Rebelião: Atitude repugnada por Deus

Um exemplo de rebelião coletiva encontra-se no capítulo 16 de Números.

Coré e seus companheiros pertenciam aos levitas; portanto, representavam os espirituais. Por outro lado, Data e Abirão eram filhos de Ruben, e portanto representavam os líderes. Todos estes, junto com duzentos e cinquenta líderes da congregação, resolveram rebelar-se contra Moisés e Arão.

Arbitrariamente atacaram os dois, dizendo: “Basta! pois que toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do Senhor?”

Foram desrespeitosos para com Moisés e Arão. Talvez fossem bastante honestos no que disseram, mas falharam em ver a autoridade do Senhor. Consideraram o assunto como problema pessoal, como se não houvesse autoridade entre o povo de Deus.

No seu ataque não mencionaram o relacionamento de Moisés com Deus nem o mandamento de Deus. Não obstante, mesmo debaixo dessas sérias acusações, Moisés não se zangou nem perdeu o controle de si mesmo. Simplesmente caiu sobre o seu rosto diante do Senhor.

Considerando que a autoridade pertence ao Senhor, ele não usou de nenhuma autoridade nem fez nada ele mesmo. Disse a Core e ao seu grupo que esperassem até a manhã seguinte quando o Senhor mostraria quem era dele e quem era santo.

Assim ele enfrentou o espírito do erro com o espírito de justiça. O que Core e seu partido disseram baseava-se na razão e em conjecturas; Moisés, entretanto, respondeu: “Amanhã pela manhã o Senhor fará saber quem é dele, e quem o santo que ele fará chegar a si: aquele a quem escolher fará chegar a si” (versículo 5). O problema não era de Moisés, mas do Senhor.

O povo pensava que estava simplesmente se opondo a Moisés e Arão; não tinha a menor intenção de se rebelar contra Deus, pois ainda desejava servi-lo. Apenas desprezou Moisés e Arão. Mas Deus e sua autoridade delegada são inseparáveis. Não é possível manter uma atitude para com Deus e outra atitude para com Moisés e Arão.

Ninguém pode rejeitar a autoridade delegada por Deus com uma mão e receber Deus com a outra. Se eles se submetessem à autoridade de Moisés e Arão estariam sujeitos a Deus.

Pelo contrário, ele se humilhou sob a autoridade de Deus e respondeu ao seu acusador com mansidão, dizendo: “Fazei isto: tomai vós incensários, Core e todo o seu grupo; e, pondo fogo neles amanhã, sobre eles deitai incenso perante o Senhor; e será que o homem a quem o Senhor escolher, este será o santo” (versículos 6-7).

Sendo mais amadurecido, previa as consequências; por isso suspirou: “Ouvi agora, filhos de levi… Acaso é para vós outros cousa de somenos que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do Senhor e estar perante a congregação para ministrar-lhe …? Pelo que tu e todo o teu grupo juntos estais contra o Senhor” (versículos 8-11).

Datã e Abirão não estavam presentes no momento. Pois quando Moisés mandou chamá-los, recusaram-se a vir e resmungaram: “Porventura é cousa de somenos que nos fizeste subir de uma terra que mana leite e mel (Egito), para fazer-nos morrer neste deserto, senão que também queres fazer-te príncipe sobre nós?” (versículos 13-14.)

Sua atitude foi de muita rebeldia. Não criam na promessa de Deus; o que esperavam eram bênçãos terrenas. Esqueceram-se que foi devido às suas próprias faltas que não entraram em Canaã; pelo contrário, falaram asperamente contra Moisés.

Deus eliminou a rebeldia do seu povo A esta altura a ira de Moisés despertou. Em lugar de falar com eles, orou a Deus. Quantas vezes a rebeldia do homem força a mão do juízo de Deus!

Dez vezes os israelitas tentaram a Deus e cinco vezes deixaram de crer nele, e Deus se controlou e lhes perdoou; mas por causa desta rebeldia Deus resolveu julgar. Deus disse: “E os consumirei num momento” (veja versículo 21); ele extirparia a rebeldia do meio do seu povo.

Mas Moisés e Arão caíram com o rosto em terra e oraram: “Acaso por pecar um só homem, in-dignar-te-ás contra toda esta congregação?” (versículo 22). Deus atendeu às orações deles mas julgou Core e o seu grupo.

A autoridade estabelecida por Deus era a pessoa a quem Israel tinha de ouvir. Até o próprio Deus testificou diante dos israelitas que ele também aceitaria as palavras de Moisés.

A rebeldia é um princípio infernal. Aquela gente se rebelou e as portas do inferno se abriram. A terra abriu a sua boca e engoliu todos os homens que pertenciam a Coré, Datã e Abirão e todos os seus bens. Portanto eles e tudo quanto lhes pertencia desceram vivos ao abismo (versículos 32-33).

As portas do inferno não prevalecerão contra a igreja, mas um espírito rebelde abre suas portas. Um dos motivos por que a igreja às vezes não prevalece é a presença da rebeldia. A terra não abrirá sua boca se não houver um espírito rebelde.

Todos os pecados libertam o poder da morte, mas o pecado da rebeldia é o principal. Só os obedientes podem fechar as portas do inferno e produzir vida.

Os obedientes seguem a fé, não a razão.

Para os israelitas a queixa de que Moisés não os tinha levado para uma terra que mana leite e mel, nem lhes tinha dado uma herança de campos e vinhas, não era sem motivos.

Continuavam no deserto e ainda não tinham entrado na terra do leite e mel. Mas, por favor, observe; aquele que anda segundo a razão e a vista segue o caminho da razão; só aquele que obedece à autoridade entra em Canaã pela fé.

Ninguém que segue a razão pode andar pelo caminho espiritual, porque está além e acima do raciocínio humano.Só o fiel pode desfrutar de abundância espiritual, aquele que pela fé aceita a coluna de nuvem e de fogo e a liderança de autoridade delegada por Deus como a representada por Moisés, A terra abre sua boca para apressar a queda dos desobedientes no Sheol, pois estão viajando pelo caminho da morte.

Os olhos dos desobedientes são bastante vivos, mas, que pena! Tudo o que vêem é a esterilidade do deserto.Embora os que prosseguem pela fé possam parecer cegos, pois não percebem a esterilidade diante deles, os olhos de sua fé vêem a promessa melhor que jaz adiante. E assim entram em Canaã.

Portanto, os homens deveriam ficar sob a restrição da autoridade de Deus a aprender a seguir a autoridade delegada por Deus.

Resumindo, então, a autoridade não é um assunto de instrução externa mas uma revelação interna.

A rebeldia é contagiosa. Há dois exemplos de rebeldia em Números 16. Do versículo 1 ao versículo 40 os líderes se rebelaram; do versículo 41 ao versículo 50 toda a congregação se rebelou.

O espírito de rebeldia é muito contagioso. O julgamento dos duzentos e cinquenta líderes que ofereceram incenso não deteve toda a congregação. Continuou rebelde, declarando que Moisés matara seus líderes. Mas Moisés e Arão não podiam ordenar à terra que abrisse a sua boca! Fora ordem de Deus.

Moisés não podia invocar fogo para consumir o povo! O fogo veio do Senhor Deus. Os olhos humanos só vêem os homens; não sabem que a autoridade vem de Deus.

Tais pessoas são tão atrevidas que não temem mesmo quando presenciam o juízo. Como é perigoso ignorar a autoridade.

Quando toda a congregação se reuniu contra Moisés e Arão, a glória do Senhor apareceu. Isto foi prova de que a autoridade pertencia a Deus. Deus se apresentou para executar o juízo. Começou uma praga e quatorze mil e setecentas pessoas morreram por causa da praga.

No meio disso, a percepção espiritual de Moisés tornou-se mais aguda; imediatamente pediu a Arão que tomasse o seu incensário e o acendesse no altar e que colocasse incenso nele, levando-o rapidamente à congregação para fazer expiação pelo povo.

E enquanto Arão se colocou entre os mortos e os vivos, a praga foi interrompida. Deus ignorou suas murmurações no deserto dez vezes, mas não permitiria que resistissem à sua autoridade.

Muitos pecados Deus pode suportar e ignorar, mas a rebeldia ele não permite, porque a rebeldia é o princípio da morte, o princípio de Satanás. Portanto, o pecado da rebeldia, é mais sério do que qualquer outro pecado.Sempre quando o homem resiste à autoridade, Deus julga imediatamente. Que coisa solene!”


Nota: Este texto é atribuído a Watchman Nee (1903-1972). Há diversos livros com coletâneas de textos atribuídos a ele.  Há pontos doutrinários heréticos em alguns textos atribuídos a Watchman Nee. Porém, não sabemos se, de fato, foi ele quem defendeu tais ensinos.


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