As Bênçãos em Perdoar (2)

O valor eterno do perdão


Esse é o segundo sermão da série “As Bênçãos em Perdoar”. Clique aqui e leia o primeiro sermão



Eu estava conversando por telefone ontem à noite com um amigo muito querido da Flórida, que me perguntou: “O que você vai ensinar no domingo de manhã?” E eu disse: “Estou ensinando 2 Coríntios”. E ele disse: “Você já fez isso antes?” Eu disse: “Nunca”. E desde quando comecei esta série, me perguntaram por que esperei tanto para ensinar 2 Coríntios. E eu não sei qual é a resposta.

Mas, quanto mais eu ensino essa Carta, mais acho que a resposta pode ser que Deus nunca quis que eu a ensinasse até agora, porque você quase precisa de vinte e cinco ou trinta anos de experiência no ministério para sentir este livro. Há muita profundidade aqui que é revelada do coração do apóstolo Paulo, à medida que ele revela sua atitude em relação à vida e ao ministério.

Não é um livro para mentes imaturas. É um livro, realmente, para ser totalmente compreendido apenas por alguém que passou vários anos no ministério, para que possa se identificar mais de perto com o que está realmente acontecendo no coração deste grande apóstolo.

Este livro é muito profundo, e acho que está sondando profundamente meu próprio coração. Agradeço a Deus por cada momento que pude gastar meditando em 2 Coríntios, e ainda há muito mais pela frente, enquanto avançarmos por todos os treze capítulos.

Encontramo-nos no estudo de 2 Coríntios 2: 5 a 11, e o tema é o perdão. Começamos a examinar esse texto na vez passada, quando vimos sete razões para perdoar. Falamos sobre duas delas da última vez. Mas, deixe-me começar com uma pequena introdução para que possamos preparar o terreno para o que este texto diz.

II Coríntios 2
5 Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos.
6 Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos.
7 De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza.
8 Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor.
9 E para isso vos escrevi também, para por esta prova saber se sois obedientes em tudo.
10 E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque se eu também perdoei alguma coisa, a quem a perdoei por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos sobrepujados por Satanás;
11 Porque não ignoramos os seus ardis.

O perdão é uma realidade maravilhosa e adorável. Na verdade, o perdão é o ato mais nobre que um pecador pode fazer por outro pecador. Jay Adams escreveu: “O perdão é o óleo que mantém a máquina do lar cristão e da igreja funcionando sem problemas”. Nada é mais importante para a vida no lar ou na igreja do que o perdão.

Em Efésios 4:32, Paulo escreveu: “E sede bondosos uns para com os outros, de coração terno” – então disse – “perdoando-vos uns aos outros como também Deus em Cristo vos perdoou”.

Vocês devem perdoar uns aos outros, assim como Deus em Cristo os perdoou. Como Deus nos perdoou, então? Se vamos repetir a mesma forma de perdão, então devemos entender sua natureza. Deixe-me ver se posso te ajudar com isso. Certamente em sua própria mente tem algum tipo de definição do que seja o perdão. Pode ser sua própria definição pessoal e também pode ser bíblica ou teológica.

Mas com tudo o que você sabe sobre perdão, talvez nunca tenha pensado nele da maneira que quero que pense agora. E é o seguinte: o perdão é uma promessa de Deus para o pecador arrependido, para aquele que vem a Ele com um coração quebrantado e contrito, afirmando sua própria necessidade desesperada, sua própria pecaminosidade e buscando a provisão de Jesus Cristo, é uma promessa de Deus para o pecador contrito.

E aqui está a promessa: que seu pecado nunca será lembrado, que seu pecado será enterrado nas profundezas do mar, que seu pecado será removido à distância de onde o leste está do oeste, que seu pecado nunca mais será criado na mente de Deus ou no tribunal do céu.

É uma promessa de que nenhuma acusação jamais será feita com sucesso contra aquele pecador, de que nenhuma acusação contra ele permanecerá. Uma promessa de que em nenhuma circunstância ele será condenado para sempre. Essa é a promessa. Uma promessa magnânima, de longo alcance, surpreendente! Ela é dada pura e simplesmente a partir do coração de um Deus amoroso e misericordioso a um pecador arrependido.

E é assim que devemos perdoar. Devemos fazer uma promessa. Quando alguém vem e pede perdão, fazemos a promessa de que seu pecado nunca será lembrado, nunca será revelado, será enterrado nas profundezas do mar, será removido até à distância entre o leste e o oeste.

O perdão, então, é a coisa mais nobre que um pecador pode fazer por outro pecador, que significa cobrir seu pecado permanentemente, nunca se lembrar dele, nunca trazê-lo à tona em sua própria mente voluntariamente, nunca trazê-lo ao pecador e nunca trazê-lo a qualquer outra pessoa.

É uma promessa para esquecer e enterrar, de remover de todos os pensamentos e de todas as palavras o mal que foi feito contra você. Agora, por definição, isso tem que começar no coração. Não pode ser algo externo, porque o coração tem que fazer isso.

Portanto, o perdão é uma atitude no coração que não contém orgulho pessoal, autopiedade, nem ego ferido, pensamento de amargura, desejo de vingança. É uma atitude de coração, de amor, que deseja ardentemente ver o pecador ser restaurado. É uma atitude que diz: “nunca serei a barreira para o perdão. Meu orgulho ferido, uma ofensa feita contra mim nunca será um obstáculo para a reconciliação total.”

O perdão começa no coração que contém esse amor, no coração que contém esse perdão e espera para dá-lo quando o pecador vier em arrependimento. Até que o pecado seja confessado, até que o pecado seja arrependido, a plenitude desse perdão nunca é dada e a reconciliação e a restauração não acontecem. O perdão, porém, começa no coração e o coração o segura e espera para dá-lo.

A melhor ilustração que conheço para demonstrar esse tipo de perdão é, naturalmente, Cristo na cruz. Ouça o que Ele disse: “Pai, perdoe-os porque eles não sabem o que estão fazendo.” Jesus expressou ali uma série de coisas. Ele afirmou que Deus é um Deus que perdoa no coração. Ele sabia que Deus tem um coração perdoador.

Deus tem benevolência, isso faz parte da Sua natureza. Ele é gracioso, misericordioso, de coração terno e bondoso para com os pecadores. Ele também, nessa oração, afirmou o fato de que os pecadores fazem coisas que são estúpidas, porque são pecadores.

E Ele estava expressando não apenas o fato de que Deus é um Deus que perdoa e os pecadores são tolos, mas estava expressando o fato de que Ele queria que Deus – ouça isto – tratasse os pecadores que O mataram da mesma forma que trataria qualquer outro pecador.

Essa foi a magnanimidade dessa oração. Jesus poderia ter dito: “Pai, não perdoe essas pessoas.” Quero dizer, uma coisa é pecar contra um homem, outra coisa é pecar contra um Deus que você não pode ver, mas matar o Deus encarnado, isso é imperdoável.

Jesus poderia ter dito: “eles foram longe demais, Pai, estou pedindo que não os perdoe, o seu pecado é muito grande, o crime é muito hediondo, a rejeição é muito completa, não os perdoe.” Ele não disse isso. Orando consistentemente com o que Ele sabia ser o coração de Deus, pois era o Seu próprio coração também, Ele estava expressando a ausência de vingança pessoal, de amargura pessoal, de qualquer ódio ou animosidade. Ele não tinha nada disso.

E o que Ele estava dizendo ao Pai é o seguinte: “Disponibilize às pessoas que Me mataram o mesmo perdão que Tu darias a qualquer pecador. Não tenho má vontade contra eles.” Mas, Ele sabia que o Pai poderia reter aquele perdão em Seu coração, mantê-lo igualmente em relação aos Seus crucificadores e eles nunca o experimentariam, a menos que viessem em arrependimento e fé Nele, certo? Jesus está dizendo ao Pai: “trate-os como trataria qualquer pecador arrependido.”

E como Deus trata um pecador arrependido? Com perdão instantâneo, total e completo. É assim que devemos tratar os pecadores, pois Deus em Cristo nos perdoou. Como Ele nos perdoou? Ele guarda perdão e amor em Seu coração, esperando o pecador arrependido que vem e busca esse perdão.

Então, em nosso coração, quando somos ofendidos, deve haver amor e humildade, não um ego ferido, nenhuma vingança e amargura, não importando o que alguém faça contra nós. Mantemos um desejo amoroso, ansioso em perdoar quando aquele que nos ofendeu vier buscar o perdão que nós temos a oferecer. Isso é ser semelhante a Cristo. Isso é ser semelhante a Deus. E nosso texto de hoje é uma rica ilustração desse mesmo tipo de perdão.

O apóstolo Paulo, você se lembra, foi falsamente atacado. Seu caráter, virtude,  ofício espiritual, chamado e ensino tinham sido atacado por alguns falsos apóstolos que vieram a Corinto. Eles encontraram ouvidos atentos entre os coríntios e foram capazes de levantar um motim, uma rebelião contra Paulo.

Na verdade, quando Paulo fez uma visita a Corinto, muito provavelmente um membro da igreja de Corinto, que é o objeto deste texto em particular, confrontou-lhe e o agrediu pública, aberta e descaradamente, desacreditando publicamente este amado apóstolo.

Bem, aquele homem teve que ser confrontado, visto que a autoridade de Paulo era crucial na igreja primitiva. Ainda não havia o cânone do Novo Testamento. Portanto, se as pessoas perdessem a confiança nos apóstolos que falaram a Palavra de Deus por revelação, não haveria fonte para a verdade. A integridade, a credibilidade de Paulo era crucial.

Isso seria equivalente à integridade e credibilidade das Escrituras hoje. Minar a vida e o ministério de Paulo, minar o que ele ensinou seria distorcer totalmente a verdade divina. E então, quando alguém na congregação se levantou e atacou a integridade de Paulo, o problema não foi pequeno. Não como hoje, quando alguém pode atacar a integridade de um indivíduo, como a minha ou de algum outro ministro, mas isso não afeta a integridade das Escrituras.

Porém, naquela época, lidar com o mensageiro da verdade era, de fato, lidar com a fonte da verdade. Não era uma questão pequena. Paulo, então, envergonhado publicamente e percebendo que aquele homem poderia liderar uma nova extensão daquela rebelião, se ele se safasse de ser confrontado e pudesse encontrar outras pessoas para influenciar, disse à igreja de Corinto pessoalmente, provavelmente, e através de uma carta que ele escreveu para eles chamada de “carta severa” [essa carta não se encontra na Bíblia], que eles tinham que lidar com aquele homem, confrontá-lo, chamá-lo ao arrependimento. O que ele fez foi grave e deveria ser confrontado pelo bem da igreja.

Ele enviou Tito a Corinto com aquela “carta severa” e esperou que Tito voltasse, porque queria ouvir o seu relato. Tito voltou, deu um bom relatório: o homem havia sido disciplinado. Mas não foi aí que o relatório terminou. Tendo sido disciplinado, o homem se arrependeu.

Então, Paulo escreve nos versículos 5 a 11 que era hora de os coríntios perdoarem o homem. Ele havia se arrependido e isso era o suficiente. Com base no relato de Tito, Paulo exortou a igreja a cessar com a disciplina, para que o homem fosse totalmente restaurado à comunhão. É isso o que ele está dizendo nos versos 5 a 11.

Agora, nesta seção, à medida que ela se desdobra e ele discute essa questão, como veremos, encontramos sete razões para perdoar apresentadas para nós. Um fluxo magnífico! E se alguma vez você esteve procurando por bons motivos para perdoar, vai encontrar todos eles aqui nesse texto. Deixe-me lembrá-lo dos dois que vimos na semana passada e seguiremos adiante:

1 – O PERDÃO DESVIA O ORGULHO OU A AUTOPIEDADE

Leia o versículo 5 e observe como Paulo minimiza a ofensa: “Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos.” O apóstolo está simplesmente diminuindo o significado do pecado daquele homem.

Ele está dizendo que não levou para o lado pessoal: “não quero que vocês pensem que têm que trucidar com este homem porque ele me ofendeu e eu estou ofendido. Eu removo a ofensa. Eu não a estou considerando. Não importa para mim. Meu ego não está envolvido.”

Paulo não estava se afundando na autopiedade ou na vingança. Aquele homem havia causado tristeza. Esse é um fato. Mas não para Paulo. Ele não estava preocupado com isso. Não era algo pessoal sobre o que estava se lamentando. Paulo era um grande homem, muito piedoso, muito humilde, muito semelhante a Cristo para carregar um sentimento ruim contra aquele homem.

Em algum grau aquele homem trouxe tristeza, mas que os coríntios não deveriam exagerar na dose da disciplina. Não deveriam envolver seus egos. Deveriam perdoar o homem, porque isso desvia seu orgulho da autopiedade e impede a vingança.

2 – PERDOAR MANIFESTA MISERICÓRDIA

No versículo 6, ele disse: “Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos.” O texto indica que uma punição pública, formal e oficial havia sido feita por parte da igreja. Ele foi colocado sob a disciplina da igreja. Ele passou por uma pessoa, por duas ou três testemunhas, foi à igreja e a igreja tratou com ele.

Era suficiente a disciplina que o homem suportou nas mãos da maioria. O ponto aqui é que é óbvio que ele se arrependeu e Paulo instrui aos coríntios que já era hora de cessar a disciplina.

Lembre-se de que eu disse a você da última vez que pode ter havido alguns que quiseram disciplinar o homem um pouco mais. Alguns podem ter dito: “Bem, olhe, ele só ficou sob disciplina por um tempo e depois se arrependeu. Você sabe, ele se arrependeu tão cedo, realmente precisamos colocar mais dor nele. O que ele fez foi horrível!”

Poderia ser que os do “partido de Paulo” – você sabe, o grupo dos “eu sou de Paulo” – achassem que aquele homem não havia sentido dor o suficiente, e que precisavam infligir a ele mais um pouco. E Paulo diz: “olha, o homem se arrependeu. A questão do tempo não é um fator. Ele já sofreu o suficiente, agora vocês devem lhe dar misericórdia.”

Tiago 2:13 diz: “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.” Certamente, esse foi o ponto da parábola de Mateus 18, onde o homem veio e pediu perdão por uma dívida impagável. Ele foi perdoado pelo rei, que representava Deus. Ele saiu e agarrou outro homem que lhe devia alguns centavos, estrangulou o homem e o jogou na prisão, porque ele não quis pagar.

E aí, a punição começou. Os algozes vieram e foram atrás daquele homem. O castigo virá para aquele que não perdoa, que não manifesta misericórdia, mas que está tão disposto a recebê-la.

Paulo disse aos coríntios que a punição àquele irmão já era o suficiente. Uma vez que o homem se arrependeu, era o suficiente. Sem mais punições, agora era hora de misericórdia. O perdão desvia a autopiedade e o orgulho, mostra misericórdia e misericórdia é uma maravilhosa virtude divina.

3 – O PERDÃO RESTAURA A ALEGRIA

Versículo 7: “De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza.” Em outras palavras, “vocês precisam trazer alegria a ele”. No Salmo 51, Davi confessou que o pecado destrói a alegria. E essa é certamente uma confissão com a qual todos nós podemos nos identificar. Você se lembra do que ele disse no Salmo 51, versículo 12: “Restaura para mim a alegria da Tua salvação.” Sempre que o pecador cai em pecado, isso vai roubar sua alegria.

No versículo 14, “Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça.” Ele está orando: “devolva-me a alegria, devolva-me um salmo, uma canção para cantar. Restaura para mim a alegria da Tua salvação.” Paulo diz:

Olha, vocês devem perdoar e confortá-lo para que ele não seja dominado por uma tristeza excessiva. Coloquem a alegria de volta em sua vida. Ele já teve dor suficiente. A dor o trouxe ao arrependimento, mas é hora de alegria. Vocês devem estar tão ansiosos para trazer a alegria quanto estavam para trazer a dor, pois esse é o coração de Deus.

Eu amo o que Isaías disse sobre Deus. Na verdade, ele estava falando sobre o Messias. E também é registrado por Mateus, em seu Evangelho, no capítulo 12, versículos 18 a 20. O que se diz é a respeito do Messias: “não quebrará a cana quebrada e o pavio fumegante não apagará.” Essa é uma visão absolutamente magnífica do coração de Deus, e uma das minhas declarações favoritas sobre Deus.

Antigamente, os pastores faziam pequenas flautas para se divertir com a música. Eles pegavam um junco, faziam orifícios apropriados para que pudesse ser usado por seus dedos, a fim de que pudessem tocar uma pequena melodia. Eles sopravam em uma extremidade, o ar passaria, e assim eles tocavam músicas.

Eles passavam as horas tocando sua pequena flauta de junco, até que chegasse o tempo em que a saliva que entrava naquela flauta por todas as horas a tocar e o desgaste dela fariam com que ela não fosse mais capaz de emitir o doce som, sendo que o seu som seria abafado ou não seria afinado.

Talvez o pastor simplesmente quebrasse a flauta, jogasse fora e fizesse uma nova. O profeta Isaías disse que o Messias nunca jogará fora ou descartará a pequena flauta que não toca mais a melodia perfeita. Esse é o coração de Deus. Ele quer restaurar a melodia, Ele quer trazer de volta a música. É do coração de Deus dar misericórdia.

Quando uma pequena lamparina era acesa nos tempos antigos, tratava-se simplesmente de uma pequena tigela e dentro dela havia uma poça de óleo. Flutuando no óleo estava um pequeno pavio, o qual seria aceso. Mas chegaria um momento em que o pavio teria uma crosta, queimaria, seria extinto e descartado.

Mas não é o coração de Deus pegar o pavio fumegante e jogá-lo fora. É do coração de Deus limpá-lo e abaná-lo para que possa trazer a luz novamente. Deus deseja a alegria de Seu povo. João disse: “Estas coisas vos foram escritas para que a vossa alegria seja completa”.

A Palavra de Deus vem a nós para produzir alegria. Deus quer pessoas alegres. O fruto do Espírito é amor, alegria. E Paulo está simplesmente dizendo a eles: “Olha, o homem sofreu, ele se arrependeu, agora é hora de alegria. Traga de volta sua alegria, restaure sua alegria.”

O versículo 7 está dizendo que ao invés de aumentar ou continuar a punição daquele homem, uma vez que seu verdadeiro arrependimento e pesar são claros, havia apenas uma coisa a se fazer, que era perdoar com aquele perdão que está guardado no coração para ser oferecido. O homem havia se arrependido, agora era a hora de dar o perdão a ele. Não era para reter o perdão.

A igreja não pode estabelecer fronteiras falsas sobre a graça. Você não pode definir limites falsos para a misericórdia. Você não pode colocar barreiras que você mesmo criou para o perdão. A igreja não pode negar perdão a um arrependido, por mais grave que seja seu pecado.

Você diz: “Bem, mas queremos ter certeza de que ele nunca mais fará isso”. Você não pode ter essa garantia. Se ele pecar setenta vezes sete, perdoe-lhe quantas vezes? Setenta vezes sete, disse Jesus em Mateus 18. Deixar de perdoar se torna um pecado que rouba a sua alegria, assim como a de quem você nega o perdão. A falha em perdoar restringe Deus de perdoar você, Marcos 11:25, você não perdoa o seu ofensor, Deus não te perdoará. Deixar de perdoar irá colocá-lo sob disciplina, diz Mateus 18:31. E o fracasso em perdoar corromperá sua adoração. Antes de adorar, você tem que perdoar.

Uma bela analogia para isso está em Levítico, capítulo 13. Há uma prescrição aqui sobre como tratar uma pessoa leprosa. Ela deveria ser designada impura. Mas, no versículo 13, quando o sacerdote examinasse e constatasse a cura, ele deveria declarar limpo aquele que teve a infecção.

O que quer que fosse aquela doença em particular, quando atingia o estágio em que suas características eram manifestas, seus sintomas eram uma brancura, indicava que ela não era mais contagiosa. Essa é uma analogia para o perdão tratado aqui em 2 Coríntios: “perdoe, ele está limpo, deixe-o voltar para a família, deixe-o voltar para a comunidade. Essa é a única coisa a se fazer agora.”

Quando alguém chega e se arrepende e fica branco porque foi lavado como a neve – para usar as palavras de Isaías – deixe-o entrar, perdoe-o, não exija mais punição. Liberte-o do pecado e de sua penalidade. E não pare por aí: console-o. Aí vem o lado positivo. O lado negativo é não ter mais o pecado contra o ofensor, prometer nunca lembrá-lo, enterrá-lo nas profundezas do mar, removê-lo tanto quanto o leste está do oeste. Nunca mais será trazido à tona com sucesso, acabou. E a partir daí, começa-se uma nova etapa no relacionamento.

Mas é mais do que isso: é também o conforto positivo, “parakaleō”, no grego, é estar ao lado, para fortalecer. Em Gálatas 6:1, vemos que é para restaurar tal pessoa no amor. É vir ao seu lado, edificá-la, levantá-la e fortalecê-la, para que ela possa andar em obediência. Uma verdade tremenda! O capítulo 12 de Hebreus, nos versículos 12 e 13, exige a mesma atitude para com alguém que está sendo disciplinado:

Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvie inteiramente, antes seja sarado.

É um ministério de restauração: houve arrependimento, então traga o irmão de volta, fortaleça-o, “para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza.” Adoro o anonimato disso! Paulo não precisou mencionar quem era esse homem, não houve razão para identificá-lo, porque o homem havia se arrependido.

Paulo se preocupou que ele não fosse “devorado de demasiada tristeza.” Não apenas a tristeza de sua punição, mas a de sua rejeição. “Devorado” significa ser completamente engolido. Significa ser afogado, “katapinō” é a palavra no grego. É usada para animais que devoram suas presas completamente. É usada para ondas que afogam as pessoas.

Não é o desejo de Deus que alguém esteja se afogando em tristeza, que alguém seja dominado pela tristeza por seu pecado. Deus deseja que o pecador chegue apenas ao ponto em que reconheça seu pecado e esteja disposto a confessar e se arrepender, e então Deus deseja que conheça a alegria.

Deus não sente prazer em um tipo de desespero infindável e excessivo. Deus busca nossa alegria, não nossa tristeza. Deus não é um desmancha-prazeres cósmico. Ele não está tentando destruir a felicidade de todos, e nem nós devemos fazer isso. A vingança pessoal e a autopiedade nos levariam a manter a pessoa que pecou infeliz, fazê-la passar uma vida inteira em dor e desespero.

Mas, essa não é uma virtude piedosa. Isso não é justiça verdadeira, isso é justiça própria. Isso é colocar paredes artificialmente ao redor da graça e dizer que ela não vai além daquele limite, erguer fronteiras ao redor da misericórdia e dizer que ela não vai além daquelas fronteiras.

Mas, o perdão busca a alegria da pessoa, como Deus também a busca. E assim, tão logo você perdoa, o pecador conhece a alegria, você conhece a alegria do perdão e, então, a igreja conhece a alegria da unidade. Perdoar, portanto, é desviar a autopiedade, mostrar misericórdia e restaurar a alegria.

4 – O PERDÃO AFIRMA O AMOR

Versículo 8: “Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor.” Ele os está implorando nesse ponto. “Confirmar” nesse texto é uma palavra muito interessante. A linguagem que Paulo escolheu é muito importante. É a palavra “kyrōsai”. É, basicamente, um termo técnico.

É um termo para ratificar algo legalmente. Significa fazer uma conclusão formal, uma questão de certeza. E provavelmente envolveria, neste caso, um anúncio público. Nós vimos, no versículo 6, que houve uma punição pública infligida pela maioria. Ou seja, atingiu a muitos, atingiu a igreja.

E a igreja fez disciplina formal. Agora, Paulo está pedindo o mesmo tipo de formalidade ao concluir o assunto por uma reafirmação formal de amor. Francamente, a falta de perdão é simplesmente uma falta de amor, não é?

Mas, o perdão cumpre a lei de Deus, a lei de Cristo, a lei real, a lei do amor. E Paulo está dizendo aqui que do mesmo modo que a disciplina aplicada àquele irmão havia sido pública, formal, sua restauração também deveria ser. Paulo está, então, pedindo a eles que fizessem uma ratificação pública pelo anúncio formal da restauração desse homem à igreja, e assim a igreja mostraria seu amor, de modo coletivo e individual, por ele.

Nós nos lembramos das palavras de Paulo a Timóteo, em 1 Timóteo 5:20, em que no caso de presbíteros pecarem “repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.” A igreja deve lidar com o pecado publicamente para que todos entendam a gravidade do pecado. Bem, ouça: a igreja também deve lidar com a restauração publicamente, para que todos entendam a importância do perdão.

A graça é pelo menos tão importante quanto a lei, certo? Desligar é tão importante quanto ligar. O céu está tão preocupado em desligar quanto em ligar. A palavra amor, “agapē”, é o amor por escolha, o amor pela vontade, o amor por servir com humildade. Ouça: o perdão é uma joia preciosa, é um tesouro, é tão rico na vida da igreja, é tão crucial para a comunhão cristã! Igrejas estão rasgadas, quebradas, divididas e fragmentadas por causa da falta de perdão.

Tudo começa com a falta de disciplina pelo pecado, e a igreja nunca realmente leva a pessoa ao lugar de arrependimento. Apenas deixe o pecado existir na igreja, apenas deixe-o ir e divagar seu caminho através da igreja e nunca lide com ele. Isso destruirá uma igreja.

Por outro lado, a igreja pode trabalhar com o pecador, pode disciplinar o pecador, mas se nunca chegar ao ponto do perdão, isso também destruirá a igreja. O perdão é o que traz de volta a alegria, o amor, a misericórdia, a humildade. Que tesouro! É assim que uma igreja deve ser conhecida: por seu perdão. Em João 13:35, Jesus declarou: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”

Como o mundo sabe que nos amamos? Como João 13:34-35 se torna realidade? Porque nos socializamos? Não, as pessoas do mundo se socializam também. Como elas sabem que realmente nos importamos profundamente uns com os outros? Como elas sabem que há algo transcendente em nossa vida? Penso que através do perdão. O perdão, como eu disse no início, é o ato mais nobre que um pecador pode fazer por outro. E é, ao mesmo tempo, o mais difícil.

Quando Paulo escreveu aos Efésios (5:1) “sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados”, você perguntaria: como ser imitador de Deus? A resposta vem no verso 2: “andai em amor”. O que significa andar em amor? Resposta: “como também Cristo nos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.”

Em outras palavras, você deve amar como Cristo amou. E como Cristo amou? Ele amou ao Se entregar para perdoar os pecados. Não existe maior demonstração de amor na igreja do que a forma como perdoamos. O mundo precisa ver esse amor entre nós através de nossa comunhão, cuidado, serviço uns pelos outros.

Mas, o verdadeiro teste, a verdadeira prova da sinceridade desse amor é: perdoamos quando somos ofendidos? Estamos guardando em nosso coração o perdão amoroso, esperando a reconciliação e a restauração que virá quando a pessoa vier buscá-las? É assim que você afirma o amor.

E nada pode quebrar uma igreja assim, porque nada é deixado para ser um problema. Tudo é resolvido, perdoado. Veja, é por isso que é tão importante que uma igreja faça o trabalho disciplinar. Porque a disciplina traz o perdão e a reconciliação que mantêm intacta a unidade da igreja.

Então, nós perdoamos porque o perdão desvia a autopiedade, reflete humildade, mostra misericórdia, restaura a alegria, afirma o amor.

5 – O PERDÃO É PROVA DE OBEDIÊNCIA

O perdão tem todos os aspectos nobres de que lhes falei, como humildade, misericórdia, alegria, amor. Essas são virtudes nobres. Mas, ouça, se não tivesse nenhuma delas, se essas virtudes não fizessem parte do perdão, ainda seria certo perdoar. Por quê? Porque Deus ordenou que perdoemos. Veja o versículo 9: “E para isso vos escrevi também, para por esta prova saber se sois obedientes em tudo.”

É relativamente fácil ser obediente em algumas coisas. A Bíblia diz que devemos cantar canções de louvor ao Senhor, e isso não é muito difícil. A Bíblia diz que devemos orar. Nós podemos fazer isso. Em certos níveis de desespero, isso é relativamente fácil. A Bíblia fala sobre servir ao Senhor. Gostamos de algumas áreas de serviço.

Porém, a coisa mais difícil que a igreja pode fazer é lidar com o pecado. Esse é o trabalho mais difícil que fazemos. Tudo é difícil. Ir atrás do pecador, isso é difícil. Trazer o pecador a um ponto onde ele reconhece o pecado, onde estamos lidando com o pecado é uma tarefa muito implacável, e quanto mais beligerante e obstinado o pecador é, mais difícil é a tarefa.

E mesmo promover a restauração depois que o pecador se arrependeu e tentar juntar tudo, fortalecê-lo e trazê-lo de volta à comunhão, é um trabalho árduo. Paulo, então, está dizendo, em outras palavras:

Estou feliz com os benefícios do perdão. Fico feliz que ele produz humildade, misericórdia, alegria e amor. Estou feliz por tudo isso, mas o resultado final é que coloco essa responsabilidade sobre vocês em relação a este homem porque eu queria testá-los para descobrir se vocês são obedientes nas coisas difíceis.

Versículo 9: “para isso vos escrevi também…”. Ele está se referindo aqui à “carta severa” que escreveu (e que não está no cânon do Novo Testamento), na qual deve ter se referido à disciplina desse homem.

Paulo lhes escreveu pedindo que lidassem com o ofensor, bem como confrontassem os falsos apóstolos. Exortou-lhes sobre o seu confronto, bem como a discipliná-lo. Por quê? Para colocar os coríntios à prova. O objetivo de Paulo não foi principalmente aquele homem, nem mesmo para benefício do próprio Paulo. Mas seu objetivo era a igreja. Ele queria testar os crentes coríntios para descobrir se seriam obedientes nas coisas difíceis.

É difícil fazer isso (confronto, disciplina, perdão, restauração), a menos que seu coração esteja certo diante de Deus para perdoar alguém que o ofendeu seriamente; Essa é uma habilidade espiritual. Isso não é natural. O perdão não é algo natural para a raça humana decaída.

Dê uma olhada em nossa cultura. Dê uma olhada na História mundial. O homem caído não perdoa. Nossa cultura agora não apenas não perdoa, mas vê o perdão como uma fraqueza e a vingança como uma força. Paulo está dizendo àqueles irmãos: “quero saber se vocês passaram no teste da obediência, para fazer a difícil tarefa que é perdoar de coração, que é a evidência de seu caráter espiritual.” Deus está testando as pessoas há muito tempo.

  • No capítulo 16 de Êxodo, versículo 4, o Senhor disse a Moisés: “Eis que vos farei chover pão dos céus, e o povo sairá, e colherá diariamente a porção para cada dia, para que eu o prove se anda em minha lei ou não.” Ou seja: “Quero testar onde está o nível de obediência deles.”
  • Em Deuteronômio, capítulo 8, versículo 2, temos algo semelhante: “E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o SENHOR teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não.”
  • O versículo 16: “Que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram; para te humilhar, e para te provar, para no fim te fazer bem.”
  • No capítulo 13, versículo 3 de Deuteronômio, falando sobre falsos profetas, Deus diz: “Não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos; porquanto o SENHOR vosso Deus vos prova, para saber se amais o SENHOR vosso Deus com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma.” 

Deus está testando Seu povo o tempo todo. Obedecerão a Ele e farão o árduo trabalho de disciplina? Eles vão obedecer e perdoar? Eu vou te contar uma coisa triste: a igreja, como a conhecemos hoje, falhou abissalmente nesse teste. As igrejas não fazem o trabalho árduo da disciplina, certo? Elas não confrontam o pecado. Não vão atrás do pecador. Não fazem esse trabalho difícil. Não estão dispostas a ser obedientes em todas as coisas.

Muitas igrejas onde o trabalho de disciplina não é feito, o Senhor tem que perguntar se elas O amam de todo o coração e alma, se estão dispostas a obedecê-Lo em todas as coisas. É fácil fazer algumas coisas, tais como marcar presença, congregar, cantar louvores, ou até mesmo ofertar para o Senhor.

O difícil mesmo é confrontar o pecado, persegui-lo e então ter um coração totalmente disposto a perdoar o ofensor. Paulo está dizendo que o verdadeiro problema em Corinto não era aquele homem, o ofensor, e não era Paulo, o ofendido. A questão era que ele estava lhes escrevendo a carta para testar em que nível era o seu compromisso espiritual.

Em Filipenses 2:19 a 22, Paulo disse sobre Timóteo que ele era um servo aprovado. Ele havia passado em testes suficientes. Paulo, então, estava testando o caráter espiritual dos Coríntios para ver se eles eram dignos. No capítulo 13, versículo 5, ele até sugeriu que eles precisavam se testar para ver se permaneciam na fé. Mas, no caso da disciplina e perdão daquele homem, ele queria saber se eles eram obedientes em todas as coisas, se não havia nada muito difícil para eles obedecerem, caso lhes fosse ordenado, se eram submissos à autoridade de Deus.

Nós nos lembramos, em Mateus 18, que a disciplina é trabalho árduo e é por isso que Mateus 18:18 a 20 diz que quando nos envolvemos nela o Pai está lá fazendo conosco, o céu está de acordo e até mesmo Jesus Cristo está reunido onde dois ou três estão reunidos naquela situação de disciplina. É um trabalho árduo. Deus Pai, Deus Filho estão envolvidos, o céu está de acordo.

Agora, você quer ouvir uma má notícia? A maioria das igrejas hoje não passa nesse teste. Isso é triste. Corinto passou. A igreja de Corinto estava mudando desde a primeira caracterização que temos dela em 1 Coríntios. Estava mudando maravilhosamente.

Vá para o capítulo 7, versículo 12: “Portanto, ainda que vos escrevi [referindo-se à “Carta Severa”], não foi por causa do que fez o agravo, nem por causa do que sofreu o agravo, mas para que o vosso grande cuidado por nós fosse manifesto diante de Deus.” Em outras palavras, “para que vocês pudessem colocar o dedo em seu próprio pulso espiritual, para que o nível de sua seriedade para comigo como representante de Jesus Cristo pudesse ser manifestada a você diante de Deus.” Isso é o que ele está dizendo.

Paulo os estava testando para ver o nível de seu compromisso para com ele, como aquele que representava Cristo, para que pudesse dar uma olhada e saber se eles não obedecessem o que ele disse, basicamente estariam dizendo: “rejeitamos o apóstolo de Cristo e o fazemos na visão plena de Deus.” Ou, se obedecessem, estariam declarando: “sim, submetemo-nos à autoridade de Cristo que vem por meio de Paulo”.

E o que eles fizeram? Qual caminho eles seguiram? Capítulo 7 de 2 Coríntios, versículo 13: “Por isso fomos consolados pela vossa consolação, e muito mais nos alegramos pela alegria de Tito, porque o seu espírito foi recreado por vós todos.” Tito comunicou a Paulo a reação dos coríntios. Eles disciplinaram quando deveriam disciplinar e perdoaram quando deveriam perdoar.

Ele declarou: “e muito mais nos alegramos pela alegria de Tito”. O que deixou Paulo mais feliz foi aquilo que fez feliz a alguém que ele amava. A alegria maior de Paulo do que sua própria alegria foi a alegria que ele compartilhou com Tito, porque Tito estava feliz “porque o seu espírito foi recreado por vós todos”.

Essa igreja mudou. Do caos daquela primeira epístola, algo aconteceu dramaticamente. Eles agora estavam se submetendo à autoridade do apóstolo, apesar do motim, apesar de tudo que estava acontecendo na rebelião dos falsos apóstolos, aqui Tito volta e diz que fizeram o que Paulo pediu, eles disciplinaram o homem. Seus corações estavam cheios de perdão amoroso e Paulo ficou muito consolado com isso.

No versículo 14, lemos: “Porque, se nalguma coisa me gloriei de vós para com ele, não fiquei envergonhado; mas, como vos dissemos tudo com verdade, também a nossa glória para com Tito se achou verdadeira.” Em outras palavras: “Fiquei muito feliz porque disse a Tito como vocês são maravilhosos, e vocês acabaram sendo tão maravilhosos quanto eu disse a ele”.

Ele estava dizendo que não queria obter a reputação de não dizer a verdade, e quando se gabou sobre os coríntios para Tito, de que fariam o que era certo, que poderiam ser colocados à prova e passariam no teste, Tito foi, voltou e atestou que era verdade.

E o versículo 15 diz: “E o seu entranhável afeto para convosco é mais abundante, lembrando-se da obediência de vós todos, e de como o recebestes com temor e tremor.” Essa é a grande história que se seguiu à primeira epístola: eles obedeceram. O perdão é uma questão de obediência. Recebemos a ordem de perdoar: Efésios 4:32; Colossenses 3:13; Mateus 6:14 e 45 – 6:14 e 15; Marcos 11:25, dentre outras passagens. Somos ordenados a perdoar.

Trata-se de um teste. E como eu disse, é uma coisa triste para mim – e para Deus também – que tantas igrejas falhem nesse teste. Elas nem mesmo aplicam a disciplina, em primeiro lugar, não são obedientes em aplicá-la. E então, em muitos casos, não perdoam o pecador, mesmo quando o pecador se arrepende.

O perdão é bênção. Desvia o orgulho, mostra misericórdia, restaura a alegria, afirma o amor, prova a obediência.

6 – O PERDÃO RESTAURA A COMUNHÃO

Nós perdoamos para restaurar a comunhão. Observe 2 Coríntios 2:10, que diz: “E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque se eu também perdoei alguma coisa, a quem a perdoei por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos sobrepujados por Satanás”.

Aqui está sua humildade novamente. Paulo está dizendo: “Olha, se vocês perdoaram o homem, eu o perdoo. Eu me uno a vocês nesse perdão.” Na verdade, ele disse: “porque se eu também perdoei alguma coisa, a quem a perdoei por amor de vós”. E dizendo isso, Paulo está novamente minimizando a ofensa que sofreu. Está demonstrando que seu desejo era ver a comunhão da igreja restaurada. Não se colocou em primeiro lugar.

Paulo estava dizendo, em outras palavras: “Eu quero a comunhão restaurada. Eu quero que vocês se reúnam ao homem. Eu quero unidade na igreja. Portanto, não deixem ninguém dizer: ‘Bem, podemos ser capazes de perdoá-lo, mas Paulo pode não, porque afinal ele foi o ofendido.'”

Mas, Paulo diz: “Não! Basta! Tudo que eu quero é que vocês estejam juntos. Eu só quero a restauração. O que quer que eu tenha perdoado, fiz por vocês. Eu quero deixar isso de lado. Quero ter certeza de que o homem pode ser totalmente restaurado imediatamente. E eu lhe dou meu perdão.”

E então, ele acrescenta: “na presença de Cristo”. Paulo viveu toda a sua vida muito consciente de que tudo o que ele fez, pensou, disse, Cristo sabia. Ele declarou que vivia toda a sua vida na presença de Cristo, à vista de Deus. Ele encerra o versículo 17 desse capítulo com a seguinte colocação: “na presença de Deus”. No capítulo 4, versículo 2, ele encerra esse versículo dizendo: “na presença de Deus”.

Ele era sobrecarregado por esta percepção de que tudo o que ele fez em sua vida estava aos olhos de Deus, na presença de Cristo. Ele até disse a Timóteo uma vez, quando estava lhe dizendo para pregar a Palavra, em 1 Timóteo 6:13: “Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão, que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo.”

Assim, Paulo estava dizendo aos coríntios: “eu vivo minha vida sabendo que Jesus Cristo está presente o tempo todo e ansiosamente estou perdoando essa pessoa, porque fui perdoado por Cristo e pelo Deus em cuja presença eu vivo. Eu quero agradar meu Deus. Eu quero agradar meu Senhor. Eu perdoo ansiosamente. E todo o meu perdão é por causa de vocês. Deus sabe disso.”

Paulo está afirmando a integridade desse testemunho de que ele se importava com eles, ele os amava e tudo o que ele fazia era por eles. Ele estava preocupado que a igreja fosse restaurada, que a unidade voltasse, que o homem fosse trazido à comunhão.

E isso é o que estava em seu coração, eu acredito, no versículo 10, em outras palavras: “acolham o irmão arrependido, não se contenham por minha causa. Se eu perdoei alguma coisa, já o fiz há muito tempo para o seu bem. Eu só quero que a igreja seja unida.”

É por isso que o perdão é importante. Onde não existe, há fissura, fratura, discórdia, desarmonia, amargura, vingança, que apenas destrói uma igreja. Perdoe para desviar o orgulho, perdoe para mostrar misericórdia, perdoe para restaurar a alegria, para afirmar o amor, para provar a obediência e para restaurar a comunhão.

7 – PERDOAR FRUSTRA SATANÁS

Todos nós sabemos o que Satanás quer fazer. Ele quer destruir a igreja, criar orgulho, destruir a misericórdia, eliminar alegria, amor, obediência, quebrar a comunhão. Ele quer que o pecado exista na igreja. Ele quer que o pecado simplesmente corra livremente pela igreja.

E se a igreja lidar com o pecado, então ele quer que o pecador seja tratado com dureza, sem graça, sem misericórdia, sem alegria e sem perdão. Ele tem todos os tipos de esquemas. Veja o versículo 11, onde Paulo diz: “Porque não ignoramos os seus ardis [de Satanás].”

Quando não perdoamos, caímos em sua armadilha. Reter o perdão impede a humildade, a misericórdia, a alegria, o amor, a obediência, o companheirismo. Isso rasga a igreja. Satanás quer produzir animosidade. Ele quer que o pecado flua livremente, e se as pessoas vão tentar lidar com o pecado, então que sejam duras, abusivas, implacáveis e que amontoem sobre o pecador uma quantidade de dureza para o destruir. Isso também irá fragmentar a igreja.

Você pode destruir uma igreja de várias maneiras. O liberalismo pode fazê-lo, como também o legalismo. A tolerância pode fazê-lo, como a intolerância também. A falta de lidar com o pecado pode destruir uma igreja, mas a falta de perdão também. Satanás age em todos os ângulos imagináveis, todos os cantos estão cobertos.

Ele quer levar as pessoas ao pecado e, se elas forem confrontadas, levá-las ao desespero. Ele quer usar o pecado contra as pessoas e levá-las à amargura e autopiedade. Ele quer destruir a igreja. Ele anda como um leão que ruge, procurando a quem possa devorar, disfarçado de anjo de luz que vem para enganar, e seus mensageiros também são anjos de luz.

Satanás quer nos peneirar como trigo, como queria fazer com Pedro, para destruir nossa fé, se pudesse. Não ignoramos seus “noēmata”, seus desígnios, seus estratagemas, suas conspirações, suas astúcia, seus ardis e engano, como Efésios 4:14 demonstra.

Portanto, temos que ser muito cuidadosos ou – isso é inimaginável e beira um pensamento blasfemo – Satanás se tornará o cabeça da igreja, delineando sua vontade na vida da igreja por meio do pecado ou da falta de perdão ou de ambos.

E então, Paulo diz que o perdão é crucial para a vida da igreja. Mesmo que o homem tenha cometido um pecado hediondo contra a pessoa mais significativa do reino naquela época – em termos de impacto, o apóstolo Paulo – ele deve ser perdoado. Isso é desviar o orgulho, mostrar misericórdia, restaurar a alegria, afirmar o amor, provar a obediência, restaurar a comunhão e frustrar Satanás.

Quem não gostaria de pertencer a uma igreja assim, não é? Onde tudo isso fosse verdade. Deve ser uma igreja humilde, misericordiosa, alegre, amorosa, obediente e de comunhão, onde Satanás não tenha lugar. O perdão pode fazer isso. Vai fazer isso. Deixe-me resumir:

  • Versículo 5: o perdão, em primeiro lugar, afeta aquele que perdoa.
  • Versículos 6 a 8: o perdão afeta aquele que é perdoado.
  • Versículos 9 a 11: o perdão afeta toda a igreja. E o que ele faz? Produz misericórdia, alegria, amor, companheirismo e pureza. É por isso que digo que o maior ato que um pecador pode fazer por outro é perdoar.

Vamos orar.

Pai, viemos a Ti nesta manhã percebendo que a verdade é clara, a mensagem é muito óbvia. Senhor, tudo o que resta é o teste. Somos obedientes? Coloque-nos à prova. Somos obedientes? Amamos o Senhor nosso Deus de todo o nosso coração e alma? Estamos dispostos a ser obedientes em todas as coisas? Estamos dispostos a nos submeter às Tuas leis e estatutos, como o Senhor requereu ao Teu povo no passado e ainda o requer? Estamos dispostos a fazer a difícil obra de disciplinar o pecador e a alegre obra de restaurar o pecador arrependido? Oh, Deus, teste-nos.

E então, Senhor, conceda-nos em nossos corações o fruto do Espírito, amor, alegria, paz, mansidão, bondade, fé, mansidão, domínio próprio. Todos esses componentes certamente devem coexistir com um coração misericordioso. E que a comunhão desta igreja seja conhecida como uma comunhão de corações que perdoam, onde pessoas que pecam são confrontadas e pessoas que se arrependem são restauradas com amor, para que possamos ser os verdadeiros representantes de Teu Filho e nosso Salvador neste mundo. Pois é em Seu nome que oramos. Amém.


Esta série contém 2 sermões:


Leia também: 


Este texto é uma síntese do sermão “The Blessings of Forgiveness, Part 2”, de John MacArthur, em 06/03/1994. 

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/47-9

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

Compartilhe

You may also like...

1 Response

  1. Silvia disse:

    Que palavra do céu…

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.