Eu Sou o Bom Pastor

Jesus se deparou com blasfemadores que o consideravam endemoniado e com aqueles que o admiravam por alguma coisa, mas não se curvaram perante ele como pecadores arrependidos. Ambos acabam na mesma condenação. Tanto faz se você o amaldiçoa ou o admira superficialmente, mas não vem quebrantado e confessa: “Para quem irei eu? Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo, Tu tens a palavra da Vida Eterna”.

Continuando agora o evangelho de João, vamos olhar para João 10: 11-21. É uma porção realmente maravilhosa, rica e preciosa da Escritura. Nosso Senhor se identifica como o Bom Pastor que cuida de suas ovelhas.

Precisamos entender primeiro o sentido dessa metáfora no contexto em que Jesus vivia. Para entendermos profundamente muitos ensinos de Jesus, não podemos separá-los do contexto histórico, dos eventos e das pessoas.

Em João 8, Nosso Senhor estivera em duro confronto com os líderes de Israel. Eles o rejeitaram, declararam seu ódio e estavam a caminho de matá-lo. Antes do capítulo 10 de João, eles já haviam tentado matá-lo pelo menos três vezes.

Em João 8:44 Jesus lhes disse: “Vós sois do diabo, que é vosso pai”, explicando que o diabo é assassino e pai da mentira. E quando Jesus se identificou como Deus (João 8:58), eles “pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus se ocultou e saiu do templo” (João 8:59).

Ele escapou de um apedrejamento. Ao sair do templo, conforme João 9, Jesus viu um cego de nascença que vivia pedindo esmolas. Jesus o curou. Foi algo que chamou muita atenção. E isso deixou os líderes religiosos ainda mais angustiados. Eles já haviam decidido expulsar da sinagoga qualquer um que confessasse crer em Jesus como o Cristo (João 9:22).

No final o ex-cego confessa sua fé em Jesus: “Creio, Senhor; e o adorou” (João 9:38). Aquele homem foi expulso da sinagoga (João 9:34) e a fúria do líderes religiosos contra Jesus aumentou drasticamente.

O capítulo 9, então, apresenta uma extensão do capítulo 8 na hostilidade dos líderes religiosos contra Jesus. A cura do cego de nascença não mudou nada na rejeição da liderança religiosa. Em vez de reconhecer seu Messias, eles o rejeitaram e queriam matá-lo.

O SIGNIFICADO DE SER PASTOR

Em Israel havia muitas ovelhas e pastores, o termo “pastorear” érea muito comum no mundo antigo. O Salmo 23 diz que “O Senhor é meu pastor”. Todos entendiam o significado disso. Os pastores proviam cuidado, alimentação e proteção às ovelhas.

Os líderes religiosos de Israel se autodenominavam pastores de Israel, mas eles eram falsos pastores. Na verdade eram lobos em pele de cordeiro. E no final do capítulo 9 Jesus diz que eles estavam tomados pelo pecado.

Prosseguiu Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem se tornem cegos. Alguns dentre os fariseus que estavam perto dele perguntaram-lhe: Acaso, também nós somos cegos? Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado. (João 9:39-41)

Ao entrarmos em João 10, Jesus ainda estava falando com eles. O cego ainda estava lá. Os discípulos estavam lá. A multidão estava ali perto do local onde ocorreu a cura. E os fariseus e escribas ainda estavam lá.

Jesus então inicia uma descrição de como um bom pastor conduz sua vida. Essa descrição é o que vimos no sermão anterior, nos versículos 1 a 10.

Um pastor tem suas próprias ovelhas, ele conhece suas próprias ovelhas, ele tem o direito e a responsabiliade de conduzir e alimentar suas próprias ovelhas.

À noite as ovelhas vinham para o aprisco da aldeia e cada pastor trazia suas ovelhas, e todas ficavam no mesmo aprisco. E então, pela manhã, o pastor vinha e chamava suas próprias ovelhas e as chamava pelo nome. Ele conhece suas ovelhas. As ovelhas conhecem a voz de seu mestre e o seguem. As ovelhas não seguirão um estranho.

Enquanto as ovelhas estão no aprisco à noite, ladrões e assaltantes podem tentar escalar o muro e esfolar as ovelhas ou até abatê-las. E assim, tem que haver um vigia colocado na porta para proteger as ovelhas, porque sempre há ladrões e salteadores.

O pastor se compromete a protegê-las à noite no aprisco, e depois, pela manhã, vindo e conduzindo-os e, pelo nome, uma a uma, para pastos verdejantes e águas tranquilas. Essa é a figura. A realidade fica clara quando Jesus diz:

Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. (João 10: 7-10).

É uma imagem da salvação fornecida pelo verdadeiro pastor. O Pastor divino tem Suas próprias ovelhas. Eles foram dados a Ele pelo Pai. Eles foram escolhidos antes da fundação do mundo. Ele conhece todas elas pelo nome. Ele as chama, elas conhecem sua voz e o seguem.

Eles não seguirão um estranho. Isso é salvação. Os eleitos estão no aprisco do mundo. Mas quando chega a hora de chamá-los, e a voz do Pastor chama, e eles ouvem aquela voz, e eles seguem aquela voz. Esta é a graça irresistível; este é o chamado eficaz, o chamado divino para a salvação.

Eles não seguirão um estranho ou a uma voz desconhecida. Existem ladrões, assaltantes e falsos mestres que tentam entrar no aprisco e destruir as ovelhas. Eles podem vir para destruir e matar, mas o Pastor as protege dos falsos mestres e as conduz adiante delas e elas o seguem.

Ele as leva de maneira segura a pastos verdejantes, significando bênçãos espirituais o longo do tempo e por toda a eternidade. É uma lição sobre salvação. Essa é a figura. Ao contrário, os falsos pastores os mercenários. O verdadeiro Pastor cuida de Suas ovelhas.

Quem é o pastor? Como vimos no sermão anterior, Jesus disse: “Eu sou a porta; se alguém entrar a casa; o filho fica entrará e sairá, e achará pastagens” (João 10:9).

Os pastores eram a porta. À noite, antes das ovelhas entrarem no aprisco, o pastor verificava se as ovelhas tinham ferimentos ou qualquer tipo de problema. De manhã, ele as chama pelo nome e ficava em seus cuidados. O pastor era a porta. Jesus diz: “É assim que eu faço, u sou a porta”.

João 11
11 Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
12 Mas o que é mercenário, e não pastor, de quem não são as ovelhas, vendo vir o lobo, deixa as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa.
13 Ora, o mercenário foge porque é mercenário, e não se importa com as ovelhas.
14 Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem,
15 assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.
16 Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; a essas também me importa conduzir, e elas ouvirão a minha voz; e haverá um rebanho e um pastor.
17 Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar.
18 Ninguém a tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.
19 Por causa dessas palavras, houve outra dissensão entre os judeus.
20 E muitos deles diziam: Tem demônio, e perdeu o juízo; por que o escutais?
21 Diziam outros: Essas palavras não são de quem está endemoninhado; pode porventura um demônio abrir os olhos aos cegos?

Nosso Senhor explica que é o Bom Pastor e como cumpre seu ofício de Bom Pastor. Ele é Aquele profetizado em Ezequiel 34, o Bom Pastor que o próprio Deus enviaria.

Os líderes religiosos de Israel eram conhecidos como os pastores de Israel, mas eram falsos pastores. E assim, Jesus se distingue dos falsos líderes. Ele é o Verdadeiro Pastor das ovelhas.

Em João 9:41 Jesus chamou os falsos pastores de cegos espirituais. Eles não podiam levar ninguém a lugar nenhum porque eles mesmos não podiam ver para onde estavam indo. Eles não eram pastores, mas mercenários que faziam tudo por dinheiro. Eram ladrões que queriam roubar e matar as ovelhas.

Os falsos líderes, ladrões, assaltantes, estranhos, mercenários não têm nada em mente senão proteger-se. Eles não estão dispostos a arriscar suas vidas pelas ovelhas. Eles querem o dinheiro e, se necessário, se tornarão ladrões e salteadores para obtê-lo.

O verdadeiro pastor, entretanto, é descrito como aquele que ama, cuida e nutre, vive e morre pelas ovelhas. E isso, é claro, não é outro senão nosso Senhor Jesus Cristo.

João 10
11 Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.

É a quarto vez que Jesus diz “eu sou” no evangelho de João. O sentido original é uma afirmação de sua divindade. “Eu Sou” significa o nome de Deus.

Ele disse: “Eu Sou o Bom Pastor” (João 10:11); “Antes que Abraão existisse, Eu Sou” (João 8;58); “Eu Sou o Pão da Vida” (João 6:41); “Eu Sou o caminha, a verdade e a vida” (João 14:6); “Eu Sou a ressurreição e a vida” (João 11:25); “Eu Sou a Luz do mundo” (João 8:12) etc.

Mas aqui Ele diz que é o Bom Pastor, em contraste com todos os maus pastores. O sentido original é ser o excelente, magnífico e amável. Ele não é apenas mais um pastor. Ele é o pastor, o bom, aquele que é eminentemente excelente. Ele está acima de todos os pastores.

Os judeus tinham uma ideia sobre quem era o melhor pastor: Davi, o menino pastor que cuidava dos rebanhos de seu pai, derrotou Golias e se tornou o rei de Israel. Mas, Jesus se declarou maior que Moisés (João 5:46-47), maior que Abraão (João 8:58) e maior que Davi (Marcos 12:35-37).

Ele é um pastor muito maior do que qualquer outro pastor, incluindo Davi. Ele é o pastor que é o bom, o primeiro. Melhor que Moisés, melhor do que Abraão e melhor do que Davi. Ele estava dizendo àqueles judeus que Ele era Deus. Aquele que o Salmo 23 diz: “O Senhor é meu pastor” e o Salmo 80 diz: “O Pastor de Israel”.

Sua verdadeira bondade como pastor é vista de três maneiras em João 10:11-21. Ele dá a vida pelas ovelhas, Ele ama as ovelhas e Ele une as ovelhas.

O BOM PASTOR DÁ A VIDA PELAS OVELHAS

João 10
11 Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
12 Mas o que é mercenário, e não pastor, de quem não são as ovelhas, vendo vir o lobo, deixa as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa.
13 O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas.

Os pastores eram absolutamente responsáveis pelas ovelhas. Era um negócio sério. Era o trabalho de um homem, e era realmente um trabalho humilde, de alto risco, não qualificado e sujo. Se algo ruim acontecesse com as ovelhas, ele tinha que provar que não abandonou seu dever.

Como o pastor livra da boca do leão as duas pernas ou um pedacinho da orelha, assim serão salvos os filhos de Israel que habitam em Samaria com apenas o canto da cama e parte do leito. (Amós 3:12)

Os pastores estavam em batalha com as feras nos pastos (lobos, leões da montanha e até ursos). Davi conta a Saul que, quando pastoreava o rebanho de seu pai, lutou contra um leão e contra um urso para livrar uma ovelha de suas garras (1 Sam. 17:34-37). Isso que fez de Davi um pastor tão heroico.

Em Isaías 31:4 fala de um multidão de pastores sendo chamada para livrar uma ovelha das garras de um leão. Para o pastor, o mais natural era arriscar sua vida pela ovelhas. Eles tinham que ficar atentos e vigilantes para proteger as ovelhas.

Um pastor que cumpria seu dever não hesitava em arriscar ou mesmo dar sua vida pelas ovelhas. É por isso que Jesus diz: “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. Em João 10:18 Jesus diz que ninguém pode tirar sua vida, ele mesmo a dá, tem autoridade para entregá-la e retomá-la.

Livre e voluntariamente, Jesus deu Sua vida pelas ovelhas. Não se refere a sua vida biológica, mas da sua pessoa inteira. Não apenas o exterior, mas o seu interior. Ele entregou sua alma, toda a sua pessoa.

Ele não sentiu apenas a dor dos pregos, espinhos e flagelos em Seu corpo, toda a sua alma foi torturada com angústia e sofrimento por causa do cálice da ira de Deus derramado sobre ele por causa de nossos pecados (Isaías 53).

Por que ele fez isso? Por que Ele voluntariamente entregou Sua alma? “Aquele que não conheceu pecado se fez pecado por nós” (2 Cor. 5:21). Ele tomou o nosso lugar e morreu por nós. Ele deu Sua alma pelas ovelhas. Foi uma expiação real e completa pelas ovelhas que Ele conhecia e que, quando chamadas, o conheceriam.

Ele morreu em benefício das ovelhas. Do ponto de vista natural, se isso acontecesse com o pastor, era o fim das ovelhas. Se o pastor fosse morto por uma fera do campo ou por um ladrão, as ovelhas poderiam ser destruídas.

Mas quanto ao Bom Pastor não é assim. Ele deu Sua vida, mas Ele tinha o poder de retomá-la (João 10:18). Ele ressuscitou e reuniu suas ovelhas dispersas.

“Fere o Pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas…” (Zacarias 13:7). As ovelhas estão espalhadas. Mas Ele voltou da sepultura e as reuniu novamente. Ele disse:

As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem; Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. (João 10:27-29)

Portanto, a morte do pastor era seu fim. Mas não no caso de Jesus. Ele morreu por causa de nossas transgressões (Is. 53:8), ele veio salvar seu povo de seus pecados (Mt. 1:21). Ele deu sua vida por suas ovelhas. Foi uma expiação real e não algo que necessita de algum ato adicional.

Muito diferente do mercenário e não pastor, de quem não são as ovelhas, vendo vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa. Ele foge porque é mercenário e não se importa com as ovelhas (João 10:12).

O verdadeiro pastor se preocupa com as ovelhas. Não é simplesmente um trabalho para ele, é a própria vida do pastor. Ele desenvolveu relacionamentos com suas ovelhas. Ele as conhece e as ama.

O mercenário (ou mão contratada ou mão assalariada) não faz nenhuma tentativa de reunir as ovelhas dispersas. Jesus se referia aos líderes de Israel. Em João 10 ele os chama de estranhos, ladrões, salteadores e agora de mercenários.

As ovelhas tornam-se vítimas deles. O mundo sempre esteve cheio deles, e o rebanho de Deus sempre é atacado por falsos líderes que tosquiam e destroem as ovelhas, e que fogem quando surgem problemas reais.

E quem é o lobo? O lobo é qualquer coisa maligna que ataca as ovelhas. Existem muitos falsos pastores e falsos mestres, como tem havido ao longo da história.

Jesus diz que muitos vão alegar no juízo suposta obras, e ele lhes dirá: “Nunca vos conheci, apartai-vos de mim” (Mt. 7:23). Paulo fez um alerta em sua despedida final da igreja dos efésios:

Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. (Atos 20:29,30)

Jesus entregou sua vida pelas suas ovelhas. Mas, o mercenário vive pelo lucro pessoal e é um covarde em uma crise. E quando a crise chega, seja um ataque de fora ou de dentro, o mercenário vai se proteger. Ele abandona as ovelhas.

Há muitos perigos externos, mas há também os lobos vestidos de ovelhas. Mas o verdadeiro pastor faz o pastoreio semelhante a Cristo, colocando sua vida em risco pelas ovelhas. Quando o perigo vem, ele não corre, antes se levanta para proteger as ovelhas.

Onde estão as pessoas que se levantarão e falarão a verdade para proteger o povo de Deus? Onde eles estão? Tão difícil encontrar algum. Pedro escreveu aos presbíteros:

Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; 3 nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória. (1 Ped. 5:2-4).

O BOM PASTOR AMA SUAS OVELHAS

João 10
14 Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim,
15 Assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.

Isso explica por que ele dá a vida voluntariamente pelas ovelhas, porque as conhece. A palavra “conhecer” aqui tem a ideia de um relacionamento de amor e de intimidade. Não é sobre informação, é sobre amor. Assim como ele conhece suas ovelhas, ele conhece o Pai e o Pai o conhece. É sobre amor e intimidade.

Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada. (João 14:23)

A palavra “conhecer”, neste contexto, é a ideia de relacionamento amoroso e íntimo. Ele ama Suas ovelhas. Ele as conhece profundamente. Ele tem um relacionamento íntimo com suas ovelhas.

Em Mateus 7:23 ele diz aos falsos discípulos: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”. Ele sabe quem são esses falsos discípulos, mas ele não possui qualquer intimidade com eles, ou seja, ele não os conhece. Mas, ele conhece e ama suas ovelhas, e isso contrasta fortemente com os falsos pastores, que não têm amor pelas ovelhas.

O BOM PASTOR UNE SUAS OVELHAS

João 10
16 Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; a essas também me importa conduzir, e elas ouvirão a minha voz; e haverá um rebanho e um pastor.

Como vimos em sermão anterior, o aprisco que ele se refere é Israel. Em João 10:1 ele diz: “quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador”.

O Senhor é o pastor. Ele veio primeiro para Israel, para os judeus, e então chamou suas ovelhas pelo nome, e elas o seguiram. A primeira geração da igreja foi essencialmente de judeus. Mas ele também tem ovelhas que não são do aprisco de Israel, que são de outro aprisco. E Ele as chamou.

Quem são as ovelhas desse outro aprisco? Os gentios, ou seja, qualquer pessoa fora de Israel. Isso foi algo inaceitável para os judeus, eles não podiam entender os gentios desfrutando das promessas de Deus. Mas as promessas messiânicas incluíam os gentios:

Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem se compraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele. ele trará justiça às nações. […] Eu o Senhor te chamei em justiça; tomei-te pela mão, e te guardei; e te dei por pacto ao povo, e para luz das nações; para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas. (Is. 42:1, 6-7)

Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra. (Is. 49:6)

Ele os está chocando ao dizer: “Eu tenho ovelhas que não estão neste rebanho”. É por isso que existe uma Grande Comissão. Nas sua ascensão, Jesus disse:

Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra. (Atos 1:8).

Em relação aos judeus e gentios participantes da salvação, Paulo escreveu:

Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade. (Ef. 2: 13-14)

O sumo sacerdote Caifás, ao fazer sua profecia inadvertida, disse às pessoas que estavam conspirando para matar Jesus:

Vós nada sabeis, nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não pereça a nação toda. Ora, isso não disse ele por si mesmo; mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos. (João 11:49-52)

Então essa é a relação do Bom Pastor com as ovelhas. Ele dá a vida porque os ama e os traz para uma unidade íntima consigo mesmo e uns com as outras. Aquele que está unido ao Senhor é um espírito com ele (1 Cor. 6:17), um com Ele e um com todos os outros no corpo de Cristo.

O RELACIONAMENTO DO BOM PASTOR COM O PAI

João 10
17 Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar.
18 Ninguém a tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.

O Pai deu uma ordem a Jesus: “Dê a sua vida e tome-a. Você tem autoridade para fazer isso. Eu estou ordenando que você faça isso”. Foi uma ordem, Jesus disse:

Ninguém tira a minha vida de mim. Eu dou minha vida por minha própria iniciativa. É por isso que o Pai me ama, por causa da minha obediência.

Isso é muito profundo. Sim, o Pai escolheu Jesus para ser o Cordeiro, o sacrifício aceitável. Sim, o Pai é Aquele que matou o Filho pelo seu conselho predeterminado e presciente. Jesus era o sacrifício.

Mas isso não é fatalismo. Isso não é algo sobre o qual Jesus não teve escolha. “Eu dou minha vida”. Foi um ato perfeito de obediência voluntária. É algo além de nossa compreensão.

Jesus não podia pecar. Ele não tinha capacidade para pecar. E, no entanto, há uma luta real. No Getsêmani, Ele diz: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres” (Mt. 26:40).

Ele voluntariamente fez o que o Pai o mandou fazer, e foi assim que Ele demonstrou Seu amor ao Pai, e é por isso que o Pai o ama. “O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar.” (João 10:17). Isso é o que o Pai queria que Ele fizesse. Era um ato fundamental para o plano de salvação, reunir os redimidos na glória eterna.

Ele fez isso voluntariamente. Não foi fatalismo. Isso não era algo sobre o qual Ele não tinha escolha. Como Deus, ele não tinha capacidade pecar, ou seja, não poderia fazer uma escolha errada, mas voluntariamente fez a escolha certa.

Ele havia recebido um mandamento, e voluntariamente obedeceu por amar ao Pai. A obediência revela nosso amor a Deus. Por isso Jesus disse:

Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. (João 14:21)

O relacionamento de Jesus com o Pai é de amor e obediência. Duas faces da mesma coisa. É o modelo para nós.

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. (Fp. 2:6-8).

O Pai ama eternamente o Filho. O Filho ama eternamente o Pai. Mas, de uma maneira única na encarnação, o Filho, voluntariamente, obedeceu ao mandamento do Pai de desistir de Sua vida por amor ao Pai e, ao fazê-lo, sustentou o amor do Pai para sempre. Amor e obediência.

Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. (Filipenses 2:9-11)

O RELACIONAMENTO DO BOM PASTOR COM O MUNDO

João 10
19 Por causa dessas palavras, houve outra dissensão entre os judeus.
20 E muitos deles diziam: Tem demônio, e perdeu o juízo; por que o escutais?
21 Diziam outros: Essas palavras não são de quem está endemoninhado; pode porventura um demônio abrir os olhos aos cegos?

Ocorreu uma divisão entre os judeus por causa do que Jesus havia dito. Muitos deles, talvez a maioria, excitados pelos líderes religiosos, estavam dizendo: “Ele tem um demônio e é louco. Por que você o ouve?”

Há pessoas que não se importam em amaldiçoar Jesus, dizendo coisas blasfemas contra Ele. Mas outros diziam que um endemoninhado não poderia abrir os olhos de um cego. Eram pessoas mais racionais.

Os primeiros eram os blasfemadores irracionais, os segundos são as pessoas mais racionais. Ambos acabam no mesmo inferno para sempre, porque realmente não importa se você amaldiçoa Jesus ou se acha que precisa tratá-lo com mais sensatez.


Esse tipo de hesitação não leva a nada. Ou você confessa Jesus como Senhor ou morre em seus pecados e ocupa o mesmo inferno com os blasfemadores extremos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim encontramos o Bom Pastor. Em relação às Suas ovelhas, Ele dá a vida pelas Suas ovelhas, Ele ama as Suas ovelhas, Ele une as Suas ovelhas.

Sua relação com o Pai: Ele ama e obedece ao Pai. Sua relação com o mundo: Ele é rejeitado por aqueles que O blasfemam de uma forma irracional, ou por aqueles que o toleram racionalmente.

Mas nos colocaremos entre os discípulos ali naquele dia, e diremos com eles: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo! E vamos dizer isso para nossa bênção.

Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém! (Hebreus 13:20,21)

Declaramos que Ele é o Grande Pastor das ovelhas que saiu da sepultura e reina a direita do Pai. Ele é o nosso Pastor. Vamos orar.

Pai, nós Te agradecemos novamente por nos amar, dar Sua vida por nós, nos unir, amar e obedecer ao Pai, e assim voluntariamente ser o sacrifício por nossos pecados.

Ressuscitando para nos ressuscitar em justificação e glória. Ficaríamos literalmente sobrecarregados se pudéssemos entender o que o Senhor preparou para nós no futuro.

Mas reconhecemos a emoção até mesmo do que o Você nos concede agora. Encha-nos de gratidão e bênçãos enquanto continuamos a servi-lo. Oramos em nome de Cristo. Amém


Esta é uma série de sermões traduzidos de John MacArthur sobre todo o Evangelho de João.

Clique aqui e acesse o índice ordenado por capítulo, com links para leitura.


Este texto é um resumo do sermão “I Am the Good Shepherd”, de John MacArthur, em 03/08/2014

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:


https://www.gty.org/library/sermons-library/43-53/i-am-the-good-shepherd


Tradução e síntese realizadas pelo Site Rei Eterno


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