Felizes os Misericordiosos
Sermão do Monte – Marcas do Cristão
O Sermão do Monte, que inclui as bem-aventuranças, é o manifesto do Rei. Mateus preocupou-se em mostrar Jesus Cristo como rei. E então ele descreve minunciosamente o manifesto do Seu reino.
Nosso Senhor descreve a verdade a respeito de como se entra no seu reino e de como seus verdadeiros discípulos vivem em seu reino. Ele declarou:
Mateus 5
3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
4 Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
5 Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
9 Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
10 Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.
12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.
As bem-aventuranças formam uma sequência de verdades que são marcas dos verdadeiros cristãos.
E então chegamos agora na quinta bem-aventurança: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.
É uma verdade de mão dupla. Para você entrar no reino de Deus, você tem que ser alguém que busca misericórdia. E quando você estiver no reino de Deus, você será aquele que estenderá misericórdia aos outros. A misericórdia também é uma característica daqueles que estão no Reino de Deus.
A religião com que Jesus se deparou em seus dias era rasa, superficial e de obras externas, cheia de ritualismo e de preceitos dos homens. Um mar de hipocrisias.
Os líderes judeus estavam seguros em sua autojustiça, e que, portanto, seriam naturalmente do reino. Eles pensavam que liderariam no reino do Messias por causa de sua religião superficial.
Eles eram orgulhosos, indiferentes, egoístas e buscavam seus próprios interesses, mas confiavam que sua religiosidade hipócrita os faziam credenciados para uma posição elevada no esperado reino do Messias. Mas, sobre eles, Jesus disse:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia! Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. (Mateus 23:27,28)
Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade (João 8:43,44)
E o precursor do Messias, João Batista, disse a eles:
Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento. e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. (Mateus 3:7-10)
Em outras palavras, João Batista disse:
Não pensem que vocês se salvarão apenas por serem descendentes de Abraão. Se vocês não produzirem frutos de arrependimento, vocês jamais entrarão no reino e serão lançados no inferno.
Jesus Cristo sempre tratou do interior do homem, de suas atitudes e não simplesmente de seus atos. Atitude santa produz atos santos, mas o hipócrita é capaz de falsificar atos aparentemente justos para camuflar as trevas de seu interior. Esse era o caso do judaísmo apóstata nos tempos de Jesus.
As obras verdadeiramente santas resultam de atitude interior verdadeira e santa. É disso que Ele tratou no Sermão da Montanha. Martyn Lloyd-Jones escreveu: “O Cristão é algo antes de fazer algo”.
O legalista controla seu Cristianismo, o homem espiritual é controlado pelo seu cristianismo, era sobre isso que Jesus estava tratando. Os princípios que Jesus ensinou nas bem-aventuranças não são superficiais, são muito profundos.
Ser um verdadeiro Cristão significa não viver de aparências e farsas, mas de uma obra profunda de Deus em nosso interior, produzindo assim obras santas. Deus rejeitou a religiosidade hipócrita de Israel, Ele bem sabia o que havia no coração do povo.
Aborreço, desprezo as vossas festas e com as vossas assembleias solenes não tenho nenhum prazer. E, ainda que me ofereçais holocaustos e vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras. (Amós 5:21-23)
Jesus confrontou a liderança hipócrita de Israel. Enquanto eles se gabavam como espiritualmente ricos e cheios de justiça, Jesus lhes diz que o reino é apenas dos humildes de espírito, daqueles que reconhecem sua falência e miséria espiritual, que vivem lamentando sua pecaminosidade.
E Jesus lhes diz que o reino é daqueles que abandonam sua autojustiça e são tomados por uma profunda fome e sede da verdadeira justiça. Essas palavras chocaram a religiosidade hipócrita.
- Antes de chegar a quinta bem-aventurança, Jesus falou sobre humildade de espírito, lamento pelo pecado, mansidão, fome e sede de justiça. Todas elas são princípios inteiramente interiores, como o homem se enxerga diante de Deus.
- Mas daí em diante Jesus trata de manifestações que resultam das quatro primeiras: misericórdia, pureza de coração, ser um pacificador e, por fim, disposição de ser perseguido por causa da justiça, da qual o cristão tem profunda fome e sede.
O que significa ser misericordioso? O que Jesus estava dizendo ao ensinar: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5:7)?
Esse ensino foi uma afronta aos judeus daquela época. Eles eram muito orgulhosos, egoístas, cheios de justiça própria, condenadores e desprezavam os outros. O que Jesus estava dizendo realmente tocava na necessidade interior dos seus corações.
Muitos têm buscado usar essa bem-aventurança de forma humanista, dizendo: “Se você for bom com todo mundo, então todo mundo vai ser bom com você”. Não é verdadeira essa ideia de que se você é misericordioso com todos, você também receberá misericórdia de todos.
Os filósofos romanos diziam que a misericórdia é uma doença da alma, um sinal de fraqueza. Quando uma criança nascia, o pai tinha o direito decidir se ela viveria ou morreria afogada. Se o cidadão romano não queria mais o seu escravo, ele poderia matá-lo sem qualquer consequência.
Assim como na sociedade romana, em nossos dias vivemos em um ambiente egoísta, cheio de cobiça e competição. Seria mais verdadeiro dizer: “se você for misericordioso com alguém, essa pessoa vai pisar em você”. Nem sempre é assim, mas é algo mais próxima de uma sociedade longe de Deus.
Jesus Cristo foi o ser humano mais misericordioso que já existiu. Ele teve compaixão dos enfermos, aleijados, cegos e surdos. Ele amou as pessoas que eram rejeitadas e estigmatizadas. Ele sofreu com a dor humana, cuidou de seus discípulos e deu sua vida em resgate de pecadores miseráveis.
- Para a mulher adúltera que seria apedrejada, Ele disse: “Não te condeno, vai-te e não peques mais” (João 8:14)
- Quando acusado de comer com pecadores e publicanos, ele disse: “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores (Marcos 2:17)
- Ao ver a multidão faminta, ele diz: “Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanecem comigo e não têm o que comer” (Marcos 8:2). E assim multiplicou pães e peixes para alimentá-la.
Mas a multidão bradou contra eles perante Pilatos: “Fora! Fora! Crucifica-o! Não temos rei, senão César!” (João 19:15).
Isso é o ser humano. Se a misericórdia carregasse consigo a sua recompensa aqui nesta terra, os homens não teriam crucificado o ser humano mais misericordioso que já existiu. A pessoa mais misericordiosa que já existiu não recebeu nenhuma misericórdia.
Por outro lado, o Talmude registra que Gamaliel disse o seguinte: “Quando tens misericórdia, Deus terá misericórdia de ti. Se não tiveres misericórdia, Deus também não terá misericórdia de ti”. Eu concordo com Gamaliel. Tiago diz:
Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo (Tiago 2:13)
Uma pessoa que não mostra misericórdia demonstra que nunca respondeu à grande misericórdia de Deus, e, como uma pessoa não redimida, sofrerá o juízo eterno. Por sua vez, a pessoa cuja vida é marcada pela misericórdia, dá prova genuína que desfruta da misericórdia de Deus, escapando do juízo.
O que Jesus quis dizer no sermão do monte foi: “Sejam misericordiosos com os outros e Deus será misericordioso com você”. E quem prometeu a misericórdia foi Deus, que cumpre sua Palavra fielmente.
A palavra grega traduzida como “misericórdia” em Mateus 5:7 é usada somente mais uma vez no Novo Testamento, em Hebreus 2:17, que diz:
Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo;
Cristo é a grande ilustração de misericórdia. Ele é o nosso sumo sacerdote que intercede por nós. É dele que vem a misericórdia.
A forma do verbo, no entanto, é usada muitas vezes na Bíblia. Ela é muito comum. A palavra simplesmente significa: ter compaixão para socorrer o aflito e resgatar o miserável. Trata-se de uma compaixão genuína com uma motivação pura e não egoísta, que estende a mão para ajudar alguém necessitado.
Em outras palavras, Jesus estava dizendo para eles:
As pessoas no meu reino não são aquelas que ficam recebendo, mas sim aquelas que dão. As pessoas no meu reino não são condenadoras, elas são doadoras de misericórdia. As pessoas no meu reino não são aquelas que se colocam acima de todos, elas são pessoas que se rebaixam para ajudar a todos.
Com essas palavras, Jesus estava desferindo um golpe no coração da religião hipócrita, onde seus líderes se vangloriavam se sua autojustiça e não tinham qualquer compaixão para com os outros. Jesus lhes disse:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas! (Mateus 23:23)
Mateus 15
5 Vocês afirmam que se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: ‘Qualquer ajuda que vocês poderiam receber de mim é uma oferta dedicada a Deus’,
6 ele não é obrigado a ‘honrar seu pai’ dessa forma. Assim vocês anulam a palavra de Deus por causa da tradição de vocês.
7 Hipócritas! Bem profetizou Isaías acerca de vocês, dizendo:
8 ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.
9 Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens.
Eles não tinham misericórdia nem mesmo com os seus pais. Porém, o nosso Senhor diz que se você é um membro do Seu Reino, você será cheio de misericórdia.
E ele não está falando de um mero sentimento de misericórdia, mas de algo prático. Não é apenas sentir compaixão pelo aflito, mas socorrer efetivamente o aflito. Tiago diz:
Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: “Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se”, sem, porém, lhe dar nada, de que adianta isso? (Tiago 2:15,16).
Vamos fazer algumas comparações com várias palavras, para que possamos entender.
1) O perdão é misericórdia, mas a misericórdia não é só o perdão. A misericórdia é muito mais que o perdão.
- Tito 3:5 diz: “segundo sua misericórdia, ele nos salvou…”.
- Efésios 2: 4-5 diz: “[…]Deus, sendo rico em misericórdia […] estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo”.
- Daniel 9:9 diz: “Ao Senhor, nosso Deus, pertence a misericórdia e o perdão…”
A misericórdia é um elemento que está presente na salvação. É a misericórdia de Deus que faz Ele nos salvar, redimir e perdoar. Portanto, falamos a respeito de misericórdia e perdão juntos, porque elas pertencem uma à outra.
Mas o perdão não é a única expressão de misericórdia. Não podemos limitar a misericórdia ao perdão. A misericórdia é infinitamente maior que o perdão.
Podemos ser misericordiosos quando perdoamos, mas existem muitas outras formas de sermos misericordiosos que não envolve, necessariamente, o perdão. Jeremias escreveu:
Lamentações 3
21 Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.
22 As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim;
23 renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.
24 A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.
25 Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca.
26 Bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio.
2) Misericórdia é uma expressão do amor, mas o amor é muito mais que a misericórdia
O perdão surge da misericórdia e a misericórdia surge do amor. Por que Deus é misericordioso? Por causa de seu amor. Efésios 2:4 diz: “Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou…” (Efésios 2:4).
Você vê a sequência? Deus ama, o amor é misericordioso e a misericórdia perdoa, além de fazer muitas outras coisas. Portanto, o amor está por trás da misericórdia, mas o amor é maior do que a misericórdia.
A misericórdia é maior do que o perdão, porém o amor é maior do que a misericórdia, pois o amor pode fazer muitas outras coisas, muito mais do que apenas demonstrar misericórdia.
A misericórdia pressupõe que há um problema, uma necessidade, uma aflição etc., mas o amor pode agir mesmo quando não existe nenhum desses motivos.
Jesus disse: “O Pai ama ao Filho, e todas as coisas tem confiado às suas mãos” (João 3:35). E sabemos que Jesus não carecia de misericórdia do Pai, pois Ele também é Deus.
O amor age por afeição, a misericórdia por necessidade. O amor é constante, a misericórdia está reservada para os momentos de dificuldade. Mas não existe misericórdia sem amor. O amor é maior do que a misericórdia.
Esse é um pensamento tremendo, não é mesmo? Deus nos ama por toda a eternidade. Quando estivermos eternamente em sua presença, com um corpo glorificado, não mais precisaremos de sua misericórdia e perdão, mas seu amor permanecerá.
Paulo escreveu que o amor jamais acaba e que “permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” (1 Coríntios 13:8,13). Um dia não precisaremos da esperança e fé, pois contemplaremos a plenitude de Deus, mas o amor permanecerá para sempre.
3) A misericórdia e a graça. A misericórdia e a graça são uma coisa só?
A misericórdia sempre lida com elementos da dor, miséria e dificuldade. Sempre é o resultado do pecado. A misericórdia sempre pressupõe problemas. Mas a graça lida com o próprio pecado. A misericórdia lida com os sintomas e a graça lida com o problema.
Primeiro vem a graça, removendo o pecado, e então a misericórdia vem e elimina a punição. Elas são diferentes. Veja como Paulo saudou a Timóteo:
- “A Timóteo, verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor” (1 Timóteo 1:2).
- “Ao amado filho Timóteo, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor” (2 Timóteo 1:2).
Na parábola do bom samaritano (Lucas 10: 30-37), um homem judeu estava caído ao lado da estrada, após ser roubado e espancado até quase a morte. O sacerdote e o levita passaram sem querer se envolver. De repente, um samaritano encontra aquele homem, usa de misericórdia, e o socorre, cuidando de seus ferimentos.
Mas não ficou apenas nisso, carregou aquele homem em seu animal, colocou-lhe em uma hospedaria e deixou as despesas pagas para que não faltasse nada àquele homem.
Você sabe o que a misericórdia faz? Cuidou das feridas. E você sabe o que a graça faz? A graça vai além, aluga um quarto para o rapaz para que ele possa viver em um lugar. A misericórdia tira a dor e a graça dá uma condição melhor.
A misericórdia diz “não” para o inferno e a graça diz “sim” para o céu. A misericórdia e a graça são dois lados da mesma coisa maravilhosa. Deus oferece tanto misericórdia como graça.
4) Misericórdia e justiça.
Muitos dizem: “Bom, se Deus é um Deus de justiça, como que Ele pode ser misericordioso?”. Se você olhar dessa forma, se Deus é um Deus justo, santo e reto, ele pode simplesmente negar a justiça?
Ele pode dizer: “Bom, eu sei que você é um pecador e eu sei que você já fez coisas terríveis, mas, eu te amo muito e eu tenho tanta misericórdia que eu vou simplesmente lhe perdoar”?
Ele pode fazer isso? Sim, ele pode. Você sabe por quê? Porque ele veio a este mundo em forma humana e morreu em uma cruz. Naquela cruz, quando Jesus morreu, a justiça foi satisfeita.
Você entendeu isso? Deus disse que não haveria perdão de pecado sem o derramamento de sangue (Hebreus 9:22). Deus também disse que deveria haver um sacrifício perfeito para carregar os pecados do mundo (Hebreus 10). E Jesus fez exatamente isso, satisfazendo a justiça de Deus.
A misericórdia de Deus não viola sua justiça. Deus não é tomado de sentimentalismo tolo para desculpar o pecado, mas boa parte da igreja está fazendo isso. Deus estendeu sua misericórdia ao pecador quando seu filho tomou o cálice de sua ira contra o pecado.
Saul, movido por sua emoções, não se incomodou em desobedecer a Deus, ao poupar o rei amalequita Agague (I Samuel 15: 7-9). E por isso Deus o rejeitou e tirou seu reinado. Samuel lhes disse:
A rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei (1 Samuel 15:23)
Deus nunca violará a verdade de sua justiça e santidade para ser misericordioso. Ele será misericordioso, mas somente quando há verdade estiver presente. Muitos na igreja não reconhecem, não confessam e não se arrependem de seus pecados, e mesmo assim querem misericórdia.
O homem endurecido em seu pecado será julgado sem misericórdia. Somente através do novo nascimento, quando o homem reconhece sua miséria e falência, é que ele será livre do juízo e alvo da misericórdia de Deus. Jesus disse:
Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus […] Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus (João 3:3,36)
A misericórdia é mais do que o perdão e é menos do que o amor. Ela é diferente da graça. E ela está junto com a justiça. Ela é mais do que o perdão, menor do que o amor, diferente da graça e caminha junto com a justiça.
O misericordioso não ouve apenas os insultos de homens maus, mas o seu coração se estende para os mesmos homens maus em compaixão. O misericordioso tem simpatia. Ele perdoa. Ele é gracioso. Ele é amável. Mas ele não usa o emocionalismo para desculpar o mal. Misericórdia significa estender a mão em simpatia com total perdão, amor e graça quando a verdade é aceita
Se meu filho vier e confessar: “Pai, eu fiz algo errado, estou arrependido e peço perdão”, eu serei misericordioso. Mas, se eu descobrir que ele não me falou a verdade, ocultou ou não admitiu o erro, haverá punição. Temos que lidar com atitude para com a verdade, e não com sentimentalismo. Mas onde se lida com a verdade, devemos ser misericordiosos e graciosos, amorosos e perdoadores.
- Abraão foi injustiçado pelo seu sobrinho Ló (Gênesis 13: 7-11). Mas quando Ló foi feito prisioneiro por 4 reis (Gênesis 14: 1-12), Abraão foi avisado e, movido por misericórdia, saiu para resgatar Ló (Gênesis 14:13-17).
- Foi a misericórdia da parte de José, depois de ter sido vendido como escravo por seus irmãos (Gênesis 38: 19-36), que o levou a socorrê-los diante da fome e do desespero (Gênesis 45).
- Foi a misericórdia da parte de Moisés depois de Miriam ter se rebelado contra ele, recebendo do Senhor a lepra, que fez Moisés clamar, “Cure-a Senhor, eu te rogo” (Números 12).
É a misericórdia que nos leva a estender a mão para perdoar, cuidar, ajudar e erguer as pessoas. Nós não somos seus senhores, não pisamos nelas e não as empurramos para baixo. Nós não nos consideramos superiores.
Deus sempre se identificou com o pobre e o necessitado. Jesus disse:
Mateus 25
34 Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.
35 Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes;
36 estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.
37 Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber?
38 E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos?
39 E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar?
40 O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Os misericordiosos são aqueles que estendem a mão, não aqueles que agarram e tomam. Deus nos ajuda a superarmos os terrores de uma sociedade corrupta que nos diz para tomarmos tudo o que queremos, e nos faz ouvir sua voz para darmos tudo o que nós pudermos dar.
Nós devemos ser misericordiosos. Se alguém ofende você, seja misericordioso. Se alguém fizer alguma coisa contra você, seja misericordioso. Tenha compaixão, seja benevolente, seja compreensivo. Se alguém cometer um erro, fizer um julgamento errado, falhar em pagar uma dívida ou falhar em devolver algo que pegaram emprestado, seja misericordioso. Esse é o caráter do reino.
Paulo faz uma síntese das marcas de uma sociedade sem Deus:
Cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. (Romanos 1:29-31)
O que merecemos? Como podemos ser cruel com alguém quando precisamos tanto da misericórdia de Deus?
A fonte da misericórdia.
Deus é a fonte de misericórdia. É um dom de Deus. Ela é apenas para o humilde de espírito, que lamenta seus pecados, que é manso diante de um Deus santo e tem fome e sede por sua justiça. Quando recebemos a sua justiça, recebemos o dom de misericórdia.
A misericórdia genuína não é um atributo humano natural. A única forma de alguém ser misericordioso é ter dentro de si a misericórdia dada por Deus. E a única forma de ter a misericórdia dada por Deus é ter a justiça de Deus que vem através de Cristo.
É sobre isso que Jesus está falando. A não ser que você venha por esse caminho de fome e sede de justiça, e seja cheio por Deus, você nunca conhecerá a verdadeira misericórdia.
Existem muitas pessoas que desejam a benção, mas não aquele que abençoa. Balaão, o falso profeta, desejou exatamente isso. Ele disse: “Que eu morra a morte dos justos, e o meu fim seja como o dele” (Números 23:10). Ele queria morrer como um justo, mas que ele não queria viver como um justo.
As únicas pessoas que recebem a bênção e a misericórdia são as pessoas humildes de espírito, que reconhecem sua miséria e lamenta, tonando-se mansa e buscando a justiça que vem somente através de Cristo. Quando Deus dá a sua justiça, com ela vem a misericórdia.
Jesus disse: “Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai” (Lucas 6:36). Deus é a fonte de misericórdia e Ele é aquele que concede a misericórdia. O salmista escreveu: “Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem” (Salmos 103:11).
O ato supremo da misericórdia de Deus foi a cruz. Deus se fez homem e se tornou um sumo sacerdote misericordioso. O escrito da carta aos Hebreus registrou isso:
Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna (Hebreus 4:15,16).
Deus pode agir em nosso favor com graça pois ele já derramou toda sua misericórdia por nós. A fonte da misericórdia está aberta e fluindo livremente. Miquéias escreveu:
Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia (Miquéias 7:18).
A substância da misericórdia. O que significa ser misericordioso? Como a minha vida se torna uma vida de misericórdia?
Sobre o aspecto físico, a Bíblia está repleta de exemplo de como podemos exercer misericórdia suprindo os necessitados de alguma coisa. Por exemplo, Paulo animou os irmãos em Corinto sobre o valor da disposição deles em suprir as necessidades dos santos:
2 Coríntios 9
1 Ora, quanto à assistência a favor dos santos, é desnecessário escrever-vos,
2 porque bem reconheço a vossa presteza…
7 Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.
8 Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra,
9 como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre.
10 Ora, aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça,
11 enriquecendo-vos, em tudo, para toda generosidade, a qual faz que, por nosso intermédio, sejam tributadas graças a Deus.
12 Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus,
13 visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos,
14 enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós.
15 Graças a Deus pelo seu dom inefável!
Por outro lado, há outro aspecto, que não envolve necessidades físicas, são apenas frutos espirituais. E esse é o ponto alto da misericórdia.
1) Piedade
Agostinho disse: “Se eu choro pelo corpo do qual a alma está ausente, eu não deveria chorar pela alma da qual Deus está ausente?”. Nós choramos derramamos muitas lágrimas por corpos mortos. Eu fico pensando no que nós fazemos com relação as almas sem Deus.
Quando Estevão estava morrendo apedrejado por uma multidão de religiosos enfurecidos com sua fé, ele se ajoelhou e bradou em alta voz: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (Atos 7:60). Ele estava tendo piedade daquelas almas.
Quando Jesus estava sendo crucificado Jesus na cruz, pouco antes de morrer Ele intercedeu por seus algozes dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).
Isso é piedade. Você e eu precisamos enxergar o perdido com piedade, não agindo como se nós fossemos melhores do que eles. Não estamos em Cristo por méritos próprios, mas por causa da misericórdia de Deus para conosco.
2) Confrontar com mansidão as pessoas a respeito do seu pecado, para que Deus lhes dê perdão.
Sobre isso Paulo ensinou a Timóteo:
Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos (2 Timóteo 2:25,26).
Repreender o pecador por seu pecado é uma demonstração de zelo e amor, não fazer isso, deixando-o preso ao engano, é uma crueldade. Judas chega a dizer: “E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo” (Judas 1: 22-23).
3) Quando oramos pelos outros
É um ato de misericórdia. O seu grau de misericórdia pode ser indicado pela sua fidelidade em orar pelas pessoas. Você ora pelos perdidos? Você ora pelos seus vizinhos? Você ora pelas pessoas sem Cristo? Você ora pelos irmãos que estão andando em desobediência? A sua oração é um ato de misericórdia pois ela libera a benção de Deus.
4) Através da pregação
É o maior ato de misericórdia que você pode fazer pela alma de alguém.
Se eu for misericordioso, o que acontece?
O Senhor diz: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5:7). Jesus repetiu esse princípio no sermão do monte:
Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas (Mateus 6: 12, 14-15).
São os misericordiosos que recebem misericórdia.
Mas há algo que quero chamar atenção: Algumas pessoas acham que é assim que você é salvo. Esse é um erro terrível da Igreja Católica.
Esse pensamento diz que Deus retribui a misericórdia que você fez. Ou seja, a salvação seria alcançado pelo mérito do homem misericordioso. Isso é uma heresia.
Ninguém recebe misericórdia por mérito próprio. A misericórdia somente é aplicável onde não existe mérito, senão ela não é misericórdia. O que tem mérito merece recompensa e não misericórdia. A misericórdia é dada porque a misericórdia é necessitada por aqueles que a demonstram.
Isso é bem claro na parábola do rei que resolveu ajustar contas com seus servos (Mateus 18: 23-35). Nesta parábola Jesus fala de um servo que teve sua enorme dívida perdoada pelo rei, mas que não teve compaixão de quem lhe devia pouco.
Aquele servo retrata alguém que nunca, de fato, experimentou a misericórdia divina, pois a verdade e a misericórdia nunca estiveram juntas nele. Quando ele foi embora e teve uma oportunidade de demonstrar misericórdia, o que ele fez? Agiu com crueldade com quem lhe devia muito pouco. Por fim, o rei disse àquele homem:
Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida (Mateus 18:32-34).
Qual o ensino aqui? Se alguém demonstra misericórdia, apenas dá evidência de que recebeu misericórdia. O servo mau nunca teve uma verdadeira misericórdia. É por isso que ele não pode dar. Porém, aquele que recebeu misericórdia dá e recebe mais e mais.
Jesus está dizendo que o que recebeu misericórdia será misericordioso e o que recebeu perdão será perdoador. Não é mérito humano, damos aquilo que recebemos gratuitamente do Senhor. Deus não deve nada para recompensar pecadores, tudo Ele faz por sua graça e misericórdia.
Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos […] quem primeiro deu a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! (Romanos 11: 32, 35-36)
Por Jesus ter dito que “eles alcançarão misericórdia”, muitos entendem que é uma promessa para o julgamento futuro. Mas não é algo só para o futuro, é para agora também.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor por longos dias (Salmos 23:6)
O Filho de Deus é um sumo sacerdote misericordioso. A misericórdia é para agora e para o futuro também.
As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele (Lamentações 3:22-24)
Mas Tu, ó Senhor, és um Deus cheio de compaixão, e gracioso, longânimo e abundante em misericórdia e verdade. (Salmo 86:15).
Vamos orar
Pai, nós te agradecemos por nos dar esse tempo com a Tua Palavra. Foi um tempo rico e pleno. Sou muito grato pela disposição de teu povo em ouvir sua palavra. Eu compartilho muitas coisas que o Senhor colocou em meu coração e eu confio na obra do teu Espírito em fazer prosperar a tua Santa Palavra.
Senhor, eu tenho um profundo amor pela tua Palavra. Eu apenas oro, Senhor, para que Tu uses isso da forma mais ampla possível na vida dessas pessoas. Torna-nos misericordiosos, Senhor.
Que nós não sejamos corruptos ou orgulhosos, mas que nós possamos saber que nós, de todas as pessoas que já existiram, precisamos desesperadamente da Tua misericórdia.
Tu nos deste. Que nós não sejamos como o homem que recebeu do seu mestre e nunca compartilhou com o outro. Que nós não sejamos cristãos falsos, mas que nós possamos dar evidência de sermos reais, por sermos misericordiosos.
Por consequência disso, nós sabemos da constante benção da tua contínua misericórdia. Assim, Pai, nós nos entregamos a Ti. Faça-nos misericordiosos em um mundo sem misericórdia, para a glória de Jesus. Amém.
Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre o Sermão da Montanha
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Este texto é uma síntese do sermão “Happy Are the Merciful ”, de John MacArthur em 05/11/1978.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/2202/happy-are-the-merciful
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno