A Aliança Abraâmica
A promessa salvadora de Deus é que tudo aconteceria através de Israel. Pelos judeus vieram: a lei, as alianças, as promessas, quase toda a Bíblia, os profetas, os apóstolos, o Messias, a primeira geração da igreja etc.Tudo passou pelos judeus. É por isso que Jesus disse: “A salvação vem dos judeus” (João 4:22).
Continuamos hoje nossa trilha no Evangelho de Lucas. Temos olhado para o cântico de Zacarias (Lucas 1:67-80). No último sermão vimos Zacarias, referindo-se a Jesus, tratando da Aliança Davídica, agora vamos ver ele se referindo à Aliança Abraâmica.
Lucas conta a história de Jesus. Ele começa seu evangelho de onde a história realmente começa: quando Deus invade a história humana enviando o anjo Gabriel para anunciar a um velho sacerdote, chamado Zacarias, que ele e sua idosa esposa gerariam um filho. A palavra do anjo se cumpriu e Isabel concebeu e deu à luz um filho chamado João, que seria o precursor do Messias.
Ao mesmo tempo o anjo Gabriel visita uma jovem, com cerca de 13 anos de idade, chamada Maria. E anunciou um segundo milagre: a concepção de Jesus no ventre de Maria pelo Espírito Santo. Ela teria um filho enquanto era virgem. Essa criança não seria apenas um profeta qualquer, mas o Messias, o Filho de Deus, o Salvador do mundo.
Com estas grandes histórias, Lucas começou a falar da vinda do Messias, do Salvador, do Senhor Jesus Cristo. Ele relatou o cântico de Maria, o nascimento de João Batista, o cântico de Zacarias e, no capítulo 2, o nascimento de Jesus de Cristo. A história redentora estava atingindo seu ponto mais alto.
Por que Deus criou o universo? Por que ele criou o homem? Por que o pecado entrou na mundo?
Deus criou o universo, criou a terra e colocou o homem nela para que Ele pudesse resgatar uma noiva para Seu Filho, para que Ele pudesse trazer à glória uma humanidade redimida. Foi uma expressão de Seu amor dar ao Filho uma noiva que irradiaria sua glória, o serviria, o louvaria e o adoraria para todo o sempre.
Deus permitiu que o pecado entrasse em cena. Quando o homem acreditou na mentira de Satanás, toda a raça humana afundou na depravação e no pecado. E assim Deus começou a estender a mão e salvar pecadores.
Deus criou o universo para exibir Seus poderes criativos, demonstrar a perfeição de vida e a alegria que a criatura poderia ter com o Criador e também para permitir a queda e o pecado, para que, em resposta, pudesse demonstrar os atributos que só podem ser demonstrados em um ambiente de pecado: misericórdia, graça, compaixão e perdão.
Nunca saberíamos isso sobre Deus se não fosse pelo fato de que existe o pecado no mundo. E assim, Deus permitiu que o pecado viesse ao mundo e então começou a exibir Sua graça, compaixão, misericórdia e perdão. Ele procurou redimir pecadores e transformá-los em uma noiva para Seu Filho.
O ápice de todo esse plano redentor é quando Seu Filho veio ao mundo para morrer no lugar dos pecadores. Ele veio ao mundo, antes de tudo, para viver uma vida perfeita, para que sua justiça pudesse ser atribuída aos pecadores redimidos.
Jesus viveu uma vida perfeita para que sua justiça fosse atribuída a nós. Jesus morreu na cruz, levando nossos pecados. Deus o tratou como se Ele tivesse vivido a nossa vida pecadora, e, pela sua maravilhosa graça, Deus nos trata como se tivéssemos vivido a vida justa de Jesus.
A expectativa do sacerdote Zacarias e dos judeus sobre o Messias
Os judeus estavam esperando a vinda do Messias, mas eles esperavam pelo cumprimento das alianças incondicionais que Deus fez no Antigo Testamento: A Aliança Davídica, Abraâmica e a Nova Aliança.
Eles esperavam que o Messias, em sua primeira vinda, estabelecesse um reino mundial a partir de Jerusalém, libertasse Israel de seus inimigos, restituísse todas as terras que Deus havia prometido a Israel e mostrasse salvação, misericórdia e perdão.
E o sacerdote Zacarias tinha essa mesma esperança. As visitas do anjo Gabriel, os milagres da concepção de João e de Jesus, mensagens de Deus e sinais quebraram o silêncio de 450 anos de Deus. Deus estava invadindo a história e começou a fazer sua maior intervenção nela. E isso encheu Zacarias de anseio de ver tudo se cumprindo em seus dias.
Ele esperava o cumprimento das Alianças Davídica, Abraâmica e a Nova Aliança naqueles dias. Havia outras três alianças no Antigo Testamento: A Aliança que Deus fez com Noé, a aliança sacerdotal e a Aliança Mosaica, mas essas não eram alianças salvadoras.
As alianças que Zacarias falou em seu cântico, foram feitas por Deus de forma incondicional. Elas tinham propósitos salvadores inerentes: A Aliança Davídica, que Deus fez com Davi; a Aliança Abraâmica, que Deus fez com Abraão; e a Nova Aliança, que Deus fez com Israel (registrada em Jeremias e Ezequiel).
Tudo dependia do Messias, que viria, traria o reino a Israel, libertaria Israel da escravidão, daria a Israel toda a terra prometida, protegeria Israel e daria as bênçãos prometidas a Abraão. Seria o Messias que daria o perdão da Nova Aliança que Deus proporcionaria.
No sermão anterior vimos Zacarias falando da aliança Davídica, conforme registrado em Lucas 1:67-69. Nessa aliança Deus prometeu a Davi estabelecer seu trono para sempre (2 Samuel 7:16, 2 Samuel 23:3-5 etc.).
Lucas 1
⁶⁷ Zacarias, seu pai, cheio do Espírito Santo, profetizou, dizendo:
⁶⁸ Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo,
⁶⁹ e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo.
A aliança Abraâmica
Zacarias tinha uma segunda esperança em relação ao Messias: O cumprimento da Aliança Abraâmica. Esta aliança é um dos elementos fundamentais para a interpretação bíblica. Se você entender isso, poderá ter uma visão geral das Escrituras. A história da redenção está ligada à Aliança Abraâmica.
O cumprimento da Aliança Davídica é universal: Jesus governará literalmente todo o mundo no reino milenar. Mas a Aliança Abraâmica é nacional.
A Aliança Davídica é sobre libertar Israel de seus inimigos e estabelecer o governo do Messias. A Aliança Abraâmica é sobre Deus mostrar misericórdia. Zacarias disse:
Lucas 1
⁷² para usar de misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança
⁷³ e do juramento que fez a Abraão, o nosso pai,
⁷⁴ de conceder-nos que, livres das mãos de inimigos, adorássemos sem temor,
⁷⁵ em santidade e justiça perante ele, todos os nossos dias.
A Aliança Davídica e a Aliança Abraâmica estavam conectadas. A Aliança Davídica prometeu o governo do Messias em Israel. E o governo do Messias proporcionará a bênção que a Aliança Abraâmica prometeu.
A Aliança Abraâmica era para o Deus compassivo mostrar misericórdia para com pessoas indignas. Deus prometeu isso a Abraão, repetiu para Isaque, Jacó e José, e depois a estendeu à nação de Israel e depois estendeu, através de Israel, para o mundo.
Então, quando Zacarias disse “para usar de misericórdia com os nossos pais” (Lucas 1:72), é exatamente aí que começa o fluxo de misericórdia, que se amplia através de Abraão, Isaque, Jacó, José e o povo de Israel.
E então, a misericórdia de Deus para com os pecadores se espalha pelo mundo e é por isso que estamos aqui hoje, porque recebemos aquela misericórdia que uma vez foi dada a Abraão.
E tudo começou com uma aliança, uma promessa feita ao pai dos judeus, o pai da nação de Israel, um homem chamado Abrão, que mais tarde, depois que recebeu esta aliança, teve seu nome mudado para Abraão.
Deus chama Abrão e faz uma aliança com ele
Na época de Abrão não existia judeu e nem existia Israel. Tudo começou com um homem escolhido por Deus. Para entender a essência da Aliança Abraâmica, vamos voltar ao capítulo 12 de Gênesis.
Gênesis começa com o relato de Deus criando todas as coisas. O homem cai em pecado e segue-se a destruição no dilúvio universal, onde apenas 8 pessoas sobreviveram. Até o capítulo 11 temos basicamente a criação, a queda, o dilúvio e a dispersão das nações.
A história da redenção realmente começa no capítulo 12, com um homem chamado Abrão. O resto de Gênesis ocupa-se com Abrão, Isaque, Jacó e José.
Abrão morava em um lugar pagão chamado Ur dos Caldeus (Gen. 12:31). Deus simplesmente o escolheu e o arrancou de lá, e lhe disse:
Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gênesis 12: 1-3).
Mas havia um problema: Sarai, a esposa de Abrão, era estéril (Gen. 11:29-30). Essa promessa monumental também envolvia um milagre de concepção. Deus prometeu a Abrão:
1) Faria dele uma grande nação.
2) Ele seria abençoado
3) O nome de Abrão seria engrandecido
4) Deus abençoaria aqueles que abençoarem Abrão
5) Deus amaldiçoaria aqueles amaldiçoarem Abrão
6) Em Abrão seriam benditas todas as família da terra
Esta é a promessa de todo o propósito salvador de Deus: tudo aconteceria através de Israel. A lei veio através dos judeus; eles foram os escritores do Antigo Testamento e do Novo Testamento (exceto os livros de Lucas); os profetas eram judeus; todas as alianças foram feitas com os judeus; as promessas vieram para eles.
Através deles veio o Messias. Jesus era judeu, ele nasceu da linhagem de Davi. Tudo passou pelos judeus. É por isso que Jesus disse no evangelho de João: “A salvação vem dos judeus” (João 4:22).
Jesus não quis dizer que a salvação é apenas para os judeus, ele quis dizer que é através dos judeus. Eles têm sido o canal divino de Deus. Esta foi a promessa de Deus. Uma grande nação, uma bênção. Através deles o mundo inteiro foi abençoado.
Houve momentos em que Israel foi uma bênção para outros, mas o fato de que todas as famílias da terra foram abençoadas através de Israel foi, em certa medida, sem a sua cooperação. Israel não foi capaz de participar dessas bênçãos.
Deus fez uma promessa de perpetuar o povo de Israel. Ainda há um plano em desenvolvimento para Israel e Deus os protege. Ao longo dos séculos os judeus sofreram, e sofrem, duras perseguições, mas Deus manterá um remanescente que será salvo e pregará o evangelho na grande tribulação.
Os judeus não desfrutaram realmente do cumprimento da promessa Abraâmica. E o sacerdote Zacarias sonhava em vê-la sendo uma realidade em seus dias. Quando João Batista nasceu, houve o amanhecer de um novo dia, o precursor do Messias havia nascido e o cumprimento da Aliança Abraâmica surgiu no horizonte.
A Aliança Abraâmica foi reiterada oito vezes em Gênesis (capítulos 12, 13, 15, 17, 22, 26, 28 e 35). Deus anunciou os termos da aliança no capítulo 12. A aliança foi confirmada no capítulo 15:18-21, que diz:
Naquele mesmo dia, fez o Senhor aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates: o queneu, o quenezeu, o cadmoneu, o heteu, o ferezeu, os refains, o amorreu, o cananeu, o girgaseu e o jebuseu.
Gênesis 15:18-21 vai além do que foi declarado nos primeiros termos da aliança no capítulo 12. Deus prometeu uma terra a Israel. O sacerdote Zacarias vivia na terra prometida, porém ela estava sob domínio romano. Ele não viu o cumprimento dessa promessa.
Israel não tinha a liberdade e a bênção da Aliança Abraâmica. Então o sacerdote Zacarias via seu filho João Batista como precursor daquele que virá cumprir cabalmente a Aliança Abraâmica.
A linhagem de Isaque e Jacó
Abrão tinha 99 anos de idade quando Deus o chamou e disse: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito. Farei uma aliança entre mim e ti e te multiplicarei extraordinariamente” (Gênesis 17:1,2).
Foi uma aliança incondicional, Deus a fez de forma unilateral e irrevogavel, mas o seu cumprimento depende da obediência. Abrão caiu com o rosto em terra, Deus falou com ele dizendo:
Quanto a mim, será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações. Abrão já não será o teu nome, e sim Abraão; porque por pai de numerosas nações te constituí. (Gênesis 17:4,5)
Esse é o problema no Oriente Médio hoje: Todos traçam sua linhagem até Abraão. Abraão e Sara consideraram ser impossível a infértil Sara gerar um filho, então resolveram se valer da serva de Sara, Agar, para gerar um filho a Abraão, o qual recebeu o nome de Ismael (Gênesis 16). E de Ismael vieram os árabes. Mas Deus disse a Abraão:
Sara, tua mulher, te dará um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei com ele a minha aliança, aliança perpétua para a sua descendência. Quanto a Ismael, eu te ouvi: abençoá-lo-ei, fá-lo-ei fecundo e o multiplicarei extraordinariamente; gerará doze príncipes, e dele farei uma grande nação. A minha aliança, porém, estabelecê-la-ei com Isaque, o qual Sara te dará à luz, neste mesmo tempo, daqui a um ano. (Gênesis 17:19-21)
E Sara concebeu Isaque, o filho da aliança. Isaque gerou filhos através de sua esposa infértil Rebeca (Gen. 25:20-21). Ele engravidou de Esaú e Jacó. Deus lhe disse: “Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte [Jacó] que o outro [Esaú], e o mais velho [Esaú] servirá ao mais moço [Jacó]”. As nações árabes saíram de Ismael e de Esaú.
Israel reivindica o direito à terra porque são filhos de Abraão, O mundo árabe faz o mesmo traçando a sua linhagem até Abraão, e é por isso que há este conflito horrível histórico. Mas Deus escolheu Isaque para ser a linhagem da aliança e não Ismael. E Deus escolheu Jacó para ser a linhagem da aliança e não Esaú. Mas os árabes não estão dispostos a aceitar isso.
Os elementos da Aliança Abraâmica
Deus completa sua conversa com Abrão dizendo:
Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus (Gênesis 17:7,8).
A aliança é muita mais que a terra, bênção temporal e paz. Há o elemento eterno aqui: Deus estaria com Abraão e com sua descendência, Ele seria o Deus de Israel. Se Deus é o seu Deus, é um relacionamento eterno.
Então a aliança de Deus com Abraão tinha vários elementos: Abraão seria abençoado, dele viria uma grande nação, através dele as nações da terra seriam abençoadas, a descendência de Abraão a partir de Isaque e Jacó receberiam a terra prometida.
Quando Cristo voltar e estabelecer o Seu governo milenar, será então a plenitude da Aliança Abraâmica, que será cabalmente cumprida: os Judeus terão a sua terra integralmente, bênçãos serão derramadas e Israel será uma bênção para o mundo inteiro. Sobre esse período, o profeta Zacarias escreveu:
Eis que naqueles dias, dez homens de todas as línguas e nações agarrarão firmemente a barra das vestes de um judeu e exclamarão: ‘Sim! Iremos convosco, porque temos ouvido que Elohim, Deus está convosco! (Zacarias 8:23).
Quando Israel crer em Jesus, reconhecê-lo como o Messias, a quem rejeitou por 2.000 anos, eles serão testemunhas do Deus vivo e verdadeiro e proclamarão a mensagem da salvação. As 144.000 testemunhas das 12 tribos de Israel (Ap. 7:4) farão isso no tempo da grande tribulação com força e poder nunca antes vistos. No reino milenar, eles continuarão a fazer isso com pessoas que nascerem naquele período.
Deus provou a fé de Abraão
Deus provou a fé de Abraão ao pedir que oferecesse Isaque, o filho da promessa, em sacrifício no Monte Moriá (Gen. 22:1-2). Local que seria o futuro templo de Jerusalém, que foi destruído duas vezes (pelos babilônios e pelos romanos), e onde existe atualmente uma mesquita considerada um lugar sagrado para o islamismo.
Abraão obedeceu, e caminhou para fazer tudo que Deus lhe pediu. Ele tinha certeza de que Isaque era o filho da promessa e que Deus poderia ressuscitá-lo para formar a partir dele uma grande nação. O escrito da Carta aos Hebreus diz:
Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência; porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou. (Hebreus 11:17-19)
Mas no exato momento em que Abraão faria de Isaque um sacrifício, Deus bradou do céu e fez Abraão parar, e lhe disse: “Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho” (Gen. 22:12),
Então Deus providenciou um cordeiro para substituir Isaque no sacrifício (Gen. 22:13), uma figura do próprio sacrifício de Cristo em nosso lugar. Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho.
Abraão chamou aquele lugar de “Jeová-Jireh (o Senhor proverá). Abraão pensou que veria uma ressurreição, mas viu uma substituição. E então Deus disse:
Jurei, por mim mesmo, diz o Senhor, porquanto fizeste isso e não me negaste o teu único filho, que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz (Gen. 22:16-18).
Aqui temos um dos momentos mais dramáticos de toda a história da redenção: a confirmação da Aliança Abraâmica. E foi confirmada pela fé de Abraão. Deus graciosamente produziu essa fé em seu coração e ele estava disposto a crer. E isso era tudo, Deus providenciaria o sacrifício. Ali foi uma prévia do sacrifício substitutivo de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que morreria no lugar dos pecadores.
A aliança que Deus fez com Abraão, e repetiu para Isaque e Jacó é mencionada oito vezes em Gênesis, foi unilateral e irrevogável. Foi Deus quem a fez. E é por isso que ainda existem israelitas e não há mais perizeus, heveus, jebuseus, amorreus e girgaseus.
As implicações da Aliança Abraâmica
Os componentes dessa aliança são eternos e isso envolve o perdão dos pecados. Você não pode ter um relacionamento eterno com Deus, você não pode ter a bênção eterna de Deus a menos que tenha perdão e salvação. Portanto, é uma promessa de salvação unilateral, irrevogável e eterna.
Esses são os componentes: Uma grande nação, uma nação que seria abençoada, uma nação que possuiria uma grande terra na qual experimentaria bênção e proteção; uma nação que se tornaria então a fonte de bênçãos para todas as nações do mundo; e uma nação que receberia misericórdia divina através da redenção provida por um Redentor substituto.
E a aliança era incondicional no sentido do cumprimento final de que haverá salvação. A nação de Israel será salva. Haverá um reino de bênção. Eles ocuparão suas terras, serão protegidos e se tornarão bênção milenar para o mundo. O mundo inteiro pedirá aos judeus para serem conduzidos ao Messias e ter conhecimento de Deus (Zac 8:23).
Mas essa aliança está condicionada ao fato de exigir fé. Antes que Deus possa fazer com que isso aconteça, Ele tem que conceder a Israel a fé para crer. Eles têm que responder à verdade com fé. Quando Jesus veio, eles não creram.
Zacarias (o pai de João Batista) esperava o Messias, o Reino Davídico e o cumprimento da Aliança Abraâmica. Isso não aconteceu porque Israel rejeitou seu Messias. E cena fatídica foi essa:
[Pilatos] disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei. Eles, porém, clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César! (João 19:14-15).
Assim as promessas de Deus a Abraão e a Davi foram adiadas quanto à nação de Israel, mas se cumprirão cabalmente no reino milenar.
O impacto da Aliança Abraâmica sobre a igreja
A Aliança Davídica tem a ver, em primeiro lugar, com Israel e, em segundo lugar, com todos os crentes, porque todos os crentes de todas as idades estarão no reino milenar.
A Aliança Abraâmica foi prometida especialmente a Israel, mas todos nós participamos dela porque parte dessa aliança era que através dos Judeus, através da nação de Abraão, todas as famílias da terra seriam abençoadas. Portanto, há elementos da Aliança Abraâmica que passaram para todos nós.
Na verdade, o cumprimento da Aliança Abraâmica será no Reino Milenar e todos os redimidos estarão lá. Portanto, desfrutaremos de todo o cumprimento da Aliança Abraâmica, juntamente com os judeus convertidos que conhecerão seu Messias.
E no sentido mais verdadeiro, os cristãos hoje são filhos de Abraão pela fé. É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.
Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão (Gálatas 3:6-9).
Abraão creu e isso foi lhe imputado para justiça. Foi uma evidência de sua verdadeira fé em Deus. De quem é a justiça que Deus lhe deu? Abraão não tinha sua própria justiça porque era pecador como todos nós. Deus literalmente deu a Abraão a justiça de Cristo.
Ele colocou a vida perfeita de Cristo na conta de Abraão, embora Cristo ainda não tivesse vindo, vivido, morrido e ressuscitado dentre os mortos. Tudo estava no plano eterno de Deus. Deus tratou Abraão como se ele tivesse vivido a vida perfeita de Cristo. E ele o tratou assim porque ele creu.
Se você crê em Cristo e no evangelho, tal como são revelados nas Escrituras, você é, pela fé, um filho de Abraão. Você tem o mesmo tipo de fé que Abraão teve.
Você não é judeu, não é descendente de Abraão, mas você está espiritualmente na linhagem de Abraão, porque você também creu e a justiça de Cristo lhe foi imputada. Todos os crentes, judeus ou gentios, receberão a mesma bênção Abraâmica.
A justificação pela fé não tem qualquer relação com a circuncisão
Romanos 4
⁸ Bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado.
⁹ Vem, pois, esta bem-aventurança exclusivamente sobre os circuncisos ou também sobre os incircuncisos? Visto que dizemos: a fé foi imputada a Abraão para justiça.
¹⁰ Como, pois, lhe foi atribuída? Estando ele já circuncidado ou ainda incircunciso? Não no regime da circuncisão, e sim quando incircunciso.
¹¹ E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que creem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça,
¹² e pai da circuncisão, isto é, daqueles que não são apenas circuncisos, mas também andam nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai, antes de ser circuncidado.
A maioria dos judeus na época do Novo Testamento era convencida de que a circuncisão não era apenas uma marca única que os distinguem de todos os outros homens, como povo escolhido de Deus, mas também foi o meio pelo qual eles se tornaram aceitáveis a Deus.
Muitos judeus acreditavam que a salvação foi baseada em sua obediência a Deus em ser circuncidado, e que, portanto, a sua segurança eterna descansou nesse rito.
A circuncisão era a marca física, racial de identidade para Israel. Mesmo sob a Nova Aliança, Paulo não tinha objeção a um judeu ser circuncidado, desde que o ato fosse visto dessa forma.
Abraão recebeu a circuncisão depois que ele foi considerado justo, a fim de que ele seja o pai de todos os que creem sem serem circuncidados. Racialmente Abraão é o pai de todos os judeus; espiritualmente, ele é o pai dos crentes gentios e judeus. Ambos os grupos de crentes são considerados justos por causa de sua fé em Deus através de Jesus Cristo.
A plenitude da Aliança Abraâmica
Todos os redimidos receberão os benefícios e as bênçãos da Aliança Abraâmica no Reino Milenar. Já recebemos algumas das bênçãos desse aliança porque o evangelho chegou até nós através de Israel. Já fomos abençoados pela nação de Israel porque temos o Antigo Testamento e o Novo Testamento, e a verdade do evangelho chegou, o Messias veio.
Mas a plenitude da promessa da Aliança Abraâmica acontecerá no Reino Milenar e estaremos lá também porque somos justificados pela fé, não pelas obras, não pela guarda da lei e não pela circuncisão, mas da mesma forma que Abraão foi. Abraão se tornou então o pai de todos os que creem no sentido espiritual.
Israel não se confunde com a igreja
Muitas pessoas dizem neste momento: “OK, então isso significa que a igreja é o novo Israel, somos os novos filhos de Abraão e os judeus rejeitaram a Cristo, eles crucificaram o Messias e ainda não querem nada com Ele e esse é o fim deles. E nós tomamos o lugar deles”.
Esse é um ponto de vista tradicional dos amilenistas, ou seja, de que Israel foi posto de lado para sempre como uma nação. Essa visão considera que não existe qualquer significado bíblico para a existência do povo de Israel hoje.
Isto é errado. Deus não perpetuaria e protegeria Israel até hoje, a menos que Ele tivesse algo em mente para Israel. E foi exatamente isso que Ele prometeu fazer, Israel não foi deixado de lado. Entramos na bênção Abraâmica pela fé, mas isso não cancela a Aliança Abraâmica. É irrevogável e é eterna.
Veja, por exemplo, como Paulo tratou desse assunto na carta aos Romanos:
Romanos 10
²⁰ Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim.
²¹ Quanto a Israel, porém, diz: Todo o dia estendi as mãos a um povo rebelde e contradizente.
Assim é o final do capítulo 10 de Romanos: Israel é chamado de povo desobediente e obstinado que rejeitou a Cristo. Esse é o fim? Não.
Romanos 11
¹ Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! Porque eu também sou israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.
Deus não abandonou Israel porque fez uma promessa a Abraão, esta aliança era irrevogável, inviolável e eterna. E tinha a ver com uma nação, não com qualquer um e com todos.
Romanos 11
² Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias, como insta perante Deus contra Israel, dizendo:
³ Senhor, mataram os teus profetas, arrasaram os teus altares, e só eu fiquei, e procuram tirar-me a vida.
⁴ Que lhe disse, porém, a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal.
⁵ Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça.
Quando Elias teve sua vida foi ameaçada por Jezabel, tornou-se amedrontado e desanimado, pensou que ele era o último fiel na terra. Mas a resposta divina a ele foi: “Eu tenho guardado para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal” (1 Reis 19:18).
Quando o Senhor chamou Isaías para pregar, Ele avisou ao profeta que a maioria o rejeitaria e recusaria arrepender-se, e que apenas um pequeno remanescente santo permaneceria (Isaías 6:9-13).
Quando o Messias de Israel, Jesus Cristo, veio à terra, a nação apóstata o rejeitou e o crucificou. Mas havia um remanescente piedoso em Israel. Em Atos 4 é provável que havia pelos menos 20 mil judeus crentes apenas em Jerusalém.
Na grande tribulação, Deus selará para Si mesmo um remanescente especial de 144 mil judeus, que serão protegidos contra o Anticristo. Eles serão suas testemunhas durante os dias cada vez mais degenerados e depravados (Apocalipse 7:1-8; 14: 1-5). Em última análise, Paulo assegura-nos mais adiante neste capítulo, “Todo o de Israel será salvo” (Rom. 11:26)
Romanos 11
¹¹ Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes.
Eles tropeçaram, caíram em pecado, experimentaram as maldições e o castigo de Deus. Mas não saíram completamente do plano de Deus. Em vez disso, pela sua transgressão, a salvação chegou aos gentios para deixar os judeus com ciúmes.
Agora, de repente, os cristãos possuem um relacionamento com o Deus do Antigo Testamento e eles têm ciúmes dos gentios. Temos um relacionamento com o Deus de Israel que eles não têm.
Romanos 11
¹² Ora, se a transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude!
Eles rejeitaram o Messias, então Cristo se voltou para o mundo gentio para se tornar Seu povo testemunha. O pecado de Israel se tornou riqueza para nós, o fracasso de Israel se tornou riqueza para os gentios.
Se o fracasso de Israel produziu tantas riquezas, tantas conversões e o desenvolvimento da igreja em toda a face da terra, imagine o que vai acontecer quando Israel finalmente crer.
E eles finalmente crerão. Na grande tribulação 144 mil judeus, de todas as tribos de Israel, serão literalmente usados para trazer mais pessoas a Cristo, tantos que nem podem ser contados, mais do que em qualquer outro momento na história (Ap. 7).
Romanos 11
²⁰ Bem! Pela sua incredulidade, foram quebrados; tu, porém, mediante a fé, estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme.
²¹ Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará.
²² Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado.
Paulo quis dizer, em outra palavras: Igreja, não se ensoberbeça contra Israel, tome cuidado com a forma como você se vê.
Romanos 11
²⁵ Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios.
²⁶ E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades.
²⁷ Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados.
²⁸ Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa causa; quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas;
²⁹ porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis.
Deus é capaz de enxertar Israel novamente. Essa é a aliança que Deus fez com Abraão. Deus vai colocá-los de volta. Deus vai salvar Israel. O endurecimento aconteceu a Israel somente até que a plenitude dos gentios chegue, somente até o Senhor reunir Sua igreja gentia.
Então Deus vai tratar com Israel na grande tribulação, e Israel será fonte de bênçãos para toda a humanidade, anunciando ousadamente Jesus Cristo como Senhor. Os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis.
O sacerdote Zacarias pensou que a Aliança Abraâmica iria se cumprir em seus dias. Não aconteceu porque Israel rejeitou o Messias. Mas essa aliança e a Aliança Davídica vão se cumprir no Reino Milenar de Cristo. Todos os redimidos estarão lá desfrutando dessas alianças.
Na próxima vez quero falar mais sobre a Aliança Abraâmica e começaremos a ver a Nova Aliança. A Nova Aliança é a chave para o cumprimento da Aliança Abraâmica e Aliança Davídica, porque Deus primeiro lida com a transformação do coração. Vamos orar.
Pai, somos gratos pela Tua Palavra que traz luz. Agradecemos-Te pelo desenrolar da história redentora que nos envolve com tão grande poder e clareza quando obtemos o quadro geral de Gênesis 12 , onde começa a saga da redenção até Apocalipse capítulo 20, onde a Aliança Abraâmica, a Aliança Davídica e A Nova Aliança serão cumpridas em um glorioso Reino Milenar do Messias.
Compreendemos o fluxo da história redentora. E então, é claro, o reino eterno, onde todas as promessas davídicas, abraâmicas e da Nova Aliança são cumpridas nas glórias do novo céu e da nova terra para sempre.
Obrigado, nosso Pai, por graciosamente nos deixar fazer parte de tudo isso. Nós Te bendizemos, nós Te louvamos, nós Te agradecemos em nome de Cristo. Amém.
Sermões desta série sobre o Cântico de Zacarias:
- Cântico de Zacarias (1): Aliança Davídica
- Cântico de Zacarias (2): Aliança Abraâmica
- Cântico de Zacarias (3): A Nova Aliança (1)
- Cântico de Zacarias (4): A Nova Aliança (2)
- Cântico de Zacarias (5): A Nova Aliança (3)
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Este texto é uma síntese do sermão “Zachariah’s Song of Salvation: The Abrahamic Covenant”, de John MacArthur, em 2/5/1999.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/42-18/zachariahs-song-of-salvation-the-abrahamic-covenant
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno.