Deus Visita o Calvário

A escuridão no Calvário não foi causada pela ausência de Deus ou presença de Satanás, mas pela santa presença aterradora de Deus. O Pai desceu em julgamento no Gólgota em densas trevas, como o carrasco divino para desencadear sua fúria, não contra os pecadores, mas contra o portador de nossos pecados, Jesus (1 Pedro 2:24).

Continuando nossa trilha no evangelho de Marcos, vamos olhar agora para Marcos 15:33-41, dando sequência ao sermão anterior, quando vimos a crucificação de Jesus (Marcos 15:22-32).

Os evangelhos não se ocuparam com os sofrimentos físicos de Jesus, eles apenas os relatam sem fazer comentários. Mas, os insultos, zombarias, ridicularizações e blasfêmias que o Senhor sofreu, desde sua prisão até a crucificação, foram descritos.

Por que Deus não destruiu aqueles blasfemadores e resgatou Jesus? Era a vontade de Deus que Jesus fosse tratado daquela maneira e que fosse morto, para que pudesse ser o sacrifício pelo pecado, morresse no lugar dos pecadores, suportasse a maldição por nós e sofresse a punição pelos nossos pecados. Isaías profetizou:

Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca […] Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido. Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos (Is 53:5-10)

A consumação do sofrimento do Senhor

Jesus bradou na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15:34). Por acaso Deus não estava lá? Sim, Deus estava no Calvário,  mas  a presença de Deus foi para punir Jesus em nosso lugar (2Co 5:21).

Marcos 15:33-38 registra o ponto alto da história da salvação: a morte de Cristo. Ele era o tão esperado Cordeiro de Deus morrendo por nossos pecados. As palavras são inadequadas para capturar a realidade sobrenatural que estava acontecendo na cruz.

Marcos 15
33 Chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até a hora nona.

Como o dia judaico começava às 6 horas da manhã, a hora sexta equivalia ao meio-dia. O Senhor já havia falado três vezes na cruz:

1) Ele clamou: “Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem” (Lc 23:34);
2) Ele disse ao ladrão arrependido: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23:43);
3) Ele disse ao apóstolo João e a Maria: “Eis aí teu filho … Eis aí tua mãe” (Jo 20:27).

E na hora de maior intensidade da luz solar (meio-dia) houve trevas sobre toda a terra até a nona hora (3 horas tarde). Deus entrou em cena.

No Antigo Testamento várias vezes Deus é mencionado como luz (2Sm 22:29; Sl 27:1; 36:9; 119:105; Is 2:5; Hb 3:4 etc.). E isso no sentido da verdade, sabedoria, santidade e retidão. Sua presença é luz, a Shekinah (palavra hebraica que representa a presença gloriosa de Deus).

Quando Deus se manifestou a Moisés na montanha, Ele se manifestou como luz resplandecente, numa chama de fogo, no meio de uma sarça (Ex 3:2).

No entanto, o Antigo Testamento também diz que Deus aparece na escuridão (Gn 15:12-15; Ex 10: 21-22; 19:16-18; 20:18-21; Is 5; 8 etc.). Então a presença de Deus poderia ser luz manifesta, bem como escuridão manifesta.

O Antigo Testamento fala do “Dia do Senhor”, que é uma expressão que se refere ao julgamento divino. E sobre esse dia, por exemplo, Joel escreveu:

Ah! Que dia! Porque o Dia do Senhor está perto e vem como assolação do Todo-Poderoso […] Diante deles, treme a terra, e os céus se abalam; o sol e a lua se escurecem, e as estrelas retiram o seu resplendor. O Senhor levanta a voz diante do seu exército; porque muitíssimo grande é o seu arraial; porque é poderoso quem executa as suas ordens; sim, grande é o Dia do Senhor e mui terrível! Quem o poderá suportar? […] Mostrarei prodígios no céu e na terra: sangue, fogo e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor. (Joel 1:15; 2:10-11; 30-31).

Tudo isso se refere ao Dia final do Senhor, o dia escatológico do Senhor que é o julgamento final deste mundo. E será um tempo em que Deus será revelado na escuridão e não na luz. Veja outros exemplos:

Não será, pois, o Dia do Senhor trevas e não luz? Não será completa escuridão, sem nenhuma claridade? (Amós 5:20)

Está perto o grande Dia do Senhor; está perto e muito se apressa. Atenção! O Dia do Senhor é amargo, e nele clama até o homem poderoso. Aquele dia é dia de indignação, dia de angústia e dia de alvoroço e desolação, dia de escuridade e negrume, dia de nuvens e densas trevas (Sofonias 1:14-15).

A escuridão no Calvário não era por uma ausência de Deus ou presença de Satanás. Representava a santa presença aterradora de Deus. O Pai desceu em julgamento no Gólgota em densas trevas, como o carrasco divino para desencadear sua fúria, não contra os pecadores, mas contra o portador de nossos pecados, Jesus (1 Pedro 2:24).

O peso total da ira de Deus foi derramado sobre Jesus, como o imaculado Cordeiro de Deus que foi sacrificado pelo pecado, para que os pecadores pudessem ser justificados por meio dele (2Co 5:21; Hb 9:28; Rm 4:25 etc.).

Movido por sua perfeita justiça, a ira infinita de Deus lançou uma eternidade de castigo no Filho encarnado que, como uma pessoa infinita e eterna, absorveu as torturas do inferno em um intervalo de tempo finito. Aquele foi o terrível cálice da ira de Deus que Jesus antecipou enquanto suava sangue no jardim do Getsêmani (Mc 14:36; Lc 22:44).

Você diz: “Se nem um sofrimento eterno seria suficiente para resgatar um só pecador do castigo do pecado, como Jesus poderia, em três horas, satisfazer completamente a ira divina por todos os pecadores que creem?”.

E a resposta é que somente ele poderia receber uma quantidade infinita e eterna de ira, porque Jesus é uma pessoa infinita e eterna. Sua capacidade para tudo é ilimitada e eterna.

Marcos 15
34 À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?

Naquelas três horas de trevas (entre o meio-dia e às três horas da tarde), Jesus carregou em seu corpo nossos pecados, quando ele se fez pecado por nós (2Co 5:21). E na hora nona (3 horas da tarde), tudo terminou, e ele morreu.

E Marcos registra a quarta declaração de nosso Senhor: “Eloi, Eloi, lama sabachthani?”, que se traduz como “Meu Deus, meu Deus, por que me desamparastes?”, citando o Salmo 22:1. Foi a primeira coisa que Jesus disse depois que a escuridão terminou.

Sabemos que Deus estava lá no Gólgota, então, por que Jesus disse isso? É algo muito difícil para nós entendermos, obviamente, falando sobre uma pessoa divina. Penso que Jesus expressou no sentido de que o julgamento havia terminado, e ele estava querendo o conforto do Pai.

Depois que a ira se esgota, quando Deus em plena presença e vingança total a derramou, todo o cálice foi consumido, e a escuridão se foi, assim é Deus. Sabemos que Deus estava lá na punição, mas quando a punição terminou, onde estava Deus? Por que ele desamparou Jesus?

Jesus parece ter experimentado a separação de Deus imediatamente após ter suportado toda a fúria de Sua presença. Jesus sabia quem trouxe o julgamento sobre Ele. E, talvez, apenas por aquele momento, quando ele poderia ter esperado conforto do Pai, ele clamou: “Onde você está o teu conforto?”.

Quando Jesus bradou “Meu Deus, meu Deus”, é a única vez nos evangelhos em que Jesus não se refere a Deus como Pai. Ao repetir “Meu Deus, Meu Deus”, ele expressou seu profundo afeto e saudade para com o Pai, misturada com a agonia e dor de sua separação dele.

Ao contrário das tentações que Jesus suportou no deserto e no jardim do Getsêmani, em que o Pai enviou anjos para ministrar a Seu Filho (Mc 1:13; Lc 22:43), nenhum alívio foi dado a Jesus na cruz.

Essa é uma imagem do inferno, em que toda a fúria da ira de Deus está sempre presente, mas o conforto de seu amor e compaixão é totalmente ausente. Na cruz, o Senhor Jesus suportou a realidade cheia de tormentos do inferno, incluindo ser abandonado por Deus.

Marcos 15
35 Alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Vede, chama por Elias!
36 E um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta de um caniço, deu-lhe de beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-lo!

A dor da ausência do Pai tornou-se mais aguda pela presença hostil dos líderes religiosos e da multidão que continuaram a perseguir Jesus até que ele morresse. Quando alguns dos que ali estavam, ouvindo isso, começou dizendo: “Vede, chama por Elias!”.

Eles conheciam Malaquias 4:5-6, que diz que um profeta como Elias seria o precursor do Messias. E Jesus havia aplicado essa profecia apontando para João Batista (Mt 17:9-13).

Mas ali era apenas mais um insulto e sarcasmo da multidão contra Jesus, que quis dizer, em outras palavras: “Ele não disse que é o Messias? É possível que Elias apareça para resgatá-lo”. A escuridão de três horas não fez cessar a zombaria.

Além disso, a tradição judaica ensinava que, como Elias foi levado vivo para o céu (2Rs 2:8-14), ele aparecia de vez em quando em tempos de crise para proteger e resgatar os justos, e que ele viria quando o Messias chegasse. Então eles usaram isso para continuarem a zombaria.

Alguém pegou uma esponja e a encharcou com vinagre (um vinho barato e azedo), e usando a ponta de um caniço (ramo de um planta chamada hissopo, cf. Ex 12:22), deu-lhe para beber. Não foi um ato de bondade. O vinagre dado ao crucificado tinha como objetivo prolongar a vida e aumentar a tortura e a dor. E, zombando dele, disse: “Deixai, vejamos se Elias vem tirá-lo!”.

A morte de Jesus

Marcos 15
37 Mas Jesus, dando um grande brado, expirou.
João 19
30 Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito.
Mateus 27
50 E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito.
Lucas 23
46 Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou.

Mesmo depois de suportar a tortura física da cruz e os tormentos infinitos do julgamento divino, Jesus demonstrou que ainda estava mentalmente alerta e fisicamente forte quando ele soltou um forte grito.

Sua vida não se foi gradualmente devido à exaustão, ao contrário, ele havia declarado: “Porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou voluntariamente” (Jo 10:17-18).

João registrou seu brado: “Está consumado”. A obra da redenção havia sido cabalmente concluída. E, então, ele fez uma oração final: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23:46), e morreu.

O véu do templo se parte: o fim da Antiga Aliança

Marcos 15
38 E o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo.

A morte de Jesus, como o sacrifício perfeito para o pecado, marcou o fim do sistema de sacrifícios do Velho Testamento (Hb 10: 4-10; Rm 14:1-6; Cl 2:16-17).

O rompimento sobrenatural, de cima para baixo, da cortina de tecido maciço que permanentemente separava o Santo dos Santos do santuário exterior (Ex 26: 31-33; 40:16 Lv 20-21; Hb 9:3), representou o fim da Antiga Aliança.

Por quase 1.500 anos, só o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos, uma vez por ano, no Dia da Expiação (Lv 16; Hb 9:7-8). Naquela época, ele aspergia sangue sobre o propiciatório, em cima da arca da aliança, para significar que o sacrifício exigido tiveram que ser feitos para expiar seus pecados.

A cortina que bloqueava o Santo dos Santos (Ex 26:31-37) servia como um lembrete constante de separação do pecador da santa presença de Deus.

Mas naquela sexta-feira, às 3 horas da tarde, aquele véu de separação se rompeu. No exato momento em que os sacerdotes no templo sacrificavam cordeiros para a Páscoa, Deus extinguiu os sacrifícios da Antiga Aliança através do sacrifício único e definitivo do Cordeiro Santo.

Nota do site: De acordo com a Torá, duas vezes por dia, de manhã e à tarde, um cordeiro sem defeito eram sacrificados no santuário. As fontes judaicas antigas, como o Talmud, dizem que o sacrifício ocorria às 9 horas da manhã, enquanto o sacrifício da tarde ocorria às 3 horas da tarde (ver Ex 30:1-10).

A barreira a Deus havia sido removido de forma permanente. O acesso à presença de Deus foi aberta através da obra completa de Cristo (Hb 4:16). Naquele momento, a Antiga Aliança morreu, e a Nova Aliança foi ratificada. O templo e os rituais religiosos vazios sobreviveram por mais quarenta anos, até a destruição do templo pelos romanos no ano 70 d.C.

A presença santa e gloriosa de Deus tornou-se disponível através da morte de Cristo. Foi o fim do sumo sacerdócio, do sacerdócio levítico, do sistema sacrificial, do templo, do Santo dos Santos, do Lugar Santo.

Todo aquele sistema tornou-se nulo e inválido. A Antiga Aliança era o símbolo transitório da Nova Aliança, que é superior e eterna, da qual Cristo é o mediador (Hb 7 a 10),

A terra treme, sepulcros se abrem e a declaração do centurião romano

Mateus relata que, no exato momento em que Jesus morreu, “o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas” (Mt 27:51). Houve um terremoto poderoso o suficiente para partir rochas, uma experiência assustadora. E, a propósito, o Dia do Senhor está associado não apenas à escuridão, mas a grandes terremotos.

Quando Moisés se encontrou com Deus no Sinai para receber a Lei, toda a montanha tremeu (Ex 19:18). Davi relata “a terra se abalou e tremeu, vacilaram também os fundamentos dos montes e se estremeceram, porque Deus se indignou” (Sl 18:7). Nos eventos escatológicos de Apocalipse, quando Deus trará duros juízos, haverá grandes e massivos terremotos (Ap 6:12; 8:5; 11:13,19; 16:18).

Mateus também registra que “abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos” (Mt 27:52-53).

O poder de ressuscitar os mortos só pertence a Ele (Jo 5:21; Atos 2:24; 3:15; 5:30; Rm 8:11 etc.). E naquele momento ficou demonstrada a verdade de que só é possível a vida após a morte por causa da vitória de Cristo sobre o pecado na cruz (1Co 15:26; 2Tm 1:10; Hb 2:14).

Assim, a presença do Pai no Gólgota foi poderosamente exibida através de quatro milagres notáveis: uma escuridão sinistra que cobriu a terra, o véu do templo que se rasgou em dois, um terremoto poderoso o suficiente para dividir rochas, e a ressurreição de muitos santos.

Marcos 15
39 O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus.

Como oficial do exército romano, aquele centurião tinha sido colocado no comando da crucificação de Jesus. Ele e seus homens (cem soldados) podem ter se envolvidos na prisão de Jesus, como parte da corte romana que acompanhou Judas e os líderes religiosos (Jo 18:3), bem como nas flagelações e zombarias que Jesus sofreu.

É possível que eles também tenham sido testemunhas de seu julgamento perante Pilatos. Talvez o centurião ouviu quando o Senhor explicou ao governador que ele realmente era um rei, mas que o seu reino não era deste mundo (Jo 18:36-37).

Ou, talvez, ele ouviu os líderes religiosos se queixarem de que Jesus afirmou ser o Filho de Deus (Jo 19:7). Certamente ele foi testemunha que Pilatos repetidamente declarou que Jesus era inocente, mas, mesmo assim, o sentenciou à morte.

Mas ao ver tudo que aconteceu na cruz, ele concluiu: “Este não é um homem comum.”. E chegou à conclusão correta de que Ele é o Filho de Deus. Você diz: “Como ele chegou a essa conclusão?”

O centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto e tudo o que se passava, ficaram possuídos de grande temor e disseram:  Verdadeiramente este era Filho de Deus (Mt 27:54)

Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Verdadeiramente, este homem era justo (Lc 23:47)

Tudo que ele testemunhou o convenceu de algo especial estava acontecendo. Sua exclamação de adoração gerou declarações da divindade de Jesus, de sua inocência e de sua justiça divina.

Tal como o ladrão arrependido, aquele homem foi alcançado pela graça amorosa de Deus. Ambos eram blasfemadores, mas, mesmo em meio ao sofrimento e morte de Jesus, creram nele e foram resgatados eternamente.

Essas conversões improváveis demonstram que mesmo os piores pecadores e blasfemadores não estão fora do alcance do amor soberano de Deus e do favor imerecido (1 Tm 1: 12-15).

Lucas 23:48 acrescenta que “todas as multidões reunidas para aquele espetáculo, vendo o que havia acontecido, retiraram-se a lamentar, batendo nos peitos”.

Toda a zombaria se foi diante daqueles acontecimentos, e eles foram embora com remoso e angústia. Talvez alguns tenham crido e talvez fizeram parte da multidão que se converteu em Atos 2.

As mulheres ao pé da cruz

Marcos 15
40 Estavam também ali algumas mulheres, observando de longe; entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé;
41 as quais, quando Jesus estava na Galileia, o acompanhavam e serviam; e, além destas, muitas outras que haviam subido com ele para Jerusalém.

Em contraste com o centurião, que foi transferido da confusão para crer, a fé dos seguidores de Jesus foi misturada com tristeza e confusão. O evangelho de João indica que algumas das mulheres, juntamente com o apóstolo João, inicialmente se reuniram ao pé da cruz (Jo 19:25-27).

Talvez incapazes de suportar a visão do sofrimento de perto de Jesus, eles se retiraram e continuaram olhando de longe. Eles adoraram Jesus profundamente e creram nele sinceramente, ainda que eles estivessem confusos, desanimados e devastados pela cena de sua morte.

Marcos identifica três dessas mulheres:

1) Maria Madalena: de quem Jesus expulsou sete demônios (Lc 8:2);
2) Maria: mãe de Tiago, o menor (um dos doze e também chamado de Tiago, filho de Alfeu, cf. Mt 10:3; At 1:13), e de José;
3) Salomé: esposa de Zebedeu (Mt 27:56), mãe dos apóstolos Tiago e João (Mc 10:35) e irmã da mãe de Jesus, Maria (Jo 19:25)

Embora elas não fossem habilitados a fazer milagres ou pregar como os apóstolos, aquelas mulheres foram representativas dos fiéis preciosos que não abandonaram o seu Senhor, mesmo naquele momento terrível. Mesmo confusas, elas estavam lá, talvez esperando por algum milagre, que algo acontecesse.

A lealdade delas foi recompensada três dias depois. Na manhã de domingo, elas seriam as primeiras a saber da gloriosa ressurreição de Jesus (Mc 16: 1-8; Jo 20: 11-18; Mt 28: 8-10).

As profundezas do desapontamento e luto na sexta-feira não durou muito. Jesus ressuscitou no domingo de manhã, assim como ele tinha prometido (Mc 8:31; 9:31; 10:34). O anjo lembrou as mulheres quando vieram para o túmulo vazio: “Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde ele jazia” (Mt 28: 6).

Em Sua morte, o Senhor Jesus tomou sobre si a penalidade do pecado. Em sua ressurreição, Ele venceu o poder da morte. A morte e a ressurreição de Jesus são verdades essenciais para o evangelho (1 Co 15: 3-4), ambas devem ser cridas para salvação (Rm 10:9).

Jesus, o Filho de Deus

Quando Marcos começou seu evangelho, ele escreveu: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1:1). Foi apenas um começo de uma grande história sobre o Filho de Deus. Quase no final de seu evangelho, Marcos registrou a declaração do centurião romano: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus” (Mc 15:39).

Nota do site: Ser “Filho de Deus” significava ser da mesma natureza e essência de Deus. Quando Jesus se declarou “Filho de Deus”, os judeus sabiam que ele está afirmando ser Deus (Jo 5:18), por possuir a mesma essência do Pai. E tal afirmação foi considerada pelos líderes religiosos como uma blasfêmia digna de morte (Jo 19:7).

No registro de Marcos, a declaração do centurião foi a primeira declaração de um ser humano  de que Jesus é o Filho de Deus. É quase como se Marcos esperasse até a cruz para que alguém dissesse: “Este é o Filho de Deus”.

Em Marcos 1:11, no batismo de Jesus, o Pai declarou: “Este é meu Filho Amado”. O Pai repetiu a mesma afirmação na transfiguração de Jesus (Mc 9:7). Os demônios também reconhecerem que Jesus era o Filho de Deus (Mc 1:24; 3:11; 5:7). E então Marcos registrou a mesma declaração vinda de um gentio, um soldado romano chefe do pelotão de execução.

Pedro declarou a Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:16). E todos nós declaramos isso também, não é mesmo? A história de Marcos foi escrita para o mesmo propósito que João escreveu seu evangelho: “… para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20:21). Vamos orar.

Pai, não temos palavras para expressar a profundidade da nossa gratidão a Ti por despertar nossos corações mortos e nos dar vida, abrindo nossos olhos cegos, nos deixando ver, destampando nossos ouvidos surdos para que pudéssemos ouvir e crer que Jesus é o Filho de Deus, o único Salvador.

Obrigado por nos ter dado olhos para ver além do ridículo, do desprezo e da piada para a verdade, nós que antes de sermos salvos também éramos blasfemadores. Pois qualquer um que não ama o Filho e não confessa o Filho como Senhor cometeu um grande crime contra Ti, blasfemou contra Ti porque Tu és Aquele que disse: “Este é o Meu Filho amado, ouçam a ele”. Confessamos nossa própria traição e nossa própria blasfêmia até o dia em que o Senhor nos despertou.

Agradecemos a Ti, Senhor, pelo presente da salvação. É um presente que não pode ser conquistado, só pode ser recebido pela fé. Obrigado pelo testemunho daquele centurião. Finalmente, depois de quinze capítulos e 39 versículos no evangelho de Marcos, uma pessoa diz o que toda a história pretende provar. Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus que veio para morrer em nosso lugar e ressuscitar para nossa justificação. Oramos em nome de Jesus. Amém.


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos.

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série.


Este texto é uma síntese do sermão “God Visits Calvary”, de John MacArthur, em 22/5/2011.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-82/god-visits-calvary

Tradução e síntese feitas pelo site Rei Eterno.


 

Compartilhe

You may also like...

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.