Homens Dotados (1)
Esta é uma série de sermões de John MacArthur sobre dons espirituais e homens especialmente dotados. Veja os links no final deste texto.
1. INTRODUÇÃO
Abra a sua Bíblia em 1 Coríntios, capítulo 12. Continuamos no nosso estudo dos capítulos 12 ao 14 de 1 Coríntios. Como já mencionei, estamos estudando a fundo esse assunto de dons espirituais, visto ser este muito importante e muito proeminente em discussão hoje. Creio que aprenderemos algumas coisas nesta manhã e o Espírito de Deus encorajará e abençoará nossos corações enquanto compartilhamos juntos.
Tenha em mente algo que já falei e que continuo dizendo pois, para mim, tudo se junta nesse ponto particular: Cristo se revelou, em primeiro lugar, em um corpo humano, em Sua Encarnação. Através desse corpo humano, todos os atributos da divindade foram manifestados e Deus se tornou visível na História humana. Porém, Deus fez isso uma segunda vez. Ele se revelou novamente em outra ‘encarnação’, no corpo número dois, que é a igreja. A assembléia corporativa dos crentes é habitada por Deus para tornar Deus, novamente, visível para o mundo, a fim de Deus ser manifesto novamente na História humana.
E todos nós que conhecemos o Senhor Jesus Cristo somos esse corpo. Cada um de nós é um membro individual, um membro vital. E, assim como os membros de um corpo humano, devemos trabalhar de forma total e conjunta, a fim de criar um corpo de pleno funcionamento. A igreja, da mesma forma, deve ter uma interdependência mútua, ministerial, operosa, para a unidade do ‘corpo dois’, para que Deus possa ser visível através da manifestação de Cristo na vida corporativa da igreja.
Enquanto funcionamos, trabalhamos, ministramos e nos edificamos, Cristo se torna manifesto, para a glória de Deus. E esse é o design dos “espirituais”, como eles são chamados em 1 Coríntios 12:1 [Nota do site: no primeiro sermão dessa série, vimos que o texto original, em grego, não traz a palavra ‘dons’, mas apenas ‘espirituais’].
Vimos também que Paulo usa cinco palavras diferentes relacionadas aos dons. Enquanto ministramos, o Espírito Santo nos energiza e nós nos edificamos. Por exemplo, quando eu ministro a você, você é edificado. A ideia é que você alcance a maturidade e seja como Cristo. À medida que todos nós exercitemos nossos dons, todos iremos nos tornar como Cristo, como indivíduos, e então, corporativamente também.
Através do exercício dos dons, a igreja se torna uma manifestação corporativa de Cristo no mundo, e esse é o design de Deus para a igreja. E há outro benefício. Enquanto ministramos o nosso dom, não só edificamo uns aos outros, mas nos ajudamos a entendermos melhor como ministrar em uma determinada área. Por exemplo, eu prego para você e, mesmo que você não tenha o dom da pregação, você está sendo edificado e também está aprendendo a como melhor comunicar sua fé.
Se você tem o dom da misericórdia e o ministra a mim, talvez eu não o tenha como um dom espiritual, mas eu aprenderei melhor como ser misericordioso para com alguém, por ter visto você em ação. Portanto, essa interdependência bela e mútua não só nos edifica até à semelhança de Cristo, mas nos ajuda a crescermos em todas as áreas, em todas as dimensões. Assim, essa é a rede que o Espírito de Deus projetou na igreja, este ministério inter-mútuo que é vital para que alcancemos a semelhança de Cristo, pois manifesta Deus no mundo .
E, se um cristão não estiver exercitando seus dons, isso trará prejuízos para outros cristãos e, consequentemente, estará paralisando a manifestação total de Cristo no mundo, além de estar se privando da bênção e da recompensa para a sua própria vida.
2. PRINCÍPIOS ACERCA DOS DONS
Agora, tendo entendido isso, vamos falar sobre os princípios sobre os quais todo o tema dos dons espirituais deve ser construído. Eu falei sobre eles aleatoriamente nas últimas semanas, mas gostaria de reuni-los todos nesta manhã em uma lista. Isso constituirá nossa introdução ao que queremos falar nesta manhã. Entender esse assunto é muito importante, pois dará a você o conhecimento necessário para discernir aquilo que é falso e o que é verdadeiro quanto aos dons espirituais. Deixe-me dar-lhe 14 princípios básicos sobre os quais os dons espirituais operam.
■ Número um: os dons são essenciais. 1 Coríntios 12:1 diz: “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes”, pois são essenciais para a vida do corpo. Efésios 4:12 diz que os santos devem ministrar, para que o corpo possa ser edificado.
■ Em segundo lugar: os dons podem ser falsificados. Tudo o que Deus faz, Satanás falsifica. E, portanto, os dons espirituais podem ser falsificados. Falamos bastante sobre isso nos sermões anteriores, quando vimos 1 Coríntios 12:2 e 3, explicamos detalhadamente sobre a falsificação. Os dons são falsificados o tempo todo. E, basicamente, existem duas maneiras de falsificá-los: as falsificações da carne e as falsificações satânicas.
Por exemplo, Paulo tinha o dom da pregação, mas ele poderia ter pregado na carne. Ele disse aos coríntios no capítulo 2, versículo 1: “Não vim a vocês com palavras sedutoras da sabedoria humana”. E ele disse o mesmo no versículo 4. Em outras palavras, ‘eu não deixei meu dom espiritual ser falsificado. Eu não vim a você apelando com sabedoria humana ou discurso humano e oratória’. Então, é possível ter uma falsificação vinda da carne.
Pode também haver uma falsificação satânica, como se dá com os falsos profetas, os falsos proclamadores, os falsos mestres que são realmente porta-vozes de Satanás.
■ Terceiro princípio: o Espírito Santo é a fonte dos dons. Todos os dons espirituais são sobrenaturalmente capacitados, energizados e administrados. Eles estão além do natural. Não são como habilidades naturais para cantar ou tocar um instrumento ou dominar uma determinada arte. Não são esses tipos de capacidades naturais. São habilitações sobrenaturais.
O verso 1 de 1 Coríntios 12 os identifica como “espirituais”. Eles são caracterizados e controlados pelo Espírito Santo. São manifestações do Espírito, segundo o versículo 7, e operações do Espírito, de acordo com o versículo 11.
■ Número quatro: os dons espirituais sempre unirão o corpo. Essa é uma verdade muito importante. Eles nunca dividem. Por que eles não dividem? Porque, observe o versículo 4, “o Espírito é o mesmo”. E isso é repetido nos versos 5, 6 e 11. Se o mesmo Espírito, o mesmo Senhor, o mesmo Deus opera os dons, então não pode haver desunião.
Você entende? Então, onde quer que os dons espirituais criem divisão, tratam-se de dons falsificados em operação, ou são falsificados pela carne ou por Satanás. Os verdadeiros dons sempre gerarão unidade. Onde ocorre a divisão, há falsificação.
■ Quinto: os dons espirituais não são sinais de espiritualidade. Alguém poderia dizer: “Bem, eu sou espiritual porque tenho o dom de tal e tal…”. Não, os dons espirituais não têm absolutamente nenhuma relação com a espiritualidade. Como eu sei disso? A razão pela qual sabemos é porque os coríntios tinham todos os dons espirituais, porém eles não tinham espiritualidade.
Verso 7, do capítulo 1: “nenhum dom vos falta“. Verso 1 do capítulo 3: “não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais“. Eles eram carnais, mas tinham dons espirituais. Dons espirituais pertencem a todos os cristãos, sejam eles carnais ou espirituais. Então, quando alguém alega ter um certo dom, isso não significa nada em relação à sua espiritualidade.
■ Número seis: dons espirituais não são para o possuidor, mas para os outros membros do corpo. Vimos que no versículo 5 eles são chamados de serviços. Isso é algo que eu faço por alguém. Vimos também que no verso 7 eles são chamados de manifestação, significando que seja algo público: “a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil“. No original grego, o sentido é: “para o bem daqueles que estão reunidos“.
Em outras palavras, os dons são dados pelo bem dos outros, pelo bem dos que estão reunidos. Não faz bem a ninguém operar um dom espiritual independente de outras pessoas. Nenhum deles é dado para auto-edificação, não é essa a sua intenção ou propósito. Nenhum deles.
■ Número sete: os dons espirituais têm a promessa da energia divina. O verso 1 diz que eles são ‘espirituais’. O verso 4, que “o Espírito é o mesmo“. O verso 5, que “o Senhor é o mesmo“. O versículo 6, que “Deus que opera tudo em todos“. O verso 11, que “o mesmo Espírito opera todas estas coisas“. Então, há uma energização vinda de Deus e isso é uma coisa fantástica para entendermos: que nos tornamos canais do fluxo de poder de Deus para tocar as vidas de outras pessoas. Essa é uma realidade incrível.
É por isso que o capítulo 4, verso 10 de 1 Pedro diz: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus“. Em outras palavras, ministre seu dom na energia divina. Não o falsifique. Por que você o falsificaria, quando tem a promessa do poder divino agindo em você?
■ Número oito: há variedades de dons. O verso 4 diz que “há variedades de dons”. Versículo 5, que há “variedades de ministérios“, isto é, de serviços. Versículo 6, que há “variedades de operações“, ou energizações, como vimos no sermão anterior. O versículo 11 diz: “repartindo particularmente a cada um…“. Nenhum cristão é igual a outro. Todo cristão tem seu lugar único no corpo e sua posição única a partir da qual ele ministra, de modo que nenhum outro cristão possa substituí-lo.
É por isso que todos vocês são vitais. Não há pessoas não essenciais. Não há parasitas. Não há “esquenta-bancos”, pelo menos no design de Deus. Todos são necessários. Há pessoas que se colocaram no banco, mas essa não era a intenção de Deus. Agora, dissemos anteriormente que as variedades de dons, as variedades das maneiras que eles operam, as variedades de energizações, tudo isso indica a singularidade do ministério de cada indivíduo.
E eu já falei e repito: não acredito que cada um de nós tenha apenas uma área de ministério. Eu não acredito que você possa dizer: “Você só tem o dom de… você só ensina ou só exorta, ou só socorre, só governa, ou tem apenas o dom de sabedoria…”. Não acredito que essa seja a intenção do Espírito de Deus. Eu creio que quando a Palavra diz que existem variedades de dons, de manifestações, de operações, está se referindo a um intercâmbio.
Algumas pessoas me perguntam de vez em quando: “Você acredita que um cristão só tem um dom?”. Em certo sentido, a resposta a essa pergunta é, sim … sim. A razão pela qual eu digo isso é porque esse é o termo que é usado, por exemplo, em 1 Pedro 4, quando ele diz: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu“, também em Efésios 4: 7, que diz: “de acordo com o dom de Cristo“. Agora, algumas pessoas dizem: “Isto significa, você vê, que todos nós temos apenas uma área de ministério ou um dom”.
Porém, você sabe no que eu creio? Agora escute. Eu acredito que o que a Bíblia nos mostra ao tratar desse assunto é que temos um dom, mas esse dom é composto dos vários tipos de habilitações que se unem para fazer dele algo único para quem o tem. Alguém me perguntou esta semana: “Bem, e quanto a Timóteo?”. Em 1 Timóteo 4:14, Paulo diz a Timóteo: “Não desprezes o dom que há em ti…”. Em 2 Timóteo 1:6, ele diz: “despertes o dom de Deus que existe em ti…”.
Não é dito nesses versos que Timóteo só tinha um dom? Sim. Bem, qual era esse dom? Se você responder que Timóteo só tinha uma coisa que ele poderia fazer, o que era então? Paulo diz a ele: “Timóteo, pregue a Palavra!”. Aí você deduziria: “Oh, era o dom da pregação…:. Mas, então, Paulo também diz: “Timóteo, faça o trabalho de um evangelista!”. Aí você diria: “Oh, ele era um evangelista…”. Mas, então, Paulo ainda disse: “Timóteo ensina a homens fiéis!”. Você diria: “Oh, ele tinha o dom de ensinar…”.
Porém, Paulo também disse: “Timóteo, exorta com doutrina sadia!”. E você: “Oh, ele tinha o dom da exortação…”. Então, você para e pensa: “Qual desses dons é o de Timóteo?”. Timóteo tinha um conjunto de capacidades ministeriais que o Espírito de Deus havia lhe dado em um pacote.
Você já fez aniversário e ganhou um monte de coisas na mesma caixa, uma gravata, um par de meias e um lenço? É assim que Deus trabalha. Deus pode fazer isso. Você recebeu o dom. E o que ele é? Um monte de coisas. É assim que o Espírito de Deus colocou as “variedades de dons” tudo num conjunto. Se alguém me disser: “John, qual é o seu dom?”. Eu poderia pedir dez opiniões diferentes para quem convive comigo e eles lhes diriam coisas diferentes. Alguém diria: “Ele tem o dom de pregação”. Outro diria: “Ele tem o dom de ensinar”.
Alguém me disse outro dia que entendia que eu tenho o dom da sabedoria e outra pessoa me contou há muito tempo que percebia que eu tinha a capacidade de liderar. Bem, o que isso significa? Que não posso dizer que eu só tenho a capacidade de ministrar ao corpo em um aspecto apenas. Estou convencido de que o Espírito de Deus reuniu algumas capacidades e disse: “Aqui, MacArthur, isso é seu!”. Porque todos os padrões do Novo Testamento em que você vê os homens dotados, há sempre uma multiplicidade de coisas que eles estão fazendo.
Como um homem pode ser chamado a ensinar a um rebanho, a pastorear um rebanho e não ter o dom de administração ou liderança ou o dom de ensinar ou pregar ou o dom da sabedoria para tomar decisões? Você vê, quando Deus coloca você no corpo, Ele revolve as coisas que você precisa para ministrar através dos tipos de habilidades que Ele construiu em você. O Espírito de Deus concede, do jeito que Ele quer, as multiplicidades dos ministérios através dos quais Ele quer que você ministre ao Seu corpo.
Alguns de nós têm mais dessas multiplicidades do que outros. Algumas pessoas podem ter uma combinação de duas ou três dessas capacidades; outros têm quatro ou cinco ou seis, ou seja o que for. Eu não sei. Mas essa é a beleza da variedade. Portanto, não coloque o Espírito Santo em uma caixa. Eu sempre me impressiono quando alguém faz uma lista exaustiva, fechada dos dons, acabando com toda a sua variedade. Eu não acho que temos esse direito.
Deixe-me adicionar uma nota de rodapé neste momento. Algumas pessoas dizem: “Bem, você vê, eu só tenho determinado dom, e isso me deixa sem qualquer responsabilidade com qualquer outra área… eu tenho o dom da misericórdia, então eu realmente não preciso me envolver com nada mais…”. Isso é o pensamento de alguém que não quer se envolver. Uma das razões pelas quais alguns de nós têm certos dons é para ajudarmos as pessoas que não têm esses dons nessas áreas.
Por exemplo, sei que não possuo certos dons. Mas, isso não significa que eu queira ser irresponsável. Deus talvez não tenha me chamado ao corpo de Cristo para ministrar com dons de ajuda. Deus talvez não tenha projetado MacArthur para ajudar, mas para liderar. Mas isso não significa que quando alguém me pede ajuda, eu digo: “Sinto muito, sou líder… É assim…”. Você sabe? Isso seria ridículo! Eu quero aprender como ajudar e quero alguém que tenha esse dom para me mostrar um padrão, para que eu possa aprender com ele e ministrar em uma área que eu não tenha sido dotado.
É apenas uma questão, pessoal, de ênfase. Naquilo que sou dotado, haverá uma ênfase maior. Devemos ministrar em todas as áreas. Alguém poderia dizer: “Bem, eu não tenho o dom de dar… Eu tenho o dom de receber…”. Você vê? Espere um minuto: todos somos chamados a dar! Não somos? Todos nós estamos edificando uns aos outros em todas as áreas. Todos fomos chamados a mostrar amor. Se você vê seu irmão precisando de algo, como você pode fechar suas emoções para ele e não atender às suas necessidades?
Então, todas essas áreas devem ser áreas de responsabilidade, mas concernente a algumas delas há uma maior responsabilidade, porque temos uma energia sobrenatural para ministrar ao corpo. Então, não catalogue os dons e não os coloque em pequenas caixas. Existem variedades deles.
■ Número nove: você pode ter um dom e não usá-lo. E todos podemos testemunhar isso por experiência pessoal. Você pode ter um dom e não estar usando o mesmo. Paulo diz a Timóteo: “despertes o dom de Deus que existe em ti…“. Você sabe o que isso diz sobre Timóteo? Ele facilmente ficou desencorajado. Quando as coisas não foram bem, ele parou o ministério. Muitos cristãos fazem isso. E ainda há outros que sequer começaram a ministrar seus dons.
■ Número dez: há várias palavras diferentes usadas na Bíblia para descrever essas habilitações divinas. Tenha isso em mente. Apenas lembrando o que falamos no sermão anterior, nos versos 1 a 7 de 1 Coríntios 12 há vários termos para descrever essas habilitações divinas: são chamadas de energizações, de serviços, manifestações, dons da graça, de espirituais.
■ Número onze: a lista dos dons não é exaustiva. Eu pensei que já tivesse lido todas as listas que já tentaram elaborar sobre os dons, mas aí nesta semana eu estava numa livraria e peguei outro livro sobre dons espirituais onde o autor listou vinte e três dons diferentes. Essa é a maior lista que já vi. Isso apenas me provou o fato de que quando você tenta isolá-los e colocá-los em pequenas caixas e dizer: “Isso é tudo o que há. Não há mais nenhum dom além desses…”, sempre haverá a possibilidade de ampliar a sua lista.
A lista em 1 Coríntios 12:8 a 10 traz os seguintes dons: a palavra da sabedoria, a palavra do conhecimento, a fé, a cura, operação de milagres, a profecia, discernimento dos espíritos, as línguas, a interpretação das línguas. E então, em Romanos, capítulo 12, versos 6 a 8, você tem outra lista dessas habilitações, mas é completamente diferente: profetizar, ministrar, ensinar, exortar, dar, governar, mostrar misericórdia.
O que significa quando você vê duas listas completamente diferentes? Que existe uma flexibilidade. Mesmo a palavra “charisma”, usada no idioma original para se referir aos dons (1 Coríntios 12:4), como eu disse no sermão passado, é muito ampla. É usada 17 vezes no Novo Testamento, referindo-se a qualquer dádiva de Deus. Você sabe, eu me recuso a ser chamado de “não-carismático”. As pessoas dizem: “Oh, você não é carismático”. Eu digo: “Não, não sou um não-carismático. Eu sou um cristão-carismático”. Agora, não copie apenas essa parte da gravação e espalhe isso, ou eu estarei com problemas. [Risos].
Eu sou um cristão carismático. “O que você quer dizer com isso?”. Recebi graça de Deus. Você conhece um cristão que não seja carismático? Você conhece algum cristão que não recebeu graça de Deus? Não conheço nenhum. Eu sou salvo pela graça, estou sendo aperfeiçoado pela graça, sou mantido na graça e eu serei glorificado pela graça. Sou carismático. Não há cristãos carismáticos e cristãos não carismáticos. Existem apenas “charismas” autênticos e “charismas” falsificados.
Vamos manter a terminologia clara. Nós sempre temos que desistir de boas palavras porque as pessoas tomam essas palavras e as usam como símbolos de seus movimentos. Sabe, costumávamos ter uma boa palavra chamada ‘fundamentalista’. E, de repente, pegaram essa palavra, usaram-na como símbolo de um movimento e aí alguns, não querendo ser identificadas ao movimento, passaram a dizer “não sou fundamentalista…”. Assim, agora temos medo de usar uma boa palavra.
Você vê? Bem, é muito ruim quando temos que desistir de uma palavra. Não estou pronto para desistir da palavra “carismático”. Eu sou tão carismático quanto qualquer cristão poderia ser. Deus derramou muita graça sobre mim. A palavra “charisma” quer dizer dom da graça. Tudo o que tenho é um dom da graça de Deus. Isso é verdade? Eu não estou pronto para abrir mão dessa palavra. Eu só quero ter cuidado com a maneira como as pessoas entendem seu uso.
■ Número Doze: todos os dons são para edificação do corpo. Esse é o propósito deles. Em Efésios 4:12, é dito: “Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”. Capítulo 12, versículo 7, de 1 Coríntios: “A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum”. Todos os dons são para edificação do corpo. Tenha isso em mente, pois é muito importante.
■ Número Treze: alguns dons são sinais. E vimos isso na era apostólica. Em 1 Coríntios 14:22, lemos: “as línguas são um sinal para os descrentes, e não para os que creem; a profecia, porém, é para os que creem, e não para os descrentes.” E, no entanto, o versículo 5 diz: “Gostaria que todos vocês falassem em línguas, mas prefiro que profetizem. Quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a não ser que as interprete, para que a igreja seja edificada.” Embora o dom tenha sido concedido como um sinal, também tinha a função de edificar .
■ Número quatorze: os dons são distintos do fruto do Espírito. Não confunda o fruto do Espírito com os dons do Espírito. Gálatas 5:22 e 23: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio…”. Os frutos são atitudes. Os dons são atividades, ações, ministérios. O fruto deve estar por trás da ação. Onde a ação ocorre sem o fruto, o dom está sendo usado carnalmente.
3. HOMENS DOTADOS
3.1. CONCEITOS IMPORTANTES
Vimos, assim, esses quatorze princípios, e é sempre bom revisá-los. Agora olharemos para os homens dotados. Existem basicamente três categorias nas quais temos que nos aprofundar para entendermos os dons espirituais. São elas: os homens dotados, os dons edificantes permanentes e os dons temporários de sinais. Agora, como um ponto de início, olhe para o versículo 28 de 1 Coríntios 12:
Assim, na igreja, Deus estabeleceu primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que realizam milagres, os que têm dom de curar, os que têm dom de prestar ajuda, os que têm dons de administração e os que falam diversas línguas.
Agora, você é apresentado a algumas pessoas: apóstolos, profetas, mestres. Olhe comigo Efésios 4:11: “E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres…”. Vamos observar o que sejam esses homens talentosos ou dotados. No breve momento que temos esta manhã, não podemos ver todos, mas começaremos com os dois primeiros. Isso é muito importante.
Outro dia, um homem muito sério, muito capaz e responsável, estabelecido na comunidade cristã, disse a mim: “É minha convicção de que você é um apóstolo.” É o que ele me disse. Eu sou um apóstolo… Bem, eu tive uma reação muito imediata a isso. Eu não sou um apóstolo. Não tenho nenhuma qualificação para ser um apóstolo. E eu disse isso a ele, mas ele disse: “Sim, você é. Você não pode não reconhecer isso, mas há muitas pessoas que o fazem…”. Por favor, eu não sou apóstolo…
Também falei recentemente com alguém que me disse que há apóstolos e profetas hoje. E essa pessoa apontou alguns outros na América que ele entende que são os apóstolos e os profetas desta era. Isso me assusta, e eu vou te mostrar o porquê. Porque eu acredito que a Bíblia é clara sobre quem são os apóstolos e os profetas, e eu quero que você a compreenda isso nesta manhã.
No capítulo 4 de Efésios, versículo 11, notemos os dois primeiros homens dotados da lista: “E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas”. Agora, quem são esses apóstolos e profetas? Algumas pessoas dizem que são dons espirituais. Eu li livros que os identificavam como o “dom de apóstolo” e o “dom de profeta”. Porém, não se trata de dons. Essa não é a maneira correta e precisa de tratá-los. Não existe um dom de apostolado. Não existe um dom de profeta.
Esses são homens dotados. Esses são títulos oficiais. Esses são ministérios especiais. Olhe para o versículo 7, e vou mostrar uma distinção que pode ajudá-lo. Efésios 4: 7: “E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a proporção do dom de Cristo.“ Agora, aqui está esse pacote que recebemos. Pode haver três partes nele, mas esse é o nosso pacote. Cada um de nós recebeu o dom, a habilitação divina, a doação divina, a capacidade divina para ministrar ao corpo de uma maneira única, consoante nossa personalidade e de formas tão diferentes quanto somos diferentes.
Todos nós temos o dom. A palavra grega usada nesse texto de Efésios traduzida como “dom” é “dórea”. Essa palavra refere-se a um presente, a algo gratuito. A palavra “dórea” enfatiza a gratuidade do dom. Todos nós recebemos um dom espiritual sobrenatural gratuito. Observe o versículo 8: “Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos prisioneiros, e deu dons aos homens“. Agora isso é outra coisa. Porque a palavra aqui para “dons” é uma completamente diferente: “doma”. E essa palavra não se refere à gratuidade do dom, mas ao caráter do dom.
Então, o verso 8 está falando sobre algo muito especial, algum tipo especial de dom, sobre uma qualidade de dom. Você notará que os versículos 9 e 10 são parênteses entre os versos 8 e 11. E se você pular do verso 8 para o 11, o resultado será esse: “Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos prisioneiros, e deu dons aos homens… deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores… “. Em outras palavras, o versículo 11 lista os dons mencionados no versículo 8.
Então, o versículo nos diz que todos os cristãos recebem dons espirituais. Mas, os versos 8 e 11 nos dizem que o Senhor concede homens talentosos, dotados. E a quem Ele os entregou? À igreja, verso 12, para a edificação dos santos. Então, temos que manter distinto em nossa mente que os dons espirituais são uma coisa, os homens dotados são outra.
Eu lhe darei uma ilustração diretamente de minha própria vida. O Espírito de Deus me deu o dom de ministrar ao corpo. Ele também me deu como um dom para esta igreja local. Você entende isso? Então, há uma dualidade aqui. Todos nós recebemos dons, mas alguns de nós, pela graça de Deus, tornam-se homens dotados para a igreja, por exemplo como eu sendo um pastor de ensino. Não sou apóstolo, não sou profeta, não sou evangelista, mas sou pastor de ensino.
Fui dado à igreja como um homem dotado. Isso é diferente de meu dom. Então, os dons, todos vocês os têm. Eu lhes fui dado como um homem dotado para ensinar a vocês a como devem ministrar seus dons e para edificar suas vidas, para que a igreja possa ser edificada . Essa é a diferença.
Portanto, não diga o dom de apóstolo ou o dom de profeta ou o dom de evangelista, como alguns dizem, ou o dom de pastor ou mestre. Esses não são dons, mas são homens dotados e são compostos de outros dons.
Agora, 1 Coríntios 12 nos ajuda a entender esta distinção. Olhe o verso 28: “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.“ Não é apenas um dom da graça, mas é um compromisso. É um compromisso divino.
Assim como são designados embaixadores de um país, Deus designou apóstolos, profetas, mestres. Depois disso, ou além disso, Ele deu dons, como: milagres, curas, ajuda, governos, línguas. Você vê a diferença? Há homens designados para o cargo, bem como dons concedidos aos crentes. O sentido da palavra “depois” no meio do verso 28 é “além disso”, isto é, “além disso, há os dons“.
Agora, nos textos de 1 Coríntios e Efésios que estamos vendo nos são apresentados cinco tipos de homens dotados. Em Efésios são quatro e em 1 Coríntios é acrescentada a quinta categoria: os mestres. Então, temos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Essas são as pessoas dotadas dadas à igreja.
Algumas questões se levantam a partir daí: esses homens são entregues à igreja no mesmo período de tempo? Todos eles estarão presentes na igreja durante toda a História? A igreja sempre tem que ter apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres? Ou houve um momento em que a igreja não teve todos os cinco? No presente momento, todos os cinco estão presentes na igreja? Isso é parte do que queremos entender.
3.2. OS APÓSTOLOS
Comecemos, antes de tudo, a olhar a palavra apóstolo, no versículo 28. Este foi o principal homem dotado na história da igreja. Agora, eu quero que você entenda algo, porque há alguma confusão neste ponto. A palavra da qual vem a nossa palavra apóstolo, significa mensageiro, enviado. É uma palavra comum no grego, usada não apenas no contexto bíblico. Essa é uma palavra simples, básica. E por causa disso, há pessoas que estão um tanto confusas quando vêem essa palavra aparecendo no Novo Testamento e elas querem igualar todo “mensageiro” com aqueles que têm o status de “representantes oficiais”.
Portanto, devemos ter o cuidado de fazermos a distinção entre os “apóstolos” de categoria especial e os demais “mensageiros”. Agora, há pessoas no Novo Testamento que são apóstolos num sentido em que ninguém mais pode ser chamado de apóstolo. Você sabe quem foi o primeiro apóstolo que apareceu em cena? O Senhor Jesus Cristo. Hebreus capítulo 3, versículo 1 diz isso: “considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão”.
Ele é o primeiro mensageiro. Ele é o primeiro enviado. Deus O enviou e Ele é o Apóstolo por excelência. Mas, depois Dele houve outros: os Doze. Eles são também chamados apóstolos. Mateus 10: 2, Lucas 6:13, e depois Atos 1:24-25, que diz: “Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar.“
Agora, de repente, a palavra apóstolo assume um significado técnico. Tinha um significado geral. Cristo deu-lhe um significado muito técnico, transformando-a num título oficial. Quando alguém diz: “Quem é apóstolo?”. Os 12 são chamados apóstolos. Lembrando que Matias foi acrescentado aos 11, para substituir Judas Iscariotes.
Você diz: “A palavra apóstolo foi usada para além de Cristo e dos Doze no Novo Testamento?”. A resposta é: sim, um outro homem no Novo Testamento está na categoria de um apóstolo oficial. Quem é esse? Paulo. Em Romanos 1:1, lemos: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo…”. Isso é repetido em suas cartas. Agora ouça, essas 13 pessoas são os apóstolos oficiais.
E as pessoas dizem: “Bem, se são treze apóstolos oficiais, como é que há apenas doze tronos? Quem não vai se sentar em um dos tronos no reino?”. E, é claro, os argumentos surgem: “Bem, Matias não deveria ter sido escolhido…. O Espírito de Deus queria que Paulo fosse o 12°, e eles saíram da linha e escolheram Matias…”. Bem, você sabe, a única razão pela qual você poderia concluir algo assim seria apenas por se sentir mal por Paulo ser o 13° e não fazer parte do grupo dos Doze.
Não se preocupe com Paulo. Ele ganhará mais recompensa do que ninguém, tenho certeza. Foi o homem mais fiel da história registrada. Bem, não tenho a resposta sobre qual dos treze apóstolos não vai se sentar em um dos doze tronos. É difícil de saber. E, por outro lado, a Bíblia não diz que eles estavam errados na escolha de Matias. A questão é que existiram doze apóstolos mais Paulo, que foi um apóstolo especial, chamado por Jesus Cristo, separado. Esse é o grupo oficial. E qual era o dever desses apóstolos? Veja 1 João 1:1 a 3:
O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida. (Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada); O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo.
Veja que João está usando o pronome no plural aqui. Ele diz “o que vimos… temos contemplado…nossas mãos tocaram…”. Ele não fala “eu vi, eu toquei, eu contemplei”. A quem João está se referindo aqui quando fala “nós”? Aos apóstolos. Ele está falando como apóstolo, dizendo que um apóstolo é alguém que ouviu e viu a manifestação de Jesus Cristo e a declara. Ouça, amado, você não pode ser apóstolo hoje, porque hoje ninguém vê Jesus Cristo.
Os apóstolos tinham que ser aqueles que tinham visto e ouvido e tinham um relacionamento vital e pessoal com Jesus Cristo, com a presença física de Cristo. Número dois, eles também tinham que ter visto o Cristo ressuscitado. Atos capítulo 1, quando eles escolheram Matias, o verso 22 diz: “Começando desde o batismo de João até ao dia em que de entre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da sua ressurreição.“ Um requisito para ser apóstolo era ter visto o Cristo ressuscitado. Você diz: “E quanto a Paulo?”. Ele viu o Cristo ressuscitado. Houve três ocasiões distintas em que Jesus Cristo veio pessoalmente a ele.
Assim, esses são os requisitos para ser um apóstolo oficial. Você diz: “Bem, e sobre outros usos do termo do apóstolo?”. Essa palavra é usada outras vezes no Novo Testamento. Mas, seus outros usos são bem generalizados. Lembre-se que é uma palavra muito comum no grego. Porém, no sentido em que ela foi usada para identificar esses treze apóstolos, ela não pode ser usada para identificar mais ninguém, pois esses homens não têm sucessores.
Dr. Criswell Appley, diz assim: “Eles são como constituintes. Quando a nova constituição é elaborada, a assembleia constituinte deixa de existir“. De fato, depois de Atos 1, você dificilmente pode encontrá-los. Se precisássemos de apóstolos ou de profetas hoje, por que é que nada é dito sobre eles nas epístolas dedicadas à fundação das igrejas, as epístolas para a ordenação da igreja?
Em tudo o que foi escrito sobre como a igreja deve ser dirigida, como a igreja deve ser governada, como deve operar, quem deve dirigi-la, quem deve guiá-la, quem deve servir nela, não há sequer uma palavra sobre um apóstolo, ou sobre um profeta. Por que é que, depois de Atos 1, você nem consegue encontrá-los? E depois de Atos 15, a última vez que sabemos que eles se reuniram, eles estão espalhados por todo o mundo e nunca mais aparecerão? Por quê? Porque quando eles se foram, eles se foram. Foi isso.
Efésios, capítulo 2, versículo 20, diz: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas…“. E assim, creio que os apóstolos e os profetas cessaram e seu ministério foi assumido pelos evangelistas, pastores e mestres. Você quer ouvir algo interessante? Só para mostrar como os apóstolos começaram a desaparecer, no tempo de Atos 15, quando o Conselho de Jerusalém se encontrou, não foi nem mesmo um dos apóstolos oficiais que presidiu o Conselho, mas foi Tiago, o irmão do Senhor, chamado de “apóstolo” (um mensageiro ou um enviado), apenas em um sentido secundário.
Isso se deu porque a igreja já havia sido fundada. E o design de Deus era que os apóstolos estabeleceriam a doutrina sólida, colocariam o padrão para a fundação da igreja, e então, os anciãos e os diáconos cuidariam do funcionamento da igreja, sendo que os apóstolos desapareceriam.
Claro, há outros chamados de apóstolos ou mensageiros ou enviados. Em Romanos 16:7, Andrônico e Júnia são chamados de apóstolos. Tiago, o irmão do Senhor, é chamado de apóstolo. 2 Coríntios 8:23, diz: “Quanto a Tito, é meu companheiro, e cooperador para convosco; quanto a nossos irmãos, são embaixadores [apóstolos] das igrejas e glória de Cristo.” Epafrodito é chamado também de apóstolo em Filipenses 2:25: “Epafrodito, meu irmão e cooperador, e companheiro nos combates, e vosso enviado [apóstolo] para prover às minhas necessidades.”
Mas estes são usos mais gerais da palavra apóstolo. Existe a categoria especial de apóstolos, que foi extinta, mas você só pode usar o termo apóstolo hoje num sentido muito, muito geral em que todos nós somos mensageiros ou enviados. Não somos? Mensageiros que transportam as boas novas para o mundo que precisa ouvir. Mas, no sentido do uso oficial dessa palavra no Novo Testamento, a categoria dos apóstolos deixou de existir.
Agora os apóstolos, para mostrar o quão único eles eram, tinham habilidades únicas. Em 2 Coríntios 12:12, Paulo diz que: “Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas.” Não posso ressuscitar os mortos, nem tenho poder em mim para curar os doentes. Não consigo criar sinais e maravilhas no céu. Não posso fazer nada disso. Esses são sinais, maravilhas e atos poderosos de um apóstolo. Em Hebreus, capítulo 2, versículos 3 e 4, é dito:
Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram, testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade?.
Quem foram os que ouviram diretamente do Senhor? Os apóstolos. Eles tinham habilidades únicas, poderes únicos e milagrosos. Você sabe, quando a sombra de Pedro passava sobre as pessoas, o que aconteceu com elas em Jerusalém? Ficaram curadas. Incrível! Eles foram um grupo único, para um período único da História, para estabelecer uma base doutrinal e para estabelecer um padrão. A única igreja que os apóstolos fundaram coletivamente, na verdade, foi a igreja de Jerusalém. E a estabeleceram como modelo de seu trabalho. Paulo, é claro, estabeleceu igrejas individualmente, mas os apóstolos em conjunto estabeleceram, trabalharam e ministraram nessa área de Jerusalém. Esse foi o modelo deles.
Os apóstolos estabeleceram a doutrina e o modelo para a igreja e eles deixaram de existir. E não precisamos de apóstolos hoje. Você sabe por quê? Nós já temos doutrina. Precisamos de uma nova doutrina? Precisamos de uma nova verdade? Precisamos de um novo padrão para a igreja? Não. Algumas pessoas dizem: “Bem, e o missionário hoje? O missionário não é um enviado?”. Sim, ele é um “apóstolo” no sentido de um enviado da igreja local.
Outros querem dizer: “Bem, não, na verdade o apóstolo moderno é o teólogo”. Bem, no máximo um teólogo é alguém que possui o dom do conhecimento. Mas não é um apóstolo. Ele é apenas alguém que está estudando o que um apóstolo já disse.
[Nota do site: John MacArthur pregou uma série de 12 sermões sobre o chamados dos apóstolos. Clique aqui e leia o primeiro sermão e acesse os links dos demais 11 sermões)].
3.3. OS PROFETAS
Agora, em segundo lugar, temos os profetas. Quem são os profetas? A palavra profeta no original significa “aquele que fala”. Geralmente pensamos em um profeta como alguém que diz: “Em três semanas, o céu vai cair…” ou “eu prevejo…”, você sabe, esse tipo de coisa. Você sabia que até os tempos medievais a palavra ‘profeta’ na língua inglesa não estava relacionada com a ideia de previsão do futuro? Ela sempre estava relacionada com a ideia de falar por alguém, de falar por Deus.
O profeta era alguém que deu a Deus uma voz no mundo. Agora você diz: “Bem, qual a diferença entre um profeta e um apóstolo?”. Às vezes não havia nenhuma. Paulo era ambos. Pedro também. Nós sabemos que Paulo era os dois, porque em Atos 13:1 ele é chamado de profeta, e em vários outros textos ele é chamado de apóstolo. Ele era ambos. Não há muita diferença.
Mas, eu vou te dizer qual é a diferença, como eu vejo, ao estudar o Novo Testamento. E isso pode confirmar a sua própria mente também. A diferença é que o apóstolo teve um amplo ministério para a igreja em todo o mundo. O profeta tinha um ministério para uma congregação local. Você sabe que o único momento em que Paulo foi chamado de profeta foi quando ele era um dos cinco pastores da igreja em Antioquia. Você vê, o profeta era, aparentemente, alguém que permanecia em um ministério mais localizado.
Sabemos que eles eram um grupo distinto e único e sua mensagem era a revelação de Deus. No Antigo Testamento, o profeta falava a revelação de Deus. No Novo Testamento, Paulo, Pedro, João Batista, Ágabo, que eram profetas, falaram a revelação de Deus. Eles falaram a Palavra de Deus. Além disso, eles também ensinaram a doutrina dos apóstolos. Nem todas as vezes que eles abriam a boca falaram a revelação da parte de Deus, pois eles poderiam pregar e proclamar, já que eram os cinco pastores em Antioquia.
Em Atos 13:1, temos: “E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo.“ Nem todas as vezes que eles abriram a boca, eles previam o futuro e nem todas as vezes que eles abriram a boca, eles trouxeram revelação da parte de Deus. Eles falavam por Deus. Às vezes, era revelação direta, mas às vezes falavam com base no que tinham aprendido com os apóstolos.
Agora, não confunda o ofício de profeta com o dom de profetizar. O ofício foi extinto. O dom da proclamação continua. Qual era o foco do ofício do profeta, então? Era trazer a revelação de Deus a uma situação específica. É por isso que os pastores em Antioquia são chamados profetas. É por isso que Agabo tinha aquele ministério único de falar sobre o que aconteceria com a igreja em Jerusalém, trazendo uma profecia muito específica.
Versículo 32 de Atos 15: “Depois Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram e confirmaram os irmãos com muitas palavras.” Eles também tinham um ministério de exortação. E “confirmaram os irmãos” aí provavelmente significa que eles confirmaram a Palavra com milagres. Então, os profetas traziam a revelação da parte de Deus, eles tinham capacidade para operar milagres.
Então, diferentemente de um apóstolo, um profeta estava voltado para uma congregação local. Agora ouça, não há indícios de que existissem apóstolos em Corinto, mas havia profetas. Novamente, corroborando a ideia de um ministério localizado. Assim, os apóstolos tinham uma responsabilidade geral, ampla e generalizada. Os profetas tinham responsabilidade localizada.
A revelação de Deus dada aos apóstolos foi doutrinária. A revelação dada aos profetas foi prática. Essa é uma distinção geral. Os apóstolos lançaram uma base doutrinária, a Palavra de Deus, enquanto os profetas deram conselhos práticos à igreja. Por quê? Bem, eles eram uma igreja em sua primeira fase de existência. Eles não tinham a Bíblia completa, como temos, para extrair princípios práticos.
Assim, os profetas tinham um ministério vital para dizer-lhes: “Não faça isso”, ou “Faça isso”, ou “Tenha cuidado com isso”, ou “Deus diz: tente isso” ou “Deus diz: Não faça isso”, para preservar a igreja em sua infância até o tempo que o cânon foi feito e a Palavra de Deus foi concluída. E uma vez que isso aconteceu, a existência de apóstolos e profetas deixou de ter qualquer propósito.
Mais uma distinção entre eles está no capítulo 14 de 1 Coríntios, versículo 37: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.” Em outras palavras, Paulo está dizendo: “Se alguém diz ser um profeta, certifique-se de que o que ele diz concorda com o que os apóstolos escreveram”. Assim, os profetas estavam sujeitos aos apóstolos. Eles eram secundários aos apóstolos.
Os profetas foram um grupo temporário na realidade do Novo Testamento, assim como foram temporários na realidade do Velho Testamento. Vocês sabem que os profetas existiram até o cânon do Antigo Testamento estar completo e, quando isso aconteceu, eles se foram. Não existiram profetas nos 400 anos após a conclusão do Antigo Testamento até o surgimento de João Batista. Assim que o Novo Testamento teve que ser escrito, os profetas apareceram novamente e, assim que o Novo Testamento foi completado, os profetas se foram. Não há profetas hoje, porque a Palavra de Deus nos dá tudo o que precisamos.
Agora, quais eram as funções dos apóstolos e profetas? Eles tinham três funções.
■ Fundação. Eles tiveram uma responsabilidade fundamental: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Efésios 2:20).
■ Revelação. Eles foram os porta-vozes de Deus para revelar a Sua verdade, tanto de maneira doutrinária como prática. Efésios 3:5: “O qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas“.
■ Confirmação. Eles tinham dotes e habilidades para fazer milagres para confirmar sua revelação. Agora, já que a revelação de Deus para a Sua igreja está completa em Sua Palavra, essa capacidade de operar sinais desapareceu, pois se tornou desnecessária. O fundamento da igreja já foi estabelecido pelos apóstolos e profetas. Não há novo fundamento. Você entende?
As funções desempenhadas pelos apóstolos e profetas no estabelecimento da igreja foram cumpridas e, por isso, não há mais necessidade do papel desses homens dotados. Cristo deu apóstolos e profetas à igreja para estabelecer a igreja com uma doutrina sólida. Continuaremos na próxima vez. Vamos orar.
Obrigado, nosso Pai, pela nossa comunhão nesta manhã. Obrigado por ser nosso mestre. Ajude-nos a sermos estudantes sábios, obedientes e a conhecermos a alegria e a benção que somente o Senhor dá aos que são fiéis. Ajude-me, Pai, e a todos os outros homens dotados que o Senhor deu a esta igreja e à Tua igreja em todo o mundo, a cumprir nossa parte em aperfeiçoar os santos, para que façam o trabalho do ministério, que o corpo possa ser edificado, de modo que quando a igreja for vista pelo mundo, ele não veja um edifício, mas um corpo, o próprio Jesus Cristo, em cujo nome oramos. Amém.
Esta é uma série de sermões sobre os dons do Espírito Santo e homens especialmente dotados, conforme links abaixo:
- Já Recebemos o Espírito Santo?
- Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo
- O que é o Batismo com o Espírito Santo?
- Sobre Dons Espirituais, Parte 1
- Sobre Dons Espirituais, Parte 2
- Sobre Dons Espirituais, Parte 3
- Homens Dotados (1): Profetas e Apóstolos
- Homens Dotados (2): Evangelistas, Pastores e Mestres
- Os Dons de Edificação Permanentes, Parte 1
- Os Dons de Edificação Permanentes, Parte 2
- Os Dons de Edificação Permanentes, Parte 3
- Os Dons Temporários, Parte 1 – Operação de Milagres
- Os Dons Temporários, Parte 2 – Curas (Parte 1)
- Os Dons Temporários, Parte 3 – Curas (Parte 2)
- Os Dons Temporários, Parte 4 – Dom de línguas (Parte 1)
- Os Dons Temporários, Parte 5 – Dom de línguas (Parte 2)
Este texto é uma síntese do sermão “The Gifted Men, Part 1: Apostles and Prophets”, de John MacArthur em 13/06/1976.
Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:
https://www.gty.org/library/sermons-library/1851
Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno