não conseguiram distinguir entre o habitual e o incomum, entre o demoníaco e o divino. Tudo estava acontecendo em sua adoração e eles não podiam distinguir o que era Deus e o que era Satanás. Houve uma intrusão, houve corrupção, houve caos. Eles literalmente confundiram o trabalho de Satanás com a obra do Espírito. Então, Paulo está dizendo:

Aquilo que é verdadeiramente espiritual (pneumatika) não é marcado por ser levado, não é caracterizado por ser conduzido. Isso é precisamente a característica do seu antigo tipo de religião. Vocês costumavam ter uma religião que os conduzia passivamente, na qual os demônios simplesmente levavam vocês como vítimas para o êxtase. Essa era sua antiga religião. Mas agora vocês arrastaram esse tipo fanático de religião para a igreja e criaram o caos.

Ouça, novamente: a verdadeira experiência espiritual não é caracterizada por levar as pessoas a estados de transe, êxtases e frenesi emocional. O cristão em estado de fora de controle nunca pode ser relacionado ao exercício de um dom espiritual. Quando alguém diz: “Bem, meu irmão, caí no espírito”. Eu diria: “Você caiu, mas não no espírito”. Você não pode acreditar numa coisa assim! As  pessoas que dizem esse tipo de coisa não caem no espírito.

Você diz: “Como eles caem, então?”. Bem, eu creio que, em muitos casos, é um tipo de indução, é algo que a pessoa acredita que tem que fazer, então ela faz. Nesse tipo de coisa, sempre fica alguém atrás da pessoa já esperando que ela caia para segurá-la. Isso induz a pessoa a cair. Em outros casos, talvez haja hipnose. Em outros, talvez seja uma manifestação demoníaca. Mas, o Espírito de Deus não opera os dons do espírito quando as pessoas estão fora de controle. Agora, preste atenção nisso, pois esse é o argumento de Paulo no versículo 2.

Vejamos o capítulo 14, versículo 15, “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento.” Recentemente, ouvi uma longa gravação, onde havia ‘cantos no espírito’. Era apenas barulho sem sentido. Enquanto eu ouvia, continuava pensando: “É bom cantar sob o poder do Espírito, desde que você cante com a compreensão também”.

Veja o versículo 33: “Porque Deus não é Deus de confusão“. Veja o versículo 40: “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.“. O Espírito de Deus não opera os dons de Deus quando você está fora de controle, quando você está sob uma espécie de ‘ataque sobrenatural’. Quando alguém sai fora de controle, num transe ou desmaio, ou se supostamente caiu no Espírito, ou fala línguas de êxtase, ou entra em um comportamento frenético, isso nunca é de Deus, nunca!

Assim, os coríntios estavam refletindo um estilo pagão de religião que corrompeu o seu culto. Mas, hoje continua a acontecer o mesmo. Ouça isso: todos os dons espirituais funcionam com total controle e consciência do cristão. Então, Paulo se refere aos êxtases pagãos. E apenas para mostrar-lhe o quão bizarro se tornou e como os demônios se tornaram ousados quando descobriram que poderiam agir através de tudo isso na igreja, olhe para o versículo 3 e isso é incrível.: “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.

Agora, aqui Paulo nos mostra o primeiro princípio ao qual o dom espiritual genuíno está subordinado. À luz da confusão e à luz do fracasso em distinguir a atividade do Espírito Santo da manifestação demoníaca pagã, Paulo estabelece um teste básico, que é positivo e negativo. Vejamos primeiro o aspecto negativo. Isso é muito, muito surpreendente para mim. Aqui está a parte negativa do teste: “ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema”.

Você sabe o que eles estavam fazendo na igreja em Corinto? Escute isso: algumas pessoas levantavam no culto, supostamente manifestando os dons do Espírito e amaldiçoando Jesus. Isso é o que eles estavam fazendo. Você diz: “Como você sabe disso?” Porque é com isso que Paulo está lidando. Nas últimas duas semanas, acho que li cerca de 20 comentários diferentes sobre essa passagem em particular. Não encontrei nenhum deles que discordasse da visão de que, na assembleia coríntia, alguém estava fazendo isso, ou seja, amaldiçoando Jesus. E, talvez, mais de uma pessoa fazia e em mais de uma ocasião.

Se alguém se levantasse aqui em nosso meio e dissesse: “Tenho o dom de profetizar e gostaria de falar que Jesus é maldito.” O que você pensaria? Você pensaria que seria uma manifestação do Espírito Santo? Quero dizer, eu não teria que pensar sobre isso para responder. Eu sei que não é do Espírito Santo. Mas, os coríntios não sabiam disso. Por quê? Porque eles avaliavam a manifestação do dom com base na experiência e não no conteúdo.

Você entende? Se  a manifestação fosse fora do normal, cheia de êxtase,  sobrenatural, para além do humano, eles imaginariam: “Tem que ser o Espírito Santo… Afinal de contas, esta é a reunião da igreja, isso está acontecendo no nosso meio!”. E assim, alguém se levantava e amaldiçoava a Jesus e aquelas pessoas não conseguiam determinar que aquilo não era, de fato, do Espírito Santo. E é impressionante que aquelas pessoas haviam sido ensinadas pelo apóstolo Paulo no passado…

Mas, tudo isso realmente ocorreu naquela igreja. Alguém, dirigido por demônios, amaldiçoava a Jesus e ficava por isso mesmo. E era assim que a coisa se desenrolava: todos fazendo algo ao mesmo tempo, alguém cantando, alguém falando, outros num clima de êxtase, alguém dando uma profecia, alguém gritando uma palavra de sabedoria e uma palavra sobre isso e aquilo, e tudo acontecendo ao mesmo tempo quando, de repente, alguém no meio disso tudo brada: “Jesus é anátema!”. E tudo era atribuído como obra do Espírito Santo. Eles não tinham qualquer habilidade para distinguir a obra de Deus da obra de demônios.

Você diz: “Como eles poderiam acreditar que isso vinha do Espírito Santo?”. Bem, deixe-me falar sobre o contexto em que isso acontecia. Em primeiro lugar, essa palavra amaldiçoadora contra Cristo deve ter vindo de alguém que  dizia ser um cristão pois, caso contrário, eles não teriam dúvidas em dizer que aquilo não era obra do Espírito Santo.

Em segundo lugar, definitivamente houve uma importação do frenesi ao qual aquelas pessoas estavam acostumadas para dentro da igreja, pois fazia parte do tipo de culto pagão que eles praticavam antes de se tornarem cristãos. Por isso Paulo conecta o assunto dos dons com o paganismo do qual aquelas pessoas vieram. Assim, quando uma pessoa estava fora de si, em êxtase, você sabe o que diziam em Corinto? “É o Espírito Santo”. Paulo diz: “Não é o Espírito Santo”.

Paulo diz: “Só porque isso acontece na igreja não faz com que seja do Espírito”. Mas, aqueles demônios tinham tão livre acesso no meio deles, que realmente diziam publicamente: Jesus é anátema! Isso é ruim. Satanás realmente estava operando lá. Ouça: você não deve acreditar que algo é do Espírito só porque está acontecendo no meio da igreja. Satanás gasta muito tempo agindo no meio da igreja. Não presuma necessariamente que seja Deus agindo. Podem ser demônios.

Então, o estado de emoção e êxtase conduziu a isso e, nesse contexto de glutonaria, vaidade, bebedice e adoração pagã, com explosões de êxtases, alguns ficaram fora de controle e começaram a dizer: “Jesus é anátema!”. E outros julgavam que isso era o Espírito Santo. Incrível… Vou dar um passo adiante: a pessoa – ou pessoas – que proferia essa maldição, além de ser um cristão professo, é provável que fosse também judeu, pois  a palavra anátema é uma palavra judaica, que significa fadado à destruição.

É um palavra judaica comum. Na verdade, é a palavra judaica mais forte para condenação. Isso seria o equivalente em nossa língua dizer “Jesus seja condenado“. Esse era o termo mais forte que o judeu tinha: fadado à destruição. Você diz: “Bem, por que eles diriam isso sobre Jesus?”. Bem, não havia dúvida de que os judeus diziam isso com frequência, por causa de Deuteronômio 21:23, que diz: “Maldito seja aquele  que for pendurado em um madeiro”.

Uma grande parte da crítica judaica ao cristianismo poderia ter sido: “Como você poderia afirmar que esse homem era o Messias, se ele foi pendurado num madeiro???”.  Então, essa pode ter sido uma afirmação bastante comum: “Jesus é anátema!. Não aceitamos um messias crucificado. Ele é maldito”. Assim, talvez não fosse incomum que eles pronunciassem maldições sobre Jesus. Certamente não era algo que o apóstolo Paulo nunca tivesse ouvido, pois ele mesmo outrora era um perseguidor dos que seguiam a Cristo.

Em Atos 26:11, o próprio Paulo confessa que no seu passado de perseguidor da igreja, forçava os cristãos a blasfemarem contra o Senhor. Então, na igreja de Corinto havia um judeu que estava amaldiçoando Jesus. Mas, este era um que professava ser cristão, fazendo isso na igreja, por isso esse seu ato foi aceito como vindo do Espírito Santo.

Você diz: “Mas, John, como alguém poderia crer que uma declaração dessas viria do Espírito Santo?!”. Deixe-me dar-lhe a melhor explicação que eu sei, e eu não conheço nenhuma outra. Existem cerca de 15 explicações e eu vou apenas dar-lhe o que eu considero que ser a melhor. Eu sei como eles chegaram a esse ponto. É que havia no meio dos coríntios uma heresia que se espalhava. Na verdade, essa heresia esteve presente na igreja durante toda a era do Novo Testamento.

Agora, ouça-me, é a heresia que nega a divindade de Jesus Cristo e nega Sua suficiência para salvar. Não vimos isso em nosso estudo de 1 João? Nós estamos vendo agora em nosso estudo de Colossenses. Essa heresia está em todo o lugar. Tornou-se, mais tarde, no segundo século, o que é conhecido como gnosticismo. Em Corinto, tratava-se ainda de um gnosticismo insípido, em formação. E, aparentemente, essa ideia cresceu no meio dos coríntios.

Era uma espécie de deslealdade para com Jesus Cristo. Observe que a declaração não dizia que ‘Cristo é maldito’, mas ‘Jesus é maldito’. Talvez o que os coríntios estavam fazendo era absorver essa heresia que separava o verdadeiro Cristo do Jesus humano. Esta era a visão dos gnósticos, ou seja, que o Espírito de Cristo habitava no espaço, governava o mundo e fazia tudo. E então, quando Jesus, o homem, que não era o Cristo, foi batizado, o Espírito de Cristo desceu sobre Ele. E, antes da Sua morte, o Espírito de Cristo saiu novamente, para que Jesus morresse como um criminoso amaldiçoado. Para que o Cristo moribundo fosse apenas um homem. O moribundo Jesus não era ninguém.

E é por isso também que os coríntios não entendiam a ressurreição de Jesus. Paulo teve que escrever todo o capítulo 15 para explicar a ressurreição. “Se Cristo não ressuscitou, nossa esperança é em vão…”, e assim por diante. A razão muito provável é que os coríntios começaram a aceitar a heresia de que o Espírito de Cristo e o Jesus humano estavam separados. E assim, eles estavam amaldiçoando o “Jesus”, supostamente reconhecendo o “Cristo” como glorificado e divino.

Agora, deixe-me dar um passo adiante. Isso é realmente importante. Olhe para 1 Coríntios 16:22. Agora ouça: “Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema. Maranata!”. Paulo estava dizendo, em outras palavras: “Vocês estão amaldiçoando Jesus, mas eu lhes digo que se vocês não O reconhecem, malditos sejam vocês!”. Veja que nesse versículo Paulo se refere ao “Senhor Jesus Cristo”, evidenciando a Sua unicidade, que não há separação entre o Jesus homem e o Cristo divino, como a heresia do gnosticismo apregoava.

A versão King James é que traz a expressão “Senhor Jesus Cristo” no verso 22 (acima). Manuscritos mais antigos apenas se referem a “Senhor”. Mas, mesmo que olhemos para os manuscritos mais antigos, o argumento de que Paulo estava combatendo o gnosticismo aí permanece de pé, pois o versículo 22 diz “Senhor“. Aí, você vai ao versículo 23, que diz “Senhor Jesus“. E, então, você vai ao versículo 24 , que diz “Cristo Jesus“. Assim,  você tem tudo sobre Cristo.

Paulo está dizendo: “Olha, você será amaldiçoado, a menos que você creia que se trata do Senhor-Jesus-Cristo, sem fragmentação”. Essa é a plenitude de sua divindade. Se você diz: “Bem, eu creio Nele como o Cristo, mas nego o homem Jesus…”, você seja maldito. O mesmo aconteça, se você crer Nele como Jesus, o homem, mas negá-Lo como Cristo, negando Sua divindade. E a maldição caia também sobre quem nega o Seu senhorio. Ele é o “Senhor-Jesus-Cristo”. Tudo na mesma pessoa, o Deus encarnado.

Você vê o ponto? O que aconteceu em Corinto foi que essa ideia sorrateiramente havia entrado, distinguindo o Jesus histórico do Cristo, negando a encarnação. Você sabe as implicações dessa heresia? Se  o Cristo deixou Jesus antes da cruz, então, qual é o significado, o impacto da morte dele? Não tem nenhum. E qual é o significado de Sua ressurreição? Não tem nenhum. E é por isso que Paulo escreve o capítulo 15 de 1 Coríntios e diz: “Se Cristo não ressuscitou, então a sua fé é em vão”. Você não pode simplesmente ter Jesus separado do Cristo.

Você vê, se você acreditar que  a parte humana e a parte divina de Jesus foram separadas na ressurreição, de modo que só foi morto o Jesus humano, então como esse homem poderia ter ressuscitado e, como disse Paulo, se Cristo não ressuscitou, não nos resta esperança. Veja, ao acreditar nessa heresia, você destruiu a cruz e a ressurreição, bem como a divindade de Cristo. Era essa heresia que estava penetrando naquela igreja.

Olhe para o 11º capítulo de 2 Coríntios, versículo 3: “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” Você vê? Ele diz, em outras palavras: “Tenho medo por você, porque há um processo de corrupção em relação à sua compreensão de Cristo. Olhe, evite cair na armadilha de acreditar em outro Jesus. Não deixe ninguém corromper sua mente da simplicidade que está no verdadeiro Cristo”.

E o que é esta simplicidade da qual ele está falando? É a unicidade, significando que o verdadeiro Cristo possui uma única identidade. A palavra aí tem o sentido de algo que não pode ser dividido, mostrando a indivisibilidade de Cristo. Assim,  creio que essa seja a melhor explicação para o fato de aqueles cristãos estarem amaldiçoando Jesus. Eles estavam separando o Jesus histórico do Cristo Espírito. Por isso esse comportamento estava sendo tolerado no meio daquela igreja.

Então, o teste doutrinal é o primeiro teste de um dom espiritual. Alguém ministra um dom, seja lá qual for, o primeiro teste é: o que está sendo dito sobre Jesus? O que está sendo dito sobre Cristo? Qualquer um que diz que Jesus é maldito não está falando da parte do Espírito Santo. Agora, pessoal, escute-me, o primeiro teste da operação de qualquer dom é a sua conexão com a Palavra de Deus revelada e autorizada.

A razão pela qual essas manifestações em Corinto estavam fora de linha foi porque o que eles diziam não concordava com o quê? A Escritura. Quando alguém vem e diz: “Eu tenho uma Palavra da parte do Espírito Santo”, se esta concorda com a Escritura, então não é necessária, e se não concorda, não vem do Espírito.

Agora, vamos ao lado positivo, no versículo 3: “ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.Quando alguém declara, com todas as suas faculdades,  com toda sua mente,  com todo seu coração e com todo seu ser que “Jesus é o Senhor”, você sabe que é do Espírito Santo. Agora, não bastam apenas as palavras. Tem que haver o compromisso. Um cético pode dizer: “Jesus é o Senhor”. Você pode pagar dez dólares para alguém dizer “Jesus é o Senhor”. Esse não é o ponto. Não é tão simplista.

O ponto é: ninguém pode verdadeiramente dizer, nenhum homem pode realmente confessar, nenhum homem pode realmente reconhecer que “Jesus é o Senhor”, exceto pelo Espírito Santo, quando essa profunda convicção de compreensão genuína de quem Ele é surge do Espírito. Quando alguém amaldiçoa Jesus, isso é prova suficiente de que o Espírito Santo não está envolvido nisso.

E eu quero que você perceba algo mais no versículo 3: “ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo“. Ah, isso é importante. A palavra senhor aí é kurios. É o modo habitual que o Novo Testamento traduz o nome usado no Antigo Testamento para Deus, Yahweh. Assim, Paulo está se referindo à confissão de que Jesus é Deus. Entende? Paulo está se referindo a alguém que confessa que Jesus (o nome que O identifica como um ser humano) é, de fato, Deus. Ele está declarando que não há a divisão proposta pelos gnósticos com relação à humanidade e divindade de Jesus.

Essa declaração do verso 3, então, leva-me novamente a crer que os coríntios estavam separando o Jesus humano do Cristo divino. Assim, a confissão verdadeira se distingue da falsificação através do reconhecimento de que Jesus, o Homem é, de fato, Deus.

Resumindo, o teste número um sobre os dons é que a sua manifestação, o seu uso evidenciam uma doutrina precisa acerca do Senhor Jesus Cristo. O Espírito Santo sempre leva os homens a reconhecerem a deidade, senhorio e a total suficiência de Cristo. E esse é o teste inicial. Veremos ainda outros testes sobre os dons. Agora, deixe-me dizer isso em encerramento: dons espirituais são muito importantes. Você sabe como eu sei que eles são importantes? Porque o versículo 1 diz que você não deveria ser o quê? Ignorante a respeito deles.

Outra razão pela qual eu sei que eles são importantes: pelo fato de Satanás se ocupar em falsificá-los. Se ele gasta seu tempo operando essa falsificação, é porque sabe o quanto os dons são importantes. Meu pai sempre costumava dizer: “Você sabe, as pessoas não falsificam o que não é valioso”. Você nunca ouviu falar sobre papel marrom falsificado. As pessoas falsificam dinheiro. As pessoas falsificam diamantes. As pessoas falsificam o que é valioso.E, se Satanás está tão ocupado nos nossos dias falsificando os dons espirituais, eles devem realmente ser importantes. Você entende isso?

E, se eles são importantes para a vida da igreja, para que possamos ser edificados para sermos como Jesus Cristo, então é melhor entendê-los e descobrir como podemos usá-los. Você não acha? Quando eu estava em Chicago esta semana, reunindo-me com outros pastores, eu estava muito ciente de que os pastores são parte de uma ótima equipe de homens. Deus deu à Sua igreja homens dotados. Temos um tremendo chamado e isso é algo magnífico. Nós conversamos sobre muitas coisas juntos, mas o que não sai da nossa mente é o fato de que Deus nos deu uma enorme responsabilidade.

E é minha responsabilidade ensinar a você, para que você possa chegar à maturidade. Também amar você, para que você possa ter um contexto para ouvir meu ensinamento e convicção. Também tenho que ser um exemplo para você, para que você possa ter um padrão. Essa é a minha responsabilidade. E sua responsabilidade, em resposta, é ver esses dons se desenvolvendo, pois o Espírito de Deus quer usar você também, não só o pastor.

Eu vejo que pastores, por exemplo, que não entendem o seu papel de ensinar a Palavra de Deus, que não entendem o que é amadurecer os santos, que nunca discipularam qualquer pessoa em toda a vida. E assim, eles não podem funcionar como deveriam, e as pessoas não podem responder como deveriam, e o corpo não pode ser edificado. E assim, quando Satanás apresenta a sua falsificação dos dons, esses pastores e suas igrejas caem na armadilha, não percebem a falsificação e em breve o caos se instala.

Cabe a nós, como povo de Deus e como pastores, ter certeza de que estamos empenhados em ensinar a Palavra de Deus, aprendê-la, submetermo-nos a ela e a obedecermos. Assim, conheça a diferença entre o verdadeiro e o falso dom, para que o Corpo de Cristo possa ser edificado para a Glória de Deus. Amém?

Vamos orar.

Pai, obrigado pela nossa comunhão nesta manhã. E obrigado por nos dar uma outra palavra clara em relação à compreensão de Tua verdade. Ajude-nos, Senhor, enquanto passamos por este estudo, enquanto derramamos nossos corações em Tua verdade, para poder compreendermos os princípios que mudam a vida, que devem mudar a maneira como pensamos e, assim, a maneira como atuamos . Ministre para as nossas mentes.

Que possamos ter mentes renovadas, mentes transformadas, para entendermos o que Tu estás dizendo. Para podermos julgar, discernir e ver o que é verdade e o que é falsificação, não só por nossa causa e pelo bem da nossa igreja, mas por causa de outros crentes que precisam tanto adquirir sabedoria. Dê-nos a Tua sabedoria. Oramos em Teu nome. Amém.


Esta é uma série de sermões sobre os dons do Espírito Santo e homens especialmente dotados, conforme links abaixo:


Este texto é uma síntese do sermão “Concerning Spiritual Gifts, Part 2”, de John MacArthur em 30/05/1976.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/1849

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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