O Foco Singular da Igreja

A missão da igreja neste mundo é pregar o genuíno evangelho e chamar os pecadores ao arrependimento. Essa é a sua única mensagem. A igreja deve permanecer obediente, focada e mobilizada em cumprir a missão que lhe foi dada por Cristo, e não em qualquer outra coisa.

Tenho me concentrado no que Paulo disse: “decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2:2). É uma declaração muito clara para os cristãos quanto ao seu propósito no mundo.

É uma declaração que restringe tudo. Ele teve que lutar para manter esse foco. Em outras palavras, ele está dizendo: “Não quero sair desta mensagem: sempre sobre Cristo, e este crucificado”. Este é o nosso chamado como igreja neste mundo.

Se você olhar para cem anos atrás, verá que houve um momento na vida da igreja nos Estados Unidos em que as principais denominações, muitas delas ricas e poderosas, abandonaram esta mensagem, que deixou de ser “Cristo, e este crucificado”.

Essas denominações foram sugadas para todos os tipos de questões sociais. E o cristianismo se tornou quase sinônimo do que foi chamado  “evangelho social”. Eles estavam preocupados com coisas sociais em vez de coisas espirituais.

Houve um ataque à inerrância e inspiração das Escrituras, à divindade de Cristo, à doutrina da Trindade e à salvação pela graça mediante a fé somente em Cristo.

Esses ataques estavam literalmente vindo daquelas mesmas denominações que se declararam uma vez como denominações cristãs. Trocaram a mensagem do evangelho por batalhas temporais e sociais.

Como reação a isso, houve um grupo de homens que se reuniram e escreveram vários volumes intitulados “Os Fundamentos”. Eles disseram: “Temos que voltar aos fundamentos”. Eles tiveram um grande impacto, e isso levou a um movimento chamado “fundamentalismo”.

Esse movimento continuou por um tempo, e então acabou se transformando no que hoje chamamos de “evangelicalismo”, que é, estranhamente, algo muito difícil de definir.

Nota do site: A aplicação atual do termo “evangelicalismo” não está mais limitado aos verdadeiros cristãos, nem aos considerados conservadores ou fundamentalistas. O termo foi igualado ao próprio protestantismo, liberal ou não. E agora é mais frequentemente equiparado à política conservadora.

Estamos olhando para um dia na história da igreja quando o cristianismo, como tal, passou a ser visto por algo que não é. Precisamos voltar a ser vistos pelo que somos biblicamente.

O que significava ser chamado de “cristão” nos primeiros séculos?

Atos 11
26 tendo-o encontrado, levou-o para Antioquia. E, por todo um ano, se reuniram naquela igreja e ensinaram numerosa multidão. Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos.

Em Antioquia os discípulos foram chamados de “cristãos” pela primeira vez. Ser chamado de “cristão” era uma forma de as pessoas ridicularizarem, desprezarem e zombarem daqueles que professavam a fé em Cristo.

Ser identificado com Cristo era considerado pela população como uma marca de grave inferioridade intelectual. Aqueles irmãos eram considerados como canalhas. “Cristãos” significa “pequenos Cristos”. E isso era uma piada, um termo criado para desonrar.

Quando Paulo falava com o rei Agripa, ele respondeu: “Por pouco me persuades a me fazer cristão” (At 26:28). Ele estava apenas zombando de Paulo. Em outras palavras, ele quis dizer:

Você está tentando me persuadir a ocupar uma posição desprezível, ridícula e vergonhosa? Você está brincando comigo? Você acha que eu sou algum tipo de idiota que você poderia persuadir a seguir um desprezado que morreu pendurado numa cruz?

Veja o que o apóstolo Pedro escreveu sobre ser chamado de cristão:

1 Pedro 4
14 Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus.
16 mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome.

Em outras palavras, Pedro quis dizer:

Não tenha vergonha. Eles dizem isso para que você fique envergonhado. Mas, em vez de você ficar envergonhado, glorifique a Deus pelo nome de Jesus. Tenha profunda alegria em ser identificado como cristão, porque sobre você repousa o Espírito da glória e de Deus.

O escárnio que alguém sofria por sua identificação como cristão, era um consequência da rejeição e hostilidade do mundo contra Cristo, bem como uma séria oposição à responsabilidade de um cristão anunciar a mensagem de Cristo e mostrar ao mundo a glória do Senhor.

A mensagem única do evangelho

Hoje temos o uso da palavra “evangélico”, que é tradução da palavra grega “εὐαγγελίζω” (euangelizō), que significa “pregar o evangelho”.

Tal palavra aparece em 1 Coríntios 9:16, onde Paulo diz; “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!”.

O que isso significa? O foco principal de um cristão neste mundo é sua identificação com Cristo, bem como ser identificado como aqueles que pregam o evangelho genuíno de Cristo.

Em Atos 10 temos uma ilustração disso. Pedro estava falando com um gentio chamado Cornélio, que desejava saber qual era a mensagem que o apóstolo tinha.

Ele disse a Pedro: “mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor” (At 10:33).

Pedro declarou: “Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável” (At 10:34-35). Ou seja, Deus chamou pessoas de todos os povos, línguas e nações.

E qual era a mensagem de Deus? “Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos” (At 10:36).

A mensagem que Cornélio precisava ouvir e que Pedro deveria pregar era a mensagem original dada primeiro a Israel e depois estendida aos gentios: a paz vem por meio de Jesus Cristo, o Senhor de todos.

Não há outra mensagem. E a mensagem completa, que foi pregada por Pedro, é:

Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele; e nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, pendurando-o no madeiro. A este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto, não a todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos; e nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos. Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados (At 10:38-43).

Essa é a mensagem do evangelho, que significa “boas novas”. As “boas novas” são que Jesus é o Senhor de todos, o Juiz e somente através dele o homem pode ser reconciliado com Deus (2Co 5:18-21). E se o homem recusar a mensagem do evangelho, ele será julgado. Jesus disse:

Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas […] Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia (Jo 12:48).

Aos irmãos em Coríntios, Paulo disse:

Mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus (1Co 1:23).

Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado (1Co 2:2)

Foi essa mensagem que Jesus ordenou que fosse pregada. A mesma que Cornélio precisava ouvir e que Pedro efetivamente pregou. E então todos ali que creram no evangelho foram “batizados em nome de Jesus Cristo” (At 10:48).

O abandono da verdadeira mensagem do evangelho

Estamos abandonando a mensagem central do evangelho, e hoje os evangélicos são vistos como um movimento com objetivos políticos e de poder, para assumir o controle da nação e estabelecer um padrão moral tradicional, entre outros coisas.

Então, estamos sendo rejeitados, mas não é por nossa identificação com Cristo e por pregar o genuíno evangelho, mas pela ambição política, bandeiras da moralidade etc.

Não estamos surpresos por sermos rejeitados. Sim, nosso Senhor disse que seríamos odiados, perseguidos, rejeitados, presos e mortos (Mt 10:22; 25-28; 32-36; Jo 15:19-20; 17:14 etc.).

A questão é: Por qual motivo os evangélicos estão sendo rejeitados?

O Senhor disse aos discípulos:

Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. (Jo 15:18-20).

Ou seja, Jesus falou de uma perseguição por causa de seu nome, porque os mensageiros que portam a mensagem genuína do evangelho se identificam com Cristo e com suas palavras. E ele acrescentou:

Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado (Jo 15:21-22).

Por que eles odiaram Jesus? Porque ele expôs o pecado deles, e agora eles não podem dizer que desconheciam seus pecados. E Jesus continuou:

Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai (Jo 15:23-24).

Ele prossegue dizendo: “Isto, porém, é para que se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo”. Eles o odiavam por causa de sua mensagem, e sua mensagem era a mensagem do evangelho. O genuíno evangelho começa com o confronto do pecado, da morte e do julgamento. Jesus disse anteriormente:

Quem crê no Filho não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus (João 3:18-21).

Essa é a genuína mensagem do evangelho que o mundo odeia e que os cristãos jamais devem deixar de pregar. O Senhor nos ordenou a pregar esta mensagem. Pregar esta mensagem com fidelidade resultará em perseguições de todo tipo. 

Mas, os evangélicos hoje estão sendo ressentidos pelos motivos errados. Estamos sendo ressentidos por esforços na arena política e na moralidade social, e não pela pregação do evangelho genuíno de Cristo. 

Há movimentos cristãos estruturados lutando politicamente contra o aborto; pela reforma da justiça criminal; contra ideias que atacam a independência energética da nação; e outras centenas de causas. E eu concordo que são lutas justas.

Mas onde está erro em tudo isso? A igreja foi comissionada para pregar o evangelho e não militar politicamente por causas diversas. Se vamos ser ressentidos, que sejamos apenas por cumprir a ordem que o Senhor confiou a nós.

Como cristão eu sinto o peso em viver sob uma cultura moralmente depravada. Eu odeio isso. Isso muito me entristece. Eu gostaria de estar em uma sociedade virtuosa, íntegra, verdadeira e honesta.

Eu apoio e busco a moralidade bíblica. Eu não poderia fazer menos que isso. Eu exponho e ataco os pecados que destroem a sociedade como os profetas fizeram.

Mas não é por isso que estamos no mundo. A questão é:  se você quer virtude duradoura e justiça genuína, como você as obtém? Por meio da política, da mídia, de lobby etc.? Esse foi a ordem que o Senhor nos deu? Não. Ele mandou pregar o evangelho.

Não haverá bênção de Deus a não ser através do verdadeiro evangelho

As pessoas presumem que Deus abençoará nossa nação se ela se tornar moral. Mas, ouça isto: Deus nunca abençoou a moralidade. Ele não abençoa as pessoas porque elas são morais.

Basta olhar para Jesus. Ele aceitou os pecadores miseráveis, comeu com eles e passou tempo com eles, mas pronunciou maldições sobre os fariseus. Você quer moralidade? Você a tem com os fariseus. Eles eram as pessoas mais morais do mundo, e sua moralidade estava até mesmo ligada à revelação divina no Antigo Testamento.

E ainda assim, em Mateus 23, Jesus os atacou com as palavras mais severas que saiu de seus lábios. Ele pronunciou mais condenação sobre pessoas morais e religiosas do que sobre pessoas imorais e irreligiosas.

Uma nação mais moral não escapará do julgamento divino. Nossas esforços próprios por autojustiça não renderá nada diante de Deus.

Jesus olhou para o Templo e todo o sistema do judaísmo farisaico e de autojustiça, e pronunciou terrível julgamento. E o Templo foi demolido em 70 d.C., quando Deus usou os romanos como seu instrumento de julgamento.

A única maneira de escapar do julgamento não é pela moralidade. A moralidade separada da piedade é a moralidade do diabo. Toda religião falsa e todo código moral que a acompanha são projetados pelo diabo para enganar.

Os fariseus se declaravam filhos de Deus (Jo 8:41), mas, Jesus lhes disse: “Vocês são filhos do diabo” (Jo 8:44). Os fariseus pensavam que produziam outros filhos de Deus através de sua religião de autojustiça, mas Jesus lhes disse que eles produziam filhos do inferno duas vezes piores que eles mesmos (Mt 23:15).

Veja, tudo se resume a uma coisa: “Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema. Maranata!” (1Co 16:22). Nossa missão no mundo é apresentar o mundo a Cristo, não à moralidade bíblica. O padrão moral bíblico vem depois de o pecador se render a Cristo.

O único propósito que deve mobilizar a igreja

Nossa missão é proclamar Jesus como Senhor, Salvador e Juiz, como Pedro fez a casa de Cornélio (At 10). É proclamar Jesus como o único que pode perdoar nossos pecados e nos reconciliar com Deus (2Co 5:18-21).

Eu queria de todo o coração que os evangélicos fossem conhecidos por proclamar com fidelidade, ousadia, clareza, convicção e amor à verdade gloriosa de Cristo e do evangelho.

Mas estamos sendo ressentidos pela coisa errada. Por isso Paulo escreveu: “porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir. Esta palavra é fiel e digna de toda a aceitação” (1Tm 4:8-9).

A autojustiça que o homem manifesta por seus esforços próprios não tem valor eterno. A única mensagem que pode mudar o destino eterno de uma pessoa é o evangelho de Jesus Cristo. E a missão da igreja neste mundo é pregar esse evangelho. Eu oro para que sejamos fiéis, ousados, corajosos e determinados a fazer isso.

O inferno está cheio de pessoas aparentemente morais. Isaías declarou que “nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam” (Is 64:6).

Na verdade, não haverá pessoas verdadeiramente morais no inferno. Por isso Jesus disse: “não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento” (Lc 5:32). Por que ele disse isso? Porque “não há justo, nem um sequer” (Rm 3:10). Por isso o evangelho declara:

Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos (Rm 4:23-25).

Se o cristianismo significa alguma coisa no mundo, deveria ser “chamar os pecadores ao arrependimento”. A igreja deve se emprenhar em sua missão de pregar o genuíno evangelho. Essa é a sua mensagem, e ela deve estar mobilizada nesta mensagem, e não em qualquer outra coisa.

Ao nos sentarmos hoje na mesa do Senhor, lembramos do que Paulo escreveu: “porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1Co 11:26). Essa é nossa mensagem e esperança. Vamos orar.

Pai, agradecemos a Ti pela oportunidade de nos reunirmos e participarmos deste tempo ao redor da Tua Mesa. Lidera-nos e guia-nos, oramos em nome de Jesus, amém.


Leia tembém:


Este texto é uma síntese do sermão “The Church’s Singular Focus ″, de John MacArthur em 16/6/2024.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/81-181/the-churchs-singular-focus

Tradução e síntese feitas pelo site Rei Eterno


 

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