O Falso e Verdadeiro Refúgio
Há um tempo atrás eu meditei no Salmo 142, e a partir dele o Senhor começou a abrir meus olhos sobre um terrível engano que assolava minha alma.
Salmos 142
1 Com a minha voz clamei ao Senhor; com a minha voz supliquei ao Senhor.
2 Derramei a minha queixa perante a sua face; expus-lhe a minha angústia.
3 Quando o meu espírito estava angustiado em mim, então conheceste a minha vereda. No caminho em que eu andava, esconderam-me um laço.
4 Olhei para a minha direita, e vi; mas não havia quem me conhecesse. Refúgio me faltou; ninguém cuidou da minha alma.
5 A ti, ó Senhor, clamei; eu disse: Tu és o meu refúgio, e a minha porção na terra dos viventes.
6 Atende ao meu clamor; porque estou muito abatido. Livra-me dos meus perseguidores; porque são mais fortes do que eu.
7 Tira a minha alma da prisão, para que louve o teu nome; os justos me rodearão, pois me fizeste bem.
Este salmo de Davi espelha o mesmo contexto do Salmo 57. Davi relembrou os terríveis dias em que estava escondido na caverna de Adulão (I Samuel 22:1), enquanto Saul o caçava para o matar (I Samuel 18-24).
Ele se sentia completamente abandonado: “Refúgio me faltou; ninguém cuidou da minha alma” (v.4). Também sabia dos reais perigos que lhe cercavam: “Livra-me dos meus perseguidores; porque são mais fortes do que eu” (v.6). Também sabia que estava cercado por inimigos: “No caminho em que eu andava, esconderam-me um laço” (v.3). Conhecia quão grave era seu estado e clama: “Tira a minha alma da prisão” (v.7). Seu abatimento era extremo.
Mas, Davi clamou ao Senhor, derramou suas queixas e angústias perante Deus. Faltou-lhe refúgio entre os homens, mas ele diz: “A ti, ó Senhor, clamei; eu disse: Tu és o meu refúgio, e a minha porção na terra dos viventes” (v.5). Ele suplicou ao Senhor: “Atende ao meu clamor”, “Livra-me” (v.6). E ele tinha um anseio: “para que louve o teu nome; os justos me rodearão, pois me fizeste bem” (v.7).
Este salmo de Davi espelha muito a minha experiência. Há um tempo atrás eu li este salmo e vi que passava pelas mesmas angustias de Davi.
Por muitos anos vivi uma distorção comum que assola o cristianismo moderno, em que a dependência a Deus foi substituída por dependência a homens. Da mesma forma que eu dependia de homens, pessoas dependiam de mim e esses tinham seus dependentes também.
Nesse contexto distorcido, fala-se em oração, mas como a Palavra deixou de ser suficiente e única fonte de revelação da vontade divina, muitos líderes cristãos se comportam como portadores de novas mensagens, visões, revelações e profecias. O católico crê no Papa como sequenciador do ensino apostólico. E parte dos evangélicos crê nos seus “profetas” e líderes místicos, crê que eles são como novos apóstolos de Cristo ou algo parecido. E assim, pensa que tais homens têm algo novo a dizer da parte Deus. A Escritura deixou de ser suficiente, embora poucos ousam admitir isto.
Parte do mundo evangélico moderno crê que Deus perdeu o controle da igreja e agora líderes místicos e “profetas” têm a tarefa de resgatá-la. Assim, esses “profetas” desprezam tudo o que Deus fez ao longo dos séculos, tudo o que a igreja aprendeu com as intervenções soberanas de Deus ao longo da História. A obsessão por fazer algo novo e diferente é tentadora, cada qual pensa ter refundado a igreja.
Os católicos recorrem aos “santos”, pessoas que já morreram, para falarem com Deus. Parte dos evangélicos faz o mesmo, só que com homens vivos, a quem atribuem algo que os tornam mais poderosos, mais próximos de Deus e, portanto, com maior capacidade de fazer Deus ouvir suas orações. Esses líderes agregam pessoas em torno de si e não de Deus e da Sua Palavra. As pessoas tornam-se dependentes de suas “revelações” e “poderes”.
E assim, a Palavra de Deus vem sendo substituída pelas visões humanas. A maior parte dos evangélicos não conhece a Escritura Sagrada ou a conhece muito superficialmente. Vive da visão de seus líderes e segue a direção que eles apontam. E, ao longo dos anos, esses líderes alteram o conteúdo de suas mensagens, e as pessoas seguem prontamente as novas direções, numa clara prova de que a fé de muitos carece de consistência bíblica.
Esses líderes místicos abandonaram o estudo e o ensino sistemático da Palavra. Não cumprem aquilo que Pedro sabia ser a função dos pastores: “nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra” (Atos 6:4). Paulo disse aos irmãos em Éfeso: “nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (Atos 20:31).
Pedro disse que os pastores devem apascentar, ou seja, alimentar o rebanho de Deus (I Pedro 5:2). E o alimento é a Palavra de Deus e não o misticismo e as alegadas visões e profecias dos líderes. Esta realidade atraiu para a igreja pessoas incrédulas em busca de emoções, misticismo, relacionamentos e tudo mais que a alma anseia. Não à toa, temos tanta gente confusa, transtornada, deprimida, incrédula e perdida no meio da igreja.
Não tendo sede e fome da Palavra, contentam-se com experiências superficiais, tornando-se dependentes de homens e daquilo que eles dizem, e não do que a Palavra de Deus diz. A busca por sinais e profecias é apenas consequência da mesma incredulidade que leva muitos à busca de coisas extraordinárias em cultos satânicos.
Grande parte da igreja abandonou as doutrinas da graça reavivadas intensamente pela grande intervenção de Deus através dos reformadores. Deixou de crer na incapacidade absoluta do pecador e no chamado eficaz de Deus, fazendo com que o homem pense ter méritos em sua salvação e forças para mantê-la até o fim. Estão desconstruindo a Reforma e retornando ao falso evangelho que mistura fé com obras.
Eles creem que foram eles mesmos que buscaram a Deus por seus próprios meios, ou seja, que por terem sido mais humildes serão recompensados. E, já que foram eles próprios que tiveram a iniciativa de sua salvação, então pensam que são eles também que se manterão salvos. E muitos vivem atormentados imaginando ter perdido a salvação em algum momento de suas vidas. Um dia imaginam-se justificados e filhos de Deus, em outro dia, imaginam-se perdidos e filhos do diabo.
Isso é loucura. Não é o evangelho de Cristo. O Evangelho diz que é Deus quem leva os que seriam salvos a Jesus (João 6:44), pois o homem está morto em seus pecados (Efésios 2:1) e não pode compreender as coisas espirituais (I Corintios 2:14). É Deus que mantém aqueles que nasceram de novo salvos (João 10:27-29; I Pedro 1:3-5). Não há mérito humano. Como escreveu Paulo Cesar (Grupo Logos):
O evangelho mostra o homem morto em seu pecar
Sem condições de levantar-se por si só …
A menos que, Jesus que é justo, o arranque de onde está
E o justifique, e o apresente ao Pai.Mostra ainda a justiça de Deus
Que é bem maior que qualquer força ou ficção
Que não seria injusto se me deixasse perecer
Mas soberano em graça me escolheu
Eu sei o que é viver sob uma distorção do Evangelho. É exaustivo viver considerando vulnerável a obra da cruz e crendo em sua própria força e na força de outros homens. Esquecemos que “Deus é o que opera em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:13). Houve um momento em minha vida em que percebi que não havia respostas em homens e eu mesmo não tinha respostas para dar a ninguém. As minhas angústias eram fortes, e percebi que todos estavam angustiados. Vivia dentro de algo não fundamentado nas Escrituras Sagradas, sem a fé na suficiência da Palavra.
A derrota de Israel diante dos filisteus (I Samuel 4:2) faz com que Israel usasse a arca como seu trunfo (I Samuel 4:3-4) na esperança de que ela lhes trouxesse vitória. Contudo, os resultados são devastadores: eles perdem a batalha, a arca é tomada e os filhos de Eli são mortos. Israel cometera um enorme erro ao depender da arca, e não do Deus da arca, para salvá-los. É fácil cometermos o mesmo erro dependendo de tudo e não de Deus.
Então, fiz como Davi, olhei ao meu redor e vi que ninguém podia cuidar de minha alma e muito menos eu poderia cuidar das almas dos outros. Senti-me sozinho e abandonado. Não havia respostas. Ouvi muitos conselhos para tirar férias, descansar e viajar. Este é o resultado da psicologia que assola a igreja. O descanso da alma aflita é o Senhor Jesus e não o entretenimento. Ele disse que aliviaria os cansados e oprimidos.
E muitos ainda bradam: “não sigo doutrinas, sigo Jesus!”. Uma afirmação vazia e fútil que não quer dizer nada. Seguir Jesus tornou-se como seguir um vulto ou coisa parecida. A igreja se encheu de um misticismo supersticioso por não conhecer as doutrinas bíblicas da graça, e assim transformam Jesus em uma figura que brota da imaginação de cada um e não da sã doutrina. Há muitos falsos “cristos” no meio da igreja, e essa é a maior tragédia da igreja.
Quando o Senhor abriu meus olhos, mergulhei nas Escrituras Sagradas. Entendi o porquê de o salmista ter dito:
- Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho (Salmo 119:105).
- Tu és o meu refúgio e o meu escudo; espero na tua palavra (Salmo 119:114).
- Os meus olhos anteciparam as vigílias da noite, para meditar na tua palavra (Salmo 119:148).
Desde então, o Senhor tem me ensinado sobre Sua soberania e graça. Através das Escrituras e da oração, tenho conhecido o Senhor. Nele encontrei refúgio verdadeiro. O refúgio que via nos homens era tão enganoso quanto aquele que a psicologia pode oferecer. E tal como Davi, eu disse ao Senhor: “Tu és o meu refúgio, e a minha porção na terra dos viventes!”.
Olhava ao meu redor e via que ninguém poderia me conhecer e cuidar da minha alma, e nem eu poderia fazer o mesmo com os outros. Estar solitário no meio da multidão é trágico, a percepção de que nada e ninguém pode saciar a nossa alma é devastador. Mas olhei para cima e contemplei aquele que é o “meu pastor e nada me faltará” (Salmo 23:1). Mesmo andando no vale da sombra da morte, sei que Ele me conduz e que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28).
E, acima de tudo, ando por fé “tendo por certo isto mesmo, que aquele que em nós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1:6). Deus não deixará inacabada a obra que ele começou na vida de quem Ele soberanamente escolheu. Não há poder que possa arrancar qualquer uma das ovelhas das mãos de nosso Sumo Pastor (João 10:27-29), nem que Ele deixe 99 ovelhas no aprisco e vá buscar aquela que anda errante e solitária no deserto.
Esta foi a oração de Jesus por todos Seus discípulos, em todos os tempos: “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17:17). Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mateus 22:29). Conhecer, crer e ser guiado pela Palavra de Deus é a chave de uma vida firme na rocha. Por outro lado, aquele que não tem essa realidade viverá segundo o homem, e colherá todas as instabilidades e loucuras tão visíveis na igreja moderna.
O Senhor é quem nos elegeu, chamou, salvou e nos glorificará. Ele é que nos sustenta até aquele dia glorioso. Judas 24-25 diz:
Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória, ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém.
Obrigada por postar isso.
Sonhei com uma irmã esta noite e no sonho ela me dizia sobre este salmo, lembrei que tinha recebido notificação deste texto e vim ler.
Em meses nada da palavra de Deus entrava em meu coração.
Continuem orando por mim.
“Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações…” (Hebreus 3:7-8).