O Rei Glorioso no Sinédrio

Anás era chefe de uma máfia que fazia do templo um covil de ladrões. Era o cérebro maligno por trás do Sinédrio. Juntamente com seu genro Caifás, comandou uma farsa para condenar Jesus. As falsas acusações dos mentirosos ficaram sem respostas, mas Jesus declarou ao Sinédrio: “Eu Sou o Cristo, o Filho de Deus”.

 Como era o sistema legal de julgamento em Israel

O livro de Deuteronômio é basicamente um reflexo de um breve período de tempo, cerca de um mês, em que Israel estava prestes a entrar na terra prometida após a libertação do Egito. É chamado de segunda lei. Deus deu instruções sobre como Israel deveria viver quando entrasse na terra de Canaã.

Há todos os tipos de instruções no livro de Deuteronômio sobre a conduta que Israel deveria ter, uma reiteração da lei que Deus deu no Monte Sinai, de muitos dos requisitos para a vida espiritual e social, sobre como o povo deveria viver entre as nações, como deveria conduzir as festas etc.

E então há uma parte muito importante em Deuteronômio 16:18-20, onde Deus expõe ao povo de Israel a responsabilidade que eles tinham de funcionar como uma sociedade justa.

Juízes e oficiais constituirás em todas as tuas cidades que o Senhor, teu Deus, te der entre as tuas tribos, para que julguem o povo com reto juízo. Não torcerás a justiça, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno; porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e subverte a causa dos justos. A justiça seguirás, somente a justiça, para que vivas e possuas em herança a terra que te dá o Senhor, teu Deus (Dt 16:18-20).

Ao longo da história de Israel, houve um esforço para levar a sério esta instrução. Os judeus desenvolveram um sistema de justiça muito sofisticado. Eles se orgulhavam disso.

A sociedade judaica da época de nosso Senhor era meticulosa quanto à observância da lei. Essa meticulosidade era basicamente liderada pelos fariseus e escribas, que garantiam que as pessoas aderissem à lei divina. Não somente à lei divina, mas às suas tradições.

É por isso que nosso Senhor disse: “Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem” (Mt 23:2-3). Ou seja: “quando falarem o que Moisés escreveu, vocês devem observar, porque o que Moisés escreveu veio de Deus”.

A lei era aplicada em todo Israel. Havia sinagogas praticamente em todos os lugares, que eram essencialmente o centro da justiça. Se uma cidade tivesse 120 homens, ali havia um tribunal local chamado Sinédrio (nome também da suprema corte em Jerusalém).

Sinédrio significa “sentar-se juntos” ou “reunir-se”. Era composto por 23 homens designados como anciãos. Eles sentavam-se como juízes e um deles era designado governante. Esse governante não era um governante monárquico ou político, ele era um juiz. Todo julgamento era proferido a partir do sistema religioso, os juízes eram anciãos na sinagoga.

Os locais com menos de 120 homens escolhiam alguns dos mais velhos da sua pequena aldeia e os nomeavam como juízes. Poderia ser 3 ou 5 ou 7 juízes. Sempre números ímpares para não haver empate nos julgamentos.

Esses conselhos ou tribunais eram essencialmente responsáveis por governar todas as comunidades. Eram eles que tomavam as decisões sobre questões jurídicas de todo tipo.

Jerusalém tinha a suprema corte, conhecida como o “Grande Sinédrio”. Era composto por 70 homens mais um (o sumo sacerdote). Havia 24 principais sacerdotes, 24 anciãos e 24 escribas e fariseus, menos um para tornar o número ímpar.

As leis eram absolutas e vinculativas. Não havia exceções;
Todos os julgamentos tinham de ser públicos;
Quem estava sendo julgado tinha direito à defesa;
Nenhuma acusação poderia ser aceita sem duas ou três testemunhas, conforme foi estabelecido em Deuteronômio.
Nenhum acusado poderia ser julgado à noite, nem no sábado  e nem em dia de festa ou no dia anterior a uma festa.

O falso testemunho era um crime muito grave e sujeito a severa punição (Dt 19:16-19). Se alguém fizesse uma falsa acusação de crime, a pena que o acusado iria sofrer, caso fosse condenado, seria aplicada contra a testemunha falsa.

Ou seja, se alguém acusasse falsamente uma pessoa de homicídio, quem prestou o falso testemunho receberia a sentença que seria dada ao acusado de assassinato, que, na lei original de Moisés, seria a pena de morte.

Quando aplicada a pena de morte, deveria haver um período de 24 horas para que a execução ocorresse. Era um tempo esperado para possibilitar o surgimento de mais evidências. As testemunhas, cujos depoimentos determinaram a culpa, tinham que infligir os primeiros golpes de execução por apedrejamento.

As ilegalidades no injusto julgamento de Jesus no Sinédrio

O julgamento judaico de Jesus, feito pelo Sinédrio, violou todos os princípios de justiça e leis, e perpetrou o maior erro jurídico da história. Foi ilegal do início ao fim, de todas as maneiras possíveis. O julgamento dos gentios, feito por Pilatos, foi igualmente injusto. 

O julgamento judaico no Sinédrio teve três fases: a acusação perante Anás, o julgamento perante Caifás e o novo julgamento público pelo Sinédrio pela manhã.

•  O julgamento dos gentios também teve também três fases: Jesus foi levado perante Pilatos, depois enviado a Herodes e depois levado de volta a Pilatos para a sentença final de morte.

Jesus esteve diante de um juiz ou juízes seis vezes em um período de menos de cinco horas. Todas as fases dos julgamentos foram aceleradas, deixando tempo para a zombaria, a flagelação e a crucificação às 9 horas da manhã (Mc 15:25).

O julgamento judaico terminou antes do amanhecer. Apenas a terceira parte foi feita à luz do dia. Foi simplesmente uma repetição para dar alguma legitimidade à farsa da injustiça.

Eles reconstituíram o julgamento às pressas, à luz do dia, para fingir fidelidade à lei. Jesus foi crucificado por volta das 9 horas da manhã. O julgamento de Deus ocorreu entre o meio-dia e às 3 horas da tarde. Jesus morreu às 3 horas da tarde. Ele foi enterrado antes do pôr do sol.

Vamos olhar agora para o relato de Marcos 14:53-65 e ver como foi o julgamento abusivo e ilegal de Jesus no Sinédrio.

Marcos 14
53 E levaram Jesus ao sumo sacerdote, e reuniram-se todos os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas.
54 Pedro seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo.
55 E os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho contra Jesus para o condenar à morte e não achavam.
56 Pois muitos testemunhavam falsamente contra Jesus, mas os depoimentos não eram coerentes.
57 E, levantando-se alguns, testificavam falsamente, dizendo:
58 Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas.
59 Nem assim o testemunho deles era coerente.
60 Levantando-se o sumo sacerdote, no meio, perguntou a Jesus: Nada respondes ao que estes depõem contra ti?
61 Ele, porém, guardou silêncio e nada respondeu. Tornou a interrogá-lo o sumo sacerdote e lhe disse: És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito?
62 Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu.
63 Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: Que mais necessidade temos de testemunhas?
64 Ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos o julgaram réu de morte.
65 Puseram-se alguns a cuspir nele, a cobrir-lhe o rosto, a dar-lhe murros e a dizer-lhe: Profetiza! E os guardas o tomaram a bofetadas.

Jesus diante de Anás

Tudo começou com uma acusação ilegal. Eles já haviam decidido matar Jesus, Todo o julgamento foi uma mera formalidade. Eles estavam apenas procurando algum motivo para justificar a condenação de Jesus.

Marcos 14:53 diz que eles “levaram Jesus ao sumo sacerdote, e reuniram-se todos os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas”.

Eles se reuniram no meio da noite porque Judas diria onde Jesus estaria naquela noite. Eles foram ao Getsêmani especificamente para prender Jesus e agora precisavam encontrar algum motivo para justificar sua condenação.

João 18:12-13 diz que “a escolta, o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus, manietaram-no e o conduziram primeiramente a Anás; pois era sogro de Caifás, sumo sacerdote naquele ano”.

Eles o levaram primeiro a Anás, sogro de Caifás. Anás era o cérebro maligno por trás do Sinédrio, ele era o verdadeiro poder. É por isso que as operações do templo eram chamadas de “bazares de Anás”. Era ele quem iria apresentar uma acusação contra Jesus.

Ele era como um grande júri de um homem só. Ele havia sido sumo sacerdote por cinco ou seis anos, cerca de vinte anos antes. Ele tinha cerca de oitenta anos de idade.

Por alguma razão, os romanos o forçaram a renunciar, então os próximos cinco sumos sacerdotes eram familiares de Anás e, naquele momento, era seu genro Caifás. Os sumos sacerdotes mantinham o seu título vitalício. Anás estava nos bastidores, orquestrando tudo.

Ele era odiado por liderar a corrupção do templo, juntamente com seus filhos, que o sucederam, solidificaram grande poder e se tornaram gananciosos e muito ricos. Três dias antes Jesus havia atacado a corrupção comandada por Anás no templo (Marcos 11:15-19), tal como fez no início de seu ministério (João 2:13-22).

Anás era um bandido, chefe de uma máfia que via Jesus como uma ameaça muito séria a seu império financeiro e seu poder. Seu trabalho naquele momento era forjar uma acusação contra Jesus. Enquanto Jesus estava diante de Anás, o Sinédrio se reunia na casa de Caifás para planejar o julgamento simulado.

João 18:1-27 relata quatro acontecimentos: Jesus sendo preso, Jesus diante de Anás, o Sinédrio reunido na casa de Caifás e Pedro negando Jesus.

Em João 18:19 Anás questionou Jesus sobre seus discípulos e sobre seu ensino. Foi uma pergunta ilegal, pois ele queria que Jesus dissesse algo para se autoincriminar. Mesmo que Jesus falasse algo contra si mesmo, nenhuma confissão sem provas era admissível como acusação.

Anás queria que Jesus admitisse algo pelo qual ele pudesse ser condenado, ele mesmo não tinha qualquer acusação. Jesus respondeu-lhe:

Eu tenho falado francamente ao mundo; ensinei continuamente tanto nas sinagogas como no templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada disse em oculto. Por que me interrogas? Pergunta aos que ouviram o que lhes falei; bem sabem eles o que eu disse (João 18:20-21).

Jesus estava essencialmente dizendo: “Isso é ilegal. Exijo um processo legal. Onde estão as testemunhas? Por que você me questiona?”. Jesus sabia que a pergunta de Anás era ilegal, que ele estava tentando forçar uma autoincriminação. Anás não gostou da resposta de Jesus.

Dizendo ele isto, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que falas ao sumo sacerdote? Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se falei bem, por que me feres? Então, Anás o enviou, manietado, à presença de Caifás, o sumo sacerdote (João 18:22-24).

Jesus diante de Caifás e do Sinédrio

Anás não conseguiu lidar com Jesus, e então resolveu mandá-lo para Caifás. O julgamento seria ilegal por vários motivos: Não havia crime algum, não havia testemunhas, tudo ocorria no meio da noite, a casa de Caifás não era um tribunal, não havia ali juízes devidamente nomeados e não havia autoridades judiciais, procuradores ou defensores.

Tudo era uma farsa, a sentença estava pronta, eles só queriam forjar algo como justificativa. O Sinédrio era obrigado a se reunir na sala de julgamento, no complexo do templo, à luz do dia e não no meio da noite na casa de Caifás. E todo julgamento deveria ser público.

Pela lei judaica, o Sinédrio não podia iniciar acusações, ele só podia investigar as acusações. É isso que os tribunais fazem até hoje. Era necessário uma acusação antes de haver um julgamento. Não havia nada para investigar. E eles estavam fazendo tudo em um dia de festa (Páscoa), o que também era ilegal.

Marcos 14:54 diz que “Pedro seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo”. Pedro estava no pátio da casa de Caifás, o sumo sacerdote, sentado com os oficiais, aquecendo-se junto ao fogo.

O Sinédrio estava reunido dentro da casa de Caifás e precisava trabalhar rápido. O julgamento tinha que terminar antes do amanhecer. Jesus estava em uma sala grande, Pedro está do lado de fora, no pátio escuro, perto de uma fogueira, com guardas romanos, policiais do templo e outros servos. Marcos relata:

Marcos 14
55 E os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho contra Jesus para o condenar à morte e não achavam.
56 Pois muitos testemunhavam falsamente contra Jesus, mas os depoimentos não eram coerentes.

O Sinédrio e os principais sacerdotes buscavam alguma falsa testemunha para forjar alguma acusação ilegal. A sentença de morte já estava pronta, eles só precisavam de uma falsa testemunha que dissesse algo minimamente coerente.

Estavam ali pessoas altamente religiosas e supostos guardadores da lei, buscando o testemunho falso de algum mentiroso. Mateus 26:59 diz eles procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. Apareceram falsas testemunhas, mas sem qualquer consistência.

Marcos 14
57 E, levantando-se alguns, testificavam falsamente, dizendo:
58 Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas.
59 Nem assim o testemunho deles era coerente.

Era madrugada da sexta-feira, não foi possível armar um perfeito esquema para achar uma falsa testemunha que fornecesse algo coerente contra Jesus.

Eles não queriam uma testemunha que defendesse Jesus. Essa foi outra grave ilegalidade. Em João 18:20-21 Jesus disse que havia várias testemunhas de tudo que ele ensinou, mas ele não queriam essas pessoas lá. Eles queriam matar Jesus naquela sexta-feira.

As falsas testemunhas que compareceram foram subornadas e suas histórias eram distorcidas e confusas. Algumas delas disseram: “Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas”. Jesus nunca disse isso. Eram acusações confusas, incompreensíveis e inventadas.

Mas ali havia uma conspiração contra Jesus, eles estavam determinados a matá-lo. Não iriam desistir. Eles precisavam criar algo para incriminar Jesus. Eles buscavam um acusação ilegal para um julgamento ilegal, eles precisavam de um testemunho ilegal de algum mentiroso.

O sumo-sacerdote, impaciente, levantou-se e questionou Jesus: “Nada respondes ao que estes depõem contra ti?” (Marcos 14:60). Ele começou a ficar frustrado. Jesus ficou em silencio vendo o desfile de mentirosos tentando criar algum factoide contra ele.

Marcos 14:61 diz que Jesus permaneceu em silêncio, em cumprimento a Isaías 53:7. Foi um silêncio ensurdecedor. Ele também ficou em silencio perante Herodes (Lucas 23:8-12) e perante Pilatos (João 19:9-11).

No silêncio ensurdecedor daquele momento diante de Caifás, tudo o que eles podiam ouvir na sala eram as reverberações das mentiras das falsas testemunhas, enchendo o ar denso com uma culpa amarela, o eco do seu próprio ódio maligno.

Jesus desmascarou seus corações mentirosos, deixando-os totalmente expostos um ao outro. Ele foi majestoso em seu silêncio. Eles não sabiam que estavam sendo usados por Deus, mesmo sendo quem eles eram. Jesus deveria morrer com um cordeiro pascal naquela sexta-feira. Deus soberanamente estava no controle de tudo.

Caifás havia declarado “convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação” (Jo 11:50). Sua intenção foi afirmar que Jesus tinha que ser morto para que fosse evitada alguma insurreição do povo, assim os romanos tirariam os poderes da liderança religiosa e aniquilariam a nação. Sobre essa declaração de Caifás, João escreveu:

Ora, ele não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos (João 11:51-52).

Deus usou as palavras malignas de Caifás como uma profecia da morte de Cristo em favor da nação. Jesus foi majestoso em Seu silêncio. Satanás estava provocando um tsunami de ódio, e a cegueira pecaminosa dos corações obscuros daquelas pessoas os faziam incapazes de ver a verdade.

A declaração que condenou Jesus

Não restava mais nada a eles. Então Caifás lhe pergunta: “És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito?” (Mc 14:61). Mateus 26:63 registrou: “Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus”. Eles exigiram a verdade de Cristo enquanto levantavam mentiras contra Ele.

“Filho de Deus” era um título de igualdade com Deus, seria uma reinvindicação de divindade. A pergunta não foi “o que tu fizestes?”, mas “quem és tu?”. Esta foi a primeira coisa legítima no julgamento. Foi uma pergunta legítima. Não exige autoincriminação, mas apenas uma resposta verdadeira.

Eles já sabiam qual era a resposta que Jesus daria. A intenção deles era obter uma confissão pública de Jesus, assim poderia acusá-lo de blasfêmia, por se dizer igual a Deus. Mas Jesus respondeu mesmo assim. Eles sabiam que Jesus afirmava ser o Messias, o Filho de Deus. Jesus lhe respondeu:

Marcos 14
64 … Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu.

“Eu Sou” foi uma resposta inequívoca de que ele era o Messias e o Filho de Deus, fazendo-se igual a Deus. Citando Daniel 7:13-14 e o Salmo 110:1, ele disse: “vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu”. “Filho do Homem” era um título messiânico conhecido, conforme citado em Daniel.

O Senhor Jesus sabia exatamente o que estava acontecendo. Mas ao invés de contornar a questão ou permanecer em silêncio, Ele respondeu com uma declaração ousada e inequívoca de seu messianismo e divindade. Com majestade destemida, Jesus enfrentou seus acusadores e anunciou-lhes que Ele era o Messias, o Filho de Deus, aquele que julgará a todos. 

•  Embora eles pudessem matá-lo naquele dia, ele ressuscitaria e ascenderia à mão direita do Pai.
 Embora eles pudessem julgá-lo humanamente naquele momento, um dia Jesus irá julgá-los soberanamente com perfeita justiça (João 5:22).

Estevão foi apedrejado até a morte pelo Sinédrio. E qual foi o motivo? Cheio do Espírito Santo, falando de Jesus, ele declarou: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus” (Atos 7:54-60). Estevão viu além da morte, ele declarou a glória de Cristo diante dos assassinos inimigos de Cristo, ele sabia da recompensa eterna.

Eles conheciam essas escrituras. Eles conheciam o Salmo 110 e Daniel 7:13-14. Ele entenderam o que Jesus quis dizer. Jesus viu além da cruz, do sepultamento e da ressurreição. Ele viu sua exaltação e sua posição de juiz sobre o universo, um juiz que julgará as nações com justiça e equidade.

O que Jesus disse, em outras palavras, foi: “Sim, Eu sou, e minha morte não será o fim, serei exaltado ao trono de Deus. Voltarei em glória para julgar e reinar sobre a terra.”

Este é um momento glorioso para nosso Senhor. A pergunta lhe serviu bem porque permitiu que Jesus, perto dos horrores da cruz, declarasse o que viria depois da cruz.

Ele sabia que essa declaração provocaria sua morte. Ele estava pronto, ele sabia que sua hora havia chegado, como havia declarado poucas horas antes de sua prisão (João 17:1). Ele havia passado pela agonia no Jardim do Getsêmani e estava pronto para cumprir a vontade do Pai até a cruz.

O veredicto do Sinédrio

Marcos 14
63 Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: Que mais necessidade temos de testemunhas?
64 Ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos o julgaram réu de morte.

Rasgar as roupas geralmente era um sinal de imensa tristeza, mas aqui foi usado como um falso pesar de indignação. O sumo sacerdote não podia rasgar suas vestes (Lv 21:50), só poderia proceder assim no caso de blasfêmia contra Deus.

Ali houve a acusação de que Jesus estava blasfemando contra Deus, e, de acordo com Levítico 24:16, era algo que exigia a morte. Então o sumo sacerdote diz: “Que necessidade temos ainda de testemunhas?” (Mc 14:63). Ele brada ao Sinédrio: “Ouvistes a blasfêmia; que vos parece?”. E então todos o julgaram réu de morte (Mc 14:64).

Eles blasfemaram do Deus encarnado durante todo o ministério de Jesus, ou seja, os verdadeiros blasfemadores estavam condenando o Filho de Deus como blasfemador.

A acusação de blasfêmia não era suficiente para Roma condenar alguém à cruz

Um julgamento totalmente ilegal. A decisão já havia sido tomada antes, tudo ali não passou de mero teatro. Mesmo assim, a acusação de blasfêmia não seria suficiente para os romanos crucificar Jesus. Não se tratava de algo punível com morte pela lei romana e somente os romanos poderiam fazer execuções.

Perante Pilatos eles tiveram que forjar novas falsas acusações. Lucas 23:2 registra que eles disseram que Jesus estava “pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a César e afirmando ser ele o Cristo, o Rei”. Ou seja, eles acusaram falsamente Jesus de incitar um levante contra César.

Eles jogaram no lixo séculos e séculos de elaboração de um sistema de jurisprudência e justiça para que pudessem matar Jesus. Eles foram unânimes em considerar o Filho de Deu digno de morte. E Marcos ainda registra os escárnios que fizeram contra Jesus após o julgamento teatral:

Marcos 14
65 Puseram-se alguns a cuspir nele, a cobrir-lhe o rosto, a dar-lhe murros e a dizer-lhe: Profetiza! E os guardas o tomaram a bofetadas.

Foi um tribunal supremo formado por líderes religiosos. E toda a zombaria e agressões a Cristo durou até o calvário. Mateus 26:67-68 registra que “uns cuspiram-lhe no rosto e lhe davam murros, e outros o esbofeteavam, dizendo: Profetiza-nos, ó Cristo, quem é que te bateu!”.

O final desta seção no versículo 65 diz: “E os oficiais o receberam com bofetadas”. O Sinédrio o entregou de volta à polícia do templo e aos guardas romanos, e eles seguiram o exemplo de seus líderes e agrediram Jesus.

A nação e o Sinédrio foram esmagados por Roma no ano 70 d.C., como juízo de Deus, conforme Jesus havia dito (Mc 13:1-2). E Deus os julgará ao inferno eterno. Porém, a mesma sentença recai sobre qualquer um que rejeita a Cristo, esse tal receberá a mesma condenação daqueles envolvidos diretamente na morte de Jesus naquela sexta-feira.

Todos nós somos merecedores do inferno eterno, mas foi pelos pecadores indignos que Jesus foi a Cruz para salvar todos aqueles que se arrependem e o recebem como Senhor e Salvador. Vamos orar.

Clamamos Senhor em favor daqueles que estão aqui e não conhecem o perdão dos pecados, que serão condenados ao inferno eterno juntamente com aqueles crucificaram Jesus, com todos que rejeitam a Cristo, com Judas, com os que se apegam a autojustiça e não buscam a verdadeira justiça. Sabemos que a salvação não vem de obras, mas é uma questão de arrependimento e fé pessoal em Cristo.

Oramos, Senhor, para que sua graça seja profunda e poderosa, caia sobre os corações de todos que estão fora do reino, todos que não se arrependeram e vieram a Cristo, e que hoje seja um dia em que façam isso. Quebranta os corações duros e abra os olhos para que contemplem a face do bendito Filho de Deus.

Resgata aqueles que estão presos ao pecado e estão em direção ao inferno eterno, que rejeitam a Tua majestade, rejeitam a Tua glória, rejeitam a graça, desprezam o céu e desprezam o perdão. Senhor, liberta-os da escravidão do pecado. Oramos em Seu nome. Amém.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos.

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série.


Este texto é uma síntese do sermão “The Ultimate Miscarriage of Justice”, de John MacArthur, em 1/5/2011.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-77/the-ultimate-miscarriage-of-justice

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno.


 

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