A Parábola das Dez Minas

Quando Jesus voltar para estabelecer seu reino, haverá recompensas para seus fiéis seguidores e rejeição para os falsos seguidores e inimigos. Cada pessoa estará em uma dessas três categorias. Os seguidores fiéis são recompensados com graças espirituais e privilégios para sempre. O dia virá em que os falsos seguidores serão desmascarados e todas as suas pretensões frágeis serão revelados para juízo. O Senhor vai rejeitá-los e sentenciá-los a perecer eternamente com os seus inimigos.

Jesus falou em parábolas para transmitir verdades por analogias, ilustrações e histórias que eram familiares para as pessoas daquela época. Ele extraiu as histórias da vida cotidiana, de costumes, tradições, empreendimentos sociais, da agricultura etc. Em Lucas 19:11-27 diz:

Lucas 19
11 Ouvindo eles estas coisas, Jesus propôs uma parábola, visto estar perto de Jerusalém e lhes parecer que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente.
12 Então, disse: Certo homem nobre partiu para uma terra distante, com o fim de tomar posse de um reino e voltar.
13 Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu volte.
14 Mas os seus concidadãos o odiavam e enviaram após ele uma embaixada, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós.
15 Quando ele voltou, depois de haver tomado posse do reino, mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber que negócio cada um teria conseguido.
16 Compareceu o primeiro e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez.
17 Respondeu-lhe o senhor: Muito bem, servo bom; porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades.
18 Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco.
19 A este disse: Terás autoridade sobre cinco cidades.
20 Veio, então, outro, dizendo: Eis aqui, senhor, a tua mina, que eu guardei embrulhada num lenço.
21 Pois tive medo de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste.
22 Respondeu-lhe: Servo mau, por tua própria boca te condenarei. Sabias que eu sou homem rigoroso, que tiro o que não pus e ceifo o que não semeei;
23 por que não puseste o meu dinheiro no banco? E, então, na minha vinda, o receberia com juros.
24 E disse aos que o assistiam: Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem as dez.
25 Eles ponderaram: Senhor, ele já tem dez.
26 Pois eu vos declaro: a todo o que tem dar-se-lhe-á; mas ao que não tem, o que tem lhe será tirado.
27 Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e executai-os na minha presença.

É uma história fascinante. Ela é muito familiar para nós porque soa como a parábola dos talentos (Mt 25:14-30). Mas é uma ocasião diferente, um local diferente, uma história diferente com uma aplicação diferente, embora haja algumas semelhanças.

Jesus falou a parábola das dez minas na estrada de Jericó para Jerusalém. Alguns dias depois, no meio da semana santa, Jesus contou a parábola dos talentos. Não podemos misturar essas histórias.

Na parábola das dez minas, Jesus diz que um nobre partiu para um lugar distante para tomar posse de um reino, ou seja, para que uma autoridade maior que ele lhe concedesse um reino. Esse reino será o próprio país de onde ele está partindo.

Durante sua ausência, ele deu a seus servos uma certa quantia de dinheiro e esperava que eles fizessem bons negócios e ganhassem lucros com seus esforços. Esse servos poderiam demonstrar amor e respeito por seu senhor, provando a confiabilidade deles. Quando o nobre voltasse já como rei, ele avaliaria o que todos fizeram.

Muitos daqueles servos o odiavam e não o queriam como rei. Eles enviaram uma delegação implorando ao rei superior para não fazer daquele nobre um rei sobre eles. E, então, quando o nobre retornou, ele encontra três grupos de pessoas:

1) Aqueles que fizeram o que deveriam fazer: esses foram recompensados.
2) Aqueles que não fizeram o que deveriam fazer: esses foram rejeitados.
3) Aqueles que o odiavam: esses foram destruídos.

Todos nós estamos nessa história. Existem apenas três possibilidades: Ou você é um verdadeiro servo do Rei; ou um falso servo do Rei; ou você é seu inimigo. Não há outras categorias. É uma parábola que abrange toda a humanidade.

Por que essa história era familiar aos judeus?

Reis com autoridade para julgar, punir e recompensar seus servos ou escravos era algo muito comum naquele contexto histórico, ainda mais como esses reis ganhavam reinos para governar.

Assim como em outros lugares, Roma governava as terras de Israel, que era um país ocupado sob o poder, autoridade e tributação de César, com presença de tropas romanas para garantir a autoridade romana lá. O rei supremo era César, portando ele era o rei supremo em Israel.

Em razão da grande extensão de terras que dominava, Roma buscava nomear autoridades locais habituadas com a cultura, costumes e tradições das sociedades, cujas terras estavam ocupadas. E foi exatamente assim com Israel.

Os reis que governavam em Israel não eram romanos ou judeus, mas idumeus (edomitas, povo descendente de Esaú), da família chamada Herodes. O mais notável e o primeiro deles se chamava Herodes, o Grande.

No ano 40 a.C., de acordo com o historiador Flávio Josefo (37 d.C. – 100 d.C.), Herodes, o Grande, foi a Roma para garantir para si a monarquia em Israel. Ele negociou com Marco Antônio para lhe conceder o direito de governar em Israel. Ele recebeu esse direito. E ele governou até morrer em 4 a.C.

Após sua morte, em seu testamento, seu reino seria dividido em três partes e dado a três de seus filhos. Cada um desses filhos imediatamente assumiu a autoridade e o reino foi dividido em termos de governo. O filho que recebeu a Judeia, que incluía Jerusalém e Jericó, foi chamado de Herodes Arquelau.

Segundo o historiador Flávio Josefo, Herodes Arquelau (23 a.C. – 18 d.C.) foi rei da Judeia, Idumeia e Samaria durante dez anos. Conforme Mateus 2:19 a 22, após a morte de seu pai, Herodes, o Grande, o mesmo que mandou matar as crianças em Belém (Mt 2:16-18), ele se tornou rei em seu lugar.

Após a volta de Jesus e seus pais do Egito, Deus orientou a José a levar Jesus e Maria para viver na Galileia, pois o perverso Herodes Arquelau estava governando a Judeia (Mt 2:22).

Arquelau havia feito muitas obras, inclusive construiu um palácio em Jericó. Quando Jesus falou a parábola das dez minas, ele havia saído de Jericó, onde curou dois cegos (Lc 18:35-43; Mt 20:29-34) e salvou Zaqueu (Lc 19:1-10), e estava na estrada subindo para Jerusalém. Por onde se andava, via-se marcas de obras deixadas por Herodes Arquelau.

E o que Herodes Arquelau tem de similar com a parábola das dez minas? Quando seu pai morreu, ele havia ido a Roma para receber o direito de governar. Os judeus o odiava por causa de suas perversidades.

Tal como na parábola das dez minas, os judeus enviaram delegações até Roma apelando a César para que não concedesse o reino a Arquelau, pois ele era odiado pelo povo. Mas Arquelau recebeu o reino. Quando ele retornou para reinar, a maioria do povo o odiava. Portanto a parábola das dez minas refletia uma realidade conhecida dos judeus.

O propósito da parábola das dez minas

Antes de começar a relatar a parábola, Lucas escreveu: “Ouvindo eles estas coisas, Jesus propôs uma parábola, visto estar perto de Jerusalém e lhes parecer que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente” (Lc 19:11). Temos aqui algumas informações importantes:

1) “Ouvindo eles estas coisas…”. Que coisas Lucas está falando? Ele se refere ao que Jesus disse após a salvação de Zaqueu: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lc 19:10). Jesus quis dizer que ele veio pela primeira vez para fazer a obra de salvação. Esse foi seu ministério aqui na terra.

2) “…Jesus propôs uma parábola, visto estar perto de Jerusalém e lhes parecer que o reino de Deus havia de manifestar-se imediatamente”. Os discípulos estavam na expectativa de um imediato reino messiânico mundial de Jesus a partir de Jerusalém. Jesus sabia que eles estavam pensando isso enquanto caminhavam para Jerusalém.

Eles foram ensinados que o Messias viria para consumar imediatamente as alianças abraâmica e davídica, estabelecendo o reino terrestre. Mas Jesus estava dizendo, em outras palavras: “Antes de eu vir para estabelecer o reino, devo fazer uma obra de salvação”.

Ele veio primeiro como Salvador. Ele não estava ali para derrubar Roma, estabelecer seu reino mundial de justiça a partir de Jerusalém e corrigir todos os erros. A parábola das dez minas trata exatamente desse reino futuro na sua volta.

Mas na sua primeira vinda ele não veio para fazer isso, mas para salvar, realizar a obra da salvação. Ele veio para oferecer salvação a todos os que experimentasse um verdadeiro arrependimento. Ele veio na primeira vez para cumprir o propósito de Deus em sua obra redentora.

Suas histórias eram sempre sobre salvação: ovelha perdida, moeda perdida, filho perdido, o mendigo e desprezado Lázaro amado por Deus. Temos diversos casos como a salvação do leproso, de um publicano, de dois cegos e de um desprezado cobrador de impostos chamado Zaqueu.

Eram sempre histórias sobre salvação e eventos sobre evangelismo que terminavam em salvação. Na sua primeira vinda tudo apontava para o estabelecimento de um reino interno. Jesus disse: “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17:20-21). Em sua primeira vinda Jesus veio para buscar e salvar os perdidos.

Mas ele voltará um dia com o direito de governar com uma vara de ferro (Sl 2:7-9). Ele voltará para estabelecer seu reino milenar na terra, quando, segundo os profetas, renovará a Terra, transformará o deserto em um jardim e mudará o reino animal. Ele reinará com justiça, retidão, paz e alegria.

Apocalipse 11:15 diz que, ao soar a sétima trombeta, “o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11:15). Ele voltará como como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19:16). E Filipenses 2:10 diz que todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor.

A expectativa judaica era um reino messiânico terreno na primeira vinda do Messias. E quanto mais Jesus se aproximava de Jerusalém, os discípulos se enchiam de expectativas de que o grande dia havia chegado.

Eles estavam pensando que o reino de Deus iria aparecer imediatamente, ainda mais quando viram a sua entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mc 11:1-11) Foi o que eles pensaram, apesar do que Jesus dizia a eles naquela caminhada para Jerusalém:

Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10:45)

Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas; condená-lo-ão à morte e o entregarão aos gentios; hão de escarnecê-lo, cuspir nele, açoitá-lo e matá-lo; mas, depois de três dias, ressuscitará (Mc 10:33-34)

Mesmo na sua ascensão, os apóstolos questionaram: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1:8). Tal como o nobre, Jesus tinha que ir a um lugar distante, algo que implica um tempo, conforme a parábola das dez minas.

O Senhor lhes respondeu quando o reino viria: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade” (At 1:7). Ele afirmou que viria, mas o tempo é aquele estabelecido dos planos eternos do Pai.

Eles entenderam bem as profecias do Antigo Testamento sobre o reino futuro. Mas eles perderam a parte sobre a cruz (Is 53, Sl 22 etc.) e da ressureição (Sl 16). Eles perderam todo o significado do sistema sacrificial e do Cordeiro final que tiraria o pecado.

A viagem do nobre para receber o reino

Lucas 19
12 Então, disse: Certo homem nobre partiu para uma terra distante, com o fim de tomar posse de um reino e voltar.

A expressão grega traduzida como “homem nobre” tem o sentido de “homem de nobre nascimento”, algo muito apropriado para se referir a Jesus, ele é o Filho de Deus encarnado, não há ninguém com nascimento mais elevado que o dele. 

O nobre  iria partir para uma terra distante e receber de uma autoridade suprema um reino para si mesmo. Como vimos, isso era algo muito compreensível pelos judeus, pois era um fato comum durante a dominação romana.

E assim é que o Senhor, em sua ascensão, é levado pelo Pai, sentou-se à sua direita e foi coroado. Ele está agora na posição de sua coroação e retornará para reinar no trono de Davi.

Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2:9-11).

O nobre confia dez minas a seus servos

Lucas 19
13 Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu volte.

E quando o nobre retornar para reinar, todos serão responsáveis perante ele. Os servos sabiam disso. É isso que significa ser rei. O nobre confiou dez minas a seus servos, uma para cada servo, e disse: “Negociai até que eu volte”. Cada mina equivalia a cerca de três meses de salário.

Jesus se referia àqueles que professavam segui-lo. Ele tinha uma grande multidão que o seguia. Alguns eram apóstolos, outros eram meramente curiosos, alguns se declaravam seguidores dele e alguns eram inimigos.

A palavra grega traduzida como “servos” quer dizer literalmente “escravos”. Não tinha o sentido de pessoas sendo abusadas e espancadas. Essa palavra tinha um significado amplo. Poderia se referir a um funcionário muito confiável que recebia alta responsabilidade. E é exatamente isso que significa nesta parábola.

O nobre deu uma quantia e disse a seus servos para negociarem e aumentarem o valor. Os servos confiáveis, que desejavam honrar seu senhor, teriam compromisso com seu dever. Era um dever e ao mesmo tempo um privilégio do servo. O comportamento do servo indicaria seu amor, respeito e desejo de honrar o nobre.

Naquele grupo havia três tipos de pessoas, mas apenas dois tipos de servos: os fiéis e os falsos. Todos eles pertenciam ao seu reino.

Jesus escolheu cuidadosamente as palavras quando disse: “seus concidadãos o odiavam e enviaram após ele uma embaixada, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19:14).

Alguém pode odiar e rejeitar Cristo, mas ele continua sendo soberano. Alguém pode ignorá-lo, ser um ateu ou então seguir uma religião anticristã, mas Jesus continua soberano. Ele criou tudo e tudo é dele. Rejeitar a Cristo não altera sua soberania absoluta sobre tudo e sobre todos.

Na história nada indica que eles tinham motivo para odiar o nobre. Eles o odiavam sem razão. Lembre-se do que Jesus disse:

Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai. Isto, porém, é para que se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo (Jo 15:24-25).

O ódio que os judeus tinham para com o perverso Herodes Arquelau tinha um motivo. Mas a atitude deles para com Jesus era maligna. Enquanto Arquelau massacrou 3.000 judeus de uma vez, no dia de Pentecostes 3.000 foram salvos para a vida eterna. Rejeitar Arquelau era razoável, mas quanto a Jesus é uma blasfêmia.

Assim como os judeus não puderam impedir Arquelau de assumir o trono, ninguém jamais poderá impedir Jesus de receber o reino. Ele voltará, e “no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores” (Ap 19:16). Todos que odeiam Jesus Cristo e rejeitam o evangelho, o enfrentarão como rei, juiz e carrasco.

A volta do nobre e a recompensa dos servos fiéis

Lucas 19
15 Quando ele voltou, depois de haver tomado posse do reino, mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber que negócio cada um teria conseguido.

Agora nos movemos na história para a segunda vinda de Cristo, quando ele voltará para estabelecer seu reino. Depois de receber o reino, ele voltará e conheceremos a glória daquela imagem em Apocalipse 19:

E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça. E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo. E estava vestido de veste tingida em sangue; e o nome pelo qual se chama é A Palavra de Deus. E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso. E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores (Ap 19:11-16).

Haverá uma recompensa gloriosa para os servos fiéis, tal como vemos espelhado na parábola das dez minas.

Lucas 19
16 Compareceu o primeiro e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez.
17 Respondeu-lhe o senhor: Muito bem, servo bom; porque foste fiel no pouco, terás autoridade sobre dez cidades.
18 Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco.
19 A este disse: Terás autoridade sobre cinco cidades.

A recompensa é incomparavelmente maior do que o valor das minas que lhes foram confiadas. As recompensas foram proporcionais à diligência de cada servo: o que apresentou dez minhas ganhou autoridade sobre dez cidades e o que apresentou cinco minas ganhou autoridade sobre cinco cidades.

Cada servo recebeu o equivalente a 3 meses de salário, e pela fidelidade demonstrada se tornaram corregentes com o rei em cidades, uma recompensa incomparavelmente superior ao que receberam para negociar. Uma figura exata do que acontecerá quando Cristo voltar e estabelecer seu reino milenar.

Em outras palavras ele disse: “Muito bem, servo bom, você pegou o que eu lhe dei, que por si só tem o poder de crescer e se multiplicar, e devolveu muito mais”.

Isso é sobre viver sua vida cristã com confiança, pegando a verdade, o poder do Espírito, oportunidades espirituais, dons espirituais, privilégios espirituais e tudo o que o Senhor coloca em sua vida, para maximizar tudo para sua honra e sua glória.

Há o que conseguiu dez minas e outro que conseguiu cinco minas com o mesmo valor recebido. Nem todos têm as mesmas oportunidades e os mesmos dons. Mas os que possuem relativamente poucos dons e oportunidades são tão responsáveis por usá-los com fidelidade quanto os que recebem muito mais.

As recompensas foram proporcionais à diligência de cada servo: o que trouxe dez minhas ganhou autoridade sobre dez cidades, o que trouxe cinco minas ganhou cinco cidades.

Os santos ajudarão Cristo a julgar o mundo (1Co 6:2). Isso ocorrerá durante o reino milenar (Ap 2:26-27; 3:21; cf. Dn 7.22). Os santos também julgarão os anjos (1Co 6:3). A palavra grega traduzida como “julgar” também pode significar “dominar ou governar”.

O próprio Senhor julgará os anjos caídos (2Pe 2.4; Jd 6). Provavelmente, na eternidade, os santos terão um certo domínio sobre os santos anjos. Posto que os anjos são “espíritos ministradores” para servir aos santos (Hb 1:14), parece razoável que eles nos servirão na glória.

Quando Jesus voltar em glória para se assentar no trono da sua glória, os doze apóstolos assentarão em doze tronos para julgar (governar) as doze tribos de Israel (Mt 19:28; Lc 20:30). É uma referência ao reino terreno descrito em Apocalipse 20:1-15, quando os crentes se assentarão com Cristo em tronos (Ap 3.21).

No futuro, quando Jesus voltar, no final da grande tribulação, haverá um tempo de galardoar os fiéis. Paulo chama isso de Julgamento “Bema”. Ele diz:

Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo (1Co 3:11-15).

Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim mesmo. Porque de nada me argui a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus (1Co 4: 3-5).

Está chegando uma gloriosa recompensa futura para os fiéis, quando o Senhor derramará generosamente sobre nós mais do que podemos imaginar. É por isso que diz: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co 2:9).

O desprezo do servo mau

Lucas 19
20 Veio, então, outro, dizendo: Eis aqui, senhor, a tua mina, que eu guardei embrulhada num lenço.
21 Pois tive medo de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste.

Passamos do servo fiel para o falso. O texto começa dizendo: “Veio, então, outro, dizendo…”. A palavra grega traduzida por “outro” é “ὁ ἕτερος” (heteros), que significa diferente e heterodoxo. Veio então um tipo diferente de pessoa do servo fiel, que engloba tanto aqueles que não fizeram o que deveriam fazer, como aqueles que odiavam o nobre e novo rei.

O que ele disse: “Eis aqui, senhor, a tua mina, que eu guardei embrulhada num lenço”. De acordo com os rabinos, essa era uma atitude de alguém muito descuidado. Não se colocava algo de valor em um lenço, mas se enterrava. Ele não é apenas descuidado, é inútil.

Ele não tinha qualquer interesse em honrar o nobre e agradá-lo. Ele diz: “tive medo de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste”. A palavra grega traduzida como “rigoroso” tem o sentido de severo, duro, descortês, injusto ou intransigente.

Ele foi tomado por um medo motivado pela covardia, não pelo amor ou reverência. Era uma atitude de desprezo pelo nobre. Se ele tivesse qualquer consideração verdadeira, um “medo” justo teria gerado diligência, e não indolência.

O servo perverso quis dizer: “Eu guardei sua mina em um lenço porque eu realmente não gosto de você, porque você é um ladrão que quer usufruir colheita onde não trabalhou para plantar. Você quer que os outros trabalhem para você usurpar todo o lucro”.

Ele é a figura do falso seguidor de Jesus, um tipo de Judas, alguém que nunca quis um relacionamento real com Ele. Mas ele se justifica culpando o rei e não a si mesmo. Ele acusa o rei de injusto e egoísta.

Lucas 19
22 Respondeu-lhe: Servo mau, por tua própria boca te condenarei. Sabias que eu sou homem rigoroso, que tiro o que não pus e ceifo o que não semeei;
23 por que não puseste o meu dinheiro no banco? E, então, na minha vinda, o receberia com juros.

A palavra grega traduzida como “banco” significa “mesa”. Ele deveria ter colocado o valor na mesa do credor, esse emprestava o dinheiro a outra pessoa que lhe pagava juros, então o credor compartilhava parte dos juros com quem colocou o valor na sua mesa. É assim que um banco funciona até hoje.

O nobre quis dizer: “Se você realmente tivesse a mínima preocupação comigo ou mesmo medo de mim, você teria feito assim”.

Mas, a verdade é que a indiferença moveu o servo mau, tudo que ele falou foi apenas para camuflar a verdade. E a coisa mais fácil a fazer era guardar a mina em um lenço e seguir com sua vida. Ele não tinha qualquer interesse em servir o nobre.

O servo inútil representa as pessoas que se dizem seguidores de Cristo, estão envolvidos com a igreja, cercadas pelos privilégios e verdade do evangelho, e até mesmo fazem uma profissão de fé. Entretanto, na realidade, eles estão ali apenas em função de seus próprios propósitos e objetivos egoístas, e não têm nenhum relacionamento com o Senhor.

As igrejas estão cheias de pessoas exatamente assim. Elas fingem que são servos do Rei que está vindo, mas quando a verdade é conhecida, elas não fazem nada com as oportunidades espirituais e os privilégios que estão disponíveis para elas.

Elas não amam o Rei, não confiam nele, não têm amor por ele e não têm desejo de honrá-lo e respeitá-lo. São indiferentes, mas superficialmente se associam à igreja para que possam ganhar alguma coisa que estejam buscando.

O servo mau é despojado de tudo em favor do servo fiel

Lucas 19
24 E disse aos que o assistiam: Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem as dez.
25 Eles ponderaram: Senhor, ele já tem dez.
26 Pois eu vos declaro: a todo o que tem dar-se-lhe-á; mas ao que não tem, o que tem lhe será tirado.

Vocês entendeu? Não importa o quanto você tenha, você vai ganhar mais. É assim que a graça opera. Ela nunca para, nunca cessa, é pródiga, é imortal, é interminável, não diminui. Você não entende que isso é sobre graça?

O Senhor deu uma mina no começo e deu tudo que era necessário para que a mina se multiplicasse. E agora ele vai ao servo fiel e derrama mais recompensa. É assim que a graça opera. Ele não merecia a primeira coisa que lhe foi dada, porém mais recompensas foram acrescentadas. É assim que a graça opera.

Mas por outro lado, no meio do versículo 26: “Daquele que não tem, até o que ele tem lhe será tirado.” Ele é despojado de toda sua pretensão egoísta. Tudo o que era potencialmente seu lhe foi tirado. Ele foi despojado de tudo e perdeu tudo.

Foi-lhe tirado a oportunidade, o privilégio, a posição etc. Ele se tornou um desperdício eterno, sem valor. Essa é a terrível realidade das pessoas que têm contato com as verdades eternas e professam algo que não é verdadeiro, no final lhe restará ser despojada de tudo.

O terrível juízo sobre o servo mau

Lucas 19
27 Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e executai-os na minha presença.

Apesar das reivindicações do mau servo, ele vai ouvir da própria boca de Cristo, o pronunciamento chocante e assustador de sua condenação eterna: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7:23).

A grande lição da história

A lição da história é clara: Quando Jesus voltar para estabelecer seu reino, haverá recompensas para seus fiéis seguidores e rejeição para os falsos seguidores e inimigos. Cada pessoa estará em uma dessas três categorias.

Os seguidores fiéis são recompensados com graças espirituais e privilégios para sempre. O dia virá em que os falsos seguidores serão desmascarados e todas as suas pretensões frágeis serão revelados para juízo. O Senhor vai rejeitá-los e sentenciá-los a perecer eternamente com os seus inimigos.

Você está entre os fiéis, os falsos ou os inimigos? Mas, em qualquer caso, Jesus é seu Senhor, pois é o Rei do universo e de toda a humanidade. Ele é o Rei de cada alma, e cada joelho se dobrará perante ele (Fp 2:11).

Se alguém estiver se escondendo no meio da igreja para camuflar sua situação de falso servo, chegará o dia em que será desmascarado e sua vida tornará um desperdício eterno, e será enviado para perecer junto os inimigos de Cristo. Pense nisso. Vamos orar.

Pai, nós Te agradecemos pela maneira como retrataste a verdade espiritual. É tão óbvio que este livro é divino. Seus relatos são simplesmente impressionantes. Oh Deus, como eu oro para que cada um de nós aqui tenha certeza agora mesmo de qual grupo estamos e tomemos os passos necessários se estivermos entre os falsos ou os inimigos para correr para Cristo.

Pai, nós Te agradecemos por Tua graça e Tua generosidade para conosco. Nós Te damos honra com alegria. Recebemos esses presentes sabendo que não os merecemos. Faça tua obra em cada coração, Senhor. Que possamos pegar o que ouvimos hoje e espalhar fielmente para aqueles que precisam ouvir, em nome de Cristo. Amém.


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Este texto é uma síntese do sermão “Fitting Rewards from the Returning King ”, de John MacArthur em 15/04/2007.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/42-240/fitting-rewards-from-the-returning-king

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno


 

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