Um Retrato da Fé Salvadora – 2


Este é o segundo de uma serie de 2 sermões de John MacArthur sobre a Gálatas 4:21-31 a 5:1. Nesta porção da Escritura são usadas as circunstâncias do nascimento de Ismael e Isaque como ilustração do contraste entre a eficácia da obra soberana de Cristo e a inutilidade do esforço humano. Veja no fim do texto os links.


Vamos retornar agora a Gálatas 4:21 até 5:1 e continuar o assunto que começamos na última vez. Sei que a sua concentração será testada, devido à singularidade desta passagem. É uma passagem notável, inesquecível, poderosa, contundente e, ainda assim, raramente é abordada.

4:21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?
22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
24 O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar.
25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.
26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.
28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.
29 Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora.
30 Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre.
31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.
5:1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.

Agora, eu sei que ler isso novamente deixará você meio confuso, até entrarmos nos detalhes, quando tudo se abrirá e se tornará incrivelmente maravilhoso. Vamos começar pelo final: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou”. Esse é um resumo do que Paulo diz nessa passagem e, de fato, em toda a carta aos Gálatas.

Os crentes foram libertados por Cristo. Os crentes são livres. Aprendemos que os crentes estão livres da escravidão da lei. E Paulo os exorta, dizendo: “não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão”. Ou seja, “você é livre, não volte para a escravidão”.

Do que ele está falando? O que é essa liberdade, e o que é essa escravidão? A maioria das pessoas do mundo acha que a liberdade é a capacidade de fazer exatamente o que você quer fazer, sem restrições de outras pessoas e limites. A ideia é que você está, literalmente, livre para fazer o que seu coração e sua vontade desejarem.

Essa é a liberdade que o mundo procura. E há uma aparente liberdade nisto: eles são livres para selecionar seus pecados. Mas eles são escravos do pecado e são dominados por ele. É uma falsa liberdade, é uma ilusão. Essas pessoas que pensam que são livres veem a Palavra de Deus como algo que restringe sua aparente liberdade. E mais, algo os condena e os julga. E isso é intolerável para eles. E assim, há uma hostilidade em relação à verdade de Deus e ao verdadeiro cristianismo.

O falso cristianismo procura conciliar essa situação, oferecendo um evangelho falsificado, que alimenta a sensação de liberdade e elimina qualquer condenação. Esse é um falso cristianismo.

Não há dúvida sobre o fato de que a Bíblia condena o pecado, não importa quem o esteja praticando. Mas, a Bíblia vai além disso, e diz que o pecado não é simplesmente obras externas, mas ele procede do mais profundo interior do homem. O homem ímpio é movido pelos desejos da carne, pelos desejos dos olhos e pela soberba da vida.

Porém, à medida que vivemos cada vez mais em uma sociedade onde a aparente liberdade é celebrada, a Bíblia se torna cada vez mais inimiga. A realidade é que essas pessoas não são livres, elas estão sob uma escravidão horrenda. Estão escravizadas não apenas ao seu pecado, mas à lei nesse sentido. Estão vivendo em constante violação da lei de Deus, pela qual haverá uma sentença e um julgamento final no inferno eterno. Em João 8:34, Jesus disse que “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado”. Não há liberdade em pecar, mas escravidão.

Você pergunta: “Todos estão sob a lei de Deus?” Deus usa Sua lei para avaliar todo ser humano que já viveu, e toda violação dessa lei constitui um julgamento final que acaba no inferno. Não há liberdade para a pessoa que vive dessa maneira. Eles não estão livres das exigências da lei e nem da penalidade que o Juiz lhes aplicará. Todos estão sob a maldição da lei.

Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las. (Gálatas 3:10)

A única liberdade verdadeira que existe é quando o homem é liberto dessa maldição.

Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro. (Gálatas 3:13)

E essa redenção é aplicada a nós pela fé. Ao colocar nossa fé e confiança em Cristo, somos libertados da escravidão da lei, da tirania da lei e do julgamento da lei. Somente Cristo pode libertar. Em João 8:36, Jesus disse: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. Essa é a liberdade real.

Quando o homem vem a Cristo, está livre da lei, no sentido de que está livre das penalidades da lei moral. Porque Cristo suportou todas as penalidades por ele. E, como crente em Cristo, o redimido também está livre das leis cerimoniais e rituais que faziam parte do judaísmo. Essas leis serviram para Deus identificar Seu povo através de Abraão, identificar a nação Israel como Seu povo e Sua testemunha no mundo.

A lei moral é simplesmente a glória radiante de Deus em preceitos. Mas Deus também deu a Israel todos os tipos de leis cerimoniais, festas e festivais, sábados, luas novas, leis alimentares, leis de vestuário e muitas e muitas leis, que serviam para fazer de Israel uma nação peculiar e para afastá-la da influência da idolatria.

Todo crente em Jesus Cristo é livre dessas leis de ordenanças. Elas foram abolidas por Cristo. Essas ordenanças eram sombras das coisas futuras, mas, quando a realidade veio, as sombras desapareceram. Não há mais leis alimentares, lua nova, festival ou mesmo um dia de sábado. Não há mais sistema de sacrifício. O véu no templo foi rasgado de cima para baixo, e não há mais sacerdócio, exceto o sacerdócio de todos os crentes que têm acesso direto a Deus.

Então, tudo o que era externo, ritualístico, formal e simbólico desapareceu na realidade de Cristo. E não há mais uma nacionalidade especifica como povo de Deus, existe agora um povo de Deus formado por judeus e gentios – a igreja. Nós somos o povo de Deus, e não somos definidos por nenhum tipo de ritual ou aparência externa.

Os gálatas haviam chegado a Cristo. Eles eram verdadeiros crentes, e são referidos como crentes por toda esta carta. Eles creram no evangelho. Eles foram salvos somente pela fé em Cristo. Eles experimentaram o poder de Deus na regeneração, transformação, nova vida. Eles não tinham nada. Eles tinham tudo. O Espírito Santo os capacitou a amar e obedecer à lei moral de Deus.

Mas, vieram alguns judaizantes de Jerusalém. Eles afirmavam ser cristãos, que criam em Cristo. E eles chegaram aos gálatas e disseram: “Vocês não estão salvos. Vocês não podem ser salvos, se não guardarem os preceitos da lei de Moisés, inclusive circuncisão, ordenanças, cerimônias e rituais”. Ou seja, eles ensinaram que aqueles irmãos tinham que guardar os símbolos externos do judaísmo.

Havia tanto orgulho, que eles pensavam que nenhum gentio poderia entrar no reino de Deus, na igreja cristã, a menos que ele se tornasse um prosélito do judaísmo. Esses judaizantes perseguiam os passos do apóstolo Paulo para propagar um falso evangelho.

Os fariseus eram a força teológica dominante no judaísmo. Os saduceus eram a força dominante em termos de estrutura de poder e dinheiro, porque administravam o templo. Os fariseus eram obcecados com a lei. Não pelos elementos internos da lei, mas pelos externos. Eles não foram regenerados, não haviam sido verdadeiramente convertidos, não podiam fazer nada para mudar seus corações. Jesus os tratou como ímpios e proferiu duro juízo contra eles:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. (Mateus 23:27-28)

Interiormente, eles eram desprovidos de vida espiritual. Não havia virtudes divinas em seu interior, não eram piedosos. Então, ficaram obcecados com obras externas, ritualismo, formalismo etc. Eles se apegavam a qualquer coisa que fosse um tipo visível de comportamento que aparentasse piedade ou religiosidade.

Em Mateus 23, Jesus disse que eles atavam fardos pesados e difíceis de suportar, e os colocavam nos ombros dos homens. Faziam todas as obras a fim de serem vistos pelos homens, e percorriam o mar e a terra para fazerem um prosélito, mas produziam filhos do inferno duas vezes piores do que eles.

Eles eram orgulhosos, legalistas, hipócritas. E acreditavam que estavam ganhando a salvação por esses comportamentos externos. Eles pensavam que a lei era fonte da vida espiritual e eterna. A verdade é que a lei era a fonte da morte. Esse foi o testemunho de Paulo, que foi um fariseu e pensava que a lei era vida para ele. Após experimentar a salvação, ele declarou:

Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra. (Romanos 7:6)

O homem retido na lei pensa que é livre, mas ele apenas está retido em algo que o escravizará. O homem que vive assim acredita que suas obras externas o salvarão. Aqueles judaizantes estavam obcecados por cerimônias e rituais. Paulo sabia bem disso. Ele viveu muitos anos como um fariseu zeloso, mas depois que ele experimentou a graça salvadora, compreendeu perfeitamente o cativeiro que vivia.

Ninguém é salvo por obras externas, cerimonias e ritualismos. Não há poder nessas coisas para salvar alguém. Você é salvo apenas pela fé em Jesus Cristo. O cristão não tem uma justiça própria, mas uma justiça que lhe foi imputada – a justiça de Deus que vem a você pela fé em Jesus Cristo.

A conversão e a compreensão do evangelho por um fariseu como Paulo provocou uma árdua perseguição. Os ex-fariseus judaizantes o seguiam por toda parte e perseguiam seus passos. Eles estavam seguindo um homem que os conhecia bem. Paulo era um arqui-inimigo dos legalistas. Ele conhecia o verdadeiro evangelho e sabia combater o falso evangelho dos judaizantes.

Em Atos 15, temos um exemplo da ação dos judaizantes em Antioquia:

1 Então alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos.
2 Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles…

Logo depois, Paulo e Barnabé foram a Jerusalém discutir a questão:

4 E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos, e lhes anunciaram quão grandes coisas Deus tinha feito com eles.
5 Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés.
6 Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto.
7 E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes…
10 Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?
11 Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também.

Os apóstolos e anciãos se reuniram para examinar o assunto e destruir essa falsa doutrina. Eles rejeitaram esse erro grave e herético. Mas isso não inibiu os falsos mestres. Eles continuaram a fazer tudo que podiam para perturbar o ministério dos apóstolos.

Então, eles foram para a Galácia e ensinaram heresias, afirmando que a salvação dependia de cada pessoa se tornar um prosélito judeu primeiro, reconhecendo a circuncisão e todos os preceitos da lei mosaica. E sobre isso, Paulo os exortou duramente:

Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. (Gálatas 1:6-8)

Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne? (Gálatas 3:1-3)

Paulo se lança em defesa da salvação somente pela fé em Cristo, refutando qualquer resíduo de legalismo. No capítulo 5, ele diz:

1 Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.
6 Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor.
9 Um pouco de fermento leveda toda a massa.
12 Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando.

Nos capítulos 1 e 2 de Gálatas, Paulo defende a doutrina da justificação pela fé por sua própria experiência pessoal, sobre o que Deus fez em sua vida para lhe revelar o evangelho da fé. Nos capítulos 3 e 4, ele defende as Escrituras. Agora, estamos no final dessa seção das Escrituras. Ele já fez sua defesa das Escrituras e agora, a partir do versículo 21, ele fornece uma ilustração para apoiar sua defesa, e é absolutamente impressionante.

Observe, no versículo 24 do capítulo 4 de Gálatas, algumas traduções dizem “alegoricamente”. Mas isto não é uma alegoria, é uma figura de linguagem, uma analogia ou uma ilustração. É um relato histórico real do livro de Gênesis. Simplesmente serve como uma poderosa ilustração.

No capítulo 3:11, Paulo havia dito que “pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé”. E no 4:21, ele questiona: “Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?”.

A lei moral existe para condenar. Retornar a ela é ficar debaixo da condenação, pois ninguém será justificado pelas obras da lei. A lei cerimonial foi estabelecida para definir um povo étnico, no passado, sob a antiga aliança mosaica. Mas isso deixou de fazer sentido, pois em Cristo “não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo, e em todos” (Col. 3:11). Em Efésios 2, Paulo diz:

11 Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens;
12 Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo.
13 Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.
14 Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio,
15 Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz,
16 E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.

Em Gálatas 4:21 até 5:1, Paulo ilustrou essa verdade de uma maneira muito graciosa e eficaz. Ele usa uma ilustração muito poderosa da vida de Abraão. Existem três partes: a ilustração histórica, a interpretação divina e a implicação pessoal.

Na última vez que vimos o ponto 1, a ilustração histórica, versículos 22 e 23:

22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.

Essa é a ilustração histórica. Abraão foi aquele de quem Deus deu à luz toda a nação de Israel. Abraão teve dois filhos chamados Ismael, que veio primeiro, e depois de 14 anos, veio Isaque. Eles nasceram de duas mães. Uma era Agar, uma escrava na casa de Abraão. E um nasceu de Sara, uma mulher livre e esposa de Abraão.

O filho da escrava Agar nasceu segundo a carne, e o filho da mulher livre através da promessa. Embora Abraão e Sara já estivessem com idade avançada e Sara fosse estéril, Deus disse a Abraão que dele sairia um povo numeroso. Deus lhe disse: “Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência” (Gênesis 15:5).

Mas o tempo passou e eles não tiveram filhos. Sara recorreu a uma solução humana, carnal. Ela ofereceu sua escrava Agar para que Abraão pudesse gerar um filho e cumprir a promessa de Deus. Assim nasceu Ismael, quando Abraão tinha 86 anos de idade (Gênesis 16:16). Agar era escrava, e Ismael nasceu segundo a carne.

Treze anos depois, Deus diz a Abraão: “Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele estabelecerei a minha aliança” (Gênesis 17:19”). Quando Abraão tinha 100 anos e Sara 90, Deus faz um milagre no ventre de Sara, e ela gerou um filho junto com Abraão (Gênesis 21:1-2). Deus tinha uma promessa, Abraão e Sara tentaram cumpri-la pela carne. Deus a cumpriu através de uma obra sobrenatural.

A verdade espiritual que está sendo ilustrada é que Ismael é o resultado da carne, de ação pecaminosa, esforço próprio para alcançar a promessa de Deus. Ismael era escravo, porque Agar era escrava. A descendência que saiu de Ismael também era escrava. É isso que acontece quando tentamos realizar a vontade de Deus através de obras. Não alcançaremos a vontade de Deus por meio de esforço pecaminoso de obras.

Por outro lado, Isaque é o resultado do poder de Deus, um milagre sobrenatural para dar vida para cumprir Sua promessa, e tudo o que Abraão tinha que fazer era crer. Esforço humano, obras, justiça própria, legalismo e a carne produzem apenas escravidão. Você começa como escravo e apenas amplia sua escravidão. Por outro lado, fé na promessa de Deus, fé no caminho de Deus, fé em que Deus fará o que Ele diz por Seu próprio poder produz liberdade. Então, essa é a ilustração.

O segundo ponto é a interpretação divina. Isso é incrível. Preste bastante atenção. Esta é a interpretação divina. Gálatas 4:24-25 diz:

O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.

Há duas alianças: A velha e a nova. Você não pode entender as Escrituras, a menos que entenda essas duas alianças. A antiga aliança era a aliança mosaica baseada em obras, a nova aliança é baseada na fé.

Duas mulheres tiveram dois filhos e ilustram as duas alianças. Agar e Ismael ilustram a aliança do Monte Sinai. O que procedeu do Monte Sinai gerou filhos para a escravidão, pois escravos geram mais escravos. Agar é o Monte Sinai, localizado na Arábia. O que aconteceu no Monte Sinai? Foi lá que Deus deu a lei. O Monte Sinai era um lugar aterrorizante, e é um símbolo da Antiga Aliança.

Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente. Então, disse Moisés ao Senhor: “O povo não poderá subir ao monte Sinai, porque Tu nos advertiste, dizendo: Marca limites ao redor do monte e consagra-o. Replicou-lhe o Senhor: Vai, desce; depois, subirás tu, e Arão contigo; os sacerdotes, porém, e o povo não traspassem o limite para subir ao Senhor, para que não os fira.” (Êxodo 19:18, 23-24).

Êxodo 19:16 diz que o povo estremeceu diante do que acontecia no Monte Sinai. Hebreus 12:21 diz que “tão terrível era a visão, que Moisés disse: Estou todo assombrado, e tremendo”. E lá no Monte Sinai, Moisés recebeu a lei. A lei trazia em si a sentença de morte pela desobediência. Quando Moisés desceu do Monte Sinai com a Lei e encontrou o povo imerso no pecado, quebrou as tábuas da lei ao pé do monte e ali houve um grande massacre (Êxodo 32).

Gálatas 4:25 diz que “Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus filhos”. Agar é igual a Ismael; Ismael é igual ao Sinai. Agar é uma escrava, Ismael é um escravo, e a Lei dada no Sinai era uma escravidão com uma sentença de morte. A Jerusalém de onde os judaizantes vieram com seu sistema farisaico legalista está conectada ao Sinai, que está conectado a Ismael, que está conectado a Agar.

Os judeus presos a lei não queriam ouvir isso. Eles se orgulhavam de serem filhos de Abraão por meio de Isaque. Geneticamente isso era uma verdade, mas espiritualmente eles eram descendentes de Agar e Ismael, pois a atual Jerusalém está ligada ao Sinai.

É assim: Agar igual a Ismael, igual ao Sinai, igual a Jerusalém, igual à carne, igual à lei, igual à escravidão, igual à condenação ao tentar fazer a vontade de Deus na carne. Era isso que os judaizantes estavam fazendo. É o que toda religião falsa faz. Agar, Sinai, Ismael, a atual Jerusalém apenas produzem mais escravos, em escravidão ao pecado e ao julgamento. Imagine a fúria dos judaizantes ao ouvirem isso, porque todos eles orgulhosamente desprezavam Agar e Ismael.

Em contraste com isso, Gálatas 4:26 diz: “Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é nossa mãe”. A Jerusalém que está presente é a Jerusalém terrestre, e ainda é da mesma forma que era durante o tempo de Jesus. O judaísmo contemporâneo e moderno é escravidão, servidão à lei, servidão ao pecado, julgamento, morte e inferno. É Agar, Ismael, Sinai, carne, obras, escravidão e morte. Em contraste a isso está a Jerusalém de cima. Ela é nossa mãe.

Paulo está dizendo aos gálatas: “Vocês são crentes. Vocês não têm conexão com a Jerusalém que está aqui, mas com a Jerusalém de cima”. A expressão grega traduzida como “nascer de novo” também pode ser traduzida como “nascer do alto”. João 3:3 diz que “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”, mas poderia ser traduzido como “se alguém não nascer do alto, não pode ver o reino de Deus”. A Jerusalém espiritual é a Jerusalém de cima. Por isso este mundo não é nosso lar.

Agar, a escrava, ilustra o Monte Sinai, a antiga aliança, a Jerusalém judaica terrena, a lei e a escravidão. E sobre o Monte Sinai, o escritor aos Hebreus diz:

Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao clangor da trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o ouviram suplicaram que não se lhes falasse mais, pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até um animal, se tocar o monte, será apedrejado. Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo! (Hebreus 12:18-21).

Sara, a mulher livre, simboliza a nova aliança, a Jerusalém celestial e a maravilhosa bênção da fé e da graça. Pertencemos à Jerusalém celestial. E sobre a Jerusalém Celestial, o escritor aos Hebreus diz:

Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel. (Hebreus 12:22-24).

Jerusalém celestial é a nossa mãe. Nós não estamos sob a escravidão do Sinai. Nós não fazemos parte da escravidão de Agar e Ismael. Não estamos tentando agradar a Deus no esforço da carne. Romanos 8:6 diz que a “inclinação da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz” e o verso 15 diz que “não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”.

Efésios 1:3 diz que Deus “nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”. Em João 8:36, Jesus disse: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”.

O nascimento de Isaque foi milagroso. O milagre do novo nascimento não pode ser realizado pelo esforço humano. Você deve nascer do alto. João 1:13 diz que os redimidos “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.

Gálatas 4:26 diz que “a Jerusalém de cima é livre”. Livre da escravidão da lei, livre de todas as ordenanças que foram prescritas para Israel no passado. Não precisamos disso, temos sido “abençoados com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Efésios 1:3). Reforçando essa verdade, Gálatas 4:27 diz:

Porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os filhos da abandonada que os da que tem marido. 

Paulo tirou esse texto de Isaías 54:1. O escrito do profeta se deu muito tempo depois de Abraão, Isaque, Ismael, Sara e Sinai. Onde isso se encaixa? Os textos de Isaías foram escritos para animar os judeus que estavam cativos na Babilônia. E Isaías 54 está numa seção sobre salvação. Em outras palavras, o que ele quis dizer foi: “Você está desolado, está estéril, está no exílio, a vida é horrível. Você pendurou suas harpas nos salgueiros. Você não tem música para cantar. Tudo é tristeza”. E Isaías 54: 1-3 diz:

Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; exulta com alegre canto e exclama, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher solitária do que os filhos da casada, diz o Senhor. Alarga o espaço da tua tenda; estenda-se o toldo da tua habitação, e não o impeças; alonga as tuas cordas e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; a tua posteridade possuirá as nações e fará que se povoem as cidades assoladas.

Essa foi uma promessa do retorno à terra prometida. E quando voltaram à terra, as mulheres começaram a florescer, e a nação começou a se reproduzir e crescer. E o apóstolo Paulo está usando essa escritura para dizer: “Deus prometeu e fará você florescer”. Deus disse isso aos exilados na Babilônia, e Ele cumpriu. Deus disse isso a Sara, e Ele o cumpriu por Seu poder.

Esta é a interpretação divina. Abraão teve dois filhos chamados Ismael e Isaque. Nascidos de duas mães: Agar e Sara. Eles representam duas alianças: a antiga e a nova. Duas Jerusalém: a que está agora na terra e a Jerusalém que está acima. Agar é a lei, servidão e morte. Sara é a graça, fé e liberdade. Então, não é uma questão de se você é descendente carnal de Abraão, mas se é descendente espiritual.

Por fim temos a, exortação pessoal. Vimos a ilustração histórica, a interpretação divina e agora, a exortação pessoal. E tudo fará sentido para você agora, porque você chegou a esse ponto. Então, Gálatas 4:28 diz: “Vós, porém, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaque”.

Isso não é maravilhoso? Estamos na linhagem de Isaque, filhos da promessa. Nós nascemos por milagre. Nós fomos salvos pela graça soberana. Não por qualquer obra de justiça que tenhamos feito. Se tentarmos fazer as coisas do nosso jeito, vamos agir da mesma forma que Sara ao oferecer Agar a Abraão. Isso tem consequências. Se somos “filhos da promessa”, não estamos na linha de Agar, pois somos livres.

Havia uma animosidade de Agar contra Sara e Isaque, assim como havia de Ismael contra Isaque, porque ele seria o herdeiro. Os filhos de Agar, do Sinai, as obras, a carne e religião falsa são sempre inimigos da verdade. Eles continuarão a perseguir os filhos de Isaque e Sara, os filhos da promessa. Gálatas 4:29 diz:

Como, porém, outrora, o que nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora.

O maior perseguidor da igreja verdadeira é a religião falsa, o sistema de obras de Satanás. Então, a exortação pessoal é que somos como Isaque, filhos da promessa, e sabemos que sofreremos perseguições. II Timóteo 3:12 diz que “todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições”. Gálatas 4:30-31 diz:

Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava será herdeiro com o filho da livre. E, assim, irmãos, somos filhos não da escrava, e sim da livre.

Paulo extraiu isso de Gênesis 21:10, quando Sara pediu a Abraão para mandar embora Agar e Ismael, pois Ismael desprezava Isaque. Isso é tão incrível! Então, nós temos essa igreja falsa perseguindo a igreja verdadeira. Há uma guerra acontecendo. Alguém poderia nos dizer: “Por que não nos reunimos em um movimento ecumênico?” O filho da serva é alguém de um sistema religioso falso, não pode coexistir com os filhos da promessa, graça e fé.

Não há concordância com luz e trevas, este é um jugo desigual (II Cor. 6:14). Aqueles que estão tentando agradar a Deus pela carne e pelas obras não podem herdar com aqueles que vieram pela graça e fé. Não somos filhos da escrava. Não podemos voltar ao sistema do qual fomos libertados. Esta é a boa notícia da salvação.

Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. (Gálatas 5:1)

Não podemos nos submeter a qualquer coisa que seja estranha à nova aliança, pois somos da linhagem da promessa que vem de Sara e Isaque e não da escravidão que vem de Agar e Ismael. Nós não estamos sob escravidão, Cristo nos libertou.

Vamos orar:

Pai, obrigado pelo nosso maravilhoso tempo nesta manhã. Que benção. Que texto impressionante e bonito é esse! Quão magníficas são suas nuances. Como um diamante, brilha com muitas facetas. E agora, Senhor, oramos para que Tu faças Teu trabalho em todos os corações. É inconfundível o que o Senhor nos disse. Agradecemos por nossa salvação pela graça, somente pela fé. Louvamos e honramos por tudo isso. Tu recebes toda a glória. Por isso, oferecemos toda glória a Ti, gratos, agradecidos, além da expressão, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.


Esta é uma série de 2 sermões de John MacArthur sobre as circunstâncias do nascimento de Ismael e Isaque como ilustração do contraste entre a eficácia da obra soberana de Cristo e a inutilidade do esforço humano. Abaixo links dos sermões já publicados.


Este texto é uma síntese do sermão “A Perfect Portrait of Saving Faith, Part 2 ″, de John MacArthur em 21/01/2018.

Você pode ouvi-lo integralmente (em inglês) no link abaixo:

https://www.gty.org/library/sermons-library/48-27/a-perfect-portrait-of-saving-faith-part-2

Tradução e síntese feitos pelo site Rei Eterno

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