Cristo é Superior a Moisés
Se você não se deleita em Jesus, fique em Sua presença até aprender a se deleitar Nele, até que sua vida cristã seja de plena satisfação em Cristo, até que cada momento de cada dia seja alegria após alegria por desfrutar de Cristo. Considere-O. Fixe sua atenção Nele.
INTRODUÇÃO
Chegamos ao terceiro capítulo de Hebreus. Consideraremos os versículos 1 a 6 em nosso estudo. Quero fazer uma breve revisão, para que você possa se colocar de volta na perspectiva do livro de Hebreus.
1 – A AUTORIA DE HEBREUS
Dissemos, em nossas mensagens introdutórias, que não sabemos quem é o autor do livro de Hebreus. Alguns dizem ser o apóstolo Paulo. Nossa convicção pessoal é que o livro não indica autoria paulina e que só Deus sabe quem é o seu autor. Mas, por trás desse autor, seja ele quem for, sabemos que está o Espírito Santo. E assim, simplesmente nos referiremos, ao estudarmos o livro de Hebreus, ao Espírito Santo como autor deste livro.
2 – DESTINATÁRIOS ORIGINAIS DE HEBREUS
▪︎ GRUPO DOS CONVERTIDOS – Ora, o livro de Hebreus foi escrito para uma comunidade de judeus que havia sido evangelizada pelos primeiros apóstolos e profetas. E como resultado desta comunidade ser evangelizada em algum lugar fora da área de Jerusalém, de eles terem sido evangelizados pelos apóstolos e profetas, alguns deles creram, e uma pequena congregação de judeus crentes surgiu naquela comunidade.
▪︎ GRUPO DOS CONVENCIDOS, MAS NÃO CONVERTIDOS – Não havia entre eles apenas aqueles que foram convertidos, que realmente se entregaram a Jesus Cristo, mas havia alguns que se convenceram intelectualmente, porém nunca deram o passo da fé. Eles acreditaram na mensagem, mas nunca se comprometeram com essa fé.
▪︎ GRUPO DOS NÃO CONVENCIDOS – Além desses dois grupos, havia outro, que não foi convencido da mensagem, que ouviu o evangelho, mas não deu absolutamente nenhuma resposta.
Então, para esses três grupos a carta de Hebreus foi escrita. Já dissemos, repetidas vezes, que se você não entender isso, terá muita dificuldade para interpretar o livro, pois as várias passagens são direcionadas a esses três grupos de leitores.
Há certas passagens, então, primeiramente dirigidas aos crentes hebreus, verdadeiros cristãos que receberam a Cristo. Eles saíram do Judaísmo, nasceram de novo. Eles se tornaram seguidores de Jesus Cristo. E como resultado disso, foram expulsos da sinagoga, condenados ao ostracismo, expulsos da cultura judaica e perseguidos implacavelmente.
Por causa dessa perseguição, sua fé era muito fraca e eles tendiam a se apegar aos rituais do Judaísmo. Assim, eles eram verdadeiros crentes, mas se apegavam à parte ritual, algumas das armadilhas do Judaísmo.
E isso nos é indicado em muitas passagens na carta aos Hebreus. Por exemplo, no capítulo 10 lemos que embora aquele grupo de judeus tivesse se convertido para a fé em Cristo, ainda estava se apegando ao ritual da Antiga Aliança.
Paulo deve ter tido algo assim em mente, quando escreveu aos gálatas (Gálatas 5:1) e disse: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” Esse “jugo da servidão” era a lei da Antiga Aliança judaica.
E assim, na Nova Aliança, há liberdade para estar em Cristo e experimentar tudo o que Ele tem. Porém, aquele grupo de judeus não tinha começado a experimentar isso. Eles ainda estavam presos ao seu legalismo. Eles eram, no sentido clássico de Romanos 14, irmãos mais fracos.
Portanto, o Espírito Santo escreve a carta aos Hebreus para fortalecer sua fé e lhes mostrar que podiam abandonar os rituais, as formalidades do Judaísmo e receber Cristo totalmente, como absolutamente suficiente. Eles não precisavam de nada da Velha Aliança, pois já tinham a Nova.
Em segundo lugar, a carta aos Hebreus foi escrita para o grupo de hebreus não-cristãos, mas que eram intelectualmente convencidos sobre o evangelho. Várias passagens do livro tratam deles. Eles são advertidos de que, uma vez que sabem tanto, é melhor agirem de acordo com isso, para que não caiam e nunca mais sejam renovados para o arrependimento.
Aqueles que conhecem a verdade, e voluntariamente a rejeitam, são severamente advertidos, particularmente no capítulo 10, de que terão uma punição muito mais severa, pois que voluntariamente pisotearam o Filho de Deus.
Em seguida, o terceiro grupo é o dos não-cristãos hebreus. Eles não estavam convencidos acerca do evangelho. Eles não acreditavam em nada. Para eles o Evangelho foi apresentado várias vezes no livro de Hebreus.
Portanto, há três grupos de destinatários originais da carta aos Hebreus. E, em cada contexto, você deve saber identificar para quem o autor de Hebreus está escrevendo ou ficará terrivelmente confuso sobre o caráter do Cristianismo.
3 – TEMA DE HEBREUS
Em todo texto do livro de Hebreus, não importa a quem se dirija, o tema é sempre a supremacia absoluta de Cristo. Se o texto é direcionado aos crentes ainda apegados ao Judaísmo, é dito: “Você não precisa disso. Cristo é suficiente.”
Se é direcionado aos incrédulos que estão apenas convencidos da verdade, é dito: “Vamos, ponha sua fé em Cristo. Descanse em Cristo. Ele é suficiente.”
Se direcionado aos judeus incrédulos e não convencidos, é dito: “Cristo é superior. Ele é supremo. Ele é suficiente.” E assim, a mensagem é sempre a supremacia de Cristo, embora com formas diferentes, a depender dos destinatários da mensagem.
Então, poderíamos dizer que o tema do livro de Hebreus é o Cristo perfeito, supremo, superior, suficiente. Não precisamos de nada além de Jesus Cristo. Isso se torna o padrão do livro e o que ele foi projetado para fazer.
Se de fato o Espírito Santo deve mostrar que Cristo é melhor do que qualquer outro, e se Ele deve mostrar que a Nova Aliança fornecida por Cristo é melhor do que a Velha, os padrões judaicos do Antigo Testamento, se a Nova Aliança é melhor do que a Antigo, então, o Espírito Santo deve provar que o caráter do personagem-chave da Nova Aliança, isto é, Jesus Cristo, é melhor do que todos aqueles ligados à Antiga, não deve? Se a Nova Aliança é melhor, deve ter um mediador melhor.
E assim, logo na primeira parte do capítulo 1, Hebreus nos informa que Jesus Cristo é superior tudo e todos. No capítulo 2, que Jesus Cristo é superior aos anjos. No capítulo 3, que Jesus é superior a Moisés. No capítulo 4, Jesus é superior a Josué. E então, Jesus é superiro a Arão.
Jesus é superior a Antiga Aliança. Ele é superior aos sacrifícios do Antigo Testamento. O objetivo é mostrar que Jesus é superior, supremo e suficiente. Você não precisa de mais nada. Essa é a chave do livro de Hebreus.
Esse tema é tão lindamente declarado aqui no primeiro versículo do capítulo 3, que diz, bem no meio do versículo: “… considerai a Cristo Jesus, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão”. Os melhores manuscritos omitem a palavra “Cristo”, trazendo apenas “considerai Jesus“.
JESUS É SUPERIOR A MOISÉS
Hebreus 3
¹ Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus,
² o qual é fiel àquele que o constituiu, como também o era Moisés em toda a casa de Deus.
³ Jesus, todavia, tem sido considerado digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a estabeleceu.
⁴ Pois toda casa é estabelecida por alguém, mas aquele que estabeleceu todas as coisas é Deus.
⁵ E Moisés era fiel, em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que haviam de ser anunciadas;
⁶ Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança.
Este é o tema de Hebreus, em duas palavras: “considerai Jesus”. É disso que o livro trata. É estratégico para todos os homens, em todas as épocas, considerar Jesus. Aqui, no capítulo 3, considere Jesus em comparação a Moisés.
Já vimos que Jesus é superior aos profetas (capítulo 1), superior aos anjos (capítulo 2). E agora veremos que Jesus é superior àquele que trouxe a primeira Aliança, Moisés, o maior de todos.
Vamos olhar para os primeiros seis versículos do capítulo 3, porque eles são a doutrina sobre a qual a exortação do versículo 7, a seguir, é construída. Temos que entender a premissa, ou não entenderemos a exortação.
Para entender essa passagem, temos que recuar um pouco e descobrir o que os judeus pensavam sobre Moisés. Se Jesus é superior a Moisés, devemos saber um pouco sobre o que Moisés foi.
Por que é tão importante provar que Jesus é superior a Moisés? A resposta é porque os judeus estimavam muito Moisés. Ele era estimado acima de qualquer outro judeu que já existiu. Ele ocupava um lugar que era total e absolutamente único na mente de um judeu.
Ele foi o homem a quem Deus falava boca a boca. Ele foi o homem que viu a glória de Deus. Ele foi o homem que teve a glória de Deus transferida diretamente para seu rosto. Foi ele quem tirou Israel do Egito. Ele era o homem de Deus.
Mas, além disso, a coisa mais importante na mente de um judeu era a lei. E foi Moisés quem deu a lei. Moisés e a lei eram sinônimos. O judeu e a lei andavam juntos. Paulo diz, em Romanos 2, que o judeu se gabava na lei. Os mandamentos e rituais do Antigo Testamento eram a prioridade dos judeus.
Moisés trouxe não apenas os Dez Mandamentos, mas também escreveu todo o Pentateuco, que estabelece todas as leis levíticas e todas as leis que governavam tudo o que eles faziam. Assim, Moisés foi o grande legislador. A lei era a coisa mais importante na vida deles.
Alguns judeus até acreditavam que Moisés era maior que os anjos. E é verdade que aos profetas Deus falou em visões, mas a Moisés Ele falou boca a boca. Deus falou com ele em uma sarça ardente. Deus falou com ele do céu. Deus falou com ele no Sinai e escreveu os mandamentos com o dedo de fogo.
Deus falou diretamente com Moisés e transferiu Sua glória para ele. Com isso, na mente dos judeus, Moisés estava muito acima de qualquer outro homem que já viveu.
Certamente, sua história foi notável. A mão de Deus o preservou quando bebê, e a mão de Deus cavou sua sepultura no final. Entre esses dois pontos de sua vida, não houve nada além de milagre após milagre. Durante os momentos mais memoráveis da história de Israel, foi por meio de Moisés que Deus trabalhou.
Foi Moisés quem conduziu os filhos de Israel para fora do Egito. Foi Moisés quem os guiou pelo deserto. Foi Moisés quem os instruiu. Todo o sistema levítico foi iniciado por meio de Moisés. Foi Moisés quem deu os planos para o tabernáculo, a Arca da Aliança e tudo o que a acompanhava. E assim, para o judeu, Moisés é o grande “Mosheh”. Não há ninguém como ele.
Porém, por maior que Moisés fosse, o Espírito Santo nesta seção de Hebreus nos chama a olhar para Jesus, que é muito maior do que Moisés. E esta é a consideração aqui para seus leitores judeus: se você acha que Moisés é grande, considere Jesus!
Para que o Espírito Santo apresente evidências a fim de apoiar a superioridade, a supremacia e a suficiência de Cristo, Ele seleciona uma apresentação tríplice. E este será o nosso esboço: Jesus é superior em Seu ofício (Ele é o apóstolo e sumo sacerdote), superior em Sua obra (Ele é o construtor da casa) e superior em Sua pessoa (Ele é o Filho).
1 – A SUPERIORIDADE DE JESUS SOBRE MOISÉS COM RELAÇÃO A SEU OFÍCIO
Em primeiro lugar, o Espírito Santo diz que Jesus é superior a Moisés em Seu ofício. Hebreus 3:1 diz: “Por isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Cristo Jesus, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão.”
Considere Jesus. E é isso que eu gostaria que você fizesse agora. Quer você seja cristão ou não, gostaria que considerasse Jesus. E, certamente, esse é o sentido de toda a nossa pregação e de todo o nosso ensino.
O capítulo 3 começa assim: “por isso”. O que isso significa? Que o versículo 3 trata de algo que foi dito nos versículos anteriores, como uma consequência lógica. É como se o autor dissesse: “Portanto, com base no que acabei de dizer, considere Jesus”.
E o que o autor acabou de dizer? Ele disse que Jesus é o capitão da nossa salvação, que Ele é santificador, que Ele nos chama de irmãos, que Ele destruiu Satanás e a morte, que Ele pode nos libertar da escravidão. Com base no que o autor disse sobre Jesus até aqui, você deveria considerá-Lo.
Ele acabou que Jesus é o sumo sacerdote fiel e perfeito. Não Lhe falta absolutamente nada. O autor está exortando os hebreus a se concentrarem na suficiência absoluta de Jesus. “Largue o resto das coisas. Você não precisa delas. Você tem um novo sumo sacerdote e um novo enviado de Deus. Largue todas as armadilhas. Concentre-se em Jesus. Ele é tudo que você precisa!”
Essa exortação é destinada diretamente aos judeus convertidos a Cristo, que estavam olhando para Jesus com um olho, mas olhando para trás o tempo todo. O Espírito Santo está dizendo: “Considere Jesus. Você não precisa de nada mais!”
A maioria de nós não veio do Judaísmo. E, portanto, não entendemos a tentação de nos agarrarmos às coisas velhas. Mas nos sentimos atraídos a acreditar que nossas obras religiosas são o que importa, que Deus espera mais do que apenas nossa fé e nosso amor, que Ele espera que façamos certas pequenas coisas para agradá-Lo.
E, embora aceitemos a graça gratuita de Deus completa em Cristo, meio que nos apegamos a um tipo artificial de legalismo, em vez de viver a vida positiva controlada por Cristo e energizada pelo Espírito. Portanto, as declarações da suficiência de Cristo certamente destroem todos os esforços legalistas, sejam judaicos ou de qualquer outro tipo.
Voltando ao verso 1: “Por isso, irmãos santos…”. Vejamos o que significa a declaração “irmãos santos“. Uma declaração fantástica! Como crentes, somos irmãos de Cristo, porque estamos identificados com Ele.
Muitas pessoas, ao estudar o livro de Hebreus, disseram que o autor tem que estar escrevendo para os cristãos o tempo todo, porque ele usa a palavra “irmãos”.
Observe, porém, que só porque ele usa a palavra “irmãos” não significa que esteja se direcionando sempre aos cristãos. Em Atos 2:29, 13:38, os judeus são referidos como irmãos. Mas quando Hebreus 3:1 diz: “irmãos santos”, então sabemos que está se direcionando aos crentes em Cristo.
Não se trata, portanto, de uma referência aos judeus em geral, mas aos crentes, no sentido daqueles que são verdadeiros irmãos (Hb 2:11), que são santificados em Cristo, pelo que “Ele não se envergonha de chamá-los de irmãos.”
A posição celestial do cristão
Assim, esta passagem (Hb 3:1) é escrita para cristãos, para santos judeus, santos irmãos em Cristo. Eles são santos não por causa de suas práticas, mas por causa de sua posição. Eles são irmãos, santificados, separados em Cristo.
Hebreus 10:10 diz: “Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez.” Quando você recebeu a Cristo, você foi feito santo. Versículo 14: “Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados.”
Versículos 17 e 18: “E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado.” Por quê? Porque não há mais pecado, posicionalmente. Portanto, somos posicionalmente santos, separados, puros. Todos os cristãos são santos, no sentido de sua posição diante de Deus.
Portanto, esta seção do livro de Hebreus foi escrita para irmãos santos que conhecem e amam Jesus Cristo, os verdadeiros crentes da igreja. Apenas para enfatizar isso, o autor também os chama de participantes do chamado celestial.
Se você ler cuidadosamente o livro de Hebreus, descobrirá que quase tudo nele é celestial. Temos um lar celestial, uma Jerusalém celestial, um chamado celestial e assim por diante. Estamos vivendo nos lugares celestiais, como Paulo diz em Efésios.
Hebreus está fazendo uma distinção entre a superioridade do Cristianismo com relação ao Judaísmo. No Judaísmo, a vocação era terrena, com uma herança terrena. Havia a circuncisão no oitavo dia, e o judeu herdaria a terra se fosse bom. O cristianismo, porém, é um chamado espiritual e celestial, com uma herança espiritual e celestial. É superior.
Paulo diz, em Filipenses capítulo 3, versos 14 e 20: “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.“ Nossa casa é no céu. Nosso lugar é no céu.
E nós vivemos agora nos lugares celestiais, espiritualmente falando. Efésios 1:3 declara: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo.” Onde? Nos céus, em Cristo Jesus.
Assim, vemos que, como verdadeiros crentes, somos irmãos de Jesus por posição, somos santos por posição, somos participantes de um tipo de existência celestial. Somos estranhos e peregrinos aqui. Nós movemos nossos pés no mundo, mas realmente não pertencemos a este lugar.
O que Hebreus estava dizendo àqueles judeus era: “Por que vocês não abandonam o fim terreno disso? Vocês são cidadãos nos céus. Agora, por que vocês não abrem mão das coisas terrenas? Por que alguém iria querer se apegar às riquezas terrenas, quando tem a realidade celestial?”.
É por isso que não acreditamos que deva haver qualquer ritual na igreja. É por isso que não temos pessoas andando entre nós recitando mantras, acendendo velas, fazendo coisas estranhas, balançando objetos etc. Não precisamos do ritual, porque já temos a realidade.
Em João 4:24, Jesus disse: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” A verdadeira adoração é na verdade, não em ritual. Não há lugar no Cristianismo para o ritual, porque a realidade está aqui. Esse é o ponto principal.
Assim, o escritor aos Hebreus está dizendo: “Vocês que são participantes de um chamado celestial, o que estão fazendo se apegando às armadilhas terrenas? Vocês não precisam disso. É inútil!”
Portanto, os crentes são participantes da natureza justa de Cristo, em seu chamado celestial. Porque eles vivem em um tipo de existência celestial, eles devem se dirigir a essa existência celestial, não a uma terrena.
Considerar Jesus
Então, o Espirito Santo diz a esses cristãos: “considerem Jesus!” (Hb 3:1). A palavra “considerar” é fantástica. Não significa “dê uma olhada”. A palavra significa colocar-se a olhar fixamente para Jesus.
Você diz: “Bem, por que Ele está dizendo isso aos cristãos? Já conhecemos a Cristo”. Ouça, ninguém precisa dessa mensagem mais do que eu e você, sabia disso? Deus pode me dizer agora mesmo: “MacArthur, considere Jesus”, porque estou muito longe de realmente descobrir toda a Sua glória, todas as Suas belezas, tudo o que Ele é.
Hebreus diz àqueles crentes: “Apenas olhe para Jesus. Você vai continuar olhando para Ele e não ficar olhando em volta para todos esses rituais, esses problemas e essas perseguições. Apenas considere Jesus. Você não precisa de mais nada. Ele é suficiente.”
A propósito, pode ter havido um cristão maior do que Paulo, mas se houver, eu nunca o conheci. Ele não viveu na minha época e cruzou meu caminho. E Paulo disse o seguinte (Fp 3:10): “Para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte”.
Você poderia replicar: “Paulo, você já O conhece!”. Paulo diria: “Não, eu não sondei a profundidade de Sua pessoa”. Isso é o que ele quer dizer.
Ouça o que o Espírito diz: Considere Jesus! Quando as coisas ficam difíceis, os problemas aparecem e tudo vai mal, você começa a pensar em certas coisas que estão tentando você e assim por diante, nesse momento, coloque seu olhar em Jesus e mantenha-o lá atentamente, até que tudo o que Ele é comece a se desenrolar diante de seus olhos.
E esta é exatamente a razão pela qual tantos cristãos são fracos e preocupados: eles realmente não conhecem as profundezas e as riquezas de Jesus Cristo.
Jesus fez uma declaração clássica (Mt 11:29): “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” Ele não disse: “Aprendam sobre Mim”. Ele disse o quê? “Aprendam de mim.”
Deixe-me perguntar isto: Você realmente gosta de sua vida cristã? Você a aprecia? Você se levanta todas as manhãs e diz: “Senhor, mal posso esperar para sair deste lugar e ver o que o Senhor vai fazer?” Sua vida cristã é emocionante? Deveria ser.
Você desfruta Jesus Cristo? Você passa o dia e pensa: “Senhor, Tua comunhão e Tua presença satisfazem plenamente!”? Você às vezes quer se levantar e gritar de satisfação por Jesus? Você deveria desfrutá-Lo assim.
Muitos cristãos não desfrutam Jesus. Eles são miseráveis, infelizes. Não sabem nada sobre alegria. E a razão é que eles não O conhecem experimentalmente, não O conhecem ricamente. Eles precisam considerar Jesus.
Se você não se deleita em Jesus, fique em Sua presença até aprender a se deleitar Nele, até que sua vida cristã seja de plena satisfação em Cristo, até que cada momento de cada dia seja alegria após alegria por desfrutar de Cristo. Considere-O. Fixe sua atenção Nele.
Timóteo estava tendo problemas. Ele era jovem. Estava ficando com uma úlcera. Paulo até lhe disse (1 Tim 5:23): “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades.” Timóteo estava sendo atacado pelos hereges de Éfeso.
As pessoas o criticavam e ele se desanimava. Ele estava realmente sofrendo. Em 2 Timóteo 2, Paulo lhe disse:
1 Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus.
2 E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.
3 Tu pois, sofre as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo.
7 Considera o que digo, e o Senhor te dê entendimento em tudo.
8 Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de Davi, ressuscitou dentre os mortos, segundo o meu evangelho.
Quando você realmente tiver problemas, Paulo não diz: “Faça isso, faça aquilo”. Ele diz: Lembre-se de Jesus Cristo. Olhe para Ele. Aprenda com Ele.
Em Hebreus 12:1 e 2, lemos:
1 Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta,
2 Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.
Se você vai correr a corrida cristã, para quem você deve olhar? Jesus. Na corrida cristã, você deve tirar os olhos de seus próprios pés. Tire os olhos de si mesmo! Caso contrário, você irá trombar em algum obstáculo.
Então, o que o Espírito Santo está dizendo? Considere Jesus. Ele é tudo que você precisa, certo? Apenas olhe para Ele. Esqueça tudo. Apenas se concentre Nele. Ele é tudo o que você precisa.
Jesus: apóstolo e sumo sacerdote
Assim, em Hebreus 3:1, o autor dá dois títulos a Jesus: apóstolo e sumo sacerdote: “Por isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Cristo Jesus, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão“. Trata-se do ofício Dele.
Em primeiro lugar, ele o chama de apóstolo. O fato de Jesus ser reconhecido como apóstolo e sumo sacerdote já evidencia Sua superioridade em relação a Moisés, pois Moisés, na melhor das hipóteses, foi um apóstolo, mas não um sumo sacerdote. Quem era o sumo sacerdote? Arão.
Portanto, nesse sentido, Jesus é superior em seu ofício, pois ele é tanto apóstolo como sumo sacerdote. Jesus é apóstolo, isto é, enviado por Deus. “Apostolos”. Jesus é o embaixador supremo de Deus enviado à Terra.
Quais são as características de um apóstolo ou de um embaixador? Em primeiro lugar, um embaixador tem todo o direito, poder e autoridade do rei do país que o envia. Jesus também. Ele veio revestido do poder de Deus, veio com toda a graça, todo amor, toda misericórdia e toda justiça de Deus.
Em segundo lugar, um embaixador deve ser a voz daquele que o enviou. Em João 12:49, Jesus disse: “Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar.” Jesus foi o enviado perfeito de Deus. Ele veio com todo o poder de Deus e foi a voz de Deus.
Mas, além disso, Ele sempre foi o “apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão” (Hb 3:1). A palavra sacerdote, em latim, é “pontifex” que significa construtor de pontes. Jesus foi quem construiu a ponte entre Deus e o homem. Foi ele quem conectou Deus e o homem.
E assim, Jesus não é apenas o enviado de Deus, com todo o poder de Deus, sendo a voz de Deus, mas é Ele quem une o homem e Deus. Ele é o construtor de pontes. Ele também é a ponte.
Jesus é “apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão“. Ou seja, nós O confessamos. Quando Hebreus 3:1 está nos dizendo para considerarmos (contemplarmos) Jesus, isso significa que se você professa a Cristo, se você confessa que Ele é o seu Senhor, então você certamente deve contemplá-Lo.
O autor está se dirigindo àqueles judeus convertidos e dizendo, em outras palavras: “Vocês, judeus, receberam a Cristo, vocês O confessaram como apóstolo e seu novo sumo sacerdote, receberam tudo o que Ele tem. Agora, olhem para Ele atentamente.” Qual sentido teria confessar Jesus como Senhor, mas não Lhe contemplar como tal?
Isso é prática. Quantos de nós, como cristãos, confessamos Jesus Cristo como Salvador e Senhor e ainda passamos a vida inteira sem olhar para Ele, mas olhando para nós mesmos?
E assim, em Seu ofício, Jesus é superior a Moisés.
2 – A SUPERIORIDADE DE JESUS SOBRE MOISÉS, COM RELAÇÃO A SUA OBRA
Em segundo lugar, Jesus é superior a Moisés em Suas obras.
Hebreus 3
2 Sendo fiel ao que o constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa.
3 Porque ele é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou.
4 Porque toda a casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus.
Tenha em mente que é difícil para nós, gentios, entendermos o carinho com que os judeus olham para Moisés, o homem de Deus. Ele foi um grande homem. Ele era um querido homem de Deus, um homem que se destacou acima de todos os outros homens.
Tudo relacionado a Deus, na mente do judeu, está relacionado a Moisés. E assim, esse assunto é tratado com muita delicadeza pelo Espírito Santo. O Espírito Santo não dispara, no versículo 2: “Jesus é maior do que Moisés!”. Ele lida mais delicadamente com isso. A sabedoria do Espírito é maravilhosa. Antes de deflagrar a superioridade de Jesus sobre Moisés, Ele aponta a semelhança entre os dois.
Observe que o versículo 2 declara que Jesus foi “fiel ao que o constituiu“. Jesus foi fiel a Deus. Ele fez exatamente aquilo que o Pai O designou para fazer. Jesus declarou:
João 6
38 Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
39 E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu, eu perca, mas que o ressuscite no último dia.
Em outras palavras: “Eu apenas faço o que é a vontade do Pai, e nunca a violei, nem a perco de vista”. Em João 7:18, Jesus declarou: “Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.”
Em outras palavras: “Você pode dizer que sou um verdadeiro Messias, porque não busco minha própria glória; Eu busco a glória daquele que Me enviou.” Sempre focado nos negócios de Seu pai.
Em João 8:29, a mesma declaração: “E aquele que me enviou está comigo. O Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.” Jesus disse:
João 17
4 Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.
5 E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.
Jesus sempre fez a vontade do Pai. Sempre fiel. Jesus disse: “Devo fazer as obras daquele que me enviou”. Isso é fidelidade. Quão fiel você é? Jesus foi fiel Àquele que O designou. Deus disse: “Você vai, e aqui está o Seu trabalho.” E Jesus o fez.
E assim, com muito tato, o Espírito Santo diz, versículo 2, que Jesus foi fiel ao Pai, “como também o foi Moisés em toda a sua casa.” Não faz distinção. Há uma comparação.
O Espírito Santo os compara muito delicadamente e diz que ambos são fiéis. Essa é uma citação indireta de Números 12:7, que diz: “Não é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa.”
Moisés foi fiel. Ele executou fielmente o plano de Deus. Ele saiu do Egito para o deserto. Deus o refinou. Demorou 40 anos para Moisés fazer algo por si mesmo. 40 anos para Deus destruí-lo. E, então, 40 anos para Deus poder usá-lo.
Em 40 anos no deserto, Deus o quebrou, fez dele o homem que Ele queria que ele fosse. Então, Moisés tirou os filhos de Israel do Egito. Ele foi fiel. Ele creu em Deus. Ele foi fiel. Ele conduziu os filhos de Israel.
Embora que houve momentos em que ele foi infiel. Por exemplo, no Egito, quando ele matou o egípcio, ou no deserto, quando ele feriu a rocha em vez de falar com ela. Mas, Moisés, na maior parte do tempo, foi fiel. E aqui o Espírito Santo enfatiza a semelhança entre Cristo e Moisés.
Note que o texto diz que “Moisés foi fiel em toda a sua casa” (Hb 3:2). De que casa o texto está falando? A palavra usada no texto original é “oikos”, que significa casa, lar, família. Moisés é visto como um mordomo fiel na casa de Deus. A casa aí é a família de Deus do Velho Testamento, ou seja, crentes do Antigo Testamento – Israel e quaisquer prosélitos.
Moisés foi um mordomo. Em 1 Coríntios 4:2 é dito: “Além disso, requer-se dos mordomos que cada um se ache fiel.” Um mordomo é alguém que não é o dono da casa; ele administra para o proprietário. Deus possui a casa de Israel; Moisés estava encarregado da administração. Ele estava encarregado de dispensar os fatos e as coisas que Deus confiou a ele ao povo de Israel. E Moisés foi fiel.
Mas, diz o versículo 2 que Cristo também foi fiel à Sua casa. Quem é a família de Cristo? Efésios 2:19 diz: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus.” A família de Deus é a igreja.
Somos uma nova família. E Jesus é quem cuida de nós. Em 1 Pedro 2:4, lemos: “E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa.“
Assim como os crentes do Antigo Testamento são chamados de “A casa de Moisés”, os crentes do Novo Testamento são chamados de “A casa de Cristo”. Assim como Moisés foi fiel a uma família terrena, Jesus foi fiel a uma família celestial. Assim como Moisés foi fiel à casa que Deus lhe deu, Jesus também foi fiel à casa que Deus lhe deu.
E Jesus pôde dizer, no final de Sua vida na Terra (Jo 17:4): “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.” Ele foi fiel.
Então, o Espírito Santo delicadamente começa comparando Moisés com Jesus com base em sua fidelidade a uma tarefa dada por Deus.
Somos todos mordomos na casa de Deus no fato de que todos nós temos, por exemplo, dons espirituais, embora sejamos mordomos em um sentido menor do que Jesus.
Os dons nos foram confiados por Deus. Eles não são nossos. São de Deus. Ele os deu para você os compartilhar. E se você for infiel ao ministrar seu dom espiritual, você será um mordomo infiel.
Todos temos a responsabilidade de testemunhar para as pessoas em sua comunidade que Deus colocou ao seu redor, porém você pode estar sendo um mordomo infiel do testemunho que Deus lhe confiou.
Outros de vocês receberam a tarefa de ensinar, instruir, mas se tornaram infiéis em estudar com diligência, fidelidade, sacrifício e, consequentemente, são mordomos infiéis.
A vida cristã é uma responsabilidade sagrada dada a vocês por Deus e Ele exige sua fidelidade. Eu penso que a maior emoção que poderia me acontecer seria, no final da minha vida, alguém dizer: “Assim como Jesus foi fiel ao Pai, John MacArthur também o foi.”
Hebreus nos declara que assim como Jesus foi fiel, Moisés também foi. Meus amigos, acho que ainda não entendemos o que Deus pode fazer por nosso intermédio se estivermos dispostos a sermos fiéis. Moisés e Jesus foram fiéis.
Mas, aqui vem a diferença (Hb 3:3) entre Jesus e Moisés: “Porque ele é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou.”
Moisés foi fiel, mas ele é uma parte da casa. Jesus fez a casa. Essa é a diferença. Jesus criou Israel. “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” (Jo 1:3).
Moisés é apenas um membro da família espiritual que o próprio Jesus construiu. Jesus criou Israel. Jesus criou a igreja. Para fazer isso, Ele tem que ser Deus. E é isso que diz o versículo 4: “Porque toda a casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus.” Em João 1:3, lemos que Jesus fez todas as coisas. Então, Jesus é Deus.
Toda casa é construída por alguém. Por exemplo, você faz parte da casa de Deus. Mas, para isso, alguém compartilhou Cristo com você. Alguém te apresentou a Jesus. Essa pessoa é responsável, humanamente, por parte da casa. Mas quem realmente criou a casa? Deus.
Foi Deus agindo através do instrumento humano.
E assim, Moisés é apenas parte da casa, mas Jesus fez a casa. Portanto, agarrar-se às formalidades do Judaísmo não faz sentido, porque Jesus é maior que Moisés.
3 – A SUPERIORIDADE DE JESUS SOBRE MOISÉS, COM RELAÇÃO À SUA PESSOA
Jesus é superior em Sua pessoa.
Hebreus 3
5 E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar;
6 Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim.
Nessa passagem vemos que Moisés é, em sua pessoa, um servo. Mas, Jesus, em Sua pessoa, é um filho. Há muita diferença entre um servo e um filho. João 8:35 nos diz: “Ora o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre.” Em outras palavras, os criados vêm e vão, mas filhos são filhos para toda a vida.
O versículo 5 declara que Moisés foi fiel em toda a sua casa como servo. Ele se comportou como um servo. A palavra traduzida como “servo” aí é uma palavra digna. Também é usada para se referir a anjos. Na Septuaginta, é usada para se referir aos profetas. Trata-se de uma palavra de classificação.
Moisés foi um servo fiel, obediente, ministrador e atencioso, um bom mordomo de Deus. Êxodo 40 oito vezes se refere à obediência de Moisés a tudo o que Deus lhe ordenou. Isso é muito bom. De Êxodo 35-40, 22 vezes há referência à fidelidade de Moisés em obedecer a tudo o que Deus lhe ordenou.
Você pode dizer isso sobre sua vida? Deus pode dizer de você: “vinte e duas vezes ele obedeceu a tudo o que eu lhe ordenei?” Moisés pode. Porém, por melhor que Moisés tenha sido, Jesus é superior.
Perceba também que o autor de Hebreus nunca compara Jesus com as falhas de Moisés. Jesus não precisa ser comparado com os fracassos de ninguém. Ele pode ser comparado ao sucesso de qualquer pessoa e ainda assim ser infinitamente maior.
Por isso Ele é sempre comparado aos melhores homens para mostrar Sua grandeza. Se Ele fosse comparado ao pior dos homens, isso não provaria nada.
Moisés não era o fim da linha. Isso é o que o Judaísmo não entende. Moisés foi fiel apenas como testemunho daquilo que ainda estava para ser dito. O Judaísmo sem Cristo, sem o Novo Testamento, não é a história toda. Essa é a questão. É a sombra sem a substância.
Moisés foi um servo, mas apenas como uma sombra para o que estava por vir. Hebreus 10:1 declara:
Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam.
A lei era uma sombra do perfeito que estava por vir. Se você rejeitar o perfeito, a sombra não significa nada. E assim, toda a velha economia, toda a velha aliança era apenas uma sombra. Foi só isso, apenas uma sombra.
Posso ilustrar isso para você rapidamente. João 5:46 registra a seguinte fala de Jesus: “Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele.” Portanto, aceitar Moisés e rejeitar Jesus não é realmente aceitar Moisés.
Também foi registrado para nós, em Lucas 24:27, a passagem sobre Jesus no caminho de Emaús, naquele encontro com os dois discípulos: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.” Jesus pegou Moisés e disse: “Agora, observe o que Moisés diz sobre Mim”.
Em Atos 3:22, temos as seguintes palavras de Pedro, quando pregava sobre Cristo, no templo de Jerusalém: “Porque Moisés disse aos pais: O Senhor vosso Deus levantará de entre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser.” E Pedro lhes declarou abertamente que Jesus Cristo é esse profeta.
Moisés apontou para Jesus. Em Atos 28:23, Paulo, embora preso em Roma, estava pregando sobre Jesus: “E, havendo-lhe eles assinalado um dia, muitos foram ter com ele à pousada, aos quais declarava com bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los à fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas, desde a manhã até à tarde.” Isso significa que havia muita coisa sobre Jesus nos escritos de Moisés.
A Palavra de Deus nos diz, em Hebreus 3:5, que Moisés foi apenas um servo que apontou para algo que viria depois. Ele era mordomo da casa de outra pessoa.
Porém, sobre Jesus, lemos no versículo 6: “Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim.” Jesus está na posição de Filho, em Sua própria casa, a qual somos nós.
Este edifício onde nos reunimos não é a casa do Senhor. Nós somos. Somos edificados juntos (Efésios 2:22) para habitação do Espírito. Somos a casa do Senhor.
Moisés era servo na casa de outra pessoa. Jesus é Filho sobre Sua própria casa. Em Sua pessoa, Jesus é maior que Moisés. Um servo comparado a um filho. Um servo está na casa de outra pessoa. Um filho mora em sua própria casa.
E assim, deixamos Moisés para trás. Mas é um enterro honroso para Moisés, não é? E o epitáfio foi escrito por Deus: “Moisés, servo fiel em toda a Minha casa.”
Moisés se foi no versículo 5, e nosso olhar permanece em Jesus. Jesus é o criador da casa e o filho a quem a casa pertence. Nós, seres humanos, somos realmente a casa de Deus.
Isso é exatamente o que a Bíblia diz, por exemplo, em 1 Timóteo 3:15: “Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade.” Nós somos a casa.
Para aqueles judeus, para os quais Hebreus foi originalmente escrito, trata-se de uma compensação emocionante pela perda de posição da casa de Israel, saber que fazem parte da eterna casa espiritual de Deus.
Como podemos ter certeza de que somos realmente a casa de Deus? Versículo 6: “se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim”.
Algumas pessoas interpretam esse texto da seguinte forma: “Você será salvo se persistir até o fim”. E você pode viver todo o seu cristianismo sem certeza de sua salvação e, quando a morte chegar, você estará realmente salvo se conseguir aguentar até o fim.
Meus amigos, não é disso que o texto está falando. Não foi você que conseguiu se salvar, assim como não é você que se mantém salvo. O texto está dizendo que se você é a casa de Deus, você se apega à confiança e ao regozijo da esperança firme até o fim. Você sabe o que isso significa? Que a a permanência é a prova da realidade de que você é casa de Deus.
Quem permanece é casa de Deus. Aquele que não permanece nunca foi casa de Deus. Esse raciocínio se repete em Hebreus, porque esse era o problema. Alguns ali estavam convencidos e estavam à beira do compromisso, mas continuavam se afastando.
E o autor de Hebreus está dizendo: “Para aqueles que chegaram até a porta e nunca colocaram sua fé em Cristo e se afastaram, eles dão evidência de que nunca receberam realmente a Cristo”. Essa é toda a questão. Os verdadeiros santos perseveram.
Em João 8:31, Jesus olhou para certos judeus que afirmavam crer Nele e disse: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos.” Os verdadeiros discípulos permanecem.
As pessoas sempre me dizem: “John, o que acontece com um cara que eu conhecia que era cristão, mas agora repudia Deus e está fora?” A resposta é simples: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos.” Logo, se alguém não permanece não é um discípulo de verdade.
Portanto, o autor de Hebreus está dizendo àqueles judeus: “Sejam sinceros. Se você realmente se comprometeu com Cristo, isso deve ser evidenciado pelo padrão de sua vida que permanece em comunhão com Cristo. Mas, se sob a pressão da perseguição, você chegar ao limite e nunca assumir esse compromisso, e tiver uma confiança superficial e uma alegria superficial, então isso prova que você nunca foi a casa Dele.”
E você diz: “Bem, você tem certeza de que pode fundamentar essa visão biblicamente?” Sim, em João 6:39, onde Jesus disse: “E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu, eu perca, mas que o ressuscite no último dia.” Jesus nunca perdeu ninguém e nem vai perder.
Em João 15:1 e 2, Ele declarou: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.”
E no versículo 4: “Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.” Ele está dizendo: “Seja sincero. Seja um verdadeiro ramo. Aqueles que são verdadeiros ramos são os que ficam, os que permanecem.”
Tiago traz a prova sobre quem são os verdadeiros cristãos:
Tiago 1
22 E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.
23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural;
24 Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era.
25 Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.
O mesmo é indicado em Colossenses 1:22e 23, que diz:
Para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro.
Essa é a prova de que uma fé é real. E então, temos aquele grande texto em 2 João, versículo 9:
Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.
Se alguém se apega a Cristo, mas não permanece, sua fé nunca foi real. Essa pessoa nunca teve “tanto ao Pai como ao Filho”, nunca os possuiu. Apenas tinha uma profissão vazia de fé. 1 João 2:19 diz:
Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.
Quando alguém abandona a fé que proclama, tenha certeza, sem sombra de dúvida, de que isso é uma prova de que tal pessoa nunca conheceu a Cristo. Em Hebreus 10:38 e 39, lemos:
Mas o justo viverá pela fé; e, se alguém se retirar, a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma.
Aquele que recuou nunca foi salvo. O verdadeiro crente permanece.
Portanto, o autor de Hebreus está simplesmente dizendo que você é casa de Deus se a sua fé for real. Em 2 Coríntios 13:5, Paulo escreveu:
Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.
Em outras palavras, se você não permanecer, essa é a prova de que Jesus nunca esteve em você. Essa é a questão.
O Espírito Santo, então, nos apresenta o fato de que Cristo é um filho e Moisés é apenas um servo, e que somos parte de Sua própria casa se formos verdadeiros crentes. E isso é evidenciado por nossa continuidade na fé. Tenha uma fé real. Examine-se. Você está realmente na fé?
Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mateus 7:22-23)
Seja sincero, meu amigo. Seja um daqueles que permanece com confiança e sua alegria continua firme até o fim, sua esperança nunca diminui.
E em segundo lugar, eu digo a vocês que já são cristãos: considerem Jesus. Cristão, aprenda a viver toda a sua vida com os olhos voltados para Ele. Ele é tudo que você precisa. Paulo disse bem quando disse isto: “vocês estão completos Nele” (Cl 2:10). Você entendeu isso? Você não precisa de mais nada.
Vamos orar.
Pai, estamos muito gratos pelo que aprendemos esta noite. Nós oramos para que o Espírito ligue essas coisas aos nossos corações e as sele. Pai, que ninguém saia deste lugar se não se comprometeu com Cristo e se não é um discípulo de verdade. Pai, que nenhum cristão saia aqui sem ter posto o olhar fixado em Cristo. Para que não olhemos para nós mesmos, mas para o Cristo abençoado, cujas riquezas são profundas o suficiente para satisfazer todas as necessidades.
Obrigado pelo que aprendemos. Obrigado por Jesus. Obrigado por todas estas vidas preciosas reunidas aqui neste lugar. Encontre-nos agora mesmo, Senhor, no ponto de decisão. Amém.
Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre a carta aos Hebreus.
Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série.
Este texto é uma síntese do sermão “Jesus Christ, Greater than Moses”, de John MacArthur em 9/4/1972.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/1607/jesus-christ-greater-than-moses
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno