Cinco Passos em Direção à Boa Terra da Obediência

Sabendo que Deus nos chama para entrarmos na boa terra de obediência total, permanece a pergunta: Como entrar nela?

Quero oferecer cinco palavras como expressões da disposição de um coração confiante para entrar naquela boa terra: eu a vejo, eu a desejo, eu a espero, eu a aceito e eu confio em Cristo.

A fé vê

Necessitamos, em primeiro lugar, estabelecer a questão de maneira calma e definitiva. Existe realmente uma tal terra da promessa onde constante obediência é certa e divinamente possível? Enquanto houver alguma dúvida sobre este ponto, é fora de questão subir e possuir a terra.

Pense, por um instante, na fé de Abraão. Era uma confiança que repousava em Deus, na sua onipotência e na sua fidelidade. Ouça esta promessa: “Dar-vos-ei coração novo… porei dentro em vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez 36.26,27).

Aqui está o compromisso de aliança de Deus. Ele completa: “Eu, o Senhor, o disse, e o farei” (v.36). Ele assume a responsabilidade de levar-nos a obedecer e de nos capacitar para isso. Em Cristo e no Espírito Santo, ele fez a provisão mais maravilhosa que se possa imaginar para o cumprimento da sua promessa.

Simplesmente faça o que Abraão fez – fixe o seu coração em Deus. “Mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera” (Rm 4.20,21).

A onipotência de Deus era o esteio de Abraão. Faça com que seja o seu também. Olhe para todas as promessas que temos na Palavra de Deus de recebermos um coração puro, um coração firmado e irrepreensível em santidade, uma vida de justiça e santidade, um caminhar inculpável e agradável a Deus em todos os seus mandamentos, de Deus trabalhar em nós para efetuar tanto o querer como o realizar, e de operar em nós aquilo que é agradável à sua vista – e veja tudo isso com fé simples: Deus o disse; seu poder irá realizá-lo.

Esta vida de plena obediência é possível, está ao nosso alcance. Essa certeza precisa tomar conta de sua vida. A fé pode ver o invisível e o impossível. Maravilhe-se com a visão até que o seu coração diga: “Tem de ser verdade. É verdade. Há uma vida prometida que ainda não conheci.”

A fé deseja

Quando leio o evangelho e vejo quão prontos estavam os doentes, os cegos e os necessitados para crerem na palavra de Cristo, freqüentemente eu me pergunto: O que eles tinham que os tornavam tanto mais preparados para isso do que nós?

A resposta que eu encontro na Palavra é esta: a grande diferença estava na honestidade e na intensidade do desejo. Eles verdadeiramente desejavam libertação com todo o seu coração. Não havia necessidade de insistência para fazê-los desejar a bênção de Jesus.

Pena que é tão diferente conosco! Todos nós desejamos, de certa maneira, ser melhores do que somos. Mas quão poucos realmente “têm fome e sede de justiça”; quão poucos desejam intensamente e imploram por uma vida de total obediência e pela constante consciência de estarem agradando a Deus!

Não pode haver fé forte sem desejo forte. Desejo é o grande motivador do universo. Foi o desejo de Deus de nos salvar que o moveu a enviar o seu Filho. É o desejo que move os homens a estudarem, trabalharem e sofrerem.

Só o desejo de salvação pode trazer um pecador a Cristo. É o desejo por Deus, pela mais íntima amizade com ele, e por ser exatamente o que ele quer que sejamos, que fará com que a terra prometida nos seja atraente. É isto que vai fazer com que abandonemos as demais coisas para conseguir tudo o que nos foi prometido e tornar a obediência de Cristo nossa de fato.

E como é que o desejo pode ser despertado? Olhando, à luz do Espírito de Deus, contemplando essa vida e vendo-a como possível, como certa, como divinamente assegurada e abençoada, até que a nossa fé comece a arder com desejo e digamos: “Eu realmente desejo obtê-la. Com todo o meu coração vou buscá-la.”

A fé espera

É grande a diferença entre desejo e expectativa. Alguém pode ter um forte desejo pela salvação e, ao mesmo tempo, ter pouca esperança de realmente obtê-la. É um grande passo à frente quando o desejo passa a ser expectativa, e a pessoa começa a falar: “Tenho certeza de que é para mim e, embora eu não o veja agora, tenho uma confiante expectativa de obtê-lo.”

A vida de obediência não é mais um ideal inatingível que Deus coloca diante de nós apenas para fazer com que nos esforcemos um pouquinho mais para alcançá-lo. Não! É uma realidade planejada por ele para que fosse experimentada em carne e sangue aqui na terra. Espere-a, como algo preparado com toda certeza para você. Cultive a expectativa de que Deus a torne experiência em sua vida.

Muitas coisas, na verdade, tendem a neutralizar essa expectativa: suas falhas no passado; seu temperamento ou circunstâncias desfavoráveis; a fragilidade da sua fé; sua dificuldade ao pensar no que essa entrega, essa disposição de ser obediente até a morte, pode exigir de você; sua consciência da falta de poder para isso – tudo faz com que você diga: “Talvez seja para os outros, mas receio que não seja para mim.”

Não fale dessa maneira. Falando assim, você deixa Deus fora da equação. Tenha expectativa de receber sua herança. Olhe para cima, para o poder e para o amor de Deus, e comece a dizer: “Isto é para mim, sim!”

Tome coragem ao conhecer os santos de Deus do passado. Veja aqui um exemplo:

Desde a sua mocidade, Gerhard Tersteegen (um pregador pietista alemão, 1697-1769) buscava e servia ao Senhor. Tal era o desejo gerado pelo Espírito no seu interior, que abandonou carreira e negócios para poder buscar a Deus com mais empenho.

Depois de algum tempo, a sensação da graça de Deus lhe foi retirada e, por cinco longos anos, viveu como um náufrago perdido no meio do mar, onde não aparecem nem sol nem estrelas. “Mas a minha esperança estava em Jesus.” De repente, brilhou nele uma luz que nunca mais se apagou.

A vida de crucificação com Cristo não se podia aprender, de acordo com sua nova luz, através de estudo ou instrução humana. Só podia ser ensinada pelo Espírito Santo. “É algo muito pequeno para Deus nos levar a encontrar em nossas almas, em um instante, sem esforço, aquilo que talvez tenhamos buscado exteriormente, por muitos anos e com muito empenho.”

O que ele encontrou? Uma nova visão do Salvador, como aquele que é todo-suficiente. “Jesus somente é suficiente”, ele aprendeu, “no entanto, é insuficiente quando não for abraçado como solução total e única.”

Ele escreveu com sangue das suas próprias veias uma carta para o Senhor Jesus, na qual disse:

Meu Jesus, reconheço que pertenço somente a ti, meu único Salvador e Noivo. Desta noite em diante, renuncio do meu coração todo direito e autoridade que Satanás injustamente me concedeu sobre mim mesmo. Esta noite tu rompeste as portas do inferno e abriste para mim o coração amoroso do Pai!

Desta noite em diante, ofereço todo meu coração e todo meu amor a ti em eterna gratidão. A partir desta noite, e por toda eternidade, tua vontade, não minha, seja feita! Comanda, reina e governe sobre mim. Eu me entrego totalmente, sem reservas, e prometo, com a tua ajuda e poder, dar a minha última gota de sangue antes de consciente e voluntariamente, em meu coração ou vida, ser falso e desobediente a ti. Tu tens o amor do meu coração para ti mesmo e para mais ninguém.

Teu Espírito seja meu guarda; tua morte, a rocha da minha segurança. Que teu Espírito sele o que foi escrito na simplicidade do meu coração. (Tua possessão indigna, Gerhard Tersteegen, 1724)

Esta foi a sua obediência até a morte.

O mesmo Deus ainda vive. Você também pode experimentar a vida de obediência que vem por Cristo. Ponha a sua esperança nele. Ele o fará.

A fé aceita

Aceitar é mais do que esperar. Muitos caminham e esperam e nunca possuem porque não aceitam.

Se você ainda não aceitou, nem se sente pronto para aceitar, o que você precisa fazer é: ter expectativa! Porém, se houver uma expectativa de coração, e se for realmente uma expectativa focada no próprio Deus, certamente esta o guiará até a aceitação.

Agora se você já tem a expectativa, a palavra urgente para você é: Aceite! A fé tem o maravilhoso poder dado por Deus de dizer: “Eu aceito, eu tomo, é meu”.

É pela falta desta fé definida que se apropria da bênção espiritual desejada que muitas orações parecem ser infrutíferas. Para esse ato de fé, nem todos estão prontos.

Onde não existe verdadeira convicção do pecado da desobediência e, pior ainda, onde não há genuína tristeza por causa disso; onde não existe forte anseio ou propósito de realmente obedecer a Deus em tudo; onde não há interesse profundo na mensagem da Sagrada Escritura de que Deus quer nos “aperfeiçoar em todo bem” para cumprirmos a sua vontade, por ele mesmo operando em nós “o que é agradável diante dele” (Hb 13.21), também não haverá a capacidade espiritual para aceitar a bênção.

O cristão se contenta em ser um bebê. Ele quer somente sugar o leite da consolação. Não está pronto para comer o alimento forte que Jesus comeu, “fazendo a vontade do seu Pai.”

Mesmo assim, quero suplicar a todos: Aceite a graça para viver essa maravilhosa nova vida de obediência. Aceite-a agora. Sem isso, seu ato de consagração significará muito pouco. Sem isso, seu propósito de tentar ser mais obediente falhará. Deus já não lhe mostrou que há uma posição inteiramente nova para você aceitar – uma posição atingível de ter a simples obediência de criança, dia a dia, a cada ordem recebida pela voz do Espírito; uma posição atingível de ter a simples dependência de criança em sua graça todo-suficiente para executar essas ordens?

Oro para que, mesmo agora, você assuma essa posição, faça a sua entrega e aproprie-se da graça divina. Aceite a verdadeira vida de fé e entre na incessante obediência da fé. Que sua fé se torne tão ilimitada e segura quanto o são as promessas e o poder de Deus. Que sua simples obediência de criança seja tão ilimitada quanto a sua fé. Peça a Deus para ajudá-lo e aceite tudo o que ele já lhe ofereceu.

A Fé confia em Cristo para tudo

“Porque quantas são as promessas de Deus tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio” (2 Co 1.20).

É possível que, enquanto leu sobre a vida de obediência, tenham surgido perguntas e dificuldades para as quais você não tem uma resposta imediata. Pode parecer difícil para receber tudo isso ou para conciliar as verdades com seus velhos hábitos de pensamentos, palavras e ações. Você teme que não seja capaz de logo sujeitar tudo a esse princípio supremo que deve governar toda sua vida.

Para todas essas questões, há uma resposta, uma libertação de todos os temores: Jesus Cristo, o Salvador vivo, conhece tudo, e pede que você confie nele e se entregue totalmente à sua sabedoria e poder, a fim de poder sempre andar no caminho da obediência da fé.

Andrew Murray (1828-1917)

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