A Fragilidade da Fé Moderna

Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude (2 Pedro 1:3)

Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra. (2 Coríntios 9:8)

Em uma noite gelada, com queda de neve, um pastor, que estava hospedado na casa de uma família, fez uma pequena viagem para pregar num povoado distante. Após retornar no início da madrugada, ter despedido o irmão que o trouxe, não foi atendido na porta após bater insistentemente. Lembrou que havia um hotel a 3 quilômetros dali, era sua única chance de telefonar para os anfitriões.

A caminhada foi árdua e quase ceifou sua vida, após uma queda que o fez mergulhar em um lago quase congelado. Após muito tempo conseguiu chegar ao hotel e telefonar para o casal. Seu anfitrião disse: “Amado irmão, não lembra que te entreguei uma chave da casa e que você a colocou dentro de seu paletó?”.

Esse fato estranho ilustra como muitos cristãos estão em busca de bênçãos espirituais por meios humanos, quando possuem Cristo, a chave para todo tipo de bênção espiritual. Ele preenche os anseios mais profundos de nossos corações e supre todos os recursos espirituais que necessitamos.

Cristo é a essência de tudo que é espiritual. Mesmo para o novo convertido, Ele é tudo que precisamos para enfrentar qualquer provação, qualquer tentação e qualquer dificuldade nesta vida.

  • Desde o momento da salvação, cada crente está em Cristo (2 Co. 5:17)
  • Cristo está no crente (Cl. 1:27)
  • O Espírito Santo habita no crente (Rm. 8:9)
  • O crente é santuário do Espírito Santo (1 Co. 6:19)

Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. (João 1:16)

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo. (Efésios 1:3)

Cada cristão é um depósito de riquezas divinamente outorgadas. Buscar algo a mais através de experiências místicas, sabedoria humana e outros meios é como bater freneticamente e inutilmente numa porta, à procura de algo que está lá dentro, sem perceber que já temos a chave.

Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo. (2 Coríntios 11:3)

Satanás sempre procura enganar os cristãos, conduzindo para longe da pureza e simplicidade encontradas em Cristo, que é todo-suficiente. E sempre encontra pessoas dispostas a renegar a verdade em troca de praticamente qualquer coisa nova e incomum.

Invasão do Gnosticismo na igreja primitiva

O Gnosticismo foi a heresia mais perigosa que ameaçou a igreja primitiva durante os primeiros três séculos. Influenciado por filósofos como Platão, o Gnosticismo é baseado em premissas falsas, tais como:

1) Sustenta um dualismo em relação ao espírito e à matéria. Os gnósticos acreditam que a matéria seja essencialmente perversa e que o espírito seja bom. Como resultado disso, os gnósticos acreditam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não tem valor algum, porque a vida verdadeira existe no reino espiritual apenas.

2) Os gnósticos acreditam que possuem um conhecimento elevado, uma “verdade superior”, conhecida apenas por poucos. Esse tal conhecimento alegado por eles não vem da Bíblia, mas adquirido em algum plano místico e superior de existência. Os gnósticos se enxergam como uma classe privilegiada e mais elevada sobre todas as outras, devido ao seu conhecimento superior e mais profundo de Deus.

3) Os gnósticos acreditam que o corpo físico de Jesus Cristo não era real, mas apenas “aparentava” ser físico e que o seu espírito descera sobre Ele no seu batismo e o abandonara bem antes de sua crucificação.

A heresia do gnosticismo é um ataque contra a suficiência de Cristo e estimulou a igreja a buscar conhecimento oculto, além daquele que Deus revelou em sua Palavra e através de seu Filho. A maioria das epístolas do Novo Testamento combate de forma clara a heresia gnóstica.

Colossenses 2
2…e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo,
3 em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos.
4 Assim digo para que ninguém vos engane com raciocínios falazes.
8 Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo;
9 porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade.
10 Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade.

O ataque Neognóstico à Igreja atual

O gnosticismo nunca morreu e atacou a igreja durante toda sua história. A igreja atual tem tolerado doutrinas imprecisas e uma falta de compreensão exata do sentido do texto bíblico. A igreja tem se tornado negligente e atordoada quanto à verdade bíblica, resultando em busca pelo conhecimento oculto. Isso é o neognosticismo.

Os traços principais desse neognosticismo são:

1. Psicologia

Nada define melhor o neognosticismo do que a fascinação da igreja pela psicologia humanista. O neognósticos querem fazer crer que compartilhar a Palavra e orar com alguém que está com suas emoções feridas é superficial e insuficiente.

Para eles, somente os especialistas em psicologia, os que possuem conhecimento secreto, estão devidamente qualificados para ajudar pessoas com problemas espirituais e emocionais profundos. Isso tem causado profundos danos à igreja.

A psicologia estuda o comportamento humano, mas sem compreender a realidade da alma humana. Porém, as teorias populares da psicologia secular invadiram a igreja, fazendo com que entendimentos ateístas tomem conta de ministérios. Assim, os problemas emocionais não são mais vistos como relacionados à esfera física e espiritual.

Os pastores e lideranças travestidos de “psicólogos cristãos” se tornaram referências de aconselhamento nas igrejas. A igreja é convencida de que alguém só está apto a aconselhar se tiver passado por um prévio treinamento formal em técnicas psicológicas de aconselhamento.

E qual o resultado disso? A suficiência de Cristo é vista como uma doutrina vazia e perigosa. Mas, na verdade, vazio e terrivelmente nocivo é crer que qualquer problema está além do alcance das Escrituras Sagradas e que não pode ser resolvido pelas riquezas espirituais existentes em Cristo.

2. Pragmatismo

O fim justifica os meios? Boa parte da igreja evangélica tem crido que sim. No desejo de atrair pessoas, muitas igrejas têm oferecido tudo, menos a pura Palavra de Deus.

Biblicamente, a igreja deve se reunir para adorar, orar, ser edificada e ter comunhão, para que possa sair para evangelizar os incrédulos. Mas o pragmatismo transformou as reuniões da igreja em lugar de entreter os incrédulos, tentando fazer o Evangelho ser mais palatável para eles.

Técnicas, métodos, programas inovadores e outros recursos são empregados para atrair pessoas sem incomodar seus pensamentos. A pregação bíblica cede espaço para assuntos diversos, que são devidamente adocicados para os ouvintes.

A conclusão desse pragmatismo é de que a igreja pode alcançar resultados espirituais por meio de metodologia humana, e não por meio do poder da Palavra de Deus. Tudo isso levar muitos a concluir que as técnicas artificiais e as estratégias humanas são vitais para igreja, em detrimento da Palavra Deus.

É mais uma vez a negação da suficiência de Cristo. A igreja passa a depender de estratégias persuasivas em vez de se concentrar precisamente na única mensagem que ela foi chamada a proclamar com pureza, exatidão e através do poder do Espírito Santo.

3. Misticismo

O misticismo é a crença de que a realidade espiritual é perceptível fora da esfera do intelecto humano e dos sentidos naturais. Ele busca a verdade internamente, valorizando os sentimentos, intuição e outra sensações interiores, mais do que os dados externos, objetivos e observáveis.

O misticismo fundamenta sua autoridade em uma luz no interior do indivíduo, e tal autoridade é autenticada por ele mesmo. Sua fonte da verdade é o sentimento espontâneo. É algo irracional, totalmente contrário a fé cristã, mas que tem se infiltrado na igreja.

O misticismo “cristão” mina a integridade e autoridade da Palavra de Deus, sugerindo que a experiência pessoal deve ser buscada mais do que a compreensão das Escrituras Sagradas. E faz das “revelações” e opiniões particulares meios equivalentes à autoridade bíblica. Assim, a glória de Deus é substituída pela exaltação de homens que fazem nada mais que induzir as pessoas ao erro.

Esse misticismo dentro da igreja tem produzido aberrações, mentiras, enganos, falsidades e heresias. O avivamento gnóstico está assolando a igreja e minando a fé na suficiência de Cristo.

Como os cristãos podem aceitar a ideia de que precisam de algo mais além de Cristo? Será que o dom da salvação é deficitário? Será que Cristo é inadequado? Será que não entendem em qual posição Cristo nos colocou e nos sustenta lá? Será que não conseguem entender a inestimável riqueza que temos em Cristo?

O neognosticismo é uma ameaça de muito maior alcance do que o gnosticismo combatido pelos apóstolos e pais da igreja nos primeiros séculos. O que devemos fazer? O mesmo que os apóstolos fizeram: proclamar a suficiência de Cristo. Não podemos negligenciar e deixar de proclamar o tesouro indescritível que temos em Cristo, para ocupar uma posição de colecionadores de lixo deste mundo.

… para que possais conhecer perfeitamente o mistério de Deus, a saber, Cristo. Nele estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:2-3)


John MacArthur
Sintetizado de um trecho do livro “Nossa Suficiência em Cristo”, John MacArthur, Editoria Fiel


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