Divórcio e Novo Casamento – 3
Este é o terceiro de 6 sermões sobre Mateus 19:1-12, quando Jesus foi questionado pelos fariseus sobre o divórcio e o novo casamento. Nesses sermões, John MacArthur faz um extenso estudo da Palavra de Deus, envolvendo vários textos bíblicos que tratam do princípio bíblico da indissolubilidade do casamento e a exceção mencionada por Jesus. O texto abaixo é continuação do segundo sermão. Para entendimento do assunto, é imprescindível a leitura dos dois sermões anteriores e dos 3 restantes, conforme links no final deste texto.
Voltando a Mateus 19:1-12, sobre o ensino de Jesus acerca do divórcio. Nas duas últimas vezes (veja os links no final deste texto), nosso estudo desta grande passagem se concentrou principalmente na criação divina do casamento, já que olhamos os primeiros seis versos. E agora, ao nos concentrarmos nos próximos seis versos, versículos 7 a 12, estaremos abordando mais particularmente a questão do divórcio.
Vimos que o capítulo 19 inicia informando o fim do ministério de Jesus na Galileia: “E aconteceu que, concluindo Jesus estes discursos, saiu da Galileia, e dirigiu-se aos confins da Judeia, além do Jordão”. Essa região além do Jordão era conhecida como Perea, que quer dizer “além”.
Então, Jesus entrou na Perea e, nos capítulos 19 e 20, encontramos o ministério que Ele desenvolveu ali. Agora, Ele está passando pela Perea no sentido sul, porque se dirige a Jerusalém, onde Ele irá morrer e ressuscitar. Então, estamos caminhando para o clímax da vida do Senhor Jesus Cristo. E no ministério na Perea, encontramos, no versículo 2, que grandes multidões O seguiram. Marcos 10 , você lembra, acrescentou que “Ele os ensinou” e, então, Mateus diz: “E ele os curou lá”.
Vemos, assim, o Senhor Jesus desenvolvendo o mesmo tipo de ministério de ensino e de cura e demonstrando as Suas credenciais messiânicas. Enquanto está na Perea, Ele é confrontado pelos fariseus. E encontramos, no versículo 3, o ataque. Esse foi o primeiro ponto em nosso esboço: o ataque. “É lícito que um homem se divorcie da sua mulher por qualquer causa?“.
Eles queriam confrontar Jesus com alguma pergunta que poderia desacreditá-Lo e destruí-Lo. A visão mais popular era a de que o homem poderia divorciar-se de sua esposa por qualquer motivo. Ali era uma região sob a autoridade de Herodes Antipas, o mesmo que prendeu e decapitou João Batista por causa de sua palavra contra seu adultério. Assim, os fariseus queriam fazer de Jesus uma figura impopular e desacreditada, além de querer vê-Lo sofrer a mesma morte de João Batista.
Nós chegamos ao versículo 4, então, e à resposta. Esse é o segundo ponto importante no esboço, a resposta. “Ele respondeu e disse-lhes…”. À medida que responde, Jesus dá quatro razões pelas quais o divórcio não é permitido por qualquer motivo. Mas, Ele responde à pergunta de tal maneira que não podem responsabilizá-Lo por ela, porque Ele responde com as Escrituras, algo que os fariseus se vangloriavam de crer e obedecer. Em outras palavras, Jesus diz:
Vocês não leram, são ignorantes acerca da Escritura, vocês que pretendem ser professores da lei, vocês que presumem conhecer a revelação de Deus? Você não leu que Deus disse que Ele os criou no começo, macho e fêmea? Que Deus disse: “Por isso, o homem deixará pai, mãe, se unirá à sua esposa, eles dois serão uma só carne”? Quero dizer, vocês não leram o que Deus disse?
E assim, Jesus toma Sua posição em Gênesis 1:27 e Gênesis 2:24 e diz, em outras palavras: “Estou simplesmente concordando com Deus”. E isto, de fato, coloca os fariseus numa posição dificílima, bem como todos os outros também. Porque se eles vão discutir com Ele, terão que discutir com Deus, a quem eles diziam obedecer. Agora, lembre-se de que eu lhe disse que Jesus havia dado quatro razões contra o divórcio.
Primeira razão, no versículo 4: “Não lestes, quem os criou no princípio os fez macho e fêmea?”. Deus criou um macho e uma fêmea, nada mais. Não havia nenhuma opção. Essa é a maneira como Deus projetou.
Segunda razão: o divórcio não está no plano de Deus, não somente por Ele ter criado um homem e uma mulher, mas porque seriam unidos, ou colados um ao outro.
Terceira razão: porque eles seriam uma só carne. Portanto, não mais dois, e você não pode dividir um.
Quarta razão: porque o divórcio não é a vontade de Deus. “O que Deus uniu, não separe o homem”. O casamento é uma obra de Deus. Falamos disto com detalhes na última vez.
E vimos que, ao dizer isso, Jesus realmente reafirmou o padrão do Antigo Testamento para o casamento. Ele afirmou que Deus desejava que o casamento fosse uma relação monogâmica ao longo de toda a vida de um homem e de uma mulher.
Na última vez, vimos que isso nunca mudou. Deus sempre pensou da mesma maneira. O Velho Testamente termina dizendo que Deus odeia o divórcio (Malaquias 2:16). Então, Deus não mudou a Sua visão desde o início ao fim do Antigo Testamento. Ele ainda odeia o divórcio.
Agora, alguém pode perguntar em resposta a todas as coisas das quais falamos no Antigo Testamento: “O que caracteriza um casamento? Quando dizemos ‘o que Deus uniu, não deixe o homem separar’, como sabemos o que Deus uniu em um casamento?” E algumas pessoas tentaram responder a isso, dizendo: “Bem, o relacionamento sexual é o que caracteriza um casamento, então, tudo o que você tem que fazer é ter uma relação sexual com alguém e você é automaticamente casado, porque essa é a essência de uma só carne, e é isso que o casamento realmente é”. Mas, isso não é a verdade bíblica. Se o sexo criasse um casamento, não haveria fornicação. Mas, Deus diz que, quando duas pessoas solteiras praticam um ato de relacionamento sexual, não é um casamento, isso é um pecado. Além disso, em Êxodo 22:16-17, é dito:
Se alguém seduzir qualquer virgem que não estava desposada e se deitar com ela, pagará seu dote e a tomará por mulher. Se o pai dela definitivamente recusar dar-lhe, pagará ele em dinheiro conforme o dote das virgens.
O que significa dizer que, apenas por ter o homem se deitado com a mulher, isso não configura um casamento. Ele deve casar com ela, ou se seu pai o recusar, então ele deve pagar ao pai uma quantia suficiente para compensá-lo pelo que, em certo sentido, ele roubou de sua filha, mas ele não é visto como casado pela prática do ato sexual.
Além disso, o adultério não dissolve um casamento. Malaquias 2 , como mencionei, diz que Deus odeia o divórcio. Mas também diz algo mais nos versículos 14 e 15:
E perguntais: Por quê? Porque o SENHOR foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. Não fez o SENHOR um, mesmo que havendo nele um pouco de espírito? E por que somente um? Ele buscava a descendência que prometera. Portanto, cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade.
Ou seja, não importa que você tenha cometido adultério – e era o que eles faziam – nem se você agiu traiçoeiramente contra ela, mas ela ainda é sua esposa. E como? Por que ela é a sua esposa? Por ser uma aliança. Não é o ato sexual que faz um casamento; é a aliança que faz um casamento. É a reunião de duas pessoas que prometem uma aliança de companheirismo ao longo da vida. A Bíblia afirma que a aliança cria o casamento.
O casamento é um acordo de aliança para companheirismo por toda a vida. E assim, quando uma pessoa tem uma relação sexual com alguém, isso não se transforma em casamento. E quando uma pessoa, em um casamento, tem uma relação sexual com outra pessoa, isso não faz surgir outro casamento. Isso é apenas um pecado contra o casamento cometido pela pessoa que está dentro da aliança. Então, é a aliança vinculativa da promessa de companheirismo por toda a vida que constitui um casamento.
E a qualquer momento que isso aconteça, quando duas pessoas fazem essa aliança, quer sejam pessoas salvas ou não, elas se juntam em uma união ordenada por Deus e criada por Deus, que, portanto, não deve ser desfeita através do divórcio. Essa é a essência do que nosso Senhor está dizendo. E assim, essa é a resposta Dele.
Vamos, então, avançar para o terceiro ponto. Em Mateus 19:7, os fariseus perguntam: “Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar?”.
Agora, o que me espanta aqui é que eles não estão interessados no ideal divino que o Senhor tinha acabado de apresentar. O Senhor afirmou um casamento para toda a vida. O Senhor disse que Deus odeia o divórcio, em essência. Desde o início, Deus jamais quis isso. Mas, eles não estão interessados no ideal divino. Eles só estão interessados na exceção. E assim é com as pessoas pecadoras. Elas não estão interessadas em cumprir a lei. Elas só estão interessadas em encontrar as lacunas, só isso. E os fariseus são casos clássicos de pessoas que procuram lacunas na lei de Deus. Por um lado, eles querem ser vistos como guardadores da lei de Deus, por outro lado, eles querem encontrar todas as brechas possíveis para a descumprirem.
E assim, a exceção é o que os interessa para acomodar sua luxúria e acomodar seus múltiplos divórcios e adultérios. E eles são, novamente, muito astutos sobre isso, porque procuram colocar Jesus contra Moisés. E, se eles conseguissem fazer isso, seria só mais uma maneira de desacreditar Jesus perante o povo, porque as pessoas veneravam Moisés, ao lado de Deus e, se eles pusessem Jesus contra Moisés, eles teriam realizado algo significativo. Então, eles dizem: “Se tudo que você diz é verdade, porque Moisés mandou dar carta de divórcio e repudiar a esposa?” Essa é uma pergunta capciosa, maldosa, porque Moisés não ordenou o divórcio. Mas, eles escolheram suas próprias palavras para afirmarem que Moisés tinha determinado o divórcio, algo que ele, de fato, nunca fez.
Vamos descobrir o que Moisés disse realmente. Volte a sua Bíblia para Deuteronômio, capítulo 24, porque essa é a passagem que eles tinham em mente. É a única passagem relativa a Moisés que trata de uma declaração definitiva sobre o divórcio. Agora, para entender esta passagem, devemos logo reconhecer que a versão autorizada da Bíblia King James (século XVI) não se baseou na tradução correta do texto. Deixe-me ler para você, com muito cuidado, para que você entenda o que está sendo dito. Esta é a passagem sobre a qual os fariseus se basearam para afirmar que Moisés ordenou o divórcio. Ouça o que dizem os versos 1 e 2:
Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela não for agradável aos seus olhos, por ter ele achado coisa indecente nela, e se ele lhe lavrar um termo de divórcio, e lhe der na mão, e a despedir de casa; e se ela, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem…
Esse sujeito se casa com uma mulher, e acontece que ele não se agradou dela, porque encontrou nela alguma indecência, e então, ele escreve um certificado de divórcio, coloca em sua mão e a manda para fora da casa, e ela sai da casa. E agora, porque ela está legalmente divorciada por esse certificado, ela se torna a esposa de outro homem.
O texto não diz que o homem fez o que era certo ou errado e que a mulher fez o que estava certo ou errado. Não diz nada. Não diz que Deus lhe ordenou se divorciar dela. Não diz que ele teve que se divorciar dela. Deus não diz que ele fez o certo ao se divorciar dela. Não há absolutamente nenhum comentário de Deus ou Moisés. Simplesmente, uma ilustração de um homem que se casou com uma mulher, viu uma indecência, queria livrar-se dela, escreveu-lhe um certificado de divórcio e a mandou sair da casa e ela se casou novamente. Isso é tudo que temos nos dois primeiros versos. Vamos aos versos 3 e 4:
E se este a aborrecer, e lhe lavrar termo de divórcio, e lhe der na mão, e a despedir da sua casa ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, então, seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a desposá-la para que seja sua mulher, depois que foi contaminada, pois é abominação perante o Senhor; assim, não farás pecar a terra que o Senhor, teu Deus, te dá por herança.
O segundo marido não gosta dela, então ele se divorcia dela e a manda embora, ou então ele morre. Nesses casos, o primeiro marido não pode se casar com ela de novo. Esse é o primeiro comentário sobre o incidente. Há uma ordem, um comando no texto, que não está relacionada ao divórcio, mas ao novo casamento. Ele não tem permissão para casar novamente com ela. Mesmo que o marido número dois morra, e ela fique viúva, ela não pode voltar para o primeiro marido. Por quê? Ela foi contaminada. Casar com aquela mulher é um pecado.
Agora, os rabinos não interpretaram bem essa passagem. Eles a interpretaram como uma permissão para se divorciar: o primeiro marido quando encontrou uma indecência na mulher, divorciou-se dela porque lhe era permitido fazer isso. Incrivelmente, a tradução bíblica King James pegou a mesma interpretação tradicional rabínica dizendo: “… far-lhe-á uma carta de repúdio”, como se fosse uma ordem. Mas, o texto original não tem nada a ver com uma ordem para se divorciar, diz apenas “se um homem faz isso”. É apenas um relato.
Porém, foi a partir dessa interpretação equivocada que os fariseus basearam seus muitos divórcios. E então, eles dizem a Jesus: “Por que Moisés ordenou que lhe desse um certificado e se divorciasse dela?”. Mas, trata-se de uma interpretação errada do capítulo 24 de Deuteronômio. A passagem não tolera o divórcio, não defende o divórcio, a passagem apenas regulamenta o novo casamento. É uma passagem destinada a regulamentar o novo casamento.
Agora, apenas para sua própria informação, existem várias outras passagens no Antigo Testamento onde o divórcio é mencionado (Deuteronômio 22, versículos 19 e 29; Levítico 21, versículos 7 e 14), e elas também não toleram, não recomendam e não ordenam o divórcio. Apenas comentam que existe, fazem alusão ao divórcio. E essa passagem faz o mesmo. Apenas reconhece a existência do divórcio. Não é ordenado, nem sequer é aprovado.
Mas, na passagem, vemos que houve uma causa para esse divórcio. E vejamos isso para entendermos o texto: “Porque ele achou coisa indecente nela…” (Deut. 24:1), ou alguma impureza. Deixe-me dizer-lhe o que diz o hebraico literal: “a nudez de uma coisa”. Ele encontrou nela a “nudez de uma coisa”. Agora, existem todos os tipos de possibilidades para explicar isso na tradição judaica. Os judeus diziam que a “coisa indecente” poderia ser qualquer coisa. Como eles interpretavam isto? Queimar o jantar, falar algo desagradável sobre a sogra, perder o cabelo, conversar com homens etc. Qualquer coisa poderia ser considerada como uma indecência, ou uma impureza, ou a “nudez de uma coisa”.
Mas se você quer saber como interpretar a Bíblia, não a interprete de acordo com a maneira como você gosta de interpretá-la, mas você deve interpretá-la por seu contexto. E se você simplesmente voltar um pouco para o capítulo 23 do mesmo livro de Deuteronômio, encontrará o mesmo termo sendo usado e é muito interessante. Veja os versos 13 e 14:
Dentre as tuas armas terás um porrete; e, quando te abaixares fora, cavarás com ele e, volvendo-te, cobrirás o que defecaste. Porquanto o Senhor, teu Deus, anda no meio do teu acampamento para te livrar e para entregar-te os teus inimigos; portanto, o teu acampamento será santo, para que ele não veja em ti coisa indecente e se aparte de ti.
Aqui está um regulamento sobre lidar com as fezes. Está simplesmente dizendo: enterre seu excremento (fezes). Isso é o que o texto está dizendo. Porque Deus anda em seu acampamento e, a propósito, outras pessoas também…
Parecia ser uma questão muito óbvia de decência e esse é o mesmo termo que é usado em 24:1. O marido encontrou na esposa alguma indecência, algo impróprio, algo sujo, algo vil, algo vergonhoso, alguma coisa imprópria, algo inconveniente para uma mulher, algo embaraçoso para o marido. Mas, não se pode dizer que o texto se refere ao adultério, pois este resultaria em morte (Deuteronômio 22:22-24) e não em divórcio. Além disso, teria sido dito adultério expressamente.
Agora, não sabemos o que era essa “coisa indecente”, mas deixe-me dar-lhe o que penso ser o entendimento adequado. Se você soubesse que em sua sociedade o adultério acabaria em morte, você poderia fazer muitas coisas, mas você geralmente se controlaria para não praticar o adultério, não é verdade? E assim, aparentemente, o que acontecia era que havia pessoas que entravam em uma indecência despudorada, numa indulgência, concordância habitual com pecados sexuais ou outros pecados, porém tais pecados sendo menores do que o ato de adultério propriamente dito, atos que chegavam perto da consumação do adultério, mas que paravam antes de consumá-lo. Isso é o que parece estar sendo tratado em Deuteronômio 24. Aqui há uma mulher indecente, vil, que chega perto de consumar o adultério, mas para antes, a fim de que não fique sujeita à pena de morte prevista para o caso de adultério. Porém, ela comete esses atos maus e vis, sendo que seu marido se divorcia dela.
Bem, você sabe, talvez haja uma boa razão para isso. Lembro-me, quando eu era jovem no ministério, de um casal que havia se divorciado porque a esposa dizia que o marido era vergonhoso em seus hábitos de higiene física. Pode acontecer e talvez tenha havido essa possibilidade, não sei. Mas ele se divorciou dela. Mas, você sabe o que aconteceu? Ela saiu daquela união e se casou com outro sujeito e imediatamente se tornou “contaminada” [usando o mesmo termo de Det. 24]. Você diz: “Por quê?” Porque não havia base bíblica para aquele divórcio.
E assim que ela entrou em outro relacionamento com outro homem, mesmo que ela tivesse um documento em sua mão garantindo a legalidade daquilo, ela não passava de uma adúltera. Você diz: “Não foi culpa dela, ele a abandonou”. Certo, ele a fez uma adúltera. E é exatamente assim que o Senhor coloca em Mateus, capítulo 5, quando Ele diz que se você se divorcia da sua esposa por algo que não seja o adultério, você a torna adúltera. Ela ficou contaminada. E é por isso que, mesmo que seu segundo marido morresse, o primeiro não poderia tê-la de volta, porque Deus não quer que ele se case com uma adúltera contaminada.
E assim, o ponto de Deuteronômio 24 é que se você se divorcia da sua esposa por qualquer coisa que não seja adultério, você a expõe a cometer adultério. E quem se casou com ela, comete adultério. E então, quando você se casar novamente, o que você faz? Comete adultério, e a mulher com quem você se casa comete adultério. Você literalmente prolifera adultério em todo o lugar. Ela ficou contaminada porque não tinha base para acabar com a primeira união, então a segunda união era inaceitável para Deus. É a mesma situação de Herodes Antipas (Mateus 14).
Agora, você vê, Deus está protegendo o casamento. E Ele está dizendo isso: você não pode simplesmente se divorciar de sua esposa por qualquer coisa que você queira, ou você vai transformá-la em uma adúltera, e quem casar com ela também estará em adultério. E você vê que Deus, em certo sentido, está tentando proteger aquele relacionamento de um homem, uma mulher, monogâmico e duradouro, ao falar dessa alternativa desastrosa. Portanto, esse texto não ordena o divórcio. O que ele ordena é que você não se case com uma pessoa ilegitimamente divorciada.
Agora, voltemos ao capítulo 19 de Mateus, e quero que você veja o versos 8. Passamos do ataque para a resposta ao argumento do versículo 7:
Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio.
É esse o significado. Não foi uma ordem. Por causa da dureza de seu coração, Moisés permitiu, tolerou. Mas, posso apressar-me a acrescentar que essa tolerância não se referia aos casos de divórcio por causa de indecência ou por um comportamento sem pudor ou por outros motivos que os fariseus despediam suas mulheres. O Antigo Testamento não nos dá um texto sequer que permita que você se divorcie com base nisso. O ponto do Antigo Testamento é: o divórcio, por qualquer coisa que não seja o adultério, leva ao adultério. E, é claro, quando havia adultério, Deus tratava com a morte.
Mas, em Sua graça, e aqui chegamos a Mateus 19:8, na graça de Deus houve uma transição no Antigo Testamento da morte para o divórcio, no caso de adultério. Temos que entender isso. Porque Deus é um Deus gracioso, Ele nem sempre promulgou a pena de morte, veja os exemplos de Davi e Salomão. O ponto é: existe a graça de Deus manifestada no Antigo Testamento. E em algum lugar ao longo da trajetória, Deus, em Sua tolerância, salvou a vida e permitiu o divórcio.
Se o casamento só podia ser rompido pelo adultério, em face da sentença de morte sobre os adúlteros, então estou convencido de que Deus só teria permitido que o casamento fosse rompido pelo divórcio em caso de adultério.
Quando há um problema irreconciliável, em outras palavras, se você tiver um cônjuge que está em um relacionamento adúltero, e não há mais como restaurar esse casamento, por causa da dureza do coração enlaçado no pecado, Deus pode ser misericordioso com essa pessoa adúltera, mas permitiu o divórcio para que a parte inocente fique livre para se casar novamente.
Moisés não ordenou, apenas tolerou o divórcio por outros motivos, diante da dureza dos corações, quando Deus foi gracioso e não trouxe a morte. Isso é tudo o que podemos entender, caso contrário, nada faz sentido.
Não podemos ir além do que a Palavra de Deus diz. Era uma concessão por causa do pecado, para tornar a vida mais suportável. Porque se Deus matasse o culpado, o inocente seria, o quê? Livre. Mas só porque Deus é gracioso com o culpado, não significa que Ele vai ter que penalizar o inocente. Moisés permitiu o divórcio, mas isso nunca foi a vontade de Deus, desde o começo. Agora, espero que você entenda isso, porque parece ser uma coisa confusa hoje, apesar de a Palavra de Deus ser bastante clara a respeito.
Então, Deuteronômio 24 não autorizava o divórcio. Só estipulava que não deveria haver nenhum novo casamento. E por sinal, no caso de você estar confuso sobre uma passagem em Marcos, capítulo 10:3, quando Jesus pergunta aos fariseus: “que vos ordenou Moisés?”, referindo-se a Deuteronômio 24 como uma ordem, eu repito a você que Deuteronômio 24 é uma ordem, não para se divorciar, mas para não voltar a casar. Então, não se confunda com isso. É uma proibição para o novo casamento, é disso que trata Deuteronômio 24 .
Mas, quais são os fundamentos do divórcio? Como eu disse, a única causa que podemos ver é o adultério. Deixe-me ver se posso ajudá-lo a ver isso. Volte no Antigo Testamento por um momento, para Esdras 10:3, um texto que parece difícil, mas que devemos entendê-lo:
Agora, pois, façamos aliança com o nosso Deus, de que despediremos todas as mulheres e os seus filhos, segundo o conselho do Senhor e o dos que tremem ao mandado do nosso Deus; e faça-se segundo a Lei.
Aqui está o povo de Deus dizendo que faria uma aliança com Deus para se divorciar de suas esposas, de acordo com conselho do Senhor, a Lei e dos que tremem ao mandado do nosso Deus .
Agora, o motivo disso é que eles se casaram com pagãos. Deus os havia proibido de fazer isso. Mas, eles entraram em casamentos mistos. Eles se tornaram adúlteros espirituais. Eles abandonaram Deus, abandonaram os mandamentos de Deus, casaram com estas mulheres em adultério. E há um sentido real em que Deus nem reconhece esses casamentos. Veja os versos 4-5:
Levanta-te, pois esta coisa é de tua incumbência, e nós seremos contigo; sê forte e age. Então, Esdras se levantou e ajuramentou os principais sacerdotes, os levitas e todo o Israel, de que fariam segundo esta palavra. E eles juraram.
Agora, na verdade, há uma defesa para o divórcio aqui. Foi dito a eles que deveriam se divorciar. E é muito difícil, neste momento, interpretar a passagem especificamente. Mas, em geral, o que o texto está dizendo é isto: eles entraram em uniões adúlteras. Pode ter sido que se divorciaram de suas esposas judaicas para se casarem com essas pagãs. E Deus nunca viu essas uniões como casamentos legítimos. Porém, mais do que isso, eles se tornaram adúlteros espirituais. E Deus viu o divórcio como legítimo nesse caso.
Agora, deixe-me dar um passo adiante. Os pagãos dali viviam por adultério. Em outras palavras, seu culto pagão era adúltero. Eles tinham prostitutas do templo, tanto homens quanto mulheres. E quando eles iam adorar, por exemplo, as pessoas que adoravam Baal, entravam e se envolviam em orgias sexuais. E acredito que o motivo pelo qual pode haver motivos legítimos de divórcio aqui é porque seus cônjuges eram adúlteros pagãos e idólatras. E nessa base, Deus está permitindo que eles despedissem aquelas esposas ou maridos, que se dedicavam a essa incessante adoração de deuses falsos ligados não apenas à idolatria, mas ao adultério.
Então, você vê implícito aqui que eles deveriam se divorciar por causa do intercâmbio espiritual com ídolos e a união física que eles estavam tendo com as prostitutas que levaram à adoração idólatra. Agora, pelo fato de haver um divórcio legítimo onde há adultério envolvido, este é um texto muito importante. Deixe-me levá-lo a outro que é ainda mais significativo.
Assim diz o Senhor: Onde está a carta de divórcio de vossa mãe, pela qual eu a repudiei? Ou quem é o meu credor, a quem eu vos tenha vendido? Eis que por causa das vossas iniquidades é que fostes vendidos, e por causa das vossas transgressões vossa mãe foi repudiada (Isaías 50:1).
Agora, neste versículo particular, o Senhor está confrontando pessoas rebeldes, desobedientes e pecadoras. E Ele está falando com eles como seu marido: Israel é minha esposa, Eu sou o marido dela. Essa é a ideia. E assim, o Senhor diz: “Onde está a carta de divórcio de vossa mãe, pela qual eu a repudiei?”. Onde está o seu certificado de divórcio, Deus diz. A resposta, é claro, é que eles não têm um. Em outras palavras, Deus está dizendo: como vocês se atrevem a juntar-se a ídolos, como se atrevem a cometer adultério espiritual, como se atrevem a Me abandonar e deixar a adoração ao Deus verdadeiro, como vocês se afastaram de seu marido, ó Israel, como vocês se atrevem? Onde está o seu certificado, sua sentença de divórcio? O que lhe dá o direito de fazer isso? Eu me separei de você? E a resposta, é claro, é que Ele não tinha.
Mas, olhe para Jeremias 3:8. E agora, você está mais adiante no tempo em relação a Isaías. Há 700 anos, Deus vem chamando Israel. Por 700 anos, Ele tem dito para Israel largar seus ídolos, seu adultério espiritual. Durante 700 anos, Israel tem sido espiritualmente adúltero, juntando-se a outros maridos, outras divindades. 700 anos de incessante adultério espiritual com outros deuses. E, finalmente, depois dos 700 anos, Deus diz: “
Quando, por causa de tudo isto, por ter cometido adultério, eu despedi a pérfida Israel e lhe dei carta de divórcio, vi que a falsa Judá, sua irmã, não temeu; mas ela mesma se foi e se deu à prostituição.
Quem se divorcia aqui? Quem faz isso? Deus faz isso. Deus, depois de 700 anos, divorciou-se de Israel. É o que o texto diz. Essa é a analogia que Ele usa. E Ele fez isso por Israel ter cometido adultério. Agora, se você quer saber, então, qual a base de um divórcio no Antigo Testamento, é o adultério, porque essa era a única maneira de romper um casamento, ou seja, era através do adultério porque, se você cometeu adultério, você deveria ser morto, e isso quebraria o casamento e liberaria seu cônjuge.
Mas, se Deus foi gracioso e não tirou sua vida, o divórcio era permitido, mas apenas quando houvesse dureza de coração, de modo que a situação nunca poderia ser sanada, você vê? E Deus levou 700 anos para chegar a esse ponto. Então, é uma ótima ilustração de paciência, não é? Você não diz: “Meu marido fez isso uma vez e esse é o fim do casamento!”. É preciso entender isso. É por dureza contínua de coração. Então, até mesmo Deus se divorciou (do povo de Israel). Essa é uma passagem importante, porque Deus não faz coisas que não estão corretas e Deus não nos dá ilustrações vivas de Seu próprio comportamento que não possamos seguir. Você entende isso? Então, é por isso que me aflige que algumas pessoas dizem que não há autorização bíblica para o divórcio. Há sim. Mas, é necessário que haja um caso prolongado, impenitente e irreconciliável de adultério. Essa é a essência do que o Senhor está indicando.
Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o Senhor (Jeremias 31: 31-32).
E isso afirma que Deus já não era seu marido. Mas Ele se casará novamente com eles, e restaurará essa aliança, e fará uma nova aliança. Então, há um divórcio permitido por adultério.
Agora, alguém pode perguntar sobre esta questão: por que o divórcio substituiu a morte? E já sugeri um motivo. A razão número um é: porque Deus é gracioso. Nos primeiros anos da igreja, Ananias e Safira morreram por não terem dado o que prometeram ao Senhor. Eles morreram, mas muitas outras pessoas, durante toda a história da igreja, fizeram o mesmo e não morreram. Deus estava estabelecendo exemplos, então. E Deus é paciente conosco.
Mas, eu também penso que talvez a razão de a pena de morte por adultério poder ter sido substituída pelo divórcio era porque não havia ninguém ali puro o suficiente para aplicá-la. Porque todos os executadores da pena de morte teriam que matar a si mesmos, em primeiro lugar, já que a nação de Israel estava mergulhada em adultério. De fato, você se lembra daquela mulher que foi pega no ato do adultério, em João 8. Eles estavam todos lá e tinham já as pedras em suas mãos para apedrejarem aquela mulher. Eles a tinham pegado no ato, sendo que o homem que estava com ela simplesmente se levantou e se foi. Mas, eles trouxeram a mulher e estavam prontos para apedrejá-la. E Jesus os olhos nos olhos e disse: “aquele dentre vós que estiver sem pecado, pode atirar a primeira pedra”. Jesus deve ter pensado: ‘vocês não passam de um bando de adúlteros… como ousam ser tão hipócritas?’.
Vemos, então, o ideal do Antigo Testamento. Jesus simplesmente reafirma isso, apenas reafirma. Volte para Mateus 19 agora. Deus nunca pretendeu o divórcio por qualquer motivo. Mas, onde houvesse adultério, Ele mataria o cônjuge adúltero. É dessa forma que o casamento é tão sagrado. Ele não queria que o povo cometesse adultério, pois poderia resultar em morte. Mas, Deus é gracioso, e os homens eram pecaminosos, e onde houvesse um adultério habitual, sem arrependimento, Deus permitiu o divórcio. Mas, a permissão do Antigo Testamento foi projetada apenas por causa da dureza de coração.
E como eu disse antes, se o divórcio é uma concessão de misericordiosa para o adúltero, isso ocorre porque Deus mostra misericórdia aos culpados. Mas, Ele penaliza o inocente? Em outras palavras, digamos, no Antigo Testamento, seu marido cometesse adultério, e sofresse a pena de morte. Ele não teria chance de se arrepender. Você seria livre para se casar de novo? Claro, porque a morte rompe o vínculo do casamento.
Nesse caso ainda, se Deus permite o divórcio no caso de adultério, Ele permite que o adúltero viva para que tenha tempo para se arrepender, ser restaurado e até mesmo resgatado. Porque Ele é gracioso com essa pessoa. Mas, Ele penaliza a pessoa inocente com uma vida de celibato? Dificilmente, porque Deus não precisa fazer compensações. Ele não é gracioso com um, e faz alguém pagar o preço.
E, portanto, acreditamos que, quando houver motivos para o divórcio, deve haver motivos para o novo casamento. O propósito do divórcio, afinal, era apenas mostrar misericórdia aos culpados, não condenar o inocente ao celibato, à solidão ou miséria ao longo da vida.
Então, o ideal de casamento é o mesmo, e Jesus diz isso, e a única razão pela qual Moisés permitiu o divórcio foi porque seus corações eram duros. Agora, versículo 9, de Mateus 19:
Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra comete adultério [e o que casar com a repudiada comete adultério].
Esta é a cláusula: “exceto por causa de fornicação”. A mesma cláusula que está em Mateus 5:32 . Você diz: “Ah, sim, não está em Marcos 10:11-12 e não está em Lucas 16:18”. Sim, mas quantas vezes Deus tem que dizer algo para torná-lo verdadeiro? Não está em Marcos e Lucas, mas está em Mateus por duas vezes, em ambas as vezes que Jesus falou sobre o divórcio.
Ouça isto: toda vez que Deus fala sobre o divórcio, Ele não tem que dizer tudo o que há para dizer sobre o assunto. As passagens sobre o divórcio em Mateus 5 e 19, Marcos 10 e Lucas 16 lidas, cada uma traz características do divórcio e novo casamento que as outras não trataram no todo. Por quê? Porque cada escritor tem um plano específico. O Espírito de Deus está cumprindo um propósito específico no contexto de cada passagem. Não force Deus a dizer tudo sobre cada assunto toda vez que Ele o cita. Não é razoável que as pessoas neguem algo porque o Senhor não disse especificamente em todos os lugares. Ouça: Se Ele disse uma vez, basta.
Agora, você diz: “Oh, mas olhe, é a palavra fornicação [porneia], que deve significar que eles não estavam casados, então deve ser um compromisso quebrado por causa da palavra fornicação ou Ele teria usado a palavra adultério [moicheia]”. Mas isso não está certo. A única exceção que o Senhor faz para o divórcio é onde há fornicação [porneia]. Qualquer outro motivo de divórcio leva ao adultério, exceto a fornicação.
Fornicação vem da palavra grega “porneia”, da qual derivou a palavra pornografia. “Porneia” significa, de acordo com os mais precisos estudos do grego, todo tipo de relações sexuais ilícitas ou imoralidades sexuais. É o que isso significa: todo tipo. E aí está incluso também o adultério.
Agora, alguns dizem que se refere apenas ao período de noivado, pois, se não fosse assim, teria sido usado a palavra para adultério, que é “moicheia”. Mas esse é um raciocínio errado, pois a palavra “porneia” significa todos os tipos de relações sexuais depravadas e pecaminosas, que, obviamente, inclui o adultério. E neste contexto, claramente tem-se em mente o adultério, porque toda a passagem é sobre o casamento. Deuteronômio 24 é sobre o casamento. E a questão é o adultério.
Você diz: “Bem, por que foi usado ‘porneia’?” Simplesmente porque “porneia” é uma palavra mais abrangente. O adultério significa uma relação sexual com uma pessoa fora do seu casamento. Já “porneia” significa uma relação sexual com alguém, uma mulher, um homem ou um animal. Ou seja, inclui também a bestialidade, o incesto, a sodomia ou homossexualidade, a pedofilia, a prostituição, e outras coisas antes e durante o casamento. É um termo amplo que abrange tudo.
E acredito que o motivo pelo qual o texto usa “porneia” é porque um divórcio não é apenas permitido quando seu cônjuge tem um relacionamento com outra pessoa, mas um divórcio é permitido quando seu cônjuge tem algum tipo de relação sexual ilícita. Porque todas essas coisas no Antigo Testamento provocavam a pena de morte. Todas constituem uma violação.
E, a propósito, o termo fornicação é comumente usado para abranger a palavra adultério. Por exemplo, a palavra hebraica para a fornicação é “zonah”. É usada quando uma mulher casada comete adultério (Jeremias 3:1; Amós 7:17). De acordo com a Enciclopédia da Bíblia Padrão Internacional, “zonah” é cometer adultério ou toda forma de impureza sexual. Todas as principais fontes concordam que a palavra hebraica “zonah”, que traduzimos como fornicação, inclui o adultério.
A palavra grega “porneia” é a mesma. Em Mateus 5:32 e Mateus 19:9 inclui adultério. De acordo com os melhores léxicos, inclui a prostituição, impureza sexual, todo tipo de relação sexual ilícita, incluído o adultério, a infidelidade no casamento. De acordo com o Testamento Grego de Alfred, a fornicação deve ser levada a significar pecado não só antes do casamento, mas depois dele ou durante o mesmo. Eu poderia continuar de forma muito prolongada demostrando isto, de acordo com os melhores e mais precisos estudos.
A propósito, os judeus em Israel foram condenados à morte por atos de fornicação antes e depois do casamento. A pena de morte foi aplicada ao casamento usado para incesto, sodomia, bestialidade, todo ato sexual proibido. Tudo o que você precisa fazer é ler o capítulo 20 do Levítico, está tudo lá. Foram todas aquelas coisas que trouxeram a pena de morte. O divórcio foi permitido quando a morte poderia ter ocorrido. E assim, você não pode simplesmente dizer que isso significa pecado pré-marital, pois é muito amplo.
Por exemplo, em Números 25:1 e 2, os 23.000 israelenses, incluindo os chefes que cometiam pecados sexuais com as filhas de Moabe, não eram todos solteiros e, no entanto, seu pecado é chamado de fornicação [porneia]. Paulo, por exemplo, em I Cor. 10: 8 diz: “E não pratiquemos fornicação [porneia], como alguns deles o fizeram, e caíram, num só dia, vinte e três mil”. Agora, ele está apenas se referindo aos israelitas solteiros? Claro que não. E então, quando ele disse para os coríntios não praticarem fornicação [porneia], ele está apenas se referindo aos solteiros? Claro que não.
Cristo, em Apocalipse 2:14, refere-se ao mesmo evento dos judeus casados que cometem pecado sexual com as filhas de Moabe, e chama isso de fornicação [porneia]. Em Oseias 2:5, quando fala sobre a esposa de Oseias, diz que ela cometeu “zonah”, prostituição. Em I Corintios 5:1, Paulo diz: “Geralmente se ouve que há entre vós fornicação [porneia], e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem possua a mulher de seu pai”. Veja que ele fala de ‘porneia’ e dá uma ilustração dentro de um casamento [haver quem possua a mulher de seu pai]. Então, você não pode forçar a palavra “porneia” significar apenas o pecado entre solteiros. Ela inclui pessoas casadas.
Agora, talvez uma palavra de Paulo, capítulo 7 de Coríntios, ajudará a fortalecer nosso pensamento: “Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido” (v.10). Paulo reafirma a mesma verdade básica: não deixe seu marido. “Se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido…”. Ou seja, você não tem nenhuma base para se casar novamente. Se você fizer, o que você vai se tornar? Uma adúltera. Ou, você tem uma segunda opção: reconciliar-se com seu marido. E, então, ele vira a mesa: “E que o marido não se aparte de sua mulher”. Logo, fique casado. Muito, muito importante. E voltaremos a I Coríntios na próxima vez, quando veremos isto mais de perto.
Então, concluindo por hoje, vimos que Jesus defendeu o ideal de Deus. Ele silenciou os fariseus. Na verdade, Ele os fez notados publicamente como adúlteros. Então, quando eles chegaram a Jesus, realmente ficaram atônitos. Eles estavam tentando desacreditá-lo, mas foram evidenciados publicamente como uma pilha de adúlteros. O divórcio não é a vontade de Deus. É permitido apenas nos casos de adultério prolongado e não arrependido, caso contrário, ele gera pessoas contaminadas.
Agora, deixe-me apenas concluir isso com uma palavra chave. As pessoas sempre perguntam sobre o direito de casar novamente e eu só quero que você saiba que a Bíblia afirma que o novo casamento é possível [de acordo a exceção declarada por Jesus e a morte]. Você diz: “Onde está escrito isto?” Bem, olhe comigo Romanos 7:3, que diz:
De sorte que será considerada adúltera se, vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias.
Você não pode casar com outro homem enquanto seu marido ainda está vivo. Não pode ter dois maridos. Isso é bigamia. Mas, morto o marido, estará livre para casar novamente. Esse versículo diz que o novo casamento, neste caso, está correto. Mas, tudo o que estou tentando apontar é que ele diz que o novo casamento está correto, sob certas circunstâncias, uma das quais é a morte de um dos cônjuges.
Agora, isso não está apenas aí, mas 1 Timóteo, por exemplo, capítulo 5, versículo 14, diz: “Quero, portanto, que as viúvas mais novas se casem, criem filhos, sejam boas donas de casa e não deem ao adversário ocasião favorável de maledicência”. Isso tem a ver com a licitude do novo casamento no caso de morte do cônjuge.
Olhe para I Corintios 7:8, que diz: “E aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo. Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado”. Então, Deus não é contra o novo casamento como um todo.
No verso 39, diz: “A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor”. Então, em todas essas passagens, há uma defesa do novo casamento no caso da morte.
Agora, parece consequência de tudo isso dizer: se o preceito inicial de Deus era punir o adúltero com a morte e, assim, o cônjuge traído ficaria viúvo e autorizado a se casar de novo, quando Deus, na Sua graça, permitiu o divórcio no caso de adultério, liberando o adúltero de sofrer a pena de morte, é lógico que a parte traída nesse caso terá o direito a se casar, da mesma forma que teria se o seu traidor fosse morto como consequência do adultério. Agora, vejamos 1 Coríntios 7:27-28, por um momento:
Estás casado? Não procures separar-te. Estás livre de mulher? Não procures casamento. Mas, se te casares, com isto não pecas; e também, se a virgem se casar, por isso não peca. Ainda assim, tais pessoas sofrerão angústia na carne, e eu quisera poupar-vos.
O que isso significa? Você foi divorciado [esse é o sentido da expressão “estás livre de mulher”, que não significa ser solteiro, mas ter sido casado e agora estar descasado]. “Não procure uma esposa. Mas se você se casar, você não peca”. Em outras palavras, se você foi separado de uma esposa por um motivo biblicamente aceito, não peca se casar novamente. Isso não é interessante? Isso coloca uma pessoa anteriormente casada na mesma situação de uma virgem. E então, acreditamos que Deus permite o novo casamento onde o divórcio tenha ocorrido por motivos bíblicos. [Nota do site: John MacArthur analisa minunciosamente todo o capítulo 7 de I Coríntios nos sermões 5 e 6 dessa série].
Agora, trabalhamos através de toda a conversa entre Jesus e os fariseus. Mas o que realmente é fascinante sobre a passagem é a reação dos discípulos. E é o que vamos ver a próxima vez. Vamos orar.
Pai, sabemos que é fácil procurar justificação na Escritura para o nosso próprio mal, procurar maneiras de não cumprir Tua vontade. E nós não pretendemos fazer isso. Nós só queremos entender a Tua verdade. Só queremos entender que Tu odeias o divórcio. Mas, Tu és um Deus misericordioso, gracioso e perdoador. E em casos de adultério, onde não houver reconciliação, o Senhor não condenou a pessoa traída, que procurou viver de forma correta, a uma vida de abuso ou miséria. Mas Tu deste a essa pessoa uma alternativa graciosa para se casar no Senhor.
Porém, fora disso, Deus, o Senhor realmente definiu as regras diretamente: sem divórcio e sem novo casamento, ou todo mundo se torna adúltero. Obrigado pela palavra clara. Que nunca venhamos a trair a esposa da aliança da nossa juventude. Que reafirmemos em nossos corações, dia após dia, a aliança feita entre nós dois e o Senhor. E podemos celebrar com alegria o que o Senhor uniu, a doce graça da vida, a amorosa companhia de um homem e de uma mulher. Senhor, sabemos que quando as pessoas mantêm essa aliança e se amam profundamente e verdadeiramente, e mantêm o Senhor como o foco desse relacionamento, Tu derramarás sobre essa união uma tremenda benção.
Mas, assim que elas violarem Teus princípios, o Senhor trará o Teu castigo. E, portanto, Pai, nós reconhecemos a santidade do casamento e afirmamos que, embora o Senhor permita o divórcio e o novo casamento em casos extremos, no início não foi assim. Oramos para que o Senhor elimine o divórcio de nossos relacionamentos, que o Senhor restaure aqueles que estão no meio disto, que o Senhor traga de volta aqueles que já fizeram isso.
Agradeço o convite que recebi nesta semana, Senhor, para um casamento de duas pessoas divorciadas e que agora estão reconciliadas e voltaram a viver juntas. Nós não separaríamos o que o Senhor uniu. Abençoe os casamentos nesta igreja. Agradecemos que o Senhor os tenha feito todos. Complete-os, enquanto caminham em obediência a Ti.
Esta é uma série de 6 sermões sobre Mateus 19:1-12 e outros textos bíblicos sobre divórcio e novo casamento, conforme links abaixo.
01. Divórcio e Novo Casamento – Parte 1
02. Divórcio e Novo Casamento – Parte 2
03. Divórcio e Novo Casamento – Parte 3
04. Divórcio e Novo Casamento – Parte 4
05. Divórcio e Novo Casamento – Parte 5
06. Divórcio e Novo Casamento – Parte 6
Este texto é uma síntese do sermão “Jesus’ Teaching on Divorce, Part 3″, de John MacArthur em 24/04/1983.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/2338/jesus-teaching-on-divorce-part-3
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno
Nota: Para melhor entendimento, usamos alguns fragmentos do sermão “Divorce and Remarriage, Part 3”, pregado por John MacArthur em 24 junho de 1979, (https://www.gty.org/library/sermons-library/2220/divorce-and-remarriage-part-3).