A Virtude de Ser o Último
Seguindo nossa trilha no Evangelho de Marcos, vamos olhar agora para Marcos 9: 30-41. Nos capítulos 9 e 10 há uma série de lições que o Senhor ensinou a Seus discípulos. Seu ministério público na Galileia havia terminado, Jesus passou a um ministério privado com os discípulos na Galileia. E depois Ele foi para Jerusalém para concluir seu ministério.
Nos meses finais antes de Sua morte, o foco de Marcos está nas instruções finais que Jesus deu aos doze discípulos. Ele registra que Jesus falou muito sobre Sua morte e ressurreição, mas, além disso, Ele os instruiu em diversos assuntos essenciais. Um desses assuntos é sobre humildade, e é o que está diante de nós em Marcos 9: 30-41.
Em uma primeira leitura do texto podemos pensar que eles estão um pouco desconexos, mas toda a passagem realmente se encaixa no tema da humildade.
Marcos 9
30 E, tendo partido dali, passavam pela Galileia, e não queria que ninguém o soubesse;
31 porque ensinava os seus discípulos e lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e o matarão; mas, três dias depois da sua morte, ressuscitará.
32 Eles, contudo, não compreendiam isto e temiam interrogá-lo.
33 Tendo eles partido para Cafarnaum, estando ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo caminho?
34 Mas eles guardaram silêncio; porque, pelo caminho, haviam discutido entre si sobre quem era o maior.
35 E ele, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.
36 Trazendo uma criança, colocou-a no meio deles e, tomando-a nos braços, disse-lhes:
37 Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, não recebe a mim, mas ao que me enviou.
38 Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que, em teu nome, expelia demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não seguia conosco.
39 Mas Jesus respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de mim.
40 Pois quem não é contra nós é por nós.
41 Porquanto, aquele que vos der de beber um copo de água, em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.
Tudo isso se relaciona ao nosso tema de humildade. Essa seção do Evangelho de Marcos poderia ter como título “a virtude de ser o último”. Isso é ofensivo para a cultura deste mundo, porque o homem caído quer sempre os primeiro lugares.
A humildade não é vista como uma virtude na cultura mundana atual, assim como não era vista como uma virtude na antiga cultura pagã. E não é apenas uma questão cultural. A humildade é estranha ao homem caído, é estranha ao coração humano. O coração humano é um adorador implacável de si mesmo. É da natureza do homem ser dominado pelo orgulho.
Há hoje uma ênfase bizarra e complicada em torno da autoestima. Os males na mente do homem são vistos como falta de autoestima, e isso é uma mentira. Na verdade, as pessoas são destruídas pelo culto da autoestima e pelo orgulho.
Dizer que a falta de autoestima é causa dos males humanos é realmente clamar para que as pessoas sejam mais orgulhosas quando já estão dominadas por um orgulho mortal. Falar sobre humildade e contentamento em ser o último nunca atrairá as multidões. É um discurso intragável para a humanidade caída.
Mas aprender a ser humilde é essencialmente encontrar o fundamento da santificação, porque este é o ponto principal do que significa ser um cristão. O profeta Isaías escreveu
Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis vós? E qual é o lugar do meu repouso? Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o Senhor, mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra. (Isaías 66:1,2)
Deus se exalta e tem o direito de exaltar a si mesmo, e Ele é o único no universo que tem o direito de exaltar a si mesmo, porque Ele é santo e tudo que pensa e faz é santo. Mas a quem Ele procura: “o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra”. Vemos isso por toda a Escritura, tais como:
Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus (Miquéias 6:8).
Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado (Lucas 14:11).
Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes […] Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará. (Tiago 4:6,10).
Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade (Colossenses 3:12).
A humildade é difícil de aprender. E quando você pensar que alcançou a humildade, você pode voltar, de repente, à estaca zero. Precisamos aprender a humildade, e há várias maneiras pelas quais o Senhor nos ensinou a humildade:
- Uma é por preceito, princípio, e veremos isso na passagem em que nosso Senhor instrui Seus discípulos e a nós.
- A segunda é pelo exemplo, para nos mostrar o que a humildade faz para que possamos entendê-la.
É por isso que Jesus lavou os pés dos discípulos e disse:
Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou (João 13:14-16).
Em Marcos 9:31 Jesus descreveu sua morte, que é a maior ilustração de humildade de todos os tempos. Então aprendemos a humildade com Jesus por 3 caminhos:
- Os preceitos que Ele deixou e que nos ensinam a humildade.
- O exemplo de Seu próprio esvaziamento, sua própria humilhação.
- Pela experiência dolorosa, pelo sofrimento devastador.
Os discípulos precisavam aprender a humildade assim como nós precisamos. Embora sejamos crentes, ainda temos orgulho residente em nós. Estamos sempre em luta contra o orgulho humano.
E os discípulos eram alimentados por uma espécie de triunfalismo messiânico e esperavam que o Messias entrasse em Sua glória a qualquer momento e, é claro, eles entrariam em Sua glória com Ele. Eles estavam animados com a glória. Eles estavam animados com a exaltação.
Eles cresceram no judaísmo, e as características dominantes do judaísmo eram essencialmente o orgulho espiritual, em todas as formas imagináveis. Os líderes espirituais de sua nação eram homens que chamavam a atenção para sua espiritualidade por meios artificiais e exteriores, e se exaltavam acima do povo. Eles faziam tudo para serem vistos e exaltados pelos homens. Sobre isso Jesus, referindo-se a eles, disse:
Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens. (Mateus 23:5-7)
E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram o rosto, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão (Mateus 6:16)
Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. (Mateus 6:1,2)
Estes eram os modelos espirituais de Israel. Esta era a religião em que os discípulos estavam habituados. Os fariseus, os escribas e os rabinos se exaltavam e desfilavam sua exaltação.
E os discípulos, tomados por esse triunfalismo, estavam cheios de orgulho por terem sidos escolhidos pelo Messias. Eles esperavam um reino imediato e disputavam posições elevadas (Mat. 20: 21-24 etc.).
Os discípulos precisavam muito de uma lição de humildade. E toda vez que o Senhor falava sobre sofrimento, morte e carregar a cruz eles ficavam alarmados. Era algo inconcebível para eles, algo incompatível com as expectativas deles (Mat. 16: 21-24; 22: 22-23; Marcos 9: 30-32 etc.).
Então aqui vem a lição sobre humildade, e Jesus começa onde tinha que começar: com um lembrete da vinda da cruz, porque esta é a maior de todas as humilhações. Nosso Senhor fala de Seu sofrimento e de Sua morte, é aí que começamos. então Ele começa a ensinar-lhes as lições em princípios e preceitos.
Comecemos, então, com Cristo, o exemplo supremo de humildade.
Marcos 9
30 E, tendo partido dali, caminharam pela Galileia, e não queria que alguém o soubesse,
31 Porque ensinava os seus discípulos…
Eles partiram da região de Cesareia de Filipe, ao pé da montanha, provavelmente o Monte Hermon, ao norte da Galileia, onde a transfiguração ocorreu. Ali o Senhor os havia instruído sobre o poder da fé e o poder da oração.
Então eles estão agora se movendo na direção de Cafarnaum. Eles chegarão lá no versículo 33, para mais um tempo privado de Jesus com seus discípulos. Logo o Senhor foi embora para a Judeia para a parte final de seu ministério (Marcos 10:1).
Jesus estava se aproximando da cruz. Isso é o que está na mente de nosso Senhor. Ele precisava gastar um tempo com os doze. Não era mais um ministério público, Ele não queria que ninguém soubesse de sua presença por lá (Marcos 9:30). Haveria ainda um pouco mais de ministério público na Judeia, Mateus e Lucas nos falam sobre isso.
Mas para a Galileia, o ministério público de Jesus por lá havia encerrado. A Galileia rejeitou seu Messias, então Jesus seguiu adiante, abandonando aquela região (Marcos 10:1). E então passou a dar uma lição após a outra aos Seus discípulos, preparando-os para o futuro.
Marcos 9
31 porque ensinava os seus discípulos e lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens e matá-lo-ão; e, morto, ele ressuscitará ao terceiro dia.
32 Eles, contudo, não compreendiam isto e temiam interrogá-lo.
Lucas 9:44-45 assim registrou:
Fixai nos vossos ouvidos as seguintes palavras: o Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens. Eles, porém, não entendiam isto, e foi-lhes encoberto para que o não compreendessem; e temiam interrogá-lo a este respeito.
Ele começou onde parece sempre querer começar: com Sua própria morte e ressurreição. É a principal coisa que eles precisavam entender.
Há pouco tempo, Pedro havia declarado: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Marcos 8:29; Mateus 16:16) e no Monte da Transfiguração, Pedro, Tiago e João ouviram Deus dizendo: “Este é o meu Filho amado; a ele ouvi” (Marcos 9:7).
Eles estavam certos de que Jesus era o Filho de Deus, o Messias, o Deus eterno encarnado. Mas eles são novamente informados que Jesus vai sofrer nas mãos dos homens e seria morto. Eles não podiam entender e lidar com isso. Por isso Paulo disse: “pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (1 Coríntios 1:23).
O Messias, o Filho de Deus crucificado não fazia sentido na cabeça deles. E eles ainda não sabiam que seria morte de cruz, a mais terrível e humilhante naquela época. Isso era inaceitável para eles.
E o termo que Jesus usou dá ideia de que sua execução seria, em alguma medida, um ato legal. A um tipo de ato jurídico, de entregar um criminoso culpado para julgamento. Mateus usa esse mesmo termo e Lucas também.
Agora, a questão é: quem o entregaria? Quem faria isso? Quem seria o responsável por isso? Quem seria culpado disso? Temos a resposta, por exemplo, em Marcos 8:31, que diz:
Então, começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias, ressuscitasse.
Jesus foi rejeitado e entregue à morte pelos anciãos, principais sacerdotes e pelos escribas, que constituíam o Sinédrio, o corpo governante do judaísmo.
- Judas entregou Jesus aos líderes religiosos de Israel (Mateus 26:24).
- Então, os líderes religiosos entregaram Jesus a Pilatos (Mateus 27:2).
- E Pilatos entregou Jesus aos carrascos (Mateus 27:2).
Mas o que está por trás de tudo isso? Quem está no controle desses acontecimentos? Pedro responde:
Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis; sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela. (Atos 2:22-24).
Tudo estava soberanamente planejado desde a eternidade. A soberania da vontade de Deus caminha paralela à responsabilidade do homem. Os judeus e gentios crucificaram o Filho de Deus, eles foram responsáveis por isso. Mas tudo estava pré-determinado pela soberana vontade de Deus. Jesus disse: “Ninguém tira a minha vida de mim, mas eu a dou por minha própria vontade” (João 10:18)
[Nota: Clique aqui e leia o sermão de John MacArthur sobre a soberania de Deus e a responsabilidade humana em toda a Bíblia].
E em Marcos 9:31 Jesus disse aos discípulos: “O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens e matá-lo-ão; e, morto, ele ressuscitará ao terceiro dia”.
Eles tinham visto Jesus ressuscitar mortos, mas devem ter se perguntado: “Ele tem o poder de ressuscitar os mortos, mas se Ele estiver morto, quem o ressuscitará?”. Além dessa questão, eles não conseguiam entender a teologia de um Messias morto. Qual foi a reação deles?
- Eles, contudo, não compreendiam isto e temiam interrogá-lo (Marcos 9:32)
- Então, os discípulos se entristeceram grandemente (Mateus 17:23)
- Eles, porém, não entendiam isto… e temiam interrogá-lo a este respeito (Lucas 9:45)
Jesus aceitou a cruz como vinda de Deus para cumprir o plano de redenção desde antes da fundação do mundo, planejado e prometido pelos profetas do Antigo Testamento, bem como predito de Sua própria boca. Mas isso era intragável a crença dos discípulos. Um Messias morto pelos líderes religiosos? Isso era demais para eles. Eles simplesmente não podiam aceitar essa ideia, mas era a verdade: O Senhor soberano se tornaria um sacrifício.
Lucas 9:45 diz: “e foi-lhes encoberto para que o não compreendessem”. O sentido no grego é de que algo agiu sobre eles para que eles não entendessem a plenitude dessas palavras de Jesus. O Senhor os protegeu. Aquilo seria algo além do que eles poderiam lidar naquele momento. Jesus sabia que mais tarde eles se lembrariam de suas palavras e entenderiam tudo.
Uma das mais doces misericórdias do Senhor é que não podemos ver o futuro completo. Saber o futuro seria uma maldição. Eliminaria a bênção de planejar, preparar e esperar. Eliminaria toda a alegria. Além disso, nos envolveria em constante dor agonizante, pois tudo se tornaria um desastre presente. O Senhor já nos deu o suficiente para termos um esboço do futuro, não precisamos saber mais nada.
O orgulho destrói a unidade da igreja
Marcos 9
32 Eles, contudo, não compreendiam isto e temiam interrogá-lo.
33 Tendo eles partido para Cafarnaum, estando ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo caminho?
34 Mas eles guardaram silêncio; porque, pelo caminho, haviam discutido entre si sobre quem era o maior.
Eles foram para Cafarnaum, o centro do ministério de Jesus na Galileia. E diz que Jesus estava “em casa”. Não sabemos que casa era essa, talvez a casa de Pedro, que morava lá.
Jesus questionou os discípulos: “O que vocês estavam discutindo no caminho?”. Eles estavam brigando um com o outro durante todo o caminho. Foi uma discussão embaraçosa. E nosso Senhor expõe isso.
Eles não queriam admitir sobre o que estavam falando, mas estava relacionado a ideia de morte, abnegação, tomar a cruz, sofrimento e perseguição. Eles ainda eram ambiciosos, egoístas e buscando posições elevadas e não sofrimentos.
Mas que isso, eles estavam em competição espiritual por proeminência, querendo cargos de chefia e honras. O orgulho destrói a unidade, esta é a primeira implicação aqui.
Quando Jesus os questiona, eles ficaram em silêncio. Por que ficaram em silêncio? Eles estavam envergonhados. Eles sabiam que aquela atitude era pecaminosa. Enquanto o Senhor estava falando sobre Sua própria humilhação, eles estavam pensando na própria exaltação deles. Eles disputavam sobre quem seria o maior deles no reino.
Eles eram orgulhosos. E o orgulho é destrutivo, crítico, julgador, comparativo e menosprezador. Ele empurra os outros para baixo a fim satisfazer sua auto-exaltação. Isso é absolutamente destrutivo da unidade. E, consequentemente do Evangelho.
E isso estava tão forte, que em Marcos 10:37, após Jesus falar novamente de sua morte, Tiago e João pediram: “Permite-nos que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda” (Marcos 10:37). A ousadia disso é incompreensível. Isso estava arraigado no judaísmo apóstata.
Enquanto o orgulho destrói a unidade, a humildade a preserva. Em Efésios 4:1-3, Paulo diz:
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz;
O orgulho leva a perda da honra
Não só destrói a unidade, como causa a perda da honra. Pessoas orgulhosas lutam por posições, exaltação e autopromoção. Mas Jesus ensina algo oposto ao que eles queriam:
Marcos 9
35 E ele, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.
Lucas 9:47 diz que Jesus sabia o que estava no coração deles. E, em outras palavras, diz: “Não é honra, exaltação e glória que vocês querem? Então lhes digo como chegar lá: Humilhar-se e desejar a posição de servo de todos”.
O orgulho espiritual parecia-lhes em sua cultura algo desejável e legítimo. Mas nosso Senhor continuamente denuncia isso e, finalmente, em Mateus 23, Ele ataca os líderes religiosos de Israel que amavam os primeiros lugares, as saudações honrosas e a exaltação. Sobre eles Jesus disse: “hipócritas, tudo o que vocês fazem é produzir filhos do inferno duas vezes pior que vocês” (Mateus 23:15).
Em Tiago 4:6 diz: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graças aos humildes”. O orgulho leva a perda da honra. Os que buscam honras neste mundo não terão recompensas celestiais. Por isso Tiago 4:6 diz: “Humilhai-vos perante o Senhor e Ele vos exaltará”. Em Marcos 10: 42-45 Jesus disse aos apóstolos:
Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.
Sempre temos Jesus como o modelo. E Ele sempre falou em servir e não buscar glórias humanas mas apenas a glória que vem de Deus (João 5:41,44). Sobre não querer ser o primeiro, mas o último. E o que significa ser o último? Ser o servo de todos. O orgulhoso quer os primeiros lugares e ser servido.
O orgulho é uma rejeição a Deus
E isso é muito sério. Ela destrói a unidade, faz perder a honra e rejeita a Deus. E a lição sobre isso é clara nos versículos 36 e 37.
Marcos 9
36 Trazendo uma criança, colocou-a no meio deles e, tomando-a nos braços, disse-lhes:
37 Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, não recebe a mim, mas ao que me enviou.
O sentido da palavra grega é de uma criança pequena ou de colo. Ela não tem poder, realizações e grandezas para exibir. Uma criança pequena ou de colo, é fraca, dependente e vulnerável. Ela não tem nada para oferecer. Esta é uma ilustração perfeita para a verdadeira condição do homem, que só pode ser plenamente reconhecida por quem tem o Espírito Santo. Mateus 18: 1-5 registra essas palavras de Jesus:
Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é, porventura, o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles. E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus. E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe.
Que lição profunda! Eles estavam disputando entre eles quem seria o primeiro, o maior, o mais honrado e que ocuparia o lugar mais elevado. Mas Jesus lhes disse que era necessário que eles se humilhassem como uma criança para ser o maior. Isso ofende o senso comum da humanidade caída.
E em Mateus 18: 5-6 Jesus diz:
E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe. Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar.
Jesus alerta para a gravidade de fazer tropeçar os filhos espirituais, os cidadãos do reino. Ele diz que seria melhor uma morte terrível do que fazer isso. Por quê? Porque Ele vive nesses pequeninos.
E em Mateus 18:10 Jesus diz:
Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus veem incessantemente a face de meu Pai celeste.
Ou seja, não se deve rejeitar e nem fazer pouco caso de outro crente, ao tratá-lo de forma áspera ou com indiferença. Os crentes são alvos de serviço dos anjos. Eles vão incessantemente perante Deus para saber o que fazer por seus filhos. É coisa extremamente séria tratar qualquer irmão com desdém.
Todo o céu está observando como os filhos de Deus estão sendo tratados. E a conclusão é que é melhor você ter cuidado com o modo como trata os outros c:rentes. Jesus disse que “não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos” (Mateus 18:14).
Por isso, ao invés de pensar que você é melhor do que todos e desenvolver uma atitude de desprezo e indiferença para com os irmãos, procure se tornar o servo de todos. Jesus disse: “Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe” (Marcos 9:37).
O orgulho cria o sentimento de exclusividade
Marcos 9
38 Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que, em teu nome, expelia demônios, o qual não nos segue; e nós lhe proibimos, porque não seguia conosco.
Eles competiam entre eles quem seria o maior, e não queriam que ninguém tivesse sucesso fora do grupo deles. Não sabemos quem era esse que estava expulsando demônios em nome de Jesus, certamente era um verdadeiro crente em Cristo.
Em Lucas 10:1 diz que “o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois”. E no verso 9 Jesus conferiu a esses 70 poderes para curar enfermos e anunciar a proximidade do reino de Deus. Esses 70 voltaram mais tarde, cheios de alegria e disseram: “Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome!” (Lucas 10:17).
Havia outros a quem o Senhor havia dado esse poder. Talvez aquele homem a quem João repreendeu tivesse sido um deles. Não sabemos. Mas o que ele estava fazendo era legítimo, por isso Jesus disse:
Marcos 9
39 Não lhe proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de mim.
40 Pois quem não é contra nós é por nós.
Ou seja, Jesus afirma que aquele homem operava em Seu nome ao fazer milagres. E ninguém que faz uma obra através de Cristo é inimigo dele. Mas o orgulho produz um sentimento nocivo de exclusividade. E aqui Jesus estava corrigindo esse erro na vida de seus discípulos.
Em Filipenses 1:17 Paulo relata que alguns estavam pregando o evangelho por discórdia, de forma não sincera, no intuito de acrescentar dores a ele. Mas a reação de Paulo foi essa:
Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei (Filipenses 1:18).
Não há concorrência na missão da igreja, é isso que Cristo e Paulo estão dizendo. Não há concorrentes reais entre os crentes. Estamos todos pregando o mesmo evangelho, servindo ao mesmo Senhor e buscando apenas a glória que lhe é devida. A competição no meio cristão é um grave pecado.
A humildade resultará em divina recompensa
Marcos 9
41 Porquanto, aquele que vos der de beber um copo de água, em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.
Não podemos temer os últimos lugares, a falta de aplausos e de reconhecimento humano, afinal de contas, temer tudo isso é sinal de orgulho e de perda da única recompensa que tem valor.
O simples ato de bondade sacrificial para com alguém que pertence a Cristo resultará no que você nunca alcançará tentando se elevar acima dos outros. Nesse sentido, Filipenses 2:2-3, traz essa exortação:
Penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.
E Filipenses 2: 5-11 traz o modelo que deve nos inspirar a cada momento de nossas vidas:
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.
Esse é o nosso modelo. Jesus perdeu Sua recompensa ao se humilhar, se esvaziar e se tornar um servo? Não! Ele recebeu do Pai toda exaltação.
Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.
Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.
(Tiago 4: 6,10)Pai, agradecemos mais uma vez por sua verdade que ilumina nossas mentes. A alegria de aprender, o prazer disso. Como disse o salmista: “Tenho prazer na tua lei, oh! Senhor, oh! como amo a tua lei”.
Esse prazer, amor e afeição pela verdade nos quebranta e traz alegria ao aprendermos essas coisas. O que nos traz uma alegria ainda maior é a aplicação dessas coisas em obediência, e isso Te alegra.
Humilhe-nos, Senhor, humilhe-nos sob sua mão poderosa e, no devido tempo, exalte-nos como achar melhor. Ajude-nos a saber que nunca perderemos uma recompensa eterna por sermos os últimos. Aqueles que procuram ser os primeiros, perdem.
Eles têm sua recompensa, como Jesus disse repetidamente aos líderes no Sermão da Montanha: Vocês já têm sua recompensa! E qual foi? Apenas os elogios dos homens.
Mas para aqueles que procuram ser os últimos, o Senhor é quem dará a recompensa final. Sabemos que haverá um grande dia em que poderemos pegar nossas recompensas, aquelas que o Senhor nos deu pela graça, e devolvê-las a Ti como um ato de adoração.
Que possamos ser fiéis, Senhor, para aplicar essas coisas em nossos corações e dar-lhe o louvor pelo que o Senhor fará enquanto a Palavra encontra vida através de nós. Oramos em nome de Cristo. Amém!
Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos
Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série
Este texto é uma síntese do sermão “The Virtue of Being Last”, de John MacArthur em 31/10/2010
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/41-46/the-virtue-of-being-last
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno