Vigiar e Orar

Se o Senhor Jesus precisou orar diante da tentação, recorrendo ao poder e à proteção do Pai, quanto mais nós precisamos fazer o mesmo? No Getsêmani, enquanto Jesus orava, os discípulos, confiantes eu suas próprias forças,  dormiam, e logo fracassariam diante da provação. 

Seguindo nossa trilha no Evangelho de Marcos, vamos olhar agora para Marcos 14:32-42. Era madrugada da sexta-feira da cruz, quando Jesus foi para o jardim do Getsêmani, após ter celebrado a Páscoa com seus discípulos na quinta-feira à noite, conforme vimos em sermão anterior.

Sabemos que Isaías 53 é um texto profético que retrata o sofrimento do Messias, em que descreve que Cristo seria ferido pelas nossas transgressões, moído pelas nossas iniquidades e castigado pela nossa paz com Deus. Ele sofreria em nosso lugar. O profeta também escreveu que o Messias seria um homem de dores e experimentado no sofrimento.

Nos 33 anos da vida de nosso Senhor neste mundo, como Deus encarnado, ele esteve constantemente exposto às tristezas da vida. Ele sofreu muito ao andar no meio de uma humanidade caída, amante do pecado, incrédula, ignorante, rebelde e que o odiou e o rejeitou porque também odiava o Pai.

Ele também se comoveu diante do sofrimento humano e foi movido por profunda compaixão ao expulsar demônios, curar enfermos, ressuscitar mortos e alimentar multidões famintas. Mas, acima de tudo, ele apresentou o evangelho de salvação a um povo duro, e sofreu muito com a rejeição da nação ao seu ensino.

Os milagres de Jesus foi como uma prévia do seu reino futuro. Ele retornará para estabelecer um reino milenar terreno, e nesse reino o sofrimento será severamente diminuído, a vida será prolongada e a saúde será aumentada.

Mas aquele reino futuro será apenas um prenúncio do céu eterno, onde não haverá doenças, nem tristezas, nem choro, nem lágrimas e nem a morte.

Mas, em sua vida neste mundo, nosso Senhor viu toda a tragédia da humanidade e sentiu tudo. Ele foi movido por íntima compaixão.

O Novo Testamento não diz que Jesus riu ou estava feliz. Mas fala de sua tristeza e que chorou. Ele experimentou tristeza após tristeza com a trágica realidade da humanidade. O que ele sentiu nós não somos capazes de dimensionar, porque somos pecadores e sofremos apenas nossa dor ou de quem está próximo a nós.

E, neste momento, no jardim do Getsêmani, Jesus estava enfrentando a maior tristeza de sua vida. E foi tão grave que a Bíblia diz que ele foi tomado por pavor e de angústia (Mc. 14:33). Ele declarou: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mc. 14:34).

Marcos 14
³² Então, foram a um lugar chamado Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar.
³³ E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia.
³⁴ E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai.
³⁵ E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora.
³⁶ E dizia: Aba,Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres.
³⁷ Voltando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora?
³⁸ Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.
³⁹ Retirando-se de novo, orou repetindo as mesmas palavras.
⁴⁰ Voltando, achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam pesados; e não sabiam o que lhe responder.
⁴¹ E veio pela terceira vez e disse-lhes: Ainda dormis e repousais! Basta! Chegou a hora; o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.
⁴² Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima.

Isso é relatado nos quatro evangelhos. Olhar para a agonia de Jesus no Getsêmani nos leva a entrar num terreno sagrado, em uma luta sobrenatural, um conflito privado e divino. Esta experiência de nosso Senhor na tristeza e no sofrimento desafia a compreensão humana.

Muitos passam por este texto sem a devida atenção. Podemos ver elementos profundos sobre Seu coração, não podemos nos contentar com uma compreensão superficial de Cristo. A Sua glória transcende a nossa compreensão, mas há muito que podemos compreender que o torna ainda mais glorioso, ainda mais digno da nossa adoração e obediência.

Em toda a história, nunca houve e nunca haverá sofrimento semelhante ao que Jesus sofreu na cruz. Nenhum homem jamais poderia suportar o cálice da ira de Deus sobre seus ombros. Tomar o cálice da ira de Deus é algo incompreensível para nós.

Sua tristeza e lutas naquele momento foram tão severas que Jesus disse: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mc. 14:34). Foi um conflito surpreendente para Ele, que nunca tinha experimentado antes.

Satanás tentou impedir a cruz

Jesus teve um forte embate contra Satanás no deserto (Lc. 4, Mt. 4 e Mc.1). Durante 40 dias, Jesus jejuou e enfrentou terríveis investidas de Satanás. O inimigo estava tentando desviá-lo da cruz, oferecendo um caminho sem sofrimentos.

Outro embate está registrado em Mateus 16, quando ele falou que seria morto e ressuscitaria, e Pedro o repreendeu dizendo: “em compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá” (Mt. 16:22). Jesus disse: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mt. 16:23).

Houve ali um novo esforço de Satanás para mantê-lo afastado da cruz. Satanás sempre tentou afastar Jesus da cruz, ele não queria Jesus crucificado, ele nunca esteve por trás da crucificação de Jesus. Ele não desejava que isso acontecesse, pois bem sabia o que a cruz significava e que Jesus tinha vindo para isso.

Como vimos em sermão anterior, quando Satanás entrou em Judas para trair Jesus, na verdade ele quis provocar um tumulto em defesa de Jesus, ele pensou que a multidão que o celebrou como rei na segunda-feira viria em defesa dele.

O líderes religiosos temiam exatamente isso e não queriam prendê-lo na Páscoa (Mc. 14:2). Mas Deus estava no comando, e Jesus deveria morrer como um cordeiro pascal na sexta-feira.

Satanás sabia que sem cruz não haveria salvação e perdão dos pecados, que Jesus fracassaria em cumprir a vontade do Pai e que as trevas sairiam em triunfo retumbante.

E naquele momento no Getsêmani, Satanás estava fazendo outro esforço para que Jesus desistisse da cruz. Esta é a grande batalha. Por isso Jesus disse: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mc. 14:34).

A batalha no Getsêmani e a exortação de Jesus sobre vigiar e orar

Marcos 14
³² Então, foram a um lugar chamado Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar.

Conforme vimos no último sermão, Jesus havia saído do cenáculo, onde celebrou a Páscoa com os discípulos, e foi para o Monte das Oliveiras com eles. Ali, Pedro e os demais hes garantiram que estavam dispostos a dar a vida por ele. Mas Jesus lhes disse que todos eles se dispersariam e fugiriam (Mc. 14:26-31).

Pedro foi enfático em dizer: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei” (Mc. 14:31). E todos os demais repetiram a mesma coisa. Mas Jesus respondeu a Pedro que ele o negaria três vezes naquela noite. Ele afirmou também que todos iriam abandoná-lo (Mc. 14:27, 29-30).

Em Marcos 14:32 eles estão no jardim do Getsêmani. Judas já tinha saído para consumar a traição. Aquele jardim foi emprestado por alguém para uso de Jesus e dos discípulos, talvez houvesse ali algum tipo de alojamento. Getsêmani significa “lagar de azeite”. É o Monte das Oliveiras. Cultiva-se azeitonas lá até hoje.

Era um lugar muito conhecido dos discípulos, inclusive de Judas Iscariotes, pois João 18:2 diz que “Jesus ali estivera muitas vezes com seus discípulos”.

Lucas 22:39-46 diz que Jesus, ao chegar no Getsêmani, alertou seus discípulos para que orassem para não caírem em tentação. E se afastou um pouco para orar sozinho.

No sermão do monte, na oração do Pai Nosso, Jesus ensinou que devemos orar pedindo a Deus para não nos deixar cair em tentação e nos livrar do mal (Mt. 6:13). Jesus deve ter repetido essa lição muitas vezes a eles. Agora, no Getsêmani, ele repete dizendo: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mc. 14:38).

Não podemos depender de nossas próprias forças, temos que invocar o Senhor. Vigiar em oração é um meio de graça para vencermos a iniquidade e sermos vitoriosos. 

Jesus disse a Pedro: “Roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc. 22:32). Não haverá um fracasso total para os verdadeiros convertidos. Estamos guardados pelo poder de Deus, (1 Pe. 1:5). Em João 17, Jesus orou:

Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste […] não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal […] não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim. (João 17:11,15,20)

Temos um Sumo Sacerdote intercedendo por nós e estamos protegidos de um fracasso total por meio de Sua intercessão. Mas, se confiarmos na nossa própria força humana, e não vigiamos em oração, dependendo do poder de Deus, perderemos batalhas contra a tentação ao longo do caminho.

Os discípulos estavam prestes a passar pelos momentos mais terríveis de suas vidas, e confiaram em suas próprias forças, por isso perderam aquela batalha.

Bem, com isso como pano de fundo, vamos dar uma olhada nas cenas que se desenrolam em Marcos 14:32-42.

1) A aflição transcendente de Jesus

Marcos 14
³² Então, foram a um lugar chamado Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar.
³³ E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia.
³⁴ E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai.

A aflição que chegou a Cristo naquela hora excede a qualquer coisa que possamos conhecer. Jesus chamou os líderes daquele grupo para perto dele. Pedro, João e Tiago eram aqueles que influenciavam os demais. Foi uma oportunidade que eles tiveram para aprender a necessidade de orar para vencer a tentação.

Os pensamentos deles estavam dispersos com assuntos nada nobres, por exemplo:

Mesmo durante a refeição da última Páscoa, a poucos momentos antes da prisão de Jesus, os discípulos discutiam quem dentre eles era o maior (Lc. 22:24).
Quando Jesus anunciou que estavam indo para Jerusalém para morrer, João e Tiago, através de sua mãe, pediram para ser os maiores (Mt. 20:17-21).
E Pedro se considerou o mais forte e resistente de todos eles (Mc. 14:29).

Pedro, Tiago e João eram os mais confiantes em si mesmos. E não vigiaram em oração quando a tempestade estava tão próxima. Eles tiveram que aprender da maneira que aprendemos melhor: pelo fracasso, com o desastre da falta de oração.

Se o Senhor Jesus Cristo precisou orar diante da tentação, quanto mais nós precisamos orar? Se ele foi tentado em todos os aspectos como nós, mas sem pecado (Hb. 4:15) e recorreu ao poder e à proteção do Pai, quanto mais nós precisamos fazer o mesmo?

Jesus estava angustiado naquele momento. No original a palavra traduzida por “angústia” é uma forma composta do verbo “ficar surpreso”. O sentido é que Jesus estava vivenciando algo totalmente estranho a tudo que ele já havia experimentado.

E isso nada teve a ver com o sofrimento, com a crucificação, com os flagelos que sofreria, com a morte, com a traição de Judas, com a rejeição de Israel e com a iminente deserção temporária dos onze discípulos. Não teve nada a ver essas coisas.

O que ele sentiu foi uma antecipação de se tornar o sacrifício final por nossos pecados. Ele carregaria sobre si nossos pecados. Ele iria enfrentar algo completamente estranho para Si mesmo. Ele nunca conheceu o pecado.

2 Cor. 5:21 diz: “Àquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus”. Tiago 1:13 diz que Deus não pode ser tentado pelo mal e que ele não tenta ninguém.

Na sua humanidade Jesus foi tentado em todas as coisas, assim como nós (Hb. 4:15). Mas porque era o Deus-homem ele não poderia pecar, sua luta não foi como a nossa, que somos parte de uma humanidade caída.

Somos tentados pela concupiscência da carne, pela concupiscência dos olhos e pela soberba da vida (1 João 2:16). Mas Jesus não tinha pecaminosidade humana. Ele era homem, mas não tinha pecaminosidade humana. Nada em Sua natureza poderia ser atraída ao pecado.

Lutamos porque o poder do mal é muito forte em nós. Lutamos contra impulsos internos e fortes, sempre presentes, profanos e residentes. E lutamos para fazer o que é certo, para alcançar a justiça. Nossa batalha é lutar contra os impulsos irresistíveis do mal que estão em nós.

Não foi assim com Jesus. Ele lutou exatamente de maneira oposta por causa de Sua natureza santa, por causa de Sua pureza sem pecado, por causa de Sua justiça total, por causa de Seu perfeito amor e obediência ao Pai. Ele lutou porque o poder da santidade era a única coisa nele.

Que a justiça era o único motivo e impulso de Sua alma santa está claramente indicado nas Escrituras, e o que Deus estava pedindo que Ele fizesse era abraçar o pecado como um portador de pecados – não como um pecador, mas como um portador de pecados para beber o cálice da ira de Deus por nossos pecados, para receber o castigo divino.

Nós lutamos porque o poder do pecado é muito forte em nós. Ele lutou porque o poder da santidade era o único poder que existia nele. Como Ele poderia se tornar um portador de pecados e receber a ira de Deus? E não podemos dimensionar o que é levar sobre si, de forma substituta, a ira eterna de Deus sobre cada um que seria salvo. É por isso que sua luta foi tão imensa.

Ele disse: “A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai” (Mc. 14:34). Ele estava literalmente rodeado de tristeza e envolvido nessa dor até a morte. Ele nunca pecou.

E sua angústia foi tão grande nesta luta, de Sua própria natureza, que é ajudada e instigada de alguma forma por Satanás, tentando fazer com que Ele evitasse a cruz. Lucas relata:

Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra. (Lc.22:43,44)

Um anjo veio para confortá-lo. E tal foi o estresse naquele momento, que ele começou a suar gotas de sangue. Um fenômeno conhecido como hematidrose, sangramento espontâneo através da pele íntegra que cessa após alguns minutos, e uma de suas causas é o estresse.

Aquele foi o momento máximo do estresse humano. E a angústia foi tão profunda que um anjo teve que salvar Sua vida. Ele poderia ter sangrado até a morte por causa da luta e do estresse.

2) A petição de Jesus

Marcos 14
³⁵ E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora.
³⁶ E dizia: Aba,Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres.

Estava chegando a hora do poder das trevas, de todo o sofrimento que antecedeu e incluiu a sua cruz. Não somos santos em nossa essência, então não podemos entender bem o que foi aquele momento para Jesus.

Você diz: “Isso não mostra fraqueza da parte de Jesus? Isso não mostra relutância em obedecer ao Pai?”

Se ele não reagisse assim, nos perguntaríamos se ele era de fato santo. Aquele foi o único pensamento possível de uma pessoa essencialmente santa e pura na iminência de carregar o pecado, a culpa e o julgamento de todos nós. Esta é a resposta aceitável, normal e esperada.

Não temos um ódio perfeito contra o pecado, o Senhor tem. Tudo em seu ser foi repelido pelo pensamento de iniquidade. Seu apelo é absolutamente consistente com sua natureza como Deus santo. Ele é puro demais para olhar para coisas que são pecaminosas. Habacuque 1:13 diz: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal”.

Não é de se espantar que Jesus tenha chegado quase ao ponto da morte. A perda de sangue foi tão severa que um anjo teve que vir resgatá-lo de alguma forma.

Ele disse: “Aba! Pai!”. “Aba” significa “papai, paizinho”. Nenhum judeu jamais chamaria Deus de Pai, muito menos o chamaria de “Aba”. Mas nosso Senhor invocou o nome afetuoso, íntimo e pessoal de Deus, como se implorasse por esse amor íntimo para resgatá-lo.

Ele disse: “tudo Te é possível”. É um fato absoluto, todas as coisas são possíveis para Deus. Não há nada que Deus não tenha o poder e o direito de fazer. Ele pode fazer o que quiser em toda a Terra. O Salmo 136:13 diz: “Tudo o que o Senhor quis, ele o fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos”.

Se Jesus não fosse para a cruz, teríamos terríveis e fatais problemas. Satanás venceria, o céu estaria vazio, a Bíblia não seria verdadeira, as promessas de Deus seriam mentirosas e não haveria salvação.

Deus pode fazer o que quiser. Mas Deus quis que a salvação viesse através do sacrifício de sangue. Sem derramamento de sangue não há perdão dos pecados (Hb. 9). Deus não pode voltar atrás em Sua palavra.

E embora Deus possa fazer qualquer coisa que ele queira, uma coisa que ele não quer é fazer o que ele diz que nunca faria ou deixar de fazer o que ele disse que faria. Deus nunca é inconsistente com sua Palavra.

Sabemos o que estava no coração de Jesus: “Tira de mim este cálice”. O cálice é um símbolo do Antigo Testamento da ira divina. Fala de uma taça de ira (Salmo 11:6, 75:7-8; Isaías 51:17; Jeremias 25:15-38, Jeremias 49:12; Lamentações 4:21-22 etc.).

Em João 18:11 Jesus diz a Pedro: “Mete a espada na bainha; não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?”. Ele teria que beber o cálice da ira de Deus por nossos pecados.

Ele veio para isso e sabia que estava próximo de acontecer. Após sua entrada em Jerusalém, na semana da cruz, ele disse: “Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora” (João 12:27).

Ao mesmo tempo que ele pede ao Pai para remover o cálice, se fosse possível, ele diz: “contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres” (Mc. 14:36). Em João 4:34 ele disse: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”.

3) A exortação de Jesus sobre vigiar em oração

Marcos 14
³⁷ Voltando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora?

Os discípulos estavam dormindo de tanta tristeza (Lc. 22:45). As coisas não estavam acontecendo do jeito que pensavam. Eles deviam estar se questionando: “Cadê o reino? Cadê a igreja cujas portas do inferno não prevaleceriam contra ela? Onde está toda a glória esperada?”.

Eles ouviram Jesus falar de um traidor entre eles; que todos eles iriam fugir; que Pedro iria negá-lo três vezes antes das 3 horas da madrugada; que ele seria morto etc. Eles viram a nação rejeitá-lo; o ódio mortal dos líderes religiosos; Jesus prenunciando juízo sobre Jerusalém e sobre o templo etc. Não era nada disso que eles esperavam.

Era meia noite, eles haviam tido um dia muito muito exaustivo. Eles estavam apenas esperando por Jesus, que se afastou para orar a sós, e não sabiam o que estava acontecendo. O sono funcionou como um tranquilizante diante de suas tristeza pesadas.

Marcos 14
³⁸ Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.

O Senhor os alertou: Vocês não entendem o perigo que estão correndo por não vigiar em oração? Pedro deveria estar com essas palavras em mente quando escreveu: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1 Pedro 5:8).

Boas intenções não são suficientes. Nosso Senhor nos dá esta lição simples: “O espírito está pronto, mas a carne é fraca.” O novo homem, a natureza regenerada, o homem interior tem aspirações nobres; mas a carne é fraca. É por isso que Paulo escreveu:

Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? (Romanos 7:21-24)

No meio da agonia mais profunda de toda a Sua existência como um ser eterno, Jesus estava preocupado com seus discípulos. Por João 13:1 diz que “sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”.

Jesus é o Sumo Sacerdote misericordioso e compassivo, que no meio de uma luta cósmica e sobrenatural de proporções épicas, incompreensíveis para nós, interrompeu sua oração e saiu porque está preocupado com a vulnerabilidade espiritual de seus amigos, de seus discípulos. Esse é o nosso Grande Sumo Sacerdote.

Não importa quão intensa seja a luta que estamos enfrentando, o Senhor tem cada redimido em Seu coração. Um velho hino diz: “Meu nome está gravado em suas mãos, meu nome está escrito em seu coração, ele vive sempre para interceder por nós.”

Marcos 14
³⁹ Retirando-se de novo, orou repetindo as mesmas palavras.
⁴⁰ Voltando, achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam pesados; e não sabiam o que lhe responder.

Ele se afastou e continuar a orar a sós, dizendo ao Pai as mesmas palavras. Ele repetiu essas palavras agonizantemente durante um prolongado período.

Ele interrompeu a oração novamente porque estava preocupado com os discípulos. E os encontrou novamente dormindo. E eles não sabiam o que lhe dizer.

Marcos 14
⁴¹ E veio pela terceira vez e disse-lhes: Ainda dormis e repousais! Basta! Chegou a hora; o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.

Pedro, Tiago e João continuavam não só indiferentes às necessidades de Cristo naquele momento, mas às suas próprias necessidades de força e vigilância diante da iminente provação que todos os onze discípulos enfrentariam logo em seguida.

Eles precisavam aprender que a vitória espiritual chega àqueles que estão alertas em oração e dependem de Deus, e que a autoconfiança e os despreparo espiritual levam ao fracasso.

4) A Submissão triunfante de Jesus

Vimos a aflição, a petição e a exortação. Há uma consideração final nos últimos versículos. Vamos chamar isso de submissão triunfante.

Jesus saiu triunfante, a batalha estava vencida, a luta terminou através de sua batalha em oração. Ele disse sem hesitação: “Basta! Chegou a hora; o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores, levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima”. (Mc. 14:41-42).

Eles estavam na encosta do Monte das Oliveiras. Chegou uma comitiva composta pelos líderes, o Sinédrio de Israel, e vários outros religiosos. Havia a polícia do templo que policiava as multidões no templo. Havia uma corte de romanos que podia chegar a 600 soldados.

Poderia haver mil pessoas subindo a colina com tochas. Ele vê isso. “Veja, o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.” Judas indicou o local onde este estava. Ele não fugiu e nem dificultou sua prisão. João relata:

João 18
² E Judas, o traidor, também conhecia aquele lugar, porque Jesus ali estivera muitas vezes com seus discípulos.
³ Tendo, pois, Judas recebido a escolta e, dos principais sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas.
⁴ Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais?
⁵ Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Então, Jesus lhes disse: Sou eu. Judas, o traidor, estava também com eles.
⁶ Quando, pois, Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra.
Jesus, de novo, lhes perguntou: A quem buscais? Responderam: A Jesus, o Nazareno.
Então, lhes disse Jesus: Já vos declarei que sou eu; se é a mim, pois, que buscais, deixai ir estes;

Cerca de mil deles caíram no chão apenas pelo som de sua voz quando Ele disse: “Sou eu”. Eles rastejaram de volta. Ele disse isso pela segunda vez. Ele está triunfante. Ele é majestoso. Mas os discípulos? Eles iriam fugir para salvar suas vidas. Despreparados por falta de oração.

Assim, com uma resolução triunfante, Jesus enfrentou o traidor, os inimigos religiosos, os soldados romanos e todo o resto da multidão. O resto da história daquele momento é crucial, e veremos isso na próxima vez.

Mas antes de fazermos isso, quero apenas encerrar com uma pergunta muito importante e convincente:

O que foi que fez com que Jesus saísse com aquela submissão triunfante? Por que Ele disse: “Eu irei para a morte”? Por que ele faria isso? Por que Ele aceitaria isso de Deus?

O escritor da carta aos hebreus diz:

Hebreus 5
Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade,

Em outras palavras, Jesus confiou na promessa da ressurreição. Deus o salvaria da morte. Deus não evitaria a sua morte, mas ele o salvaria dela. Isto é um reflexo do Salmo 16:10, uma declaração profética a respeito de Cristo, que diz: “Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção”.

Então, com súplicas, alto clamor e lágrimas, ele orou ao Pai, o único que poderia salvá-lo da morte, que o ouviu porque ele era o Santo. E na manhã do domingo após a cruz, ressuscitou-o dentre os mortos.

Romanos 1:4 diz: que Jesus “foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor”.

Foi a confiança de nosso Senhor na promessa de ressurreição do Pai e no poder da ressurreição do Pai que o capacitou a aceitar isso de seu Pai, ir para a cruz e olhar além dela para sua própria ressurreição. Vamos orar.

Pai, nós Te agradecemos pela Tua verdade. A Tua Palavra é luz nas trevas. Ela nos permite enxergar as coisas que estão escondidas na escuridão.

Agradecemos-te por nos teres permitido colocar a luz das Escrituras e mergulhar profundamente nas tristezas e sofrimentos do nosso Senhor e Salvador. Lembre-nos que Ele fez isso por todos que creem nele.

Que possamos saber que porque Ele morreu carregando os nossos pecados, porque Ele ressuscitou em novidade de vida, nós também vamos ressuscitar para andar em uma nova vida se colocarmos nossa confiança nele.

Senhor, oro hoje para que pessoas dobrem os joelhos em arrependimento, abandonem o pecado e abracem Jesus Cristo como seu próprio Salvador e Senhor. Faz, Senhor, uma obra poderosa

O mesmo poder que ressuscitou Cristo pode ressuscitar homens da sua própria morte espiritual e dar-lhes vida Nele. Traz tua bênção neste dia. Em nome do Senhor Jesus, em cujo nome oramos, amém.


Leia também:


Esta é uma série de  sermões de John MacArthur sobre o Evangelho de Marcos.

Clique aqui e veja o índice com os links dos sermões traduzidos já publicados desta série.


Este texto é uma síntese do sermão “The Agony of the Cup”, de John MacArthur, em 24/4/2011.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/41-75/the-agony-of-the-cup

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno.


 

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